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Integridade e Food Defense: lições do varejo para toda a cadeia alimentar

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A segurança dos alimentos vai além da garantia de que o produto esteja livre de contaminações acidentais; ela também deve contemplar medidas para proteger os alimentos contra adulterações intencionais, como sabotagem ou contaminação maliciosa, garantindo sua integridade. É nesse contexto que o food defense se destaca, aplicando-se não apenas à indústria, mas a todos os pontos de interação com o produto até sua chegada ao consumidor final.

Experiência pessoal: o caso do pão de milho e a manipulação indevida

Recentemente, ao realizar compras com minha família, escolhemos um pão de milho em um supermercado. Ao verificar o peso, notei uma diferença significativa entre o peso declarado e o real. Ao inspecionar melhor e após checar outros pães da mesma marca, ficou claro que algo estava errado. O supermercado informou que a responsabilidade pelo reabastecimento e organização dos produtos era da própria empresa produtora, que realizava a reposição nas gôndolas.

A situação complicou-se quando percebi que o problema não era apenas o peso: o repositor havia removido fatias do interior do pão, desenroscando o arame que fechava o pacote, retirando fatias e recolocando o pão, aparentemente intacto. Essa prática, além de prejudicar o consumidor, levanta uma bandeira vermelha sobre o risco de adulteração ou sabotagem, comprometendo a integridade do alimento.

Ao entrar em contato com o serviço de atendimento ao consumidor da empresa, fui surpreendido ao ser informado de que essa era uma situação conhecida e considerada “comum” pela companhia. Essa resposta me chamou a atenção, pois tratava com certa naturalidade um risco que deveria ser minimizado, e não aceito como algo rotineiro. Isso reforçou minha percepção de que as práticas de food defense precisam ser mais rigorosas e que o monitoramento deve ir além da indústria, abrangendo todos os elos da cadeia até o consumidor final.

Produtos com lacres de segurança: prevenindo violações

Um ponto fundamental a ser considerado no contexto de food defense é a facilidade com que um produto pode ser violado fora da fábrica. Como podemos ver na imagem abaixo, pães de forma que utilizam arames simples para fechamento são facilmente manipuláveis, tornando a adulteração externa uma possibilidade real.

Por outro lado, pães que utilizam lacres mais robustos e invioláveis proporcionam uma barreira extra contra esse tipo de risco. Quando o consumidor adquire um produto lacrado de maneira segura, há uma garantia maior de que o produto chegou intacto desde a produção até o ponto de venda.

Produtos que utilizam lacres de segurança são menos suscetíveis a violações, reduzindo significativamente o risco de contaminação intencional ou adulteração por agentes externos, como ilustrado na comparação entre os diferentes tipos de fechamento de embalagens de pão. Para aprofundar o tema de embalagens suscetíveis de alterações, leia o artigo Food Defense em embalagens suscetíveis de alterações.

Food Defense: proteção além dos muros da fábrica

O conceito de food defense exige a implementação de barreiras que protejam o alimento contra ameaças intencionais. No caso descrito, a falha não foi apenas na retirada de fatias, mas no potencial de ocorrer algo muito mais grave, como a sabotagem de produtos. Para mitigar esses riscos, as empresas devem adotar medidas preventivas que englobem toda a cadeia, incluindo os pontos de venda. Isso envolve:

  • Treinamento dos repositores e parceiros logísticos: é fundamental garantir que todos os envolvidos na manipulação do produto conheçam e respeitem os procedimentos de segurança e proteção.
  • Monitoramento de processos no varejo: estabelecer protocolos de monitoramento contínuo nos pontos de venda, não apenas para controle de peso, mas também para garantir a integridade do produto.
  • Uso de lacres de segurança: adotar embalagens que utilizem lacres invioláveis para garantir que o produto não seja adulterado fora da fábrica.
  • Engajamento do consumidor: informar o consumidor sobre a importância de relatar quaisquer irregularidades percebidas no produto, fortalecendo o elo final de defesa.

Conclusão

A segurança de alimentos é uma responsabilidade que vai além da produção industrial, devendo envolver todos os elos da cadeia, desde a produção até a venda ao consumidor final. O exemplo pessoal apresentado revela não só a possibilidade de manipulação indevida de produtos, mas também a naturalização desse risco por parte de algumas empresas. A retirada de fatias do interior de um pão e a posterior devolução do produto à gôndola não altera apenas o peso original, mas também compromete toda a rastreabilidade e identificação da causa de possíveis problemas.

A dificuldade de rastrear o que ocorreu, especialmente se o produto foi manipulado fora do controle da empresa, torna a investigação mais complexa. Além disso, a alteração do peso original pode resultar em problemas com órgãos reguladores, como o Inmetro, levando a inspeções e possíveis penalidades. Isso sem mencionar as consequências para a confiança do consumidor, a imagem da marca e os riscos legais que a adulteração ou sabotagem pode gerar.

Portanto, a implementação de food defense eficaz, que considere todas essas variáveis, é essencial para proteger tanto a integridade dos alimentos quanto a reputação das empresas.

Por Alexandre Salomão

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5 estratégias para a indústria alimentícia minimizar resíduos de pesticidas

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O uso de pesticidas tem sido justificado ao longo dos anos como uma ferramenta que garante a produtividade na agricultura. Por outro lado, seus resíduos deixam uma preocupação relevante em relação à segurança do alimento.

Entre esses dois pontos de vista, sabemos que o tema carrega consigo discussões políticas que tornam cada vez mais complexa uma resolução. Afinal, como a indústria de alimentos deve se posicionar neste impasse?

Recentemente o Idec (Instituto de Defesa dos Consumidores) publicou os resultados da terceira edição da pesquisa Tem Veneno Nesse Pacote. Parando pra pensar: se este termo estivesse estampado nas embalagens, muito provavelmente decidiríamos por não consumir, não é mesmo?

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(Reprodução: Instituto de Defesa dos Consumidores – Tem Veneno Nesse Pacote Volume 3).

Esta pesquisa vem analisando diversos alimentos nos últimos anos, como biscoitos, bebidas, pães, bolos, lácteos e, nesta última edição, foram incluídos alimentos plant-based.

Nos dois primeiros volumes, cerca de 60% dos produtos analisados apresentaram resíduo de, pelo menos, um tipo de pesticida. Já no volume que acaba de ser publicado, 12 dos 24 produtos analisados apresentaram resíduo de agrotóxico, sendo o glifosato o mais frequente entre os pesticidas encontrados.

Mas o que a indústria alimentícia pode fazer para minimizar esse perigo e evitar a exposição de suas marcas?

1. Selecionar seus fornecedores

Sabe-se que a presença de resíduos de pesticidas em alimentos é um reflexo de sua manipulação na agricultura. Por isso, é importante que a indústria alimentícia escolha a dedo seus fornecedores, priorizando aquele que demonstre e evidencie as boas práticas agrícolas.

Entre elas, adotar as recomendações de aplicação fornecidas pelo fabricante do pesticida é o básico. Ou seja, seguir as instruções de dosagem e intervalo de segurança, bem como se atentar aos cuidados para evitar contaminação de solo e recursos hídricos, os quais podem acabar contaminando os produtos alimentícios em uma outra etapa da produção.

Para isso, estabelecer um processo robusto de homologação de fornecedores é um excelente começo para a minimização de resíduos de pesticidas no alimento pronto para consumo.

2. Definir meios de incentivo a práticas combinadas de controle de pragas

Uma alternativa interessante para garantir a motivação dos agricultores neste tema é atrelar benefícios quando demonstrado que se praticam ações associadas ao controle de pragas que minimizam o uso de inseticidas. Esses benefícios podem variar em contratos de maior longevidade, além de aplicação de preços mais chamativos.

Outra alternativa é oferecer programas de capacitação, suporte técnico e até mesmo participação em eventos de desenvolvimento tecnológico e de inovação como benefícios aos agricultores/fornecedores que garantem práticas combinadas no manejo de pragas.

3. Apoiar pesquisas e o desenvolvimento de variedades mais resistentes

Variedades de recursos vegetais mais resistentes foram desenvolvidas ao longos dos últimos anos. Mas a indústria alimentícia pode apoiar as pesquisas que foquem não apenas a produtividade, mas associada a isto, mais resistência a pragas e outras intempéries, o que tem o potencial de minimizar o uso de pesticidas na lavoura.

4. Estimular a prática da agricultura regenerativa

A Agricultura Regenerativa foi abordada no Fórum Econômico Mundial de 2023. O conceito é que a agricultura não pode ser compreendida de maneira isolada, visto que ela é dependente de fatores abaixo do solo e acima dele, bem como de questões climáticas.

Ela tem como pilares a redução do revolvimento do solo, a manutenção de sua cobertura, a integração de animais na lavoura, entre outros. Os cuidados propostos por este modelo são capazes de diminuir o uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, entre vários outros.

Dessa maneira, a indústria alimentícia deve considerar o estímulo a esse modelo de negócio, considerando o seu benefício em sustentabilidade para a cadeia produtiva de alimentos.

5. Reduzir a cadeia de fornecimento

Gradualmente a indústria de alimentos deve priorizar a agricultura local, substituindo os fornecedores que exijam uma longa cadeia de distribuição, sempre que possível. Essa estratégia traz resultados significativos na redução de agentes pós-colheita que buscam conservar os vegetais até que cheguem ao seu destino.

Além disso, o trabalho com fornecedores locais facilita o contato, acompanhamento do manejo e fornecimento de apoio técnico, entre outras ferramentas que podem auxiliar na avaliação e manutenção de fornecedores de alimentos mais seguros, como mencionado no item 1.

A pesquisa Tem Veneno Nesse Pacote também traz um ponto relevante relacionado ao monitoramento de resíduo de agrotóxicos em alimentos. Segundo o relatório, a Anvisa não define limites de resíduos destes químicos em alimentos processados e ultraprocessados. Os limites estão estabelecidos apenas para os alimentos in natura. Assim, esta definição é necessária para garantir um controle que vai além do simples monitoramento.

Dessa maneira, não apenas a indústria alimentícia tem um papel relevante e transformador neste cenário, mas também os consumidores. Afinal, é a partir da mudança dos hábitos alimentares que se obtém a transformação do consumo e, como consequência, as mudanças para o fornecimento de alimentos cada vez mais seguros.

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A Era Digital e a humanização no controle de qualidade dos alimentos

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Garantir alimentos seguros e ter processos monitorados e controlados é um dos grandes desafios das indústrias de alimentos. A evolução tecnológica e as crescentes demandas dos consumidores tornam o futuro da segurança de alimentos cada vez mais complexo e desafiador. A era digital trouxe ferramentas poderosas que auxiliam o controle de qualidade e a garantia de segurança dos alimentos. No entanto, é essencial lembrar que a humanização continua sendo o pilar fundamental para a produção de alimentos seguros e de qualidade.

A Era Digital na segurança de alimentos

A tecnologia digital revolucionou muitos aspectos no controle da produção de alimentos. Hoje, temos diversas ferramentas que permitem uma vigilância constante, análises preditivas e a rastreabilidade detalhada de cada etapa da cadeia de produção.

  • Internet das Coisas (IoT): Sensores conectados à internet permitem monitorar condições como temperatura e umidade em tempo real, garantindo que os alimentos sejam armazenados e transportados em condições ideais. Isso reduz significativamente o risco de contaminação e deterioração dos produtos.
  • Inteligência Artificial (IA): Algoritmos de IA podem analisar grandes volumes de dados para identificar padrões e prever possíveis riscos de segurança dos alimentos, permitindo ações preventivas.
  • Blockchain: A tecnologia blockchain oferece uma maneira segura e transparente de rastrear a origem e a movimentação dos alimentos ao longo da cadeia de suprimentos. Isso aumenta a confiança dos consumidores e facilita a identificação e retirada de produtos quando se fizer necessário.
  • Big Data: A análise de big data permite às empresas identificar tendências e ineficiências em seus processos, melhorando continuamente a segurança e a qualidade dos alimentos.

A importância da humanização

Apesar dos avanços tecnológicos, a humanização permanece essencial para a segurança de alimentos. O comprometimento e o comportamento dos colaboradores, desde a alta direção até os operadores de linha, são cruciais para garantir a implementação eficaz das boas práticas de fabricação (BPF). A tecnologia pode fornecer as ferramentas, mas são as pessoas que fazem a diferença no dia a dia.

Comprometimento da Alta Direção

A cultura de segurança de alimentos começa no topo. A alta direção deve demonstrar um compromisso genuíno com a segurança de alimentos, não apenas em palavras, mas em ações concretas. Isso envolve a criação de políticas claras, a alocação de recursos adequados e o incentivo a uma cultura de melhoria contínua.

Conhecimento e empatia

Para garantir que os colaboradores sigam as boas práticas, é fundamental conhecê-los e entendê-los em sua essência. Um ambiente de trabalho onde os funcionários se sintam valorizados e compreendidos é mais propenso a promover comportamentos responsáveis e comprometidos com a segurança dos alimentos. Criar conexões sinceras e verdadeiras é essencial para que esse sentimento seja vivenciado no dia a dia na produção de alimentos seguros.

Boas práticas no dia a dia

Costumo dizer: “precisamos ter um arroz com feijão bem-feito” – ou seja, a execução consistente das práticas simples e básicas para alcançar a excelência na produção de alimentos. Isso inclui desde a lavagem correta das mãos, limpeza e sanitização das superfícies e instalações, até a manutenção precisa de registros.

10 dicas para conhecer e incentivar os colaboradores para produção de alimentos seguros

  1. Olho no olho: precisamos conectar as pessoas. Olhar nos olhos dos colaboradores de maneira receptiva e com brilho nos olhos.
  2. Sorriso no rosto: acolha o colaborador com um sorriso genuíno e demonstre a alegria de tê-lo no time.
  3. Escuta ativa: ouvir e valorizar as opiniões dos colaboradores promove um ambiente de confiança.
  4. Ações versus palavras: demonstre seu compromisso com a segurança de alimentos por ações concretas e visíveis. O exemplo ainda é a melhor ferramenta para engajar um time.
  5. Elogios e reconhecimento: reconheça publicamente as conquistas dos funcionários por meio de elogios verbais, reforçando comportamentos positivos. Proporcione recompensas tangíveis, certificados ou prêmios como bônus ou dias de folga, para funcionários que se destacam na implementação das boas práticas.
  6. Cuidar da equipe: pequenos gestos de cuidado, como oferecer um café da manhã ou um espaço de descanso adequado, demonstram uma preocupação genuína com o bem-estar dos colaboradores.
  7. Deixar a equipe brilhar: dê visibilidade aos sucessos da equipe, celebrando as vitórias e incentivando a cooperação e o trabalho em equipe.
  8. Enfatizar as coisas boas diariamente: crie o hábito de destacar aspectos positivos no cotidiano do trabalho. Isso aumenta a resiliência da equipe em momentos difíceis.
  9. Boas histórias sobre a empresa: incentive os funcionários a compartilharem suas experiências positivas na empresa, criando um ambiente de trabalho motivador.
  10. Avaliar a equipe: pessoas avaliadas tendem a buscar a excelência em suas ações. Com isso, o resultado esperado em nossos produtos será maior e melhor.

Conclusão

O futuro da segurança de alimentos está intimamente ligado à integração de tecnologias digitais e à humanização dos processos. Enquanto as ferramentas tecnológicas fornecem meios avançados de monitoramento e controle, o comportamento e o comprometimento dos colaboradores são fundamentais para a implementação eficaz dessas práticas. A combinação desses elementos assegura a produção de alimentos seguros, atendendo às expectativas dos consumidores e cumprindo os requisitos regulatórios.

Gislaine Taurim é consultora e auditora em Segurança de alimentos, com 18 anos de experiência em liderança de pessoas e gestão de processos em indústrias de alimentos. É graduada em Tecnologia de Alimentos, com especialização em Ciência e Tecnologia e Normas de Segurança dos Alimentos.

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O futuro da Segurança de Alimentos: avanços e desafios

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A segurança de alimentos é um tema de crescente relevância em um mundo cada vez mais globalizado. Com o aumento da população mundial, a urbanização acelerada e as mudanças nos hábitos alimentares, os desafios para garantir que os alimentos sejam seguros para o consumo tornam-se mais difíceis.

Antes de tudo, saber a diferença entre segurança alimentar e segurança de alimentos é crucial para entender melhor o assunto. Segurança de alimentos refere-se à proteção dos alimentos ao longo de toda a cadeia de produção, garantindo que sejam seguros para consumo. Isso inclui desde a escolha das matérias-primas até o produto final, assegurando que estejam livres de contaminantes e adequados para o consumo humano. Segurança alimentar relaciona-se ao direito de todos terem acesso constante a alimentos nutritivos e seguros. Segundo a FAO, isso envolve garantir que todas as pessoas tenham acesso físico, social e econômico a uma quantidade suficiente de alimentos para manter uma vida saudável e ativa.

Historicamente, a segurança de alimentos tem sido uma preocupação constante, especialmente após eventos de surtos alimentares que resultaram em doenças e mortes. Nos últimos anos, houve um avanço significativo nas regulamentações e práticas de segurança de alimentos, buscando por uma maior conscientização e cuidado sobre os riscos associados à contaminação de alimentos. Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) são mecanismos adotados nas empresas de alimentos para minimizar o risco de contaminação.

Os avanços na segurança de alimentos não se limitam somente às regulamentações. O desenvolvimento de metodologias científicas para a detecção de patógenos e contaminantes desempenham um papel crucial.  A biotecnologia, por exemplo, permitiu a criação de métodos de detecção mais rápidos e precisos, facilitando a identificação e controle de surtos alimentares antes que eles se tornem possíveis epidemias.

Apesar dos avanços, a segurança de alimentos ainda enfrenta desafios. A adaptação de micro-organismos, novas tecnologias de produção, variações ecológicas e o aumento do comércio global de alimentos são fatores que complicam a situação. Além disso, novos hábitos alimentares e a crescente demanda por alimentos frescos e minimamente processados aumentam a necessidade de práticas rigorosas. O crescimento do comércio global de alimentos implica em desafios logísticos e regulatórios. A diversificação das fontes de alimentos e a complexidade das cadeias de abastecimento elevam o risco de contaminação e tornam a rastreabilidade dos produtos mais desafiadora.

Os surtos alimentares continuam a ser um problema: entre 2009 e 2019, o Brasil registrou 7.674 surtos alimentares, com a maioria dos casos ocorrendo em residências. Isso demonstra que, apesar das melhorias, ainda há muito a se fazer. A subnotificação de surtos alimentares pode acontecer e pode ser atribuída à falta de conscientização, infraestrutura inadequada e limitações nos sistemas de vigilância.

O futuro da segurança de alimentos será fortemente influenciado por inovações tecnológicas. A digitalização e a automação estão transformando a forma como os alimentos são produzidos, processados e distribuídos. Tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) permitem o monitoramento em tempo real das condições de armazenamento e transporte, garantindo que os alimentos sejam mantidos em condições seguras.

Além disso, a biotecnologia está desempenhando um papel crucial na segurança de alimentos. O desenvolvimento de culturas resistentes a pragas e doenças pode reduzir a necessidade de agrotóxicos, enquanto a engenharia genética pode ajudar a criar alimentos com propriedades nutricionais melhoradas. A biotecnologia permite a seleção de microrganismos que produzem substâncias antimicrobianas, oferecendo uma alternativa ao uso de aditivos químicos nos alimentos, ajudando a aumentar a segurança e a vida útil dos produtos sem os efeitos adversos de conservantes químicos. No entanto, essas tecnologias também levantam questões éticas e de segurança que precisam ser consideradas.

A automação e a inteligência artificial (IA) estão se tornando ferramentas essenciais para se obter segurança de alimentos. A IA pode analisar grandes volumes de dados para prever e identificar potenciais riscos de contaminação, enquanto a robótica pode ser utilizada para tarefas que exigem precisão e higiene, minimizando o risco de contaminação.

A atualização constante dos sistemas de gestão da qualidade é fundamental para o futuro da segurança de alimentos, pois a adoção de normas internacionais, como a ISO 22000, que estabelece requisitos para um sistema de gestão da segurança de alimentos, ajuda as empresas a garantirem a segurança em toda a cadeia de suprimentos. A integração de práticas de sustentabilidade e responsabilidade social também será essencial, pois os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à origem (alimentos orgânicos, livres de organismos geneticamente modificados) e ao impacto ambiental dos alimentos que consomem.

A rastreabilidade é outro aspecto crucial na gestão da qualidade. Sistemas avançados de rastreamento permitem monitorar cada etapa da produção e distribuição de alimentos, facilitando a identificação de problemas ou falhas e a implementação rápida de medidas corretivas. Essa transparência é fundamental para ganhar a confiança do consumidor e assegurar a integridade dos produtos alimentícios.

A conscientização do consumidor é um fator que moldará o futuro, pois com o acesso à informação facilitado pela internet, os consumidores estão mais informados sobre os riscos associados aos alimentos e as práticas de segurança, o que leva a uma maior demanda por transparência das indústrias e por alimentos que atendam a padrões de segurança mais rigorosos.

As empresas que se adaptarem a essa nova realidade, investindo em comunicação clara e em práticas de segurança de alimentos, estarão mais bem posicionadas para conquistar a confiança dos consumidores. A educação do consumidor sobre a manipulação e o armazenamento adequados de alimentos deve sempre ser considerada para reduzir o risco de contaminação em casa.

A segurança de alimentos é um desafio global que requer colaboração entre países, organizações e setores, pois essa troca de informações sobre surtos alimentares, práticas de segurança e inovações tecnológicas pode ajudar a fortalecer a segurança dos alimentos em todo o mundo. Iniciativas como o Codex Alimentarius, que estabelece normas internacionais para alimentos, são exemplos de melhorias significativas em conjunto para a segurança de alimentos.

A cooperação entre setor público e privado também é fundamental, parcerias entre governos, indústrias e ONGs podem acelerar a implementação de tecnologias e práticas inovadoras que melhoram a segurança dos alimentos.

Com um compromisso coletivo e uma abordagem proativa, podemos esperar um futuro em que a segurança de alimentos seja uma prioridade global, garantindo que os a alimentos sejam seguros e nutritivos para o consumo, e a colaboração global, a inovação tecnológica e a educação serão os pilares para alcançar esse objetivo.

Por Leonardo Gomes Petrucci, estudante universitário

Imagem gerada por inteligência artificial

Referências

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BARRETO, M.; PAULA, A.; SOUSA, F.; SILVA; MARLENE NUNES DAMACENO. Panorama dos surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil no período de 2009 a 2019. Recima21, [s. l.], v. 2, n. 11, p. e211935–e211935, 2021. Disponível em: https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/935. Acesso em: 27 jul. 2024.

BRITO, G. F. Seleção e microencapsulação de bactérias ácido-láticas potencialmente probióticas obtidas de frutos do bacupari (Rheedia gardneriana). Uft.edu.br, [s. l.], 2021. Disponível em: https://repositorio.uft.edu.br/handle/11612/3578 . Acesso em: 27 jul. 2024.

CAIO FACIOLLI. Segurança de alimentos e segurança alimentar: afinal, há alguma diferença? – Food Safety Brazil. 2023. Disponível em: https://foodsafetybrazil.org/seguranca-de-alimentos-vs-seguranca-alimentar-afinal-ha-alguma-diferenca/ . Acesso em: 23 jul. 2024.

?FARIAS CUNHA, F.; BLANDINA, M.; MAGALHÃES, H.; SANTESSO BONNAS, D. >Artigos Desafios da gestão da segurança dos alimentos em unidades de alimentação e nutrição no Brasil: uma revisão. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistacontextos/wp-content/uploads/2013/04/Revista_Vol1_N24a14.pdf .

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LILIAN, S.; SOARES; COMASTRI, R.; ALMEIDA, C.; FEDERAL DA BAHIA, U. Conhecimento, atitudes e práticas de manipuladores de alimentos em segurança dos alimentos: uma revisão sistemática. Higiene Alimentar, [s. l.], v. 30, [s.d.]. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/08/1473/separata-71-76.pdf

LÚCIO DA SILVA, E.; ALDEANE DA SILVA, M. FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO BAIXO SÃO FRANCISCO DR. RAIMUNDO MARINHO FACULDADE RAIMUNDO MARINHO. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://raimundomarinho.edu.br/rdta/files/original/30419bc83a33ba73fbb2ebf418e78766287f5630.pdf . Acesso em: 27 jul. 2024.

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Tecnologia, sustentabilidade e cooperação serão o futuro da segurança de alimentos

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A segurança de alimentos é uma preocupação global que afeta diretamente a saúde pública, a economia e o comércio internacional. À medida que o mundo avança tecnologicamente e enfrenta desafios ambientais, a segurança de alimentos deve evoluir para enfrentar novos riscos e aproveitar oportunidades emergentes. Este texto explora as tendências e inovações que moldarão o futuro da segurança de alimentos.

1. Avanços tecnológicos

A tecnologia desempenhará um papel crucial na transformação da segurança de alimentos. Entre as inovações mais promissoras estão:
Blockchain: A rastreabilidade dos alimentos será aprimorada com a adoção do blockchain, permitindo que todos os participantes da cadeia de suprimentos registrem e acessem dados de forma transparente e segura. Isso não apenas reduzirá a incidência de fraudes alimentares, mas também facilitará a identificação rápida de fontes de contaminação em caso de surtos.
Internet das Coisas (IoT): Sensores inteligentes conectados à IoT monitorarão em tempo real as condições de armazenamento e transporte dos alimentos, garantindo que permaneçam dentro das faixas de temperatura e umidade seguras. Isso minimizará o risco de deterioração e contaminação.
Inteligência Artificial (IA): Algoritmos de IA analisarão grandes volumes de dados para prever e identificar riscos potenciais de segurança. Eles poderão detectar padrões em surtos de doenças transmitidas por alimentos e prever problemas antes que ocorram, permitindo uma resposta proativa.

2. Sustentabilidade e Segurança de Alimentos

A sustentabilidade está se tornando uma prioridade no setor alimentício, e a segurança de alimentos deve acompanhar essa tendência:
Agricultura vertical e hidropônica: Essas práticas agrícolas reduzirão a dependência de pesticidas e fertilizantes químicos, resultando em alimentos mais seguros. Além disso, a produção local em ambientes controlados diminuirá o risco de contaminação durante o transporte.
Embalagens sustentáveis: Novas tecnologias de embalagem, como materiais biodegradáveis e comestíveis, serão desenvolvidas para manter a segurança dos alimentos enquanto reduzem o impacto ambiental. Essas embalagens poderão incluir sensores integrados que indicam a frescura dos alimentos.

3. Regulações e políticas públicas

As políticas governamentais continuarão a evoluir para garantir a segurança de alimentos em um ambiente global em mudança:
Harmonização internacional: A colaboração entre países para harmonizar regulamentos facilitará o comércio internacional e garantirá padrões uniformes de segurança. Organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) desempenharão papéis cruciais nesse processo.
Educação e capacitação: Investimentos em programas de educação e capacitação para agricultores, produtores e manipuladores de alimentos serão essenciais para garantir a implementação de práticas seguras em toda a cadeia de suprimentos.

4. Desafios emergentes

O futuro da segurança de alimentos também enfrentará novos desafios que exigirão soluções inovadoras:
Mudanças climáticas: O aquecimento global e as mudanças nos padrões climáticos afetarão a produção agrícola e a disponibilidade de alimentos, aumentando a vulnerabilidade a contaminações e surtos de doenças. Será necessário desenvolver cultivares resistentes a pragas e doenças e adaptar as práticas agrícolas às novas condições climáticas.
Resistência Antimicrobiana: O uso excessivo de antibióticos na pecuária está levando ao aumento da resistência antimicrobiana, que representa uma ameaça significativa à segurança de alimentos. Serão necessárias novas estratégias para monitorar e controlar o uso de antibióticos, bem como desenvolver alternativas seguras e eficazes.

5. A importância da colaboração

A segurança de alimentos é uma responsabilidade compartilhada que requer a colaboração de todos os atores envolvidos, desde produtores até consumidores:
Parcerias Público-Privadas: A cooperação entre governos, empresas e organizações não-governamentais será fundamental para desenvolver e implementar soluções eficazes. Essas parcerias podem promover a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, bem como a disseminação de melhores práticas.
Consciência do consumidor: Consumidores informados desempenham um papel crucial na segurança de alimentos. Campanhas educativas e de conscientização sobre práticas seguras de manipulação e armazenamento de alimentos ajudarão a prevenir surtos de doenças transmitidas por alimentos.
O futuro da segurança de alimentos será moldado por avanços tecnológicos, práticas sustentáveis, políticas públicas eficazes e uma colaboração global. Embora desafios emergentes exijam atenção e inovação contínuas, as oportunidades para melhorar a segurança de alimentos são vastas. Ao adotar uma abordagem proativa e colaborativa, podemos garantir um futuro em que todos tenham acesso a alimentos seguros e saudáveis.
Viviani Vasconcelos é engenheira de alimentos pela Escola de Engenharia Mauá, mestre em Nutrição e Dietética pela Universidad Europea Miguel de Cervantes (Espanha) e Lead Assessor FSSC 22000 pelo IRCA. Atua há mais de 20 anos com assuntos regulatórios para alimentos e bebidas, auditorias e sistemas de Gestão da Segurança de Alimentos

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O que não mata engorda, e o que não engorda, mata

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Já dizia minha avó: “o que não mata engorda”. Esse é um ditado popular muito conhecido pelas pessoas de gerações mais antigas, e que se baseia principalmente no consumo de alimentos e seus cuidados ao serem consumidos, ou melhor, na falta de cuidados ao serem ingeridos. Mas o oposto (o que não engorda mata) também é válido.

Há muitos anos alimentar-se tinha como objetivo único saciar a fome. Com o decorrer do tempo, fazer refeições começou a ter outro significado: o benefício para a  saúde e viver mais e melhor. Além disso, outro assunto tornou-se preocupação e também começou a ser prioridade na produção de alimentos: sua segurança e inocuidade.

Ao longo dos anos, em várias partes do mundo, infelizmente existem inúmeros registros de problemas graves causados pelo consumo de alimentos, inclusive com perda de vidas. Atualmente existem esforços por parte da sociedade, autoridades, profissionais e estabelecimentos produtores de alimentos para evitar que essa terrível história se repita, mas nem sempre essa missão alcança êxito.

E o que esperar para o futuro quando se fala em Segurança de Alimentos? Assim como tudo na vida, as coisas mudam, evoluem e facilitam nossa vida. Por exemplo: estamos numa era com incontáveis aplicativos digitais que fazem hoje o que seria impensável anos atrás e a mesma coisa acontece em relação à produção e fornecimento de alimentos.

A bola da vez é a tão comentada IA (Inteligência Artificial). Veja como as novas tendências do setor de alimentos estão conectadas com a inteligência artificial. Assim como a IA, a IoT (Internet das Coisas) também ajuda a monitorar as condições de armazenamento e transporte em tempo real, garantindo que os alimentos sejam mantidos em condições ideais para consumo.

Os avanços da ciência têm trazido bons resultados com a robótica e sistemas avançados na forma de produzir, o que se convencionou chamar de Indústria 4.0. Leia aqui sobre o potencial da Indústria 4.0 favorecendo a segurança dos alimentos. A área de microbiologia também avança: PMP como ferramenta de microbiologia preditiva em alimentos.

Os governos ao redor do mundo estão criando regulamentações mais rigorosas para garantir a segurança dos alimentos, especialmente em resposta a novos desafios e surtos. Aqui no Brasil inclusive vivenciamos isso de tempos em tempos: Socorro!!! Mudanças na legislação da ANVISA – Confira o que mudou.

Outro fator atual é a sustentabilidade e não poderia ser diferente em se tratando da produção de alimentos seguros: Sustentabilidade e Segurança de Alimentos de mãos dadas. 

Além disso, já existe um movimento de educação aos consumidores, pois grande parte dos surtos e contaminações acontecem nas casas. Desta forma será cada vez mais comum surgirem ações educativas para a população em geral e para as novas gerações: conheça a cartilha para crianças que ensina Segurança de Alimentos.

A engenharia genética e outras biotecnologias avançaram na produção de alimentos mais resistentes a pragas e doenças, diminuindo a necessidade de pesticidas e outros produtos químicos. Vale ressaltar também a importância da nanotecnologia.

E tudo isso tem um impacto positivo sobre a forma de produzir alimentos com segurança. Todos esses avanços visam criar no futuro um ambiente de produção e fornecimento de alimentos mais seguros, transparente e sustentável garantindo assim a nutrição e saúde de todos.

Por fim, poderemos criar na nossa geração um novo ditado popular: “O que não engorda e nem mata faz bem.”

José Gonçalves de Miranda Júnior é graduado em Tecnologia Agroindustrial (Alimentos) na Universidade do Estado do Pará. Tem pós-graduação em Engenharia de Alimentos – Desenvolvimento de produtos  e especialização em Segurança de Alimentos. Atua há 15 anos na área de Qualidade e Segurança de Alimentos em diversas indústrias. 

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Conexões para a segurança de alimentos

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Quando as indústrias de matérias-primas, alimentos e de embalagens trabalham com responsabilidade para garantir a segurança dos alimentos, o efeito é refletido na segurança alimentar no mundo.

É papel dos profissionais que estão inseridos nesta cadeia de fornecimento seguir atentos, com mentalidade de riscos ao trabalhar nos processos.

Em um mundo dinâmico, incerto e que vive consequências de mudanças climáticas, comportamentais humanas, tecnológicas e de saúde , as ferramentas de gestão são cada vez mais aliadas do nosso esforço de mitigar riscos.

A conexão entre os elos da cadeia de fornecimento é o que garante a segurança do alimento para o consumidor. Fortalecer as barreiras em cada interface importa. Como pensar em um novo produto, sem projetar a embalagem que irá protegê-lo, evitando descartes por má conservação ou contaminação?

Como usar matérias-primas de provedores que não analisam seus riscos na fabricação e transporte?

Isso tudo sem falar dos desafios de gestão dos alergênicos e dos riscos de migração que podem prejudicar a saúde do consumidor!

Somamos todos estes desafios ao da sustentabilidade, em um planeta que pede socorro por sua preservação e restauração com enorme demanda por materiais sustentáveis e igualmente eficientes.

Que nós, profissionais ligados à área de segurança de alimentos, nos inspiremos para seguir nesse movimento forte de melhoria contínua.

Nossos esforços devem apoiar a segurança alimentar. Somos um grande time que envolve empresas, organizações da sociedade civil, governos e consumidores. Cada um de nós pode contribuir para a construção de um futuro com acesso a alimentos seguros e nutritivos para todos.

Vamos juntos!

Aline Jovanelli Dias é bacharel em Química. Atua há 25 anos na área de Qualidade em indústrias dos segmentos químico, automotivo e farmacêutico

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Atenção passageiros, qual o próximo destino da Segurança de Alimentos?

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Quando falamos em futuro, logo pensamos em inteligência artificial e em como esta ferramenta, que já está tão presente em nosso dia a dia, pode ser explorada e trazer melhorias para nossas vidas. Considerando este contexto de futuro para a segurança de alimentos, será que poderemos pensar em um cenário empolgante e desafiador, em que a inteligência artificial poderá monitorar os perigos online de uma forma ainda inalcançável? Robôs com IA que garantirão a continuidade do processo e a diminuição de erros? Planos APPCC sendo atualizados instantaneamente? Embalagens inteligentes e desenvolvidas a partir de dados compilados por esta inteligência, proporcionando segurança e sustentabilidade ambiental? Hum….talvez esse seja mesmo um futuro muito promissor e esteja iminente.

Em um passado não tão distante víamos a preocupação apenas em vender alimentos. Legislações e regras não existiam ou eram escassas e as informações eram pouco padronizadas, como podemos ler um pouco aqui. Com o passar do tempo, as legislações foram sendo criadas, pessoas foram sendo treinadas, surgiram as certificadoras e tudo evoluiu até chegar aos dias de hoje. A preocupação não está mais em apenas vender alimentos, mas também em fornecer um produto seguro, atendendo inúmeras legislações, normas e esquemas de certificação (ANVISA , MAPA, FSSC 22000, BRCGS, IFS, entre outros) e com informações mais claras para o consumidor, com melhores padrões nos rótulos e nas informações, resultado de um conjunto de ações de pessoas de diversas áreas.

Com o passar do tempo, novos temas são abordados, o funil torna-se cada vez mais apertado e o que antes eram detalhes vai se transformando em planos de ação, controles, treinamentos, fiscalizações etc.

Atualmente preocupa-se com o design sanitário dos equipamentos, os planos para uma produção sustentável, com redução de perdas e o fortalecimento da cultura de segurança de alimentos. Ufa! Com tantas novas ações, será então que já olhamos para tudo? Será então que não há mais nenhum “pelo em ovo” ou coisas assim perdidas por aí? Empresa certificadas, legislações funcionando, parece que está tudo certo… Ou será que mesmo assim estamos olhando apenas para a ponta do iceberg? Como será que esse olhar nos levará à resposta sobre o futuro?

Voltando para o presente, estamos em um momento em que tudo vira uma verdade absoluta nas redes sociais, em que mentiras sem embasamento derrubam anos de estudos. A cultura é o que fortemente se destaca como um campo a ser melhor trabalhado. E por estes e por outros motivos não podemos pensar na cultura somente dentro das organizações. Pare e reflita: quando você conversa com seu vizinho, será que a cultura chegou até ele? Ou ele ainda está procurando papelão em carne bovina e jurando que a linguiça de tal marca é imprópria para consumo, e o leite em pó é mil vezes melhor do que o de caixinha por “ser puro”? Como anda a relação entre segurança de alimentos e as redes sociais?

Sob essa lente, talvez o futuro da segurança de alimentos esteja no fortalecimento da cultura, mas não falo especificamente da cultura das empresas que atingiram a maturidade nem tampouco das pequenas fábricas que ainda engatinham neste requisito ou ainda daquelas grandes que estão se mexendo para sair do modo “sempre foi assim”.

Será que a inovação, o grande futuro que esperamos, não está mais perto do que imaginamos apenas ao olhar para fora? É preciso estourar a bolha das organizações e trabalhar a cultura com quem mais se beneficia e literalmente se alimenta dela, AS PESSOAS! Sim! São elas, as pessoas, que mais trazem e trouxeram força para as regulamentações de alimentos. Projetos como o Põe no Rótulo e o próprio Food Safety Brazil exemplificam belamente como o conhecimento público pode fortalecer e impulsionar mudanças positivas, promovendo uma cultura de segurança de alimentos. E desta forma, com o fortalecimento e engajamento social, aliados aos avanços tecnológicos, chegaremos ao futuro desta cultura linda e pela qual somos tão apaixonados.

E então, passageiros, já haviam pensado assim? Vamos juntos embarcar nesta viagem com destino ao futuro da segurança de alimentos, munidos de muita cultura, não esquecendo da tecnologia, da IA, dos planos de APPCC online e de toda essa bagagem? Encontro vocês lá!

Por Fábia Carolina Lavoyer Llorente

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Segurança de alimentos no espaço: novos desafios

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Em  junho de 1959, a NASA, Agência Espacial Americana, contratou a empresa Pillsbury, com o objetivo de produzir alimentos que pudessem ser consumidos em gravidade zero, e ao mesmo tempo, serem seguros. Foi a partir daí que surgiu uma das mais famosas ferramentas relacionadas à produção de alimentos seguros, o APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). Para conhecer um pouco mais sobre essa história, faça uma breve leitura do artigo “Uma breve história do HACCP”.

A chegada do homem à Lua e a realização de viagens espaciais tornou realidade algo que antes eram histórias de ficção científica, fazendo com que além de todo o cuidado com as pesquisas e construções de espaçonaves e foguetes, também houvesse a preocupação quanto à segurança dos alimentos no espaço.

A partir daí inúmeras pesquisas realizadas por empresas especializadas nesse assunto ao redor do mundo fizeram com que todo o cuidado que a NASA tinha em relação à segurança de alimentos, também se estendesse à produção de alimentos aqui na Terra.

Nos tempos atuais, começamos a dar novos passos em relação à  corrida espacial,  já que não apenas astronautas, mas também turistas espaciais começam a frequentar o espaço com viagens ainda não tão acessíveis a toda população devido ao alto custo. Vislumbrando as próximas décadas, podemos prever  que as idas de humanos ao espaço se tornarão cada vez mais frequentes. Em se tratando de alimentação, quais as tendências e cuidados a se tomar?

As várias áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação das indústrias de alimentos e centros de pesquisas de renomadas universidades já dominam os riscos a serem avaliados, os perigos a serem controlados e os impactos à saúde humana quanto ao consumo na Terra. Fora do nosso planeta, a situação é outra, uma vez que o espaço ainda é um campo desconhecido em termos de produção, armazenamento, validade e consumo de alguns alimentos. Imagine um alimento com migalhas que podem ficar facilmente suspensas no ar em um ambiente de baixa gravidade ou um alimento rico em sal (o corpo  armazena sódio no espaço de forma diferente e pode causar osteoporose acelerada). Esses são alguns tipos de perigos a serem considerados.

Em obras de ficção, como o desenho animado “Os Jetsons”, vimos episódios de alimentos com embalagens em tubos como pasta de dente que os personagens usavam para se alimentar. No filme “Perdido em Marte (2015)”,  o protagonista tem a difícil missão de produzir batatas em solo marciano. São apenas alguns exemplos para ter ideia do quão desafiador é pensar sobre isso. Mas já temos algo que pode chegar próximo disso, como os alimentos 3D, que são alternativas a serem aprimoradas para o espaço e aqui na Terra também.

Diante disso, existe um vasto campo para pesquisa, envolvendo a produção de alimentos, sua composição, resíduos, as reações bioquímicas, as tecnologias para congelamento, desidratação, termoestabilização e potenciais perigos conhecidos e desconhecidos.

Certo é que o futuro já chegou e precisamos ter em mente que todas essas novidades voltadas para alimentos no espaço também servirão para melhorar a segurança dos alimentos aqui na Terra. Basta lembrar o APPCC citado no início desse texto. E vamos rumo às estrelas.

Por José Gonçalves de Miranda Júnior

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Ovos e ovoprodutos: uma perspectiva frente às mudanças climáticas

5 min leituraAo fazer as compras do mês, certamente já nos deparamos com a alta dos preços nas gôndolas e a proporção inversa da quantidade de sacolas que vão para casa e da quantidade de dinheiro que fica no supermercado.

As mudanças climáticas têm impactado diretamente a alta dos preços dos alimentos (já vimos o caso do azeite, do arroz e do cacau), e consequentemente o bolso do consumidor e, ainda pior, a segurança dos produtos.

Mas, e os ovos? Por que se preocupar com eles?

Quem não pega uma pequena cartela de ovos em sua cesta do supermercado, seja o ovo tradicional em casca ou, para quem prefere praticidade, uma caixinha de ovo pasteurizado ou um pacotinho de ovo em pó? Se não leva o ovo diretamente, certamente o leva no seu bolinho, macarrão, panetone, molhos e diversos outros alimentos que o utilizam como ingrediente.

Hoje o Brasil é o 5° maior produtor mundial de ovos com um consumo de 242 unidades de ovo per capita/ano, um aumento de 195% desde 1997, segundo dados de 2024 da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

De acordo com projeções da ABPA, espera-se um aumento tanto da produção como do consumo de ovos para este ano de 2024, porém, também espera-se um aumento nos preços, devido ao alto custo com milho, energia elétrica, combustível e embalagem.

Essa projeção de alta no custos da produção já tinha sido apontada em outros estudos nos quais foram abordados os efeitos das mudanças climáticas na produção de ovos. O aumento constante da temperatura ambiente já vinha acontecendo a cada ano, afetando diretamente as perdas tanto de produtividade como da qualidade dos ovos e, também, indiretamente, as produções dos insumos utilizados na sua produção, como os grãos para ração (milho e soja) e também a energia elétrica.

A perda de produtividade dos ovos está relacionada à alta taxa de mortalidade das poedeiras. As ondas de calor intoleráveis às galinhas causam insolação e, por consequência, mortalidade. Além disso, a alta temperatura ambiente gera uma redução significativa na produção diária de ovos devido ao estresse e também pelo aumento no consumo de água, o que faz reduzir o consumo de ração.

Um dos fatores apontados por um pesquisador da área, Lamarca, é a falta de preparo dos produtores, que muitas vezes, pela inviabilidade econômica, não têm galpões climatizados. Em sua pesquisa, ele mostra que no interior de São Paulo, na cidade de Bastos, onde há grande produção de ovos, os produtores não possuem essa estrutura preparada para ondas de calor, isto é, não possuem climatização. Isto ocasionará alta taxa de mortalidade quando ocorrer esse evento e o autor ainda ressalta que esta cidade, bem como sua região, apresenta grande risco da ocorrência de ondas de calor.

Frente a esse cenário, os produtos de ovos deparam-se com diversos desafios, como a busca por novas formas de alojamento, suplementação para a ração, inovação e remodelagem dos sistemas de ventilação, entre outros.

Então, o impacto é só no bolso?

Não. Como já esperado, estudos relatam que as mudanças climáticas são um dos fatores que contribuem para o surgimento de novos vírus, bactérias e parasitas nos últimos anos, sendo que há uma alteração na distribuição de doenças em nível global, resultando em um estímulo aos surtos de doenças que afetam a produção agrícola, tanto na produção de ovos como da carne.

Diversos patógenos têm seu comportamento afetado pelas mudanças climáticas. A Salmonella foi apontada como um risco para contaminação de alimentos tanto no setor agrícola como nas indústrias de alimentos. Existe ainda um estudo que mostra um aumento de sua incidência em poedeiras quando há um aumento da temperatura ambiente.

Outra questão a se considerar é que, com o aumento do risco de zoonoses emergentes, com as mudanças na sobrevivência de patógenos e mudanças na distribuição de vetores e parasitas devido às mudanças climáticas, pode-se exigir um aumento no uso de medicamentos veterinários e aditivos, possivelmente resultando em níveis aumentados de resíduos em alimentos de origem animal. Isso representaria não apenas riscos agudos e crônicos para a saúde humana, mas poderia levar ao surgimento de resistência antimicrobiana (RAM) em patógenos humanos e animais. Devido à frequência crescente de bactérias resistentes a antibióticos, os humanos estão se tornando mais suscetíveis, com as mudanças climáticas contribuindo para essa suscetibilidade.

Diante disso, é importante destacar alguns pontos para a indústria de ovoprodutos:

  • É necessário cada vez mais estreitar o relacionamento da indústria com os fornecedores/produtores de ovos in natura e acompanhar as alterações que as mudanças climáticas têm causado para que, em parceria, possam traçar planos para mitigar as consequências futuras;
  • A Salmonella spp em ovos in natura deve ser avaliada com maior critério;
  • É importante uma atenção especial em relação às mudanças que podem ocorrer, principalmente, nas vacinas e agrotóxicos utilizados na cadeia de produção avícola para manter um monitoramento de análises de contaminantes atualizado;
  • O cuidado e a manutenção da cadeia do frio deve ser ainda maior devido aos impactos do aumento da temperatura mundial, além de monitorar e correlacionar às não conformidades por quebra da cadeia do frio;
  • As alterações climáticas correlacionam-se com o desperdício de alimentos ao longo de toda a cadeia de produção, sendo assim, um ponto relevante nas avaliações de perdas e desperdícios.

E para o consumidor final é importante manter os cuidados já conhecidos quando se trata de ovos: armazenar na geladeira, mas não na porta e fazer uma boa cocção no seu preparo.

Apesar de perspectivas de futuro desafiadoras na cadeia de produção de ovos e ovoprodutos, se houver união entre os elos da cadeia, trabalho em conjunto com o governo e órgãos de vigilância e ainda, ações proativas em relação às previsões climáticas, o futuro poderá ser mais seguro e surpreendente!

Jéssica M. O. Pacanaro é engenheira de alimentos pela Universidade Estadual de Maringá e especialista em Segurança de Alimentos. Atua há 8 anos em indústria de ovos, com gestão da Qualidade e Segurança de Alimentos e também com norma de certificação de bem-estar animal.  

Referências

AHAOTU, E. O.; OSUJI, F. C.; IBE, L. C.; SINGH, R. R. Climate change in poultry production: a review. International Journal of African Sustainable Development, v. 10(2), p. 362-370, 2019.

GOMEZ-ZAVAGLIA, A.; MEJUTO, J. C.; SIMAL-GANDARA, J. Mitigation of emerging implications of climate change on food production systems. Food Research International, v.134, 2020.

IRIVBOJE, O. A.; OLUFAYO, O. O.; IRIVBOJE, Y. I. Impact of climate change on poultry production: A review. Nigerian Journal of Animal Production, v.48(4), p. 59-69, 2021.

LAMARCA, D. S. F.; PEREIRA, D. F.; MAGALHÃES, M. M.; SALGADO, D. D. Climate Change in Layer Poultry Farming: Impact of Heat Waves in Region of Bastos, Brazil. Brazilian Journal of Poultry Science, v. 20, p. 657-664, 2018.

MAGGIORE, A.; AFONSO, A.; BARRUCCI, F.; DE SANCTIS, G. Climate change as a driver of emerging risks for food and feed safety, plant, animal health and nutritional quality. Publication 2020:EN-1881. European Food Safety Authority, Parma, Italy, 2020.

RAVICHANDRAN, P.; MOHAMED, A. K. A Study of the Perceived Effects of Climate Changes on Commercial Layer Egg Industry with Respect to Total Production, Egg Price Behavior, and Diseases among Layer Poultry Farmers at Namakkal District, Tamilnadu, India. The Pacific Journal of Science and Technology, v.16, p. 345-351, 2015.

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