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Animais criados em espaços urbanos são promessa para atender a demanda por alimentos

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A criação de animais para consumo humano dentro de um perímetro urbano e de forma vertical é mais uma das técnicas promissoras para enfrentamento da demanda crescente por proteína animal.

Animais como cabras, ovelhas, vacas, porcos, aves (galinhas, patos) e búfalos podem ser encontrados em fazendas urbanas em algumas regiões do mundo, porém prédios de maior densidade estão começando.

Quem está colocando todas as fichas na verticalização em espaços urbanos para a criação de suínos é a China.  A demanda é altíssima – consomem cerca de metade de toda a carne suína do mundo. E passaram por uma enorme baixa pelo sacrifício de 100 milhões de porcos por causa da peste suína africana entre 2018 e 2020.

Lá existem prédios gigantes, como em Ezhou. São “apartamentos” de até 26 andares com vista para a estrada principal. É de longe a maior granja de suínos vertical do mundo, com capacidade para abater 1,2 milhão de animais por ano.

Fazenda vertical de criação de porcos na montanha de Yaji, China

A fazenda tem condições controladas de gás, temperatura e ventilação, com animais nutridos através de mais de 30.000 pontos de alimentação automática com o clique de um botão em uma sala de controle central.

A empresa investidora conta que os dejetos dos porcos são tratados e usados para gerar biogás, aproveitado para a geração de energia e aquecimento de água dentro da fazenda.

A área de quarentena para os funcionários da fazenda é dividida em três partes.  Na entrada eles registram seus nomes, de onde são e para qual fazenda se dirigem. Depois passam pelo processo de desinfeção das mãos, da roupa, dos sapatos, e também dos dispositivos móveis e computadores. As amostras são coletadas para testes de laboratório enquanto eles permanecem na primeira área de quarentena. Se o resultado for negativo, podem entrar na última área por mais dois dias, e de lá serem transportados para as fazendas. Mas se os resultados forem positivos, eles têm que ficar outros dias retidos.

Os funcionários entram na fazenda e não saem até o próximo dia de folga.

Em um outro complexo, na montanha Yaji,  mais uma empresa investe e faz planos de chegar a 1.300 porcos em cada um dos 12 andares.

Os suínos ficam restritos a um andar durante toda a vida para evitar a mistura de animais e cada unidade de alojamento possui um sistema de ventilação, elevadores para transporte de animais e uma tubulação específica para direcionar os leitões mortos para as áreas internas de incineração.

Suínos andando em elevador

O efeito sobre o bem-estar dos animais que vivem nesses espaços ainda é muito pouco compreendido. Acredita-se que em espaço limitado, pisos de concreto e incapacidade de exibir outros comportamentos naturais, além de um sentimento perene de frustração, os porcos possam apresentar uma baixa de imunidade, o que ao final, será um problema de saúde.

O local de Yaji usa edifícios de quarentena para trabalhadores e funcionários da empresa passarem suas vidas em uma área residencial dedicada, completa, com quadras de tênis. Ou seja, não só os animais têm uma vida confinada.  Alegam que tudo isso é para garantir padrões altíssimos de biossegurança e sistemas sofisticados de limpeza e descarte.

Contudo, apesar de os empresários e autoridades chinesas alegarem várias vantagens de eficiência, sustentabilidade e biossegurança e de segurança, há controvérsias.

Especialistas têm medo destas iniciativas chinesas. Nos últimos dois anos, os agricultores e consumidores chineses foram abalados por pandemia após pandemia: covid-19, uma gripe suína H1N1 que agora está se espalhando lentamente para os trabalhadores rurais; a peste suína africana (PSA), que já levou à morte até 200 milhões de suínos em um ano; e uma febre aftosa altamente patogênica, também em porcos, que os veterinários agora dizem ser endêmica.

“A China é um conglomerado de todo tipo de impulsionador de doenças emergentes”, disse Peter Daszak, zoólogo e presidente da EcoHealth Alliance. “Você tem essa incrível densidade populacional, que está se expandindo, e você tem uma incrível invasão de áreas selvagens.”

“A enorme densidade de suínos e frangos, a maioria produzidos por fazendas de pequeno a médio porte com baixa biossegurança, interligados entre si por meio de redes de transporte para um grande número de matadouros e mercados úmidos, também com falta de higiene, gera riscos de doenças infecciosas”, diz Dirk Pfeiffer, professor de medicina veterinária da City University em Hong Kong e especialista em doenças relacionadas à pecuária.

“Instalações intensivas podem reduzir as interações entre animais domesticados e selvagens e suas doenças, mas se uma doença entrar, ela pode se espalhar entre os animais como um incêndio”, disse Matthew Hayek, da Universidade de Nova York.

Dirk Pfeiffer, professor titular da One Health na City University of Hong Kong, concordou e disse: “Quanto maior a densidade de animais, maior o risco de disseminação e amplificação de patógenos infecciosos, bem como o potencial de mutação”.

“A questão provavelmente ainda mais importante será se esse tipo de produção é consistente com a necessidade de avançar para a redução do consumo de carne, considerando a ameaça aparentemente imparável de uma mudança climática devastadora”, disse ele.

“Tenho muita confiança de que em 30 a 50 anos a China será extremamente eficiente e segura, mas até lá será a parte mais difícil. Se teremos tempo suficiente para interromper a próxima pandemia antes que ela comece, é uma questão que pesa na mente de muitos especialistas”, diz Daszak.

Porcos passam praticamente toa a vida no mesmo andar

Considerações da FAO sobre a segurança dos alimentos em áreas urbanas

Há uma série de perigos potenciais para a saúde humana que podem estar associados a sistemas pecuários urbanos decorrentes de falta de higiene, condições precárias para manter os animais, moscas e parasitas que podem se reproduzir em dejetos animais, bem como o risco de zoonoses.

As aves domésticas podem transportar patógenos de origem alimentar, como Salmonella sp. que pode se espalhar para os seres humanos se práticas de higiene adequadas não forem implementadas. Embora a maioria das pessoas se recupere dessas doenças sem antibióticos, certas cepas de Salmonella estão mostrando cada vez mais resistência aos antibióticos comumente usados, agravando as preocupações de saúde pública.

A exposição a riscos químicos, como dioxinas, pode ocorrer ao alimentar o gado com material vegetal cultivado na beira da estrada, que apresenta trafego intenso. Esses perigos químicos tendem a se acumular nos tecidos adiposos dos animais e, portanto, entram na cadeia alimentar. A infraestrutura inadequada para o abate de animais, descarte de carcaças e gerenciamento de resíduos (remoção de esterco e urina) também pode representar uma série de riscos de segurança para as pessoas que vivem nas proximidades, bem como para os consumidores.

O acesso adequado a cuidados veterinários e os regulamentos que limitam o número de bandos ou rebanhos em espaços urbanos também são considerações importantes.

A piscicultura vertical é uma abordagem emergente na aquicultura, onde os peixes são criados em sistemas verticais, multitróficos, principalmente em circuito fechado. Essas estruturas podem ser construídas em áreas urbanas onde a terra é escassa ou mesmo offshore. A forma como esses sistemas usam e reutilizam a água, tratam e descartam efluentes de peixes e usam agentes antimicrobianos não apenas determina a segurança do peixe produzido, mas também pode influenciar outras questões de saúde pública, como o potencial de eutrofização em corpos d’água próximos.

Referências

Capítulo Food Safety Considerations for agriculture within urban spaces do  relatório Thinking About the Future of Food Safety – a foresight report, da FAO, que pode ser lido na íntegra aqui.

Fotos e dados sobre a China:

https://www.theguardian.com/environment/2022/nov/25/chinas-26-storey-pig-skyscraper-ready-to-produce-1-million-pigs-a-year

A 12-storey pig farm: has China found the way to tackle animal disease? | China | The Guardian

5 min leituraPorcos criados em prédios na China

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Shelf life de alimentos e testes acelerados para estimativa de prazo de validade

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Segundo o IFST (Institute of Food Science and Technology), o prazo de validade é definido como o tempo durante o qual o produto alimentício permanece seguro, com a certeza de que mantém as características sensoriais, químicas, físicas e microbiológicas desejadas, e cumpre com qualquer declaração constante no rótulo quanto aos seus dados nutricionais, quando armazenado nas condições recomendadas. Esta definição levanta a importante questão das condições de armazenamento relacionadas ao prazo de validade do alimento e também está relacionada ao posicionamento do produto no mercado em termos de qualidade, segurança e percepção do cliente com relação a esses fatores.

As reações de deterioração de alimentos dependem de uma série de fatores, tais como: temperatura, concentração de reagentes, umidade relativa, presença de catalisadores ou inibidores, etc. Assim, um levantamento de como esses fatores influíam nas velocidades dessas reações, bem como a sua influência na qualidade final dos alimentos, fez-se necessário e, desde então, os pesquisadores têm trabalhado na determinação desses dados. Este é um trabalho que se prolonga até os dias de hoje e parece não ter fim.

Contudo, todos os dados até hoje levantados teriam utilidade limitada, se com eles não se tivesse desenvolvido uma ciência que permitisse comparações quantitativas entre as diferentes reações observadas nos alimentos. Essa ciência é a cinética, a qual identifica os principais parâmetros que afetam a velocidade de uma reação, relaciona-os com a alteração da temperatura e estabelece relações quantitativas entre causa e efeito, permitindo, assim, comparações.

Informações sobre vida útil de novos produtos alimentícios são requeridas durante o desenvolvimento e para o lançamento no mercado. No entanto, muitos produtos têm vida útil prolongada, o que dificulta a determinação experimental em tempos compatíveis com as programações comerciais das empresas. Para essas situações, a aplicação de Testes Acelerados de Vida de Prateleira (TAVP) apresenta-se como uma alternativa interessante.

Para iniciar os testes acelerados, o conhecimento das formas de deterioração que irão limitar a VP do alimento em questão é de fundamental importância. Fontes relevantes de informação são: a literatura científica, dados de produtos comerciais de concorrentes, informações internas, informações sobre matérias-primas e arquivos do serviço de atendimento ao consumidor da empresa.

O TAVP consiste no armazenamento do produto de interesse sob condições ambientais definidas e controladas de forma a acelerar as taxas de transformação. As taxas aceleradas de transformação determinadas são, então, relacionadas àquelas obtidas sob condições normais de armazenamento. Dessa forma, em um tempo reduzido de estudo, a vida útil do alimento de interesse é estimada. O TAVP permite, também, o desenvolvimento de modelos matemáticos para a previsão de vida útil em diferentes condições de armazenamento.

A metodologia TAVP emprega métodos rápidos e mais econômicos de determinação de prazo de validade dos produtos. Entretanto, essa metodologia, por estar sujeita a erros e aproximações, requer experiência dos condutores dos testes e é aplicada como estimativa.

Faz parte destes estudos o armazenamento dos produtos em condições controladas de temperatura, umidade, luz e a retirada de amostras, em períodos pré-definidos, para avaliações físicas, químicas, sensorial e microbiológica.

De posse destes dados é realizado um ajuste matemático para cada tipo de degradação, baseado na cinética de reações e na equação de Arrhenius. São determinadas velocidades de reação e o fator de degradação (Q10). Com o conhecimento do Q10 é possível estimar matematicamente a vida de prateleira em diferentes temperaturas.

A demanda por estudos de estabilidade teve um aumento expressivo após a ANVISA ter publicado no dia 30 de outubro de 2018, o Guia nº 16, para Determinação de Prazos de Validade de Alimentos, em cumprimento do Tema nº 4.8 da Agenda Regulatória 2017-2020. O guia pode ser acessado aqui e, segundo informações da ANVISA, encontra-se atualmente em revisão.

Esta iniciativa da ANVISA impulsionou empresas da área de alimentos a se preocuparem com o assunto, gerando maior demanda de projetos para o Ital. Para atender esta demanda, é muito importante ter uma infraestrutura adequada ao controle de armazenagem e principalmente dominar a metodologia de TAVP e estimativa matemática de vida útil.

 

Quer saber mais sobre o assunto? O blog já publicou os seguintes artigos:

Como estimar a vida de prateleira dos alimentos? Testes acelerados

Qual é realmente a validade de um alimento?

Tradução do Guia para estabelecimento de prazo de validade de alimentos

Alimentos fora da validade podem ser consumidos em meio à fome que assola o país?

 

Silvia Cristina Sobottka Rolim de Moura é pesquisadora científica nível VI e diretora técnica substituta do Centro de Tecnologia de Frutas e Hortaliças do ITAL. Doutora em engenharia de alimentos pela Faculdade de Engenharia de Alimentos da UNICAMP e docente no programa de pós-graduação do ITAL no curso de mestrado stricto sensu em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Membro da Comissão Interna de Avaliação de projetos PIBIC/PIBITI CNPq, membro da Comissão Interna de Biossegurança do ITAL, membro da Comissão de Integridade Científica do ITAL e membro da Comissão de Pós Graduação do ITAL. Tem experiência na área de engenharia de processos e tecnologia de alimentos, com ênfase no desenvolvimento de produtos e estimativa de vida de prateleira. Atua principalmente nos seguintes temas: microencapsulação, estabilidade de compostos funcionais, propriedades físicas e processamento de produtos de origem vegetal. Seus trabalhos têm como foco a elaboração de produtos saudáveis, funcionais e com agregação de valor.

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Inovação importa para Qualidade e Segurança de Alimentos?

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Olá, leitores do Food Safety Brazil! Que bom estar de volta a este blog tão importante para mim! Você sabia que eu escrevi aqui desde o seu 1º ano (2012)? Desde que deixei a escrita constante aqui para me aventurar na Sra Inovadeira, eu aprendi muita coisa que contribuiu para a minha visão sobre as práticas projetuais. Hoje eu vou contar para você como usei a abordagem do Design Estratégico, foco do meu mestrado, em um projeto voltado à qualidade e segurança de alimentos.

Design e Qualidade têm a ver? Para mim, muito! Deixa contar como foi esse processo projetual.

Nosso projeto tinha o objetivo de reformular um curso longo voltado à Qualidade. Gostaríamos de entender quais eram as lacunas, os anseios, os incômodos dos profissionais de Qualidade e Segurança de Alimentos, criando um curso que não apenas atendesse às dúvidas que eles já tinham no radar, mas também àquelas que ainda não estavam presentes – mas deveriam.

O projeto teve três fases. Na primeira, fizemos o nosso dever de casa: desk research e netnografia para mapear os temas recentes que estavam sendo mais discutidos em eventos, congressos, fóruns e artigos científicos do setor. Usamos tudo o que estava ao nosso alcance: Google Scholar, Science Direct, observação de grupos de whatsapp, Instagram, Linkedin, Google Trends e Google Ads (buscando os termos mais buscados na plataforma). Este mapeamento fez com que a equipe entendesse em que terreno estava pisando, e quais eram os temas mais quentes e mais prementes do setor.

Na segunda fase, entrevistamos em profundidade 6 gerentes e diretores de Qualidade de grandes empresas de alimentos, todos com grandes equipes de Qualidade. A todos, perguntamos qual era o papel da Qualidade na empresa e o que mais sentiam falta nos líderes com quem hoje trabalhavam – ou seja, quais eram as suas lacunas de aprendizado e experiência. Estas entrevistas nos mostraram que havia temas quentes que também eram lacunas – ou seja, que não estavam no radar dos profissionais de Qualidade e Segurança de Alimentos. Também aprendemos que as lideranças de Qualidade tinham uma visão focada na rotina e pouca experiência com temas mais estratégicos.

Com base nestas duas fases, montamos uma proposta de reformulação do curso. A proposta incluía módulos em 4 grandes áreas:  Pessoas, Processos, Segurança de Alimentos e Inovação e Tecnologia. Com base nestas áreas, criamos 6 módulos, que iam cruzando a nossa visão sobre o futuro da Qualidade e Segurança de Alimentos, com tudo o que havíamos coletado durante o projeto.

Chegamos à terceira fase certas de que iríamos abafar. Tínhamos 6 módulos incríveis, inspirados em toda essa pesquisa, e apresentamos para um grupo de 5 profissionais da Qualidade que ocupavam uma cadeira de liderança na área. Todas mulheres, é claro, porque a gente domina o setor, né non?

Cada participante desta fase apresentou-se, conheceu o material que havíamos criado e recebeu então 10 votos: 5 positivos e 5 negativos. Elas foram instruídas a distribuir seus votos positivos para os módulos que mais lhe chamaram a atenção, e os negativos para aqueles que não chamaram a atenção ou tinham pontos de melhoria.

Todos os módulos foram muito bem aceitos, menos um.

Adivinha qual?

Aquele que era o meu queridinho: Inovação e Novas Tecnologias.

Aquele seria o MEU módulo… como assim, as pessoas não curtiram este tema?

A ideia ali era apresentar quais novas tecnologias poderiam ajudar a Qualidade e a Segurança de Alimentos a terem melhores resultados: coisas como visão computacional, internet das coisas, inteligência artificial, digitalização. Além disso, iria discutir o papel da Qualidade nos processos de inovação da empresa. Nós sabíamos que isso era um tema quente, e que era uma lacuna destes profissionais.

Contudo, o que as pessoas da indústria de alimentos entendem quando leem a palavra inovação? Novos produtos. E algo que não está próximo delas.

Um dos comentários que recebemos foi muito emblemático:

“Não consegui entender como a Inovação e Novas Tecnologias será inserida no contexto atual. Enquanto a Qualidade é aquele trabalho de todo dia, aquela batalha nossa, todo dia tem que fazer acontecer, ela ainda não é natural. Ainda vejo um tempo muito grande até chegar nessa aplicação de todas essas novas tecnologias.”

Esse e outros comentários similares me fizeram voltar no tempo – na época em que eu mesma era Gerente de Qualidade e P&D em uma empresa de ingredientes. Pessoa de P&D, começando a trabalhar diretamente com Qualidade, o que eu aprendi?

Que a rotina nos engole, e logo estamos apenas tocando o dia a dia.

A questão é que o trabalho da liderança – em teoria – não é tocar o dia a dia. A liderança tem que formar pessoas, pensar em estratégias, inspirar, formar elos, melhorar processos nas interfaces. O que vemos, contudo (e o que aconteceu comigo também!), é que a rotina nos engole.

A questão é que Qualidade e Segurança de Alimentos podem atuar em três níveis: conformidade, gestão e estratégia.

No nível de conformidade, está toda a nossa rotina: assegurar o atendimento à legislação e às normas. Garantir que o produto seja fabricado no padrão. Conferir as matérias-primas. Estabilizar processos com desvios e gerir não conformidades. Tudo isso que é o nosso dia a dia.

No nível da gestão, está tudo o que faz com que a rotina funcione: seleção de pessoas, treinamento, inspiração, resolução de conflitos. Melhoria contínua de processos, redução de custos, aumento da eficiência.

Até aqui, se há inovação, ela é incremental. Nos níveis de atuação de conformidade e de gestão, estamos lidando apenas com aquilo que a empresa já faz, e melhorando aos poucos, um dia de cada vez. Tudo, sem dúvida, relevante para a sustentação do Sistema da Qualidade e Segurança de Alimentos.

A coisa muda de figura, contudo, quando ela atua no nível da estratégia. É aqui que o impacto da Qualidade aumenta. Este é o nível em que pensamos novos futuros, implementamos normas que abrem novos mercados para as empresas, introduzimos tecnologias que zeram os defeitos ou aumentam significativamente a eficiência dos processos. É neste nível que a Qualidade é fonte de inovação para a empresa.

É no nível da estratégia que a Qualidade e a Segurança de Alimentos deixam de ser um custo do negócio, para serem uma das suas principais fortalezas de sustentação. Qualidades que atuam no nível estratégico estão sentadas na mesa da Alta Gestão, tomando decisões e apoiando decisões de longo prazo.

E então, eu lhe pergunto? Em que nível você tem atuado? E por que parece que Inovação não importa para quem trabalha na Qualidade e Segurança de Alimentos?

Ah, em tempo: lembra da fase 2 do projeto, em que entrevistamos líderes de Qualidade de grandes empresas de alimentos brasileiras. Adivinha o que estes líderes falaram?

Que sentem falta de lideranças de Qualidade que saibam estabelecer estratégias, entendam de inovação e de novas tecnologias.

Vocês sabem que a Inovação é o norte da minha vida.

É sobre as Contribuições da Inovação para a Qualidade que eu falo no VIII Encontro de Profissionais da Garantia da Qualidade, que acontece agora em maio em Campinas. Quer me ouvir falar? Então garanta seu ingresso aqui.

Cristina Leonhardt é profissional da inovação de alimentos, engenheira de alimentos (UFRGS), com MBA em Gestão Empresarial pela FGV, mestra em Design (UNISINOS). Atua na área de Pesquisa e Desenvolvimento há mais de 20 anos, com gestão estratégica em P&D e Inovação e projetos de desenvolvimento de alimentos e bebidas, além de ser mentora da Startup Weekend e de foodtechs. É uma das principais autoridades brasileiras em Gestão de Pesquisa e Desenvolvimento. 

Fundadora e editora-chefe da Sra Inovadeira, o 1º portal brasileiro sobre Inovação e P&D de alimentos. Fundadora da Tacta Food School, empresa de educação continuada e hub de projetos na área técnica de alimentos e bebidas. Em 2022, fundou a Manbu, empresa dedicada à Gestão Estratégica da Inovação, Pesquisa de Mercados e Projetação de Futuros em empresas de alimentos. 

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No verão, os alimentos estragam mais rápido?

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Em qualquer período do ano, temperaturas inadequadas são fatores de risco para os alimentos perecíveis. No entanto, é no período de verão, momento em que as temperaturas ficam bem mais altas, que os alimentos correm maior risco.

E por que isso acontece, mesmo quando o alimento está sob refrigeração? Os refrigeradores, congeladores e câmaras frias, independentemente de autosserviço (selfie) ou se ligados a um rack central, trabalham trocando calor com o ambiente. Isso significa que, em dias mais quentes, o equipamento fará um esforço maior do que em dias mais frios e gastará mais energia.

A incidência de calor externa devido ao sol que bate diretamente na parede onde o refrigerador está ou a interna, como é o caso da temperatura ambiente em um dia de muito calor, impacta diretamente nos alimentos perecíveis que estão dentro do equipamento refrigerado, seja pelo nível de geração de frio, pela troca térmica (assunto que você verá mais adiante) ou pela forma como ele é utilizado (carregamento de produtos, aberturas de porta etc.).

Como a amplitude térmica a vencer é maior e o equipamento precisa funcionar por mais tempo e com maior potência, a probabilidade de defeito aumenta no verão. Por isso é muito comum os técnicos de refrigeração ficarem ociosos no inverno e muito ocupados na época de calor.

Outro ponto relevante é que a temperatura dentro do refrigerador varia em até 6 graus. Isso significa que, se no ponto mais frio do equipamento o produto está a 0°C, no ponto mais quente provavelmente estará a 6°C. Sendo assim, é fundamental atentar-se à temperatura indicada pelo fabricante e a variação dentro do gabinete para configurar corretamente o equipamento.

Quanto mais adequada for a temperatura do produto, mais tempo você terá para agir em caso de problema. Um equipamento que opera a -18°C e quebra na madrugada dará muito mais horas para agir do que um operando a -12°C.

A influência da temperatura ambiente

Por definição, a temperatura ambiente é a temperatura do ar num determinado espaço. E ela é variável não só de região para região, como até mesmo dentro de um mesmo local devido a fatores externos.

Mas o que isso tem a ver com os alimentos perecíveis e as temperaturas do verão? Tudo. Em períodos de mais calor, a temperatura ambiente fica mais elevada e, mesmo que os alimentos estejam dentro de um equipamento refrigerado, a temperatura ambiente terá influência porque há troca térmica: quando você abre a porta de uma geladeira, o calor de fora entra e o frio de dentro sai.

Daí a importância de também manter uma temperatura ambiente ideal nos espaços que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é de 23°C a 26°C. O monitoramento de temperatura ao longo do dia ajuda a não comprometer nem os produtos que sofrem oscilação térmica nem os equipamentos, que podem precisar de mais manutenção quando trabalham em excesso para gerar o frio necessário.

A SYOS oferece a todos os elos da cadeia do frio – indústria, transporte e ponto de venda – uma solução de monitoramento de temperatura a partir de sensores com inteligência artificial, que conseguem analisar os padrões de frio que chegam aos alimentos dentro dos equipamentos refrigerados. E a qualquer sinal de não conformidade, seja equipamento desligado, baixo rendimento ou rendimento crítico, um alarme é enviado via app ou WhatsApp para que uma ação imediata possa ser tomada.

Evite perder produtos no transporte ou durante sua transferência

Outro cuidado que se precisa ter é sobre como os alimentos são tratados ao longo de todo o processo, desde que saem da indústria até chegar a seu destino.

Durante o transporte, o monitoramento de temperatura tem como objetivo certificar que não haverá variação dentro das faixas de temperatura em que os produtos devem estar. Se foi estabelecido que o veículo tem que estar entre 0°C e 10°C, por exemplo, ao passar por regiões de temperaturas mais altas, o responsável precisa checar o frio que está circulando no caminhão para entender se há ou não necessidade de baixar a temperatura ou aumentar o fluxo do ar para ter mais circulação interna.

Ao fazer acompanhamento em tempo real, como o da SYOS via plataforma web ou aplicativo, é possível perceber a variação da temperatura quando algo diferente do padrão pré-estabelecido está acontecendo e receber um alerta indicando que a temperatura está variando. É a partir do alarme, em tempo real, que uma ação imediata pode ser tomada e salvar a carga, em vez de esperar que o produto chegue à ponta já em condições inadequadas, sendo rejeitado na entrega.

Vale dizer que não é só no embarque e no desembarque que as variações acontecem. Durante a transferência de produtos de uma câmara fria para a gôndola, de uma ilha que parou de funcionar para outro refrigerador, por exemplo, também pode haver perdas. Isso porque muitos alimentos são tão sensíveis que não é preciso muito tempo para que eles percam a qualidade ou tenham a embalagem comprometida, gerando percepção negativa nos clientes.

Como saber quando um alimento foi submetido a variação de temperatura?

Nem sempre é possível visualizar a olho nu que um alimento está em risco. Existem dois tipos de bactérias que alteram a qualidade dos produtos: uma é chamada de deteriorante e indica mudança de cor, textura e sabor, e nem sempre faz mal à saúde. A outra é chamada de patógeno, que causa risco à saúde, mas é difícil de ver a olho nu.

No entanto, se houve espaço para o microrganismo deteriorante se instalar nos alimentos, ou seja, se você já viu que tem algo diferente do padrão, é possível que os microrganismos patógenos também possam ter se desenvolvido ali. A melhor opção neste caso é descartar o alimento para que nem você ou seu cliente corram algum risco.

Se o produto estiver numa embalagem plástica é possível observar os aspectos do próprio alimento: se ele tiver formação de crosta de gelo nas laterais, se a embalagem estiver suada, se o papelão estiver com algum aspecto molhado ou mole significa que o produto passou por um descongelamento. Produto congelado precisa estar totalmente rígido, firme e qualquer situação diferente disso indica que o alimento não está em condição adequada.

Ter acompanhamento contínuo da temperatura faz com que seja possível tomar ações efetivas em tempo hábil. Não permita que a saúde dos seus clientes seja negligenciada; exija qualidade e ofereça segurança com a solução de monitoramento da SYOS. Para ter acesso a outros conteúdos como esse, acesse o Blog da SYOS.

Por Caroline Dallacorte, engenheira de alimentos e diretora de crescimento da SYOS

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Embalagem inovadora contribui para a segurança dos alimentos

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É cada vez mais comum as indústrias de alimentos adotarem embalagens inovadoras, uma vez que elas são o primeiro contato do consumidor com o produto. Para conseguir se destacar diante da vasta lista de concorrentes e oferecer algo novo, é necessário investir em uma embalagem que atraia o público-alvo. É importante ressaltar que, além de chamar a atenção, ela precisa preservar a qualidade e segurança do alimento.

Além da estética, as embalagens inovadoras conseguem contribuir em vários aspectos: sustentabilidade, posicionamento no mercado, agregação de valor, marketing, experiência ao cliente e o aumento na segurança de alimentos.

Existem tecnologias inovadoras no mercado para embalagens de alimentos. Segundo artigos de divulgação (veja mais aqui e aqui), uma delas é o feixe de elétrons ou E-beam, que realiza a esterilização da embalagem. O princípio, segundo a divulgação, é “usar um feixe de elétrons acelerados para afetar as propriedades de um material pré-polímero (monômero e/ou oligômero), quebrando suas ligações químicas. A interação dos elétrons do feixe com as moléculas de matéria que eles encontram modifica esta matéria através de reações de ionização. As consequências destas reações permitem destruir microrganismos, secar e endurecer monômeros ou reticular plásticos”.

Ainda citando o texto, “é um processo que endurece, reticula e esteriliza instantaneamente, permitindo um maior rendimento. Além disso, um único feixe pode substituir várias baterias de lâmpadas UV ou vários fornos”. Entre as inúmeras vantagens dessa tecnologia, a melhor é que ela “não utiliza em seu processo de produção fotoiniciadores, substâncias adicionadas para permitir a fotopolimerização em processos convencionais, evitando assim qualquer tipo de migração das substâncias” da embalagem para o alimento.

Mas independentemente da tecnologia utilizada, vale ressaltar que sempre devemos seguir os requisitos de segurança de alimentos para homologação dos fornecedores de embalagens, para que elas sejam adequadas para uso em alimentos.

As informações apresentadas são de fontes comerciais.

Imagem: Theagilityeffect

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Dados confiáveis são essenciais para a segurança dos alimentos

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Vivemos em um mundo globalizado e a cadeia produtiva de alimentos ganhou dimensões jamais vistas. No seu prato pode haver ingredientes vindos de várias partes do mundo, e neste cenário, o Brasil tem um papel fundamental, pois é um estratégico player na exportação de alimentos, tanto commodities agrícolas quanto produtos industrializados.

Segundo Frank Yiannas, atual vice-comissário do FDA (Food and Drug Administration):

“Uma melhor segurança dos alimentos começa e termina com melhores dados”.

Dados confiáveis de rastreabilidade são essenciais não apenas para recall eficiente, mas também para análise de causa-raiz de eventos de DVAs (Doenças Veiculadas por Alimentos), ajudando a entender, analisar, corrigir e prevenir novas ocorrências.

A rastreabilidade começa com a coleta de dados. Tratando-se de cadeias de suprimentos complexas e multissetoriais que se estendem por todo um sistema global, a comunicação de dados é fundamental para a rastreabilidade rápida e eficaz de ponta a ponta.

Com esta visão, o FDA incorporou temas sobre compartilhamento, qualidade e análise de dados em cada um dos elementos principais do documento  “Nova era de segurança dos alimentos mais inteligente” que pode ser acessado aqui. Este é um projeto que adota uma nova abordagem para a segurança dos alimentos, alavancando a tecnologia e outras ferramentas e formas de trabalho para tornar a cadeia produtiva de alimentos mais segura, digital e rastreável.

Em poucas palavras, trata-se da adoção, mais do que esperada e lógica, de elementos da indústria 4.0 em suporte à segurança dos alimentos, entre eles:

Dispositivos de Internet das coisas (IoT) que facilitam a coleta de dados

Dispositivos conectados à internet para coletar dados de segurança e rastreabilidade de alimentos com o uso de sensores podem ser usados para monitorar as condições climáticas no campo, variáveis operacionais nos processos, limites de controle em pontos críticos e muito mais.

Os scanners de identificação por radiofrequência (RFID) podem ser usados para rastrear os movimentos de produtos alimentícios marcados, apoiando os esforços de rastreabilidade de alimentos do campo ao garfo.

A variedade de sensores, câmeras, scanners e outros dispositivos IoT capacitam os atores da indústria de alimentos a acessar e coletar dados com mais rapidez, confiabilidade e eficácia do que aqueles coletados com trabalho humano, e claro, reduzindo os riscos de erros e fraudes.

Os dados coletados por esses dispositivos podem ser usados para gerenciar desvios de segurança dos alimentos em tempo real, recuperar do mercado rapidamente produtos inseguros e criar modelos preditivos valiosos para os stakeholders do segmento alimentício.

Inteligência artificial (AI) para análise de dados aprimorada

Com grandes conjuntos de dados ao seu alcance, muitas organizações estão buscando como ferramenta-chave o uso da AI para analisar seus dados de segurança dos alimentos de forma mais assertiva.

As agências reguladoras também estão aproveitando a nova tecnologia de análise de dados. O FDA, por exemplo, planeja aplicar modelos preditivos aos produtos alimentícios regulamentados, pois se tiver uma base de dados confiável, há como os algoritmos ajudarem a prever riscos futuros e assim poder agir preventivamente.

A inteligência artificial permite uma capacidade de análise de dados muito mais ampla, combinando informações e extrapolando resultados pelo uso de modelos matemáticos preditivos.

À medida que a cadeia global de abastecimento de alimentos se torna cada vez mais ampla e complexa, a indústria de alimentos precisa se integrar, buscando a sinergia de soluções baseadas em dados confiáveis, expandindo a adoção de tecnologias que permitem a coleta, troca e análise de dados. Este é o futuro da segurança de alimentos, um caminho que já está sendo trilhado e que não tem mais volta.

Para se aprofundar um pouco mais sobre as tecnologias da Industria 4.0 que podem ser aplicadas à cadeia produtiva de alimentos, leia os artigos sobre os “Impactos da 4ª revolução industrial no segmento de alimentos parte 1parte 2“.

E você, como gerencia dados sobre a segurança dos alimentos? Deixe seu comentário!

3 min leituraVivemos em um mundo globalizado e a cadeia produtiva de alimentos ganhou dimensões jamais vistas. No seu prato pode haver ingredientes vindos de várias partes do mundo, e neste cenário, […]

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Soro de leite em revestimentos comestíveis: aspectos de segurança de alimentos

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O soro de leite é um subproduto da fabricação do queijo e tem se mostrado uma excelente opção para revestimentos comestíveis. Ele é rico em proteínas, possui propriedades antibacterianas, capacidade de formação de filme incolor e inodoro, além de biocompatibilidade com outros materiais que podem ser combinados a ele e oferecer características aprimoradas ao revestimento. Isso contribui com o ciclo de vida do alimento ao qual ele está sendo aplicado. As aplicações são reportadas em diferentes matrizes alimentares como carnes, queijos e frutas.

No entanto, quando tratamos de embalagens ou revestimentos de alimentos, devemos lembrar que o material estará em contato direto com os alimentos, sendo necessário considerar alguns aspectos:

  1. O soro de leite comum não é considerado um biopolímero promissor para a preparação de filmes, pois possui estrutura globular compacta e tamanho molecular pequeno. Para modificar essa condição, a solução precisa ser aquecida de 80 a 90°C por 10 a 30 minutos. Esse aquecimento resulta na desnaturação da proteína, expondo os grupos funcionais e hidrofóbicos do soro, formando uma rede química tridimensional que promove ligações intermoleculares e interações hidrofóbicas na secagem do filme. Quando a desnaturação da proteína não é realizada, filmes quebradiços são obtidos após o processo de secagem.
  2. O soro de leite deve ser declarado como alergênico, em atendimento às normas (Codex Alimentarius), por se tratar de um derivado lácteo no qual a presença dessa proteína pode atuar como um gatilho para o desenvolvimento de reações alérgicas.
  3. Aspectos regulatórios estão relacionados aos cuidados com a segurança de alimentos, como as boas práticas de produção, visto que são materiais que entram em contato com alimentos. Além disso, deve-se avaliar minuciosamente a composição do filme e a possibilidade de migração de componente do filme para o alimento, avaliação essa que deve ser baseada em valores previamente estabelecidos em normas legais. Ressalta-se que os aspectos regulatórios são baseados em formulações específicas de forma que cada composição e/ou aplicação requer avaliação individual.
  4. Outro fator a ser considerado para aplicação são os mercados restritivos decorrentes de certificações religiosas, como a certificação Kosher, cujas exigências avaliadas seguem a lei judaica, que não permite a mistura de carne e leite para consumo. Neste caso, o cliente deve ser cuidadosamente estudado previamente. Essa exigência corrobora a referente aos produtos alergênicos, sendo possível mensurar que a aplicação mais assertiva tanto para fins regulatórios quanto mercadológicos é na matriz láctea.

O que você acha dessa aplicação para o soro de leite?

Imagem: Comung

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Food Safety Brazil no primeiro Congresso de Segurança e Qualidade de Alimentos (Unicamp)

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Nos dias 5 e 6 de dezembro ocorreu a primeira edição do Congresso de Segurança e Qualidade de Alimentos, realizado de forma online pela Unicamp (Faculdade de Engenharia de Alimentos – FEA).

Quem participou pôde acompanhar diversas apresentações intrigantes sobre temas distintos e muito pertinentes à qualidade e segurança de alimentos, ministradas por palestrantes bastante qualificados.

 Dê uma olhada na programação:

 

Abertura

Impact of globalisation and Big Data on food safety

Prof. Dr. József Baranyi (Univ. of Debrecen – Hungria)

Sessão 1

Aditivos alimentares: o papel da avaliação do risco no contexto regulatório

Profa. Dr. Adriana Pavesi (Unicamp – Brasil)

Sessão 2

Controle de biofilme em superfícies industriais

Prof. Dr. Manoel Simões – (Univ. do Porto – Portugal)

Sessão 3

Pathogens in the food chain and the one health perspective

Dra. Carmen Torres (Univ. de La Rioja – Espanha)

Sessão 4

Determinação de resíduos de agrotóxicos e medicamentos veterinários em alimentos

Dra. Sônia Claudia do Nascimento Queiroz (Embrapa)

Sessão 5

Microbial interactions within food ecossystems

Prof. Dr. Uelinton Manoel Pinto (FCF – USP)

Sessão 6

Bactérias Láticas: uma ferramenta para reduzir o potencial alergênico de proteínas alimentares

 Dra. Marcela  Albuquerque Cavalcante de Albuquerque – NEPP – Núcleo de estudos em Probióticos e Prebióticos

Sessão 7

Toxigenic fungi and mycotoxins in food: strategies  based on biocontrol to reduce their impact

Dra. Sofia Chulze (Univ. Nacional de Rio Cuarto – Argentina)

Sessão 8

Different tools for food authenticity control

Dra. Ilka Haase – Max Rubner Institut, Alemanha

Sessão 9

Plasma frio no controle de fungos e micotoxinas em alimentos

Profa. Dra. Liliana Rocha (Unicamp)

Sessão 10

Métodos analíticos e detecção de adulterações em alimentos brasileiros

Profa. Dra. Juliana Pallone (Unicamp)

Sessão 11

Pesquisa de matérias estranhas em alimento: um olhar para novas técnicas analíticas

Dra. Maria Isabel Andrekowski Fioravanti / Dra. Elaine Cristina De Mattos – Instituto Adolfo Lutz)

Sessão 12

Da avaliação do risco de contaminantes químicos dos alimentos à avaliação do risco-benefício – a tomada de decisão em segurança de alimentos

Prof. Dr. Ricardo Assunção (Instituto Universitário Egaz Moniz – Portugal)

Lógico que o Food Safety Brazil não iria perder a oportunidade de participar, e traz aqui alguns tópicos abordados

  

Impact of Globalisation and Big Data on Food Safety

József Baranyi (University of Debrecen & Hungarian University of Agriculture and Life Sciences)

 

Um assunto bastante atual foi tratado, aplicado à realidade das indústrias e à gestão de qualidade e segurança de alimentos.

O palestrante falou sobre tratamento de dados gerados em processo, e métodos de predição, análise e tomada de decisão. Estas metodologias, no âmbito de segurança de alimentos, podem ser utilizadas para diferentes finalidades, como avaliação da vida de prateleira e análise de tendência quanto a resultados de análises laboratoriais.

Ainda foi discutida como a globalização impacta a cadeia de produção de alimentos e a Segurança de Alimentos. Diversos desafios decorrem do conceito de cadeia de suprimentos global.

 

Aditivos alimentares: o papel da avaliação do risco no contexto regulatório

Profa. Dra. Adriana Pavesi (Unicamp – Brasil)

 

A palestrante explicou o processo de avaliação de risco para aprovação de novos aditivos. Temas como avaliação toxicológica e avaliação de exposição foram explicados, incluindo a atuação do JECFA (Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives).

Também foi tratada a crescente preocupação da população mundial sobre o uso de aditivos em alimentos. Para se ter uma ideia, um estudo publicado pela OMS aponta o uso de aditivos alimentares em terceiro lugar entre as maiores preocupações em relação à Segurança de Alimentos na comunidade europeia, à frente de contaminação biológica.

Ao final, a palestrante apresentou rapidamente alguns artigos desenvolvidos pela Unicamp para avaliação de novos aditivos.

 

Determinação de resíduos de agrotóxicos e medicamentos veterinários em alimentos

Dra. Sônia Claudia do Nascimento Queiroz (Embrapa)

Foram discutidos os principais métodos para análise de agrotóxicos e medicamentos veterinários em alimentos, como HPLC, Cromatografia em fase gasosa e líquida e espectrometria de massa. Pontos positivos e negativos foram levantados pela palestrante. Além disso, alguns trabalhos realizados pelo Embrapa foram expostos e discutidos.

 

Da avaliação do risco de contaminantes químicos dos alimentos à avaliação do risco-benefício – a tomada de decisão em segurança de alimentos

Prof. Dr. Ricardo Assunção (Instituto Universitário Egaz Moniz – Portugal)

 

O palestrante apresenta uma forma alternativa de avaliar riscos em Segurança de Alimentos, o chamado Risk Benefit for EU. Esta metodologia, diferente de outras adotadas (como o APPCC), inclui o benefício nutricional do produto como contraparte, assim como fatores ambientais e sociais.

Foi apresentado um estudo prático sobre a adoção desta metodologia para frutas secas em Portugal.

 

Toxigenic fungi and mycotixin in food: Strategies based on biocontrol to reduce their impact

Dra. Sofia Chulze (Universidad Nacional de Rio Cuatro – Argentina)

 

Um estudo trazendo estratégias para redução de fungos toxigênicos em alimentos por meio de controle biológico por microrganismos antagonistas foi apresentado pela autora. A relação antagônica entre Aspergillus flavus toxigênicos AF(+) e não toxigênicos AF(-) gerou resultados promissores.

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O ozônio tem outras aplicações na indústria de alimentos além de sanitizante?

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Como podemos ver no post “Cloro x Ozônio na Indústria de alimentos”, é permitido usar o ozônio como sanitizante na água e ele é 325 vezes mais rápido que o cloro a um custo similar.

Mas é só como sanitizante que se usa o ozônio?

Não. Ele tem várias outras aplicações na indústria de alimentos:

1. Na ETA – Estação de Tratamento de Água, para reduzir cor aparente, turbidez, metais pesados, pesticidas e material orgânico para que a água atinja os padrões de potabilidade necessários ao processamento de alimentos;

2. Na ETE – Estação de Tratamento de Efluentes, para reduzir DBO, DQO, cor aparente, turbidez, metais pesados, pesticidas, material orgânico e resíduos químicos específicos para que o efluente atinja os padrões exigidos pelos órgãos ambientais no Brasil para ser lançado na rede de esgoto ou nos rios e outros corpos de água;

3. Na redução de INSETOS nas matérias primas, produtos e processos das indústrias de alimentos;

4. Na redução de PESTICIDAS das matérias primas usadas na indústria de alimentos para que atendam aos LMRs – Limites Máximos de Resíduos, permitidos por lei no Brasil e no mundo

5. Na redução de MICOTOXINAS das matérias primas e produtos das indústrias de alimentos;

Vamos detalhar um pouco mais sobre cada uma dessas aplicações do ozônio.

  • Na ETA – Estação de Tratamento de Água

Esta aplicação foi bem explorada no artigo “Cloro x Ozônio na Indústria de alimentos” já mencionado acima.

  • Na ETE – Estação de Tratamento de Efluentes

O efluente proveniente de algumas operações de processamento de alimentos pode estar fortemente contaminado com material orgânico e resíduos químicos diversos.

Pesquisas demonstraram que uma degradação eficiente de contaminantes pode ser alcançada por meio da aplicação direta do ozônio em efluentes.

No Brasil os efluentes só podem ser lançados em corpos de água se atenderem aos parâmetros da resolução 430 de 2011 do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, pois seu descarte sem o tratamento adequado pode implicar em riscos para a saúde humana, além da degradação do meio ambiente. Isso porque, dependendo do setor de atuação, esses resíduos líquidos podem conter nível de material orgânico acima do permitido, o que aumentaria o consumo de oxigênio do corpo d´água, causando mortes dos peixes e demais seres aeróbios. Também pode conter pesticidas e outros contaminantes químicos provenientes de limpeza e desinfeção, resíduos de aditivos e coadjuvantes de processo danosos à nossa saúde e ao meio ambiente. O ozônio, com seu alto poder oxidante, degrada e desmonta essas moléculas trazendo o efluente aos padrões legais. Se o efluente tiver metais pesados como cádmio, cromo, manganês e níquel, o ozônio precipita-os, retirando-os da solução e permitindo que sejam retidos pelos filtros.

  • Na redução de INSETOS

Antes de mais nada, você pode estar se perguntando, mas sanitização não diz respeito a insetos? Não. Sanitização consiste em reduzir microrganismos críticos para a saúde pública em níveis considerados seguros. Então vamos falar em fumigação de insetos. Insetos consomem os alimentos, depreciam sua qualidade e podem trazer microrganismos.

A fumigação é um tipo de controle de pragas gasoso usado para controle de insetos (pragas) vivos presentes em produtos agrícolas. O ozônio tem grande eficácia sobre os insetos.

Veja na tabela abaixo a relação dos insetos mais comuns encontrados em grãos armazenados e a respectiva porcentagem de mortalidade sob tratamento com ozônio.

Grãos Insetos alvos Concentração do Ozônio Tempo de exposição Mortalidade Referência
Grão armazenado Duas espécies de Tribolium spp. (Coleoptera: Tenebrionidae) 45 ppmv 6.5 h 100% 6
Mistura de farinha/ fubá de milho Oryzaephilus surinamensis (L) 5 ppm 3 e 5 dias 100% 7
Grãos armazenados Tribolium confusum Tribolium castaneum e Sitophilus zeamais (Adulto) 50 ppmv 3 dias 100% 7
Milho T. castaneum (TC) Sitophilus zeamais (SZ) P. interpunctella (PI) 25 ppmv 5 dias 91,4% (TC) 99,9% (SZ) 77,0% (PI) 8
Milho Adulto- T. castaneum,

Adulto- S. zeamais, e

Larva– P. interpuntella

50ppmv 3 dias 92-100% 8
Milho Sitophilus zeamais. 50 ppm de ozônio (8L min-1) 48 h 100% 9
Milho Adultos de S. zeamais e T. castaneum 50 mg kg 1 23,76 e 64,19 h 95% 10
Trigo Sitophilus oryzae (L.) – adultos 25 e 50 ppmv 4 e 2 dias 100% 11
Trigo Tribolium castaneum-adultos 70 ppmv. 4 dias 100% 12
Trigo Ovos de P. interpunctella,

S. zeamais-adulto e S. oryzae-adulto

1800 ppm 180, 120 e 60 min 100% 13
Trigo Ephestia kuehniella (EK) e Tribolium confusum (TC) 13,88 mg/L Tratamento de liberação de ozônio com intervalo de 30 min por 5 h 90-100% (L, P e A de EK) 72,6% (L) 1,3-22,7% (E, P e A de TC) 14
Feijão-caupi Adultos de Callosobruchus maculatus

Pupa

500 ppmv 274,40 min

 

 

1.816,54 min

100%

 

 

100%

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  • PESTICIDAS das matérias primas usadas na indústria de alimentos para que atendam aos LMRs – Limites Máximos de Resíduos, permitidos por lei no Brasil e no mundo

Entre os diversos métodos aplicados para a degradação de resíduos de agrotóxicos usuais, o tratamento químico com ozônio gasoso ou água ozonizada é uma tecnologia emergente com grande potencial e diversas vantagens. Muitas pesquisas têm sido realizadas com o ozônio gasoso para remoção de resíduos de agrotóxico em vegetais, frutas e grãos de cereais.

Veja na tabela abaixo os resultados da degradação de resíduos de agrotóxicos em alguns alimentos pelo ozônio:

Grãos tratados Tipo de toxicidade dos pesticidas Condições de tratamento Nível de redução Referência
Milho Pirimifos-metila 0,86 mg L -1 de ozônio gasoso, 60 min > 91% 22
Trigo Pirimifos-metila 60 mol mol 1 de ozônio gasoso, 30 min 71,1% 21
Deltametrina e Fenitrothion 60 mol mol 1 de ozônio por 60, 120 e 180 min 67,5%, 88,1% e 89,8% 21
Arroz Bifentrina e deltametrina 3 mg L 1 e fluxo contínuo de 1,0 L min 1por períodos definidos de até 10 h. 91,9% – Bifentrina

92,7% – Deltametrina

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A eficiência do ozônio gasoso na degradação de resíduos de agrotóxicos deve-se em grande parte à sua capacidade de reagir com estruturas moleculares contendo ligações duplas, como compostos aromáticos e aminas.

  • Na redução de MICOTOXINAS das matérias primas e produtos das indústrias de alimentos

As micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por uma grande variedade de espécies de fungos que causam as perdas nutricionais e a ingestão de alimentos que contenham micotoxinas pode causar graves efeitos sobre a saúde animal e humana.

O tratamento com ozônio gasoso tem demonstrado eficiência em reduzir contaminação por aflatoxina B1 em figos secos e patulina em sucos de maçã.

O ozônio também é útil na detoxificação e eliminação de micotoxinas em grãos de amendoim, milho, trigo e ração para aves.

Entretanto, dependendo do tipo e quantidade de micotoxina já formada e do alimento, não se consegue reduzir ao nível aceitável sem afetar algo no alimento e, como os fungos Alternaria sp., Aspergillus sp., Aureobasidium sp., Cladosporium sp., Geotrichum sp., Mucor sp., Penicillium brevicompactum, Stachybotris chartarium, Trichoderma viride, Ulocladium sp., Botrytis cinerea, Fusarium verticillioides e Colletotrichum magna já demonstraram serem sensíveis ao ozônio em vários estudos efetuados, a melhor estratégia é reduzir ou eliminar esses fungos bem no comecinho de seu aparecimento. Existem formas de aplicação do ozônio imediatamente após a colheita ou mesmo antes da colheita, em casas de vegetação ou descontaminar o solo dos canteiros.

Literatura citada

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  25. ZORLUGENÇ, B. ET AL., THE INFLUENCE OF GASEOUS OZONE AND OZONATED WATER ON MICROBIAL FLORA AND DEGRADATION OF AFLATOXIN B1 IN DRIED FIGS. FOOD AND CHEMICAL TOXICOLOGY, V. 46, N. 12, P. 3593-3597, 2008.
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A segurança de alimentos da carne cultivada em laboratório (visão da FAO)

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Se por um lado o consumo de alimentos plant-based está em ascensão no mercado, por outro, a demanda por carne também cresce. Como a intensificação da produção animal não combina com sustentabilidade, por aspectos ambientais, segurança dos alimentos e bem-estar animal, a tecnologia de carne cultivada em laboratório, ou mais tecnicamente falando, o cultivo de células, é a forma de ter acesso a proteínas com as mesmas características sem precisar de criação e abate em larga escala. Outros nomes para a tecnologia: carne artificial, in vitro ou sintética.

Em 1932, Winston Churchill afirmou: “Vamos escapar do absurdo de cultivar uma galinha inteira para comer o peito ou asa, cultivando essas partes separadamente em um meio adequado”. Após décadas de pesquisa e desenvolvimento, a tecnologia amadureceu e essa ideia tornou-se realidade. A produção pode ser feita por meio de cultivo in vitro de células animais, que depois são transformadas em alimentos cuja composição pode ser equivalente à de produtos animais convencionais sem a necessidade do animal inteiro.

Desde os estudos iniciais no início dos anos 2000, as metodologias de produção de alimentos baseadas em células foram bem caracterizadas, o que significa que agora estão prontas para passar de laboratórios para escala de produção. Em 2013, o primeiro hambúrguer bovino produzido por essa tecnologia foi apresentado ao mundo. Em dezembro de 2020, os primeiros nuggets de frango à base de células foram aprovados por uma autoridade competente em Singapura (veja a página da agência regulatória de lá sobre o assunto, a SFA). Em novembro de 2021, havia pelo menos 76 empresas desenvolvendo produtos similares em todo o mundo. Muitos tipos de produtos e commodities, como vários tipos de carnes, aves, peixes, produtos aquáticos, laticínios e ovos estão em fase de comercialização futura.

Aqui no Food Safety Brazil está imperdível a entrevista: Gestão de segurança de alimentos em carne cultivada: entrevista com a pesquisadora Aline Silva.

Você sabe como é o processo?

  1. Seleção de células do animal de origem
  2. Produção: As células selecionadas na etapa 1 podem se multiplicar em biorreatores; as células podem ser ancoradas a microportadores ou a um suporte para organizar os tecidos em uma estrutura 3D.
  3. Preparação celular
  4. Proliferação celular
  5. Diferenciação celular
  6. Colheita do produto
  7. Processamento de alimentos: Os produtos colhidos podem ser processados posteriormente para moldá-los nas formas desejadas e/ou ser combinados com outros ingredientes para comercialização.

Se você quer ver a explicação em vídeo, assista este.

Quais podem ser os perigos/preocupações potenciais de segurança de alimentos da carne cultivada?

Linhas celulares de origem

As linhas celulares iniciais desejadas são muitas vezes provenientes de um animal vivo ou abatido selecionado, seguido de isolamento celular. Uma alternativa comum é usar células-tronco pluripotentes induzidas (IPS), células adultas reprogramadas que podem se diferenciar em qualquer tipo de célula. Embora as IPS tenham sido bem estudadas em camundongos desde sua descoberta, os protocolos de diferenciação para várias células animais, como as de bovinos e frango, permanecem indefinidos.

A chance de ocorrência de zoonoses infecciosas e doenças transmitidas por alimentos é consideravelmente reduzida quando comparada à produção pecuária convencional, mas maiores considerações devem ser dadas ao uso de soro animal nos meios de cultura, que podem introduzir patógenos incluindo vírus, bactérias, parasitas, bem como príons. No entanto, a detecção precoce de infecções celulares por meio de monitoramento cuidadoso pode limitar bastante esses riscos. Além disso, como para qualquer processo de produção de alimentos, é fundamental seguir as boas práticas de higiene (BPH) ao longo de todo o processo de produção.

A totalidade da produção de alimentos à base de células pode ser feita em um ambiente bem controlado sem o risco de contaminação por fezes ou fontes externas. No entanto, a aplicação de antibióticos durante algumas das etapas de produção ainda pode ser realizada. Consequentemente, os resíduos podem permanecer no produto final como resíduo antimicrobiano

Componentes do meio de crescimento

Meios de cultura à base de soro animal, especialmente aqueles com soro fetal bovino (SFB), são atualmente a opção mais comum; e podem apresentar maior risco de contaminação microbiológica. Esses perigos podem ser gerenciados e controlados pelo monitoramento adequado dos principais patógenos.

Além disso, tem havido um esforço substancial no desenvolvimento de meios isentos de soro animal para superar as preocupações em torno do SFB, e atualmente existem pelo menos 100 formulações de meios diferentes disponíveis.

Superfícies de contatos

Para que as células aumentem de tamanho e gerem fibras musculares, elas são presas a suportes 3D, que exercitam fisicamente as células. Os suportes podem ser sintéticos ou compostos de materiais comestíveis, estes últimos podem ser preferíveis, pois não precisam ser removidos do produto final

A maioria dos biomateriais usados como suportes na produção de alimentos à base de células não são conhecidos por causar reações alérgicas no consumo. Atenção especial deve ser dada para garantir que materiais derivados de fontes conhecidas de alergênicos não sejam introduzidos inadvertidamente. Como exemplo, quitina ou quitosana podem desencadear reações alérgicas em indivíduos que também são alérgicos a crustáceos.

Mudanças nas propriedades físico-químicas

Para obter crescimento celular exponencial e densidade celular ótima, as linhagens celulares iniciais são constantemente subcultivadas. Como em todas as linhagens celulares que podem se propagar ao longo de muitas gerações, pode haver o risco de que a deriva genética ou epigenética possa ocorrer e isso precisa ser monitorado adequadamente.

Crioprotetores

Crioprotetores como inulina e sorbitol podem ser usados para armazenamento celular. Deve-se tomar cuidado para que não ocorra transferência para o produto final em concentrações que possam causar risco aos consumidores.

Contaminação microbiológica em todo o processo

Como em todas as técnicas de processamento e fermentação de alimentos, a limpeza das operações, o monitoramento contínuo e a estrita adesão às BPF são fundamentais para evitar a contaminação microbiológica, que pode ocorrer em qualquer etapa do processo de produção da carne cultivada. A aplicação do sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC) também é considerada eficaz.

Legislação para comercialização de carne cultivada

Se os produtos alimentares à base de células se enquadrarem numa categoria que exija avaliações de segurança de acordo com os cenários regulatórios atuais, é responsabilidade das autoridades competentes estabelecer os procedimentos para essas avaliações. Além disso, se os consumidores exigirem rotulagem especial para a carne cultivada, é responsabilidade das autoridades competentes estabelecer uma política clara. A rotulagem geralmente não é uma questão simples de gerenciar, pois quase sempre exige a quantificação dos ingredientes/produtos.

Assim, neste caso, a política precisará definir um limite de quanto do alimento foi produzido por meio de técnicas baseadas em células para fins de rotulagem.

Qual é o caminho a seguir?

A maioria dos perigos potenciais nesta tecnologia não é nova. Assim, é importante aprender com várias experiências passadas e considerar a aplicação efetiva do paradigma de análise de risco.  Ao adotar várias metodologias de avaliação de segurança estabelecidas em uma variedade de campos disciplinares, como farmacêutica e biotecnologia de alimentos, incluindo tecnologias convencionais e modernas, vários perigos podem ser sistematicamente identificados e avaliações de segurança relevantes podem ser conduzidas adequadamente. Existem também muitas ferramentas de mitigação de risco disponíveis na área de segurança, como boas práticas (GHP, BPF, GCCP e HACCP) e princípios e metodologias gerais para a avaliação da segurança  de todo o alimento final. Embora existam muitas ferramentas existentes que podem ser úteis para a avaliação de segurança, etapas adicionais podem ser necessárias para alguns processos ou produtos particularmente novos. Portanto, com produtos alimentares à base de células, é importante focar as diferenças significativas dos alimentos existentes para que possam ser estabelecidas metodologias eficazes para avaliar a segurança de todos os elementos.

Este é um resumo do capítulo New food sources and food production systems – Cell Based, do  relatório Thinking About the Future of Food Safety – a foresight report, da FAO, que pode ser lido na íntegra aqui.

Leia também o resumo de outras partes deste relatório aqui no blog.

Quais são os perigos de uma alimentação à base de plantas?

Algas marinhas – implicações de segurança dos alimentos segundo a FAO

Fonte da imagem: Lab-Grown Meat

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