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Alerta: Não compre desinfetante fake, consulte a Anvisa

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Tenho recebido várias consultas sobre desinfetante e uma das principais dúvidas é relacionada às fichas técnicas ou boletins técnicos que contêm mensagens confusas.

Primeiramente vamos esclarecer alguns termos.

Detergente: tem função de limpar, ou seja, remover resíduos e sujidades. Podem arrastar microrganismos que estejam aderidos nas sujidades.

Desinfetante ou sanitizante: tem função de reduzir os microrganismos a níveis seguros, ou seja, desinfetar.

Higienização: é o processo de limpeza seguido por desinfecção.

Infelizmente algumas empresas levam muitos profissionais a usar produtos de forma errada, por dizeres dúbios e confusos como o detergente do exemplo abaixo:

Mensagem fake: Indicado para higienização e limpeza de superfícies, equipamentos e utensílios de indústrias alimentícias em geral. O produto auxilia o controle da contaminação por bactérias, fungos leveduras e vírus.

Esse alerta é porque há várias publicações em que o termo HIGIENIZAÇÃO é utilizado erradamente, porque não é realizada a desinfecção, apenas limpeza.

Da mesma forma é confusa a expressão AUXILIA NO CONTROLE DA CONTAMINAÇÃO, se não é desinfetante.

Outros termos usados são: AJUDA NA ELIMINAÇÃO DE BOLORES E BACTÉRIAS, ou qualquer outro microrganismo, só que o produto não tem comprovação de eficácia.

Os produtos que mais geram confusão são os alcalinos clorados, porque podem ser detergentes ou desinfetantes e perante a ANVISA as exigências são muito diferentes.

A legislação brasileira para desinfetantes para indústria de alimentos segue diretrizes americanas e testes AOAC Official method. As principais exigências são a estabilidade do ativo durante o prazo de validade e a eficácia da redução microbiológica de 5 logs para microrganismos selecionados, considerando a concentração e o tempo de contato informado pelo fabricante.

Já para os detergentes, só é necessário indicar a composição e não usar produtos que não estejam em uma lista permitida.

Assim, as diferenças são:

  • Detergente alcalino clorado: atua na remoção de sujidades, quebra de proteínas e branqueamento. Cuidado com o prazo de validade, pois a estabilidade do cloro é de 6 a 9 meses, dependendo das condições de armazenamento.
  • Desinfetante alcalino clorado: além de atuar como detergente alcalino clorado, reduz a carga microbiológica e efetivamente ajuda no controle de contaminação.

Há muitas novidades no mercado com apelo de desinfetante, e minha sugestão é não acreditar em tudo o que você recebe de informação. O melhor é confirmar no site da ANVISA.

É muito simples verificar se o produto é ou não desinfetante:

  1. Faça uma pesquisa na internet usando as palavras chaves: consulta saneantes ANVISA
  2. Escolha a opção de produtos saneantes e verifique se aparece “Consulta/ Saneantes – produtos registrados ou acesse o link consulta.
  3. Digite o nome do produto no campo “nome do produto”. Se aparecer a mensagem: “nenhum registro encontrado”, o produto pesquisado não é desinfetante. Se o produto for um detergente regularizado deve aparecer na consulta pelo notificados. Se o produto for registrado aparece nova tela com todas as informações.
  4. Se houver mais de um produto com o mesmo nome, clique em cima do nome do produto e aparecerão mais detalhes.
  5. Também precisa verificar se a classe terapêutica é DESINFETANTE PARA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA E AFINS.
  6. Para finalizar, verifique a data de vencimento do registro e a situação do produto – deve estar ativo.

Se quiser mais informações consulte a biblioteca de saneantes, que traz todas as legislações relacionadas.

O maior risco de usar produtos desinfetantes é a produção de alimentos com contagem microbiológica acima dos padrões permitidos pelas nossas legislações –  RDC 724/2022 e IN 161/2022 -, ou seja, alimentos não seguros.

Lembre-se: os biofilmes podem ser formados por utilização de desinfetantes abaixo da concentração letal para os microrganismos.

Resumindo: a verificação de registro de desinfetante é fácil e rápida, então garanta que o desinfetante selecionado não é fake.

Leia também:

Você ainda confunde desinfecção com esterilização?

Referência: ehedg

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Intoxicação alimentar massiva a bordo mudou as regras da aviação

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Imagine uma aeronave lotada com 344 passageiros e cerca de 20 tripulantes na qual 197 pessoas começaram a ter simultaneamente náuseas, vômitos, diarreia e cólicas abdominais. Este episódio caótico a bordo foi o ponto de virada para mudar regras de segurança dos alimentos na aviação.

Era 3 de fevereiro de 1975. O Boeing 747 da Japan Air Lines estava indo de Anchorage, Alasca, para Copenhague, Dinamarca. O trecho todo seria Japão – Paris. Noventa minutos antes do pouso programado em Copenhague, os comissários de bordo serviram omeletes de presunto no café da manhã. Uma hora após os passageiros consumirem uma refeição contaminada com estafilococos, começou o horror.

Em terra, cento e quarenta e quatro pessoas precisaram de hospitalização, tornando-se o maior incidente de intoxicação alimentar a bordo de um avião comercial. Trinta estavam em estado crítico. Os outros 53 foram tratados em salas de emergência improvisadas.

Como nenhum dos médicos na Dinamarca falava japonês, e apenas alguns dos passageiros eram fluentes em dinamarquês ou inglês, funcionários que falavam japonês nos restaurantes de Copenhague foram convocados ao hospital para atuar como tradutores.

A causa-raiz do problema

A equipe de investigação foi liderada pelo oficial do Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos, Dr. Mickey S. Eisenberg, do Departamento de Saúde do Estado do Alasca.

Testes laboratoriais de amostras de fezes e vômitos de passageiros, bem como 33 amostras de sobras de omeletes de presunto, detectaram Staphylococcus aureus.  Concentrações elevadas de toxinas produzidas pelos estafilococos também foram detectadas no presunto, explicando o tempo de incubação extremamente curto.

As refeições foram preparadas na International Inflight Catering, uma subsidiária da Japan Airlines. Verificou-se que três cozinheiros haviam preparado as refeições, um dos quais tinha lesões infectadas no dedo indicador e médio da mão direita.  As lesões nos dedos do cozinheiro estavam infectadas com estafilococos. Na época não se contava com testes de DNA, mas o interessante foi que os testes revelaram tipos de fagos idênticos e resistências a antibióticos para todas as amostras, indicando que o cozinheiro era a fonte da contaminação.

O cozinheiro suspeito preparou refeições para três das quatro cozinhas. Ele havia enfaixado os ferimentos, mas não contou ao superior, por considerar um ato banal. Além disso, a administração não verificou se ele estava bem de saúde.

O cozinheiro suspeito preparou todas as 40 omeletes servidas na primeira classe, bem como 72 de 108 para uma das cozinhas do convés principal. Além disso, ele manuseou todas as 108 omeletes para outra cozinha.

De acordo com os microbiologistas, apenas 100 células de estafilococos são suficientes para causar intoxicação alimentar. A logística de alimentação a bordo forneceu condições ideais para que as bactérias crescessem e liberassem toxinas, que induzem fortes náuseas, vômitos, diarreia e cólicas abdominais. Por serem resistentes ao calor, as toxinas não eram destruídas quando as omeletes eram aquecidas.

Antes de serem servidas, as refeições foram armazenadas em temperatura ambiente na cozinha por 6 horas e depois refrigeradas (embora a insuficientes 10°C) por 14 horas e meia. Em seguida, eram armazenadas nos fornos das aeronaves, novamente sem refrigeração, por mais 8 horas. Se a comida tivesse sido mantida adequadamente refrigerada desde o momento em que foi preparada até estar pronta para ser servida, o surto não teria ocorrido.

Como os acidentes aéreos que costumam ter mais de uma causa-raiz, os investigadores da época concluíram o que hoje é senso comum: pessoas com lesões infectadas não devem manipular alimentos e que os alimentos devem ser armazenados em temperaturas baixas o suficiente para inibir o crescimento de bactérias.

Desdobramentos

O incidente teve uma vítima fatal: a do gerente de catering da Japan Air Lines, Kenji Kuwabara, de 52 anos, que cometeu suicídio ao saber que o incidente havia sido causado por um de seus cozinheiros.

Foi apenas por acaso que o piloto e o copiloto não haviam comido nenhuma das omeletes contaminadas, já que a companhia aérea não tinha regulamentos sobre as refeições da tripulação. Como os relógios biológicos dos pilotos estavam no horário do Alasca e não no horário europeu, eles optaram por um “jantar” de bifes em vez de omeletes de café da manhã. Se não tivessem feito isso, talvez não fossem capazes de pousar a aeronave com segurança.

Dali em diante os experts sugeriram que os membros da tripulação do cockpit comessem diferentes refeições preparadas por diferentes cozinheiros para evitar que surtos de intoxicação alimentar incapacitassem toda a tripulação, uma regra posteriormente implementada na aviação comercial.

Em 1977, a OMS publicou o Guide to Hygiene and Sanitation in Aviation e hoje há importantes diretrizes no World Food Safety Guidelines, da International Flight Association.

Mesmo assim, novas ocorrências aconteceram.

Em 1982, dez tripulantes  incluindo piloto e co-piloto da British Airways adoeceram a cerca de 35 minutos de Boston num voo de Lisboa. Descobriu-se que as refeições principais foram diferentes, mas tinha um prato em comum: a sobremesa, um pudim de tapioca. Três dias após o voo, ainda havia 6 passageiros com ocorrência.

Na Austrália, em 1980, o piloto de um avião bimotor sofreu uma intoxicação alimentar e desmaiou nos controles. Um passageiro reviveu o piloto inconsciente, que conseguiu pousar o avião com segurança.

Hoje em dia, empresas de catering que fornecem para as companhias de aviação são em sua maioria demandadas a ter uma certificação em segurança dos alimentos.

Há um filme satírico sobre intoxicação de piloto a bordo, Airplane! (1980), mas no fundo, para quem trabalha com segurança dos alimentos na aviação, isso não tem graça nenhuma.

Referências:

The New York Times

Wikipedia

Daily Mail

Fonte da imagem:  Stuff

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Por que é importante a formação contínua em segurança de alimentos?

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Você, profissional de alimentos, está cuidando de sua formação contínua?

Muitas vezes ouvimos e repetimos a frase de Hipócrates (considerado o pai da medicina moderna): “Deixe a comida ser o seu alimento e o alimento ser o seu remédio”. Embora esse conceito seja válido desde os tempos da antiga civilização grega e seja aceito tanto por médicos quanto por nutricionistas, é válido pensar que em tempos anteriores a essa civilização, tanto as civilizações sumérias, quanto as babilônicas e as antigas civilizações andinas da América tiveram técnicas muito bem desenvolvidas em culturas alimentares. Além da irrigação,  cultivo e criação de animais para consumo humano, elas também desenvolveram um conceito genérico de segurança de alimentos.

O fato de até agora ter sido encontrado pouco material escrito dessa época não significa que em um futuro próximo ou distante não possam ser encontradas evidências científicas que comprovem a existência dessas “normas” ou costumes associados à segurança de alimentos. Obviamente, séculos se passaram desde aquela época e o treinamento em segurança de alimentos evoluiu até os dias atuais. Durante várias décadas, especialistas de vários ramos da ciência continuaram a fornecer dados cada vez mais documentados sobre este importante tema de interesse para toda a humanidade. A formação contínua dos profissionais e de todo o pessoal envolvido nas tarefas inerentes ao cultivo, extração, transformação, embalagem, transporte e preparação de alimentos em nível industrial, para serviços de alimentação ou mesmo doméstico tem assumido uma relevância considerável para os cuidados de saúde dos consumidores.

Nos últimos cem anos, os avanços nas tecnologias de produção, armazenamento e preservação de alimentos superaram os avanços que poderiam ter ocorrido nos últimos três mil anos de história, mas as mudanças continuam em um ritmo cada vez mais rápido.

O advento do sistema HACCP e as normas que foram surgindo e melhorando continuamente nos obrigaram a tomar os critérios da Formação Contínua como algo estabelecido sem o qual não podemos compreender a segurança de alimentos. O conceito de cultura de segurança dos alimentos é incentivado, levando em consideração o advento da atual globalização que abrange o comércio de alimentos de todas as partes do mundo. Para isso, é preciso desenvolver políticas globais com fundamentação científica, acadêmica e com conceito crítico.

Há alguns séculos, o filósofo Descartes, derrubando muros, questionava todas as coisas e conceitos adquiridos, para diferenciar os verdadeiros dos falsos. Já no século XX, o filósofo francês Jaques Derridá também levanta a ideia de Desconstrução (que não é o mesmo que destruição) para questionar o conhecimento científico e humano em geral e descartar o que não é verdadeiro.

A disrupção da inteligência artificial neste momento é alimentada pelos dados fornecidos pela internet para a formulação de alimentos, inclusive projetando alimentos a partir de cultura de células por meio de um sistema de impressão 3D. O grande problema desse sistema é que o que é publicado na internet nem sempre é verdadeiro e está inter-relacionado com dados falsos. É por isso que é tão importante desenvolver um sistema crítico que nos permita receber, interpretar e distribuir dados certos e verificados aos nossos colegas e colaboradores. Para isso, é necessária a formação contínua dos profissionais de segurança de alimentos.

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Doença de Chagas em alerta: indícios de um possível surto na Bahia

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Nos últimos dias as notícias deram enfoque a um possível surto da doença de Chagas na Bahia. Não se sabe a origem das ocorrências, mas existe a possibilidade de ter havido transmissão oral. Exemplos clássicos de transmissão oral são por açaí e caldo de cana. Você pode acompanhar as notícias em: Surto na Bahia é alerta para transmissão da doença …  e Surto de transmissão da doença de Chagas deixa estado da Bahia em alerta.

Relembrando o conceito, a doença de Chagas é uma zoonose causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. A infecção pode ocorrer pela transmissão vetorial, oral, transfusional, transplantar, vertical (ou congênita), acidental e oral. A transmissão por via oral ocorre quando há ingestão de alimentos contaminados por triatomíneo ou suas fezes e, também, por meio de ingestão de carne crua ou mal cozida provenientes de caça.

Atualmente existem grandes preocupações pela transmissão oral, principalmente na região Norte do Brasil, área mais afetada. Como embasamento legal, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 218/2005, que estabelece regulamentos técnicos para a manipulação higiênico-sanitária de alimentos e bebidas preparados com vegetais. O objetivo dessa regulamentação é promover a adoção de controles a fim de prevenir várias doenças transmitidas por alimentos, incluindo a doença de Chagas.

No Brasil, a transmissão oral tem predominado, sendo que de tempos em tempos há relatos de ocorrências. Isso acontece pela  precariedade  nos  métodos  de  controle  na  produção  de alguns alimentos, especialmente quando processados de forma artesanal.

A maioria dos indivíduos infectados com T. cruzi permanece com o parasito nos tecidos, órgãos e no sangue durante toda a vida. O tempo que os sintomas vão levar para começar a aparecer irá depender do modo de transmissão. No caso da transmissão oral, leva entre 3 a 22 dias.

São opções de prevenção para o caso de transmissão oral:

1.      Intensificar medidas de vigilância sanitária para controle na manipulação de alimentos;

2.      Investigação entomológica em casos suspeitos ou positivos de contaminação oral;

3.      A fonte de iluminação deve ser distante dos equipamentos de processamento de alimentos (evitar contaminação acidental de vetores atraídos pela luz);

4.      Realizar educação e capacitação da população e de profissionais que manipulam alimentos;

5.      Providenciar o cozimento dos alimentos acima de 45°C, a pasteurização ou a liofilização;

Como consumidores, é importante estarmos atentos à procedência dos alimentos que consumimos. Ao comprar alimentos artesanais, devemos nos informar sobre as condições de processamento e se os produtores possuem licenças sanitárias.

Imagem: Secretaria da Saúde do Paraná

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MOSH e MOAH: o que já sabemos sobre os perigos do óleo mineral em alimentos

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Nos últimos anos os compostos MOSH e MOAH estrearam na lista de contaminantes de alimentos. Como qualquer outro perigo, a falta de informação e definição de métodos de análise anuviaram as estratégias dos profissionais do setor. Mas quais atualizações temos hoje a respeito desses resíduos de óleo mineral?

Histórico

Sabemos que MOSH e MOAH são compostos derivados de óleo mineral, sendo muito diversificadas as possíveis fontes de contaminação. A evolução dos estudos foi avançando aos poucos ao longo dos anos e contribuindo com com o grau de conhecimento.

Na década de 90, alguns estudos publicaram que MOSH poderia migrar para alimentos a partir de materiais de contato. Mas foi somente no ano de 2009 que um novo método de análise identificou e quantificou também os compostos MOAH.

Neste mesmo ano, o Ministério Federal de Alimentação e Agricultura da Alemanha conduziu um estudo de coleta de dados de migração, que representou o pontapé na regulamentação destes contaminantes na Europa.

Em seguida, a EFSA (European Food Safety Authority) apresentou em 2012 sua preocupação com a saúde, embora a falta de conhecimento trouxesse uma incerteza relevante. Foi quando em 2017 uma coleta de dados motivada pela Commission Recommendation EU 2017/84 levantou informações suficientes para algumas definições provisórias.

Entre elas, concluiu-se que os compostos MOSH não representam risco à saúde humana. Já os hidrocarbonetos aromáticos de óleos minerais (MOAH) podem trazer problemas, de acordo com os especialistas da EFSA.

Há indícios de que um dos dois tipos de compostos MOAH avaliados pela EFSA contêm substâncias genotóxicas que podem causar câncer.

Pesquisas e métodos de análise

Em 2021, um estudo da Foodwatch demonstrou a presença dessa substância em uma gama de alimentos. A instituição compartilhou os resultados cobrando posicionamento da Comissão Europeia e seus membros. Com isso, a EU restringiu os resíduos de óleo mineral em alimentos, mas ainda não os proibiu.

Métodos de análise tornaram-se mais acessíveis com o passar dos anos, estando disponíveis comercialmente em diversos laboratórios.

Assim, o monitoramento também se intensificou, tornando possíveis estudos como o 60 Millions de Consommateurs realizado por um grupo de consumidores de óleo de oliva na França. Nele, foi constatada a presença de hidrocarbonetos saturados e aromáticos em 23 das 24 marcas avaliadas.

Apesar da disponibilidade analítica, nem tudo são flores. Segundo Giorgia Purcaro, Ph.D. em Química de Alimentos:

Os métodos analíticos para análise de MOSH/MOAH em alimentos são particularmente desafiadores porque esses contaminantes estão intimamente relacionados à fração lipídica com a qual compartilham muitas estruturas químicas semelhantes.

Além desses hidrocarbonetos de óleo mineral, figuram também os POSH (hidrocarbonetos saturados oligoméricos poliolefínicos) e PAO (poli alfa olefinas), com origens de migração de embalagens de PE (poliestireno) e PP (polipropileno), e lubrificantes, respectivamente.

Estes compostos análogos a MOSH podem eluir junto ao MOSH e MOAH na análise via cromatografia, dificultando ainda mais a interpretação dos resultados.

Como controlar esses perigos na indústria?

Apesar dos regulamentos ainda não tratarem de forma definitiva dos limites críticos para os compostos MOH, a indústria de alimentos deve considerar este perigo em seu HACCP.

Indo mais adiante, frente a qualquer detecção destes compostos em alimentos, a sugestão existente na Recomendação 2017/84 da União Europeia é investigar as possíveis fontes de contaminação.

Além disso, substituir os lubrificantes de óleo mineral por lubrificantes sintéticos nos locais com risco de contato acidental é uma das alternativas praticadas e incentivadas na indústria.

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Frases de impacto em segurança dos alimentos – parte 2

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Dando continuidade à curadoria de frases que coletamos dos leitores aqui no Food Safety Brazil através do post Sua frase de impacto poderá estar no Food Safety Brazil, apresentamos o resultado de pensamentos que podem nos levar à reflexão sobre o nosso propósito enquanto profissionais de alimentos.

Mas antes, caso não tenha visto, leia o post anterior: Frases de impacto em segurança dos alimentos – parte 1

A segurança de alimentos não é um luxo, é uma necessidade básica para a saúde e bem-estar de toda a humanidade. Matheus Silva
Cuidar de nossas pessoas é um valor fundamental, por isso estou exatamente onde quero estar: alimentando a todos, seja nas preparações culinárias, capacitações e nas verificações de segurança de alimentos. Cíntia Malagutti

 

Sem o comprometimento da alta gestão, não há um sistema de gestão de segurança de alimentos. O teto da atuação de um departamento de Qualidade é definido pela Alta Direção. Leonardo Borges

 

Quando falamos de qualidade, precisamos lembrar que é fundamental que o profissional da indústria alimentícia entenda que esse alimento produzido irá chegar à mesa de muitas famílias, inclusive à própria mesa. Então que todos os dias busquemos melhorar e ter empatia para garantir que estes produtos são apropriados para consumo. Geórgia Prochnov Kempf
Inspirar pessoas a produzir alimentos seguros para o mundo é um lindo propósito de vida. Além disso, é uma forma de serviço e uma demonstração de cuidado com a sociedade. Esse é um papel muito gratificante do profissional da segurança dos alimentos. Vinícius Ferreira Siqueira Corrêa

 

 

Imagem em destaque: foto de Karolina Grabowska no Pexels

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Como as novas tendências do setor de alimentos estão conectadas com a Inteligência Artificial

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A Inteligência Artificial está cada vez mais presente na indústria de alimentos. 

De acordo com informações da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), estima-se que 15% das empresas brasileiras utilizem tecnologias digitais. Isto indica que estão aderentes ao movimento da Indústria 4.0, relacionado com a combinação de tecnologias, integrando máquinas, pessoas e recursos na flexibilização de processos e proporcionando a aplicabilidade da Inteligência Artificial.

Ainda, conforme estudos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre 2016 e 2018, o número de indústrias que utilizam a tecnologia digital passou de 63% para 73%, o que indica que diversas organizações estão dando maior prioridade para a implantação da IA em seus procedimentos, seja no gerenciamento de processos ou no controle de alimentos, de forma a contribuir para a melhoria da eficiência das produções de alimentos no Brasil.

A indústria de alimentos é uma das mais importantes e vitais do mundo, responsável por alimentar bilhões de pessoas todos os dias. Pesquisas realizadas pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) indicam que a produção mundial de alimentos deve aumentar em cerca de 60% até 2050, para atender à crescente demanda global por alimentos. Ademais, a indústria de alimentos é um importante pilar da economia mundial, empregando milhões de pessoas e gerando bilhões de dólares em receita a cada ano.

Nesse contexto, a tecnologia tem desempenhado um papel cada vez mais importante na indústria alimentícia. A Inteligência Artificial (IA) é uma tecnologia que está transformando a forma como a indústria de alimentos aborda áreas críticas, como a garantia da segurança de alimentos  e a eficiência da produção de alimentos.

Entretanto, segundo a FAO, os alimentos mais suscetíveis às fraudes são os de origem animal, como a carne, o leite e o peixe e, por conta disso, as novas tecnologias têm avançado em conjunto com as ferramentas e metodologias de detecção alimentar, de forma a trazer maiores contribuições para a saúde pública, beneficiando também a economia.

Uma das principais aplicações da IA na segurança de alimentos é na detecção e prevenção de contaminação de alimentos. A IA pode ser usada para monitorar e analisar grandes volumes de dados, incluindo dados de qualidade da água, temperatura, umidade e outras variáveis críticas que podem afetar a segurança de alimentos. Isso permite que os fabricantes de alimentos identifiquem potenciais riscos de contaminação antes que eles se tornem um problema, o que pode ajudar a evitar surtos de doenças transmitidas por alimentos, inclusive. Ainda, pode mitigar potenciais riscos de segurança de alimentos. Por exemplo: um modelo de IA pode ser treinado para identificar padrões em dados de qualidade do ar e prever quando pode haver um risco de contaminação bacteriana em uma instalação de produção de alimentos, possibilitando que o fabricante tome medidas preventivas antes que ocorram problemas de segurança de alimentos.

Fato é que a IA desempenha um papel fundamental na segurança de alimentos, ajudando a detectar e prevenir a contaminação de alimentos, prever e mitigar riscos, melhorar a rastreabilidade dos alimentos e a eficiência dos sistemas de inspeção de alimentos.

Há, inclusive, emprego da IA para atingir maior rastreabilidade da complexa cadeia de produção de alimentos (produção, processamento, distribuição, venda, consumo), permitindo que as empresas possam ganhar mais tempo em caso de um recall de alimentos ou outro problema de segurança de alimentos .

Por fim, com a utilização da IA na indústria alimentícia, resta claro que existem diversas vantagens não apenas financeiras, mas também institucionais. Considerando a crescente demanda por produtos mais saudáveis e sustentáveis, as empresas ganham credibilidade e um grande impulso concorrencial ao demonstrarem aderência à fabricação de produtos que prezam pela saúde e bem-estar dos consumidores.

  1. www.abdi.com.br/projetos/mapa-da-digitalizacao-das-mpes-brasileiras
  2. www.portaldaindustria.com.br/estatisticas/pqt-investimentos-em-industria-40/#:~:text=Entre%20o%20in%C3%ADcio%20de%202016,investir%20nessas%20tecnologias%20em%202018.
  3. https://brasil.un.org/pt-br/68525-fao-se-o-atual-ritmo-de-consumo-continuar-em-2050-mundo-precisar%C3%A1-de-60-mais-alimentos-e-40.
  4. FAO. Food Fraud-Intention, Detection, and Management. Food Saf Tech Toolkit Asia Pacific No 5 Bangkok. 2021;44.

Lee, Brock, Camargo Advogados  (LBCA)

Autores:

Getlaine Coelho Alves
Graduada em Direito pela Universidade Nove de Julho. Pós-graduada em Direito Civil e Processual Civil pela Escola Paulista de Direito (EPD). Especialista em Direito do Consumidor pelo Centro Universitário FMU. Especialista Compliance pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Especialista em LGPD e especializanda em Direito Digital e Inteligência Artificial pela Pontifícia Universidade Católica (PUC).

  

Mateus Reis dos Santos Alves
Graduado em Direito pela Universidade Cândido Mendes – Centro (UCAM). Pós Graduando em Direito Digital pelo Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Instituto de Sociedade e Tecnologia (UERJ/ ITS-Rio).

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Limpeza a seco na indústria alimentícia: sua eficiência garante a segurança dos alimentos

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A limpeza a seco não é novidade aqui no blog (2022, 2021 e 2015). No entanto, a ideia neste post é apresentar diretrizes com um passo a passo para implantar um procedimento de limpeza a seco.

A limpeza a seco na indústria de alimentos é um método de limpeza que utiliza técnicas e produtos que não envolvem o uso de água em grandes quantidades. Esse tipo de limpeza é especialmente aplicado em áreas e equipamentos onde a presença de água pode ser prejudicial ou indesejável, como em equipamentos elétricos, sistemas de controle, áreas sensíveis à umidade ou onde a água pode causar danos aos alimentos ou processos de produção.

Ela contribui para a prevenção da contaminação cruzada, evitando a transferência de resíduos de uma área para outra durante o processo de limpeza. Ao utilizar métodos e equipamentos adequados, é possível minimizar o risco de contaminação microbiana, alérgenos ou outros contaminantes indesejados. Isso ajuda a manter a inocuidade dos alimentos, garantindo a conformidade com as regulamentações sanitárias.

Do ponto de vista de segurança dos alimentos, por que eu preciso me preocupar com a limpeza do ambiente se ele está seco?

A limpeza seca é realmente suficiente para higienização eficaz?

Sim, a limpeza úmida não é considerada necessária para controlar o crescimento microbiano, se o equipamento e o ambiente permanecerem completamente secos.

No entanto, é fundamental validar previamente a forma como ela é realizada, levando em consideração as características individuais de cada tipo de planta, bem como as particularidades relacionadas ao tipo de produto, e selecionar adequadamente os itens a serem utilizados nesse processo.

Como implementar um procedimento de limpeza a seco?

Antes de detalhar um processo de limpeza, é necessário saber o que se está limpando, ou seja, quais são os tipos de sujidades e microrganismos que é preciso remover.

Quanto aos tipos de sujidades, pode-se considerar:

  • Poeira e partículas: acumulam em superfícies e podem afetar a qualidade do ar.
  • Manchas e resíduos visíveis: inclui sujeira, gordura, restos de alimentos, manchas de líquidos, entre outros.
  • Sujidades biológicas: engloba microrganismos, como fungos e bactérias, que podem causar problemas de saúde.

Com essa resposta em mãos é possível direcionar a limpeza. Outra informação de extrema relevância é que se o ambiente apresentar sujidades biológicas, é necessário compreender um pouco mais sobre as particularidades dos microrganismos a serem removidos, como demonstra o exemplo abaixo:

Fungos Bactérias
·         Preferem ambientes úmidos e quentes.

·         Podem proliferar em superfícies porosas, como madeira e papelão.

·         Podem formar colônias visíveis, como mofo.

·         Podem produzir toxinas que representam riscos à saúde.

·         Podem ser mais resistentes a desinfetantes comuns.

·         São mais leves que as bactérias.

·         Podem se desenvolver em uma ampla faixa de condições, incluindo ambientes secos e úmidos.

·         Podem se multiplicar rapidamente, especialmente em condições ideais de temperatura e umidade.

·         Podem ser controladas por meio de desinfetantes adequados e métodos de higienização;

·          São mais pesadas que os fungos, ou seja, é mais difícil de removê-las do ar.

Sabendo os tipos de sujidades a serem removidas, podemos definir o tipo de limpeza a ser realizado. A figura abaixo apresenta algumas opções aplicáveis a higienização a seco:

É importante ressaltar que, para garantir a eficácia da higienização, é imprescindível além da execução adequada da limpeza, a seleção de um sanitizante apropriado. A desinfecção é o estágio final de um programa de limpeza e desinfecção de dois estágios e reduz a viabilidade de microrganismos que permanecem nas superfícies após a fase de limpeza a um nível que é seguro para a produção de alimentos.

Entre as opções de sanitizantes de destaque para essa finalidade, temos o uso de um spray/toalete à base de álcool. Normalmente é uma mistura de álcool, compostos de quaternário de amônio ou anfotéricos, e possivelmente aditivos detergentes suaves, formulada para fornecer uma boa desinfecção em ambientes pouco sujos, sem o uso de água ou técnicas emergentes como fumigação.

Ademais, cabe definir como a informação referente a esse procedimento será documentada, ou seja, procedimentos, instruções de trabalho, registros e treinamento dos envolvidos. Além disso, indicar quais as formas de monitoria e validação do processo, que envolvem desde inspeções visuais a análises de microbiologia.

Esse conteúdo foi útil para você?

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Frases de impacto em segurança dos alimentos – parte 1

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Algumas pessoas são bem autorais. Elas criam frases de impacto por onde passam e facilitam a comunicação, ajudam a materializar uma ideia ou a fazer um conceito “pegar”. Em segurança dos alimentos não seria diferente.

Aqui no Food Safety Brazil fizemos uma chamada pelo post Sua frase de impacto poderá estar no Food Safety Brazil e compartilho a primeira parte do resultado da nossa curadoria:

“Investir em segurança dos alimentos custa dinheiro, mas não investir custa geralmente muitos mais, seja pelos riscos, custos de não qualidade, processos judiciais ou perda de imagem.” Marco Túlio Bertolino

 

“Se você propaga que segurança dos alimentos é um requisito, será um requisito. Se você propaga que segurança dos alimentos é um propósito, será um propósito.” André Pontes

 

“Oferecer alimentos de qualidade e seguros não são apenas metas a serem alcançadas, mas sim um compromisso com a saúde e o bem-estar dos consumidores.” Daiane Carrett

 

“Sua saúde começa pela segurança dos alimentos.” Leonardo Evangelista Antunes Sodré
“Garantir a segurança dos alimentos do campo à mesa vai além das normas, educação, cultura e saúde. Salva vidas!” Claudia Gaeski

 

 

 

 

 

E você, tem uma frase de impacto em segurança dos alimentos?

Imagem em destaque: foto de Andrea Piacquadio no Pexels

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Você conhece os custos da não qualidade?

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Você conhece os custos da não qualidade na empresa em que trabalha? Saberia elencá-los e dimensioná-los?

Dentro do nosso escopo de trabalho, no complexo mundo da segurança de alimentos, muitos de nós já nos deparamos com questões diretamente relacionadas aos custos da qualidade. Será que conseguimos responder às seguintes perguntas:

  • Você conhece os custos da qualidade na sua empresa?
  • Sabe como calculá-los?
  • E os custos relacionados às falhas internas, externas? Qual o impacto deles no negócio?
  • Gostaria de apresentar projetos que contemplem melhorias da qualidade, baseados em avaliação, prevenção e que sejam aprovados pela Alta Direção?

Exemplos práticos poderiam ser: apresentar um projeto de melhoria da qualidade ao seu superior imediato ou diretamente à alta direção da empresa; levantar e precificar as perdas ocasionadas por uma falha interna que pode ser detectada, por exemplo, após realização de algum teste prévio à liberação de um lote de produto. Ou mesmo, acompanhando indicadores de SAC ou respondendo a uma notificação de infração de um órgão regulamentar.

São atividades corriqueiras, seja no departamento da qualidade, seja auditando uma planta ou prestando um serviço de consultoria.

Pensando em etapas, como podemos delinear esse trabalho de levantamento e precificação dos custos da qualidade?

– Quais são os custos da qualidade, ou seja, como podemos garantir e controlar a qualidade, evitando as perdas da não qualidade?

  • Como conseguimos prevenir os problemas? Alguns exemplos práticos são: com treinamento de colaboradores, atividades de homologação dos fornecedores, controle de processos, manutenção preventiva
  • Como conseguimos avaliar nossos processos? Com processos de auditoria, análises laboratoriais durante o processo, avaliação dos fornecedores

– Quais os custos da não qualidade?

  • Falhas internas – problemas que são detectados internamente antes da expedição do produto, que podem gerar refugo, retrabalho, ações corretivas
  • Falhas externas – multas de órgãos fiscalizadores, devolução de mercadorias não conformes, reclamações de consumidores e casos de recolhimento também são considerados como falha externa e já falamos desse custo neste post do blog.

E qual a vantagem que esse conhecimento nos traz, enquanto colaboradores dos setores da qualidade, componentes das equipes de segurança de alimentos?

Conhecer essas informações e principalmente esses números nos permite elaborar projetos de melhoria mais assertivos, detectando os principais pontos falhos e que possivelmente serão mais bem aceitos quando pensamos em investimentos na qualidade. O blog já trouxe um texto com essa visão também, focando a gestão da qualidade em resultados mensuráveis.

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Você já conhece as Certificações de Produto da NSF para a indústria alimentícia?

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Você já conhece a NSF? Sabia que seu produto alimentício poderia ganhar valor agregado com uma das certificações que a NSF oferece? Você sabia que nem todo produto que se diz ser gluten free, plant-based ou livre de organismos geneticamente modificados é de fato o que diz ser? A não ser que o produto seja verificado por uma Organização independente de terceira parte, como a NSF, a informação pode ser duvidosa.

Vamos explorar o que exatamente significam as Certificações de Produto da NSF para a indústria alimentícia e por que sua empresa deveria obtê-las.

Gluten Free

A certificação gluten free da NSF é um selo importante para empresas que desejam comprovar a ausência de glúten em seus produtos, garantindo assim a confiança dos consumidores e a conformidade com as regulamentações e padrões estabelecidos. Em primeiro lugar, é importante entender o significado do termo “gluten free“. O glúten é uma proteína encontrada em cereais como trigo, cevada, centeio e seus derivados. Para pessoas com doença celíaca, intolerância ao glúten ou sensibilidade ao glúten, a ingestão de alimentos com glúten pode causar problemas de saúde graves. Portanto, para esses indivíduos, a identificação clara de produtos sem glúten é crucial para uma dieta segura e saudável. A Certificação Gluten Free da NSF é uma garantia confiável para os consumidores de que um produto foi cuidadosamente analisado e verificado como estando em conformidade com os padrões estabelecidos para a ausência de glúten.

Plant Based

A certificação plant-based da NSF destina-se a empresas que desejam comprovar a qualidade e segurança dos alimentos baseados em plantas que comercializam e a autenticidade da informação de que o alimento é realmente feito à base de plantas. Neste texto, exploraremos o que exatamente significa essa certificação e por que uma empresa deve considerar obtê-la.
O termo “plant-based” ou “à base de plantas” refere-se a produtos alimentícios que são formulados principalmente a partir de ingredientes de origem vegetal, ou seja, excluindo os ingredientes de origem animal. Com o aumento da conscientização sobre os impactos ambientais, éticos e de saúde associados ao consumo excessivo de produtos de origem animal, a demanda por alimentos e bebidas plant-based vem crescendo rapidamente. A certificação Plant Based da NSF é um selo confiável que garante que um produto atende aos padrões e critérios estabelecidos para ser considerado genuinamente baseado em plantas.

Non GMO

A certificação Non-GMO (Non-Genetically Modified Organism) é um selo que comprova que tais produtos não contêm organismos geneticamente modificados. Os organismos geneticamente modificados (OGMs), também conhecidos como transgênicos, são organismos cujo material genético foi alterado, geralmente através de técnicas de engenharia genética. Essas modificações podem envolver a inserção de genes de outras espécies, como bactérias ou animais, em plantas ou animais de interesse comercial. A presença de OGMs em alimentos e produtos agrícolas tem gerado preocupações sobre segurança, impacto ambiental e questões éticas.
A certificação Non-GMO atesta que um produto foi cuidadosamente analisado e verificado como não contendo ingredientes geneticamente modificados.

Por que obter uma certificação de terceira parte?

Obter uma certificação de terceira parte é uma decisão estratégica para as empresas, pois traz uma série de benefícios e vantagens significativas. Aqui estão algumas razões pelas quais obter uma certificação de terceira parte é importante:

  1. Credibilidade e Confiança: Uma certificação de terceira parte é concedida por uma organização independente e imparcial, que atua como uma autoridade neutra e confiável. Isso confere credibilidade ao processo de certificação e ao selo obtido. Os clientes e consumidores têm maior confiança nos produtos ou serviços que possuem uma certificação reconhecida externamente, pois sabem que foram avaliados por especialistas independentes.
  2. Padrões e Requisitos Rigorosos: As certificações de terceira parte geralmente são baseadas em padrões e requisitos rigorosos estabelecidos pela organização certificadora. Esses padrões são desenvolvidos levando em consideração as melhores práticas da indústria, regulamentos governamentais e preocupações com a segurança, qualidade e sustentabilidade. Ao obter uma certificação de terceira parte, a empresa demonstra seu compromisso em atender a esses padrões elevados, o que aumenta a confiança dos clientes e consumidores.
  3. Validação Independente: Uma certificação de terceira parte envolve um processo de avaliação e auditoria realizado por especialistas independentes, que possuem conhecimento técnico e experiência na área específica da certificação. Essa validação externa é altamente valorizada, pois confirma que a empresa cumpre os requisitos estabelecidos e segue as melhores práticas. A validação independente fortalece a reputação da empresa, oferecendo aos clientes e consumidores a garantia de que seus produtos ou serviços são confiáveis e de qualidade.
  4. Vantagem Competitiva: Obter uma certificação de terceira parte pode proporcionar uma vantagem competitiva significativa. Em muitos setores, as certificações são um requisito para participar de licitações ou concorrências comerciais. Além disso, os consumidores estão cada vez mais preocupados com questões como segurança dos alimentos, sustentabilidade e ética empresarial. Ter uma certificação reconhecida pode diferenciar a empresa dos concorrentes, permitindo acessar novos mercados e conquistar clientes que valorizam a conformidade com padrões de qualidade e sustentabilidade.
  5. Conformidade Regulatória: Em alguns casos, a obtenção de uma certificação de terceira parte é um requisito legal para atender a regulamentações específicas. As certificações podem estar alinhadas com normas e regulamentos governamentais que garantem a segurança, a saúde ou a proteção do meio ambiente. Ao obter a certificação, a empresa garante que está em conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis, evitando problemas legais e prejuízos financeiros.

Em resumo, obter uma certificação de terceira parte traz credibilidade, valida a conformidade com padrões e requisitos rigorosos, oferece uma vantagem competitiva e demonstra compromisso com a qualidade, segurança e sustentabilidade. Essas certificações são reconhecidas pelos clientes, consumidores e stakeholders, aumentando a confiança e fortalecendo a reputação da empresa.

Por que a NSF?

A NSF uma organização independente sem fins lucrativos sediada nos Estados Unidos. Fundada em 1944, a NSF tem como objetivo principal promover a saúde e a segurança públicas, por meio do desenvolvimento de padrões e certificações para uma ampla variedade de setores, incluindo alimentos, água, produtos de consumo, produtos farmacêuticos, saúde e bem-estar, meio ambiente e sustentabilidade. É uma organização líder no campo da certificação e segurança dos alimentos, com um histórico estabelecido de promover a saúde e a segurança públicas. Sua reputação como uma organização independente, com padrões rigorosos e reconhecimento internacional, a torna uma escolha confiável para empresas que buscam certificações de terceira parte para demonstrar seu compromisso com a qualidade, segurança e sustentabilidade. Existem várias razões pelas quais a NSF é uma escolha confiável para obter uma certificação de terceira parte.

  1. Reconhecimento Internacional: A NSF é uma organização amplamente reconhecida e respeitada internacionalmente. Ela possui uma presença global e é conhecida por suas certificações de segurança dos alimentos, qualidade e sustentabilidade. A NSF tem uma reputação sólida e sua marca é amplamente aceita em diversos setores e mercados.
  2. Experiência e Expertise: A NSF possui uma vasta experiência e expertise em certificações. Ela atua há mais de 75 anos na área de segurança e saúde pública, trabalhando em colaboração com governos, indústrias e organizações para desenvolver padrões e regulamentos de alta qualidade. A organização conta com uma equipe de especialistas altamente qualificados em diversas áreas, garantindo que as avaliações e auditorias sejam realizadas de forma profissional e precisa.
  3. Padrões Rigorosos: A NSF tem uma abordagem rigorosa em relação aos seus padrões de certificação. Ela desenvolve seus critérios com base nas melhores práticas da indústria, nas regulamentações governamentais e nas preocupações com a segurança, qualidade e sustentabilidade. Os padrões da NSF são atualizados regularmente para acompanhar as mudanças nas demandas do mercado e nas regulamentações em constante evolução.
  4. Independência e Imparcialidade: Como uma organização independente, a NSF opera de forma imparcial e neutra. Ela não tem interesse direto nas empresas que buscam a certificação, o que garante uma avaliação justa e imparcial. A independência da NSF fortalece a confiança dos clientes e consumidores na credibilidade e integridade da certificação.
  5. Amplas Opções de Certificação: A NSF oferece uma ampla variedade de certificações em várias áreas, como segurança dos alimentos, qualidade de produtos, sustentabilidade, saúde e bem-estar. Isso permite que as empresas escolham a certificação mais relevante e adequada às suas necessidades específicas. A diversidade de opções da NSF garante que empresas de diferentes setores e tamanhos possam encontrar uma certificação que atenda aos seus requisitos.
  6. Compromisso com a Melhoria Contínua: A NSF incentiva a melhoria contínua por parte das empresas certificadas. Ela oferece suporte e recursos para ajudar as organizações a aprimorar seus processos, sistemas e práticas, com o objetivo de alcançar níveis ainda mais elevados de desempenho e conformidade.

Gostaria de saber mais sobre nossos serviços?
A NSF não apenas concede a certificação, mas também se preocupa com o sucesso e o progresso contínuo das empresas certificadas. Entre em contato agora mesmo através do e-mail brasil@nsf.org

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“Também errei como consumidora”, diz Doralice Goes, vítima de botulismo

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Hoje é dia de conversar com a Doralice Goes, que sobreviveu e ainda se recupera de botulismo. Ela esteve internada durante todo o ano de 2022.  Sua dura jornada de recuperação foi contada em detalhes aqui no Food Safety Brazil. Confira.

Tudo começou com o consumo de um molho pesto artesanal. Sentiu algo diferente quando provou o produto?

O sabor estava maravilhoso, não notei diferença no aspecto, sabor ou odor.

Até então você tinha preocupações em relação a conservas em vidro?

Por ironia, minha mãe morria de medo da doença botulismo e, por isso, nos criou fervendo o palmito (em conserva) por 15 minutos sempre – costume que carreguei para a vida. Ela faleceu em 2010 e não soube do meu caso. Mas o molho eu não fervi.

Como é  ficar paralisada dos pés à cabeça?

A mente completamente lúcida não para… a gente fica preocupado com tudo que ficou. Meus gatos, minhas contas para pagar, o site de vendas que eu tinha que estava no ar sem ter quem gerenciasse.

Qual foi o momento mais difícil da sua internação? (Saiba mais sobre a história aqui)

Quando fiquei em acidose depois de cinco dias decanulada. Estava há sete meses intubada na UTI. Logo que me retiraram dos aparelhos, tenho uma foto… esverdeada, inchada e feliz por sair daquela situação, porém a alegria não durou muito.  Tinha ficado duas semanas tentando manter a respiração ambiente no mínimo possível. Despreparada a voltar a respirar de forma autônoma, sem forças físicas ou motores, me senti muito mal, a fisioterapeuta queria me forçar a lutar pela minha independência. Porém a condição não foi acompanhada por exame de gasometria e teste de força. A oxigenação estava baixíssima e ninguém viu isso… no monitoramento oscilavam os parâmetros de gás carbônico e oxigênio.

Passei três dias delirando, vomitando sem parar e sem dormir. Achava que o médico estava tentando me matar e em uma das alucinações vi meu corpo sendo preparado para autópsia…. “Eu não morri”, eu dizia, segundo as minhas irmãs e as técnicas de enfermagem que cuidavam de mim. Eu repetia esta frase tanto nas horas de delírio, quanto de consciência. Me lembro de cada segundo destes 3 dias onde se misturavam realidade e delírio. Nunca perdi a noção de que estava na UTI daquele hospital em Brasília. Vi pessoas se despedindo de mim, chorando pela minha morte.

Os médicos não sabiam o que eu tinha. A  minha irmã, que é pedagoga, é quem trouxe a hipótese que eu estava com acidose. A confirmação veio com exame de imagens e gasometria e fui reintubada às pressas.

Outro ponto decepcionante é que ninguém do meu trabalho veio me visitar durante toda a minha internação.

 

O que é ser uma sobrevivente do botulismo?

A minha psicóloga me perguntou outro dia o que o botulismo significa na minha vida. Ainda não sei a resposta. É um desafio diário e sei que não acabou. Da hora em que acordo até quando me deito penso no que aconteceu comigo.  Sinto dores diárias no trapézio, lombar, braço direito, lado onde estava a traqueostomia, e calcanhar ao caminhar. Quando saí do hospital estava com 41% de gordura, ou seja, obesidade mórbida, embora eu tivesse o mesmo peso, 70 kg. Meu corpo perdeu músculos que se transformaram em gordura. Não emagreci como acontece normalmente. Em casa nenhuma roupa me servia, passei 4 meses muito inchada. O botulismo não passou e não sei se vai passar um dia da minha vida.

Meu dia a dia mudou totalmente, eu vivia saindo para comer (risos).  Agora a rotina é a reabilitação,  acompanhamento multidisciplinar para a redução da dor, sessões com fisiatra e choques para redução da dor, liberação miofacial, além da fisioterapia e outras atividades diárias. Desrosquear uma embalagem de suco é difícil, não tenho força nas mãos. Há dúvidas se ainda terei sequelas que aparecerão só no futuro. Tenho uma dor no tórax que me acompanhou a UTI inteira e voltou no mês passado. Deu fibrose pulmonar, no raio x desta semana ficou comprovado. Minha carteira de motorista sairá como PCD.

O botulismo arrasou com o meu corpo quando passou por ele. Novas conexões cerebrais tiveram que ser construídas para que eu tivesse funções vitais.

Não choro ao lembrar, consigo falar sobre o assunto, me faz digerir aquilo tudo. Vejo que estou bem, é uma evolução diária e posso ajudar outras pessoas para conscientizar em vários níveis. Tenho feito contato com várias mídias, com Ministério da Saúde, autoridades. Não sei aonde vou chegar, mas isso virou uma missão, me motiva a viver,  compartilhar me ajuda a viver.

É maravilhoso voltar a morar com meus gatos, sair com amigos, “ter controle” de meus movimentos mesmo com limitações. Deixar aquela experiência de ficar trancada num hospital e trancada no meu corpo. Lidar com as consequências financeiras é o que mais me abala. Estou no Serasa, sou prática e esse é um problema maior para mim do que estar passando pela reabilitação.

Se pudesse voltar no tempo, eu acho que teria tido de novo, me sinto mais forte hoje. Minha vida passou a ter mais sentido e quero levar adiante a missão de divulgar o botulismo.

Como tem sido o diálogo com os envolvidos na causa do problema?

O fabricante me enviou ajuda psicológica por quatro sessões enquanto eu estava internada, mas nem consegui dar continuidade porque ainda sentia muita dor naquela fase. A  impossibilidade de me comunicar inviabilizava as sessões naquele momento. O foco ali era sobreviver, respirar. Depois enviaram um recado para a minha irmã que ele estava muito deprimido e consternado. A empresa foi fechada e pararam de trabalhar com alimentos. São palavras…não acredito que ele ficou mais deprimido do que eu. E todas as minhas dívidas? Não tive apoio neste sentido e estou com uma vaquinha aberta para poder custear um processo.

Também li dos organizadores da feira que chegaram a ficar em dúvida se mandariam uma cesta ou não de presente porque talvez eu não quisesse consumir… acho que teriam que ter mandado! Ficam dizendo o que pensaram que deveriam ter feito, e por que não fizeram? Muita fala, não fizeram nada.

Como é a sua relação com a comida hoje? Ainda consome artesanais?

Comi molho pesto ainda no hospital, mas minhas irmãs e médicos pararam de consumir. Tenho uma clareza que não é o produto em si, pois a contaminação está em tudo, no solo. Não é sobre banir, e sim sobre saber a procedência. Não adianta parar de comer um alimento se você pode pegar uma bactéria no ar.

Minha relação com a comida é a mesma, só que agora estou olhando validade, a procedência.

Fui a uma feira semana passada no shopping e me interessei por uma geleia de bacon. Parei para conversar com o produtor, e descobri que era tecnólogo de alimentos. E ele explicou como era o processo e como fervia os vidros. Filmei a validade. Fiquei mais tranquila e comprei.

Gosto da originalidade dos artesanais, das receitas de família. Outro dia provei caramelo belga, coisas que não sei se encontrarei em outro lugar.

Na feira original não voltei.

 Quais foram seus maiores aprendizados como consumidora de alimentos?

Aprendi que assumimos um risco ao comprarmos um alimento não industrial, sem procedência e sem rastreabilidade.  Para entrar com ação como consumidor e acionar empresas no Brasil, é necessário um CNPJ e um endereço para evoluir como responsabilidade civil. Se não houver, quem compra está assumindo as consequências de não ter a quem reclamar judicialmente se não tem uma sede, loja, subsede.

O fornecedor, quem coloca à disposição também responde subsidiariamente, como feiras e supermercados e podem ser acionados.

Para a prevenção do botulismo é uma cadeia produtiva… o produtor pode fazer o certo, mas se acontecer, a pessoa vai morrer na UTI ou antes porque os médicos não vão saber o que fazer. Os médicos também precisam estar cientes de que botulismo ocorre em nossos dias e estarem preparados para um atendimento de emergência nestes casos. Senão o paciente vai morrer sem a oportunidade de um diagnóstico, sem tomar o soro antibotulínico.

Eu também errei como consumidora, como não vi que comprei um produto sem data de validade? Eu tinha confiado no produtor por já ser cliente e nunca ter tido problema antes.

Qual a sua relação com outros sobreviventes?

Procuro me aproximar dos seis sobreviventes que identifiquei. Noto que eles têm vergonha de falar o que aconteceu, embora eu não entenda o porquê. Parece que querem apagar essa passagem da vida deles.

Convenci o Leo Abrantes, que consumiu salsicha de um X-tudo, a fazer uma live comigo.

Fonte da foto: Instagram

Outra que não tem receio de se abrir é a Tainny, do Rio de Janeiro. Ela é neurocientista e comeu uma pizza de palmito.

 

Fonte da imagem: Instagram.

A Rita Franco, que consumiu tofu em conserva, chegou a abrir a página Botulismo Alimentar.

Tem uma senhora, a Fran, que consumiu água de coco engarrafada no sacolão do bairro onde sempre comprava… e uma pessoa de São José do Rio Preto, que também consumiu o tofu em conserva. Essas pessoas não se expuseram ainda.

Você pretende escrever um livro sobre a sua história?

Sim, cumpri minha meta e comecei no dia 01 de julho! Me aguardem.

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Dicas para prevenir a compra de azeite de oliva fraudado

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O azeite de oliva é obtido pela prensagem das azeitonas, os frutos da oliveira, Olea europaea. As olivas contém até 25% de óleo, sem colesterol, como todo óleo vegetal, rico em ácidos graxos insaturados que são benéficos para incrementar os níveis de HDL (Lipoproteínas de alta densidade), o chamado “bom colesterol”. Também  são uma boa fonte de ácidos graxos essenciais que nosso organismo não sintetiza, contêm antioxidantes naturais como tocoferóis (vitamina E) e polifenóis que se mostram efetivos contras os processos biológicos oxidativos, e claro, possuem substâncias aromáticas que tornam o azeite de oliva sensorialmente especial e único.

O azeite representa em torno de 3% do consumo humano de óleos vegetais e seu valor econômico representa cerca de 15% do comércio mundial de oleaginosas, o que indica ser um produto de alto valor agregado.

O azeite de oliva é muito apreciado na gastronomia internacional, possuindo, dependendo de seu terroir, atributos sensoriais que conferem e combinam notas de tom frutado, amargo e/ ou picante, sendo indispensável em pratos mediterrâneos, indo muito bem com frutos do mar, bacalhau e molhos acompanhando massas.

É possível encontrar azeites de oliva com uma gama de cores que vai do amarelo claro ao dourado profundo e ao verde. Quanto mais clorofila estiver presente no óleo, mais verde será o produto e estes tendem a ter mais antioxidantes e um sabor apimentado mais intenso, com um leve toque de amargor.

O consumo atual per capita de azeite de oliva pelos brasileiros ainda é muito baixo, inferior a 0,5 litro por ano, o que demonstra seu potencial de crescimento no mercado nacional, considerando especialmente o grande interesse pelo produto extravirgem. Já os países que mais o consomem são a Grécia com 22 litros per capita por ano e a Itália com 12 litros.

As oliveiras precisam de sol, terreno inclinado e pedregoso, além de 200 horas de temperatura abaixo de 10°C por ano. O custo para implantação dos pomares gira entre R$ 20 mil e R$ 25 mil por hectare, considerando que os principais gastos são com as mudas e a correção do solo.

Uma oliveira começa a produzir apenas depois de três anos e meio e pode viver por milênios, porém, sua produtividade máxima é atingida a partir dos 8 até os 50 anos de idade, e em média, produz cerca de 10 a 40 quilos de azeitonas por ano, o que após processo equivale a cerca de 2 a 8 litros de azeite.

Os investimentos necessários e a baixa produtividade fazem com que os custos de produção do azeite de oliva em média sejam maiores do que o de outros óleos vegetais, como por exemplo, derivados de soja, canola, girassol ou milho. Por isso, logicamente, o azeite de oliva é um produto mais caro que os demais.

UM POUQUINHO DE HISTÓRIA

Acredita-se que o cultivo de oliveiras é um dos mais antigos da história, tendo início ainda no final do período Neolítico entre 5000 – 3500 a.C., mas a primeira evidência histórica com menção ao azeite de oliva está no Código de Hamurabi, o conjunto de leis regidas na Mesopotâmia, datado de 2.500 a.C., área localizada entre os rios Eufrates e Tigre, onde hoje fica o Iraque. Depois, via trocas comerciais, o produto foi levado para as países do Mediterrâneo que passaram a produzi-lo e se tornaram uma referência.

A cidade grega de Atenas deve o seu nome à deusa que a protegia, mas também das oliveiras. Segundo os registros, os atenienses a escolheram após uma espécie de competição entre os deuses para conquistar sua simpatia, na qual Atenas ofereceu-lhes uma oliveira que poderia gerar lenha, fogo para iluminar e alimento, então, depois deste presente magnífico, os cidadãos a elegeram para representá-los.

Também foi em Atenas que surgiu a tradição de presentear atletas vencedores com coroas de oliveiras, sendo que os ramos eram recolhidos com facas de ouro e este era o prêmio máximo concedido aos ganhadores, fazendo o papel das atuais medalhas.

O Império Romano, que durou de 27 a.C. até 476 d.C, ocupando mais de 5 milhões de quilômetros quadrados e abarcando 70% da população mundial em sua época, difundiu o consumo do azeite e da azeitona.

A Bíblia traz mais de 300 referências sobre azeite e oliveiras, como o ramo carregado pela pomba até Noé para demonstrar que havia terra seca para o desembarque de sua família e dos animais era de uma oliveira, assim como a árvore que cresceu no túmulo de Adão.

Enfim, a cultura das oliveiras faz parte da história humana desde a antiguidade até os dias atuais. Na missão da Apollo 11, que ocorreu em 1969, quando o astronauta Neil Armstrong fez o seu breve passeio pelo solo Lunar, lá deixou um ramo de oliveira, por ser considerado um símbolo mundial de paz.

CULTIVO NO BRASIL

Atualmente, segundo o Conselho Oleícola Internacional (International Olive Council, ou IOC) são produzidos um total de 3,2 milhões de toneladas de azeite de oliva por ano, com a Espanha respondendo por 40% desta produção, seguida pela Itália com 22% e a Grécia com 14%, mas ao todo, cerca de 59 paíse produzem azeite de oliva como pode ser visto neste link.

No Brasil, o azeite de oliva chegou junto com os portugueses, uma vez que faz parte da cultura gastronômica daquele povo. Já as oliveiras foram trazidas ainda durante o século XVI também pelos portugueses e o produto obtido era utilizado inicialmente como combustível para as lamparinas. No entanto, tinha uma qualidade tão boa quanto o português, e por isso, a Coroa Portuguesa proibiu a produção brasileira, além de ordenar a destruição dos olivais, pois prejudicaria as exportações para esta colônia.

Muito provavelmente devido a este fator, mais o desinteresse por investir nesta cultura que tem retorno financeiro entre 7 e 10 anos, criou-se um paradigma que o clima brasileiro não era apropriado para o cultivo da planta, mas hoje já se sabe que isto não é verdade. Este cenário vem mudando gradativamente, pomares de oliveiras vêm sendo plantados no Brasil desde 1950 e a produção começou a engrenar nas últimas décadas.

Apesar de marcas nacionais estarem surgindo, a produção de azeite de oliva no Brasil ainda engatinha, somos um gigante na exportação de gêneros agrícolas, porém, em azeite de oliva dependemos das importações, ocupando a posição de segundo maior importador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Dados do Conselho Oleícola Internacional mostram que em 2020 o Brasil importou 104 mil toneladas de azeite de oliva e bagaço de oliva, 20% a mais que no ano anterior, o que representa quase a totalidade do consumo nacional, mas o pouco que já produzimos tem alta qualidade e vem ganhando reconhecimento e premiações.

Um azeite produzido no Rio Grande do Sul venceu a categoria de melhor azeite do hemisfério Sul no prêmio EVO IOOC Italy 2022.

O volume produzido no Brasil diretamente a partir das oliveiras, e não da diluição do produto importado, cresceu 773% nos últimos cinco anos no Rio Grande do Sul, o Estado que lidera com 70% da produção nacional, que saiu de 58 mil litros em 2018 para o recorde de 448,5 mil em 2022.

A olivicultura ocupa quase 6 mil hectares de 321 produtores em 108 municípios gaúchos, sendo que 3,4 mil desses hectares já estão produtivos, com oliveiras de idade superior a 4 anos. Além do Rio Grande do Sul, grande parte dos olivais do Brasil estão localizados na Serra da Mantiqueira, na divisa de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Os pomares em todo o Brasil ocupam cerca de 10 mil hectares e, até 2025, o Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva) espera que a área de cultivo possa dobrar e alcançar 20 mil hectares.

O PROBLEMA COM AS FRAUDES

No entanto, infelizmente, o azeite de oliva está no pódio entre os alimentos mais fraudados no Brasil e no mundo. Isso acontece porque o azeite de oliva reúne características que o tornam muito atrativo aos “malandros”: um cenário de demanda em alta, escassez do produto, alto valor agregado e preços elevados.

Só em 2021, como exemplo, 24 marcas irregulares foram interceptadas em ações do MAPA e da ANVISA em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Goiás, Paraná e Santa Catarina, incluindo produtos sem registros, fraudados, clandestinos e contrabandeados.

Fábrica clandestina que adulterava azeites importados da Espanha interditada por agentes da 82ª DP (Maricá) no Rio de Janeiro, em 2021.

O consumo de azeite de oliva “alterado”, em geral, não representa uma ameaça direta à saúde, sendo uma fraude de viés econômico com o propósito de enganar os consumidores que pagam mais pelos benefícios alimentares do azeite de oliva, mas acabam levando outros óleos vegetais mais baratos e com outra composição de nutrientes e sensoriais.

Apesar dos danos à saúde por este tipo de fraude serem raros, para a gastronomia isto é um grande problema, pois no preparo de receitas, além dos atributos nutricionais, o uso do azeite de oliva é necessário para conferir notas sensoriais próprias a diversos pratos.

Porém, no início dos anos 2000, foram identificados indícios, de casos raros e absurdos, de óleos vegetais adulterados com óleo velho de motor, visando escurecer o produto para “parecer mais” com azeite de oliva. Neste caso, pode carrear contaminantes químicos que colocam em risco a saúde dos consumidores.

Quando há fraude, não há controle, e se não há controle, há espaço para riscos em segurança dos alimentos, pois fraudadores que desejam enganar consumidores não se preocupam com contaminantes ou regras de boas práticas de fabricação.

TIPOS DE AZEITE DE OLIVA

Para entender os motivos por trás das fraudes no azeite de oliva é preciso conhecer os tipos de azeite e como eles são obtidos. Em linhas gerais, são divididos em quatro categorias:

  1. Extravirgem, obtido na primeira prensa das azeitonas bem formadas em temperatura ambiente, sem uso de calor ou processos químicos e sua acidez deve ser inferior a 0,8%;
  2. Virgem, passa por alguns processos adicionais que incluem calor para garantir a retirada total do óleo presente no interior dos frutos, o que eleva um pouco a acidez do produto, ficando entre 0,8 e 2,0%;
  3. Lampante, obtido a partir de azeitonas muito fermentadas ou machucadas, cuja acidez supera os 2%. Seu gosto é forte e desagradável, o que o torna inapto para consumo, sendo mais apropriado como combustível, inclusive, o nome “lampante”, vem do uso no passado para acender lamparinas;
  4. Tipo único, no qual o lampante passa por refinação via processos físico-químicos e depois é misturado com o azeite virgem, tornando-se apto para ser comercializado para fins alimentícios.

A fiscalização do azeite de oliva no Brasil tem como base a Lei nº 9.972/2000, regulamentada pelo Decreto Federal 6.268/2007 e pela Instrução Normativa do MAPA nº 1/2012, que estabelece o regulamento técnico do produto.

Um dos primeiros fatores que ajuda a entender as fraudes tem a ver justamente com essas classificações, pois uma classificação indevida, visando, por exemplo, considerar com o extravirgem o que não é, caracteriza uma fraude.

Apesar de existirem testes laboratoriais para determinar se um azeite é virgem ou extravirgem, os tipos considerados mais “nobres”, a avaliação sensorial realizada por um grupo de analistas treinados para detectar problemas no gosto, no aroma e nos demais aspectos do azeite de oliva ainda é a melhor ferramenta.

A Espanha, Portugal, Itália e a Grécia, por serem grandes e tradicionais produtores já possuem um sistema de avaliação sensorial bem padronizado, enquanto o Brasil ainda dá os primeiros passos nessa área, mas vem avançando rapidamente.

AS FRAUDES MAIS COMUNS

A adulteração mais comuns no azeite de oliva acontece quando o sumo da azeitona é diluído em outros óleos mais baratos, como o de soja, uma vez que o fato deles serem muito parecidos e se misturarem bem ajuda a enganar os consumidores.

Contudo, as fraudes estão se tornando cada vez mais complexas e sofisticadas, com um amento de fraudes associadas a misturas de azeite de oliva de várias classificações, como os virgens e os extravirgens, adulterações com o óleo do bagaço da oliva ou até o uso de azeite lampante em altas proporções ou mesmo puro em alguns produtos.

DICAS PARA EVITAR COMPRAR AZEITE DE OLIVA FRAUDADO

  1. Priorize as marcas cuja extração e o envase do azeite de oliva acontecem no mesmo local, pois geralmente são mais seguros do que aqueles que são envasados por terceiros que compram a granel para reenvasar, onde pode ocorrer manipulação indevida e diluição;
  2. Desconfie sempre de preços muito abaixo da média, pois trata-se de um produto nobre, de baixa produtividade. Lembre-se de que uma oliveira precisa de um ano inteiro para produzir de 2 a 8 litros de azeite, portanto, pela lógica, não tem como ser muito barato;
  3. Confira a lista de produtos já aprendidos em ações do MAPA ou ANVISA, na qual constam produtos que foram associados a fraudes ou contrabando;
  4. Fique atento à embalagem que deve preferencialmente ter vidro escuro para melhor proteção dos produtos de boa qualidade;
  5. Sempre leia o rótulo. Informações como “óleo composto” ou “tempero misto” são expressões que indicam que o produto não se trata de um verdadeiro azeite de oliva e foi misturado propositalmente a outros óleos vegetais, como o de soja ou de girassol. No entanto, neste caso não há fraude, o produtor está informando no rótulo.

Termino este texto indicando que experimentem os produtos nacionais, pois os esforços com a qualidade para se firmar no mercado têm sido intensos, fato que já vem dando literalmente bons frutos, azeites de oliva excepcionais e de alta qualidade.

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IFS Food versão 7 x IFS Food versão 8: Documentação e controle

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Seguimos com a nossa série de posts da IFS Food versão 8. Hoje abordaremos a seção 2.1 Gestão de Qualidade, que compreende:

2.1.1 Requisitos de Documentação

2.1.2 Controle de Registros

Segue abaixo uma tabela comparativa das versões, com as mudanças destacadas em negrito:

 IFS FOOD

  REQUISITO NORMATIVO V7   REQUISITO NORMATIVO V8
2.1 Gestão da Qualidade    
2.1.1 Requisitos de documentação    
2.1.1.1 O sistema de gestão da qualidade e segurança dos alimentos deve ser documentado e implementado, e deve ser mantido disponível. (ex: manual de qualidade e segurança dos alimentos ou sistema eletrônico documentado). 2.1.1.2 O sistema de gestão da qualidade e segurança de alimentos deve ser documentado e
implementado e deve ser mantido em uma localização (manual de qualidade e segurança dos alimentos ou sistema eletrônico documentado).
2.1.1.2 Todos os documentos devem ser claramente legíveis, não ambíguos e completos. Estes devem estar disponíveis a qualquer momento para o pessoal relevante. 2.1.1.3 Todos os documentos devem ser legíveis, inequívocos e abrangentes. Estes devem estar disponíveis a qualquer momento para o pessoal relevante.
2.1.1.3 Deve existir um procedimento documentado para o controle de documentos e anexos. Todos os documentos que são necessários para o cumprimento dos requisitos do produto devem estar disponíveis em sua versão mais recente. A justificativa para quaisquer emendas aos documentos essenciais para os requisitos do produto deve ser registrada. 2.1.1.1 Um procedimento deve ser documentado, implementado e mantido para controlar
os documentos e suas alterações. Todos os documentos necessários para conformidade com a segurança de alimentos, qualidade do produto, legalidade, autenticidade e requisitos do cliente devem ser disponíveis na versão mais recente. A razão para quaisquer alterações em documentos críticos para esses requisitos deve ser registrada
2.1.2 Controle de Registros    
2.1.2.1 Os registros e as informações documentadas devem ser legíveis e genuínos. Devem ser mantidos de forma que sejam proibidas revisões ou emendas obsoletas. Se os registros forem documentados eletronicamente, um sistema deve estar em vigor para garantir que apenas o pessoal autorizado tenha acesso para criar ou alterar esses registros (por exemplo, proteção por senha). 2.1.2.1 Registros e informações documentadas devem ser legíveis, devidamente preenchidos e genuíno. Devem ser mantidos de uma maneira que a revisão subsequente ou alteração seja proibida. Se os registros forem documentados eletronicamente, um sistema deve ser mantido para garantir que apenas pessoal autorizado tenha acesso a criar ou alterar esses registros (por exemplo, proteção de senha).
2.1.2.2 Todos os registros e informações documentadas devem ser mantidos de acordo com os requisitos legais e do cliente. Se não existirem tais requisitos, os registros e as informações documentadas devem ser mantidos por um período mínimo de um ano após o prazo de validade especificado. Para produtos que não têm prazo de validade, a duração do registro e da manutenção de informações documentadas deve ser justificada e esta justificativa deve ser documentada. 2.1.2.2 Todos os registros e informações documentadas devem ser mantidas de acordo com requisitos legais e do cliente. Se tais requisitos não são definidos, os registros e as informações documentadas devem ser mantidas por um período mínimo de um ano após a vida útil. Para produtos que não têm prazo de validade, a duração do registro e da manutenção de informações documentadas deve ser justificada e esta justificativa deve ser documentada.
2.1.2.3 Registros e informações documentadas devem ser armazenados com segurança e facilmente acessíveis. 2.1.2.3 Registros e informações documentadas devem ser armazenados de forma segura e facilmente acessível.

Continuem acompanhando o Food Safety Brazil e a série de posts sobre a nova versão 8 da IFS Food.

Até a próxima!

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Molho pesto artesanal causou tetraplegia por botulismo em Brasília

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Tomate, amêndoas, alho, manjericão, azeite e sal. Tudo isso num frasco de vidro fechado a vácuo, ou seja, numa condição favorável para crescimento de microrganismos que dispensam o oxigênio para se multiplicarem, como o Clostridium botulinum. Este molho pesto artesanal causou tetraplegia flácida, num drama contado em detalhes no post Sobrevivente de botulismo conta sua história de superação e sequelas, sobre Doralice Goes, de 46 anos.

A embalagem estava lacrada e foi aberta no momento do consumo. Foram consumidas apenas 3 colheres de sopa desse molho, acompanhadas de torradas e vinho, num domingo à noite. A segunda-feira foi um dia normal. Na terça, ela foi para a ginástica pela manhã e no final, mais ou menos às 11 horas, sentiu fraqueza e taquicardia. Mesmo assim, seguiu para o seu trabalho. No caminho, já sentia as mãos e pés formigando. Por volta das 15h, as colegas de trabalho de Dora perceberam que ela estava falando “com a língua enrolada” a ponto de não ser compreendida e  então foi dirigindo sozinha ao hospital, chegando lá às 17h. Logo ao estacionar, notou que não conseguia mais caminhar normalmente e foi se apoiando nos carros estacionados até a entrada. Trinta minutos depois ocorreu a parada respiratória, paralisia total (tetraplegia) e ela precisou ser intubada. Dali iniciou sua jornada de internação e recuperação que durou todo o resto do ano de 2022.

No segundo dia de internação, um jovem neurologista conseguiu fazer o diagnóstico do botulismo, doença rara e com sintomas que causam fácil confusão. A midríase (pupila completamente dilatada), consciência plena e paralisia flácida fechavam o quadro.

O parecer médico fez o hospital acionar a Vigilância Sanitária do Centro Oeste e esta disponibilizou o soro antibotulínico para administração imediata. Houve uma diligência à casa da vítima para perícia da “cena do crime”, a geladeira. As amostras recolhidas foram o molho pesto ingerido, mel, salmão defumado artesanal e um atum que seria de um dos gatos de Dora.

Foram longos 60 dias de espera para ter o resultado divulgado pelo Laboratório Adolfo Lutz, em São Paulo. As análises (veja na imagem abaixo) confirmaram que a única amostra implicada foi de fato o molho pesto. A toxina botulínica identificada foi a de tipo A.

As toxinas do C. botulinum agem nas membranas pré-sinápticas das junções neuromusculares, bloqueando a liberação da acetilcolina e a transmissão do impulso para a contração muscular.

Laudo do Instituto Adolfo Lutz, único laboratório no Brasil que realiza o bioensaio para toxina botulínica  em camundongos

A origem do produto

Apreciadora de alimentos artesanais, Dora sempre frequentou a Feira da Praça 13, em Brasília, cujo slogan é “compre de quem faz”.  Especializada em produtos artesanais e orgânicos, oferece uma diversidade de produtos in natura e processados, de origem animal e vegetal.

O frasco de vidro não tinha data de validade ou informações de rastreabilidade, fato que não era percebido pela consumidora, que já era compradora assídua. A única informação na rotulagem sobre cuidados de segurança de alimentos era “Após aberto, consumir em até 3 dias”. Depois ela descobriu que tinha sido produzido perto do Natal, ou seja, tinha pouco menos de um mês de vida, à temperatura ambiente.

O local de fabricação do produto foi inspecionado após a confirmação do teste positivo: era a cozinha da residência do fornecedor. Parte dos frascos era de reaproveitamento. Maiores detalhes não puderam ser compartilhados pela vítima que colaborou com este post, uma vez que há ações da Vigilância do Centro-Oeste que ocorrem em sigilo.

Dora sabe por terceiros que o fabricante ficou muito abalado com a notícia e providenciou assistência psicológica a ela por quatro sessões enquanto hospitalizada. Desde dezembro, ele tirou a página do ar e disse ter parado de produzir alimentos e encerrado a empresa. O advogado da vítima descobriu que foi aberta uma outra empresa com novo CNPJ em outro segmento.

Em relação à feira, fiz contato com um dos curadores, que preferiu não se identificar. O retorno foi que os produtores são independentes, não são ligados aos organizadores, sendo cada um responsável pelo que manipula. A feira possui Alvará e é fiscalizada. Segundo informação do contato, “alguns produtores têm Alvará Sanitário e algumas categorias que são liberadas por lei não têm” (sic).

Depois do incidente, a Vigilância Sanitária local promoveu treinamento com os produtores. Uma cartilha de BPF foi também distribuída e a organização disse estar à disposição para outras iniciativas preventivas. Dora também ganhou um exemplar da cartilha.

Era um risco previsível

A combinação de matéria-prima vegetal, que pode conter esporos de C. botulinum, embalagem com baixo teor de oxigênio, tratamento térmico suave e não controle da acidificação é uma equação potencialmente fatal bastante conhecida na engenharia de alimentos. A previsibilidade do risco de botulismo nestas condições é o motivo da existência de leis e práticas preventivas de controle de processo deste tipo de alimento no Brasil e no mundo.

Não se trata de forma particular de “culpar” uma ou outra matéria-prima ou método de fabricação. Há muitas décadas esses riscos são conhecidos e há tecnologias muito eficazes para seu controle – desde que os fabricantes tenham ciência e recursos para agir. O “segredo” é fazer um tratamento térmico e uma acidificação controlados para impedir a sobrevivência de células e a germinação de esporos e, consequente, a produção de toxinas. Os recursos para executar este controle podem ser incompatíveis com a realidade de uma produção artesanal, que em muitos casos, na verdade, são caseiras (entenda-se: feitas numa cozinha residencial, e do ponto de vista legal, informais).

Em 2014. nos EUA, houve um surto relatado pelo CDC envolvendo duas jovens que consumiram molho pesto da mesma lata. Ou seja, também um alimento envasado em anaerobiose,  comparável ao vidro do molho de Brasília, que causou tetraplegia. Um escritório de advocacia americano que acompanhou o caso levantou pontos importantes para ajudar a analisar o caso do Brasil:

– Os produtos eram manipulados na cozinha da casa dos proprietários, sendo vendidos no “stand” da fazenda e em locais não registrados

– Os produtos eram de baixa acidez

– Ingredientes: dentes de alho crus e sal moídos eram usados no processador de alimentos. Folhas frescas de manjericão e azeite eram  adicionados e depois misturados com pinoli e queijo parmesão.

– Os ingredientes eram processados em pequenos lotes e adicionados a uma panela grande devido ao tamanho limitado do processador de alimentos. O começo do lote poderia ficar parado por até uma hora em temperatura ambiente antes de ser colocado nos frascos.

– Novos frascos eram limpos colocando-os em uma máquina de lavar louça doméstica no ciclo quente com detergente e alvejante. Os frascos eram então enchidos com água e colocados no micro-ondas até à fervura. As tampas eram mantidas em água quente até o uso.

-Os ingredientes foram misturados sem aquecimento para formar um molho e depois colocados em potes quentes. As tampas foram aplicadas e os frascos foram colocados em uma unidade de enlatamento em banho-maria.

– A água na unidade de enlatamento foi fervida e o produto foi aquecido. Não foi utilizado termômetro. Os frascos foram deixados para esfriar, a vedação ao redor da tampa foi verificada e o produto foi rotulado para distribuição.

-O rótulo não incluía uma declaração completa de ingredientes, código de lote, data de validade nem uma declaração “Perecível, manter refrigerado”.

– O pH era de 5,3 e a atividade de água foi de 0,965.

– O produto testou positivo para toxina botulínica tipo B

– Outros produtos do mesmo lote foram testados e deram negativo

– O relatório concluiu que o produto foi produzido em “condições inseguras em cozinha residencial”.

Por que os surtos por C. botulinum são tão pontuais, a ponto de num mesmo lote não haver outras embalagens positivas ou outras vítimas?

Segundo o engenheiro de alimentos Marcio Scucuglia, especialista em processos térmicos, “existe uma combinação de fatores necessários para disparar um surto, com destaque à própria quantidade do microrganismo (dependente da qualidade de matéria-prima e do seu manuseio), processo envolvido (manuseio, tempo entre processamento, processo térmico) e as condições do produto entre o preparo e o consumo (tempo e temperatura, anaerobiose)”.

Ele também pondera que como nem sempre é possível controlar as condições de manutenção e uso do alimento pelo consumidor após sair da fábrica. A tecnologia de conservas baseia-se na identificação e mitigação dos riscos, assegurando o desenho e controle dos processos térmicos inerentes à esterilidade comercial suportado pela garantia da qualidade (matéria-prima, limpeza e desinfecção, Procedimentos Operacionais Padronizados, treinamento).

Controles e legislação

Alimentos não refrigerados que são embalados em frascos hermeticamente fechados com pH maior que 4,6 e atividade de água acima de 0,85 correm o risco de favorecer a formação da toxina C. botulinum e devem ser fabricados de acordo com legislações específicas.

No estado de São Paulo há a Portaria 130/2020, que estabelece os requisitos essenciais de Boas Práticas de Fabricação (BPF) para alimentos de origem vegetal fabricados sob a forma artesanal, no âmbito do Estado de São Paulo.

Entre vários requisitos, é obrigatório implementar Procedimentos Operacionais Padronizados para higienização dos vegetais, tratamento térmico, acidificação (com medição de pH), manutenção preventiva.

A grande reflexão é se o fabricante do molho tinha conhecimentos e recursos (termômetro, pHmetro) e seguia os procedimentos acima. Ainda mais considerando que a legislação não é aplicável ao Distrito Federal e, portanto, seria só uma “inspiração” para as práticas adequadas.

Em nível nacional, contamos com a RDC Nº 726/22, que dispõe sobre os requisitos sanitários dos cogumelos comestíveis, dos produtos de frutas e dos produtos de vegetais.  Ela determina que o palmito em conserva e os produtos de vegetais não esterilizados com líquido de cobertura acidificado devem atender ao limite máximo de pH de 4,5.

Assim, para a prevenção de casos trágicos como o da sobrevivente Doralice, pessoalmente acredito que algumas perguntas a serem feitas por quem se aventura a se tornar um novo fabricante de produtos caseiros/artesanais de alto risco como conservas vegetais e temperos são:  estou disposto a estudar leis e normas e me tornar capaz de atender os requisitos técnicos de segurança dos alimentos? Terei recursos para aplicar as melhores práticas de manipulação? Farei estudos de prazo de validade? Caso conclua que seguir as legislações seja “muito pesado para um pequeno produtor, e ainda uma burocracia”, o empreendedor deve repensar se não seria melhor a migração do negócio para outro segmento que não impacte a saúde e as vidas humanas.

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Principais mudanças no novo Codex Alimentarius 2023

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As pessoas têm o direito de consumir alimentos seguros e os fabricantes têm o dever de garantir que sejam próprios para consumo. Por outro lado, a deterioração de alimentos é muito cara para os fabricantes, representa uma ameaça à segurança dos alimentos e pode afetar negativamente o comércio e a confiança do consumidor.

Os fabricantes devem conhecer e compreender os perigos associados aos alimentos que produzem, transportam, armazenam e vendem, bem como as medidas necessárias para controlar esses perigos significativos na fábrica.

Em fevereiro de 2023, a Comissão do Codex Alimentarius informou sobre a adoção dos Princípios Gerais de Higiene dos Alimentos revisados no CXC 1-1969 durante a 45ª Sessão da Comissão CAC45. Este documento descreve os princípios gerais que os fabricantes de alimentos devem entender e seguir.

As Boas Práticas de Higiene (BPH) são a base de qualquer controle eficaz dos perigos associados à fábrica. Para alguns, a implementação efetiva das BPH será suficiente para garantir a segurança dos alimentos. No entanto, nem todas as empresas de alimentos têm experiência para fazer isso. Acima de tudo, deve-se realizar uma análise de perigos de forma eficaz, conforme exigido pelas normas legais. Para isso, este novo documento é composto por duas partes:

  • Boas práticas de higiene.
  • O sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), bem como as diretrizes para sua aplicação.

Os Princípios de Higiene dos Alimentos visam:

  • Fornecer orientações sobre a aplicação de BPH aplicáveis em toda a cadeia alimentar para fornecer alimentos seguros e adequados para consumo.
  • Fornecer orientação sobre a aplicação dos princípios APPCC;
  • Esclarecer a relação entre BPH e APPCC.
  • Fornecer a base sobre a qual os códigos de prática específicos do produto e do setor podem ser estabelecidos.

Apesar de a publicação do CXC 1-1969 de setembro 2020 trazer mudanças significativas, principalmente relacionadas ao comprometimento da direção e de todos os funcionários, bem como a conscientização sobre a importância da higiene dos alimentos, a versão 2020 não incluiu em sua revisão um exemplo de árvore decisória para identificar os PCC (comumente conhecida como Árvore Decisória dos PCC do Codex). No entanto, vale ressaltar que este Codex APPCC 2020 ainda referenciava a utilização de uma árvore decisória ou outra abordagem para identificar Pontos Críticos de Controle (PCC).

Agora, na recente publicação (CXC 1-1969) dos Princípios Gerais de Higiene 2023, um dos principais resultados foi a adição de um novo anexo (anexo IV), que apresenta ferramentas para determinar pontos críticos de controle em um sistema APPCC.

Esta árvore decisória foi desenvolvida e revisada pelo  Comitê do Codex sobre Higiene dos Alimentos (CCFH). Este comitê é formado por 188 países membros.

A discussão do comitê do CCFH destacou que uma árvore decisória é uma ferramenta muito útil para identificar os PCC, tanto para as autoridades regulatórias, quanto para os fabricantes de alimentos, principalmente empresas pequenas, menos desenvolvidas e com poucos recursos.

Essa nova árvore decisória está condicionada a responder a uma sequência de perguntas para identificar o(s) Ponto(s) Crítico(s) de Controle (PCC). Simplificando, a ferramenta ajuda a determinar sistematicamente quais etapas de um processo são mais críticas para a segurança dos alimentos. Onde os riscos são maiores, controles apropriados devem ser implementados para minimizá-los.

É importante observar que as empresas de alimentos não são obrigadas a usar essa ferramenta como parte da determinação do PCC. Mas é um mecanismo útil que pode ser usado no Princípio 2, determinando os Pontos Críticos de Controle (PCC).

A árvore decisória é um processo simples que envolve responder a quatro (4) questões. Essas perguntas devem ser respondidas em uma sequência lógica e as respostas devem ser (SIM) ou (NÃO).

É importante observar que, como parte da realização de uma análise de perigos, você deve aplicar o Princípio 1 do APPCC, uma vez que tenha identificado perigos significativos. Você será capaz de usar a árvore decisória para responder às perguntas relacionadas aos perigos significativos que você identificou anteriormente.

Vamos rever as quatro questões.

Questão 1:

O perigo significativo* pode ser controlado a um nível aceitável nesta etapa por programas de pré-requisitos (por exemplo, Boas Práticas de Higiene)?

Questão 2:

Existem medidas de controle** específicas para o perigo significativo identificado nesta etapa?

Questão 3:

Uma etapa subsequente evitará ou eliminará o perigo significativo identificado ou o reduzirá a um nível aceitável?

Questão 4:

Esta etapa pode especificamente prevenir ou eliminar o perigo significativo identificado ou reduzi-lo a um nível aceitável?

*Um bom guia é considerar em que um perigo significativo se baseia (na probabilidade de ocorrência, na ausência de controle e na gravidade do perigo) e se pode ou não ser suficientemente controlado por programas de pré-requisitos, como Boas Práticas de Higiene.

**Se um PCC não for identificado nas questões 2-4, o processo ou produto deve ser modificado para implementar uma medida de controle e uma nova análise de perigo deve ser realizada.

***Considere que se a medida de controle nesta etapa funcionar em combinação com uma medida de controle em outra etapa para controlar o mesmo perigo, neste caso ambas as etapas devem ser consideradas PCC.

****Você deve retornar ao início da árvore decisória após fazer uma nova análise de perigo.

Documentando o processo da árvore decisória do Codex

Como qualquer APPCC, você deve documentar o uso da árvore decisória do PCC. O Comitê do Codex sobre Higiene dos Alimentos (CCFH) propôs um exemplo de planilha de determinação de PCC, que pode ser utilizada para esse fim.

Figura 1. Exemplo de uma árvore decisória de PCC – Aplica-se a cada etapa em que um perigo significativo específico é identificado.

Exemplo de Planilha de Determinação de PCC

Aplicar a cada etapa onde um perigo significativo especificado é identificado.

Vejamos um exemplo em uma fábrica de purê de tomate:

Referência

General Principles of Food Hygiene. Codex Alimentarius Code of Practice, No.CXC 1-1969. FAO and WHO. 2023

Imagem em destaque: Marco Tulio Bertolino

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Sobrevivente de botulismo conta sua história de superação e sequelas

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Dois dedos do pé direito. Durante três meses estas foram as únicas partes do corpo da sobrevivente de botulismo,  Doralice Goes,  que se movimentavam sutilmente e com muito esforço, e permitiam a comunicação dela por “alfabeto” entre os médicos e sua irmã, precisando de horas para formar uma frase.

A conquista seguinte, após 3 meses, foi abrir os olhos. Sobrevivente que superou muitas adversidades, ela contraiu botulismo em 23 de janeiro de 2022 e passou 10 meses em uma UTI.

Mesmo sem poder movimentar um músculo, ela podia ouvir tudo que acontecia ao seu redor, e tinha as sensações táteis todas preservadas no leito, como dores, frio, coceira, dormências… sem poder falar ou reagir. Sentia o toque das pessoas. Também passou pelo desespero de ouvir médicos e especialistas ao seu redor não saberem o que ela tinha e até julgando que estava inconsciente.

Por nove meses ela respirou por traqueostomia e enfrentou as muitas complicações de um corpo imóvel. Até evacuar era um desafio, requerendo injeções dolorosas de neostigmina nas pernas por seis dias seguidos para estímulo dos movimentos peristálticos.

Ela teve infecção hospitalar por bactéria resistente, KPC, Klebsiella Pneumoniae Carbapenemas, ficando completamente isolada. O quarto passou a ser identificado com uma faixa vermelha no piso e então se tornou uma “barreira sanitária”, pois todos da equipe médica e os visitantes tinham que se paramentar e desparamentar para estar em contato com a paciente. Durante os dois primeiros meses ela passou por  nove plasmaferese (pois este é o tratamento para Síndrome de Guillian Barré) e quatro transfusões de sangue. A conduta médica só mudou quando saiu o laudo confirmando a presença de toxina botulínica.

Aos sete meses de internação, houve uma tentativa de liberá-la dos respiradores, o que foi uma decisão precoce, pois teve três dias de vômitos, alucinações e insônia por acidose ácida e foi intubada novamente.

As dores das cãibras, que eram resposta à retomada de movimentos, não passavam com o uso de morfina. A sonda GTT que a alimentava chegou a vazar internamente, causando uma infecção que parou seus rins.  Foram dois meses e meio de hemodiálise.

Ainda adquiriu Covid-19 e realizou drenagem nos pulmões.

Hoje, aos 46 anos, ela tem catarata e precisa operá-la, cirurgia não coberta pelo seu plano de saúde. Não se sabe se esta foi causada pelo longo período de uso de corticóides ou por conta do botulismo.

Em um segundo hospital, com sessões de fisioterapia diárias ela foi recobrando os movimentos, a começar pelo pescoço. Durante a UTI a paralisia foi classificada como aguda de quatro membros. Atualmente tem os membros inferiores afetados por uma lesão axonal crônica, que a leva a uma condição de PNE para voltar a dirigir.

Para se colocar em pé novamente foram necessários nove meses como ilustra a imagem deste post, acima.

Doralice em sessão de hemodiálise

Perdas além da saúde física

No último eletroneuromiograma foi evidenciado que ela ainda possui neuropatia axonal crônica. Isso significa que perdeu neurônios e teve que fazer novas conexões. Na prática ela está “conquistando” a tetraparesia, ou seja, apesar da fraqueza, dores e formigamentos por todo o corpo, retoma, com esforço, a capacidade dos movimentos.

Afastada de seu trabalho como servidora pública e técnica do TJDFT, a vida de Dora é se reabilitar, e realizar palestras motivacionais e de conscientização sobre botulismo. Sua rotina intensa inclui fisioterapia motora e pulmonar, clínica da dor com fisiatra (que inclui agulhamento seco, máquinas de choque, analgesia, laser, dentre outros), atendimentos para liberação miofascial, canoagem e natação adaptada, além de Pilates.  Tem acompanhamento psicológico semanal. Por conta de seu quadro, diariamente toma uma lista de medicamentos. Visualizando o longo prazo, a advogada optou por não requerer aposentadoria por invalidez e usufruir do direito de afastamento.

Doralice deve mais de R$ 400.000,00 ao plano de saúde, por coparticipação. Também um boleto que ficou em aberto no período de internação, da ordem de dois mil reais iniciais, “cresceu” e está em mais de R$ 38 mil, sem negociação com o banco. Há dias em que não tem recursos para pegar o Uber ou renovar o plano de uma das suas atividades de reabilitação. As dívidas só crescem, pois boa parte das atividades são particulares.

O site de vendas online que possuía não está mais ativo.

O processo judicial para reparações perante o fabricante, como sabemos, é lento e custoso. Então ela abriu uma vaquinha virtual para recuperar estas e outras despesas.

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/prejuizos-do-botulismo-alimentar

Tratar do tema do desgaste emocional é uma tarefa bastante limitada aqui nesta publicação, devido à sua abrangência e complexidade.

Diagnóstico difícil

Entre o horário de consumo do alimento contaminado e os primeiros sintomas foram aproximadamente 36 horas. Começou com cansaço extremo após um treino da academia.  Foi trabalhar sentindo as mãos e pés formigando. No meio da tarde as colegas de trabalho de Dora perceberam que a servidora estava falando “com a língua enrolada” a ponto de não ser compreendida e ela então foi dirigindo, sozinha, ao hospital. Ao chegar lá, notou que não conseguia mais caminhar normalmente e foi se escorando nos carros do estacionamento até a porta. O caso foi tratado como AVC e ela prontamente encaminhada para uma tomografia. Durante o exame, teve crise de vômito e parada respiratória, sendo intubada e iniciando a paralisia total.

Confusos, os médicos começaram a trabalhar hipóteses como AVC de tronco, ou uma expressão grave da Síndrome de Guillian Barré, associada com dengue e chicungunha. Também cogitaram reação vacinal. Por ser uma doença rara e ter sintomas comuns a outras enfermidades, os médicos se atêm em um primeiro momento a doenças mais prevalentes, o que dificulta o diagnóstico e ação rápida.

Foi só no segundo dia de internação, que um jovem neurologista, ao avaliar suas pupilas dilatadas e ao perceber que estava consciente, fechou o diagnóstico de botulismo. Como Dora mora na Capital Federal, o soro, que é armazenado no Centro de Vigilância Epidemiológica, chegou a tempo de impedir a parada cardíaca.

Ela conhece mais sobreviventes, que também relatam que ao chegar ao hospital não tiveram o diagnóstico inicial correto. Em um caso, um jovem foi diagnosticado com sinusite e solicitado que retornasse para casa, parando de respirar ainda no caminho, mas houve tempo de ser socorrido. Em outro, os sintomas foram associados ao consumo de drogas.

Nesta imagem está a caixinha cinza com o soro antibotulínico que salvou a vida de Dora

Quer saber mais detalhes sobre o caso? A série continua aqui: Molho pesto artesanal causou tetraplegia por botulismo em Brasília 

Aqui abordamos a contaminação, o processo investigativo e o alimento implicado.

Para contratar a Doralice para ministrar palestras em empresas, escreva para palestrabotulismo@gmail.com

Todas as imagens deste post foram enviadas e autorizadas por Doralice Goes.

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Por que o início da limpeza CIP é importante?

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Normalmente imaginamos que o início da limpeza CIP é o enxágue inicial ou pré-enxágue, mas há uma etapa antes dessa. É a recuperação ou remoção de sólidos, que pode ter duas conotações:

  • A recuperação de sólidos do produto, até o ponto em que a interface produto/água não afete a qualidade do produto. Em alguns casos, a mistura de água com resíduos sólidos não pode ser recuperada e é encaminhada para sistemas de filtração ou destinada para ração animal.
  • Alguns resíduos de incrustações podem ser retirados dos equipamentos. Essa etapa é importante para que os resíduos sejam aproveitados como subprodutos ou encaminhados para ração animal.

Essas práticas podem ajudar na economia de água e redução de efluentes a serem tratados, gerando maior lucratividade da indústria.

Em algumas situações, esse início tem sido negligenciado e com isso há sobrecarga de sólidos na fase de pré-enxágue. Segundo uma ótica equivocada de economizar água e tempo, a etapa de pré-enxágue também nem sempre retira todos os resíduos, gerando a redução da eficácia da limpeza alcalina. Os problemas são:

  • Limpeza ineficaz
  • Redeposição de sujidades nas superfícies limpas
  • Contaminação microbiana carreada
  • Formação de biofilmes

Contudo, a ineficácia é causada pelo excesso de resíduos sólidos que satura as soluções de limpeza e impede que a solução aja sobre a superfície propriamente dita. Isto pode ser agravado quando o grau de resíduos é tão alto que causa a saturação da solução, gerando espuma e até gelatinização.

Fig.1 -Exemplo de solução saturada e gelatinizada

Os processos de limpeza CIP com apenas limpeza alcalina deveriam ser realizados da seguinte forma:

Fig.2 – Etapas de limpeza até enxague da limpeza alcalina

  1. Recuperação e remoção de sólidos,
  2. Enxágue inicial, realizado até a remoção completa de resíduos visíveis utilizando a água recuperada do final do enxágue após a limpeza alcalina,
  3. Limpeza alcalina realizada com solução limpa ou com qualidade adequada, com parâmetros corretos de concentração, tempo, temperatura e vazão,
  4. Enxágue, realizado com água potável e dividido em 3 etapas
    1. Recuperação de soda – interface água e solução de limpeza
    2. Descarte de interface água e solução de limpeza para eliminação de sujidades e sólidos
    3. Recuperação de água com baixa concentração de solução de limpeza.

O EHEDG, por exemplo, sugere a troca das soluções ou monitoramento da qualidade da solução.

  1.  Troca da solução alcalina nas seguintes condições:
  • A cada 3 meses
  • 30 ciclos
  • Sujidades visíveis
  • Quando o tanque for drenado
  • Antes e após manutenção

b.  Monitoramento da qualidade pode ser feito através de:

  • Teor de carbonatos
  • Alcalinidade
  • Turbidez / teor de sólidos
  • DQO

Em suma, quanto mais limpa estiver a solução alcalina, melhor será a eficácia da limpeza e menor será o risco de contaminações microbiológicas e físicas, e isso depende do início da limpeza.

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Influência da apanha na cadeia produtiva de frangos de corte

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A apanha de frangos de corte desempenha um papel fundamental na cadeia produtiva da indústria dos alimentos. Além de impactar diretamente o Bem-estar Animal, a forma como os frangos são manuseados durante esse processo também afeta a qualidade da carne e a eficiência geral da produção. 

 

A cadeia produtiva de frangos de corte é uma das mais relevantes do agronegócio. A boa conversão alimentar dos frangos possibilita um ciclo produtivo rápido, que aliado à alta produção, caracterizam o dinamismo da avicultura industrial, principalmente se comparada com as demais espécies de produção animal. Somado a isso, a crescente predileção dos consumidores pela carne de frango é notável, e alguns fatores que contribuem para isso são o custo acessível, a versatilidade de preparo e a qualidade nutricional. Essa junção de aspectos impulsiona cada vez mais a competitividade no mercado. 

Entretanto, por ser uma atividade tão intensa, constantes desafios vêm sendo observados. O destaque é para o bem-estar dos frangos de corte, que isso influencia positivamente na qualidade de sua carne. Dentre os fatores que podem afetar o bem-estar das aves e interferir nos atributos da carcaça destacam-se os erros de manejo nas fases de criação, pré-abate e processamento, que podem desencadear hematomas e fraturas, com perdas significativas para a produção avícola.  

 

Manejo pré-abate: impactos críticos na qualidade da carne e no Bem-estar Animal 

A execução de um manejo pré-abate criterioso é uma necessidade evidente, sendo o momento da apanha considerado um ponto crítico de controle. Essa etapa ocorre quando os frangos atingem o peso de abate do mercado, sendo capturados por colaboradores e conduzidos ao abatedouro. Dentre as operações pré-abate, essa é a que mais gera injúrias físicas e estresse. 

Nesse período, nota-se o maior percentual de hematomas no peito, provenientes de falhas humanas, pela colocação rápida dos frangos nas caixas de transporte, além de quebra de asas. Somado a isso, as rotas de fuga criadas pelas aves fazem com que umas se aglomerem sobre as outras, expondo os animais a altos níveis de estresse, com susceptibilidade à ocorrência de arranhões, contusões e, por conseguinte, depreciação da carcaça.  

Em casos mais graves, as principais causas de mortes por trauma durante a apanha acontecem quando o funcionário suspende a ave por uma perna só, ocorrendo o bater excessivo das asas, com uma torção leve da pelve, ocasionando deslocamento ou fratura do fêmur. Através disso, o osso é compelido para o interior da cavidade abdominal, podendo romper os sacos aéreos e ocasionar a entrada de sangue nos pulmões.

 

Análise das causas e incidências dos hematomas pré-abate

De modo geral, aproximadamente 90 a 95% dos hematomas de frangos de corte ocorrem durante as 12 horas que antecedem o abate. Destas lesões, 35% são causadas pelo criador devido ao manejo impróprio da cama e alta densidade de alojamento, 40% no decorrer da apanha e o restante durante transporte, descarga e pendura.   

Além disso, a coloração do hematoma varia em função do tempo entre a ocorrência da contusão e o momento de avaliação no abate. Os hematomas com coloração roxo escuro formam-se em até 12 horas, o que corresponde ao período de apanha. De acordo com Tomasi (2010), os locais que apresentam maiores incidências de contusões e hematomas são: peito (39 a 56%), pernas (25 a 30%) e asas (18 a 31%). 

 

Métodos de apanha de aves: abordagens e desafios 

Com relação aos métodos de apanha utilizados no Brasil, é possível capturar manualmente as aves pelas pernas ou pelo dorso. Na apanha pelas pernas, os frangos são pegos pelos dois membros e colocados de cabeça para baixo. É um método mais rápido e exige menos colaboradores; no entanto, essa prática inversa acarreta estresse e pode resultar em fraturas devido aos movimentos bruscos, tornando-a ineficiente. 

Já na apanha pelo dorso, as asas são pressionadas junto ao corpo das aves, impossibilitando-as de bater. Com isso, o número de ocorrências de lesões diminui, resultando em maior proteção à integridade física dos animais. É o método menos estressante, desde que as aves sejam levantadas e carregadas corretamente dentro das caixas. Seguindo as recomendações nacionais e internacionais de bem-estar animal (ABPA, 2016; OIE, 2017; DEFRA, 2002), os frangos devem ser pegos pelo dorso. 

É importante salientar, contudo, que a apanha pelo dorso eleva os custos e o tempo nos carregamentos. Ainda assim, trata-se da melhor alternativa em termos de qualidade da carcaça. Esse fato é corroborado nos estudos de Kittelsen e colaboradores, ao concluírem que a apanha pelo dorso proporcionou menos danos ao bem-estar das aves. 

 

Boas práticas de manejo durante a apanha 

Para garantir o bem-estar durante a apanha, é importante priorizar os seguintes fatores: realização no período noturno, temperaturas mais amenas e capacidade visual dos frangos reduzida, contribuindo para diminuir a agitação dos animais. Durante o processo, é importante não esquecer de remover os comedouros e bebedouros para evitar acidentes. Uma recomendação válida é subdividir as aves em grupos, tornando mais fácil a contenção e apanha, o que reduz o risco de lesões na pele. Os funcionários, por sua vez, devem fechar as caixas com cuidado, deslizando-as suavemente para garantir o bem-estar das aves.  

Caso a apanha seja realizada no período diurno, deve-se utilizar cortinas sobre as portas para minimizar a intensidade de luz do galpão. E a ventilação deve ser controlada para evitar estresse por calor, a fim de precaver a incidência de aves ofegantes.

 

A certificação de Bem-estar Animal é uma abordagem abrangente que vai além da criação e engloba todas as etapas da vida dos animais, incluindo o abate. Baseada na prevenção de doenças, tratamento veterinário, proteção, manejo e nutrição adequada, essa certificação busca garantir que os animais sejam não apenas criados, mas também abatidos de forma respeitosa e humanitária, aponta Roberta Cunha, Gerente de Operações da QIMA/WQS, certificadora global que tem a Certificação de Bem-estar Animal como uma das principais soluções em sua cartela de serviços. 

 

A importância da capacitação dos funcionários 

Para mitigar os efeitos negativos do manejo pré-abate sobre o bem-estar animal, é importante investir em treinamentos constantes e capacitação dos funcionários. As aves devem ser apanhadas cuidadosamente, seguindo os procedimentos padronizados.  

No intuito de melhorar o bem-estar dos frangos, reduzir hematomas e alcançar ganhos econômicos, é conveniente considerar a bonificação dos resultados dos funcionários. É essencial, ainda, que todo esse processo seja supervisionado por um líder, garantindo a redução de contusões e fraturas que possam resultar na condenação de partes valiosas da carcaça, como peito, coxa, sobrecoxa e asas. 

 

Promovendo o Bem-estar Animal e a qualidade da carne 

A influência da apanha na cadeia produtiva de frangos de corte é de extrema importância, afetando tanto o Bem-estar Animal quanto a qualidade da carne produzida. É crucial adotar medidas de manejo pré-abate criteriosas, capacitar os colaboradores envolvidos e implementar práticas que promovam o bem-estar dos animais. Somente assim será possível garantir uma cadeia produtiva mais sustentável, com frangos de corte saudáveis, produtos de qualidade e a satisfação de todos os envolvidos, dos produtores aos consumidores. 

 

Saiba mais sobre as certificações de Bem-estar Animal através do guia, disponível no link https://wqs.com.br/bem-estar-animal. 

 

Artigo desenvolvido por Mariana Rodrigues, Analista Técnica na QIMA/WQS. 

 

Contato: 

Departamento de Marketing 
marketing@wqscert.com

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IFS Food versão 7 x IFS Food versão 8

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Dando continuidade ao post da nova versão da IFS Food versão 8, recentemente a IFS lançou o Guia de Comparação da IFS Food V7 para V8. Contudo, este guia ainda não tem tradução para português. Assim, para facilitar a vida de quem já pensa em começar a colocar a mão na massa para as adequações, vou iniciar uma série de posts abordando as mudanças.

A versão 8 da IFS Food traz muito a expressão verbal “shall be” ou seja “deve ser”, e muitos requisitos estão mais claros quanto ao que devemos fazer para atendê-los. As mudanças estão destacadas em “negrito”.

No post de hoje abordaremos os requisitos da seção 1 da versão 8, que são:

1.1 Política Corporativa / Princípios corporativos

1.2 Estrutura corporativa

1.3 Análise crítica pela direção

O requisito 1.3 na versão 7 trata “Foco no Cliente”. Na versão 8, o Foco no Cliente é visto no requisito 1.1.1 Política Corporativa. Ainda no requisito 1.1.1, Sustentabilidade volta a ser requerida na política.

Segue abaixo uma tabela comparativa das versões:

IFS FOOD

  REQUISITO NORMATIVO V7   REQUISITO NORMATIVO V8
1.1 Política Corporativa / Princípios corporativos 1.1 Política Corporativa / Princípios corporativos
1.1.1 A direção deve desenvolver, implementar e manter uma política corporativa, a qual deve incluir, no mínimo:

• segurança de alimentos e qualidade do produto
• foco no cliente
• cultura de segurança de alimentos.

Esta política corporativa deve ser comunicada a todos os colaboradores e deve ser desdobrada em objetivos específicos para os departamentos relevantes.

1.1.1 A alta administração deve desenvolver, implementar e manter uma política para empresa, que deve incluir, no mínimo:
• segurança de alimentos e qualidade do produto, legalidade e autenticidade
• foco no cliente
• cultura de segurança de alimentos
sustentabilidade.Esta política corporativa deve ser comunicada a todos os funcionários e deve ser dividida em objetivos específicos para os departamentos relevantes. Objetivos sobre a cultura de segurança de alimentos devem incluir, no mínimo, a comunicação sobre políticas e responsabilidades de segurança de alimentos, treinamento, feedback dos funcionários sobre questões relacionadas à segurança de alimentos e desempenho de medição.
1.1.2 Todas as informações relevantes relacionadas à segurança de alimentos, qualidade do produto e autenticidade devem ser comunicadas de forma eficaz e em tempo hábil para o pessoal relevante. 1.1.2 Todas as informações relevantes relacionadas com segurança de alimentos, qualidade do produto, legalidade e autenticidade devem ser comunicadas de forma eficaz e de maneira oportuna para o pessoal relevante.
1.2 Estrutura corporativa 1.2 Estrutura corporativa
1.2.1 KO N° 1:
A direção deve garantir que os colaboradores estão cientes de suas responsabilidades relacionadas à segurança de alimentos e à qualidade do produto e que mecanismos estão implementados para monitorar a eficácia de sua operação. Esses mecanismos devem ser claramente identificados e documentados.
1.2.1 KO n°1: A alta administração deve garantir que os funcionários estejam cientes de
suas responsabilidades relacionadas com a segurança de alimentos e qualidade do produto e que mecanismos são implementados para monitorar a eficácia de sua operação. Tais mecanismos devem ser identificados e documentados.
1.2.2 A direção deve fornecer recursos suficientes e relevantes para atender aos requisitos de produto e processo. 1.2.2 A alta administração deve fornecer recursos suficientes e adequados para atender aos requisitos de produto e processo.
1.2.3 O departamento responsável pela gestão da segurança de alimentos e da qualidade deve ter uma relação de reporte direto com a direção. Um organograma deve estar disponível, mostrando a estrutura da empresa. 1.2.3 O departamento responsável pela gestão de segurança de alimentos e qualidade deve ter uma relação de subordinação direta com a alta administração. Um organograma, mostrando a estrutura da empresa, deve ser documentado e mantido.
1.2.4 A direção deve garantir que todos os processos (documentados e não documentados) são conhecidos pelo pessoal relevante e são aplicados de forma consistente. 1.2.4 A alta administração deve assegurar que todos os processos (documentados e
não documentados) são conhecidos pelo pessoal relevante e são aplicados consistentemente.
1.2.5 A direção deve ter um sistema implementado para garantir que a empresa é mantida informada sobre toda a legislação relevante, desenvolvimentos científicos e técnicos, códigos de prática da indústria, questões associadas à segurança de alimentos e de qualidade dos produtos, e que está ciente dos fatores que podem influenciar os riscos de defesa dos alimentos (food defense) e fraude em alimentos. 1.2.5 A alta administração deve manter um sistema para garantir que a empresa se mantenha informada de toda a legislação pertinente, desenvolvimentos científicos e técnicos, códigos de prática da indústria, segurança de alimentos e questões de qualidade do produto, e que eles estão cientes dos fatores que podem influenciar a defesa do alimento e riscos de fraude de alimentos.
1.2.6 A direção deve garantir que o organismo de certificação seja informado sobre quaisquer
mudanças que possam afetar a capacidade da empresa de estar em conformidade com os requisitos de certificação. Isso deve incluir, no mínimo:
• qualquer mudança de nome da entidade legal
• qualquer mudança de local de produção. Para as seguintes situações específicas:
• qualquer recall de produto
• qualquer recall de produto e / ou recolhimento por ordem oficial por motivos de segurança de alimentos e / ou fraude em alimentos
• qualquer visita de autoridades de saúde que resulte em notificações e / ou penalidades emitidas por autoridades. O organismo de certificação deve ser informado dentro de três (3) dias úteis.
1.2.6 A alta administração deve assegurar que o organismo de certificação seja informado de quaisquer alterações que possam afetar a capacidade da empresa de se adequar aos requisitos de certificação. Isso deve incluir, no mínimo:
• qualquer mudança de nome da entidade legal
• qualquer mudança de localização do local de produção. Para as seguintes situações específicas:
• qualquer recall de produto
• qualquer recall de produto e/ou retirada decidida pelas autoridades para segurança alimentar e/ou razões de fraude de alimentos
• qualquer visita de autoridades que resulta em ação obrigatória relacionados com a segurança de alimentos e/ou fraude de alimentos o organismo de certificação deve ser informado em até 3 (três) dias úteis.
1.3 Foco no cliente    
1.3.1 Um processo deve estar implementado para identificar as necessidades e expectativas fundamentais dos clientes. O feedback deste processo deve ser usado como entrada para a melhoria contínua da empresa. Esse item na versão 8 é visto na Política Corporativa, requisito 1.1.1
1.4 Análise crítica pela direção   1.3 Análise crítica pela direção
1.4.1 A direção deve garantir que o sistema de gestão da segurança de alimentos e qualidade seja revisado pelo menos uma vez por ano, ou com maior frequência se ocorrerem mudanças significativas.

Essas revisões devem incluir, no mínimo:
• a revisão dos objetivos e políticas, incluindo elementos da cultura de segurança de alimentos
• resultados de auditorias e inspeções do local
• retroalimentação positiva e negativa de clientes
• conformidade do processo
• questões de autenticidade e conformidade
• status das correções e ações corretivas
• notificações por autoridades

1.3.1 A alta administração deve assegurar que o sistema de gestão da segurança de alimentos e qualidade é revisto. Esse atividade deve ser planejada dentro de um período de 12 meses e sua execução não deve exceder 15 meses.
Essas revisões devem incluir, no mínimo:
• uma revisão dos objetivos e políticas incluindo elementos da cultura de segurança de alimentos
• resultados de auditorias e inspeções no local
• cliente positivo e opinião negativa
• conformidade do processo
• resultado da avaliação de fraude de alimentos
• resultado da avaliação de defesa dos alimentos
• problemas de conformidade

• status de correções e ações corretivas
• notificações de autoridades
1.4.2 As ações da análise crítica pela direção devem ser claramente destinadas a apoiar a melhoria. A
análise crítica pela direção deve avaliar as ações de acompanhamento (follow-up) das análises críticas anteriores e qualquer mudança que possa afetar o sistema de gestão da segurança de alimentos e da qualidade. A análise crítica pela direção deve ser totalmente documentada.
1.3.2 Ações da análise gerencial terão como objetivo apoiar a melhoria. A revisão da gestão deve avaliar ações de acompanhamento de revisões anteriores de gerenciamento e quaisquer mudanças que possam afetar o sistema de gestão da segurança de alimentos e da qualidade. A revisão da gestão deve ser totalmente documentada.
1.4.3 A direção deve identificar e revisar regularmente (por exemplo, por auditorias internas ou
verificações no local) a infraestrutura e o ambiente de trabalho necessários para a conformidade com os requisitos do produto. Isso deve incluir, no mínimo:
• edifícios
• sistemas de abastecimento
• máquinas e equipamentos
• transporte
• instalações para o pessoal
• condições ambientais
• condições higiênicas
• projeto do local de trabalho
• influências externas (por exemplo, ruído, vibração). Os resultados dessa revisão devem ser considerados para o planejamento de investimentos, com a devida consideração dada aos riscos.
1.3.3 A alta administração deve identificar e revisar (por exemplo, por auditorias internas ou
inspeções no local) a infraestrutura e ambiente de trabalho necessários para garantir a segurança de alimentos, a qualidade do produto, legalidade e autenticidade, pelo menos uma vez dentro de um período de 12 meses, ou sempre que ocorrem mudanças significativas. Isso deve incluir, no mínimo:
• edifícios
• sistemas de abastecimento
• máquinas e equipamentos
• transporte
• instalações da equipe
• condições ambientais
• condições de higiene
• projeto do local de trabalho
• influências externas (por exemplo, ruído, vibração). Com base nos riscos, os resultados da revisão serão considerados para investimento e planejamento.

Continue acompanhando o Food Safety Brazil e a série de posts sobre a nova versão 8 da IFS Food.

Até a próxima!

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