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Demanda global por alimentos e o risco de zoonoses

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A população mundial deve chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050, e este crescimento significa uma maior demanda por alimentos. O aumento da renda per capita e a urbanização ajudaram a impulsionar um forte aumento na demanda por alimentos de origem animal (carne, aves, laticínios e ovos). Esse aumento da demanda levou a uma suscetibilidade das pessoas às zoonoses.

As zoonoses são doenças transmitidas de animais para pessoas de várias maneiras. Algumas são transmitidas através do contato direto com animais infectados, ou por produtos e resíduos de animais e outras são transmitidas pelo consumo de alimentos ou água contaminados. Os patógenos na cadeia de produtiva de carnes, ovos e laticínios são um risco particular, com surtos repetidos e bem relatados. Globalmente, a maioria dos animais domesticados e alguns animais silvestres são capazes de abrigar bactérias, vírus ou parasitas.

Um estudo revelou que 58% dos patógenos humanos eram espécies zoonóticas e 13% estavam emergindo; dessas, 73% eram zoonóticas. Outro estudo semelhante constatou que 26% dos patógenos humanos também infectaram animais domésticos e selvagens. Muitas zoonoses que emergiram recentemente se originaram na fauna silvestre. A interação de seres humanos ou animais de criação com animais silvestres os expõe a ciclos de doenças e ao risco de transmissão de possíveis patógenos.

O volume de consumo de produtos da fauna silvestre geralmente é muito menor do que o consumo de animais de criação (bovinos, suínos, aves, caprinos, etc.). No entanto, o contato humano-animal associado à caça, preparação e consumo de animais selvagens levou à transmissão de doenças notáveis. Essas doenças incluem o HIV/AIDS, que estava ligado ao massacre de chimpanzés caçados, a Síndrome respiratória aguda grave (SARS), que surgiu no mercado de animais silvestres e trabalhadores de restaurantes no sul da China, e a febre hemorrágica do Ebola ligada à caça ou manuseio de grandes macacos infectados, ou outros animais selvagens.

Todas essas doenças são causadas por vírus, que exploram novas oportunidades de hospedeiro resultantes do comportamento humano. O contato dos animais de criação com esses vírus faz com que estes se tornem um hospedeiro intermediário ou amplificador, no qual os patógenos podem evoluir e transbordar para os seres humanos, porém, em alguns casos os seres humanos podem ser infectados diretamente pelos animais silvestres ou vetores.

Somente nos países da África Central, as estimativas do consumo anual de carne silvestre totalizam 1 bilhão de quilos. A indústria de carne de animais silvestres da China está avaliada em US $ 7,1 bilhões. As soluções para conter o aumento da demanda por carne de animais silvestres não são simples. Embora a substituição do consumo de animais silvestres por animais de criação possa parecer lógica, o aumento da produção pecuária nos países em desenvolvimento sem práticas adequadas de gerenciamento de doenças pode levar ao surgimento de outros patógenos devido à introdução de novos hospedeiros.

Porém, a grande maioria das zoonoses transmitidas por alimentos são predominantes em animais de criação (por exemplo, tuberculose bovina, brucelose, salmonelose e algumas infecções por helmintos), especialmente em países em desenvolvimento, e resultam em infecções endêmicas e surtos de doenças. Práticas culturais e agrícolas, como taxas de estocagem, mistura de espécies, métodos de confinamento e alimentação, e falta de implementação adequada de métodos de controle de doenças – por causa de infraestrutura veterinária precária e parcerias público-privadas insuficientes para apoiá-las e fortalecê-las, podem servir para manter ou espalhar doenças nesses animais e fornecer uma fonte de novas infecções em populações humanas suscetíveis.

Com o aumento da demanda por alimentos, e consequentemente o aumento da produção animal, as doenças infecciosas podem se propagar rapidamente. Em resposta, o setor agropecuário introduziu uma variedade de medicamentos antimicrobianos por causa de suas qualidades profiláticas. Alguns desses antibióticos também são amplamente utilizados na alimentação animal, para aumentar as taxas de crescimento, melhorar a eficiência alimentar e diminuir a produção de resíduos de animais. O uso desses antibióticos está levando ao surgimento de resistência a antibióticos nos animais e nas pessoas. Assim, patógenos zoonóticos resistentes a antimicrobianos podem ser transmitidos dos animais de criação para as pessoas, inclusive através do consumo de alimentos.

As técnicas com as quais os animais são abatidos e processados, e como os produtos são armazenados, embalados, transportados e preparados no local onde são consumidos, também possibilitam surtos de zoonoses transmitidas por alimentos. Os surtos de triquinose nas pessoas geralmente estão ligados ao consumo de carne mal passada de suínos e, ocasionalmente, de caça. A cisticercose (causada pela tênia do porco Taenia solium) afeta 50 milhões de pessoas todos os anos.

Observa-se que a maioria das zoonoses importantes se relaciona de alguma forma com a produção e o consumo de animais silvestres e de criação. Portanto, alimentos de origem animal se tornam um veículo importante para muitos desses patógenos zoonóticos. Mudanças nos sistemas de produção de alimentos para modelos sustentáveis que minimizem o risco de zoonoses são fundamentais para atender às necessidades alimentares da crescente população global, protegendo a saúde humana e conservando a biodiversidade e o meio ambiente.

Referências:

BROGLIA, A.; KAPEL, C. Changing dietary habits in a changing world: Emerging drivers for the transmission of foodborne parasitic zoonoses. Veterinary Parasitology, [s.l.], v. 182, n. 1, p.2-13, nov. 2011.

JONES, B. A.; GRACE, D.; KOCK, R.; ALONSO, S.; RUSHTON, J.; SAID, M. Y.; MCKEEVER, D.; MUTUA, F.; YOUNG, J.; MCDERMOTT, J.. Zoonosis emergence linked to agricultural intensification and environmental change. Proceedings Of The National Academy Of Sciences, [s.l.], v. 110, n. 21, p.8399-8404, 13 maio 2013.

KARESH, W. B; DOBSON, A.; LLOYD-SMITH, J. O; LUBROTH, J.; A DIXON, M.; BENNETT, M.; ALDRICH, S.; HARRINGTON, T.; FORMENTY, P.; LOH, E. H. Ecology of zoonoses: natural and unnatural histories. The Lancet, [s.l.], v. 380, n. 9857, p.1936-1945, dez. 2012.

ZANELLA, J. R. C. Zoonoses emergentes e reemergentes e sua importância para saúde e produção animal. Pesquisa Agropecuária Brasileira, [s.l.], v. 51, n. 5, p.510-519, maio 2016.

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FSA publica orientações para empresas de alimentos sobre coronavírus (Covid-19)

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A FSA publicou orientações para ajudar as empresas de alimentos a responder ao surto de coronavírus (COVID-19) no Reino Unido.

A nova orientação foi desenvolvida com o Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais (Defra) e abrange uma variedade de áreas, incluindo boas práticas de higiene, gerenciamento de doenças dos funcionários e distanciamento social para ambientes específicos de empresas de alimentos.

É muito improvável que as pessoas possam pegar COVID-19 por meio da comida. A COVID-19 é uma doença respiratória e não se considera que seja transmitida por exposição a alimentos ou embalagens de alimentos.

A FSA está trabalhando com a indústria de alimentos para garantir que as empresas saibam quais são suas responsabilidades e que ações precisam ser tomadas para manter os padrões de segurança e proteger a equipe de trabalho durante o surto.

As orientações podem ser encontradas clicando aqui.

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Fontes anti fake news sobre segurança dos alimentos e o coronavírus

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Como a cadeia de alimentos será impactada em relação ao coronavírus? Quais os riscos existentes à saúde dos consumidores?

Diante do cenário atual em que os países se encontram, estão circulando diversos materiais na internet, em redes sociais, vídeos em grupos de Whatsapp e há muitas informações equivocadas e até mesmo as famosas fake news. Por isso é importante estar atento a fontes confiáveis para auxílio na tomada de decisões sensatas e eficazes em nossas empresas e estabelecimentos.

Hoje como estão as suas fontes de informação?

Em resposta à evolução do surto do coronavírus (Covid-19), organizações como FDA (Food & Drug Administration), EFSA (European Food Safety Authority), FSAI (Food Safety Authority of Ireland), ANVISA (Agência Nacional da Vigilância Sanitária – Brasil) estão constantemente divulgando materiais de apoio e notas informativas à medida que avança a situação que os países estão enfrentando.

Entre os materiais e informações divulgados existem avaliações e recomendações para tratativas a serem realizadas que podem servir de apoio à segurança dos alimentos. Podemos encontrar tópicos como:

  • Existe risco para os consumidores em alimentos?
  • Se eu usar luvas, a lavagem das mãos ainda é importante?
  • Política temporária para requisitos de auditoria no local – FSMA
  • Uso de equipamento de proteção individual (EPI) e isolamento

É certo que neste momento estamos diante de uma situação em que empresas estão realizando sua gestão de crise, adotando ações de contingência e a cada notícia televisiva e medidas do governo atualizadas tudo é constantemente alterado e uma nova estratégia precisa ser adotada.

Enquanto você lê este artigo novas ações já podem inclusive estar ocorrendo, portanto esteja atento às fontes devidamente confiáveis.

Você tem visto ou lido absurdos diante da situação que estamos vivendo? Compartilhe conosco nos comentários.

Fontes para consultas

As consultas direcionam aos sites em sua língua nativa:

https://www.fsai.ie/faq/coronavirus.html

http://www.efsa.europa.eu/en/news/coronavirus-no-evidence-food-source-or-transmission-route

https://www.fda.gov/emergency-preparedness-and-response/mcm-issues/coronavirus-disease-2019-covid-19

http://portal.anvisa.gov.br/coronavirus/protocolos

Preparação para enfrentar Pandemia na Indústria de Alimentos

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Novo vírus bovino é encontrado nos EUA

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O Kobuvírus bovino, um vírus do gado descoberto no Japão em 2003, chegou aos Estados Unidos. O caso é relatado na revista médica “Emerging Infectious Diseases”. O vírus foi descoberto em uma pesquisa da Universidade de Illinois sobre a morte de dois bezerros.

O Kobuvírus bovino ou BKV parece ser o causador de zoonoses mais recentemente descoberto. Ou seja, o vírus transmite infecções que podem se espalhar entre animais e pessoas.  O BKV pertence a uma família de vírus que está associada a uma ampla gama de doenças, incluindo diarreia, vômito, febre, conjuntivite purulenta e sintomas respiratórios.

Desde quando foram notificados no Japão pelos centros federais de controle e prevenção de doenças, há 17 anos, os relatos de BKV chegaram da Tailândia, Hungria, Holanda, Coréia, Itália, Brasil, China e Egito.

O  Center for Disease Control and Prevention (CDC) diz que a prevalência de BKV nos Estados Unidos permanece desconhecida, e a descoberta da Universidade de Illinois significa que há uma necessidade de vigilância contínua. O CDC ainda afirma que é necessário determinar a taxa e a distribuição de BKV na América do Norte.

Não se sabe ao certo se o BKV é estritamente um patógeno de animais ou se pode se espalhar para os seres humanos. A forma de kobuvírus em humanos é chamada de “vírus Aichi 1” e causa gastroenterite aguda, sendo amplamente distribuída entre muitas espécies animais. Os kobuvírus podem ser transmitidos pela via fecal-oral ou pela ingestão de alimentos contaminados. Porém, em um relatório de 2014 sobre kobuvírus publicado pelo National Center for Biotechnology Information, observou-se que são necessárias investigações globais sobre a prevalência e diversidade de kobuvírus para entender coisas como a transmissão interespécies.

Referências

FLYNN, Dan. Food Safety News: New bovine virus associated with human head colds and sinus infections gets into USA. 2020. Disponível em: <https://www.foodsafetynews.com/2020/02/new-bovine-virus-associated-with-human-head-colds-and-sinus-infections-gets-into-usa/>

KHAMRIN, Pattara et al. Epidemiology of human and animal kobuviruses. Virusdisease, [s.l.], v. 25, n. 2, p.195-200, 26 fev. 2014. Springer Science and Business Media LLC.

MYERS, Victoria. New Cattle Virus: The Bovine Kobuvirus is Confirmed in the US. 2020. Disponível em: <https://www.dtnpf.com/agriculture/web/ag/livestock/article/2020/02/03/bovine-kobuvirus-confirmed-us>.

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GMP+ com perspectivas do mercado internacional na segurança da ração animal e alimentos

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No dia 12/02/20 aconteceu em São Paulo o evento GMP+ International FSA e a palestrante Olyn San Miguel abordou as perspectivas do mercado internacional na Segurança de Alimentos para Animais e Humanos. Nós estávamos lá para a cobertura do importante evento na cadeia produtiva primária, junto com organismos certificadores, agência reguladora, empresas do ramo feed. Acompanhe aqui alguns dados:

Hoje são 26.672 certificados com 18.189 empresas certificadas no mundo em 88 países, ao todo 35 certificadoras com 380 auditores qualificados, 42 parceiros da cada feed que auxiliam as atividades. No Brasil são 244 empresas certificadas e 270 certificados GMP+ e um consultor registrado com 7 certificadoras acreditadas. O painel das empresas certificadas no Brasil abrange as matérias-primas, trade e armazéns e transtipos de feed e laboratórios registrados, produção de feed e de premix.

A produção global de feed em 2019 foi de 1.126.5 bilhões de toneladas métricas no Brasil. África com 7,5% de aumento (mas produzem pouco), queda de produção na Ásia de -5,5%, na América Latina com aumento de 2,2%, sendo que o Brasil produziu em 2018 a quantia de 72,3 milhões de toneladas métricas. A produção do Brasil para matérias feed envolve aves, suínos e PETs. Entre as 9 Tops, o Brasil é o 3º lugar com produção de feeds, perdendo para EUA e China com 70,4 de toneladas métricas, sendo 65% produção de feed mundial e 35% de matérias-primas nos 9 países: USA, China, Brasil, Rússia, Japão, Índia, México, Espanha e Alemanha. A produção de feed para porcos com aumento grande na África e queda 36% na Ásia, sendo qual a razão por trás disso? No ano passado teve a gripe suína africana que atingiu a Ásia. Aumento da produção de outros feeds e mudança no perfil na Ásia, com aumento de consumo de aves no lugar de porcos. A Europa e América Latina cresceram em produção fora para os suínos, sendo aves na Ásia, Europa e América Latina os 3 postos. A Europa tem maior mercado em produção de gado de leite e América em gado de corte. Impacto na produção de feeds para peixes (animais aquáticos) com aumento de 1,5 toneladas métricas devido ao impacto da febre suína. Houve decréscimo de produção de feed devido ao declínio da Rússia.

Para pets food com grande participação do mercado americano e na América Latina com Equador e Argentina e na Europa Portugual e na Ásia, China e Indonésia. Assim o mercado feed tem crescido no mundo, conclusivamente.

Desafios para o mercado feed são:

– febre suína (ASF nome no mercado internacional) com impactos na Ásia e Europa, crise positiva em outros países que não sofreram com ela, por ex. Brasil e Polônia com produção aumentada e comercializada com a Ásia, sendo 20% de aumento nos preços suínos;

– mudanças de consumo e demandas com procura de bem-estar animal e mudanças climáticas, preocupação prevista com GMO (88% da soja é no Brasil) – certificação FRA é para GMO e demanda a produtos livres de antibióticos reduzindo 70% o uso em animais;

– tensões geopolíticas internacionais como a briga entre EUA X China já que o Brasil tem bom relacionamento com os dois países, isso é positivo. O desafio é voltado para sustentabilidade e meio ambiente. Problemas recentes de queimadas na Austrália e Brasil são exemplos disso. Biossegurança com o “coronavírus” com 1.008 mortos até 11/02/20.

Assim, você deve estar se perguntando: qual o impacto para segurança de alimentos? Os principais contaminantes da cadeia feed no Brasil hoje com impacto direto na transmissão ao ser humano, mas antes causa infecções em animais. Cada perigo está relacionado a rotas e diferentes fontes específicas de contaminação e exposição. Introduções por matérias-primas, água, carryover, cruzada (prevenção porque não dá dinheiro para descontaminar), assim 43% são Salmonella (agregada a qualquer etapa da cadeia produtiva com alta capacidade de sobrevivência), 12% dioxina, 8% metais pesados e 5% micotoxinas (fonte EWS).

Em 20/12/18, com resolução da ONU com dia mundial da segurança de alimentos em 07 de junho a ser celebrado globalmente, segundo a FAO, a alimentação animal para a alimentação humana é um PPR (programa de pré-requisito) para segurança de alimentos e da saúde humana. É um componente de crescimento econômico os feeds e esse envolvimento tem trazido queda em incidentes globais.

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Impactos e tendências em segurança de alimentos – alternativas digitais e rastreabilidade de proteínas animais

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No III Workshop de Segurança de Alimentos, do SENAI em Goiânia, realizado em 13/02/20, a palestrante Katherine Matos abordou o tema “Impactos e tendências em segurança de alimentos – alternativas digitais e rastreabilidade de proteínas animais”.

Enfatizou que o alimento tem papel cultural, social e nutricional, ou seja, transcende a questão de aporte de energia. Assim, o alimento está no centro de toda e qualquer cultura. A complexidade da cadeia em diferentes regiões fornecendo os alimentos dos nossos pratos, assim como a natureza do segmento com o comércio internacional impacta de modo decisivo a gestão.

Lembrou que a OMS chama a atenção para alimentos contaminados, o que é um assunto global, pois há 250 DTA já mapeadas, sendo 1 em cada 10 pessoas contaminada anualmente. Há 33 milhões de mortes a cada ano e muitas ações estão sendo estruturadas para reverter a situação. Para crianças são doenças diarreicas as responsáveis por metade do número de mortes anuais. No Brasil, são 700 surtos de DTA com 13 mil doentes e 10 óbitos que o Ministério da Saúde levantou atrelados às principais bactérias patogênicas (Salmonella, E.coli, Staphylococcus, norovírus) e substâncias químicas.

Pelos dados de recolhimentos da SENACON de 2014- 2018, o setor de alimentos ocupa o 3º lugar com 2.076.980 casos, de acordo com o boletim, sendo que 14,64% foram recolhidos efetivamente (atendimento ao chamado).

Uma nova revolução dos alimentos está acontecendo, por exemplo, a nova era com carnes vegetais e carnes cultivadas e novos modelos de negócios – Uber entregando por drones e entregadores de alimentos por bicicletas. O alimento é a “nova internet” como no passado, segundo Kumbal Musk e as transformações dos últimos 10 anos serão vistas em 1 ano (blockchain, internet das coisas, big data) havendo a necessidade de abordagens mais complexas (Plano do FDA – smarter food safety iniciado por Frank Yannas) com agência reguladora chamando a proximidade das indústrias. Segurança de alimentos é mais inteligente, vai além da tecnologia, vai com a proposta de fazer mais eficiente liderado por pessoas, por isso o foco em cultura de segurança de alimentos. FDA propõe 4 pilares:

– rastreabilidade digital e respostas aos surtos;

– ferramentas inteligentes e abordagem de prevenção;

– novos modelos de negócio e modernização do varejo;

– cultura de Segurança de Alimentos. Ex.: um fornecedor de 1 dia de produção de espinafre nos EUA em 2006 com E.coli O157:H7, 1 empresa com + de 4 mil tipos de produtos de pasta de amendoim em 2009 e em novembro de 2019 E.coli O157:H7 em alfaces são exemplos para a importância dessa temática em alta. O impacto maior será que não é devido às falhas de rastreabilidades? A proposta de rastreabilidade digital e respostas aos surtos com mapeamento das 12 tecnologias com maior impacto e a rastreabilidade está lá para ser escalonada.

A Nova Market chama de storytelling – origem do produto na temática rastreabilidade e transparência (ex.: varejo com rastreabilidade digital em QRCode único para cada embalagem para achar no mercado o litro do leite), ferramentas inteligentes e abordagens de prevenção, desenvolver abordagens inovadoras com auditorias remotas e online para empresas com bons históricos e avaliar o aceite de auditorias de 3ª parte, novos modelos de negócios (eletrônico, delivery, varejo tradicional com iniciativas que em 2022 as marcas próprias estarão inseridas no blockchain).

A Cultura de segurança dos alimentos já entrou na certificação BRCGS, pessoas e tecnologias , como educar parceiro/consumidor são tendências globais.

Uma boa dica é a promoção de 7 de junho como o Dia Mundial da Segurança dos Alimentos marcado para unir esforços e compartilhar aprendizados. E você, leitor, já pensou em alguma ação nessa data marco?

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Precisamos de uma visão clara da segurança de alimentos para 2020 – Tradução

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Os americanos consomem muita carne bovina e de aves e, se as previsões do USDA estiverem corretas, continuarão a fazê-lo em 2020. Especialmente, os especialistas esperam que o consumo de frango e de peru continue aumentando no ano de 2020. Infelizmente, esses dois alimentos podem deixar mais pessoas doentes este ano do que deveriam. Isso ocorre porque os funcionários do governo Trump aparentemente estão escondendo dados de segurança de alimentos que, de outra forma, levariam a indústria a rever suas ações.

A principal maneira pela qual as aves deixam as pessoas doentes é a bactéria Salmonella. A maioria das infecções por Salmonella desaparece após alguns dias de estresse gastrointestinal. Mas nem todas as salmonelas evoluíram da mesma forma. Algumas cepas de “superbactérias” de Salmonella  se tornaram mais virulentas ou resistentes a antibióticos.

Essas superbactérias “enviam” pessoas para o hospital e, às vezes, até reivindicam vidas. Elas também levaram a grandes recalls no ano passado, incluindo centenas de milhares de libras de produtos de peru das marcas Jennie-O e Butterball. As regras de segurança de alimentos do USDA geralmente não fazem distinção entre superbactérias e outras cepas de Salmonella, algumas das quais raramente causam doenças humanas. Durante décadas, o USDA estabeleceu padrões para a frequência com que as amostras coletadas de uma planta podem ser positivas para qualquer Salmonella.

Os padrões são amplamente voluntários, mas como o USDA publica os resultados de seus testes on-line, os processadores de aves têm um incentivo financeiro para cumprir. Todo o resto é igual, os varejistas não querem vender alimentos que possam deixar seus clientes doentes. Ao criar um sinal de preço para a segurança de alimentos, os dados de teste do USDA ajudam o mercado a operar com mais eficiência.

Mas o USDA compartilha apenas parte de seus dados, coletados com uma despesa significativa dos contribuintes. Nos últimos anos, o USDA começou a usar uma poderosa nova tecnologia de sequenciamento de genoma inteiro ou WGS para analisar as bactérias Salmonella que aparecem em amostras de carne crua e de aves. A análise WGS ajuda a conectar os pontos que ligam as vítimas de um surto de doença transmitida por alimentos.

Se a bactéria que o deixou doente geneticamente corresponde à bactéria que me deixou doente, é provável que haja um alimento comum para culpar. Os dados genéticos do USDA ajudaram a resolver muitas investigações de doenças transmitidas por alimentos e também revelaram que a fonte de contaminação por patógenos em vários surtos recentes relacionados à carne e aves remonta à cadeia de suprimentos, às granjas de aves e até às empresas que ajudam a estocar essas fazendas.

Infelizmente, a autoridade dos reguladores federais é limitada ao matadouro. O USDA não pode fazer um criador de aves, por exemplo, trabalhar muito para aumentar a segurança de alimentos. No entanto, ao compartilhar dados do WGS, o USDA pode aproveitar a magia do mercado. Fazer isso não exigiria nenhuma nova infraestrutura. O USDA já está gerando identificadores WGS exclusivos para milhares de isolados de Salmonella encontrados em matadouros.

Conhecendo esses identificadores, qualquer pessoa com conexão à internet pode usar um banco de dados acessível ao público, mantido pelos Institutos Nacionais de Saúde, para descobrir se uma amostra retirada de um matadouro corresponde a uma que deixou as pessoas doentes. No entanto, o USDA não compartilha seus dados genéticos, mesmo com as empresas das quais coleta as amostras.

Por que o segredo? Em resposta a uma recente pesquisa do Congresso, a principal autoridade de segurança de alimentos do USDA, Mindy Brashears, escreveu que “o padrão genético por si só não fornece evidências suficientes para estabelecer causa e efeito ou identificar possíveis riscos à saúde pública”.

A primeira parte desta resposta é verdadeira. Encontrar uma superbactéria em uma planta não significa que os alimentos daquela instituição necessariamente adoecem uma pessoa infectada com uma superbactéria geneticamente compatível. Afinal, superbactérias geneticamente correspondentes foram encontradas em dezenas de plantas de perus e galinhas. Mas encontrar uma superbactéria ajuda a identificar os riscos à saúde pública? Claro que sim. E os processadores de aves devem lidar com esse risco o mais rápido possível, realizando ações como o aumento de testes, o desvio de produtos crus para cozinhar e, se necessário, a mudança de fornecedores.

Essas precauções não são gratuitas e podem até resultar em preços mais altos no varejo. A consciência de custo entre nós pode ser tentada a culpar os consumidores descuidados. Afinal, o cozimento adequado não deveria matar todas as salmonelas, mesmo as superbactérias?

A triste realidade, no entanto, é que a maioria de nós comete erros de segurança de alimentos. Falhamos em ensaboar e esfregar as mãos por 20 segundos depois de manusear carne crua, deixando de limpar a água do degelo de uma ave que descongela, ou talvez até mesmo enxaguando nossos frangos na pia. Educar os consumidores é essencial, mas também impedir a propagação de bactérias perigosas em sua fonte.

O USDA precisa fazer sua parte. O secretário Perdue disse que deseja “priorizar o atendimento ao cliente” na agência. Ainda assim, a julgar pelas recentes reformas de segurança alimentar, como a regra de “modernização” altamente impopular do abate de suínos, que elimina os limites de velocidade nas linhas de processamento de suínos, a agência está confusa sobre quem são seus “clientes” mais importantes.

O USDA deve fazer o certo pelos contribuintes e consumidores e parar de reter dados críticos de segurança de alimentos. Isso tornará nossa indústria de carnes e aves mais eficiente e competitiva e, o mais importante, ajudará a proteger os consumidores de doenças perigosas de origem alimentar.

Conteúdo traduzido do jornal The Hill, de autoria de . O texto na íntegra pode ser lido aqui. 

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Ferramentas sobre fraudes em alimentos obtidas de sites seguros

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Food Shield é um banco de dados de susceptibilidade à Adulteração Economicamente Motivada – EMA, patrocinado pelo Instituto de Defesa e Proteção de Alimentos (FPDI).

EMA é a adulteração intencional de alimentos para ganho econômico. Os incidentes da EMA resultaram, historicamente, em sérias consequências indesejáveis à saúde pública e ilustram lacunas nos sistemas regulatórios e de garantia de qualidade que podem ser exploradas por danos intencionais.  Assim, o projeto FPDI EMA concentra-se na aprendizagem de incidentes anteriores da EMA e no desenvolvimento de ferramentas para ajudar a detectar e impedir futuros incidentes.

O banco de dados cataloga e detalha uma ampla gama de incidentes exclusivos da EMA em 16 categorias diferentes. Ele pode ser consultado por categoria e incidentes, como adulterante de alimentos, local de produção, mortalidade e data.

A FPDI também está colaborando com a Farmacopéia dos Estados Unidos para avaliar a vulnerabilidade da EMA das 1.100 monografias no FCC (Food Chemicals Codex), um compêndio de especificações e métodos de qualidade e pureza para ingredientes alimentícios.

FAIR (Registro de Incidentes de Adulteração de Alimentos) do Instituto de Proteção e Defesa de Alimentos é uma compilação de eventos históricos e atuais que envolvem adulteração intencional e economicamente motivada de alimentos em escala global, com os incidentes ocorridos nos últimos 5 anos disponíveis gratuitamente para assinantes (US$ 600/ano). Atualmente, existem mais de 530 incidentes.

O FAIR apóia os esforços de defesa de alimentos coletando e relatando incidentes de adulteração, tanto de motivação econômica quanto intencional, ajudando assim a identificar vulnerabilidades. Os dados são rotineiramente selecionados de fontes publicamente disponíveis e incluem incidentes de adulteração de alimentos motivados por terrorismo, sabotagem e ganhos econômicos fraudulentos. O painel de fácil utilização inclui uma variedade de recursos de pesquisa, resumos de incidentes, gráficos interativos, mapas e referências.

Esses bancos de dados permitem que o setor e o governo avaliem melhor o risco da EMA para auxiliar no foco de recursos.

Para maiores detalhes sobre esses bancos de dados, entre em contato com: fpdi@umn.edu

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Esforços globais para prevenção da transmissão de patógenos resistentes a antibióticos em alimentos

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A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) informou recentemente que 45 países (entre 155 países que participaram de sua pesquisa entre 2015 e 2017) ainda usam antibióticos para promover o crescimento de animais. A agricultura moderna está associada a um aumento no uso de antimicrobianos. O uso responsável de antibióticos é importante para garantir a segurança de alimentos e a segurança nutricional. No entanto, o uso inadequado, desnecessário e excessivo de antibióticos em animais para produção de alimentos prejudicou significativamente seus efeitos, criando bactérias resistentes a antibióticos.

A população mundial é de cerca de 7,6 bilhões de pessoas e deve atingir 10,0 bilhões de pessoas até 2050. Para alimentar todas essas pessoas, a produção agrícola global deve aumentar em 60% até 2050. Além disso, o aumento da renda nos países em desenvolvimento tem sido associado ao aumento da demanda por produtos alimentícios de alto valor, incluindo alimentos de origem animal, frutas e legumes.  A intensificação agrícola moderna está associada ao aumento do uso de antibióticos.

Nos países em desenvolvimento, os antibióticos estão disponíveis sem receita por meio de cadeias de suprimentos não regulamentadas. O uso total de antibióticos em animais produtores de alimentos excederá 200.000 toneladas em 2030. Espera-se que cerca de 70% do aumento global no uso de antibióticos em animais para alimentação nas próximas duas décadas acontecerá em países em desenvolvimento, sendo que este aumento será de 99% em países como Brasil, Índia e China.

Hoje, em alguns países, o uso de antibióticos em animais como gado, aves, suínos etc. é 3-4 vezes maior do que o utilizado pelas pessoas. Antibióticos são usados em animais produtores de alimentos para: a) tratamento de doenças; b) prevenir doenças em animais saudáveis, quando animais infectados estiverem presentes; c) prevenir doenças em animais quando não houver animais infectados presente e d) promoção do crescimento. Antibióticos promotores de crescimento são normalmente administrados para aumentar a eficiência alimentar e o ganho de peso, sendo que os animais são expostos a doses baixas por um longo período de tempo, o que pode levar ao desenvolvimento de bactérias resistentes.

A resistência aos antibióticos é a capacidade das bactérias resistirem aos efeitos desses medicamentos. Os animais são um dos reservatórios mais importantes de patógenos transmitidos por alimentos resistentes a antibióticos (CampylobacterSalmonella, Escherichia coli , etc.), que podem ser transmitidos ao ser humano através do consumo de alimentos contaminados ou do contato direto com animais infectados por meio de suas fezes, urina, saliva ou sangue. Agricultores, manipuladores de alimentos e suas famílias e consumidores estão entre as pessoas com maior risco de serem infectadas com bactérias resistentes a antibióticos.

Nos países em desenvolvimento, a transmissão direta e indireta de patógenos transmitidos por alimentos resistentes a antibióticos é igualmente importante porque os sistemas de segurança de alimentos são ineficientes ou não existem. Altos níveis de patógenos transmitidos por alimentos resistentes a antibióticos foram isolados em muitos países em desenvolvimento, incluindo Brasil, China, Egito, Indonésia, Tailândia, Tunísia, África do Sul etc.

As infecções por bactérias resistentes a antibióticos matam cerca de 700.000 pessoas por ano em todo o mundo e espera-se que 10 milhões de pessoas sejam afetadas por ano até 2050. Atualmente, na União Europeia, mais de 25.000 pessoas morrem de infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos a cada ano. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (U.S. Centers for Disease Control and Prevention), a Salmonella resistente a antibióticos causa cerca de 100.000 infecções por ano nos EUA.  Campylobacter resistente a antibióticos causa mais de 300.000 infecções por ano. Shigella resistente a antibióticos causa cerca de 27.000 infecções por ano. Bactérias resistentes a antibióticos causam mais de 23.000 mortes a cada ano nos EUA.

A redução da resistência a antibióticos é crucial para proteger a saúde humana, animal, vegetal e ambiental. Portanto, organizações internacionais de saúde desenvolveram programas de monitoramento para lidar com a resistência a antibióticos na cadeia alimentar. A Organização para Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture Organization), Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) a Organização Mundial da Saúde (OMS) se uniram em esforços conjuntos para combater a resistência antimicrobiana na cadeia de produção de alimentos.

A OMS desenvolveu diretrizes para países desenvolvidos e em desenvolvimento para controlar a disseminação de microrganismos resistentes a antibióticos. Recentemente, a OIE relatou progressos globais positivos na regulamentação e monitoramento do uso de antimicrobianos em animais, relatando que muitos países já adotaram ações-chave no uso de antimicrobianos na saúde humana e animal. Por exemplo, o número de países que não possuem uma estrutura regulatória sobre o uso de promotores de crescimento foi reduzido de 110 (antes de 2015) para 72 (até 2017). O uso de antimicrobianos para a promoção do crescimento diminuiu globalmente de 60 países (antes de 2015) para 45 (até 2017). No entanto, antibióticos de importância crítica continuam sendo usados em animais em várias regiões.

Os países desenvolvidos, incluindo EUA, Canadá, Dinamarca, França, Japão, Noruega e Suécia, desenvolveram e implementaram programas para monitorar o uso de antibióticos em produtos animais e alimentos. Nos EUA, a Food and Drug Administration (FDA) iniciou, em 1977, esforços para proibir o uso de antibióticos na promoção do crescimento, tornando regra da Diretiva Veterinária para Alimentos de 2017. Segundo a FDA, nos EUA, as vendas e distribuição de todos os antibióticos importantes destinados ao uso em animais produtores de alimentos diminuíram 33% entre 2016 e 2017. Na Noruega, uma redução de cerca de 40% do uso de antibióticos em animais foi alcançada nas últimas duas décadas. Na União Europeia, o uso de antibióticos para promoção do crescimento foi proibido em 2006.

Os países em desenvolvimento, incluindo México, Etiópia, Brasil, China, Índia e Tailândia, também começaram a desenvolver/implementar políticas e diretrizes para controlar a disseminação de antibióticos em animais. Portanto, países desenvolvidos e em desenvolvimento devem trabalhar juntos para evitar custos humanos, ambientais e econômicos da resistência aos antibióticos.

Traduzido de:  MAHMOUD, Barakat. Global Efforts to Prevent Antibiotic-Resistant Foodborne Pathogens in Developing Countries. Food Safety Magazine, abr. 2019. Disponível em: <https://www.foodsafetymagazine.com/enewsletter/global-efforts-to-prevent-antibiotic-resistant-foodborne-pathogens-in-developing-countries/>.

4 min leituraA Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) informou recentemente que 45 países (entre 155 países que participaram de sua pesquisa entre 2015 e 2017) ainda usam antibióticos para promover o […]

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Microbiologia Preditiva: Conceitos e aplicação em produtos lácteos

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A microbiologia preditiva é uma área da microbiologia que utiliza modelos matemáticos baseados em dados experimentais tais como atividade de água, pH, temperatura, entre outros, para modelar as curvas de crescimento ou diminuição de concentração dos micro-organismos em determinado alimento. Dessa forma, ela permite prever o comportamento dos micro-organismos no alimento durante a sua vida de prateleira comercial, ou ainda o melhor tratamento do alimento para garantir sua segurança.

Existem três tipos de modelos preditivos: o modelo primário, que gera curvas (de temperaturas diferentes) em um gráfico de concentração do micro-organismo (UFC/mL) por tempo (minutos), sem levar em consideração as variáveis do ambiente; o modelo secundário, que explica como a curva do gráfico primário varia conforme os diferentes ambientes podem se alterar, tais como pH, temperatura, etc., pois as atividades metabólicas dos micro-organismos podem acelerar ou desacelerar conforme aumentam ou diminuem algumas dessas variáveis, e os valores podem ser verificados experimentalmente; e o modelo terciário, que pode combinar os dois primeiros, utilizando softwares para calcular como o micro-organismo se comportará, visando a predição de seu comportamento conforme as mudanças dos fatores externos, utilizando as equações do primário e do secundário e calculando as suas probabilidades de adequação.

Ao se analisar os diferentes modelos preditivos para um conjunto de dados de decaimento microbiano em uma matriz láctea, pode-se verificar principalmente qual é o modelo que tem o maior valor de R2 (coeficiente de ajuste, que varia de 0 a 1, indicando percentualmente o quanto os dados obtidos correspondem ao modelo), pois quanto mais próximo este coeficiente estiver de 1 significa que os dados obtidos estarão mais ajustados ao modelo de decaimento do micro-organismo frente às condições impostas pelo tratamento. Também são utilizados o fator bias (que representa o quanto os valores preditos estão na região segura ou insegura da predição) e o fator exatidão (que indica a precisão dos valores preditos em relação aos encontrados experimentalmente).

Ainda na década de 80, foram criados os primeiros softwares para modelagem preditiva de micro-organismos em alimentos. Com relação aos produtos lácteos, existe um de microbiologia preditiva próprio para se avaliar quantitativamente o risco biológico em produtos lácteos, o Dairy Products Safety Predictor, onde se pode especificar o produto lácteo e o micro-organismo estudado, simulando distintos cenários. A partir disto, pode-se obter uma estimativa do risco à saúde humana proveniente de uma possível infecção, toxi-infecção ou intoxicação alimentar. O uso da microbiologia preditiva no processamento de produtos lácteos tem sido relatado com êxito em vários exemplos na literatura científica, o que demonstra sua utilidade e aptidão para atender os anseios da indústria de leite e derivados.

O consumo de leite e derivados encontra-se em crescimento no Brasil e no mundo, e por esta razão, a microbiologia preditiva deve ser utilizada sempre para o auxílio nas pesquisas da segurança dessa categoria de produtos. A microbiologia preditiva constitui-se uma das ferramentas mais seguras para se calcular o tempo de prateleira de um alimento, como também para se calcular as melhores formas de inibir o crescimento de patógenos, garantindo assim a segurança do alimento, embora ainda não se consiga prever todas as suas variáveis, como por exemplo, a interação com outros micro-organismos. Novos estudos devem ser realizados para o aperfeiçoamento dos modelos preditivos já existentes.

Referências

Baranyi, J. & Roberts, T.A. (1994): A dynamic approach to predicting bacterial growth in food. International Journal of Food Microbiology. 23, 277-294.

Cruz, A., Oliveira, C., Corassin, C. H., & Sá, P. (2018). Microbiologia, Higiene e Controle de Qualidade no Processamento de Leite e Derivados. Rio de Janeiro: Elsevier. 356 pp.

Geeraerd, A. H., Valdramidis, V. P., & Van Impe, J. F. (2005). GInaFiT, a freeware tool to assess non-log-linear microbial survivor curves. International Journal of Food Microbiology, 102, 95-105.

Melo, E. S. de, Amorim, W. R. de, Pinheiro, R. E. E., Nascimento Corrêa, P. G. do, Carvalho, S. M. R. de, Santos, A. R. S. S., … & Sousa, F. V. de (2018). Doenças transmitidas por alimentos e principais agentes bacterianos envolvidos em surtos no Brasil. PUBVET, 12, 131.

Oliveira, R. B., Baptista, R. C., Chincha, A. A., Conceição, D. A., Nascimento, J. S., Costa, L. E., … & Sant’Ana, A. S. (2018). Thermal inactivation kinetics of Paenibacillus sanguinis 2301083PRC and Clostridium sporogenes JCM1416MGA in full and low fat “requeijão cremoso”. Food Control, 84, 395-402.

Portela, J. B., Coimbra, P. T., Cappato, L. P., Alvarenga, V. O., Oliveira, R. B. A., Pereira, K. S., Azeredo, D. R. P., Sant’Ana, A. S., Nascimento, J. S., & Cruz, A. G. (2019). Predictive model for inactivation of Salmonella in infant formula during microwave heating processing. Food Control, 104, 308-312.

Schlei, K. P., Reiter, M. G. R., Bertoli, S. L., Licodiedoff, S., de Carvalho, L. F., & de Souza, C. K. (2018). Microbiologia Preditiva: Aspectos Gerais e Tendências. Revista Eletrônica Perspectivas da Ciência e Tecnologia, 10, 52.

Autores: Roberto P. S. Pires (1), Gustavo L. P. A. Ramos (1,2), Janaína S. Nascimento (1), Adriano G. Cruz (1)*

1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Departamento de Alimentos

2 Universidade Federal Fluminense (UFF), Faculdade de Medicina Veterinária

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