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Resistência aos inseticidas – mito ou verdade?

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A resistência aos inseticidas continua um tema atual. Abordar esse tema com relativismo pode comprometer a proteção contra pragas. Estudos no Brasil e no mundo confirmam pragas menos sensíveis às formulações com mais frequência. Entender como a resistência é desenvolvida e aplicar estratégias adequadas no manejo é uma obrigação, tanto para quem aplica como para quem gerencia, e também para quem audita o trabalho.

O assunto é recorrente entre especialistas no controle de pragas. Também é abordado nas universidades, centros de pesquisa e confirmado no campo, quando populações de insetos parecem não sofrer os efeitos tóxicos esperados. Baseando-se nessa visão, profissionais encarregados de programas de controle de pragas e fabricantes de inseticidas têm ecoado a estratégia para ROTAÇÃO de grupos químicos em mesmo ambiente, para evitar que indivíduos mais tolerantes a alguns ingredientes ativos produzam populações resistentes. É o pensamento darwiniano: a seleção natural sendo vista e comprovada.

ENTRETANTO, recentemente, em pleno 2025, durante uma auditoria harmonizadora, a bióloga responsável técnica por uma empresa controladora apresentou e insistiu, de forma enfática, uma visão contrária, afirmando que resistência a inseticidas seria um tema superado em ambientes urbanos. No mínimo, essa visão contrasta bastante com as afirmações reproduzidas pelos próprios formuladores desses insumos, que têm investido milhões de dinheiros ao redor do planeta para desenvolver formulações para “contornar” a resistência.

Frente a essa divergência de visões, consciente de que há um risco real de erros graves que podem ser cometidos se aderirmos a extremos sem uma reflexão mais aprofundada, entendo que é prudente trazer alguns dados científicos recentes para sedimentar os principais argumentos sobre o tema. Fora os aspectos operacionais, temos os econômicos que pretendo citar ao final deste artigo.

O que é resistência?

Em cada população de uma mesma espécie, existem indivíduos que expressam características genéticas singulares. Em insetos, desde expressões mais visuais como cores no tegumento, tamanho de escamas e quantidade de cerdas, até expressões metabólicas como tempo de repouso, atração pela iluminação, ciclo reprodutivo, incluindo mutações ou comportamentos que ajudam alguns indivíduos a sofrerem menos frente a contaminações químicas.

A resistência ocorre quando esses poucos indivíduos com “vantagem metabólica” frente a contaminações químicas sobrevivem e procriam, em detrimento dos outros indivíduos menos adaptados, que são eliminados. Após duas ou três gerações, prevalece uma população de insetos quase “imunes” àquela formulação. E contra esses fatos, não há argumentos ou relativizações.

Na agricultura esse tema tem sido muito relevante e provoca sucessivos estudos e desenvolvimento de novas formulações. Em publicações recentes, pesquisadores no Paquistão, Índia, Estados Unidos e Brasil confirmam a prevalência de resistência a inseticidas para as pragas agrícolas e apontam estratégias para correção.

Pragas urbanas e resistência

A GRANDE PERGUNTA é: as pragas urbanas também expressam resistência com tanta frequência? Novamente recorrendo aos pesquisadores, fica evidente esse desafio. Estudos na China, Estados Unidos e Irã confirmam resistência a inseticidas em populações urbanas de baratas, mosquitos, moscas e algumas espécies de carunchos. No Brasil existem estudos ainda mais específicos, detalhando o nível de resistência metabólica de baratas e mosquitos a alguns dos piretróides mais comuns. Quando o alvo é mosquito, há uma avalanche de estudos indicando resistência a vários grupos de inseticidas.

Um estudo no Brasil sobre populações de Blattella germanica (barata de cozinha) revelou uma resposta que soa como um alerta: já existe uma forte seleção de insetos que não morrem quando expostos a deltametrina, um dos piretróides mais usados tanto pelas empresas especializadas, quanto pelos consumidores finais.

Em relação às pragas dos grãos armazenados, também existem evidências recentes de resistência especialmente aos piretróides. Um estudo no Japão com amostras de Lasioderma serricorne (caruncho do fumo) coletadas em 6 países, revelou uma mutação presente no gene que interfere no mecanismo de ação no qual os piretróides atuam, reduzindo a resposta neurotóxica dos insetos. Este estudo aponta que existem populações dessa espécie resistentes aos piretróides.

Manejo da resistência

Respondendo ao dilema inicial que motivou esse artigo:


SIM, a resistência a inseticidas é uma realidade comprovada e estudada exaustivamente no controle de pragas urbanas

A quantidade de evidências científicas no Brasil e em outros países é indiscutível.

Agora vamos para uma outra pergunta: é possível contornar essa evolução dos insetos?

Novamente uma resposta positiva: SIM, é possível realizar o manejo de resistência. As estratégias mais consolidadas são:

  • Formulação na dosagem correta – embora pareça insano, alguns profissionais controladores de pragas adotam concentração off label (rótulo homologou 50 ml pra 10 litros na ANVISA, mas o controlador emprega 30 ml).
  • Método de tratamento correto – o rótulo indica PULVERIZAÇÃO para controle do caruncho ou da barata, mas o controlador prefere ATOMIZAÇÃO ou TERMONEBULIZAÇÃO.
  • Rotação de moléculas – Tem sido frequente a empresa controladora selecionar uma única formulação ao longo de vários meses. Um exemplo? Alfacipermetrina é um piretróide muito eficiente, mas empregar somente esse ingrediente ativo por 10 meses consecutivos pode contribuir muito para a seleção de populações resistentes. Os próprios fabricantes formuladores desse ativo sugerem o emprego eventual de outros grupos químicos no mesmo ambiente. Um estudo na China evidencia um teste que confirmou quebra de resistência quando incluído um neonicotinóide na rotina de tratamentos.
  • Manejo Integrado – Inseticidas isoladamente não eliminam populações de insetos. Medidas como remoção de resíduos, barreiras físicas, condições estruturais da edificação também afastam as pragas. Seria inócuo elaborar uma forte estratégia para rotação de inseticidas, quando aplicados sobre um ambiente muito contaminado.

Análise de riscos

A análise dos riscos que baseiam o escopo do programa de controle de pragas deve considerar o manejo da resistência das espécies de insetos-alvos para cada ambiente, propondo uma estratégia para rotação de inseticidas e outras medidas que limitem a seleção por populações resistentes.

Felizmente, cada vez mais auditores dos esquemas de certificação têm aumentado sua vigilância sobre a coerência entre concentração e métodos de tratamento homologados nos rótulos, e a prática efetivamente entregue na operação. Existe oportunidade para uma prática complementar, que consiste na avaliação do histórico de pelo menos 12 meses de tratamentos para evidenciar as estratégias que atenuam resistência aos inseticidas.

Aspectos econômicos

Ao revisar o artigo e reler outros já publicados aqui, na FoodSafetyBrazil, ficou evidente que o problema muitas vezes começa na visão da indústria ao contratar o parceiro para o programa controle de pragas. Soluções genéricas costumam custar menos, e isso seduz qualquer comprador focado no “save”. Empresas controladoras mais atentas incluem no mix formulações específicas ou com lançamento recente. Essa estratégia impacta o preço final, mas o resultado é precisão. Quando o critério é apenas o menor preço, o risco se espalha por toda a cadeia produtiva.

Se esse cenário faz sentido para você, compartilhe este artigo e seus doze links para publicações científicas com quem toma decisões na sua empresa. A base científica apresentada ajuda na seleção de fornecedores e formulações que refletem maturidade técnica. Caso esse entendimento ainda não tenha ficado claro, os insetos vão deixar a lição final durante a próxima auditoria, aparecendo firmes e fortes diante de todos.

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Estufamento tardio em queijos é um perigo à segurança dos alimentos?

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Na indústria láctea,  especificamente na de queijos, podemos ter um defeito que é conhecido como estufamento tardio. Esse evento pode acontecer em queijos que estão em processo de maturação média ou longa, como parmesão e emental.

O estufamento tardio tende a acontecer devido à produção de gás por bactérias do grupo butírico, como o  Clostridium tyrobutyricum, uma bactéria termodúrica, anaeróbica e produtora de esporos. O clostridium fermenta o lactato proveniente da lactose, gerando gás carbônico e gás hidrogênio que irão causar as rachaduras na massa do queijo e posterior estufamento.

É possível perceber o estufamento tardio pelo som oco gerado batendo na casca do queijo e pelo abaulamento externo, muito antes de percebermos as trincas no seu interior.

Para os esporos germinarem são necessárias algumas condições, como anaerobiose, ou seja, que o queijo fique sem oxigênio. Esse consumo de oxigênio geralmente é ocasionado pelo próprio fermento lático nas primeiras semanas de maturação.

Esse microrganismo é carreado para os laticínios através do leite e está relacionado à alimentação do gado com uso de silagem mal fermentada. Ele pode chegar ao equipamento de ordenha através da poeira e assim contaminar o leite. Ele não é patogênico para o homem, mas causa defeito visual, além de alteração de textura e sabor nos queijos e consequente desvalorização comercial.

Pensando na segurança do alimento, na indústria, quando temos a ocorrência do estufamento tardio é importante identificar que é causado por essa bactéria não patogênica e diferenciar o agente causador, já que o temido Clostridium botulinum e a Listeria spp também podem ser responsáveis por estufamento tardio em queijos e são patogênicos.

Porém, não é simples identificar o Clostridium tyrobutyricum. Não há muitos laboratórios que fazem essa análise. Pensando em prevenção e controle, alguns pontos importantes:

– higiene e controles na ordenha para diminuir a carga bacteriana

– higiene dos tanques isotérmicos tanto das fazendas leiteiras quanto dos caminhões de transporte de leite

– higienização dos silos de leite na indústria láctea.

Em todos esses casos é importante realizar corretamente os procedimentos de higienização desses equipamentos, utilizando concentração correta de sanitizantes e tempo de ação dos produtos para sanitização.

Pode-se realizar a bactofugação, que é um processo de alta centrifugação do leite, que diminui a carga bacteriana e o número de esporos no leite.

A pasteurização não tem ação de remoção dos esporos, apenas reduz a carga bacteriana, o que auxilia na não proliferação da quantidade desses esporos.

É possível utilizar bactérias competidoras na formulação dos queijos, ou bactérias starters que vão diminuir o pH no início do processo, o que também inibe a proliferação bacteriana e a ativação dos esporos.

O uso de aditivos como nitrato ou lisozima como ingredientes na produção das massas dos queijos também impede a proliferação bacteriana.

Esses processos visam diminuir a carga bacteriana, diminuir a carga dos esporos e/ou não dar condições favoráveis para que os esporos sejam reativados.

Imagem: Anna Shvets

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O que o seriado Chaves tem a nos ensinar sobre segurança de alimentos?

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Isso, isso, isso!

Chaves é um dos seriados de TV mais amados e assistidos do Brasil, com uma audiência enorme.  O personagem Chaves, criado por Roberto Bolanos no México, fez parte da infância e até mesmo da vida adulta de muitos que assistem seus episódios repletos de bom humor, típico pastelão. É cheio de personagens inesquecíveis e bordões usados até hoje.

Neste texto analiso alguns episódios e algumas questões sobre temas de segurança de alimentos que podem ser usados em treinamentos ou até mesmo em abordagem para o público infantil.

Leite

No episódio “O Leiteiro (1973)”, em que Chaves e Chiquinha encontram uma cachorra e precisam alimentar os filhotes, há uma cena em que o Sr. Madruga adiciona água no leite, ou seja, comete uma fraude que é considerada crime de natureza econômica, visando o lucro e com baixo risco de detecção. Nesses casos, indivíduos ou empresas inescrupulosas buscam aumentar o volume do produto, reduzindo custos ou mascarar a má qualidade do leite para evitar perdas financeiras.

Fraudes no leite: riscos para a segurança dos alimentos e para a saúde pública

Fraude do leite: aspectos a serem considerados

Refrescos

No episódio “Refrescos numa fria (1977)”, Chaves tem a brilhante ideia de vender refrescos de tamarindo, groselha e limão na rua, porém é possível observar durante a exibição que não existem as condições mínimas para a comercialização das bebidas. A necessidade de BPF é importante, pois alimentos vendidos nas ruas são muito perigosos. O próprio Professor Girafales faz questão de frisar isso a respeito dos cuidados da venda de produtos na rua.  Vale ressaltar a qualidade duvidosa da água utilizada para fazer os refrescos e higienizar os utensílios.

Cachorro-quente de rua: comer ou não comer? Eis a questão!

Dicas para elaboração do POP de potabilidade da água

Churros

No episódio “O vendedor de churros (1978)”, os churros são vendidos na rua e  vemos algumas situações que não podem passar despercebidas: Sr. Madruga não cuida bem do seu uniforme (touca) e digamos que somente o avental e a touca não seriam totalmente suficientes para eliminar riscos. Em outro episódio, o próprio Sr Madruga afirma que não costuma tomar banho, sendo que o faz somente aos sábados. A higiene pessoal dos manipuladores de alimentos é condição básica, inclusive determinada na RDC 216/2004 da ANVISA . No mesmo episódio,  Chaves faz uma simulação do que não se deve fazer: no intuito de fazer o papel de vendedor e comprador, manipula o dinheiro e serve os churros ao mesmo tempo, um exemplo visível de contaminação cruzada.

Uniformes – A moda é proteção contra a contaminação!

Como abordar assuntos delicados em food safety – Higiene pessoal 

Restaurante

Há várias situações neste ambiente, por se tratar de um local onde são preparadas refeições prontas. Mas Dona Florinda esqueceu algo importante: controle de pragas. E é o que vemos no episódio “Caça ao rato(1979)”, onde acontece uma infestação de ratos no restaurante. Há também uma mosca na sopa de Jaiminho apresentada no episódio “Eu sou a mosca que pousou em sua sopa (1979)” mostrando mais uma falha quanto ao controle de pragas.

Controle de pragas e vetores em empresas de alimentos: como estabelecer medidas preventivas corretamente

Um pequeno (grande) inimigo da Segurança de Alimentos

Roedores: para eliminar um rato, pense como um rato

Insetos

Entomofagia é algo que ainda não é tão comum no Brasil, porém é em outras partes do mundo. E mesmo não sendo algo intencional, no episódio “Os Insetos do Chaves (1975)” alguns personagens, como Dona Clotilde, Dona Florinda, Chiquinha e Nhonho têm a desagradável experiência de comer insetos contaminados com gasolina (substância tóxica e que pode causar danos à saúde ao ser ingerida). Por isso, é importante identificar as embalagens de alimentos e realizar o controle de perigos químicos para evitar e prevenir contaminação.

Medidas de controles de perigos químicos à segurança dos alimentos

Rotulagem de alimentos para fins industriais: como elaborar?

Contaminações intencionais de alimentos: precisamos falar sobre isso

Chão

O amigo imaginário do Chaves no episodio “O Violão do Sr. Madruga (1978)” chamava-se Cente, e todas as vezes que algum alimento caia no chão, Chaves alegava que daria aquilo para o Cente. Sabemos que alimentos que caem no chão não devem ser consumidos, exatamente por causa da alta carga microbiana que existe. A regra dos poucos segundos no chão não é válida!

Pegue do chão em até 3 segundos e tudo bem

A regra dos 5 segundos é mesmo válida para alimentos caídos no chão?

Além desses, quais outros episódios do Chaves podem nos trazer lições valiosas sobre segurança de alimentos? Escreva nos comentários. 

Imagem gerada por inteligência artificial

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Tendências da PestWorld 2025 – Marcelo Pereira comenta avanços em automação e digitalização no manejo integrado de pragas

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Criador da primeira armadilha luminosa adesiva brasileira, Marcelo Pereira fala sobre o futuro do manejo integrado de pragas e compartilha sua experiência em um dos maiores eventos mundiais do setor.

Marcelo Pereira é um profissional brasileiro que tem se destacado por conectar tecnologia, manejo de pragas e segurança de alimentos. Reconhecido por sua atuação inovadora, ele busca constantemente reduzir riscos, aprimorar ambientes produtivos e tornar o controle de pragas mais inteligente e sustentável.

Recentemente, ele participou da PestWorld 2025, realizada entre 21 e 24 de outubro em Orlando, Flórida (EUA) — o principal evento global do setor de controle de pragas. Com uma bagagem repleta de tendências, reflexões e insights sobre o que vem por aí, Marcelo aceitou com entusiasmo o convite do Food Safety Brazil para compartilhar suas percepções e aprendizados.

Confira a seguir as novidades e impressões que ele trouxe da PestWorld 2025.

Camila: Marcelo, obrigada por aceitar o convite para esta entrevista. É sempre bom estar perto de pessoas como você, sempre cheio de inovações e carisma! Conte pra gente, de forma geral, como foi o evento, o que você achou do contexto em relação ao local e formato do evento, temas das palestras, participantes e conteúdos discutidos.

Marcelo: A PestWorld 2025, realizada em Orlando, foi impressionante em todos os sentidos. O evento reuniu mais de 200 expositores de 20 países, em uma área de cerca de 9.300 m², consolidando-se como o principal encontro mundial do setor.
Além da exposição, o congresso contou com mais de 70 sessões educacionais, distribuídas em diferentes trilhas temáticas — como fumigação, saúde pública, manejo técnico, segurança, pragas de armazenagem, gestão e liderança.
Foi possível perceber claramente que o manejo de pragas está passando por uma transformação profunda — uma transição da ação corretiva para a gestão baseada em dados, tecnologia e sustentabilidade.

As palestras abordaram temas como resistência a rodenticidas, espécies invasoras, biossegurança, inteligência artificial e análise preditiva de infestações. O congresso mostrou que o controle de pragas está se tornando uma disciplina mais científica, conectada e multidisciplinar, que dialoga cada vez mais com segurança de alimentos, saúde pública e clima.

Entre as apresentações internacionais, destacou-se a palestra do pesquisador brasileiro Carlos Peçanha, do Mosquito Research & Control Unit das Ilhas Cayman e diretor da ABCVP – Associação Brasileira de Controle de Vetores e Pragas. Ele falou sobre a importância dos mosquitos na história da humanidade, os recentes casos de arboviroses e as características do Aedes aegypti que favorecem sua proliferação urbana. Apresentou ainda métodos tradicionais e novas tecnologias de controle, como a liberação de mosquitos estéreis, infectados com Wolbachia ou portadores de genes letais, ressaltando que o controle é complexo e vai muito além do uso de inseticidas.

Camila: Quando falamos de tecnologia no universo do manejo de pragas, as soluções têm que estar sempre conectadas à segurança de alimentos. Como você enxerga essa integração entre inovação e responsabilidade sanitária?

Marcelo: Essa integração é essencial. Toda inovação no manejo de pragas precisa nascer com um propósito: proteger o alimento, as pessoas e o meio ambiente.
Hoje, as tecnologias permitem o monitoramento contínuo e remoto, com sensores conectados, câmeras inteligentes e plataformas que analisam dados em tempo real. Isso representa um avanço enorme em termos de segurança preventiva.

Em ambientes produtivos, cada armadilha ou sensor se transforma em uma fonte de informação. A partir desses dados, é possível agir antes que a praga se torne um risco, garantindo rastreabilidade e comprovação de eficácia — pontos valorizados por auditorias e certificações internacionais.

Camila: Você acabou de participar de um evento muito relevante para o setor. Que tendências mais chamaram sua atenção? Há algo que o Brasil já está fazendo bem, ou algo que precisamos acelerar?

Marcelo: As principais tendências que observei são digitalização, integração e sustentabilidade.
Vimos soluções de armadilhas inteligentes conectadas à nuvem, sensores capazes de distinguir movimentos reais de falsos alarmes e plataformas que cruzam dados de temperatura, umidade e atividade de pragas para gerar alertas automáticos.

O Brasil tem profissionais altamente capacitados e empresas inovadoras, mas ainda precisamos acelerar a adoção dessas tecnologias com foco em gestão e análise de dados. O grande desafio está em transformar a informação coletada em decisões inteligentes que tragam valor real ao controle de pragas e à segurança de alimentos.

Camila: Muita gente ainda associa controle de pragas a práticas tradicionais. Como as empresas inovadoras estão usando dados, sensores e automação?

Marcelo: A automação está revolucionando o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Hoje, já existem sistemas capazes de detectar capturas, identificar automaticamente a espécie por imagem e enviar o registro com data, hora e localização. Isso permite comprovar resultados, otimizar recursos e eliminar o “achismo”.

Essas tecnologias transformam o profissional de controle de pragas em um gestor de informação e risco, capaz de antecipar problemas e apoiar decisões estratégicas com base em evidências.

Camila: O tema sustentabilidade apareceu com força nesse evento? E como considera que a inovação tecnológica pode ajudar a reduzir impactos ambientais?

Marcelo: Sem dúvida, a sustentabilidade foi um dos grandes temas da feira. Foram apresentadas soluções que reduzem significativamente o impacto ambiental, como métodos contraceptivos para controle populacional de pombos, ainda em fase de adoção e com restrições culturais no Brasil, além de porta-iscas recicláveis e biodegradáveis para controle de roedores e armadilhas que eliminam o uso de produtos químicos.

A tecnologia permite monitorar mais e aplicar menos, ou seja, agir com precisão e inteligência. Essa é a essência da sustentabilidade no MIP: tomar decisões baseadas em dados e na real necessidade de intervenção, evitando desperdícios e reduzindo o uso de insumos químicos.

Camila: Você fala muito sobre colaboração entre diferentes áreas, da engenharia à segurança de alimentos. O que aprendeu, nesses anos, sobre trabalhar com pessoas e construir soluções que realmente funcionam na prática?

Marcelo: Aprendi que as soluções mais eficazes surgem da colaboração entre áreas e profissionais com visões diferentes. Quando um engenheiro, um biólogo e um gestor de qualidade analisam juntos o mesmo problema, a probabilidade de chegar à causa raiz aumenta exponencialmente. Por isso, acredito tanto na cultura de prevenção compartilhada, onde todos compreendem que seu trabalho impacta diretamente a segurança de alimentos e a reputação das empresas. O controle de pragas, hoje, é uma responsabilidade coletiva e compartilhada.

Camila: Pra fechar: o que podemos esperar do futuro do controle de pragas? Que tipo de inovação você acredita que vai mudar o jogo nos próximos anos?

Marcelo: O futuro do controle de pragas será definido por três pilares: dados, ética e sustentabilidade. Estamos entrando em uma nova era de monitoramento inteligente e integrado, onde sensores, IA e sistemas de análise trabalharão juntos para prever e prevenir ocorrências.

O controle de pragas deixará de ser uma atividade reativa e se consolidará como uma ciência aplicada à gestão de riscos, essencial para a segurança de alimentos, a proteção de marcas e a preservação do meio ambiente. Esse é o verdadeiro sentido do futuro do MIP — agir antes, com base em evidências e propósito.

Obrigada, Marcelo. O mundo dos alimentos espera ansioso por essas soluções! E com certeza você vai trazer ainda mais novidades para esses dois temas inseparáveis: segurança de alimentos e manejo de pragas!

Para quem quer se aprofundar no tema, há um texto do Marcelo Pereira aqui no Food Safety Brazil. Para conhecer os 10 mandamentos para utilização correta das armadilhas, acesse o post aqui.

Também tem uma postagem bem bacana de Palova com dicas do Marcelo: veja aqui como lidar com as armadilhas luminosas. E clicando aqui você lê um outro artigo em formato de entrevista com outra grande referência na área, Dr. Rezende.

E ainda existe mais sobre esse tema aqui no blog. Você pode acessar aqui, aqui e aqui, ou então faça uma busca em “pragas” no local de pesquisa do nosso site e você vai ter ideia da quantidade de posts sobre esse assunto imprescindível para garantir a segurança dos alimentos! Boa leitura.

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Ketchup, mostarda e mel: o que realmente precisa ir à geladeira?

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Entre ciência, legislação e boas práticas, descubra quando a refrigeração é obrigatória e quando é apenas uma questão de qualidade. Quem nunca discutiu sobre onde guardar o ketchup? Ou se a mostarda precisa mesmo ficar na geladeira depois de aberta? Embora pareçam dilemas domésticos, essas perguntas têm base científica sólida — e entender o comportamento microbiológico por trás dos condimentos é fundamental tanto para quem trabalha na indústria quanto para quem atua em serviços de alimentação ou simplesmente é dona de casa.

Aqui vai um insight importante: a recomendação “refrigerar após abrir” não está necessariamente ligada apenas à segurança microbiológica, mas também à preservação da qualidade sensorial. Produtos como molhos, geleias e manteigas têm características que dificultam o crescimento microbiano: baixa atividade de água (aw), alta acidez (pH baixo), presença de sal, açúcar ou conservantes naturais, além de terem passado por processos térmicos para eliminar patógenos.

Esses fatores, isolados ou combinados, tornam a maioria dos condimentos estável à temperatura ambiente — ao menos do ponto de vista da segurança de alimentos. O que se perde fora da geladeira, na maioria das vezes, é a cor, sabor e textura, não a inocuidade. Como explica a professora Abby Snyder, da Universidade Cornell:

“Microrganismos deteriorantes podem até se desenvolver, mas raramente os patogênicos. O principal risco é sensorial, não sanitário.”

O que dizem as normas legais brasileiras?

A RDC 727/2022 da ANVISA regula a rotulagem de alimentos embalados e estabelece que as condições de armazenamento devem constar no rótulo quando necessárias para garantir qualidade e segurança. Para quem trabalha com food service, a RDC 216/2004 determina que produtos prontos para consumo sejam mantidos sob condições que previnam contaminação. Mas atenção: isso não significa que tudo precisa estar refrigerado. A IN 161/2022, que estabelece padrões microbiológicos, reconhece que produtos com pH ácido e alta concentração de sal ou açúcar são naturalmente mais estáveis, tendo critérios menos restritivos.

E aqui entra um conceito fundamental: a tecnologia de obstáculos (hurdle technology). A RDC 331/2019 classifica alimentos com pH abaixo de 4,5 como ácidos, de baixo risco para patógenos como Clostridium botulinum. Quando combinamos acidez com baixa atividade de água (aw < 0,85 já inibe Staphylococcus aureus), criamos barreiras que tornam o produto microbiologicamente seguro sem refrigeração.

Na prática: cada condimento é um caso

  1. Ketchup é provavelmente o exemplo mais emblemático. Com pH em torno de 3,9 e aw entre 0,93-0,97, ele é naturalmente estável. É por isso que restaurantes o deixam fora da geladeira sem causar surtos de DTA. A refrigeração aqui é puramente para manter cor e sabor vibrantes por mais tempo. Conforme a RDC 216/2004, não há restrição para manter sachês individuais em temperatura ambiente no food service — desde que protegidos de luz e calor excessivo.
  2. Mostarda é ainda mais impressionante. Com pH entre 3,5-4,5 e compostos antimicrobianos naturais (isotiocianatos), ela é praticamente autoconservante. Como diz Brandon Collins, sommelier de mostarda: “É antibacteriana, então nada pode realmente crescer nela.” A geladeira apenas preserva aquele ardor característico que se perde com o tempo. Microbiologicamente falando, pode ficar na despensa sem preocupação.
  3. Mel é o campeão da estabilidade. Com aw de aproximadamente 0,6 e mais de 65% de açúcares redutores, é um ambiente hostil à vida microbiana. A IN 11/2000 do MAPA nem exige refrigeração — aliás, refrigerar mel é um erro comum que acelera a cristalização. Mas atenção ao alerta do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria: nunca ofereça mel a bebês menores de 1 ano, devido ao risco de esporos de Clostridium botulinum. Outra informação importante: o mel de abelhas nativas (sem ferrão) tem um teor mais elevado de umidade e precisa, sim, ser mantido sob refrigeração.
  4. Maionese comercial é interessante porque muda de status. Fechada, fica em temperatura ambiente graças ao pH 3,8-4,2 e à pasteurização. Aberta, precisa ir para a geladeira — não tanto pelo risco microbiológico (o pH ácido protege), mas porque o calor desestabiliza a emulsão. E aqui vai um ponto crítico da RDC 216/2004: maionese caseira com ovos crus é proibida em estabelecimentos comerciais justamente pelo risco de Salmonella.
  5. Molho de soja tradicional, com 15-18% de sal e processo fermentativo natural, dispensa refrigeração. Mas cuidado com versões “light” reduzidas em sódio — essas podem precisar de frio; sempre confira o rótulo.
  6. Geleias, doces em pasta e compotas, apesar da alta concentração de açúcar e pH ácido, devem ir para a geladeira após abertura para evitar fungos na superfície.

Contaminação cruzada, o verdadeiro vilão

Aqui está o segredo que muita gente ignora: mesmo produtos microbiologicamente estáveis podem ser comprometidos por manipulação inadequada. Utensílios úmidos ou sujos, armazenamento em ambientes incorretos (com condensação) — tudo isso introduz microrganismos que não deveriam estar ali. Para a indústria e para o food service, implementar POPs claros e treinar equipes sobre contaminação cruzada é tão importante quanto escolher a temperatura de armazenamento.

Para quem formula e fabrica

Se você trabalha com desenvolvimento de produtos, sabe que estudos de vida de prateleira não são opcionais. Análises microbiológicas, avaliação sensorial, monitoramento de pH e aw, testes de desafio microbiano (challenge test) — tudo isso justifica aquela frase no rótulo. A rastreabilidade completa, incluindo condições de armazenamento por lote, não só facilita recalls como demonstra comprometimento com a qualidade. E lembre-se: a declaração no rótulo não é só para cumprir tabela — ela orienta o consumidor e protege sua marca.

O que levar dessa discussão?

Produtos com pH < 4,5 e/ou aw < 0,85 são microbiologicamente seguros à temperatura ambiente. A refrigeração, nesses casos, é aliada da qualidade, não da segurança. Mas isso não significa negligenciar o frio — ele retarda oxidação, preserva compostos voláteis e mantém a experiência sensorial que o consumidor espera.

A conformidade com a RDC 727/2022 e outras normas não é burocracia: é gestão de risco baseada em ciência. E a maior lição? Refrigerar o que é necessário é prudência. Refrigerar o que não precisa é zelo. Saber a diferença é o que separa profissionais preparados de quem apenas segue instruções.

Como sempre dizemos: a manipulação higiênica após a abertura é mais crítica que a temperatura de armazenamento. Use colheres limpas e secas, mantenha embalagens bem fechadas, e eduque equipes e consumidores sobre boas práticas. Isso, sim, faz a diferença.

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Uso consciente de aditivos na indústria de alimentos

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O uso consciente de aditivos na indústria de alimentos é fundamental para assegurar segurança, qualidade, sabor, aparência e vida útil dos produtos, sem comprometer a saúde do consumidor.

Aditivos são substâncias adicionadas intencionalmente para cumprir funções específicas, como conservantes que inibem microrganismos, antioxidantes que atrasam a oxidação, corantes e aromatizantes que melhoram aparência e paladar, além de emulsificantes e estabilizantes que mantêm a textura estável. Eles são regulamentados por autoridades competentes, que estabelecem limites de uso, condições de aplicação e avaliação de risco para cada substância.

Os princípios do uso consciente incluem segurança, transparência, justificativa tecnológica, redução e controle. A segurança envolve a aprovação oficial de cada aditivo e a observância de limites, incluindo a Ingestão Diária Admissível (IDA) quando pertinente. A transparência exige rotulagem clara, com nomes ou códigos (como os códigos E em alguns sistemas), para facilitar a compreensão do consumidor. A justificativa tecnológica requer que cada aditivo tenha função comprovável e útil no produto, evitando uso indiscriminado apenas por conveniência econômica. A redução implica buscar alternativas naturais, mudanças de processo ou formulações que diminuam a necessidade de aditivos artificiais, além de otimizar formulações já existentes. O controle de qualidade demanda monitoramento rigoroso de matérias-primas, condições de processamento e higiene para evitar contaminações que possam aumentar a necessidade de aditivos adicionais.

Boas práticas na indústria envolvem a implementação de sistemas de gestão de qualidade, como HACCP, que ajudam a identificar pontos críticos onde aditivos são necessários e onde podem ser reduzidos ou eliminados. A validação de processos assegura que a função do aditivo é efetiva sem exceder limites. O treinamento contínuo de equipes sobre regulamentação, rotulagem, segurança e boas práticas de fabricação é essencial para manter a conformidade. Além disso, investir em pesquisa e desenvolvimento é crucial para explorar alternativas naturais, ingredientes com estabilidade intrínseca e tecnologias de processamento que minimizem a dependência de aditivos artificiais, mantendo a segurança e a qualidade.

Desafios atuais incluem equilibrar segurança, custo, aceitação do consumidor e inovação. A harmonização regulatória entre países exige conformidade ampla e atualização constante diante de novas evidências científicas. A percepção pública de “químicos” na alimentação ressalta a importância da educação, da comunicação clara e de informações acessíveis que expliquem as funções dos aditivos, seus limites e os benefícios para a segurança e a qualidade sensorial.

O papel do consumidor é ativo nesse cenário. Ler rótulos com atenção, compreender termos técnicos e conhecer os nomes dos aditivos ajuda a fazer escolhas mais informadas. Buscar informações em fontes confiáveis, como agências regulatórias, organizações de ciência de alimentos e estudos revisados por pares, fortalece a capacidade de discernimento. Optar por produtos que adotem abordagens responsáveis de uso de aditivos, que explorem ingredientes naturais quando possível e que demonstrem compromisso com a transparência, reforça hábitos de consumo mais sustentáveis.

Em síntese, o uso consciente de aditivos na indústria de alimentos é essencial para equilibrar inovação tecnológica, segurança e saúde pública. Quando regulamentos são cumpridos, práticas são transparentes e a comunicação com o público é adequada, é possível alcançar produtos seguros, funcionais e atraentes, com menor impacto negativo sobre a saúde e o meio ambiente. O caminho passa pela fiscalização eficaz, pela pesquisa responsável e pela participação informada do consumidor, que, por sua vez, contribui para a melhoria contínua de toda a cadeia de produção alimentar.

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O Jardim da Qualidade: pare de apenas arrancar ervas daninhas e regue as flores

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Sabe qual é a grande diferença entre uma produção que alcança a qualidade e uma que vive a qualidade? A primeira foca apagar incêndios e corrigir o que deu errado. Já a segunda está focada em cultivar o que dá certo. Em vez de ver a produção como um campo minado de riscos a serem evitados, que tal enxergá-la como um jardim a ser cultivado?

O problema é que passamos tempo demais arrancando as “ervas daninhas” (os erros, as não conformidades). E isso é necessário, claro. Mas e as “flores”? As atitudes proativas, a atenção aos detalhes, o cuidado extra? Elas ficam invisíveis.

Uma cultura de qualidade genuína nasce quando a gente aprende a regá-las, a dar a elas a luz do sol do reconhecimento.

Para fazer isso, a gente precisa de um novo método, que vai além de apenas seguir procedimentos. Vamos chamar de “O Ciclo da Visibilidade Positiva”:

  • Um olhar diferenciado: o primeiro passo é mudar o foco. Em vez de procurar o erro, a liderança precisa ter um “olhar de jardineiro”: procurar genuinamente e ativamente as boas práticas. Isso pode ser um colaborador que organiza sua área de trabalho de forma impecável, um time que adere 100% a um novo protocolo ou alguém que sugere uma pequena melhoria de processo. Não é sobre o grande feito; é a consistência nas pequenas ações que constrói a excelência.
  • O fertilizar: o reconhecimento é o fertilizante. Ele deve ser imediato, específico e público. Quando você vê uma flor, não espera para elogiá-la. Você a elogia na hora. Diga em voz alta, na frente da equipe: “Pessoal, quero destacar o trabalho da Maria. A atenção dela na checagem de hoje evitou um problema potencial. Isso é o que chamamos de qualidade.” A celebração do acerto tem um poder de multiplicação que a correção do erro jamais terá.
  • A colheita: O resultado desse ciclo é uma colheita de engajamento e proatividade. Quando o esforço é visto e valorizado, o cérebro das pessoas entende que “fazer a coisa certa” compensa. O reconhecimento não só motiva quem o recebe, mas inspira toda a equipe a buscar o mesmo destaque. Ele transforma o cumprimento de uma regra em um desejo de superação. E é aí que a qualidade deixa de ser uma obrigação e se torna um valor.

Uma cultura de qualidade forte não se mede pela ausência de falhas, mas pela presença de uma excelência visível e celebrada. O verdadeiro poder da indústria de alimentos está na capacidade de cada pessoa do time se sentir um jardineiro, responsável por regar as flores, sabendo que seu cuidado faz todo o campo florescer.

Em outras palavras

A excelência em segurança e qualidade de alimentos não é um destino, mas um jardim que precisa ser cuidado todos os dias. Em vez de focar apenas arrancar as ervas daninhas dos erros, o verdadeiro segredo é regar as flores das atitudes positivas. Ao valorizarmos genuinamente o esforço, transformamos a equipe de meros executores em cuidadores da qualidade. Isso gera confiança, inspiração e, no final, um resultado mais bonito e forte para todos.

E você, na sua empresa, está apenas arrancando as ervas daninhas ou já começou a regar as flores?

Por Thiago Pontes

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Um pequeno (grande) inimigo da Segurança de Alimentos

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Estamos em guerra! Sim, isso mesmo, estamos diante de uma batalha nada fácil diante de um inimigo comum e que pode fazer com que todo o trabalho envolvido num processo produtivo de alimentos caia por terra.

É necessária muita atenção pois esse inimigo é muito ágil e veloz, e não temos a rapidez necessária para capturá-lo facilmente. Além disso, geralmente nunca está sozinho, tem armas perigosíssimas em seu poder mesmo não sendo intencional. E a pior notícia: é muito comum onde quer que haja alimentos e resíduos por perto. Tenho certeza de que você já o enfrentou pelo menos uma vez na vida. Estou me referindo à musca dumestica, mais conhecida como MOSCA.

Imagem gerada por ChatGPT

A mosca é um dos insetos mais comuns que existem e uma presença habitual na maioria dos climas da Terra. Pode pousar em diferentes tipos de alimentos, contaminando-os com bactérias, sendo responsável pela propagação de numerosas doenças. A mosca adapta-se facilmente a vários ambientes e pelo fato de voar e pousar em lugares sujos como bueiro, lixo, detritos, matéria orgânica em decomposição, suas patas são repletas de microrganismos patogênicos.

Para combater esse terrível inimigo é necessário conhecê-lo a fundo: as moscas possuem um tempo de vida curto, de 30 dias aproximadamente, mas suficiente para causar enormes prejuízos. Preferem voar a uma altura de até 8 metros, mas podem superar e muito esse limite. Possuem um tamanho de 5 a 8 mm de comprimento. Têm como dieta excrementos, resíduos e matéria orgânica em decomposição e são atraídas por ambientes úmidos e quentes. Podem se reproduzir a uma velocidade absurdamente assustadora.

Todo o cuidado é pouco, se não conseguirmos derrotar esse indesejável inimigo teremos sérios problemas. Mas a batalha não está perdida pois existem maneiras simples para evitar e combater as moscas. As principais são:

– Manter o local sempre limpo;

– Jogar o lixo sempre em recipientes tampados;

– Não deixar resíduos orgânicos expostos;

– Colocar telas em portas e janelas.

Se você já possui seu controle integrado de pragas, nenhuma dessas dicas é novidade, mas qualquer ação para defender a segurança dos alimentos é sempre bem-vinda. Além disso, com as mudanças climáticas esse inseto está ficando mais resistente ou aparece com maior frequência e em quantidade muito maior do que de costume em alguns lugares. Por isso não podemos nunca baixar a guarda porque não há trégua e nem a possibilidade de cessar-fogo diante do combate às moscas.

Agora que você foi convocado para esse combate, esteja sempre alerta para que juntos possamos sair vitoriosos dessa guerra, sobretudo por tudo o que está em jogo nessa peleja. Não existe a menor possibilidade de levantar a bandeira branca da paz. Vamos à luta com todas as armas para derrotar de uma vez por todas esse pequeno (grande) inimigo da Segurança de Alimentos.

E sobre esse assunto recomendo ainda ler os textos já publicados aqui:

Moscas: origem, hábitos e sua relação com a segurança de alimentos 

Toda segunda-feira há moscas dentro da fábrica. O que está acontecendo? 

Controle de moscas: a melhor saída está na entrada

Armadilhas luminosas: como investigar o acesso das pragas?

15 dicas para você resolver o problema com as moscas de uma vez por todas!

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Animais silvestres e segurança de alimentos: contenção de “pragas” com mínimo impacto ambiental

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O crime não compensa 

O esforço contínuo para proteção da saúde e preservação de patrimônio de pessoas e indústrias elege alguns “vilões da contaminação”, digamos assim. São mosquitos, baratas, ratos, moscas, formigas, carunchos, pombos, enfim uma extensa lista de animais para os quais são mobilizados esforços de vigilância permanente e ações de controle.

Mas nem sempre o invasor contaminante é um “suspeito” com longa ficha corrida, incluindo crimes contra a vida, como dengue, leptospirose, toxoplasmose, salmonelose, ou depredação de patrimônio praticada pelos cupins, brocas, formigas e carunchos.

Metaforicamente, em alguns cenários, o delito contaminante é provocado sem dolo (ou intenção). Seria um crime circunstancial (culposo) ou até por “legítima defesa”, quando são inocentemente atraídos por iluminação, mas o ato ainda impõe ao meliante uma condenação, como consequência do enorme risco que causou à sociedade.

Portanto, precisamos lidar com responsabilidade com o fato de animais silvestres, sem associação com doenças ou danos estruturais e nenhuma perda econômica, mesmo agrícola ou paisagística, sofrerem o aumento da pressão migratória, principalmente em função das condições climáticas. A cultura food safety, incluindo o programa controle de pragas, precisa enfrentar esse cenário com lucidez. Isso inclui saber argumentar com fiscais, auditores e até críticos internos que, muitas vezes, “julgam” e “condenam” inocentes.

Ou seja, não é razoável condenar abelhas, vespas, andorinhas, sabiás, pica-paus, besouros, tesourinhas, cobras, morcegos e até pequenos roedores silvestres ao extermínio, por duas razões bem objetivas:

Erro 1: Eliminar animais silvestres é crime ambiental, com penas severas conforme a legislação brasileira;

Erro 2: Pragas existem em função do desequilíbrio provocado no meio ambiente pela atividade humana, portanto aumentar o extermínio de animais silvestres resulta em mais desequilíbrio, e consequentemente mais pragas.

Eu sei, é um desafio conciliar a proteção de contaminantes com responsabilidade ambiental. Precisamos controlar esses invasores, com mínimo impacto possível. Como fazer? Existem estratégias que afastam animais silvestres sem letalidade?

SIM!!!!! Várias estratégias. E vamos descrever alguns CASOS REAIS.

Uma empresa controladora de pragas atualizada, com profissionais certificados e responsável técnico atuante tem todas as ferramentas para conter sem matar. Alguns exemplos nos inspiram:

CASO REAL 1 – Morcegos

Morcegos são animais que preferem abrigos naturais, como fendas em rochas, cavernas e árvores ocas. Sua ocupação de telhados e galpões não é natural, mas ocorre quando seus abrigos originais são modificados ou eliminados. Em alguns cenários a ocupação do ambiente ocorre por poucos dias enquanto rastreiam novas fontes de abrigo.

Um controlador identificou fezes de morcego em uma área de depósito de um laticínio, e notificou o gestor da qualidade, que imediatamente pediu à empresa especializada um plano de contenção. Após o Responsável Técnico examinar o cenário, apontou que era uma espécie que se alimenta de frutas, com migração sazonal, e que possivelmente em até 4 semanas faria a migração. Apresentou-se um plano para instalação de repelentes, mas recomendaram que aguardasse o tempo de adaptação dos animais. Conclusão: em 3 semanas os animais migraram e não foi necessário nenhum investimento.

CASO REAL 2 – Andorinhas

Andorinhas são pássaros bastante adaptáveis a edificações urbanas. Embora tenham preferência por nidificar em árvores e encostas rochosas, frente a indisponibilidade de abrigo, usam telhados, calhas elétricas, beirais e outras estruturas industriais  para nidificar.

Um fiscal do MAPA notificou uma fábrica de rações para contenção de andorinhas na área de expedição, pelo risco de contaminação por fezes nos pacotes e pessoas durante o carregamento. A empresa controladora contratada não tinha domínio sobre esse tipo de invasor, e o fabricante contratou um consultor especializado, que apontou claramente a necessidade de instalar barreiras na área de expedição. Projeto caro, com várias semanas de execução, sem previsão no orçamento. Cenário desolador, mas o especialista apontou uma solução intermediária com aplicação gradual das barreiras, indicando ao fiscal do MAPA um plano de ação gradual para ser concluído em até 12 meses. Conclusão: com poucos dias e baixo orçamento, a contenção foi iniciada na área mais contaminada, o fiscal concordou com o plano gradual e em poucos meses a área estava completamente protegida.

CASO REAL 3 – Roedores silvestres

Roedores silvestres são pequenos animais que normalmente se alimentam de frutas e cereais de gramíneas presentes na vegetação periférica de cidades e áreas industriais. São predadores de pequenos insetos e servem como alimento para serpentes e pássaros.

No período sem chuva, com limitação da oferta de alimentos, esses pequenos animais migravam para uma instalação industrial fabricante de bebidas com extensa faixa verde, na qual havia porta iscas de anel primário (armadilhas para roedor na cerca), se alimentavam do raticida e morriam, causando desequilíbrio no local, inclusive com surgimento eventual de serpentes, que perdiam seu principal alimento. O responsável técnico da empresa controladora indicou a remoção do anel sanitário primário (não era requisito da norma food safety), pois não havia risco de migração por roedores urbanos, e já havia dezenas de porta-iscas protegendo as edificações, com taxa de consumo menor que 1%. Um índice de infestação muito baixo. Conclusão: embora a gestão de qualidade da indústria estivesse insegura com a remoção do anel primário, aceitou a sugestão do especialista, mantendo os pequenos roedores distantes dessa perigosa fonte alimentar, e não houve nenhuma atividade migratória para as áreas edificadas.

Cases como esses poderiam compor um webinário. Temos histórias de pica-paus, cobras, besouros, tesourinhas, formigas, abelhas e vários outros, fazendo o que os bichos fazem. O erro acontece quando não conseguimos contornar essas situações com inteligência.

UM CONVITE

Reflita – Controle de Pragas não depende de veneno. Não se apoia apenas em extermínio como estratégia de controle. Precisa de controladores certificados e responsável técnico pensante e atuante.

Controladoras que sustentam suas estratégias apenas na aplicação repetida de defensivos, sem estudos de impacto ambiental, parecem seguir uma lógica que, além de gerar custos desnecessários, pode colocar a imagem da sua empresa em julgamento e pior, ser acusada de ter eliminado um inocente. E em tempo de boas práticas ESG, o mercado tende a não perdoar esse tipo de crime. Não perdoa mesmo.

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Cachorro-quente de rua: comer ou não comer? Eis a questão!

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Imagine a cena: você está caminhando pela cidade, sente aquele cheiro irresistível de cachorro-quente no ar, e sem pensar duas vezes, já está na fila do carrinho do tio da esquina. Mas será que é seguro o que você pretende ingerir?

Provavelmente muitas pessoas que não atuam diariamente com segurança dos alimentos simplesmente saboreiem seu cachorro-quente despreocupadamente. No entanto, profissionais da área, que estão familiarizados com os riscos, sabem que um simples cachorro-quente pode trazer uma série de problemas.

Os ingredientes: uma receita para o caos?

1 – Pão

O pão, do ponto de vista da segurança dos alimentos, é intrinsecamente seguro devido à sua baixa atividade de água (Aw), geralmente abaixo de 0,85, o que inibe o crescimento da maioria das bactérias patogênicas.

No entanto, apesar de relativamente seguro, pode conter contaminantes, principalmente fungos. A umidade elevada e a exposição ao ar favorecem o desenvolvimento de espécies como Aspergillus spp., Penicillium spp. e Fusarium spp., algumas das quais são produtoras de micotoxinas, substâncias tóxicas associadas a efeitos adversos na saúde humana.

Para minimizar o risco de contaminação, recomenda-se armazenar o pão em locais secos e arejados, evitar a exposição prolongada ao ar e, se necessário, conservar em refrigeradores ou embalagens adequadas para retardar o crescimento de fungos.

Além disso, a manipulação inadequada pode transformar o pão em um vetor para contaminação cruzada, facilitando a transmissão de Staphylococcus aureus e coliformes fecais, especialmente quando não há higienização correta das mãos e dos utensílios.

2 – Salsicha

A salsicha industrializada já vem cozida, mas isso não significa que ela está livre de perigos.

Se armazenada fora da refrigeração pode servir de substrato para a multiplicação de Listeria monocytogenes, Salmonella spp. e Escherichia coli (E. coli O157:H7).

A temperatura ideal para conservação de embutidos é abaixo de 5°C, mas no carrinho de rua muitas vezes a realidade é outra: são caixas de isopor sem controle térmico adequado, permitindo assim a proliferação bacteriana.

Há ainda um fato interessante sobre salsichas: o nome Clostridium botulinum deriva do latim “botulus” , que significa justamente salsicha. Os primeiros casos documentados de botulismo estavam associados ao consumo de salsichas contaminadas, principalmente na Alemanha do século XIX.

Essas salsichas eram produzidas com o embutimento em tripas naturais e armazenadas em condições anaeróbicas (com pouco ou nenhum oxigênio). Como o Clostridium botulinum é uma bactéria anaeróbia estrita, essas salsichas criavam um habitat ideal. Além disso, o pH neutro ou levemente alcalino e a presença de nutrientes favorecem a multiplicação das bactérias e a produção da toxina botulínica, uma das mais potentes conhecidas.

Esse problema foi reduzido com o avanço das técnicas de conservação, como a refrigeração e o uso de conservantes como os nitritos que inibem o crescimento microbiológico, lembrando que se usado de forma inadequada, os nitritos também são um problema, uma vez que podem ser convertidos a N-nitrosaminas, que são potencialmente carcinogênicos.

3 – Maionese

A maionese caseira, por vezes usada pelos vendedores de rua, pode ser uma bomba-relógio.

A maionese caseira, amplamente utilizada em lanches de rua, apresenta alto risco sanitário, principalmente por ser produzida com ovos crus, uma vez que a Salmonella spp. pode estar presente nos ovos contaminados, causando intoxicações severas.

A Salmonella pode migrar do trato intestinal das galinhas para os ovos através da casca por contaminação externa. Essa contaminação ocorre durante a postura, quando os ovos podem entrar em contato com fezes contaminadas na cloaca ou no ninho. Como a casca possui poros, uma bactéria pode penetrar, especialmente se houver umidade ou rachaduras, atingir a membrana interna e, em alguns casos, a gema, onde pode se multiplicar.

Mesmo as versões industrializadas de maionese precisam ser mantidas refrigeradas para evitar o crescimento de microrganismos patogênicos, porém, num carrinho de hot dog, mantido fora de refrigeração constantemente, a maionese pode se transformar num meio de cultivo. Por isso, pequenos volumes em sachês podem significar menos risco que em bisnagas.

4 – Molho de tomate

Embora o molho de tomate possua pH ácido (em torno de 4,0 a 4,5), o que inibe o crescimento de muitos microrganismos patogênicos, ainda assim pode ser contaminado por bactérias acidotolerantes, como Lactobacillus spp. e Acetobacter spp., além de fungos , como Aspergillus spp., Penicillium spp. e Fusarium spp.

Fungos podem produzir micotoxinas como as fumonisinas e ocratoxinas, que são substâncias tóxicas associadas a potenciais efeitos carcinogênicos, imunossupressores e causadores de danos ao fígado e rins.

Mesmo em molhos industrializados, especialmente os que vêm em latas, embalagens de vidro ou sachês, pode ocorrer crescimento de fungos. Isto ocorre especialmente após a abertura, caso o produto fique exposto ao oxigênio, possibilitando o acesso dos esporos de fungos, e ainda mais se mantido em temperatura ambiente por longos períodos.

Além disso, há o risco de contaminação cruzada se o mesmo utensílio for usado para mexer a salsicha e o molho sem higienização adequada.

Exposição de alimentos ao consumidor em carrinhos

Molhos e outros produtos expostos em carrinhos de cachorro-quente podem, também, permitir o crescimento de Staphylococcus aureus devido à contaminação por contato direto ou indireto.

O Staphylococcus aureus, que naturalmente é encontrado na pele, nariz e garganta, pode ser transferido para os alimentos pelo toque das mãos, máquinas contaminadas ou até por gotículas expelidas ao falar ou espirrar.

O crescimento destes microrganismos ocorre entre 10°C e 45°C, especialmente na faixa de 30°C a 37°C, situação na qual pode se multiplicar rapidamente, principalmente em alimentos ricos em nutrientes, como molhos cremosos e à base de ovos. Se houver tempo suficiente e as condições forem favoráveis, pode ocorrer a produção de toxinas estafilocócicas, que são termoestáveis.

Um outro risco: produtos expostos em carrinhos, invariavelmente estão expostos a insetos carreadores de microrganismos, como moscas e baratas.

Basta uma única mosquinha pousar sobre o alimento para que uma contaminação possa ocorrer, pois durante seus voos, as moscas acabam se alimentando de tudo que é detrito, como fezes, animais mortos e matéria orgânica em decomposição. materiais repletos de microrganismos, inclusive bactérias patogênicas, que vão pegar carona em suas asas e patas até os alimentos.

Se uma mosquinha age como um avião monomotor para carrear microrganismos, uma barata pode ser associada a um Boeing 747, carreando ainda mais microrganismos pelo mesmo mecanismo de contato: detritos – alimentos.

Os perigos invisíveis: falta de higiene e armazenamento inadequado

Além dos perigos microbiológicos específicos de cada ingrediente, há riscos associados às condições de manipulação e armazenamento. Sem lavagens frequentes das mãos, sem superfícies higienizadas e sem equipamentos de refrigeração adequados, o cachorro-quente pode se tornar um verdadeiro festival de bactérias e vírus gastrointestinais.

Se o mesmo pegador é usado para a salsicha crua e a salsicha quente sem limpeza, estamos diante de um exemplo clássico de contaminação cruzada. O mesmo vale para facas, tábuas de corte e até para o manuseio do dinheiro seguido do preparo do lanche.

Alimentos perecíveis precisam de controle rigoroso de temperatura. No caso dos cachorros-quentes de rua, a refrigeração inadequada pode transformar ingredientes aparentemente inofensivos em verdadeiros veículos de intoxicação alimentar.

Outro ponto importante: observe as condições de higiene do vendedor antes de pedir seu lanche. Mãos sujas, unhas compridas e ausência de luvas podem indicar que a manipulação do alimento não está seguindo as boas práticas. E lembre-se: um simples espirro pode disseminar vírus e bactérias pelo seu lanche.

Comer ou não comer?

O cachorro-quente de rua pode ser uma opção saborosa, mas se não for preparado e armazenado sob condições sanitárias adequadas, pode representar um risco significativo à saúde.

Isso não significa que seu consumo deva ser completamente evitado, mas é essencial que o consumidor esteja atento às condições de higiene do local, ao armazenamento dos ingredientes e às práticas do manipulador.

Se for impossível resistir, passe o olhar pelo crivo técnico e prefira barracas que demonstrem boas práticas em segurança dos alimentos, incluindo:

  1. Atendente com mãos limpas, unhas curtas e bem tratadas, e que faça uso de luvas descartáveis quando manipular o cachorro-quente;

  2. Uniformes limpos, touca ou boné para evitar queda de cabelos na comida;

  3. Pães e condimentos armazenados em local seco e protegido contra contaminação;
  4. Separação entre alimentos crus e prontos para consumo, incluindo o uso de utensílios diferentes para manipular alimentos crus e cozidos;

  5. Molhos e ingredientes frescos mantidos em recipientes protegidos e bem fechados;

  6. Alimentos quentes devem mantidos acima de 60°C até o consumo, assim como bebidas e ingredientes refrigerados devem permanecer abaixo de 5°C;

  7. Disponibilidade de água potável para lavagem das mãos e utensílios, com uso de detergente e sanitizante adequado para limpeza das superfícies;

  8. Lixo deve ser mantido fechado, sem acúmulo e descartado corretamente e com frequência. Não deve haver moscas, formigas ou outros insetos rodeando a barraca. Além disso, deve manter a barraca fechada quando não estiver em uso para evitar insetos e roedores;

  9. Pagamentos feitos separadamente da manipulação de alimentos;

  10. Disponibilizar guardanapos e sachês individuais para condimentos.

Seguir esses cuidados reduz os riscos de contaminação e melhora a qualidade, garantindo segurança do cachorro-quente para os clientes.

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