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Como construir uma carreira de sucesso em segurança de alimentos

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A segurança dos alimentos é um componente essencial da saúde pública e uma área que oferece carreiras desafiadoras e gratificantes. Diante do aumento da conscientização global sobre os perigos associados à contaminação de alimentos, observa-se uma demanda crescente por profissionais especializados nesse campo.  Mas o que é necessário para construir uma carreira de sucesso nesta área?

Em 2016, Ana Claudia Frota publicou um artigo neste blog que aborda a relevância da escolha inicial de emprego na carreira em segurança dos alimentos. Utilizando uma pesquisa da USP como base, ela enfatiza que as decisões no início da carreira são importantes para o futuro profissional. Com uma experiência de quase 15 anos na área, Frota salienta a importância de entender os desafios e responsabilidades envolvidos.

Segundo o Codex Alimentarius, a segurança dos alimentos busca evitar alimentos que possam causar dano ao consumidor, sendo essencial que sejam isentos de contaminações biológicas, físicas e químicas. Assim, os profissionais podem atuar em várias frentes, desde a revisão de especificações até a gestão de sistemas, destacando a importância de habilidades como comunicação, persistência e atualização contínua nos avanços do campo. A figura abaixo busca ilustrar essas possibilidades.

Este artigo retoma esta temática reunindo as perspectivas de especialistas renomados na área, que escrevem para este blog, construindo uma narrativa integrada que ilustra a multiplicidade de abordagens necessárias para a excelência profissional na área de segurança dos alimentos.

Daniel Bouzas Savia destaca que para melhorar o que já existe em segurança dos alimentos é importante o trabalho conjunto entre diferentes áreas do conhecimento. Ele diferencia o trabalho interdisciplinar do multidisciplinar, explicando que no interdisciplinar, as várias especialidades trabalham juntas de forma integrada, combinando seus conhecimentos para enfrentar os desafios de maneira completa e eficaz.

Palova Dieter Marques aponta a necessidade de imersão prática no setor alimentício, sugerindo que a experiência adquirida através de estágios ou empregos específicos na área constitui uma alavanca para o desenvolvimento profissional. A permanente atualização sobre regulamentações e inovações do setor, segundo Marques, é um pilar para a atuação eficaz, incentivando também a interação mediante consultorias, auditorias e participação ativa em eventos do ramo.

Aline Rezende contribui para o diálogo enfatizando a valorização do conhecimento continuado. A diversidade de cursos e treinamentos, inclusive aqueles de curta duração, emerge como fonte inestimável de insights aplicáveis. Rezende destaca, ainda, a importância da atualização constante por meio de plataformas digitais e a necessidade de habilidades gerenciais complementares às técnicas, como gestão de custos e liderança, fundamentais para a interlocução com níveis estratégicos de gestão.

Por sua vez, Marco Túlio Bertolino enfoca a resiliência como atributo indispensável ao profissional da área. A habilidade de persistir diante dos obstáculos, adaptando-se para implementar sistemas de gestão da qualidade, mesmo sem pleno apoio institucional, é, para Bertolino, um exercício de construção de uma cultura de qualidade e de reconhecimento do valor estratégico da segurança dos alimentos.

Cíntia Malagutti e Talita Andrade, ampliando o escopo da discussão, ressaltam a importância da prática reflexiva e do compartilhamento de conhecimento dentro das equipes. Andrade, especificamente, sugere a análise de casos de mercado e a simulação de inspeções sanitárias como metodologias de aprendizado ativo, enquanto Malagutti realça a relevância da construção de redes profissionais e do comprometimento ético como alicerces para a atuação na segurança dos alimentos.

A carreira em segurança dos alimentos, como bem ilustrado pelos insights de Ana Claudia Frota e complementado pelas opiniões de outros especialistas renomados, é uma jornada de aprendizado contínuo, colaboração interdisciplinar e adaptação às inovações e regulamentações do setor. As contribuições dos especialistas abordam a importância da integração de conhecimentos, da imersão prática, da atualização constante, da resiliência, da prática reflexiva e do comprometimento ético para alcançar a excelência na área.

Para os profissionais que aspiram a construir ou aprimorar suas carreiras em segurança dos alimentos, algumas dicas finais podem ser extraídas das lições desses especialistas:

  • Busque formação interdisciplinar: entenda que a segurança dos alimentos não se limita a uma única área de conhecimento. Aprofunde-se em disciplinas relacionadas, como microbiologia, química, engenharia de alimentos e direito sanitário.
  • Ganhe experiência prática: engaje-se em estágios, empregos ou projetos que ofereçam a oportunidade de aplicar conhecimentos teóricos em contextos reais de produção, controle de qualidade e gestão de segurança dos alimentos.
  • Mantenha-se atualizado: dedique-se à educação continuada, participando de cursos, workshops e seminários. As inovações tecnológicas e as mudanças nas regulamentações do setor alimentício são constantes, e manter-se informado é essencial.
  • Desenvolva habilidades complementares: além do conhecimento técnico, aprimore habilidades gerenciais, de comunicação, liderança e negociação. Essas competências são importantes para a interação eficaz com equipes multidisciplinares e para a tomada de decisões estratégicas.
  • Cultive a resiliência: enfrente os desafios com determinação, buscando soluções inovadoras e adaptativas para implementar e manter sistemas de gestão da qualidade, mesmo diante de obstáculos.
  • Promova o compartilhamento de conhecimento: colabore com colegas de trabalho e participe ativamente de comunidades profissionais. A troca de experiências e a discussão de casos reais são fundamentais para o desenvolvimento coletivo e a solução de problemas complexos.
  • Comprometa-se com a ética profissional: a integridade e o compromisso com a segurança dos consumidores devem ser os pilares da sua atuação na área.

Adotando essas recomendações, os especialistas não somente impulsionaram suas trajetórias profissionais, mas também fomentaram o progresso na área de segurança dos alimentos, essencial para o sustento da saúde coletiva e qualidade de vida. O empenho em se aperfeiçoar e inovar marca a distinção dos líderes no setor, equipando-os para superar desafios atuais e emergentes.

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Doenças transmitidas por alimentos: ainda devemos nos preocupar em 2024?

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Recentemente, foi divulgado nos canais de comunicação a notícia de que uma pessoa veio a óbito e mais seis pessoas estão internadas após uma confraternização da empresa em que laboravam. A principal suspeita frente ao ocorrido é que se trata de um episódio de intoxicação alimentar (leia aqui), ou seja, embora o caso ainda esteja sob investigação, tudo leva a crer que se trata de um tipo de doença transmitida por alimentos (DTA).

As famosas Doenças Transmitidas por Alimentos, popularmente conhecidas como DTA ou como Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) costumam ocorrer após a ingestão de alimentos ou água contaminada. Atualmente, em âmbito mundial, são identificadas cerca de 250 DTA catalogadas e que podem ocorrer por meio de bactérias e suas toxinas, vírus, parasitas intestinais oportunistas ou substâncias químicas.

Cabe dizer que a intoxicação alimentar é diferente da infecção alimentar. A intoxicação é uma decorrência das toxinas produzidas pelos microrganismos ainda no próprio alimento. Já a infecção acontece pela proliferação dos microrganismos no hospedeiro, advindos de alimentos que contenham células destes microrganismos.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que cerca de 600 milhões de pessoas, ou seja, quase uma em cada 10 pessoas no mundo, adoecem e 420.000 morrem todos os anos devido as Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA), resultando na perda de 33 milhões de anos de vida saudáveis. As crianças menores de 5 anos carregam 40% da carga de DTHA, com 125.000 mortes a cada ano.

No Brasil, segundo o último dado divulgado pelo Ministério da Saúde, referente ao período compreendido de 2013 a 2022, ocorreram cerca de 6.523 surtos identificados/notificados (média de 652 casos por ano), totalizando 107.513 pessoas doentes, com 12.722 hospitalizações e 112 óbitos constatados em decorrência dos surtos.

Ainda segundo o mesmo material, o top 3 dos agentes de DTA no Brasil é ocupado pela Escherichia coli, correspondente a 32,3% dos casos, Salmonella spp (10,9%) e Staphylococcus sp. (10,8%), seguido de outros, conforme podemos ver no gráfico abaixo:

Fonte: Sinan/SVS/Ministério da Saúde

* Dados preliminares, sujeitos a alterações.

Dentre as fontes mais comuns causadoras das doenças, surge o açaí, alimento campeão com 27,5% do montante, seguido da água (21,5%) e alimentos mistos (12,8%):

Fonte: Sinan/SVS/Ministério da Saúde

* Dados preliminares, sujeitos a alterações.

1. Excluídos registros ignorados, inconsistente e inconclusivos (n = 4.467)

E como podemos evitar?

  • A lavagem das mãos antes da manipulação dos alimentos é essencial;
  • O consumo de alimentos crus, malcozidos e mal-assados é desestimulado;
  • Evitar o consumo de ovo cru, ou preparos que levem ovo cru;
  • Ovos não devem ser lavados antes do armazenamento, somente antes do preparo;
  • Consuma água/ gelo somente de fontes seguras;
  • Alimentos congelados/ resfriados devem ser bem aquecidos antes do seu consumo;
  • Alimentos preparados devem ser mantidos em temperaturas adequadas, antes do consumo, sejam resfriados ou aquecidos.
  • O prazo de validade dos alimentos deve ser checado sempre, bem como o acondicionamento e suas condições físicas, como aparência, consistência e odor.
  • Atenção para pescados e mariscos, que podem conter toxinas ativas mesmo após o processo de cocção.
  • Alimentos crus devem ser separados dos alimentos cozidos ou já preparados para consumo, evitando assim a contaminação cruzada.
  • Para vegetais, frutas e verduras adquiridos, convém desinfetar utilizando uma solução preparada com hipoclorito de sódio (água sanitária).

Leia mais: 

Detalhes sobre o grupo de risco para doenças transmitidas por alimentos

Doenças transmitidas por alimentos podem ter consequências por toda a vida

Registros de doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHA) no Brasil

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Monitoramento ambiental será hot topic do próximo Webinar do Food Safety Brazil

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Se tem um assunto que nunca sai das preocupações dos profissionais da segurança dos alimentos, é o monitoramento ambiental. E sempre será um “hot topic”, pois as dúvidas são muitas. Tipo:

– Nunca dá resultado positivo

– Sempre dá resultado positivo

– Não sei se os microrganismos escolhidos foram os melhores

– Pouca verba para análise

– Fiz corretamente o zoneamento?

– O que fazer diante do desvio

– E o que está ficando mais tenso: o que apresentar na auditoria de FSSC 22000 como  análise de tendências e melhoria no plano?

Só que a legislação estabelece uma lista com limites somente para produto acabado, mas não há nada publicado sobre ambiente no Brasil. Nem um guiazinho da ANVISA ou MAPA para dar uma luz.

São muitas dúvidas: quais limites considerar, qual a frequência mínima, qual é o momento ideal para coletar a amostra, se é melhor utilizar um indicador ou pesquisar diretamente o patógeno.

Sabendo que estes são impasses vividos pelos nossos leitores, o Food Safety Brazil e  Hygiena propiciarão um momento único para um bate-papo sério sobre estes temas.

Clique abaixo e faça a sua inscrição:

https://www.sympla.com.br/evento-online/ix-food-safety-brazil-meeting-monitoramento-ambiental/2323544

Palestrantes:

Lauane de Araújo

Techincal Suppor Specialist, da Hygiena

Carla Lima Gomes

Consultora em desenho sanitário, monitoramento ambiental e colunista do Food Safety Brazil

Mediadora:

Cíntia Malagutti

Diretora do Food Safety Brazil

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Medir, monitorar e analisar: etapas para o gerenciamento

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O que não é medido, não é gerenciado. Sabemos que, de fato, aquelas metas subjetivas, genéricas e amplas tendem a ficar à deriva. Mas quando definimos o que medir e monitoramos seus resultados, ah sim, neste caso o potencial de sucesso é muito maior.

Já falei aqui no blog sobre Como estabelecer um gerenciamento para a Segurança dos Alimentos, e também sobre a Padronização de processos na indústria de alimentos.

Elas são etapas iniciais no gerenciamento da rotina do sistema de gestão de segurança de alimentos. Na padronização, um fluxograma de cada etapa do processo foi desenhado e procedimentos foram definidos. Assim, fica mais fácil definir o que deve ser medido e, então, monitorado.

Por exemplo: podemos medir volume de produção, correlacionar com tempo de disponibilidade de equipamentos, tempo de mão de obra e outros números com foco operacional.

Em paralelo, preocupados com a segurança do alimento, podemos medir temperaturas de armazenamento, falhas no processo de embalagem e até mesmo contagem microbiológica para garantir a sanitização de ambientes controlados.

Contudo, apenas olhar esses dados coletados e registrados em uma planilha pode não ser muito produtivo. Por isso vamos ver algumas alternativas.

Uma forma de monitorar resultados

Entre as formas mais comuns, está a carta de controle. Nela monitoram-se os valores de algum parâmetro na forma de um gráfico de linhas, estando definidos os limites inferior e superior. Neste modelo, fica fácil observar tendências de aumento ou redução, além de monitorar resultados fora da especificação definida.

Carta_controle_ThiagoMendonca_FoodSafetyBrazil

O passo a passo para definição de uma carta de controle pode ser consultado em diversos trabalhos, como neste, intitulado Controle estatístico da qualidade em um processo de envase da indústria de alimentos.

Monitorar parâmetros correlatos em uma mesma visualização é uma boa estratégia. Assim, é possível observar o quanto as flutuações de um parâmetro influenciam outro resultado.

Mas veja bem: caso você ainda não tenha um modelo já estabelecido para o monitoramento de resultados, comece com aquilo que lhe causa mais problemas. Este foco vai ajudar a solucionar o caso e o resultado obtido dará força para seguir com o monitoramento de outros parâmetros.

Para criar suas cartas de controle você pode utilizar as ferramentas da Microsoft, como o Excel, e possivelmente um PowerPoint para montar um modelo de gestão visual. Existem também ferramentas de BI (Business Intelligence) como o PowerBI, para gerir seus dados e apresentar os resultados de forma mais dinâmica.

Na sequência, disponibilizar essa apresentação do monitoramento de dados aos envolvidos é essencial. Portanto, não caia na falácia de monitorar e não mostrar. Divulgue os resultados a todos os interessados em murais ou TVs, explicando cada dado de maneira acessível ao time operacional e quais serão as estratégias para atingir cada meta.

Leia também:

Uma maneira de analisar e agir com cautela

Uma vez definido o monitoramento dos seus itens de controle, é a hora de gerenciar para atingir as metas. E uma boa alternativa é padronizar a forma de atuar no processo diante de cada situação observada.

Como exemplo, se o resultado de um monitoramento pode ser insatisfatório, o ideal é já definir qual será a ação tomada quando isso ocorrer, ao invés de deixar para tomar a decisão no olho do furacão.

Para isso, o uso de uma tabela simples, tendo nas colunas dados como local, item de controle, resultado esperado e método de controle, já é suficiente. Na parte de método de controle, deve-se descrever quando e como atuar.

Metodo_controle_ThiagoMendonca_FoodSafetyBrazil

Além disso, se alguma ocorrência é evitável, levá-la para uma análise de causa-raiz e preparar um plano de ações corretivas para evitar recorrências é o caminho.

Agora, é hora de atingir as metas ou manter os resultados já obtidos. Para isso, não deixe de consultar o CEP – Controle estatístico de processos na indústria de alimentos.

Em breve falaremos mais sobre as próximas etapas do PDCA e como aperfeiçoar o gerenciamento da segurança de alimentos para garantir melhorias. Até logo!

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É seguro consumir pratos regionais, como tacacá e maniçoba?

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“Eu vou tomar um tacacá, dançar, curtir, ficar de boa”, esse é um trecho de uma música que viralizou recentemente da cantora paraense Joelma. Mas afinal, o que é “tacacá”?

Essa pergunta é muito fácil de ser respondida por mim, que sou conterrâneo da famosa cantora e que tomo tacacá desde pequenininho. Porém, a grande maioria dos brasileiros não faz sequer ideia do que seja. Não à toa muita gente foi atrás do que significa essa palavra em sites de buscas.

Aliás, nós aqui do Brasil somos privilegiados pela variedade gastronômica do país, tão vasto quanto nosso território: tacacá, maniçoba, acarajé, cuxá, guariroba, buchada de bode, sarapatel, vatapá, etc. Mas a pergunta é: os alimentos e pratos regionais são seguros para serem consumidos? Atendem as legislações específicas sobre produção de alimentos? A questão é complexa na prática.

Em se tratando de legislações, podemos ver os esforços das atualizações para acompanhar as mudanças da atualidade com pesquisas, descobertas científicas e novos produtos sendo desenvolvidos (como visto no post Socorro!!! Mudanças na legislação da ANVISA – Confira o que mudou).  E normas oficiais não se discutem, se cumprem.

Mas alguns casos específicos dão um verdadeiro “nó na cuca”. Como exemplo, temos a maniva que é a folha moída de mandioca (Manihot esculenta Crantz) que na culinária paraense é ingrediente principal de um dos pratos mais apreciados na região, a maniçoba. A maniva deve ser cozinhada por ao menos sete dias (isso mesmo, você não leu errado: SETE dias!). A folha da mandioca possui um alto teor de ácido cianídrico, ou seja, o veneno cianeto, que precisa desse tempo de cozimento para ser eliminado e assim, tornar o alimento seguro ao consumo humano. Essa iguaria gastronômica desafia os consumidores pelo tempo e cuidados com o preparo.

Sabemos que na produção de alimentos, todo cuidado é pouco. Até mesmo os alimentos que muita gente acredita serem inofensivos, como os rotulados de artesanais, podem causar danos incalculáveis  se houver falhas em sua produção: Molho pesto artesanal causou tetraplegia por botulismo em Brasília.

Além dos pratos regionais com suas peculiaridades, também existe algo que tem virado tendência mundial e não demorará muito para se expandir pelo Brasil: é o consumo de insetos como alimentos, assunto esse que também já foi tratado algumas vezes no blog:  Inseto como alimento: o início e Análise de risco da entomofagia no mercado brasileiro de alimentos. 

Os fabricantes de alimentos, os órgãos e autoridades que criam as normas e fiscalizam seu respectivo cumprimento precisam dar garantias de que todos os alimentos que chegam aos consumidores sejam considerados seguros para consumo, incluindo alimentos industrializados, refeições e também os alimentos regionais. Afinal, nós não queremos ficar doentes, queremos sim “tomar um tacacá e ficar de boa”.

José Gonçalves de Miranda Junior é tecnólogo agroindustrial de alimentos (Universidade do Estado do Pará), pós-graduado em Engenharia de Alimentos – Desenvolvimento de Produtos (Instituto Mauá de Tecnologia), especialista em Segurança de Alimentos e auditor líder em FSSC 22000

Imagem: Agência Pará

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A importância das auditorias internas

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Uma dúvida recorrente e muitas vezes uma inquietude das equipes internas de qualidade e segurança de alimentos é: qual a impressão que uma auditoria interna com muitas Não Conformidades (NC) vai passar ao auditor na auditoria de certificação? Alguns temem que o próprio relatório de auditoria interna seja uma fonte de achados para uma auditoria externa e preferem que os relatórios sejam comedidos, ou seja, tenham nenhuma ou poucas NC identificadas.

Será? Qual sua opinião?

A busca pela certificação de Segurança de Alimentos é uma jornada desafiadora, exigindo não apenas conformidade, mas uma compreensão profunda dos processos internos. Sendo assim, as auditorias internas surgem como protagonistas para o sucesso nos processos de certificação. Existe uma conexão intrínseca entre auditorias internas consistentes e efetivas e o êxito nas auditorias de certificação, ou mesmo, melhores resultados.

Antes de submeter-se a uma auditoria de certificação, as organizações devem estar devidamente preparadas. E as auditorias internas desempenham um papel fundamental nesse estágio, permitindo a identificação precoce de não conformidades e áreas de melhorias. Uma boa auditoria interna é aquela feita no maior nível de criticidade, por uma equipe que conhece as falhas internas da organização ou do segmento e vai conseguir triar o maior número de não conformidades possíveis. Pois não conformidades identificadas precocemente podem ser tratadas e resolvidas antes da auditoria de certificação.

Estudos realizados no Instituto SQF, por exemplo, indicam que empresas que mantêm práticas de auditoria interna robustas apresentam menos não conformidades durante as auditorias externas (veja aqui)!

As auditorias internas devem ser utilizadas como uma ferramenta estratégica para a manutenção da conformidade e melhoria contínua dos sistemas de gestão. Seus resultados devem ser mensurados e apresentados no formato de indicadores para a alta direção e demais lideranças. A prática constante leva à tendência de melhores resultados, por isso recomenda-se que empresas que ainda não possuem um sistema de gestão de segurança de alimentos maduro realizem mais auditorias internas ao longo do ano, para poder demonstrar seu crescente desempenho reforçando a importância das auditorias internas como um instrumento para aprimorar os processos internos.

Auditores externos experientes geralmente pontuam de forma positiva empresas que demonstram essa evolução e não se apropriam de desvios identificados para pontuar novas não conformidades.

Adicionalmente, auditores externos validam a importância das auditorias internas através de feedbacks positivos quando encontram relatórios completos, bem escritos contendo evidências que agregam valor ao sistema de gestão.

À medida que empresas enfrentam a crescente pressão de conquistar e manter Certificações de Segurança de Alimentos, de diferentes níveis com requisitos rigorosos, a auditoria interna surge como uma aliada indispensável. Investir tempo e recursos em auditorias internas efetivas não é apenas uma medida preventiva, mas uma estratégia proativa para fortalecer os processos e alcançar resultados de destaque nas avaliações de certificação.

Leia mais sobre o tema no nosso blog!

Boa auditoria!

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Entrevista com Juliani Arimura sobre o Esquema FSSC 22000

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Seguindo a sequência de entrevistas sobre os protocolos normativos reconhecidos pelo Global Food Safety Initiative – GFSI, tive a honra de conversar com Juliani Arimura, que representa os esquemas da Fundação FSSC (Food Safety System Certification) na América Latina.

Outras entrevistas já realizadas:

Juliani Arimura é graduada e mestre em engenharia de alimentos pela UNICAMP, com especialidade em Higiene e Legislação de Alimentos. Ela também possui um MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios pela FGV, e o mais importante, soma 26 anos de experiência como auditora líder. Coordena programas de avaliação de fornecedores e desenvolvimento de negócios em certificações de sistema de gestão da qualidade e segurança de alimentos, com atuação também em protocolos de sustentabilidade.

A Fundação FSSC pode ser acessada clicando aqui. Trata-se do esquema normativo em Food Safety com o maior número de certificados emitidos entre aqueles que são reconhecidos pelo GFSI, portanto, sua importância e relevância é indiscutível no cenários das certificações internacionais, impactando positivamente a segurança dos alimentos em toda cadeia produtiva de alimentos, bebidas e embalagens, e claro, sendo um elemento importante nas negociações entre os diversos stakeholders deste segmento.

  • Juliani, qual o segredo do sucesso da FSSC 22000 que desde o início se encontra na dianteira de outras normas com mais de 65% de market share entre as certificações aceitas pelo GFSI?

A FSSC nasceu do desejo de grandes indústrias de alimentos globais (Nestlé, Danone, Unilever, Coca-cola, Mondelez) de ter um esquema com base em uma norma ISO, reconhecido pela GFSI. Na época, entre 2007 e 2008, essas empresas, em conjunto com a Confederação das Indústrias de Alimentos e Bebidas da Europa, colaboraram na criação da PAS 220 para complementar a ISO 22000 e atender aos requisitos de benchmarking da GFSI. Desta forma, essas grandes indústrias motivaram suas plantas em todo o mundo, assim como a rede de fornecedores a também adotar a FSSC 22000, que posteriormente incluiu, ano a ano,  outras categorias  como embalagens, transporte e distribuição, alimentos para animais, catering, etc, cobrindo toda a cadeia de produção de alimentos.

  • Na sua opinião, o que mais destaca o protocolo FSSC 22000 em relação a outros esquemas normativos para gestão em segurança dos alimentos?

Por estar dentro da estrutura harmonizada de alto nível dos padrões ISO, a FSSC 22000 é facilmente integrável a outros temas como qualidade, meio ambiente, saúde e segurança, entre outros. As empresas precisam trabalhar com vários temas de relevância aos seus negócios e a possibilidade de integração de todos esses tópicos traz uma vantagem para os esquemas da FSSC. As normas do Sistema de Gestão ISO ajudam a estruturar, focar e impulsionar a melhoria contínua em uma organização, utilizando uma linguagem e abordagem comuns, reconhecendo os riscos e oportunidades com aprendizagem interfuncional.

  • Quais as principais oportunidades para o mercado brasileiro de alimentos no cenário internacional e como uma certificação em segurança dos alimentos pode agregar valor nisso?

O Brasil já vem sendo chamado por muito tempo de “celeiro do mundo”, mas é preciso agregar valor aos alimentos através da industrialização, não nos limitando a exportação de matérias-primas. Nesse sentido, as indústrias de alimentos devem demonstrar o atendimento aos padrões que qualidade e segurança requeridos pelos mercados compradores e a certificação é a declaração independente e reconhecida globalmente, de que uma organização cumpre o que ela se propõe. De uma forma muito transparente, os compradores podem acessar a página da FSSC e confirmar o status de certificação de seus fornecedores. Além disso, a FSSC também disponibiliza a plataforma “FSSC On-site” onde os assinantes podem receber em tempo real qualquer alteração na situação de certificação das empresas de seu interesse. Certamente uma certificação reconhecida abre portas para o mercado externo.

  • A versão 6 do BoS foi muito esperada. Quais as principais mudanças que se destacaram em relação à versão anterior?

A versão 6 veio para incorporar os requisitos da ISO 22003 revisada em 2022, fortalecer os requisitos para apoiar as organizações em suas contribuições para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, além de trazer mudanças e alterações editoriais como parte da melhoria contínua. Além disso, incorporou parâmetros de controle de qualidade e cultura de segurança de alimentos e qualidade e incluiu medidas para ajudar na autenticidade do certificado, como a inclusão de QR Code em todos os certificados.

  • Como são tomadas as decisões na fundação FSSC sobre os temas e o momento das atualizações no esquema normativo?

O BoS (Board of Stakeholders – Conselho de Partes Interessadas) representa de forma equilibrada os principais setores das indústrias de bens de consumo, através de representantes de indústrias, varejos, certificadoras, acreditadores, prestadores de serviços e associações de classe. Todas as alterações nos esquemas da FSSC passam pelo BoS para revisão final, discussão e tomada de decisão, apoiados por um Comitê Técnico Consultivo. A revisão do esquema acontece sempre que há alguma alteração em requisitos normativos, mudanças nos requisitos do IAF (International Acreditation Forum) ou nos requisitos de ‘benchmarking’, necessidades do mercado que resultam em inclusões de escopo ou alterações no esquema, processos de melhoria identificados por contribuições internas e externas, além da necessidade de alguma alteração ou correção.

  • Na sua visão, as auditorias não anunciadas exigidas pelo GFSI para os esquemas normativos agregam mais credibilidade aos processos de certificação?

Com certeza, auditorias não anunciadas obrigam as organizações a manterem seus padrões e controles implementados e adequados em qualquer momento, independentemente da auditoria. O fazer certo sem que ninguém esteja observando, fazer certo todas as vezes, também ajuda na evolução da maturidade da cultura de segurança de alimentos nas organizações.

Leia também:

Panorama das Certificações em Segurança dos Alimentos no Brasil

Disponíveis traduções da FSSC 22000 Versão 6

FSSC 22000 versão 6.0: overview sobre as principais mudanças

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