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Você está bebendo café ou sujidades torradas?

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Nada como um bom cafezinho, não é mesmo? Então prepare sua xicrinha e vamos ao artigo.

O cafeeiro (Coffea sp.) é um arbusto da família Rubiaceae e do gênero Coffea L., originário de um local chamado Kaffa nas terras altas da Etiópia na África, local onde os frutos e a planta eram chamados de “bunn” e o arbusto de “bunchum“.

A bebida produzida com o café é feita a partir de suas sementes, após serem torradas e moídas. O pó pode ser filtrado ou não, e a bebida é normalmente servida quente, mas também pode ser fria. Por conter em torno de 40 a 70 mg do alcaloide cafeína (trimetilxantina) a cada 100 mL da bebida, dependendo do método de preparo, o café tem uma ação estimulante, aumenta o estado de alerta e reduz a sensação de fadiga.

Entre as cerca de 103 espécies desse gênero, destacam-se três:

  1. Coffea arabica– suas variedades mais comuns são a Typica e o Bourbon, que originaram outras cultivares como a Caturra (Brasil e Colômbia), Mundo Novo (Brasil), Tico (América Central), San Ramon (América Central), Blue Mountain (Jamaica) e Sumatra (Indonésia). Dessas ainda se originaram outras como a Catuaí, híbrido do Mundo novo e do Caturra;
  2. Coffea canephora– sua variedade mais comum é a Robusta, sendo cultivada na África ocidental e central, no sudoeste da Ásia e em algumas regiões do Brasil, em especial no Espírito Santo, onde é conhecida como Conilon;
  3. Coffea liberica– sua variedade é chamada de Dewevrei, conhecida como Excelsa e é nativa da África, não sendo muito demandada.

Registros históricos de 575 d.C indicam o Iêmen, no atual sudoeste da Ásia, como a primeira região a receber as sementes de café. Lá os árabes dominaram rapidamente a técnica de plantio e preparação e nomearam as plantas de “kaweh” e sua bebida de “kahwah”, que pode ser traduzido como “força”.

Dali o café se espalhou por toda Arábia, porém, existiam várias proibições do consumo de álcool em virtude da religião islâmica. Em Meca, o emir Kha’ir Bey observou vários homens fora da mesquita bebendo o que lhe parecia ser álcool em locais que lembravam tabernas rudimentares. Ele fez perguntas e descobriu que na verdade era uma bebida nova, o café, então proibiu seu consumo naquela cidade, até que relatou sua ação ao sultão no Cairo, que posteriormente ordenou-lhe que revogasse a proibição, afinal não se tratava de uma bebida alcoólica.

Há relatos de que o sufi Baba Budan levou a planta de café do Iêmen para o Estado de Mysore na Índia e o cultivo começou a se espalhar em outras áreas além da Arábia.

Em 1475 uma loja de café foi aberta em Constantinopla, cidade onde a Ásia se encontra com a Europa. Lá foi apelidada de vinho da Arábia e se espalhou pelo mundo,  em grande parte, devido às trocas comerciais motivadas pelas grandes navegações e consequentes descobrimentos.

Em sua jornada o café chegou a Java, passou a ser foco do interesse comercial da Companhia da Índias Ocidentais. A partir daí, graças ao dinamismo marítimo holandês, foi introduzido no Novo Mundo, espalhando-se nas Guianas, Martinica, São Domingos, Porto Rico e Cuba.

Já por volta de 1570, o hábito de tomar café foi introduzido em Veneza, sendo proibido aos cristãos, até que o Papa Clemente VIII provou café, gostou do que bebeu, teve clemência e o liberou. Bendito seja ele por isso.

Daí em diante caiu no gosto europeu e em 1652 na Inglaterra foi aberta a primeira casa de café da Europa Ocidental. Cerca de 20 anos depois, a capital francesa Paris também inaugurava sua casa de café. A França foi o País no qual pela primeira foi adicionado açúcar, durante o reinado de Luiz XIV, a quem haviam oferecido um cafeeiro em 1713.

O café passou a fazer parte dos círculos intelectuais europeus, das mesas de discussão política nos famosos cafés de Paris. Foi de certo modo a bebida que “estimulou” o Iluminismo, que culminou na revolução Francesa, afinal, o café é um reconhecido estimulante devido à já citada cafeína, sendo uma bebida perfeita para longas conversas e animadas discussões.

Gravura do século XVIII que mostra Voltaire, Diderot e outros filósofos conversando em um café. 

No Brasil o café chegou em 1727 pelas mãos de Francisco de Mello Palheta, um oficial português que trouxe as primeiras mudas provenientes da Guiana Francesa, um presente que recebeu das mãos de Madame D’Orvilliers, esposa do governador de Caiena, e que obviamente, não imaginava no que o presente se tornaria para o Brasil.

Estas mudas foram plantadas no Pará, onde floresceram sem dificuldade. Depois, espalharam-se por todo o País, tornando-se um importante comodities comercial, tanto que tivemos o chamado “ciclo do café” que perdurou por mais de 100 anos, entre 1800 e 1930, no qual a cafeicultura se manteve como a principal atividade econômica do Brasil.

O resultado desta história é que o Brasil produz atualmente cerca de 58,8 milhões de sacas de café por ano (cada saca tem 60 kg), dos quais cerca de 40% ficam para o consumo interno e nos coloca na segunda posição entre os maiores consumidores da bebida em volume. Já numa avaliação per capita, segundo a Embrapa, o consumo brasileiro estimado gira em torno de 6,4 kg/ habitante/ ano. Os 60% restantes do café produzido seguem para exportação, sendo que somos o maior exportador mundial de café, aliás, posto que detemos há mais de 150 anos.

Tabela 1) Ranking dos maiores produtores internacionais de café:

Ranking País Participação total no mercado
Brasil 38,1 %
Vietnã 17,8%
Colômbia 6,7%
 Indonésia 5,6%
Etiópia 4,8%

Fonte: USDA, 2023

Como curiosidade, o maior consumidor de café per capita é a Finlândia com 12 kg/ habitante/ ano, depois vem a Noruega com 9,9, Islândia com 9, Dinamarca com 8,7 e Suécia com 8,2, o que mostra que os povos nórdicos realmente apreciam esta bebida. Imagine se ela já existisse nos tempos das invasões vikings.

Do café produzido no Brasil, o arábica corresponde a cerca de 64% e conilon a 36%. De uma forma geral, o café arábica é mais complexo, encorpado, suave e, por isso, é considerado um café mais fino, enquanto o conilon ou robusta é considerado um café mais neutro, com um leve amargor, porém possui mais substâncias solúveis (açúcares e cafeína) com grande aceitação no mercado americano e europeu, sendo muito valorizado para composição de blends e pela indústria de café instantâneo.

Mas o café que você toma é café mesmo ou impurezas bem torradinhas?

O Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal da Secretaria de Defesa Agropecuária do MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), entre os dias 18 e 28 de março deste ano, numa ação de fiscalização denominada “Operação Valoriza”, coletou 168 amostras de café torrado e moído por todo o Brasil para realizar análises.

O resultado desta fiscalização indicou que 14 marcas continham matérias estranhas e impurezas ou elementos estranhos acima dos limites permitidos pela Portaria da Secretaria de Defesa Agropecuária – SDA Nº 570, de 9 de maio de 2022, que dispõe sobre requisitos de identidade e qualidade, amostragem, modo de apresentação e a marcação ou rotulagem, nos aspectos referentes à classificação do café torrado e moído.

Tabela 2) Marcas que foram identificadas como impróprias:

Fonte: MAPA, 2024

Este produtos que foram considerados impróprios para consumo deverão ser recolhidos pelas empresas responsáveis, pois o café identificado com este tipo de “material estranho” configura adulteração, fraude ou falsificação. Em alguns casos, pode até significar riscos à saúde pública.

A orientação aos consumidores é que não consumam estes produtos, podendo solicitar sua substituição nos locais onde eles foram adquiridos conforme determina o Código de Defesa do Consumidor.

Normalmente os materiais estranhos mais comuns no café são os defeitos que ao longo do processo de beneficiamento devem ser separados e eliminados, como cascas do café, pedaços da planta como pequenos galhos/ caules, folhas, grãos chochos ou brocados. Porém, também podem prover de falhas de BPF (Boas Práticas de Fabricação) como ácaros, larvas, insetos e seus fragmentos, pelos de roedores, bárbulas etc.

Tais problemas podem ser gerados devido à incompetência no controle dos processos. Porém, mais comumente e infelizmente, ocorrem por má fé, fazendo-se uso da adição do residual de defeitos que deveriam ser descartados ao café que receberá uma torra excessiva para disfarçar estes problemas. Depois este café costuma ser comercializado sob o nome de “extra forte”, mas de forte não tem nada, apenas material carbonizado que gera uma cor muito escura e um sabor residual amargo.

Quando um produtor permite um número de defeitos ou materiais estranhos acima do permitido, isso significa na prática que ele está fraudando o consumidor, pois está vendendo sujidades torradas como se fosse café, em busca de vantagens econômicas.

Um bom café, ou seja, com grãos selecionados e baixa impureza, não requer torra excessiva. Sua cor é um castanho escuro de tons levemente avermelhados e intensas notas sensoriais, pois com a torra cuidadosa são conservados os óleos essenciais que remetem a nuances aromáticos de caramelo, chocolate, nozes, baunilha e mel. Justamente por isso, um bom café dispensa ser adoçado.

O lado bom é que apesar dos maus produtores, os bons são a maioria, e justamente por isso, o Brasil se destaca há tanto tempo no mercado internacional desta bebida, e a cada dia surgem melhores cafés. O fator qualidade tem se sobreposto em relação ao volume para muitos produtores, e cada vez mais se valoriza o terroir de sua produção, plena seleção de grãos, cuidados especiais de torra e combinações utilizando-se o melhor do café conilon que se destaca no Espírito Santo e do arábica que se destaca em Minas Gerais.

Tabela 3) Maiores Estados produtores de café no Brasil:

Ranking Estado Participação total no mercado
Minas Gerais 50,8 %
2 ° Espírito Santo 25,3 %
3 ° São Paulo 9,0 %
4 ° Bahia 6,7 %
5 ° Rondônia 5,7 %

Fonte: Sumário Executivo Café, 2023

Na prevenção de fraudes em alimentos e bebidas a informação ao consumidor é uma arma valiosa, e claro, ações de fiscalização para coibir práticas fraudulentas para que as tornem inviáveis economicamente são fundamentais.

Termino aqui meu artigo e vou tomar mais uma xícara de café! Deixe seu comentário, ele é muito importante para nós.

Leia também sobre café:

  1. Sujidades leves em café torrado – Embrapa
  2. Os defeitos dos grãos e café e suas principais causas – Rehagro
  3. Mapa divulga lista de marcas e lotes de café torrado impróprios para consumo – MAPA
  4. Quais são os 5 maiores produtores de café no mundo? Brasil se destaca! – Agroadvance
  5. Consumo interno de café no Brasil – Embrapa
  6. Degradação da Ocratoxina (OTA) no café por emprego de temperatura
  7. PROTESTE detecta quase o triplo de Ocratoxina A e seis vezes mais fragmentos de insetos em Café

Leia também sobre fraudes em alimentos e bebidas:

  1. Fraudes históricas no vinho
  2. Dicas para prevenir a compra de azeite de oliva fraudado
  3. Aprenda a escolher um bacalhau de verdade
  4. Cachaça boa é a cachaça segura
  5. Boas práticas para garantir qualidade e segurança da pimenta-do-reino

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Desafios da validação de limpeza nas empresas de alimentos

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Nas empresas de alimentos, o tema validação de limpeza é muito comentado e é um requisito auditado em muitas normas de segurança de alimentos. Por isso, penso ser importante explicar alguns dos desafios relacionados a esta prática, além das análises propriamente ditas.

No artigo anterior sobre validação de limpeza, mostramos as principais etapas do processo de limpeza.

Em 2021, o EHEDG publicou o guia 45, com explicações detalhadas do processo. Quando dizemos validação de limpeza, pode ser com ou sem desinfecção.

A validação de limpeza não é só responsabilidade do(a) higienista ou da área de qualidade.

Isso mesmo: algumas empresas nomearam um higienista com a responsabilidade da adequação dos processos de higienização. Dessa forma, o(a) higienista é responsável pela validação da limpeza.

Quando não há higienista, a responsabilidade é da qualidade.

O termo responsabilidade não é apropriado, pois deveria ser a liderança do processo.

As normas de segurança de alimentos mencionam várias vezes o termo equipe multidisciplinar em vários requisitos. Isso porque realmente a validação necessita da participação de várias áreas e pessoas.

Vou explicar nos próximos itens.

  • Definição do pior cenário

O objetivo desse termo é que a área de Produção juntamente com a Qualidade definam qual é o cenário limite.

Se cumprirmos esse limite, ao executar a higienização, ela será eficaz para atingir os critérios de aceitação.

Esses critérios serão importantes para que o próximo ciclo produtivo seja realizado sem risco à segurança dos produtos.

O pior cenário pode variar para cada processo e pode ser baseado em vários fatores:

  • Tempo máximo de operação,
  • Sequência de tipos de produtos,
  • Temperatura da água quente ou vapor,
  • Outros.

Após definido o pior cenário, ou cenário limite, e validado, é imprescindível que a área de produção cumpra todo o procedimento, não extrapolando esses limites. Por isso, é necessário alinhamento com o responsável da produção.

  • Manutenção dos equipamentos antes do processo de validação

Como descrito no artigo sobre manutenção, antes da validação de limpeza é importante realizar a manutenção dos equipamentos, para evitar surpresas com resultados fora dos critérios de aceitação.

  • Gestão de mudanças

Também um dos desafios das empresas é ter procedimentos escritos que realmente sejam executados e que estejam atualizados.

A automação é uma ferramenta muito útil e segura para que os processos sejam padronizados e inter-travados.

Mas há uma ameaça em relação à segurança de senhas de administradores. Se não houver uma política rigorosa de controle de acessos, o sistema pode ficar vulnerável.

Além disso, qualquer teste temporário deve ser controlado em relação ao prazo de realização e análise dos resultados, para evitar que testes sem avaliação ou com resultados negativos impactem a segurança dos alimentos.

  • Modificações de projetos, linhas e equipamentos

Ao realizar o processo de validação com abertura de pontos difíceis de higienização, pode haver a necessidade de modificação de linhas e ou de equipamentos. Pode ser necessária a eliminação, por exemplo, de pontos mortos e necessidade de aplicação de princípios de projeto sanitário e design higiênico.

As normas de segurança de alimentos, como a FSSC 22.000, incluíram requisitos específicos sobre análise de risco em relação a equipamentos novos e linhas existentes para atendimento de diretrizes de projeto sanitário, mencionando guias do EHEDG e 3A sanitary.

Analisar os riscos de projeto sanitário pode economizar tempo do processo de validação, pois se houver problemas, eles poderão ser resolvidos antes da validação de limpeza.

Resumindo: o processo de validação de limpeza é um trabalho em equipe e o planejamento é fundamental para obter o sucesso.  Além disso, é importante gerar documentos adequados  e melhorar processos continuamente, sempre com o objetivo de produzir alimentos seguros.

Leia também:

Inclua a Manutenção na Validação de Higienização

Validação de Limpeza | Manual Gratuito EHEDG

 

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Risco de dioxinas e furanos nos alimentos

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Entre os riscos de contaminantes químicos potenciais nos alimentos, um dos mais temidos são as dioxinas e os furanos. São compostos solúveis em gordura (lipofílicos) e, assim, bioacumulativos na cadeia alimentar, especialmente associados com carne, leite e seus derivados.

Dioxinas e furanos são duas classes de compostos aromáticos tricíclicos, de função éter, com estrutura quase planar e que possuem propriedades físicas e químicas semelhantes.

Nestes compostos, os átomos de cloro se ligam aos anéis benzênicos, possibilitando a formação de um grande número de congêneres: 75 para as dioxinas e 135 para os furanos, totalizando 210 compostos.

Das 210 dioxinas e furanos existentes, 17 compostos com substituições nas posições 2, 3, 7 e 8 destacam-se sob o ponto de vista toxicológico. A toxidade aguda mais elevada é para o 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (2,3,7,8-TCDD), que é ultrapassado somente por algumas outras toxinas de origem natural. Veja a tabela a seguir:

A contaminação em pequenas doses não é facilmente perceptível, porque em curto espaço de tempo não gera sintomas, mas como são cumulativas no organismos, podem causar intoxicações a médio e longo prazo.

Problemas comumente associados com estas moléculas são a cloroacne, que se apresenta como um tipo de erupção, cistos ou fissuras semelhantes à acne na pele, além de manchas escuras e mudanças nas funções do fígado.

Porém, os casos podem ser mais graves. As dioxinas e os furanos foram incluídos na lista de substância cancerígenas do programa Nacional de Toxicologia (NTP) dos EUA, com base nos estudos do Instituto Nacional da Saúde (NHIS – National Health Interview Survey) em 2001. Até então, eram classificados pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (USEPA – United States Environmental Protection Agency) no grupo B1 (provável carcinogênico).

As evidências disponíveis apontam fortemente que a TCDD exerce seu efeito carcinogênico primariamente por meio de sua efetividade como agente promotor de estimulação de replicação de células de maneira reversível e inibindo apoptoses.

O 2,3,7,8-TCDD tem a propriedade de se tornar um produtor de proteínas se inserido nas células do corpo. Ele penetra no núcleo da célula e combina-se com o DNA, depois direciona a função das células para a produção de proteínas, o que resulta finalmente em um enfraquecimento do sistema celular, inclusive o imunológico.

ROTAS DE EXPOSIÇÃO

As rotas de exposição identificadas incluem exposição direta pelas emissões atmosféricas e de chaminés e exposição indireta pela contaminação do solo e de produtos alimentícios, água e outros elementos.

ar > solo > vegetais > animais > seres humanos

O isômero 2,3,7,8-TCDD é extremamente estável quimicamente e é consideravelmente insolúvel em água e em muitos compostos orgânicos, mas é muito solúvel em óleos e gorduras. Assim,  suas propriedades fazem com que não seja levado pela chuva, tornando-se um resíduo cumulativo.

A sequência de reações de formação dos PCDD e PCDF não é bem entendida ou conhecida, mas existem três teorias básicas para a ocorrência desses compostos em incineradores:

  1. Ocorrem como constituintes em pequeníssimas quantidades, traços, no próprio resíduos e uma parte passa através do incinerador, sem transformação;
  2. São produzidos durante a incineração ou em caldeiras, a partir de precursores, como o PCB (bifenila policlorada), os pentaclorofenois e os benzenos clorados;
  3. São produzidas a partir de materiais não diretamente relacionados a esses compostos (ex.: produtos de petróleo em geral, hidrocarbonetos clorados, íons cloreto inorgânico e plásticos).

A 1ª hipótese tem sido descartada nos casos em que a temperatura de combustão dos fornos é alta o suficiente para destruir os PCDD e PCDF, como ocorre na incineração de resíduos em que a temperatura está próxima ou acima de 900ºC e o tempo de residência é alto (1 a 2 segundos).

A 3ª hipótese é a mais aceita, pelo mecanismo conhecido como síntese “de novo” que permite chegar a moléculas complexas a partir de moléculas simples por reações elementares entre C, H, O e Cl.

Observa-se a formação de dioxinas, furanos e compostos relacionados com o benzeno e fenóis clorados no carbono residual coletado na saída de sistemas de combustão (região de temperatura entre 300 a 400ºC), quando na presença de HCl, O2 e H2O. Essas reações são catalisadas por vários metais, óxidos metálicos e silicatos, também presentes no material particulado arrastado.

Por isso, sua geração está associada a processos de combustão que podem ocorrer em:

  1. Incineradores de lixo municipal, de resíduos industriais, de lodos residuários e hospitalares;
  2. Plantas de preparação e termelétricas de carvão;
  3. Queima ao ar livre de resíduos de madeira;
  4. Veículos automotores;
  5. Fumaça de cigarro;
  6. Lareiras que queimam madeira;
  7. Aciarias;
  8. Fundições de cobre;
  9. Outros processos similares.

Tal síntese ocorre especialmente quando na combustão há presença de subproduto da sínteses de herbicidas, desinfetantes e outros; PCB (formação de furanos somente); componentes agente laranja (2,4,5-T e 2,4-D); benzenos clorados; compostos de cloro e bromo assemelhados; diversos derivados de petróleo.

O NOTÓRIO CASO BELGA

O caso mais conhecido de alimentos contaminados com dioxinas e furanos ocorreu em 1999, quando um produtor de Roulers, norte da Bélgica, ficou intrigado com a falta de apetite de seus frangos e com a diminuição da produção de ovos.

Nesta ocasião, os veterinários levantaram a hipóteses de uma contaminação por dioxina na ração dos frangos.

Certificados da hipótese, o governo belga estimou que 80 mil toneladas de ração potencialmente contaminada foram fornecidas a 1400 fazendas, o que corresponde a metade das granjas daquele país, sendo que 40% de produção suína e 17% da pecuária foram atingidas.

O governo da Bélgica, apenas pela hipótese de algumas fazendas não terem se submetido ao controle de qualidade dos seus rebanhos, resolveu interditar 230 fazendas e proibir a comercialização de centenas de milhares de animais.

Vários países na Europa, EUA, Japão e inclusive Brasil cancelaram as exportações de produtos granjeiros provenientes da Bélgica, tais como linguiças, carne de aves, de gado, leite e derivados, o que evidentemente levou o país a ter um prejuízo de milhões de euros.

O Ministro da Agricultura da Holanda teve de renunciar após descobrirem que conscientemente havia importado ração de origem belga potencialmente contaminada com dioxina.

A Nestlé suspendeu temporariamente a produção em sua fábrica de chocolates na Bélgica. Em Paris e na França, a cadeia McDonalds recolheu do mercado toda sobremesa à base de leite, pois o fornecedor de produtos para fabricação de sorvetes era uma companhia belga.

Inicialmente as autoridades belgas não concluíram se a dioxina teve origem numa fábrica de Ghent ou se veio de material vendido à fábrica por fornecedores que reaproveitam azeite e gorduras usados em restaurantes.

Houve muitas hipóteses sobre a origem da contaminação. Por isso, foi investigada uma ampla gama de possibilidades: detergentes, pesticidas, tintas etc., mas ao final, a ração diária do rebanho foi identificada como principal responsável pela contaminação.

Vários componentes da ração foram analisados separadamente e o farelo de polpa cítrica, proveniente justamente do Brasil, foi identificado como fonte potencial mais provável de contaminação.

A rastreabilidade demonstrou que esta polpa cítrica tinha sua acidez neutralizada por cal (CaO) e este foi identificado como principal contaminante potencial: a cal é obtida pela combustão do CaCO3 em fornos, e se este processo for realizado sem os devidos cuidados e com a utilização de materiais impróprios como combustível (como plásticos, pneus, madeira fumigada, etc), pode haver formação de dioxinas e furanos que vão se impregnar na cal.

Rastreabilidade da possível rota de contaminação da polpa cítrica por dioxinas.

Milhares de toneladas de polpa cítrica foram destruídas no exterior e outras milhares de toneladas deixaram de ser exportadas pelo Brasil.

PARA CONCLUIR

Dioxinas e furanos são perigos normalmente de baixa probabilidade na cadeia produtiva de alimentos, exceto quando as rotas produtivas esbarram direta ou indiretamente com suas fontes geradoras. No entanto, quando ocorrem, são de alta gravidade, seja pelos danos à saúde humana que devem ser o elemento de consideração prioritária, como também pelos colossais prejuízos econômicos que podem ocasionar em decorrência do rompimento de contratos e consequente perda de credibilidade em relação aos produtores.

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Convite para o VI Workshop do Food Safety Brazil

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Você é um profissional ou estudante da área de segurança de alimentos e deseja estar sempre à frente das inovações, desafios e melhores práticas do setor? Então, você não pode perder o VI Workshop do Food Safety Brazil – O que esperar do Futuro, que será realizado nos dias 15 e 16 de agosto no CREA-SP!

Este evento é uma oportunidade única para se atualizar sobre os temas mais relevantes e emergentes da segurança de alimentos. Será um espaço para aprendizado, troca de experiências e networking com grandes nomes da área. Confira abaixo as palestras já confirmadas:

Por que participar deste evento é fundamental?

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Os riscos no transporte de alimentos ainda são ignorados – Entrevista com Hans Philipowski

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O alemão e engenheiro de processos Hans Philipowski é presidente da ENFIT, Associação Internacional de Segurança da Cadeia de Abastecimento (organização sem fins lucrativos). Ativista da causa de demonstrar quanto os riscos de segurança de alimentos vêm sendo negligenciados e precisam ser tratados, ele nos convence com fatos e dados de que o armazenamento e transporte de alimentos não podem ser subestimados.

Nesta conversa, ele abre nossos olhos sobre o quanto podemos estar focando exclusivamente em nossas fábricas e esquecendo esta etapa que, sim, pode mudar tudo.

Juliane Dias: A indústria alimentícia empenha-se para mitigar riscos de contaminação em seus processos. O transporte é realmente levado a sério?

Desde a fundação da ENFIT, sabemos que o transporte de alimentos ainda não é realmente um foco, apesar dos nossos anos de esforços de sensibilização. Alguns fabricantes  que também se tornaram membros da ENFIT, como Mondelez, ADM e IndoAdriatik, reconheceram que existem riscos significativos nesta área. Portanto, estamos trabalhando com todas as empresas mencionadas para aplicar a ENFIT THR-Analysis (Transport Hygiene Risk Analysis) que desenvolvemos. Principalmente, a Análise THR é aplicada aos seus próprios locais de produção e aos locais de produção dos seus fornecedores de matérias-primas. As primeiras análises que realizamos desde o início deste ano mostraram resultados catastróficos. Existem deficiências no projeto sanitário dos contentores de transporte, na limpeza destes, nos dutos de ar e nos filtros, vedações defeituosas. Há informações incorretas nos documentos de limpeza e nos processos de limpeza não rastreáveis. Particularmente dignos de nota foram os dutos de ar, filtros, acessórios, etc.

Juliane Dias: Dutos de ar realmente não são pontos que costumam aparecer em check-lists de conformidade de tanques. Fale mais sobre isso.

O termo “duto de ar” é enganoso neste contexto. Os dutos de ar são normalmente usados no compressor do caminhão para criar uma pressão positiva no contêiner de transporte para descarregar líquidos ou produtos a granel. Isto é conhecido como “descarga com ar comprimido” para caminhões-tanque ou “transporte pneumático” para mercadorias a granel em silos a granel. Nossa constatação foi que os dutos de ar estão em contato direto com o produto transportado. Isto significa que, durante o transporte, o produto flui para os dutos de ar. Como os dutos de ar não foram construídos de acordo com as regras de desenho sanitário  (ninguém achou importante porque esses dutos foram projetados para o ar comprimido do compressor), é muito difícil limpar os dutos de ar após o transporte. Até agora, ninguém se preocupou em verificar os resultados da limpeza. Pior ainda: esses dutos de ar muitas vezes nem são limpos. Se isso levar a uma contaminação significativa nestas condições,  haverá surpresa. Veja os exemplos nas imagens para tornar as informações mais claras.

Juliane Dias: Ataques de contaminação intencional (Food Defense) durante o transporte de alimentos são uma hipótese ou já existem casos documentados?

Gostaria de responder desta forma: não há casos documentados. A razão para isto é que o risco de transporte foi em grande parte ignorado. E quando não são realizadas inspeções, nada pode ser descoberto ou atribuído. Veja minha resposta à primeira pergunta. Veja quantos recalls ocorrem todos os dias. Às vezes é Salmonela no chocolate ou em alimentos para bebês. Outras vezes, é contaminação com alergênicos, fragmentos de plástico ou metal. A causa é sempre procurada só nas fábricas e não estou convencido de que a causa tenha sido claramente identificada em todos os casos, mesmo que o público seja informado de que as causas foram encontradas e o problema resolvido. O que uma empresa pode fazer se não encontrar a causa? Deveria fornecer uma declaração positiva aos consumidores. Caso contrário, perde-se completamente a confiança. Como o transporte não tem sido um foco até agora, as contaminações provenientes do transporte nunca foram atribuídas a ele. Tenho certeza de que isso mudará no futuro.

Juliane Dias:  E que problemas de manipulação e higienização já foram diagnosticados?

Existem manipulações significativas nas pré-cargas e no próprio processo de limpeza. Os fabricantes de alimentos geralmente definem listas de proibição de cargas anteriores. Geralmente é uma lista de produtos com os quais há histórico de experiências ruins. Vou dar um exemplo: se o destinatário do suco de fruta concentrado uma vez encontrou resíduos de chocolate no suco de fruta, então “chocolate” entra nesta lista de proibições. A premissa passa a ser que o chocolate pode ser um problema e eles querem se proteger contra ele no futuro. No entanto, pela nossa experiência, o problema não é o “chocolate”, mas sim a má limpeza. Se o contentor de transporte não for limpo de forma correta e profissional, esse é o motivo da existência de resíduos de chocolate na carcaça de transporte. Se o concentrado de suco de frutas permanecer e for transportado posteriormente, ele contaminará a próxima carga. O que uma empresa de transporte faz se receber a ordem de transportar suco de frutas concentrado e já tiver carregado anteriormente um produto dessa lista de proibição? Deveria recusar a ordem? Recomenda o concorrente? Dificilmente. Porque a empresa de transportes precisa do frete para sobreviver economicamente. Então, o que a empresa de transporte faz? Geralmente instrui o motorista a registrar um produto diferente como a última carga na estação de limpeza. Este produto (geralmente são solicitadas as três últimas cargas) é inserido pelo motorista na ordem de limpeza. Às vezes você encontra a anotação em um documento de limpeza: “Suco de maçã, suco de maçã, suco de maçã *informações do motorista”. Se isto for notado pelo próximo carregador (poderá ser solicitado à empresa de transporte que forneça os últimos três documentos de carregamento como prova), este poderá argumentar que o motorista cometeu um erro. É assim que funciona na prática. Isto não é uma manipulação como a remoção de um lacre e a introdução de veneno ou contaminantes no produto, mas ainda assim uma declaração falsa é uma fraude e claramente se enquadra nos requisitos de Food Defense a meu ver.

Juliane Dias: Quais lições aprendidas com os casos europeus podem ser aplicadas no Brasil, considerando a complexidade e extensão da nossa cadeia alimentar?

Acho que essa pergunta é muito fácil de responder. Dado que o transporte de matérias-primas é um negócio global, podemos deduzir dos resultados que é também um problema global. A falta de higiene nos transportes não é, portanto, uma questão apenas para os produtores nacionais, mas também um problema de alto risco para as empresas internacionais. Estou, portanto, firmemente convicto de que devemos fazer as mesmas exigências em matéria de segurança dos alimentos em todos os países, incluindo aqueles fora da Europa, e que precisamos dos mesmos conceitos para implementação. Os consumidores de todo o mundo devem poder confiar na conscientização dos produtores para a segurança.

As imagens contidas neste post foram fornecidas pelo entrevistado.

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GFSI, FSSC, BRCGS, IFS e SQF: entenda esta sopa de letrinhas

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Imagine que você está comprando alimentos no supermercado e quer ter certeza de que tudo está seguro e tem alta qualidade. Para isso, você pode procurar selos de qualidade nos produtos, assim como observamos certificações em eletrodomésticos ou brinquedos.

Agora, no mundo dos alimentos, existem várias certificações que as empresas podem obter para mostrar que seus produtos são seguros. Aqui entram as siglas como FSSC, BRCGS, IFS e SQF. Essas certificações são como “garantias de qualidade” que as empresas recebem após passar por rigorosas auditorias.

Mas quem garante que essas certificações realmente significam qualidade e segurança? É aqui que entra a GFSI (Global Food Safety Initiative).

O que é a GFSI? 

GFSI NÃO é uma certificação, mas uma iniciativa global que define os critérios de segurança de alimentos que uma certificação precisa atender para ser reconhecida internacionalmente. Pense na GFSI como um “controle de qualidade” para as próprias certificações.

Como funciona a GFSI?

  1. Definição de Critérios: A GFSI estabelece padrões e requisitos globais para garantir que qualquer certificação de segurança de alimentos reconhecida por ela siga as melhores práticas da indústria.
  2. Reconhecimento de Certificações: Certificações como FSSC, BRCGS, IFS e SQF são reconhecidas pela GFSI. Elas passam por um rigoroso processo de avaliação para garantir que atendem aos critérios globais de segurança de alimentos.
  3. Confiança para consumidores e empresas: Quando você vê um produto com uma certificação reconhecida pela GFSI, pode confiar que esse alimento passou por um rigoroso processo de verificação de segurança e qualidade.

Principais certificações reconhecidas pela GFSI

  • BRCGS (Brand Reputation through Compliance Global Standards): Originalmente conhecido como BRC, este esquema é amplamente utilizado em todo o mundo e abrange várias normas, incluindo segurança de alimentos, embalagem e materiais de embalagem, armazenamento e distribuição.
  • IFS (International Featured Standards): Este esquema é popular na Europa e é usado principalmente por varejistas e atacadistas. Inclui normas para alimentos, logística e outras áreas.
  • FSSC 22000 (Food Safety System Certification 22000): Baseado na norma ISO 22000, este esquema é amplamente aceito no mundo e cobre toda a cadeia de fornecimento de alimentos.
  • SQF (Safe Quality Food): Este esquema é muito utilizado na América do Norte e Austrália, oferecendo normas para segurança e qualidade dos alimentos.
  • GlobalG.A.P.: Este esquema é focado na produção agrícola primária, cobrindo frutas, vegetais, produção animal e outros produtos agrícolas.
  • CanadaGAP: Este é um esquema específico para o Canadá, focado na segurança de produtos frescos e vegetais.
  • PrimusGFS: Popular na América do Norte, este esquema é utilizado principalmente na indústria de frutas e vegetais.
  • Japan Food Safety Management Association (JFSM): Um esquema de certificação de segurança de alimentos específico do Japão.

Correlacionando tudo

Pense no GFSI como um selo de aprovação que diz: “Esses sistemas de certificação são bons”. Se uma fábrica tem uma certificação citada acima, significa que ela segue práticas seguras e de alta qualidade, conforme reconhecido pelo GFSI.

Mas afinal, qual o papel das certificadoras?

As certificadoras são como “auditores” que visitam as fábricas para verificar se elas estão seguindo as regras desses sistemas de certificação. Elas realizam auditorias e inspeções para garantir que tudo esteja em ordem. Se tudo estiver conforme, elas emitem um certificado que diz: “Esta fábrica segue as melhores práticas de segurança e qualidade de alimentos”.

Resumindo

  1. GFSI: Supervisiona e aprova outros sistemas de certificação.
  2. BRGCS, IFS, FSSC, SQF, GlobalG.A.P, CanadaGAP, PrimusGFS, JFSM: Sistemas de certificação específicos aprovados pelo GFSI.
  3. Certificadoras: Auditores que verificam se as fábricas seguem as regras desses sistemas e emitem certificados.

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Destaques do IX Encontro dos Profissionais da Garantia da Qualidade – 3

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Retomando os pontos mais interessantes do IX Encontro dos Profissionais da Garantia da Qualidade!

O evento contou com a participação de Roberto Melco – gerente de expansão da Intertek –  que apresentou soluções diversificadas como auditorias, testes, inspeção, consultorias em Assuntos Regulatórios e Treinamentos, na área de alimentos e agrícola.

Em seguida, Adriana Sakata fez uma contundente palestra  sobre os desafios da drenagem segura integrada à indústria moderna. Ela mostrou a forma correta de manter a drenagem limpa para prevenir espalhamento de contaminação, evitar poças e usar grelhas e ralos antiderrapantes.

Com frequência subestima-se a capacidade e o risco dos sistemas de drenagem. Muitas vezes há equipamentos sobre grelhas, sobrepostos, que dificultam a limpeza adequada.

A palestrante explicou as diferenças entre processos com design sanitário, garantindo drenagens adequadas e a importância do dimensionamento e vazão corretos, para evitar vazamentos nas descargas de equipamentos. Destacou que CIPs sejam direcionados aos canais e ralos corretos, sem geração de vapor ou poças.

A saída da tubulação (air gap) tem que ser de pelo menos duas vezes a largura da tubulação, que nunca deve encostar na grelha. Em fábricas onde a limpeza é feita a seco, pode-se trabalhar com ralos vedados, para evitar entrada de pragas, mas os ralos podem ser usados em caso de necessidade.

A interface entre a drenagem e o piso deve ser feita com selante adequado, para que não haja desgaste. Caixas de passagens devem somente receber as tubulações e ficar sempre fechadas. Idealmente devem ser instaladas fora da fábrica (aprenda mais em O papel da drenagem higiênica na indústria alimentícia).

Adriana trouxe muitos exemplos reais, de instalações inadequadas e que, com certeza, trazem riscos para os alimentos e colaboradores.

Depois foi a vez de Erica Vianna, gerente de Food Safety da Amazon, nos encantar o tema Gestão de Food Safety no e-commerce e com as aplicações de IA no sistema de gestão das vendas e estoques, apresentando robôs autônomos trabalhando para atender pedidos expressos.

Controles operacionais não devem estar na mão de pessoas, para garantir uniformidade e velocidade das ações. Assim, empresas tentam automatizar o máximo de processos possíveis.

Tecnologias disruptivas que são usadas nas inovações de equipamentos são também usadas na área de varejo para alimentos, com 11 centros de distribuição e parceiros no Brasil.

O ponto alto foi a fala sobre a obsessão pelo cliente, de trás para a frente, conceito originado pelo fundador da Amazon, que permeia toda a cultura e valores da empresa. O conceito leva em conta que toda decisão deve sempre avaliar como é a expectativa do cliente para então se planejar um processo.

Erica falou sobre os “times de duas pizzas” –  equipes que devem ter no máximo o número de pessoas que comeriam 2 pizzas, equipes enxutas para tomar decisões rápidas e focadas. Elas monitoram comentários de clientes, focam o comportamento de cultura, com planejamento, constância, com ferramentas de informação, vendo a operação como cliente interno. Controles são importantes, mas sempre implementados em pontos estratégicos, que não impactem a velocidade da operação, sem perder o foco na velocidade de entrega. Foi uma das melhores aulas de gestão e customer excelence que já vi!

Para encerrar o dia, recebemos a incrível Livia Azevedo, diretora de Felicidade Corporativa, da Heineken, que apresentou o tema “Jornada de Felicidade”.

Lívia mostrou dados dos quais eu até então nunca tinha ouvido falar. A felicidade é medida por meio de diferentes componentes, sendo que 50% são genes, 40% são hábitos e 10% circunstâncias.

A decisão da criação desta diretoria veio de estudos de organizações como o Google, nos quais verificou-se que Felicidade traz resultados para indivíduos e organizações. Define-se felicidade como um sentimento de bem-estar e de contentamento, único e individual. Porém, existem múltiplas felicidades e ela não é constante.

Trabalho vem do latim e quer dizer tortura. Infelicidade no trabalho e doenças mentais, como burnout, acometem muita gente e geram perdas de US$8.8 T, 9% do PIB global (segundo Instituto Gallup, 2023). Na estratégia de negócios da Heineken, o pilar de pessoas é a responsabilidade primária da presidência, que acredita que felicidade no trabalho deve ser a prioridade.

Lívia apresentou o projeto Embaixadores da Felicidade, que visa atuar junto aos 14.000 colaboradores da empresa e, já no primeiro ano, conseguiu atrair 1.000 embaixadores internos. A dinâmica do programa consiste em fazer pesquisa quinzenal com os 14.000 colaboradores para avaliar o nível de felicidade e conversar com as pessoas sobre os resultados. Já conseguiram chegar a 85% de respondentes. Felicidade faz parte da Cultura (e você pode se aprofundar neste tema lendo Cultura de Segurança de Alimentos e Clima Organizacional) e as pessoas passaram a ver valor, ver que é possível sair do piloto automático e realmente pensar e mudar suas ações.

Além das pesquisas, implementaram o programa Be Leader – pois entenderam que a Felicidade começa com os líderes. Eles trabalham conceitos como a segurança psicológica, para que o líder possa criar conexões e engaje seus colaboradores para que se sintam pertencentes.

Terminamos o dia com o coração quentinho e esperançoso de que a vida corporativa pode ser mais leve e feliz! Que mais empresas criem diretorias de felicidade e possamos ter mais saúde mental nas indústrias de alimentos!

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Como adotar práticas mais sustentáveis na indústria de alimentos?

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As indústrias produtoras de alimentos são regidas por regulamentos e cada dia mais estão adotando certificações em segurança de alimentos, o que as torna mais competitivas. Entre as certificações existentes, a FSSC 22000 é uma das mais adotadas dentro dessa cadeia de alimentos. Sua última atualização é a de 2023,  versão 6.0, que começou a vigorar em abril de 2024. Esta versão faz uma ligação entre práticas sustentáveis e segurança de alimentos.

A sustentabilidade ambiental e uso consciente dos recursos naturais faz parte, inclusive, da lista dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU, também publicada em 2023. Trata-se de uma iniciativa global, adotada por todos os Estados Membros das Nações Unidas, em um esforço conjunto para abordar desafios globais.

O debate sobre a sustentabilidade está presente em diferentes esferas e setores, tanto no que tange às indústrias quanto aos setores produtivos agrícolas e consumidores. E a sustentabilidade, pensando em meio ambiente, é um dos aspectos da tríade composta por meio ambiente, sociedade e economia. Num conceito mais amplo, a ideia é produzir de forma a permitir que as futuras gerações tenham acesso ao necessário para atender suas demandas. Isso é fundamental pensando em recursos naturais, enquanto sociedade e economia. Uma mudança nesse olhar tem se intensificado diante da demanda crescente pela produção de alimentos, com a preocupação dos consumidores sobre como esses alimentos são produzidos considerando os recursos naturais.

E quando estamos na indústria, seja produtora do alimento ou produtora de embalagens para acondicionar alimentos, como podemos trabalhar voltados para essas práticas sustentáveis?

Nesse ano de 2024, alguns eventos abordaram esse tema.  Algumas informações que se aplicam à produção e aos materiais destinados às embalagens de alimentos são:

  1. A possibilidade de diminuirmos o número de envoltórios utilizados para embalar um alimento – alguns casos exigem mais de uma embalagem plástica para um único produto;
  2. A possibilidade de diminuirmos a espessura de plástico nas embalagens;
  3. A possibilidade de migração da embalagem plástica para a embalagem de papel;
  4. Optarmos por embalagens plásticas produzidas com materiais recicláveis

Essas seriam algumas alternativas na indústria de embalagem. Naturalmente precisam ser avaliadas do ponto de vista de custos, cadeia de produção, distribuição e inclusive segurança do alimento.

Uma vez que a embalagem tem papel importante na conservação do alimento, seja protegendo contra perigos físicos, seja como barreira à entrada de oxigênio e possível multiplicação microbiológica no alimento, as perguntas são: um filme mais fino continuaria protegendo o alimento? Um filme reciclável também permite a mesma barreira à entrada de oxigênio? Esse é o desafio das empresas de embalagem, ter soluções seguras com valores compatíveis, o que certamente aumentará o mercado consumidor de seus produtos.

Imagem: foto de Alena Koval

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Telas milimétricas nas janelas de serviços de alimentação: como devem ser?

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Nos serviços de alimentação, as telas milimétricas devem ser instaladas nas aberturas das áreas de armazenamento e preparação de alimentos para evitar o acesso de pragas, sobretudo insetos, que podem comprometer a segurança dos alimentos. Além das janelas, aberturas de exaustores, por exemplo, também devem ter essas telas.

Vamos entender o que as normativas sanitárias indicam. De acordo com a legislação federal para este setor, RDC nº 216/2004 (Ministério da Saúde), as aberturas externas das áreas de armazenamento e preparação de alimentos, inclusive o sistema de exaustão, devem ser providas de telas milimétricas para impedir o acesso de vetores e pragas urbanas. As telas devem ser removíveis para facilitar a limpeza periódica.

Pela legislação estadual de São Paulo, Portaria CVS nº 5 de 09 de abril de 2013, as janelas devem ser ajustadas aos batentes e protegidas com telas milimétricas removíveis para facilitar a limpeza. Os exaustores devem possuir telas milimétricas removíveis para impedir a entrada de vetores e pragas urbanas.

Já a Portaria 087/2014, da cidade de Guarulhos, SP, determina que as telas milimétricas, quando instaladas nas janelas, devem possuir malha de 2 milímetros. Além disso, devem ser construídas com material resistente e de fácil limpeza e ser mantidas íntegras e ajustadas aos batentes, sem falhas de revestimento. As telas milimétricas devem ser removíveis para facilitar a higienização.

Falando de forma direta, alguns pontos importantes quando o assunto é tela:

  1. Devem estar fixadas junto às paredes, ou seja, não devem possuir brechas
  2. Sua remoção não deve ser difícil, pois é necessário retirá-las para higienização
  3. Recomenda-se que seja confeccionada em materiais resistentes e duráveis, como aço inox, aço galvanizado ou alumínio
  4. A instalação da tela deve ser feita de forma que não comprometa a abertura das janelas
  5. Manutenções são necessárias em casos de rasgos nas telas.

Rodolfo Alexandre do Nascimento Aquino é nutricionista formado pelas Faculdades Integradas Torricelli, com especialização em Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentos e em Nutrição e Esportes pela Universidade Universus Veritas Guarulhos. Sua experiência profissional inclui atuação na LSG Sky Chefs, na área de produção e controle de qualidade e 13 anos de experiência em alimentação escolar como servidor público.

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Três precondições para a manutenção da qualidade – TPM e Segurança dos alimentos

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Você já deve ter ouvido falar de TPM, principalmente aqui no blog em algumas postagens anteriores minhas. O TPM é uma filosofia de origem japonesa, sendo uma metodologia que visa a Qualidade, a Produtividade e a Segurança, entre outros vários aspectos.

O TPM, sigla para Total Productive Maintenance, traduzido popularmente como Manutenção Produtiva Total, é estruturado no que chamamos de pilares. Os pilares são “frentes de trabalho”. Ao todo, em TPM existem oito pilares e cada um fica à frente de uma estratégia na empresa (mais informações sobre cada um dos pilares e sua relações com qualidade e segurança dos alimentos você encontra no artigo Como implantar TPM com segurança dos alimentos – todos os passos da Manutenção Autônoma).

Dentro da metodologia de TPM, existe um pilar chamado Manutenção da Qualidade, também conhecido como M.Q. Esse pilar possui dez etapas e à medida que os colaboradores e a qualidade avançam essas etapas/passos, eles e a empresa evoluem em nível de autonomia e segurança sobre a qualidade de seus processos.

Mas antes de falarmos sobre os 10 passos, existem três precondições para a boa manutenção da qualidade. Portanto, gostaria de compartilhar com você, leitor, essas três precondições e como elas se relacionam com o nosso dia a dia na qualidade e na segurança dos alimentos. Traduzidas no sentido literal, são elas:

  • Eliminar a deterioração acelerada
  • Eliminar problemas de processo
  • Formar pessoas competentes

Vamos ver cada uma delas a seguir:

1 – Eliminar a deterioração acelerada

Uma grande premissa do pilar da qualidade é a busca por ZERO DEFEITOS, ou seja, zero não conformidades. Veja, porém, que é certo que essa busca por zero defeitos será um processo lento e doloroso em um equipamento de manufatura que quebra continuamente, em uma linha produtiva com muitas falhas. Aqui torna-se clara a interação entre os departamentos de qualidade, manufatura e manutenção, pois juntos devem prevenir essas quebras por meio da eliminação da deterioração acelerada, ou seja, um equipamento ao ser adquirido possui especificações e recomendações do fabricante como a troca e substituição de componentes, um período de tempo adequado para reparos, lubrificações etc.

Quando o equipamento não é “cuidado corretamente”, ocorre a deterioração acelerada, isto é, a deterioração que não segue o curso normal de uso do equipamento. É aí que mora o perigo, um equipamento sem cuidado é um risco em potencial para a segurança dos alimentos, sendo um atrativo para contaminantes físicos, químicos e biológicos, como porcas e parafusos que se desprendem, sujidades por falhas de limpeza e abandono (principalmente em áreas internas e correias), surgimento de ranhuras, pontos mortos por remoção de partes móveis, soldas irregulares para remendar suportes.

2 – Eliminar problemas de processo

Outro fator a ser considerado são os problemas de processos.

Tudo o que foi definido precisa ser seguido, as variáveis devem ser analisadas, acompanhadas e tratadas como problemas e obstruções, vazamentos, falhas de processos, impactos em temperatura, pressão, velocidade… Estes são inimigos de uma boa operação estável dos equipamentos e, novamente digo, se não tivermos operações e processos estáveis, não teremos produtos confiáveis quanto à inexistência de defeitos, do ponto de vista de manutenção da qualidade.

Veja que essa é outra premissa básica: a eliminação dos problemas em processos, para que estes sigam suas especificações e operações pré-definidas.

3 – Formar pessoas competentes

Por fim e tão importante quanto, é precondição treinar e desenvolver as pessoas para reconhecer, identificar e corrigir qualquer anomalia ou defeito, de modo a agir antecipadamente, de forma preventiva. Isso vai ao encontro dos 07 passos de manutenção autônoma, com o desenvolvimento de pessoas dentro das empresas e a manutenção cultural da qualidade.

Note que aqui o foco está na competência relacionada aos processos técnicos que as pessoas realizam. Com isso, uma boa integração com a segurança dos alimentos pode ser criada.

TPM e Manutenção da Qualidade

Em empresas de alimentos que adotam o TPM, a Manutenção da Qualidade é uma aliada para a segurança dos alimentos e ambas podem atuar em conjunto, de forma integrada e não independente, em nosso dia a dia.

Comente aqui se quer saber mais sobre o pilar de M.Q e publicarei uma série de artigos sobre as etapas existentes dentro do pilar de Manutenção da Qualidade em TPM e sua relação com BPF e food safety em cada uma dessas etapas.

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