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BPF em supermercados: as Instruções de Trabalho são uma carta na manga!

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Cada vez mais cobradas e fiscalizadas, as normas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) devem ser cumpridas nos supermercados, a fim de evitar contaminação dos alimentos e doenças transmitidas por alimentos, mas como fazer o programa rodar certinho, no dia-a-dia?

Sim, pode parecer tão simples, mas na prática diária não é tão simples assim.

O manual de BPF deve ser escrito conforme a realidade do supermercado, ou seja, não adianta você descrever um processo que sabe que não será aplicado no local, ou cujo custo seja muito elevado para os proprietários.

Desta forma, o primeiro passo é sempre conhecer o estabelecimento, suas instalações, funcionários, processos e condições, para então escrever as BPF e aplicar os treinamentos na equipe.

Entendemos que após um treinamento, a equipe estará apta a trabalhar conforme o manual, mas nem sempre é assim. Por ser algo novo, não rotineiro para os funcionários, nem sempre é fácil a adaptação. Neste ponto entra a “carta na manga”, que são as I.T.s (Instruções de Trabalho), nada mais que cartazes ou placas, distribuídos nos setores, com as descrições de cada BPF, para lembrar aos funcionários diariamente de como devem proceder durante as atividades.

Podemos descrever diversas ITs:

  • Procedimento de higienização de mãos
  • Procedimento de troca de máscaras e luvas
  • Procedimento de identificação de materiais de limpeza (lembrando que o material usado para higienizar cada setor deve ter uma identificação)
  • Procedimento de higienização de facas, etc.

Sim, é mais simples do que imaginamos, mas no dia-a-dia, notamos a diferença, porque quando o funcionário esquece como realizar o procedimento, ele tem acesso rápido ao mesmo, para lembrar como realizar. Além disso, é mais um respaldo para a empresa, diante de uma fiscalização, de que orienta seus funcionários quanto ao cumprimento de BPF.

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Food Safety X Feed Safety

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Vocês devem ter se deparado nos últimos tempos com alguns posts aqui no blog sobre segurança na ração animal ou Feed Safety. Pois bem, vamos falar hoje o que este assunto tem a ver com Segurança de Alimentos ou Food Safety.

Antes de qualquer coisa vamos à definição de feed ou ração, ou como prefiro chamar, produto para alimentação animal:

“Qualquer material único ou múltiplo, processado, semiprocessado ou cru, destinado a ser alimentado diretamente a animais destinados à produção de alimentos” (FAO, WHO, 2008).

É importante destacar que a categoria feed compreende uma classe enorme de produtos, com distintos graus de tecnologia empregada e complexidade, por exemplo:

– grãos e cereais não processados (como soja e milho);

– sub-produtos de processos industriais (como farelo de soja, levedura de cana e PCP);

– minerais;

– aditivos;

– produtos médico-veterinários;

– pré-misturas e ração pronta (ou compound feed);

– forragens, dentre outros.

Independentemente da classe à qual os feeds pertencem, todos têm como intuito principal satisfazer as necessidades nutricionais de um animal para manutenção, atividade, produção e reprodução. Ademais, os feeds para os animais criados para a produção de carne, leite e ovos para consumo humano devem satisfazer os requisitos dos consumidores finais (de produtos de origem animal).

É neste cenário que se enquadra o termo ‘Feed Safety’, que compreende as práticas de produção, preparação, processamento, armazenamento e transporte de feeds, de forma a evitar contaminações de natureza química, física e biológica.

No âmbito da saúde humana um fenômeno importante a ser analisado é o do carry-over, previamente discutido por este blog aqui e aqui. Trata-se da transferência de substâncias tóxicas – como pesticidas, metais pesados, medicamentos veterinários, contaminantes ambientais (PCB, dioxinas, etc.) e micotoxinas – dos feeds para os animais, resultando em resíduos nos alimentos de origem animal, como carne, leite e ovos (retratada aqui), que os tornam inseguros para consumo humano.

Grandes incidentes relacionados a feeds sublinham o impacto de contaminações na  saúde humana, podendo ser citados: salmonelose em ovos e aves (1988); aflatoxina no milho norte-americano (1989); encefalopatia espongiforme bovina (popularmente conhecida como ‘doença da vaca louca’) no Reino Unido (1989, 1997, 2000); resíduos de antibióticos em ovos (1988 -1992); E. coli O157: H7 na Escócia (1996); dioxina na polpa cítrica brasileira (1998) e em óleo na Bélgica (1999 e 2006); melamina na gordura da China (2010-2011).

A alimentação animal é parte integrante da cadeia alimentar e sua segurança foi reconhecida como um valor compartilhado e uma responsabilidade compartilhada. A produção de feeds deve, portanto, estar sujeita, de maneira semelhante à produção de alimentos, à garantia da qualidade dos sistemas integrados de Food Safety.

Neste sentido, tem havido nas últimas décadas uma grande mobilização no mercado feed, com a adoção de boas práticas de manufatura aplicáveis ao setor e códigos de práticas como GMP+ FSA (Holanda) (previamente discutido aqui), Fami-QS (Bélgica), OVOCOM (Bélgica), Qualimat (França), AIC Assurance Scheme (Reino Unido) e Safe Feed / Safe Food (EUA).

Bem… como podem perceber, é um assunto bastante complexo e que suscita diversas discussões. A intenção desse post foi elucidar alguns pontos deste tema que deve ser novo para muitos dos leitores. Espero que tenham gostado e que nos encontremos em breve (quem sabe, de forma mais aprofundada no assunto)!

 

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Kanban no controle da produção industrial de alimentos

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Em uma indústria de produção de alimentos, o fluxo de produção é sempre em busca de bater metas. Desta forma, os líderes de produção têm como foco o rendimento. Mas o rendimento não é baseado somente em produzir, mas produzir com qualidade, com eficiência, sem paradas de produção, sem queda no padrão do produto.

Assim, o gestor deve estar sempre em busca de novos métodos de organização da sua equipe, a fim de uma produção maior e de um rendimento eficiente.

O método Kanban é um modelo básico e fácil de gestão industrial, que os gestores podem implantar com seus lideres de produção, a fim de melhorar o processo.

Basicamente, utilizamos três quadros de atividades, sendo eles:

FAZER FAZENDO FEITO

Neles, podem ser escritas as atividades a serem realizadas por cada líder, que conforme o andamento de suas responsabilidades, vai atualizando o kanban.

A forma de uso é diversa, podendo ser uma lousa com canetão, um cartaz com os postits, ou até mesmo uma planilha compartilhada de acesso nos celulares, desde que todos os líderes compreendam que a atualização deve ser feita em tempo real.

A implantação do sistema é bem fácil, basta iniciar com uma reunião de preparo da equipe, na qual devem ser explanadas as funcionalidades do quadro, ou seja, o que deve ser descrito nele (desde os produtos diários, treinamentos de equipe, admissões, demissões, manutenções, etc..), quais os responsáveis (se um ou mais líderes), prazos, e um andamento detalhado do que está na coluna “fazendo”.

Um kanban bem gerenciado evita perda de informações, além de criar históricos fáceis de serem consultados. Também facilita a comunicação da equipe, evitando longas reuniões para definir itens rotineiros, além de possibilitar a atribuição de responsáveis, evitando as desculpas do  “não fiz porque não sabia que era eu quem deveria fazer”, porque todos saberão as tarefas e seus prazos.

Sim, é um sistema de gestão básico e de fácil aplicação, que traz muitos benefícios na gestão e controle industrial, como processos de produção dos alimentos, prazos de validade, entrega de encomendas e outros tantos itens da rotina da área de alimentos.

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A alimentação halal: origem, tradição e certificação

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O islamismo é a religião que mais cresce no mundo e até o final deste século, se o ritmo de crescimento se mantiver, os muçulmanos irão superar os cristãos como o maior grupo religioso, portanto, este público representa um mercado significativo de alimentos para o qual a certificação halal é importante.

Atualmente 91,2% da população no Oriente Médio e Norte da África se considera muçulmana; 24,8% na Ásia-Oceania; 29,6% na África Subsaariana; 6% na Europa; e 0,6% na América.

Em números absolutos, há hoje no mundo 1,6 bilhões de pessoas que se designam muçulmanas, portanto, cerca de 23,4% da população mundial.

Embora o senso comum considere que a maioria dos seguidores dessa religião estejam no norte da África ou no Oriente Médio, apenas 20% deles encontram-se nesses lugares. A maioria dos muçulmanos (62%) está na região Ásia-Pacífico, sendo que o maior país muçulmano é a Indonésia.

Assim como para a cultura judaica, como foi visto no artigo “A alimentação kosher: origem, tradição e certificação“, para os muçulmanos a cultura, religião e hábitos alimentares também caminham juntos. Os alimentos denominados halal devem ser produzidos de acordo com determinadas regras ligadas à orientação cultural e religiosa do islamismo, e embasadas no livro sagrado Alcorão.

Desta forma, a orientação islâmica sobre a dieta determina que o consumidor verifique se o produto está em conformidade com as regras religiosas, já que, para eles, o alimento pode influenciar a alma, o comportamento e a saúde física e moral do ser humano, o que é facilitado quando tal alimento industrializado e processado contiver um selo halal.

A palavra halal para os muçulmanos, portanto, equivale então ao que o termo kosher representa para os judeus, ou seja, aquilo que está em conformidade, que é lícito, correto e autorizado para a alimentação.

Principais regras da alimentação halal

Desde que sejam respeitadas as leis islâmicas para a produção do alimentos, dentro dos procedimentos e normas ditadas pelo Alcorão e pela Jurisprudência Islâmica, e que estejam livres de contaminações que possam causar males ao ser humano na perspectiva de food safety, entende-se que são halal:

  • Peixes e outros animais aquáticos;
  • Vegetais de todos os tipos;
  • Todo produto, criado por meio da biotecnologia, extraído de vegetal, mineral ou por via microbiana para a indústria alimentar;
  • Derivados de origem animal, utilizados para consumo alimentar, desde que o animal tenha sido sacrificado conforme a lei islâmica, mediante comprovação sob a supervisão;
  • Queijo processado através do coalho microbiano;
  • Leite de vacas, ovelhas, camelas e cabras;
  • Frutas frescas ou secas, legumes, sementes, desde que não contaminadas por pesticidas.

São banidos da alimentação halal e denominados haram:

  • Animais que vivem tanto na terra como na água, como crocodilos, tartarugas e jacarés;
  • Suínos e seus derivados;
  • Sangue e derivados do sangue;
  • Animais carnívoros;
  • Répteis e insetos;
  • Todas as bebidas alcoólicas como vinho, destilados, cervejas, licores, etc;
  • Toda carne para a qual, no momento do abate, não seja invocado o nome de Allah.

Produtos industrializados halal

Para a fabricação de produtos industrializados considerados halal é necessária obediência a determinadas regras de fabricação.

O caso mais emblemático refere-se aos frigoríficos, cujas regras e normas dizem respeito à forma de abate, sendo que o ato somente pode ser realizado por um muçulmano que tenha atingido a puberdade e que durante o o sacrifício do animal pronuncie o nome de Allah, com a face voltada para Meca ou que faça uma oração dizendo o nome de Allah, tal como a Bismillah Allah-u-Akbar.

Também existem equipamentos e utensílios próprios, que devem ser sempre usados para resultar no abate correto do animal. A faca que fará a degola deve estar bem afiada, fazendo um corte no pescoço em forma de meia-lua e o processo deve ser rápido, cortando os grandes vasos, traqueia e o esôfago, fazendo com que o sangue seja totalmente extraído da carcaça. Importante que o sangue seja totalmente removido, pois é considerado como não halal, e feito isso, a carcaça deve ser lavada e higienizada, e a água do processo deve ser eliminada.

E por falar em higienização do ambiente, para as regras halal, isso nunca pode ser realizado com álcool, pois é proibido para os muçulmanos.

A importância mercadológica da certificação halal

Para uma empresa exportar alimentos para os países islâmicos, o “passaporte” é ter um certificado halal, ou seja, um documento emitido por uma agência governamental ou uma instituição certificadora halal, reconhecida pelos países muçulmanos – neste caso em especial, pelos países árabes que são o maior destino importador – atestando após uma inspeção na empresa produtora, que o produto seguiu os preceitos do islamismo.

O mercado árabe é um dos principais destinos das exportações de carne brasileira. Só no ano de 2018 a Arábia Saudita importou o montante de 482 mil toneladas de carne de frango congelada do Brasil.

As relações entre o Brasil e os países árabes sempre foram amistosas e estão em plena expansão. Segundo dados divulgados pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, as exportações de carne e frango entre o Brasil e os países árabes cresceram 20%  comparando-se os anos de 2019 e 2018.

O principal destino das exportações brasileiras aos países árabes são os Emirados Árabes, Arábia Saudita, Egito e a Argélia. Por conta disso, é essencial para os exportadores brasileiros, em específico para os frigoríficos, possuir uma certificação halal.

A certificação halal ganha importância e notoriedade, portanto, conforme avançam as negociações entre o Brasil e os países cuja população tem uma comunidade islâmica relevante, por ser uma condição importante para transações comerciais.

Requisitos para obter o certificado halal

Para obter a certificação halal uma empresa precisará ser avaliada por uma instituição certificadora. Existem diversas no mundo, cada uma possuindo seus próprios símbolos ou marcas registradas, que avaliarão em três etapas se os procedimentos exigidos pelo Alcorão são seguidos na produção ou industrialização do produto para que seja considerado halal.

Numa primeira etapa de verificação ocorre a avaliação da listagem de matérias-primas, insumos e aditivos utilizados na fabricação do produto, o que pode ser realizado remotamente. Esta verificação toma como base uma lista dos itens que não são considerados lícitos pela lei islâmica como, por exemplo, os derivados do porco ou insetos.

Num segundo momento, há uma auditoria in loco, na qual os auditores verificam a transparência da empresa quanto às informações previamente passadas, além da sua conduta comercial, ou seja, se ela é justa nas negociações.

Quando se tratar de qualquer produto que utiliza proteína animal, é fiscalizado o abate, que deve ocorrer como já citado.

Por último, após a coleta de todos os dados, um Comitê de Certificação avalia todas as informações coletadas e as analisa para avaliar se realmente atendem plenamente as diretrizes exigidas para alimentos halal, e somente após a aprovação deste Comitê é que o certificado é emitido.

A legislação nacional e internacional do país de destino para alimentos, além é claro, do Alcorão, são bases da avaliação do Comitê.

O fato é que se uma organização quer exportar para os países árabes ou outros com significativo número de islâmicos e ter como público consumidor de seus produtos a comunidade muçulmana, deve respeitar as tradições e requisitos de caráter cultural e religioso destes stakeholders, e por isso a certificação halal passa a ser um diferencial necessário.

Portanto, para estas empresas, tudo aquilo que é considerado pelos muçulmanos impróprio deve ser entendido como um perigo na análise de riscos durante uma produção de alimentos halal, seguindo devidamente suas tradições e mantendo registros para rastreabilidade.

Os números atuais de muçulmanos no mundo e sua expansão mostram que efetivamente é muito significativo e relevante este grupo de stakeholders, especialmente para alguns segmentos como o frigorífico de aves e bovinos, pois atender aos critérios halal pode significar ter acesso a uma importante fatia do mercado consumidor.

Leia também:

  1. Certificação Halal: aspectos técnicos e religiosos
  2. Stakeholders do segmento de alimentos e suas expectativas
  3. A alimentação kosher: origem, tradição e certificação

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Os 5 passos (poderosos) da comunicação para uma Cultura de Segurança de Alimentos

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Já discutimos anteriormente aqui mesmo no blog a importância de comunicar adequadamente os assuntos de Segurança de Alimentos quando pretendemos avançar com nossos Programas de Cultura. Requisitos que não são vistos pelos manipuladores como justos e vantajosos para si próprios não terão aderência plena. O apelo à saúde do consumidor não vem sendo capaz de transformar hábitos. Elevar o cumprimento das regras da indústria ao nível da intuição traduz-se na tão sonhada Cultura de Segurança de Alimentos.

Felizmente, existem formas de comunicar o tema com eficácia, todas absolutamente acessíveis e adaptáveis para todas as lideranças dispostas a fazer a transição entre os modelos de comunicação “duros” e estes novos formatos.

É importante considerar, como ponto de partida, que a comunicação eficaz é um processo que visa o preenchimento das necessidades de ambos os envolvidos no processo: aquele que comunica e aquele que é comunicado. Não existe comunicação eficaz que seja resultado do atendimento das demandas apenas do agente ativo (quem emite a mensagem) no processo. Desta forma, solicitações de qualquer tipo, desacompanhadas de acolhimento e compreensão das necessidades do agente passivo (quem recebe a mensagem), resultarão, em curto espaço de tempo, no esfriamento da relação (ex: “por que meu chefe só me procura para me pedir coisas?”).

Há vários pesquisadores e estudos científicos que tratam a questão da comunicação eficaz. Por sorte, quase a totalidade destes estudos pode ser transportada para a indústria de alimentos.

É comprovado que a maneira de lidar com as boas notícias e de celebrar pode ser tão decisiva para o relacionamento quanto a capacidade de oferecer apoio um ao outro em situações difíceis. A professora e pesquisadora da Universidade da Califórnia, Shelly Gable, publicou um estudo pioneiro, em 2006, concluindo, por exemplo, que o modo pelo qual respondemos à boa notícia da outra pessoa pode ajudar a construir ou a prejudicar nosso relacionamento com ela. Esse é o princípio da ACR (Active Constructive Responding), ou Resposta Ativa-Construtiva.

Paralelamente, as lideranças devem estar preparadas para agir na ressignificação de crenças limitantes, inclusive onde, eventualmente, houver confronto. Há técnicas capazes de ampliar o poder de persuasão no processo de comunicação. O pesquisador Robert Dilts, em 1999, publicou o livro Sleight of Mouth, cujas técnicas, em tradução livre, são conhecidas como “Truques de Expressão”. Trata-se de agrupamentos verbais com a poderosa capacidade de gerar mudanças no padrão mental de nossos interlocutores, levando-os a um novo padrão de resposta a nossos questionamentos. No podcast Food Safety Culture este tema já foi abordado no episódio 4.

Podemos resumir a estrutura desta nova forma de comunicar em 5 poderosos passos:

1 – Substituir “comos” pelos “por quês”

As pessoas precisam saber o que está por trás das regras e procedimentos. Os motivos pelos quais as atividades precisam ser desenvolvidas a partir de um padrão de comportamento esperado devem estar claros. Isto inclui uma nova formatação da comunicação visual e até dos documentos de gestão. Há modelos para isto.

2 – Ampliar a percepção de ganhos

As pessoas precisam compreender as vantagens pessoais que residem na adoção dos comportamentos esperados. O foco da comunicação deve estar em mostrar para os manipuladores de alimentos que existem ganhos para eles, uma vez que decidam praticar novos hábitos. A geração de valor acontece a partir da percepção de que determinada atividade lhes traz benefícios. Há técnicas e exercícios bastante simples para impulsionar estes comportamentos. As lideranças precisam ser capacitadas nestas técnicas.

3 – Descaracterizar o ambiente opressivo e dar visibilidade ao ambiente permissivo

A indústria de alimentos está imersa em regras e normas de conduta sendo que muita coisa é proibida: não pode isso, não pode aquilo. Que tal focar tudo aquilo que é permitido? Qual forma de comunicação parece a você, leitor, mais agradável: “É proibido levar alimentos para consumo fora deste refeitório, incluindo café e frutas” ou “Aqui é o melhor lugar para você consumir seus alimentos. Fique à vontade! ”. Um ambiente onde tudo parece oprimir não poderá nunca ser um ambiente de relacionamentos saudáveis. Uma série de comunicações da rotina pode ser alterada, assim como no nosso exemplo do refeitório.

4 – Trocar a abordagem corretiva pela aproximação educativa

Quem é flagrado em desvio sente-se imediatamente constrangido e envergonhado. A boa comunicação dá a esta pessoa o acolhimento e a compreensão necessária para que ela acerte da próxima vez. Lideranças devem manter o foco na aproximação educativa conforme os passos 1 e 2 nos ensinaram: por que é importante (para ele) fazer certo e o que ele ganha com isto. Se preciso, as lideranças treinadas no método podem recorrer aos Truques de Expressão de Robert Dilts.

5 – Celebrar conquistas

Como já vimos, a Resposta Ativa-Construtiva é aquela que demonstra interesse autêntico, apoio entusiasmado e exploração da experiência da vitória. Mantenha os olhos nos olhos, o sorriso genuíno e a expressão de emoções positivas. O receptor se sente validado e entendido, e a relação é energizada.

Mãos à obra. Exercitem e compartilhem aqui os resultados.

Um abraço a todos e até a próxima!

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Como reduzir o risco de propagação de covid-19 durante a alimentação em home office

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A doença infecciosa causada pelo novo coronavírus, a covid-19, foi identificada pela primeira vez em dezembro de 2019, em Wuhan, na China. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em 30 de janeiro de 2020, que o surto de covid-19 constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional – o mais alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Em 11 de março de 2020, a covid-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia.

Em pouco tempo, o mundo mudou e a população global teve que se adaptar ao confinamento. Grande parte de nossa atividade econômica global parou. Os alimentos e o acesso à alimentação foram impactados pelo surto em nossa sociedade, com imagens de prateleiras vazias de supermercados exibidas pela mídia.

Com a tentativa de frear a propagação do vírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou algumas medidas de proteção como: higienizar as mãos, cobrir a boca com o antebraço ou lenço descartável ao tossir e espirrar, evitar aglomerações e manter-se em isolamento domiciliar.

Foram interrompidos os serviços cotidianos e a rotina diária de muitas pessoas, que passaram a realizar trabalho remoto (home office), reuniões virtuais e cancelaram suas viagens.

Os estabelecimentos de refeições coletivas e serviços de alimentação passaram, em grande parte, a oferecer delivery ou drive thru  e os aplicativos de fast food facilitaram o dia a dia para as pessoas que optaram por este tipo de alimentação. Porém, há uma carência de informações sobre os cuidados para higienização ao adquirir e receber os alimentos e práticas básicas de higiene alimentar segura devem ser observadas.

Os materiais como plástico, metal, vidro e papel podem ser veículos de contaminação por coronavírus. Pesquisas recentes avaliaram a sobrevivência do vírus em superfícies diferentes e constatou-se que o vírus pode permanecer viável por até 72 horas em plástico e aço inoxidável, até quatro horas em cobre e até 24 horas em papelão.

Refeições adquiridas por delivery e drive thru

Os serviços de delivery e drive thru, por sua vez, devem respeitar as orientações de higiene e limpeza e disponibilizar máscaras, luvas e álcool em gel 70% para seus colaboradores. Os cuidados devem ser realizados para evitar a propagação do vírus pelo contato com as superfícies das embalagens dos alimentos.

Dessa forma, ao receber alimentos pelos serviços de delivery ou drive thru, deve-se aplicar álcool em gel 70% nas mãos, utilizar máscaras, higienizar com água e sabão as mãos.

Ao fazer o pagamento do alimento, dar prioridade aos pagamentos virtuais. Se for necessário realizar o pagamento pessoalmente, mantenha uma distância mínima de pelo menos 1 metro da outra pessoa e se tocar na maquininha de cartão, passe álcool em gel 70% no momento e lave muito bem as mãos assim que puder.

É importante observar a higienização das bancadas, pias, louças e demais utensílios que for utilizar na refeição.

Ao consumir o alimento, transfira a refeição adquirida para outra tigela ou prato e descarte a embalagem.

Refeições preparadas em casa (home)

Não há evidências de que o vírus possa ser transmitido por alimentos, porém deve-se levar a sério a manipulação dos alimentos e sanitização, a limpeza e higienização do local de preparo das refeições e de quem está preparando as refeições (manipulador de alimentos).

O uso das boas práticas de higiene é necessário, isto porque considerando-se a disseminação dos surtos de doenças de origem alimentar, observa-se que o maior percentual acontece nas residências.

Para evitar a contaminação ao preparar os alimentos, deve-se lavar as mãos regularmente, depois de usar o banheiro, depois de manusear alimentos crus. Manter uma boa higiene pessoal é essencial especialmente quando se trabalha com alimentos.

Os alimentos cozidos devem passar pelo processo de cocção completa (atingindo 70ºC em todas as suas partes), e aqueles consumidos crus devem ser previamente lavados e sanitizados utilizando-se de compostos clorados, como a água sanitária. Recomenda-se a dosagem de 200 mg de cloro residual livre por litro de água para sanitizar por imersão e após deve-se enxaguar em água corrente.

A manipulação de objetos como o celular, no momento de preparo ou consumo das refeições, pode trazer riscos de contaminação durante a ingestão dos alimentos e deve ser evitado.

Praticar a higiene das mãos e usar máscaras é importante em todos os momentos e é a melhor maneira de se proteger da covid-19. Sempre que possível, mantenha uma distância de pelo menos 1 metro entre você e os outros, principalmente se estiver ao lado de alguém que tosse ou espirra.

Quando for ao supermercado e ao levar para casa suas compras das lojas, evite colocar as sacolas no mesmo balcão da cozinha em que você prepara os alimentos, descarte as embalagens para evitar a contaminação de superfícies e outras áreas. Evite circulação desnecessária nas ruas e demais locais públicos ou privados. Não compartilhe objetos de uso pessoal como talheres, toalhas, pratos e copos. Durma bem e tenha uma alimentação saudável.

Home office e o distanciamento social

A covid-19 se disseminou e cresceu em magnitude. É necessário atualizar-se à medida que fatos e informações adicionais sobre a pandemia se tornam disponíveis. Os cuidados com a higienização são fundamentais para evitar a contaminação e devem ser seguidos diariamente. Não existe nenhum tipo de alimento milagroso, medicamento ou suplemento que possa prevenir o contágio deste vírus. O que podemos fazer é reforçar a higienização, limitar o contato social e melhorar o nosso sistema imunológico dando atenção especial a uma alimentação saudável e planejada ao longo do dia. Medidas como estas precisam ser implementadas e ajustadas para reduzir o risco de propagação da covid-19 durante a alimentação em casa.

Confinar-se em casa e realizar o trabalho em home office é prudente e o distanciamento social é a melhor medida preventiva que as pessoas podem estabelecer.

 Autoras: Janice da Costa Miri, mestranda em Tecnologia de Alimentos no Instituto Federal Goiano, campus Rio Verde, e Mayra Conceição Peixoto Martins Lima,  do Instituto Federal Goiano, campus Rio Verde

Referências

– Conselho Federal de Nutricionistas. Recomendações do CFN: boas práticas para atuação do nutricionista e do técnico em nutrição e dietética durante a pandemia de coronavírus. https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2020/03/nota_coronavirus_3-1.pdf.

– CUNHA, C.B.C; MORAES, F.R; MONTEIRO, V.S; FEITOSA, F.G.M.A; SILVA, I.T.C. Microbiological evaluation of the cell phones of the professionals of a Surgical Center in a beneficent Hospital. J Epidemiol Infect Control 2016.

– FREITAS J.B. Serviços delivery em tempos de Covid-19: o que é preciso saber ao receber os alimentos? UFES,2020.

– KAMPF G; TODT D; PFAENDER S; STEINMANN E. Persistence of coronaviruses on inanimate surfaces and their inactivation with biocidal agents. J Hosp Infect 2020.

– LOKHANDWALA, Snehal; GAUTAM, Pratibha. Indirect impact of COVID-19 on Environment: A brief study in Indian Context. Environmental research, p. 109807, 2020.

– MIGUS, Arnold et al. COVID-19 epidemic phases: criteria, challenges and issues for the future. Bulletin De L’Academie Nationale De Medecine, 2020.

– Ministério da Saúde. Surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil. https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/janeiro/17/Apresentacao-Surtos-DTA-2018.pdf.

– NICOLA, M. et al. The socio-economic implications of the coronavirus pandemic (COVID-19): A review. International journal of surgery (London, England), v. 78, p. 185, 2020.

– VAN DOREMALEN, N; BUSHMAKER, T; MORRIS, D; HOLBROOK, M; GAMBLE, A; WILLIAMSON, B; et al. Aerosol and surface stability of HCoV-19 (SARS-CoV-2) compared to SARS-CoV-1. medRxiv 2020; 9 mar. https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.03.09.20033217v2.

– WORLD HEALTH ORGANIZATION et al. COVID-19 and food safety: guidance for food businesses. Interim Guidance) (https://www. who. int/publications-detail/covid-19-and-food-safety-guidance-for-food-businesses, 07 April 2020).

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BPF e o rádio dos manipuladores de alimentos

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Não é incomum entrar na cozinha de um serviço de alimentação e se deparar com o famoso “radinho” ligado. Enquanto pratos deliciosos são preparados, é possível acompanhar jogos de futebol, notícias e músicas de todos os estilos por meio deste aparelhinho. Há quem defenda o uso da música como método de relaxamento durante o trabalho e há quem pense que a música, ou qualquer outro programa de rádio, possa desconcentrar os manipuladores de alimentos durante as preparações. Mas será que os aparelhos de som nas cozinhas podem oferecer riscos para a segurança dos alimentos produzidos? A resposta para esta pergunta não é tão simples como parece, porque ela pode ser “sim” e, ao mesmo tempo, “não”! Fiquem ligadinhos no Food Safety Brazil e descubram como evitar problemas entre as BPF e o rádio dos manipuladores de alimentos!

Os equipamentos de rádio, se não higienizados corretamente utilizando álcool gel ou álcool isopropílico e lenço descartável de papel, podem ser locais de acúmulo de microrganismos assim como qualquer outro aparelho eletrônico dentro da cozinha. Além disso, os programas podem induzir uma conversa desnecessária entre os manipuladores de alimentos ou uma certa cantoria, com direito a assobios, que são ações que podem ser fontes de gotículas de saliva caindo em cima dos pratos dos clientes! Quem nunca fez um comentário animado sobre algo que foi dito pelo locutor? Quem nunca se empolgou ao falar sobre política ou outro assunto do momento ao ouvir uma notícia nova? E que atire a primeira pedra quem nunca soltou a voz ao tocar a música favorita no top 10! Ou seja, ouvir o que passa no rádio não é um problema de boas práticas, mas cantar ou falar representa, sim, uma não conformidade que precisa ser corrigida segundo a RDC 216/04.

A legislação não é clara sobre a música no ambiente de manipulação de alimentos, todavia ela é bastante clara sobre o comportamento esperado dos colaboradores. Dentre as normas citadas, “os manipuladores não devem fumar, falar desnecessariamente, cantar, assobiar, espirrar, cuspir, tossir, comer, manipular dinheiro ou praticar outros atos que possam contaminar o alimento, durante o desempenho das atividades”. Sabemos que uma simples fala pode espalhar perdigotos na comida e nas superfícies, o que caracteriza uma contaminação microbiológica. Segundo estudos recentes (focados na transmissão do coronavírus pela fala), ao pronunciar a expressão “stay healthy” (“mantenha-se saudável”, em inglês), uma pessoa expele até 360 microgotículas de saliva, que se projetam de forma quase imediata – em 16,6 milissegundos (ou 0,016s), atingindo o que estiver na frente dessa pessoa, o que prova o quanto é perigoso cantar, assobiar ou falar sobre os alimentos.

Em contrapartida, um estudo desenvolvido na Universidade McGill, no Canadá, mostra que a música pode ser benéfica durante o trabalho, pois ao ouvir nossas melodias preferidas, ficamos mais motivados para realizar tarefas devido à liberação de dopamina (neurotransmissor responsável pela sensação de bem estar), o que é extremamente bem-vindo em um ambiente estressante como a cozinha, onde se trabalha sob pressão, com muitas regras para serem seguidas, receitas calculadas, ambiente quente e desconforto físico por passar muitas horas em pé.

Pensando nos benefícios da música no ambiente de trabalho, como seria possível alinhar todos eles com a legislação sanitária? Caso não seja proibido por uma legislação municipal ou estadual, é possível manter o rádio na cozinha se os treinamentos forem eficazes (veja neste post as melhores dicas reunidas para treinamentos de boas práticas). É preciso deixar tudo muito claro para os manipuladores de alimentos em relação às condições de manter o “radinho”. É necessário uma conversa franca e um combinado muito simples: a música fica se a conversa e a cantoria não estiverem presentes. Se não funcionar, a opção restante é retirar o rádio do ambiente de trabalho para que os alimentos não sejam colocados em risco de contaminação.

Escrevi este post inteiro ouvindo um bom e velho rock and roll. Qual estilo musical você acha que combinaria com a produção de alimentos? Se a Visa local permitir, limpe o aparelho com álcool 70 e aproveite a oportunidade de aumentar a produtividade da sua equipe!

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A alimentação kosher: origem, tradição e certificação

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Cada povo, etnia ou grupo social, se distingue dos demais por seus costumes, valores intelectuais e morais, padrões de comportamento, religião e, não menos importante, pela alimentação. Possivelmente, em nenhuma outra cultura a relação religião-alimentação seja tão importante e estreita quanto na judaica, com sua chamada dieta kosher.

Alimentos kosher, também conhecidos como kasher, obedecem a regras de alimentação denominadas kashrut que seguem a Torá, estando especialmente enumeradas no capítulo 11 do livro Levítico, mas também em outros textos sagrados, que trazem um conjunto de prescrições de origem divina, que determinam a dieta alimentar judaica.

Para fazer um paralelo, a Torá na fé cristã equivale, com algumas diferenças, aos cinco primeiros livros do Velho Testamento (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), conhecidos como Pentateuco, que diga-se, também possuem estas regras ou leis de alimentação, uma vez que ambos têm origem nas mesmas tradições.

Há vários objetivos pelos quais a comunidade judaica mantém a tradição do consumo de alimentos kosher, porém o mais importante é manter vivas as tradições do povo judeu, uma rica cultura milenar, e justamente por respeitarem fielmente tais regras ao longo do séculos, foi que se mantiveram como um povo unido, mesmo estando separados em diferentes países.

A palavra kosher, traduzida para o português, significa “adequado”, “bom” ou “correto”, ou seja, tudo aquilo que é adequado para o consumo pelos judeus.

Quando industrializados, os produtos kosher precisam ser supervisionados por autoridades religiosas e podem ser identificados por símbolos impressos em suas embalagens, em geral, um “U” ou um “K” dentro de um círculo ou em uma moldura.

Quando estas letras (“K” ou “U”) aparecem sem nenhum adorno, significa que o fabricante alega que seu produto é kosher, mas não necessariamente foi submetido à supervisão de um rabino.

Principais regras da alimentação kosher

Para ser kosher, em linhas gerais, o alimento tem de obedecer alguns requisitos básicos encontrados na Torá:

  1. A carne consumida deve ser de animais ruminantes e que tenham cascos bipartidos;
  2. Nunca se deve ingerir sangue;
  3. Não comer animais proibidos descritos na Torá;
  4. Deve-se separar, uns dos outros, os utensílios utilizados no preparo de carnes, leite e seus derivados;
  5. Todos os vegetais e minerais podem ser consumidos.

Estas regras buscam propor uma alimentação mais pura e que nutra o corpo e a alma, então não estamos falando propriamente de food safety, mas de preceitos étnicos, de regras entendidas como importantes e de fundo cultural, religioso e espiritual para este povo.

A alimentação kosher não é vegetariana, mas o consumo de carne deve seguir uma série de regras tanto na produção quanto no preparo dos pratos. Para começar, a carne deve ser oriunda de um animal ruminante que não tenha os cascos bipartidos, por isso, coelhos e porcos não estão incluídos no cardápio.

Aves como frango, peru, ganso e pato são aceitas, mas as de rapina, ou seja, que se alimentam de outros animais, não são permitidas.

Produtos industrializados kosher

Além disso, a Torá exige que bovinos e frangos sejam abatidos de acordo com essas Leis, num ritual chamado Shechita, onde apenas uma pessoa treinada, denominada Shochet, é considerada apta a realizar o abate, e antes do Shechita é realizada uma oração especial chamada Beracha.

O objetivo do ritual é proporcionar a eliminação do máximo de sangue possível no sacrifício, com o mínimo de sofrimento, o que é obtido pela degola do animal ainda vivo, de forma a conferir uma rápida inconsciência e insensibilidade.

A degola é feita pelo corte das artérias carótidas e veias jugulares, sem, no entanto, atingir as vértebras cervicais com o uso de uma faca que é chamada chalaf. Esta apresenta quase meio metro de comprimento e deve estar sempre muito bem afiada, sendo examinada após cada execução.

Estima-se que numa degola executada com um golpe rápido, 95% dos animais atingem a inconsciência num intervalo máximo de dois segundos, minimizando, portanto, o sofrimento.

Após o abate, um inspetor verifica os órgãos internos do animal para procurar alguma anormalidade fisiológica que torne a carne não-kosher, por exemplo, o pulmão e o tendão são inspecionados e verifica-se a presença de aderência ou se os pulmões estão inflados. Além disso, a carne deve ter poucos vasos sanguíneos e nervos.

Nem todas as partes dos bovinos são consideradas apropriadas segundo a dieta kosher, os quartos dianteiros e costela são as partes mais consumidas entre os judeus.

O preparo da carne, segundo o ritual kosher, tem como objetivo eliminar o máximo de sangue, assim, o preparo requer a imersão da carne em água por 30 minutos, seguida por salga a seco, com sal grosso, durante uma hora, seguida por três imersões consecutivas em água, cada uma por um período de uma hora.

Além disso, a carne não pode ser misturada em nenhum momento com leite e derivados, nem durante o armazenamento, ou seja, desde o abate, processamento industrial, com todos os cuidados de rastreabilidade, até no momento de preparo e consumo nos lares.  Numa tradicional casa judia há que se ter talheres e utensílios separados para preparo e consumo de derivados de leite ou de carne, ou seja, esqueça o estrogonofe ou o cheeseburguer.

Já em relação aos peixes, são permitidos apenas aqueles que possuem escamas de barbatanas como atum, truta e salmão. Em contrapartida, bagres e pintados estão fora do cardápio, enquanto crustáceos e moluscos são vetados desse tipo de alimentação. Desta forma, uma paella, por exemplo, é bem inapropriada quando convidar um amigo judeu para um jantar.

Já para o consumo de leite e derivados, é preciso que um rabino acompanhe desde a ordenha até o processamento para conferir a procedência do animal e garantir que não haja contaminação cruzada do produto, por exemplo, se não existe o uso de utensílios que também foram usados na produção da carne.

Os alimentos que têm o consumo sem restrições são chamados de parve e são todos aqueles que crescem na terra, como frutas, vegetais e cereais.

No caso dos alimentos parve, a única restrição é para os derivados de uvas, como o vinho, que precisa ter sua produção acompanhada por um rabino para ser permitido. As regras básicas para um vinho se tornar kosher são:

  1. Não podem ser produzidos a partir de videiras com idade inferior a quatro anos;
  2. O vinhedo, se estiver localizado em terras sagradas, deve deixar de produzir uma vez a cada sete anos;
  3. Nos locais dos vinhedos nenhum outro tipo de planta deve ser cultivada;
  4. Todo o equipamento e matéria-prima utilizada na elaboração da bebida deve ser igualmente kosher;
  5. O vinho só pode ser manuseado por judeus ortodoxos.

Nem todos os profissionais da vinícola, como enólogos e técnicos, precisam ser judeus ortodoxos, bastando que não tenham contato físico direto com a bebida, barris, etc.

Alguns sacerdotes mais rigorosos exigem ainda que o fermentado seja fervido (pasteurizado), o que praticamente anula suas qualidades sensoriais, e neste caso o vinho chama-se mevushal.

Os ovos também são considerados parve e podem ser consumidos com carnes e laticínios, mas é preciso garantir que não haja sangue na casca, ou o ovo deve ser descartado.

Os alimentos não produzidos de acordo com as leis da Torá são considerados não-kosher e recebem a denominação de tarêf.

Requisitos para obter o certificado kosher

Para atender a comunidade judaica e facilitar a identificação, os produtos kosher devem apresentar um selo que forneça a garantia de que a produção e processamento seguiram devidamente as regras para alimentos kosher.

No mundo existem mais de 400 agências de supervisão rabínica de alimentos kosher e cada uma tem seus próprios critérios, umas mais ortodoxas e outras um pouco menos, mas todas sempre baseadas na Lei judaica, possuindo cada uma símbolos ou marca registrada próprias, que vão impressas no rótulo ou na embalagem dos produtos sob sua supervisão.

O certificado kosher, portanto, é um documento emitido para atestar que os produtos fabricados por uma determinada empresa obedecem às normas específicas que regem a dieta judaica ortodoxa.

O processo de emissão de um certificado kosher depende da colaboração e total transparência nas informações que serão permutadas entre a empresa que fabrica o produto e a entidade judaica que emitirá o documento.

Numa primeira etapa, uma pesquisa minuciosa é realizada para levantamento de dados sobre os ingredientes que compõem os produtos. Consideram-se matérias-primas, insumos, aditivos, fluxogramas e lista de fornecedores, bem como o processo de fabricação empregado, sistema de caldeiras, vapor, planta da fábrica, etc.

Esta pesquisa é realizada muitas vezes remotamente, sendo que todas as informações obtidas são preenchidas e documentadas, em caráter sigiloso, pelo departamento de kashrut responsável pela pesquisa e, se tudo estiver de acordo, segue-se para o passo seguinte.

Numa segunda etapa, após ter sido constatado que o produto ou produtos preenchem as normas da dieta kosher, é agendada uma visita de um rabino ortodoxo ou representante do rabino à planta industrial, para que a produção e o produto possam ser verificados, e se tudo estiver dentro das regras, então será aprovado e recebe o selo kosher.

Para quem não é da comunidade judaica, tudo isso pode parecer estranho e até irrelevante. Pode-se perguntar, ainda, o que tudo isso tem a ver com food safety?

Mas o fato é que se uma organização quer ter como público consumidor de seus produtos a comunidade judaica, e diria que é uma comunidade muito relevante não só em Israel, mas em diversos países, especialmente nos EUA, deve respeitar as tradições e requisitos de caráter étnico e religioso destes stakeholders.

Portanto, tudo aquilo que é considerado por eles impróprio deve ser entendido com um perigo na análise de riscos durante uma produção de alimentos kosher, seguindo devidamente suas tradições e mantendo registros para rastreabilidade.

Lembrando que muitos não judeus também consomem produtos kosher, como vegetarianos e veganos para se certificar que não há contaminação cruzada dos produtos que consomem com carne e derivados, ou diversas pessoas que identificam nestes selos um compromisso com a rastreabilidade.

Finalizo o artigo declarando meu respeito e admiração ao povo judeu, que tanto contribuiu e ainda contribui para a ciência colecionando prêmios Nobel, assim como para com os valores morais das sociedades ocidentais. Shalom!

Leia também: 

  1. Stakeholders do segmento de alimentos e suas expectativas
  2. A alimentação halal: origem, tradição e certificação

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Tradução: Guia Suplementar das “Estratégias de mitigação para proteger alimentos contra adulterações intencionais” do FDA

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O Food Safety Brazil mais uma vez traz em primeira mão a tradução de mais um Guia para a Indústria de Alimentos e nossos leitores. Para você acompanhar a evolução do assunto no FDA traduzimos o Rascunho do Guia Suplementar das “Estratégias de mitigação para proteger alimentos contra adulterações intencionais”. Sabemos que o tema Food Defense vem sendo cada vez mais compreendido pelo público brasileiro que vem ampliando seu conhecimento nos Sistemas de Gestão de Segurança de Alimentos, bem como a educação corporativa para o tema. Sabendo que o assunto requer cuidado e atenção para quem possui uma certificação do GFSI, nossa equipe não se cansa de buscar o melhor conteúdo para disponibilizar a vocês.

Esperamos que esta novidade complemente o que você já aprendeu com a publicação do
Guia do FDA que trata de estratégias de mitigação em Food Defense no mês de junho.

Este guia suplementar conta com os capítulos e apêndices adicionais que estão sendo distribuídos apenas para fins de comentários. São eles:

Capítulo 5:Componentes da Estratégia de Gerenciamento de Mitigação: Ações Corretivas para a Defesa dos Alimentos

Capítulo 6: Componentes de gerenciamento de estratégias de mitigação: verificação de defesa dos alimentos

Capítulo 7: Reanálise

Capítulo 9: Registros

Anexo 2: Estratégias de Mitigação na Base de Dados de Estratégias de Mitigação da Defesa dos Alimentos

Anexo 3: Determinação do Status de Micro ou Pequenas Empresas sob a Parte 121: Estratégias de Mitigação para Proteger os Alimentos Contra Adulteração Intencional

Espero que  possamos complementar conhecimento com mais este conteúdo feito com dedicação de vários voluntários pensando em você, leitor. Aproveite!

Clique aqui para acessar o guia.

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Quociente de Adaptabilidade (QA) na gestão da segurança de alimentos

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Todos os segmentos industriais vivem atualmente uma dinâmica de mudanças incrível, com a tecnologia crescendo em progressão geométrica (PG), muitas impulsionadas pelas novidades da quarta revolução industrial, como visto no artigo “O potencial da Indústria 4.0 favorecendo a segurança dos alimentos”. A cada dia surgem novas formas de produção, de comunicação, de controle, de análises, de monitoramentos, de rastreabilidade, etc, o que exige dos profissionais um elevado quociente de adaptabilidade.

Como se não bastasse isso tudo, 2020 está sendo marcado pela pandemia de Covid-19, que catalisou novas mudanças em tempo recorde e em escala global, sejam comportamentais ou nas formas de trabalharmos (operacionais), como, por exemplo, a necessidade de atividades, treinamentos e auditorias remotas.

Outro motivador de mudanças no segmento de alimentos e bebidas é impulsionado por diferentes grupos que representam nichos específicos, os chamados “Stakeholders do segmento de alimentos e suas expectativas”, e que influenciam os caminhos deste universo mercadológico, como a necessidade de sistemáticas para prevenir riscos de alergênicos, produtos para quem não pode consumir glúten, intolerantes à lactose, produtos para quem opta por livres de açúcar por questões estéticas ou de saúde, vegetarianos, veganos, questões étnicas como Kosher e Halal, clientes que buscam selos verdes de produção sustentável, etc.

Mas não são só estes fatores que impulsionam mudanças, há também o desejo dos consumidores por produtos cada vez mais saborosos, práticos, fáceis, prazerosos, atrativos, nutritivos, seguros, de shelf-life prolongada, o que é atendido pela indústria de alimentos e bebidas via inovação, e que conta num mercado globalizado associado com melhores estratégias logísticas com um infindável acesso a matérias primas e ingredientes diferentes, vindos dos cantos mais remotos do mundo e das origens mais distintas.

No meio disso tudo, temos então um tornado de mudanças todos os dias, e isto obviamente, impacta a segurança dos alimentos, os controles, os monitoramentos, as análises de riscos, os Planos de HACCP, as legislações a serem atendidas, etc.

Sem querer assustar ninguém, um estudo da IBM estima que nos próximos três anos, 120 milhões de pessoas nas 12 maiores economias do mundo possivelmente precisarão ser recolocadas por causa das inovações tecnológicas e a automação.

Quem faz trabalhos que máquinas podem fazer, sejam operacionais ou lidando com coleta de dados e interpretação de padrões e tomada de decisões que algoritmos e inteligência artificial sejam capazes de fazer, será substituído.

Fábricas inteiras já estão sendo conectadas ao mundo tecnológico como visto em “Inteligência das coisas aplicada à Segurança dos Alimentos”.

Isso tudo é inevitável, uma vez que é impossível conter o avanço da tecnologia, o que aliás é ótimo, pois trará mais segurança aos processos e produtos, portanto, um incremento às questões relacionadas com food safety. Este processo será capaz de baratear produtos, diminuir custos de não qualidade, evitar danos a consumidores, e mais que tudo, trazer confiança em toda a cadeia de suprimentos como foi tratado no artigo “Entendendo o blockchain na indústria de alimentos”.

Antes colocávamos máquinas para fazer aquilo que os homens não conseguiam, mas agora no meio destas mudanças, será a habilidade em saber fazer o que as máquinas não conseguem que vai gerar as melhores oportunidades no mercado de trabalho.  

Mas é claro, também, que tantas mudanças propiciam novos negócios, diante de novos riscos e oportunidades, e ao mesmo tempo, tudo que é considerado vanguarda hoje se tornará obsoleto amanhã, e nesse cenário, uma habilidade torna-se primordial: “ADAPTAÇÃO A MUDANÇAS”.

No segmento de alimentos, então, isso é fundamental, uma vez que é utopia acreditar que se vá chegar a um Sistema de Gestão da Qualidade em Segurança de Alimentos perfeito, um momento no qual se possa dar ao luxo de dizer a frase “terminei!”, de ter um SGSA pronto, acabado e intocável, pois tudo muda e muda muito rápido.

Houve um tempo em que uma pessoa dotada do consagrado Quociente de Inteligência (QI) teria provavelmente grandes chances de sucesso com uma boa vantagem sobre os outros.

Depois se observou que nas relações de trabalho modernas e de negócios, não basta ter inteligência, é preciso saber se relacionar, lidar com pessoas, e para liderar times arrojados de sucesso, o Quociente Emocional (QE) passou a ser entendido com um grande diferencial.

Agora, as dinâmicas e interações provocadas pelas mudanças num mundo global e competitivo evidenciam que profissionais de sucesso precisam ter desenvolvido seu Quociente de Adaptabilidade (QA).

Adaptação requer saber interagir com um ambiente ao redor que constantemente é mutável. Mudam sistemas, mudam pessoas, mudam as expectativas que clientes têm de produtos e serviços o tempo todo; mudam perigos, riscos e ameaças, assim como as formas de negociar e até mesmo os códigos e padrões de comportamento.

É preciso saber tirar o melhor resultado possível de cenários desconhecidos, lidar com cenários desprovidos de nossos “marcadores” de segurança que se baseiam em encontrar situações familiares de nosso cotidiano que nos dão conforto.

E durante este processo, devemos potencializar as oportunidades enquanto se tomam medidas para prevenir, controlar ou mitigar os potenciais riscos nos processos que controlamos e nos produtos que enviamos ao mercado, sendo que muitos deles surgem inesperadamente.

Esta velocidade vertiginosa das mudanças no segmento de alimentos e bebidas, seja nos processos industriais ou nos negócios, está fazendo com que o QA seja tão importante ou mais que o QI e o QE.

Ter um QA desenvolvido significa:

  1. Ter o hábito permanente de aprender, por saber que é a única forma de não ser surpreendido bruscamente pelas mudanças, é constantemente desenvolver-se;
  2. Ler e se inteirar sobre todas as novidades que surgem em sua área de atuação, como, por exemplo, aqui no blog para quem é do segmento de alimentos e bebidas, ou seja, manter-se na frente;
  3. Desenvolver-se emocionalmente para diante de mudanças que nos tiram da zona de conforto, não “travar” e não se colocar em uma posição de “resistência”, mas observar o que a mudança requer de nós e dar o melhor;
  4. Apurar a curiosidade pessoal favorecendo a preferência pelas novidades em detrimento das rotinas;
  5. Se tornar um agente proativo que ajuda a conduzir processos de mudanças.

Absorva o fato de que a mudança é uma constante na vida, que mudanças ocorrerão sempre e cada vez mais rápido no ambiente de trabalho e de negócios, desenvolva a habilidade para lidar com isso aprimorando seu quociente de adaptabilidade e tudo ficará bem.

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