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O futuro da Segurança de Alimentos: avanços e desafios

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A segurança de alimentos é um tema de crescente relevância em um mundo cada vez mais globalizado. Com o aumento da população mundial, a urbanização acelerada e as mudanças nos hábitos alimentares, os desafios para garantir que os alimentos sejam seguros para o consumo tornam-se mais difíceis.

Antes de tudo, saber a diferença entre segurança alimentar e segurança de alimentos é crucial para entender melhor o assunto. Segurança de alimentos refere-se à proteção dos alimentos ao longo de toda a cadeia de produção, garantindo que sejam seguros para consumo. Isso inclui desde a escolha das matérias-primas até o produto final, assegurando que estejam livres de contaminantes e adequados para o consumo humano. Segurança alimentar relaciona-se ao direito de todos terem acesso constante a alimentos nutritivos e seguros. Segundo a FAO, isso envolve garantir que todas as pessoas tenham acesso físico, social e econômico a uma quantidade suficiente de alimentos para manter uma vida saudável e ativa.

Historicamente, a segurança de alimentos tem sido uma preocupação constante, especialmente após eventos de surtos alimentares que resultaram em doenças e mortes. Nos últimos anos, houve um avanço significativo nas regulamentações e práticas de segurança de alimentos, buscando por uma maior conscientização e cuidado sobre os riscos associados à contaminação de alimentos. Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) são mecanismos adotados nas empresas de alimentos para minimizar o risco de contaminação.

Os avanços na segurança de alimentos não se limitam somente às regulamentações. O desenvolvimento de metodologias científicas para a detecção de patógenos e contaminantes desempenham um papel crucial.  A biotecnologia, por exemplo, permitiu a criação de métodos de detecção mais rápidos e precisos, facilitando a identificação e controle de surtos alimentares antes que eles se tornem possíveis epidemias.

Apesar dos avanços, a segurança de alimentos ainda enfrenta desafios. A adaptação de micro-organismos, novas tecnologias de produção, variações ecológicas e o aumento do comércio global de alimentos são fatores que complicam a situação. Além disso, novos hábitos alimentares e a crescente demanda por alimentos frescos e minimamente processados aumentam a necessidade de práticas rigorosas. O crescimento do comércio global de alimentos implica em desafios logísticos e regulatórios. A diversificação das fontes de alimentos e a complexidade das cadeias de abastecimento elevam o risco de contaminação e tornam a rastreabilidade dos produtos mais desafiadora.

Os surtos alimentares continuam a ser um problema: entre 2009 e 2019, o Brasil registrou 7.674 surtos alimentares, com a maioria dos casos ocorrendo em residências. Isso demonstra que, apesar das melhorias, ainda há muito a se fazer. A subnotificação de surtos alimentares pode acontecer e pode ser atribuída à falta de conscientização, infraestrutura inadequada e limitações nos sistemas de vigilância.

O futuro da segurança de alimentos será fortemente influenciado por inovações tecnológicas. A digitalização e a automação estão transformando a forma como os alimentos são produzidos, processados e distribuídos. Tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) permitem o monitoramento em tempo real das condições de armazenamento e transporte, garantindo que os alimentos sejam mantidos em condições seguras.

Além disso, a biotecnologia está desempenhando um papel crucial na segurança de alimentos. O desenvolvimento de culturas resistentes a pragas e doenças pode reduzir a necessidade de agrotóxicos, enquanto a engenharia genética pode ajudar a criar alimentos com propriedades nutricionais melhoradas. A biotecnologia permite a seleção de microrganismos que produzem substâncias antimicrobianas, oferecendo uma alternativa ao uso de aditivos químicos nos alimentos, ajudando a aumentar a segurança e a vida útil dos produtos sem os efeitos adversos de conservantes químicos. No entanto, essas tecnologias também levantam questões éticas e de segurança que precisam ser consideradas.

A automação e a inteligência artificial (IA) estão se tornando ferramentas essenciais para se obter segurança de alimentos. A IA pode analisar grandes volumes de dados para prever e identificar potenciais riscos de contaminação, enquanto a robótica pode ser utilizada para tarefas que exigem precisão e higiene, minimizando o risco de contaminação.

A atualização constante dos sistemas de gestão da qualidade é fundamental para o futuro da segurança de alimentos, pois a adoção de normas internacionais, como a ISO 22000, que estabelece requisitos para um sistema de gestão da segurança de alimentos, ajuda as empresas a garantirem a segurança em toda a cadeia de suprimentos. A integração de práticas de sustentabilidade e responsabilidade social também será essencial, pois os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à origem (alimentos orgânicos, livres de organismos geneticamente modificados) e ao impacto ambiental dos alimentos que consomem.

A rastreabilidade é outro aspecto crucial na gestão da qualidade. Sistemas avançados de rastreamento permitem monitorar cada etapa da produção e distribuição de alimentos, facilitando a identificação de problemas ou falhas e a implementação rápida de medidas corretivas. Essa transparência é fundamental para ganhar a confiança do consumidor e assegurar a integridade dos produtos alimentícios.

A conscientização do consumidor é um fator que moldará o futuro, pois com o acesso à informação facilitado pela internet, os consumidores estão mais informados sobre os riscos associados aos alimentos e as práticas de segurança, o que leva a uma maior demanda por transparência das indústrias e por alimentos que atendam a padrões de segurança mais rigorosos.

As empresas que se adaptarem a essa nova realidade, investindo em comunicação clara e em práticas de segurança de alimentos, estarão mais bem posicionadas para conquistar a confiança dos consumidores. A educação do consumidor sobre a manipulação e o armazenamento adequados de alimentos deve sempre ser considerada para reduzir o risco de contaminação em casa.

A segurança de alimentos é um desafio global que requer colaboração entre países, organizações e setores, pois essa troca de informações sobre surtos alimentares, práticas de segurança e inovações tecnológicas pode ajudar a fortalecer a segurança dos alimentos em todo o mundo. Iniciativas como o Codex Alimentarius, que estabelece normas internacionais para alimentos, são exemplos de melhorias significativas em conjunto para a segurança de alimentos.

A cooperação entre setor público e privado também é fundamental, parcerias entre governos, indústrias e ONGs podem acelerar a implementação de tecnologias e práticas inovadoras que melhoram a segurança dos alimentos.

Com um compromisso coletivo e uma abordagem proativa, podemos esperar um futuro em que a segurança de alimentos seja uma prioridade global, garantindo que os a alimentos sejam seguros e nutritivos para o consumo, e a colaboração global, a inovação tecnológica e a educação serão os pilares para alcançar esse objetivo.

Por Leonardo Gomes Petrucci, estudante universitário

Imagem gerada por inteligência artificial

Referências

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?FARIAS CUNHA, F.; BLANDINA, M.; MAGALHÃES, H.; SANTESSO BONNAS, D. >Artigos Desafios da gestão da segurança dos alimentos em unidades de alimentação e nutrição no Brasil: uma revisão. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistacontextos/wp-content/uploads/2013/04/Revista_Vol1_N24a14.pdf .

JOSENNE FEITOSA; ANDRADE, P. SEGURANÇA DOS ALIMENTOS E FERRAMENTAS DA QUALIDADE. Enciclopédia biosfera, [s. l.], v. 19, n. 39, 2022. Disponível em: https://www.conhecer.org.br/ojs/index.php/biosfera/article/view/5444. Acesso em: 27 jul. 2024.

LILIAN, S.; SOARES; COMASTRI, R.; ALMEIDA, C.; FEDERAL DA BAHIA, U. Conhecimento, atitudes e práticas de manipuladores de alimentos em segurança dos alimentos: uma revisão sistemática. Higiene Alimentar, [s. l.], v. 30, [s.d.]. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/08/1473/separata-71-76.pdf

LÚCIO DA SILVA, E.; ALDEANE DA SILVA, M. FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO BAIXO SÃO FRANCISCO DR. RAIMUNDO MARINHO FACULDADE RAIMUNDO MARINHO. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://raimundomarinho.edu.br/rdta/files/original/30419bc83a33ba73fbb2ebf418e78766287f5630.pdf . Acesso em: 27 jul. 2024.

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Tecnologia, sustentabilidade e cooperação serão o futuro da segurança de alimentos

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A segurança de alimentos é uma preocupação global que afeta diretamente a saúde pública, a economia e o comércio internacional. À medida que o mundo avança tecnologicamente e enfrenta desafios ambientais, a segurança de alimentos deve evoluir para enfrentar novos riscos e aproveitar oportunidades emergentes. Este texto explora as tendências e inovações que moldarão o futuro da segurança de alimentos.

1. Avanços tecnológicos

A tecnologia desempenhará um papel crucial na transformação da segurança de alimentos. Entre as inovações mais promissoras estão:
Blockchain: A rastreabilidade dos alimentos será aprimorada com a adoção do blockchain, permitindo que todos os participantes da cadeia de suprimentos registrem e acessem dados de forma transparente e segura. Isso não apenas reduzirá a incidência de fraudes alimentares, mas também facilitará a identificação rápida de fontes de contaminação em caso de surtos.
Internet das Coisas (IoT): Sensores inteligentes conectados à IoT monitorarão em tempo real as condições de armazenamento e transporte dos alimentos, garantindo que permaneçam dentro das faixas de temperatura e umidade seguras. Isso minimizará o risco de deterioração e contaminação.
Inteligência Artificial (IA): Algoritmos de IA analisarão grandes volumes de dados para prever e identificar riscos potenciais de segurança. Eles poderão detectar padrões em surtos de doenças transmitidas por alimentos e prever problemas antes que ocorram, permitindo uma resposta proativa.

2. Sustentabilidade e Segurança de Alimentos

A sustentabilidade está se tornando uma prioridade no setor alimentício, e a segurança de alimentos deve acompanhar essa tendência:
Agricultura vertical e hidropônica: Essas práticas agrícolas reduzirão a dependência de pesticidas e fertilizantes químicos, resultando em alimentos mais seguros. Além disso, a produção local em ambientes controlados diminuirá o risco de contaminação durante o transporte.
Embalagens sustentáveis: Novas tecnologias de embalagem, como materiais biodegradáveis e comestíveis, serão desenvolvidas para manter a segurança dos alimentos enquanto reduzem o impacto ambiental. Essas embalagens poderão incluir sensores integrados que indicam a frescura dos alimentos.

3. Regulações e políticas públicas

As políticas governamentais continuarão a evoluir para garantir a segurança de alimentos em um ambiente global em mudança:
Harmonização internacional: A colaboração entre países para harmonizar regulamentos facilitará o comércio internacional e garantirá padrões uniformes de segurança. Organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) desempenharão papéis cruciais nesse processo.
Educação e capacitação: Investimentos em programas de educação e capacitação para agricultores, produtores e manipuladores de alimentos serão essenciais para garantir a implementação de práticas seguras em toda a cadeia de suprimentos.

4. Desafios emergentes

O futuro da segurança de alimentos também enfrentará novos desafios que exigirão soluções inovadoras:
Mudanças climáticas: O aquecimento global e as mudanças nos padrões climáticos afetarão a produção agrícola e a disponibilidade de alimentos, aumentando a vulnerabilidade a contaminações e surtos de doenças. Será necessário desenvolver cultivares resistentes a pragas e doenças e adaptar as práticas agrícolas às novas condições climáticas.
Resistência Antimicrobiana: O uso excessivo de antibióticos na pecuária está levando ao aumento da resistência antimicrobiana, que representa uma ameaça significativa à segurança de alimentos. Serão necessárias novas estratégias para monitorar e controlar o uso de antibióticos, bem como desenvolver alternativas seguras e eficazes.

5. A importância da colaboração

A segurança de alimentos é uma responsabilidade compartilhada que requer a colaboração de todos os atores envolvidos, desde produtores até consumidores:
Parcerias Público-Privadas: A cooperação entre governos, empresas e organizações não-governamentais será fundamental para desenvolver e implementar soluções eficazes. Essas parcerias podem promover a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, bem como a disseminação de melhores práticas.
Consciência do consumidor: Consumidores informados desempenham um papel crucial na segurança de alimentos. Campanhas educativas e de conscientização sobre práticas seguras de manipulação e armazenamento de alimentos ajudarão a prevenir surtos de doenças transmitidas por alimentos.
O futuro da segurança de alimentos será moldado por avanços tecnológicos, práticas sustentáveis, políticas públicas eficazes e uma colaboração global. Embora desafios emergentes exijam atenção e inovação contínuas, as oportunidades para melhorar a segurança de alimentos são vastas. Ao adotar uma abordagem proativa e colaborativa, podemos garantir um futuro em que todos tenham acesso a alimentos seguros e saudáveis.
Viviani Vasconcelos é engenheira de alimentos pela Escola de Engenharia Mauá, mestre em Nutrição e Dietética pela Universidad Europea Miguel de Cervantes (Espanha) e Lead Assessor FSSC 22000 pelo IRCA. Atua há mais de 20 anos com assuntos regulatórios para alimentos e bebidas, auditorias e sistemas de Gestão da Segurança de Alimentos

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O que não mata engorda, e o que não engorda, mata

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Já dizia minha avó: “o que não mata engorda”. Esse é um ditado popular muito conhecido pelas pessoas de gerações mais antigas, e que se baseia principalmente no consumo de alimentos e seus cuidados ao serem consumidos, ou melhor, na falta de cuidados ao serem ingeridos. Mas o oposto (o que não engorda mata) também é válido.

Há muitos anos alimentar-se tinha como objetivo único saciar a fome. Com o decorrer do tempo, fazer refeições começou a ter outro significado: o benefício para a  saúde e viver mais e melhor. Além disso, outro assunto tornou-se preocupação e também começou a ser prioridade na produção de alimentos: sua segurança e inocuidade.

Ao longo dos anos, em várias partes do mundo, infelizmente existem inúmeros registros de problemas graves causados pelo consumo de alimentos, inclusive com perda de vidas. Atualmente existem esforços por parte da sociedade, autoridades, profissionais e estabelecimentos produtores de alimentos para evitar que essa terrível história se repita, mas nem sempre essa missão alcança êxito.

E o que esperar para o futuro quando se fala em Segurança de Alimentos? Assim como tudo na vida, as coisas mudam, evoluem e facilitam nossa vida. Por exemplo: estamos numa era com incontáveis aplicativos digitais que fazem hoje o que seria impensável anos atrás e a mesma coisa acontece em relação à produção e fornecimento de alimentos.

A bola da vez é a tão comentada IA (Inteligência Artificial). Veja como as novas tendências do setor de alimentos estão conectadas com a inteligência artificial. Assim como a IA, a IoT (Internet das Coisas) também ajuda a monitorar as condições de armazenamento e transporte em tempo real, garantindo que os alimentos sejam mantidos em condições ideais para consumo.

Os avanços da ciência têm trazido bons resultados com a robótica e sistemas avançados na forma de produzir, o que se convencionou chamar de Indústria 4.0. Leia aqui sobre o potencial da Indústria 4.0 favorecendo a segurança dos alimentos. A área de microbiologia também avança: PMP como ferramenta de microbiologia preditiva em alimentos.

Os governos ao redor do mundo estão criando regulamentações mais rigorosas para garantir a segurança dos alimentos, especialmente em resposta a novos desafios e surtos. Aqui no Brasil inclusive vivenciamos isso de tempos em tempos: Socorro!!! Mudanças na legislação da ANVISA – Confira o que mudou.

Outro fator atual é a sustentabilidade e não poderia ser diferente em se tratando da produção de alimentos seguros: Sustentabilidade e Segurança de Alimentos de mãos dadas. 

Além disso, já existe um movimento de educação aos consumidores, pois grande parte dos surtos e contaminações acontecem nas casas. Desta forma será cada vez mais comum surgirem ações educativas para a população em geral e para as novas gerações: conheça a cartilha para crianças que ensina Segurança de Alimentos.

A engenharia genética e outras biotecnologias avançaram na produção de alimentos mais resistentes a pragas e doenças, diminuindo a necessidade de pesticidas e outros produtos químicos. Vale ressaltar também a importância da nanotecnologia.

E tudo isso tem um impacto positivo sobre a forma de produzir alimentos com segurança. Todos esses avanços visam criar no futuro um ambiente de produção e fornecimento de alimentos mais seguros, transparente e sustentável garantindo assim a nutrição e saúde de todos.

Por fim, poderemos criar na nossa geração um novo ditado popular: “O que não engorda e nem mata faz bem.”

José Gonçalves de Miranda Júnior é graduado em Tecnologia Agroindustrial (Alimentos) na Universidade do Estado do Pará. Tem pós-graduação em Engenharia de Alimentos – Desenvolvimento de produtos  e especialização em Segurança de Alimentos. Atua há 15 anos na área de Qualidade e Segurança de Alimentos em diversas indústrias. 

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Conexões para a segurança de alimentos

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Quando as indústrias de matérias-primas, alimentos e de embalagens trabalham com responsabilidade para garantir a segurança dos alimentos, o efeito é refletido na segurança alimentar no mundo.

É papel dos profissionais que estão inseridos nesta cadeia de fornecimento seguir atentos, com mentalidade de riscos ao trabalhar nos processos.

Em um mundo dinâmico, incerto e que vive consequências de mudanças climáticas, comportamentais humanas, tecnológicas e de saúde , as ferramentas de gestão são cada vez mais aliadas do nosso esforço de mitigar riscos.

A conexão entre os elos da cadeia de fornecimento é o que garante a segurança do alimento para o consumidor. Fortalecer as barreiras em cada interface importa. Como pensar em um novo produto, sem projetar a embalagem que irá protegê-lo, evitando descartes por má conservação ou contaminação?

Como usar matérias-primas de provedores que não analisam seus riscos na fabricação e transporte?

Isso tudo sem falar dos desafios de gestão dos alergênicos e dos riscos de migração que podem prejudicar a saúde do consumidor!

Somamos todos estes desafios ao da sustentabilidade, em um planeta que pede socorro por sua preservação e restauração com enorme demanda por materiais sustentáveis e igualmente eficientes.

Que nós, profissionais ligados à área de segurança de alimentos, nos inspiremos para seguir nesse movimento forte de melhoria contínua.

Nossos esforços devem apoiar a segurança alimentar. Somos um grande time que envolve empresas, organizações da sociedade civil, governos e consumidores. Cada um de nós pode contribuir para a construção de um futuro com acesso a alimentos seguros e nutritivos para todos.

Vamos juntos!

Aline Jovanelli Dias é bacharel em Química. Atua há 25 anos na área de Qualidade em indústrias dos segmentos químico, automotivo e farmacêutico

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Atenção passageiros, qual o próximo destino da Segurança de Alimentos?

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Quando falamos em futuro, logo pensamos em inteligência artificial e em como esta ferramenta, que já está tão presente em nosso dia a dia, pode ser explorada e trazer melhorias para nossas vidas. Considerando este contexto de futuro para a segurança de alimentos, será que poderemos pensar em um cenário empolgante e desafiador, em que a inteligência artificial poderá monitorar os perigos online de uma forma ainda inalcançável? Robôs com IA que garantirão a continuidade do processo e a diminuição de erros? Planos APPCC sendo atualizados instantaneamente? Embalagens inteligentes e desenvolvidas a partir de dados compilados por esta inteligência, proporcionando segurança e sustentabilidade ambiental? Hum….talvez esse seja mesmo um futuro muito promissor e esteja iminente.

Em um passado não tão distante víamos a preocupação apenas em vender alimentos. Legislações e regras não existiam ou eram escassas e as informações eram pouco padronizadas, como podemos ler um pouco aqui. Com o passar do tempo, as legislações foram sendo criadas, pessoas foram sendo treinadas, surgiram as certificadoras e tudo evoluiu até chegar aos dias de hoje. A preocupação não está mais em apenas vender alimentos, mas também em fornecer um produto seguro, atendendo inúmeras legislações, normas e esquemas de certificação (ANVISA , MAPA, FSSC 22000, BRCGS, IFS, entre outros) e com informações mais claras para o consumidor, com melhores padrões nos rótulos e nas informações, resultado de um conjunto de ações de pessoas de diversas áreas.

Com o passar do tempo, novos temas são abordados, o funil torna-se cada vez mais apertado e o que antes eram detalhes vai se transformando em planos de ação, controles, treinamentos, fiscalizações etc.

Atualmente preocupa-se com o design sanitário dos equipamentos, os planos para uma produção sustentável, com redução de perdas e o fortalecimento da cultura de segurança de alimentos. Ufa! Com tantas novas ações, será então que já olhamos para tudo? Será então que não há mais nenhum “pelo em ovo” ou coisas assim perdidas por aí? Empresa certificadas, legislações funcionando, parece que está tudo certo… Ou será que mesmo assim estamos olhando apenas para a ponta do iceberg? Como será que esse olhar nos levará à resposta sobre o futuro?

Voltando para o presente, estamos em um momento em que tudo vira uma verdade absoluta nas redes sociais, em que mentiras sem embasamento derrubam anos de estudos. A cultura é o que fortemente se destaca como um campo a ser melhor trabalhado. E por estes e por outros motivos não podemos pensar na cultura somente dentro das organizações. Pare e reflita: quando você conversa com seu vizinho, será que a cultura chegou até ele? Ou ele ainda está procurando papelão em carne bovina e jurando que a linguiça de tal marca é imprópria para consumo, e o leite em pó é mil vezes melhor do que o de caixinha por “ser puro”? Como anda a relação entre segurança de alimentos e as redes sociais?

Sob essa lente, talvez o futuro da segurança de alimentos esteja no fortalecimento da cultura, mas não falo especificamente da cultura das empresas que atingiram a maturidade nem tampouco das pequenas fábricas que ainda engatinham neste requisito ou ainda daquelas grandes que estão se mexendo para sair do modo “sempre foi assim”.

Será que a inovação, o grande futuro que esperamos, não está mais perto do que imaginamos apenas ao olhar para fora? É preciso estourar a bolha das organizações e trabalhar a cultura com quem mais se beneficia e literalmente se alimenta dela, AS PESSOAS! Sim! São elas, as pessoas, que mais trazem e trouxeram força para as regulamentações de alimentos. Projetos como o Põe no Rótulo e o próprio Food Safety Brazil exemplificam belamente como o conhecimento público pode fortalecer e impulsionar mudanças positivas, promovendo uma cultura de segurança de alimentos. E desta forma, com o fortalecimento e engajamento social, aliados aos avanços tecnológicos, chegaremos ao futuro desta cultura linda e pela qual somos tão apaixonados.

E então, passageiros, já haviam pensado assim? Vamos juntos embarcar nesta viagem com destino ao futuro da segurança de alimentos, munidos de muita cultura, não esquecendo da tecnologia, da IA, dos planos de APPCC online e de toda essa bagagem? Encontro vocês lá!

Por Fábia Carolina Lavoyer Llorente

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Segurança de alimentos no espaço: novos desafios

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Em  junho de 1959, a NASA, Agência Espacial Americana, contratou a empresa Pillsbury, com o objetivo de produzir alimentos que pudessem ser consumidos em gravidade zero, e ao mesmo tempo, serem seguros. Foi a partir daí que surgiu uma das mais famosas ferramentas relacionadas à produção de alimentos seguros, o APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). Para conhecer um pouco mais sobre essa história, faça uma breve leitura do artigo “Uma breve história do HACCP”.

A chegada do homem à Lua e a realização de viagens espaciais tornou realidade algo que antes eram histórias de ficção científica, fazendo com que além de todo o cuidado com as pesquisas e construções de espaçonaves e foguetes, também houvesse a preocupação quanto à segurança dos alimentos no espaço.

A partir daí inúmeras pesquisas realizadas por empresas especializadas nesse assunto ao redor do mundo fizeram com que todo o cuidado que a NASA tinha em relação à segurança de alimentos, também se estendesse à produção de alimentos aqui na Terra.

Nos tempos atuais, começamos a dar novos passos em relação à  corrida espacial,  já que não apenas astronautas, mas também turistas espaciais começam a frequentar o espaço com viagens ainda não tão acessíveis a toda população devido ao alto custo. Vislumbrando as próximas décadas, podemos prever  que as idas de humanos ao espaço se tornarão cada vez mais frequentes. Em se tratando de alimentação, quais as tendências e cuidados a se tomar?

As várias áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação das indústrias de alimentos e centros de pesquisas de renomadas universidades já dominam os riscos a serem avaliados, os perigos a serem controlados e os impactos à saúde humana quanto ao consumo na Terra. Fora do nosso planeta, a situação é outra, uma vez que o espaço ainda é um campo desconhecido em termos de produção, armazenamento, validade e consumo de alguns alimentos. Imagine um alimento com migalhas que podem ficar facilmente suspensas no ar em um ambiente de baixa gravidade ou um alimento rico em sal (o corpo  armazena sódio no espaço de forma diferente e pode causar osteoporose acelerada). Esses são alguns tipos de perigos a serem considerados.

Em obras de ficção, como o desenho animado “Os Jetsons”, vimos episódios de alimentos com embalagens em tubos como pasta de dente que os personagens usavam para se alimentar. No filme “Perdido em Marte (2015)”,  o protagonista tem a difícil missão de produzir batatas em solo marciano. São apenas alguns exemplos para ter ideia do quão desafiador é pensar sobre isso. Mas já temos algo que pode chegar próximo disso, como os alimentos 3D, que são alternativas a serem aprimoradas para o espaço e aqui na Terra também.

Diante disso, existe um vasto campo para pesquisa, envolvendo a produção de alimentos, sua composição, resíduos, as reações bioquímicas, as tecnologias para congelamento, desidratação, termoestabilização e potenciais perigos conhecidos e desconhecidos.

Certo é que o futuro já chegou e precisamos ter em mente que todas essas novidades voltadas para alimentos no espaço também servirão para melhorar a segurança dos alimentos aqui na Terra. Basta lembrar o APPCC citado no início desse texto. E vamos rumo às estrelas.

Por José Gonçalves de Miranda Júnior

2 min leituraEm  junho de 1959, a NASA, Agência Espacial Americana, contratou a empresa Pillsbury, com o objetivo de produzir alimentos que pudessem ser consumidos em gravidade zero, e ao mesmo tempo, […]

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Ovos e ovoprodutos: uma perspectiva frente às mudanças climáticas

5 min leituraAo fazer as compras do mês, certamente já nos deparamos com a alta dos preços nas gôndolas e a proporção inversa da quantidade de sacolas que vão para casa e da quantidade de dinheiro que fica no supermercado.

As mudanças climáticas têm impactado diretamente a alta dos preços dos alimentos (já vimos o caso do azeite, do arroz e do cacau), e consequentemente o bolso do consumidor e, ainda pior, a segurança dos produtos.

Mas, e os ovos? Por que se preocupar com eles?

Quem não pega uma pequena cartela de ovos em sua cesta do supermercado, seja o ovo tradicional em casca ou, para quem prefere praticidade, uma caixinha de ovo pasteurizado ou um pacotinho de ovo em pó? Se não leva o ovo diretamente, certamente o leva no seu bolinho, macarrão, panetone, molhos e diversos outros alimentos que o utilizam como ingrediente.

Hoje o Brasil é o 5° maior produtor mundial de ovos com um consumo de 242 unidades de ovo per capita/ano, um aumento de 195% desde 1997, segundo dados de 2024 da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

De acordo com projeções da ABPA, espera-se um aumento tanto da produção como do consumo de ovos para este ano de 2024, porém, também espera-se um aumento nos preços, devido ao alto custo com milho, energia elétrica, combustível e embalagem.

Essa projeção de alta no custos da produção já tinha sido apontada em outros estudos nos quais foram abordados os efeitos das mudanças climáticas na produção de ovos. O aumento constante da temperatura ambiente já vinha acontecendo a cada ano, afetando diretamente as perdas tanto de produtividade como da qualidade dos ovos e, também, indiretamente, as produções dos insumos utilizados na sua produção, como os grãos para ração (milho e soja) e também a energia elétrica.

A perda de produtividade dos ovos está relacionada à alta taxa de mortalidade das poedeiras. As ondas de calor intoleráveis às galinhas causam insolação e, por consequência, mortalidade. Além disso, a alta temperatura ambiente gera uma redução significativa na produção diária de ovos devido ao estresse e também pelo aumento no consumo de água, o que faz reduzir o consumo de ração.

Um dos fatores apontados por um pesquisador da área, Lamarca, é a falta de preparo dos produtores, que muitas vezes, pela inviabilidade econômica, não têm galpões climatizados. Em sua pesquisa, ele mostra que no interior de São Paulo, na cidade de Bastos, onde há grande produção de ovos, os produtores não possuem essa estrutura preparada para ondas de calor, isto é, não possuem climatização. Isto ocasionará alta taxa de mortalidade quando ocorrer esse evento e o autor ainda ressalta que esta cidade, bem como sua região, apresenta grande risco da ocorrência de ondas de calor.

Frente a esse cenário, os produtos de ovos deparam-se com diversos desafios, como a busca por novas formas de alojamento, suplementação para a ração, inovação e remodelagem dos sistemas de ventilação, entre outros.

Então, o impacto é só no bolso?

Não. Como já esperado, estudos relatam que as mudanças climáticas são um dos fatores que contribuem para o surgimento de novos vírus, bactérias e parasitas nos últimos anos, sendo que há uma alteração na distribuição de doenças em nível global, resultando em um estímulo aos surtos de doenças que afetam a produção agrícola, tanto na produção de ovos como da carne.

Diversos patógenos têm seu comportamento afetado pelas mudanças climáticas. A Salmonella foi apontada como um risco para contaminação de alimentos tanto no setor agrícola como nas indústrias de alimentos. Existe ainda um estudo que mostra um aumento de sua incidência em poedeiras quando há um aumento da temperatura ambiente.

Outra questão a se considerar é que, com o aumento do risco de zoonoses emergentes, com as mudanças na sobrevivência de patógenos e mudanças na distribuição de vetores e parasitas devido às mudanças climáticas, pode-se exigir um aumento no uso de medicamentos veterinários e aditivos, possivelmente resultando em níveis aumentados de resíduos em alimentos de origem animal. Isso representaria não apenas riscos agudos e crônicos para a saúde humana, mas poderia levar ao surgimento de resistência antimicrobiana (RAM) em patógenos humanos e animais. Devido à frequência crescente de bactérias resistentes a antibióticos, os humanos estão se tornando mais suscetíveis, com as mudanças climáticas contribuindo para essa suscetibilidade.

Diante disso, é importante destacar alguns pontos para a indústria de ovoprodutos:

  • É necessário cada vez mais estreitar o relacionamento da indústria com os fornecedores/produtores de ovos in natura e acompanhar as alterações que as mudanças climáticas têm causado para que, em parceria, possam traçar planos para mitigar as consequências futuras;
  • A Salmonella spp em ovos in natura deve ser avaliada com maior critério;
  • É importante uma atenção especial em relação às mudanças que podem ocorrer, principalmente, nas vacinas e agrotóxicos utilizados na cadeia de produção avícola para manter um monitoramento de análises de contaminantes atualizado;
  • O cuidado e a manutenção da cadeia do frio deve ser ainda maior devido aos impactos do aumento da temperatura mundial, além de monitorar e correlacionar às não conformidades por quebra da cadeia do frio;
  • As alterações climáticas correlacionam-se com o desperdício de alimentos ao longo de toda a cadeia de produção, sendo assim, um ponto relevante nas avaliações de perdas e desperdícios.

E para o consumidor final é importante manter os cuidados já conhecidos quando se trata de ovos: armazenar na geladeira, mas não na porta e fazer uma boa cocção no seu preparo.

Apesar de perspectivas de futuro desafiadoras na cadeia de produção de ovos e ovoprodutos, se houver união entre os elos da cadeia, trabalho em conjunto com o governo e órgãos de vigilância e ainda, ações proativas em relação às previsões climáticas, o futuro poderá ser mais seguro e surpreendente!

Jéssica M. O. Pacanaro é engenheira de alimentos pela Universidade Estadual de Maringá e especialista em Segurança de Alimentos. Atua há 8 anos em indústria de ovos, com gestão da Qualidade e Segurança de Alimentos e também com norma de certificação de bem-estar animal.  

Referências

AHAOTU, E. O.; OSUJI, F. C.; IBE, L. C.; SINGH, R. R. Climate change in poultry production: a review. International Journal of African Sustainable Development, v. 10(2), p. 362-370, 2019.

GOMEZ-ZAVAGLIA, A.; MEJUTO, J. C.; SIMAL-GANDARA, J. Mitigation of emerging implications of climate change on food production systems. Food Research International, v.134, 2020.

IRIVBOJE, O. A.; OLUFAYO, O. O.; IRIVBOJE, Y. I. Impact of climate change on poultry production: A review. Nigerian Journal of Animal Production, v.48(4), p. 59-69, 2021.

LAMARCA, D. S. F.; PEREIRA, D. F.; MAGALHÃES, M. M.; SALGADO, D. D. Climate Change in Layer Poultry Farming: Impact of Heat Waves in Region of Bastos, Brazil. Brazilian Journal of Poultry Science, v. 20, p. 657-664, 2018.

MAGGIORE, A.; AFONSO, A.; BARRUCCI, F.; DE SANCTIS, G. Climate change as a driver of emerging risks for food and feed safety, plant, animal health and nutritional quality. Publication 2020:EN-1881. European Food Safety Authority, Parma, Italy, 2020.

RAVICHANDRAN, P.; MOHAMED, A. K. A Study of the Perceived Effects of Climate Changes on Commercial Layer Egg Industry with Respect to Total Production, Egg Price Behavior, and Diseases among Layer Poultry Farmers at Namakkal District, Tamilnadu, India. The Pacific Journal of Science and Technology, v.16, p. 345-351, 2015.

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O que esperar do futuro em Segurança de Alimentos

3 min leituraO minuto seguinte e o próximo dia já serão o futuro para o qual trabalhamos. Nos momentos em que pensamos, levamos nossos filhos às escolas, atendemos aos nossos clientes, enviamos e recebemos nossas mercadorias, embalamos e fazemos nossas compras nos mercados, nesse exato momento, centenas de matérias-primas estão abastecendo os processos para produzir a energia que nos levará a executar essas e outras tarefas, além da mais nobre, é claro, a nossa vida.

É a mágica da simultaneidade e da cumplicidade, porque nós, profissionais da área de alimentos, somos os propulsores da produção e da manutenção da vida. Trabalhamos por nós e para os que mais amamos. O produto do nosso trabalho não é só o alimento, são as novas ideias, as descobertas e os sonhos que surgirão dos corpos nutridos, num movimento incessante e dinâmico, porque, a todo instante, alguém está se alimentando.

Temos leis, normas e guias que se desdobram para que cada etapa de cada processo resulte em produtos seguros e apesar disso, da nossa excelência, conhecimento e dedicação, ainda há pessoas adoecendo depois de se alimentarem. Contaminantes em níveis excessivos e proibidos, fragmentos estranhos ainda são detectados nos alimentos; até agora, pessoas morrem de intoxicação alimentar, alimentos vencidos são encontrados à venda, há vítimas de contaminação cruzada ou da falta das boas práticas de fabricação.

Centenas de pequenas operações conectam-se e se integram para entregar um produto alimentício ao consumidor. Os meios de transporte, os fabricantes de embalagens, utensílios e produtos usados nas linhas industriais incluem um número tão expressivo de pessoas que somente uma ligação muito forte entre elas poderia entregar, juntamente com o produto, a garantia da inocuidade.

Os elos da vasta cadeia da produção do alimento estreitam-se, novas etapas são introduzidas, elementos recém-desenvolvidos são incorporados e documentações são atualizadas, mas será que todas as informações foram aprendidas?

Já estudamos que todas as operações podem ser melhoradas. A melhoria contínua da segurança do alimento está no profissional de olhos vigilantes e mente observadora, na indústria comprometida e no serviço bem prestado, nas legislações e normas atualizadas, na evolução dos ingredientes, mas o futuro da segurança em alimentos está na conscientização, ou melhor, no verbo conscientizar, que denota dinâmica e envolvimento.

É preciso garantir a universalização do conhecimento, do que já temos e daquele que está por vir.  Grandes dimensões territoriais e desigualdades são obstáculos para acesso e disseminação de conceitos. Nem todos conhecem as premissas básicas da higiene e da manipulação de alimentos e nem todos entendem os riscos advindos da não prática dos cuidados necessários. Desafio ainda maior é obter a conscientização, de caráter individual e particular, e até íntimo, subjetivo. Quando somos conscientes fazemos o certo em quaisquer circunstâncias, quer sejamos observados ou não, é questão de consciência mesmo.

Não é impensável a possibilidade de encontrar colaboradores uniformizados da área de alimentos, que saem dos banheiros sem lavar as mãos e retornam ao local de manipulação. Podem ser vistos estabelecimentos alimentícios com estruturas revestidas com materiais rugosos e acabamento que não atende ao padrão sanitário, sendo que as normas estabelecem que deveria ser superfície lisa, clara e de fácil higienização.

Há casos de atendentes de lojas de alimentação que anotam os pedidos e eles próprios, sem qualquer higienização, pegam os ingredientes com as mãos para colocar nos pratos. Não se sabe, também, quantas pessoas falam diretamente sobre a nossa refeição pronta, colocada nos pratos, até o momento em que ela nos é servida. Há casos de restaurantes onde a estética e decoração prevaleceram sobre os conceitos das boas práticas de fabricação. Exemplos simplistas diante da complexidade dos processos de preparação no campo, nas indústrias ou no serviço, mas a causa da contaminação pode estar nos detalhes. Desenvolver e evoluir sem esquecer o fundamental no processamento do alimento, essa é a questão.

A capacitação dos profissionais da área de alimentos é sempre um aprendizado e um exercício determinante na conscientização para a segurança do alimento. Conquistar o interlocutor, conseguir a internalização do conhecimento necessário e obter o seu comprometimento na realização das suas tarefas, em todas as esferas, todos os dias, em todas as situações, porque ele está consciente do impacto de uma falha sobre a saúde humana, isso é, no meu ponto de vista, o futuro da garantia de um alimento seguro.

Locenir Fátima Vidorette Matsui é bióloga e profissional da Qualidade. Tem mais de 20 anos de experiência na área de alimentos, atuando em grandes empresas do ramo açucareiro, com desenvolvimento, implantação e monitoramento de sistemas da Qualidade e Segurança de Alimentos. Já trabalhou no Brasil, Síria, Argentina e Estados Unidos. 

Este post foi o vencedor do Concurso Cultural Food Safety Brazil 2024

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O agricultor e a segurança de alimentos nos dias de hoje

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Desde os primórdios da história, o homem cultiva a terra com o objetivo de produzir alimentos para a sua subsistência. Com o passar dos séculos, os sistemas de produção evoluíram, a agricultura tornou-se uma atividade econômica e vimos avanços significativos em muitas frentes.

A pesquisa moderna consegue gerar materiais adaptados às mais diversas condições em qualquer solo, região ou clima, o que permite produzir mais com menos recursos. A tecnologia embarcada hoje em uma semente, por exemplo, vai muito além do que se pode ver e produz alimentos em quantidade e qualidade superior ao que se produzia há poucas décadas, o que transforma a luta contra a fome e gera ferramentas poderosas às políticas alimentares em todo o mundo, principalmente para países menos desenvolvidos.

Mas muito além dos avanços mencionados, se a agricultura e o agricultor evoluíram, o homem como consumidor evoluiu muito mais no tocante às suas exigências por alimentos mais seguros. Nunca o termo sustentabilidade foi tão utilizado em um contexto tão amplo, que vai da manutenção e cuidados dos recursos básicos, como terra, florestas, ar e água, para um contexto de refinamento dos sistemas do gestão da qualidade. No mesmo sentido, ferramentas como as de análises de resíduos, rastreabilidade, certificações e controles para garantia de níveis máximos de resíduos evoluíram com legislações internacionais que hoje ditam o que pode e o que não pode em termos de resíduos de quaisquer substâncias nos alimentos.

Métodos analíticos evoluíram na detecção de ppm (partes por milhão) para ppb (partes por bilhão), ou seja, ficaram muito mais sensíveis a possíveis contaminações. As análises microbiológicas também avançaram para detectar, por exemplo, microrganismos de forma mais rápida. E temos ainda as análises de contaminantes físicos, tudo para resguardar a segurança dos alimentos.

Vejamos alguns exemplos de cadeias de produção em que, se estes temas não forem tratados adequadamente, haverá uma série de problemas de contaminações. Os hortifrutis, que são produzidos em poucas semanas, podem ir quase diretamente do campo à mesa , como um tomate que pode ser colhido e imediatamente ir para uma feira matinal, e ser cardápio do almoço na salada ou no molho da macarronada. Se não forem seguidas as boas práticas de produção os riscos de contaminação são enormes. Já um tomate que será produzido para purês terá ainda que passar por um processo de industrialização, no qual também correrá o risco de adquirir outros contaminantes.

As uvas e mangas do incrível Vale do São Francisco são produzidas e somente são liberadas para o mercado europeu se os parâmetros para resíduos de pesticidas estiverem abaixo do limite máximo de resíduos (LMR), que devem ser comprovados antes mesmo de entrarem no container, sob risco de serem destruídas no destino se não alcançarem os padrões dos compradores e consumidores do lado de lá.

Outro exemplo de cadeias mais longas são as carnes, tão importantes nas pautas de exportação do Brasil. Uma soja produzida no cerrado vai virar ração de suínos no sul do país, cuja carne será exportada para o outro lado do mundo e irá passar pelos mais exigentes protocolos de segurança dos alimentos. Volta e meia nos deparamos com notícias sobre proibições temporárias de exportação de carnes, o que leva a grandes estresses no sistema de produção. Ainda no campo da produção tivemos o caso das dioxinas, um contaminante químico altamente cancerígeno encontrado em derivados do leite na Europa, lá no ano de 1998, cuja causa foi a contaminação da polpa cítrica peletizada (CPP), subproduto da produção de suco de laranja, que compunha a ração das vacas, que foi parar no leite e na manteiga. Se naquela época o sistema estava alerta a este tipo de evento, certamente hoje está muito mais equipado para rastrear problemas que possam estar em alimentos tão consumidos como esses. Temos também o exemplo mais recente da contaminação das lentilhas, chamado caso Daily Harvest, com suspeitas de contaminação por uma série de substâncias, inclusive pelo potente herbicida “paraquat”.

Tudo provém da agricultura e o agricultor é e sempre foi peça fundamental nesse processo, mas cada vez mais será cobrado e auditado por isso, se quiser colocar seus produtos numa feira local, no supermercado da sua cidade ou em um container para exportação. Nesse processo estão as cada vez mais exigidas certificações, que podem ser as já mencionadas boas práticas agrícolas, organizadas por governos, como as mais rigorosas e abrangentes, que não apenas consideram o que foi utilizado em termos de insumo, como também os cuidados com o meio ambiente, mão de obra, descarte de resíduos, manejo da água, da flora e da fauna, para ficar nos mais básico. Sem elas hoje em dia e cada vez mais, não haverá como vender a produção pois o mercado exigirá algum, ou alguns, selos de garantia de qualidade. Mas isso não é somente válido para nosso agricultor, se visitarmos algum site de produtor de hortifruti europeu vamos encontrar vários desses selos, o que comprova que a preocupação existe em todos os lugares.

Dessa maneira, o agricultor que não pensar fora e longe do seu local de produção terá dificuldades de escoamento. Lembrando que o agricultor é, no final do dia, um consumidor e certamente terá suas preocupações com relação aos alimentos que ingere. Nesse processo todos ganham, desde que haja certamente a valorização da produção que premie toda a cadeia. A ideia é que todos possam comer suas saladas com total tranquilidade.

Por Marcos Pozzan

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Sobre o que você está falando? Linguagem da Qualidade e Segurança de Alimentos

2 min leituraNaturalmente no dia a dia ouvimos diversas siglas e termos comuns ao nosso ambiente de atuação, dos mais variados tamanhos e combinações. Esta linguagem da Qualidade contém diversas abreviações de termos em inglês, português, árabe, gerando muitas “palavras”, como SGQ, FSSC, ISO, APPCC, PCC, PPR, SQF, BRC, CQ, RNC etc. Isto apenas falando do universo da qualidade e segurança. Porém, também existem tantas outras siglas nos departamentos que atuam em conjunto com a Qualidade, como a manutenção, manufatura e melhoria contínua: 5W2H, FMEA, 5S, PCP, PDCA, SDCA.

Além das siglas, também é muito comum americanizar nossa linguagem, com frases como: “Precisamos ficar atentos à possibilidade de recall”, “aquele batch precisa ser retido”, “temos que investigar esse gap”, “já sinalizamos para o time de supply e marcamos uma call”.

Será que já paramos para analisar como esses termos entraram em nossas vidas e como eles nos aculturaram de tal forma que “automaticamente” os pronunciamos em meio à loucura do dia a dia? Arrisco dizer que essa linguagem da Qualidade é uma medida de “sobrevivência” para conseguirmos nos comunicar claramente e estar “inseridos e aceitos” entre nossos pares e demais profissionais da área.

Mas e quanto aos colaboradores? O quanto nossa comunicação é clara e assertiva quando utilizamos essas “palavras”? Sei que você pode estar pensando que os termos devem ser ditos justamente porque fazem parte da cultura da empresa e sua repetição incansável fará com que essa cultura seja fortalecida – ou ainda que esses termos já podem ter sido ditos anteriormente por outras empresas nas quais o colaborador trabalhou. Mas nesse texto não digo para não utilizar os termos, não digo sobre o que é certo ou o que é errado comunicar. Pretendo trazer uma reflexão para nos preocuparmos com o como utilizar e como repassar esses termos. Será que os todos os termos que utilizamos estão presentes desde a integração? Estão visíveis na comunicação visual interna e são constantemente reforçados em reuniões de área e diálogos da qualidade?

Uma comunicação assertiva precisa considerar a clareza das informações e a forma como são comunicadas. E você, leitor, com quantas novas siglas se depara diariamente?

E se você ainda se considera perdido e quer saber mais sobre siglas e termos, aproveite para ler GFSI, FSSC, BRCGS, IFS e SQF: entenda esta sopa de letrinhas.

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Como adotar práticas mais sustentáveis na indústria de alimentos?

2 min leituraAs indústrias produtoras de alimentos são regidas por regulamentos e cada dia mais estão adotando certificações em segurança de alimentos, o que as torna mais competitivas. Entre as certificações existentes, a FSSC 22000 é uma das mais adotadas dentro dessa cadeia de alimentos. Sua última atualização é a de 2023,  versão 6.0, que começou a vigorar em abril de 2024. Esta versão faz uma ligação entre práticas sustentáveis e segurança de alimentos.

A sustentabilidade ambiental e uso consciente dos recursos naturais faz parte, inclusive, da lista dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU, também publicada em 2023. Trata-se de uma iniciativa global, adotada por todos os Estados Membros das Nações Unidas, em um esforço conjunto para abordar desafios globais.

O debate sobre a sustentabilidade está presente em diferentes esferas e setores, tanto no que tange às indústrias quanto aos setores produtivos agrícolas e consumidores. E a sustentabilidade, pensando em meio ambiente, é um dos aspectos da tríade composta por meio ambiente, sociedade e economia. Num conceito mais amplo, a ideia é produzir de forma a permitir que as futuras gerações tenham acesso ao necessário para atender suas demandas. Isso é fundamental pensando em recursos naturais, enquanto sociedade e economia. Uma mudança nesse olhar tem se intensificado diante da demanda crescente pela produção de alimentos, com a preocupação dos consumidores sobre como esses alimentos são produzidos considerando os recursos naturais.

E quando estamos na indústria, seja produtora do alimento ou produtora de embalagens para acondicionar alimentos, como podemos trabalhar voltados para essas práticas sustentáveis?

Nesse ano de 2024, alguns eventos abordaram esse tema.  Algumas informações que se aplicam à produção e aos materiais destinados às embalagens de alimentos são:

  1. A possibilidade de diminuirmos o número de envoltórios utilizados para embalar um alimento – alguns casos exigem mais de uma embalagem plástica para um único produto;
  2. A possibilidade de diminuirmos a espessura de plástico nas embalagens;
  3. A possibilidade de migração da embalagem plástica para a embalagem de papel;
  4. Optarmos por embalagens plásticas produzidas com materiais recicláveis

Essas seriam algumas alternativas na indústria de embalagem. Naturalmente precisam ser avaliadas do ponto de vista de custos, cadeia de produção, distribuição e inclusive segurança do alimento.

Uma vez que a embalagem tem papel importante na conservação do alimento, seja protegendo contra perigos físicos, seja como barreira à entrada de oxigênio e possível multiplicação microbiológica no alimento, as perguntas são: um filme mais fino continuaria protegendo o alimento? Um filme reciclável também permite a mesma barreira à entrada de oxigênio? Esse é o desafio das empresas de embalagem, ter soluções seguras com valores compatíveis, o que certamente aumentará o mercado consumidor de seus produtos.

Imagem: foto de Alena Koval

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O que você está ganhando com isso? Sobre Qualidade humanizada no dia a dia

2 min leituraNo post de hoje, gostaria de compartilhar uma reflexão baseada em uma frase que ouvi no passado: “O que você está ganhando com isso?”

Vamos começar pelo começo, contextualizando e voltando ao passado.

Certa vez, em um passado distante, eu participava de um processo de conscientização, ou seja, da realização daquelas famosas atividades lúdicas e campanhas de qualidade com o objetivo de envolver os colaboradores da indústria. Abordávamos temas da qualidade, segurança dos alimentos, boas práticas de fabricação, tipos de perigos etc.

Na época existiam várias brincadeiras, quizzes, roletas, dados e outras formas de entretenimento. Uma delas inclusive envolvia um atrativo financeiro, aqueles famosos vale-presentes, diria que até era um vale-presente bem significativo.

Com as campanhas de qualidade rolando, ao abordar uma das pessoas da indústria para que participasse de uma atividade relacionada à segurança dos alimentos (claro que de forma voluntária e sem qualquer exposição negativa, pejorativa), deparei-me com a resposta tema dessa publicação: “O que você está ganhando com isso?”.

A princípio, para os desatentos, provavelmente alguns ficariam com o sentimento de ingratidão, exprimindo uma incompreensão sobre o porquê de determinada pessoa não aceitar um prêmio tão significativo em termos financeiros ou talvez pensar que essa pessoa não merecesse participar mesmo, ou até pensar que a pessoa estivesse desalinhada dos valores da empresa.

E se o lado da moeda estiver pendendo para a qualidade?

Agora, caro leitor, faço uma provocação: e se o lado da moeda estiver pendendo para a qualidade? Como assim? Será que nós, como qualidade, estamos presentes em todos os momentos, participando ativamente com as áreas ou será que “aparecemos” apenas nos momentos de cobrança, auditorias, apontando requisitos, exigindo lista para cá, checklist para lá? No meio de tanta tensão, normalmente focamos os processos, mas e as pessoas? Sua Qualidade está presente e considera as pessoas também?

Nessa reflexão quero questionar nossas ações de engajamento, pois o engajamento de verdade ocorre no dia a dia, nas trocas de informações, na escuta ativa, na segurança psicológica que proporcionamos às pessoas para falarem o que pensam.

Busque oportunidades de estar presente mais vezes e não somente nas datas comemorativas

Em meu ponto de vista, “aparecer socialmente” apenas nas datas comemorativas e estar distante das pessoas cria um clima menos “caloroso” e algumas vezes incongruente e isso levará à resposta como a citada acima. Mas calma! Sou um defensor das comemorações e das atividades sociais, das brincadeiras, jogos, pois são uma maneira mais leve e agradável de abordar assuntos técnicos. O ponto é: busque oportunidades de estar presente mais vezes e não somente nas datas comemorativas, conecte-se com as pessoas e não apenas com os processos.

Pode ser que hoje isso ainda não seja uma prática, mas deixo a você um desafio: Que tal tornar suas campanhas da qualidade como “portas de entrada” para conexões mais humanas e que no dia seguinte, quando a ação terminar, que o envolvimento fique, e aí? O que você estará ganhando com isso?

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Inteligência Artificial e mudanças climáticas: soluções para a produção segura de alimentos

3 min leituraAtônita e solidária com a recuperação da tragédia climática no Rio Grande do Sul,  resolvi escrever este post sobre as soluções que Big Data pode oferecer em relação à produção segura de alimentos.

Os sistemas de IA podem analisar dados históricos de enchentes, dados meteorológicos em tempo real e as informações topográficas para prever a probabilidade e a extensão das enchentes. Isso permite que as autoridades e agricultores estejam preparados com antecedência e tomem medidas preventivas, como a evacuação de áreas de risco, tal qual vemos nos noticiários com a maioria do povo gaúcho.

Estes dois temas, a inteligência artificial (IA) e as mudanças climáticas, hoje estão nas pautas de quaisquer fóruns para a segurança de alimentos. Existem propostas de previsões por algoritmos de IA que analisam grandes volumes de dados meteorológicos históricos e em tempo real para prever padrões climáticos futuros com maior precisão. Isso permite que os agricultores se preparem melhor para eventos climáticos extremos, como secas, tempestades e ondas de calor, e tomem medidas proativas para proteger suas colheitas.

Pode-se também otimizar a gestão agrícola, ajudando os agricultores a tomar melhores decisões sobre irrigação, uso de fertilizantes e pesticidas, rotação de culturas e outras práticas agrícolas, em prol da redução do impacto ambiental, como a lixiviação de produtos químicos para os corpos d’água.

A IA pode ser usada para analisar imagens de satélite, drones e câmeras de campo para monitorar a saúde das plantas em tempo real, como já ocorre em produção de tomates no Brasil. Isso permite a detecção precoce de doenças, infestações de pragas e estresse hídrico, fazendo com que os agricultores ajam rapidamente para mitigar danos e evitar perdas de colheita. Sensores e dispositivos conectados à Internet podem coletar dados em tempo real sobre o nível de água no solo, a qualidade da água de inundação e outros parâmetros importantes para as plantações. Esses dados podem ser analisados para avaliar o impacto das enchentes nas plantações e orientar as decisões de manejo pré e pós-enchentes.

Alertas da big data podem permitir que governos e organizações tomem medidas preventivas para proteger as comunidades e garantir a segurança alimentar, além da rastreabilidade e monitoramento para uma produção segura de alimentos, desde a produção até a distribuição. Isso inclui a detecção de contaminação em alimentos, garantindo a qualidade e a segurança dos produtos em meio a condições climáticas adversas que podem aumentar os riscos de contaminação. Além disso, temos que considerar até uma mudança do rumo da economia brasileira pela grande importância da produção agropecuária (no RS estima-se quebra de 11% nas lavouras de arroz e de 3% a 6% nas de soja, impactando o custo da ração e do leite, por consequência).

Os cientistas podem usar algoritmos de IA para analisar grandes conjuntos de dados genômicos e fenotípicos para identificar características genéticas em plantas que as tornam mais resistentes a condições climáticas adversas. Assim, é possível acelerar o desenvolvimento de variedades de culturas mais resilientes às mudanças climáticas, levando em consideração fatores como tolerância à seca, resistência às doenças e requisitos de temperatura.

Algoritmos de IA podem ser aplicados em toda a cadeia de suprimentos de alimentos para prever a demanda com maior precisão, otimizar rotas de transporte, ajudando os produtores e varejistas a planejar melhor a produção e evitar superprodução ou escassez ou, ainda, identificando alimentos que estão próximos da data de validade e sugerindo estratégias para reduzir o desperdício, como descontos ou doações (gerenciamento de inventários de forma mais eficiente). Também é possível reduzir as emissões de gases de efeito estufa (o desperdício de alimentos gerou de 8% a 10% das emissões globais de GEE), associadas ao transporte e armazenamento de alimentos. Outra ação é calcular as rotas mais eficientes para a entrega de alimentos perecíveis, minimizando o tempo de trânsito e reduzindo as chances de deterioração durante o transporte.

Há a possibilidade também de os sistemas de visão computacional baseados em IA inspecionarem e classificarem produtos agrícolas com precisão, separando alimentos de qualidade dos alimentos que estão danificados ou prestes a estragar. Desta forma, pode-se dar outra destinação a estes, tal qual algumas startups vêm fazendo com preços super-econômicos de alimentos desclassificados por padrões estéticos, mas igualmente nutritivos (aspecto de segurança alimentar). A própria ONU, por meio do PNUMA, e a Embrapa realizaram um estudo que aponta que as pessoas desperdiçam cerca de 1 bilhão de refeições por dia em todo o mundo, afetando a economia global e fomentando as mudanças climáticas, alertando para a disparidade social. São quase 800 milhões de pessoas passando fome no planeta.  

Enfim, a big data pode desempenhar um papel fundamental na gestão de crises durante e após as enchentes no Rio Grande do Sul, fomentando a produção segura de alimentos. Ela pode fornecer informações e insights valiosos para ajudar os agricultores a mitigar os danos e se recuperar mais rapidamente, garantindo o fornecimento seguro principalmente de grãos e proteínas animais, pois este Estado abastece o restante do país e parte do mundo.

Reflito também constantemente sobre os pequenos empreendedores. Como recomeçar para quem já está cheio de financiamentos? Eles vão reaproveitar paredes, objetos e equipamentos submersos que estariam contaminados ou a melhor prática é substituí-los, mesmo se estiverem em condições de funcionamento? Mas terão recursos para isso?

 Imagem: VisualHunt

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Os desafios da crise climática para a produção de chocolate e café

3 min leituraPara mim, chocolate e café estão entre os alimentos mais apreciados. Contudo, as mudanças climáticas estão causando transformações rápidas no ambiente global, afetando diversos setores, especialmente a agricultura. Isso pode influenciar a produção de alimentos como cacau e café, que estão entre os mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.

A mudança climática vai além do simples aumento da temperatura média global. Outros impactos das mudanças climáticas incluem tempestades mais intensas, aumento da frequência de chuvas fortes e períodos prolongados de seca. O derretimento do gelo nos polos está contribuindo para o aumento do nível do mar. Evidências preocupantes indicam que pontos críticos podem já ter sido atingidos ou ultrapassados, levando a mudanças irreversíveis nos principais ecossistemas e no sistema climático global.

O cacau, ingrediente principal do chocolate, é cultivado principalmente em regiões tropicais como a África Ocidental, América Central e do Sul, e partes da Ásia. Suas condições ideais incluem temperaturas médias de 27°C, alta umidade e chuvas regulares. Por outro lado, o café Arábica, conhecido por sua qualidade superior, é especialmente sensível a variações de temperatura e precipitação, com temperaturas ideais entre 18°C e 23°C.

De acordo com o relatório Endangered Aisle“, as regiões produtoras de café estão sendo significativamente afetadas pelas mudanças climáticas. Isso resulta em mudanças nos padrões de temperatura e precipitação, o que pode levar a uma redução na produtividade. Além disso, a biodiversidade nessas áreas está em risco, com perda de habitats naturais e diminuição das populações de polinizadores. Estudos indicam que muitas das principais regiões produtoras de café correm o risco de perder a adequação climática até 2050.

No mesmo relatório, vemos que as mudanças climáticas também estão impactando a produção de cacau. Prevê-se um aumento de temperatura e alterações nos padrões de precipitação, o que pode resultar em queda na produtividade. A alteração no uso da terra, como o desmatamento para expansão das plantações de cacau, tem efeitos negativos nos serviços ecossistêmicos, incluindo regulação do clima e conservação da biodiversidade. Regiões como Gana e Costa do Marfim enfrentam um risco significativo de perda de adequação climática para o cultivo de cacau até 2050.

Dado que as mudanças climáticas são um ponto de destaque, inclusive em certificações de segurança dos alimentos, como, por exemplo, a FSSC 22.000, é interessante considerar esse requisito junto ao sistema de gestão de qualidade e segurança do alimentos. A empresa precisa avaliar se as mudanças climáticas são pertinentes e se os requisitos das partes interessadas abrangem questões relacionadas a este tema. Isso assegura que as questões climáticas sejam contempladas no contexto da eficácia do sistema de gestão, juntamente com outras questões relevantes.

Cabe ressaltar que, neste contexto, mudanças climáticas afetam a manipulação, processamento e comercialização de alimentos, aumentando os riscos de higiene. Doenças transmitidas por alimentos podem se expandir devido às mudanças climáticas, assim como a ocorrência de fungos toxigênicos e micotoxinas. Florações de algas nocivas, contaminantes ambientais e resíduos químicos representam outros desafios. As mudanças climáticas aumentarão a frequência e severidade de desastres naturais, afetando a segurança alimentar e hídrica.

Para mitigar os desafios impostos pelas mudanças, é essencial promover abordagens interdisciplinares que considerem os impactos ambientais, na saúde animal e vegetal, higiene alimentar e saúde pública. A aplicação e adaptação de boas práticas de higiene, agropecuárias, de produção e veterinárias são fundamentais. Além disso, implementar programas integrados de monitoramento e vigilância do ambiente e dos alimentos, revisar e ajustar esses programas conforme necessário, e fortalecer o diálogo com os consumidores sobre os riscos e medidas de controle são passos cruciais. Investir em novas tecnologias e pesquisa científica aplicada, juntamente com a colaboração internacional para o compartilhamento de dados e informações, também é vital para desenvolver soluções eficazes. A preparação para emergências e a criação de sistemas de alerta rápido são essenciais para reduzir riscos e garantir a segurança alimentar em situações críticas.

Além disso, é essencial reconhecer a importância de preservar esses cultivos fundamentais para a produção de alimentos tão apreciados como o chocolate e o café. Diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, torna-se importante adotar medidas que visem a sustentabilidade e a preservação dessas culturas. A conscientização sobre os impactos ambientais e a busca por práticas agrícolas mais sustentáveis são passos importantes para mitigar os efeitos negativos sobre o cacau e o café.

Iniciativas que promovam a adaptação das práticas agrícolas às novas condições climáticas, o incentivo à diversificação de cultivos e a conservação dos ecossistemas são fundamentais para garantir a continuidade da produção desses alimentos tão apreciados. Além disso, o apoio a comunidades locais e agricultores na implementação de técnicas sustentáveis pode contribuir significativamente para a resiliência dessas culturas diante das mudanças climáticas.

Ao consumidor, cabe também um papel importante ao escolher produtos de empresas comprometidas com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental. Ao optar por produtos certificados que levam em consideração as questões climáticas, é possível apoiar práticas mais conscientes e contribuir para a preservação desses alimentos tão queridos em todo o mundo.

Portanto, é fundamental que governos, empresas e consumidores se unam em esforços. Somente com ações coletivas e estratégias sustentáveis poderemos assegurar que as gerações futuras possam desfrutar desses ricos sabores.

Imagem: Pexels

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10 motivos convincentes de que a Segurança do Alimento é tarefa de todos

4 min leituraSe você atua na indústria, sabe como é desafiador promover a cultura de segurança do alimento. Muitas vezes, enfrenta-se a falta de compreensão da contribuição individual para o sistema de gestão de segurança do alimento. Consequentemente, esse desafio leva as empresas a uma armadilha perigosa: acreditar que a segurança do alimento é tarefa exclusiva de um pequeno grupo de pessoas.

Normalmente, a ESA (Equipe de Segurança do Alimento) e a equipe de qualidade trabalham nos bastidores, realizando monitoramentos e inspeções, orientando o caminho para atender aos requisitos. Em consequência dessa atuação, muitas vezes o time de operações passa a acreditar que é apenas dela (da ESA e da Qualidade), a responsabilidade por identificar as oportunidades de melhoria, bem como por aplicar as suas resoluções. Quase super-heróis, não?!

Diante disso, incentivar a compreensão do papel específico que cada colaborador possui dentro desta cadeia pode ser um bom caminho. Para isso não é necessário ter superpoderes, basta ter dez motivos convincentes para demonstrar que a segurança do alimento é uma responsabilidade individual e coletiva de todos na fábrica.

Vamos a eles?

1) Proteger a saúde do consumidor

Garantir a segurança dos alimentos é essencial para evitar doenças, protegendo a saúde dos consumidores. Como ilustração, a distribuição de um produto inseguro pode causar impactos graves em quem o consome, incluindo a morte.

1_Proteger_Saude_Consumidor_ThiagoMendonca_FoodSafetyBrazil
Fonte: O Globo

2) Preservação da reputação da empresa

Incidentes de segurança do alimento podem manchar a reputação da empresa, afetando as vendas e a confiança dos consumidores. Por isso, garantir essa reputação é crucial para o crescimento da empresa e para o surgimento de novas oportunidades de desenvolvimento profissional.

2_Reputacao_Empresa_ThiagoMendonca_FoodSafetyBrazil
Fonte: Veja Abril

3) Cumprimento de regulamentos

As leis e regulamentos de segurança do alimento exigem o envolvimento de todas as áreas operacionais. Por exemplo, para atender um item de higiene e limpeza, é necessário o envolvimento do operador responsável pela limpeza, o líder para garantir um plano de limpeza adequado e atualizado, a ESA para validar o processo estabelecido, entre outros.

4) Minimização de custos

Prevenir problemas de segurança do alimento desde o início é mais econômico do que lidar com recalls ou processos judiciais após um incidente. Em resumo, a prevenção é mais barata do que o gerenciamento das consequências.

5) Sustentabilidade do negócio

Manter altos padrões de segurança do alimento contribui para a sustentabilidade do negócio a longo prazo. Desta forma, a confiança dos consumidores e o cumprimento de requisitos regulatórios são fundamentais para o sucesso da empresa. Além disso, associado ao item 2, um deslize no padrão de qualidade pode colocar em risco a estabilidade da empresa frente a seus concorrentes.

6) Melhoria da eficiência operacional

Práticas que garantem a segurança do alimento podem melhorar a eficiência e produtividade em todas as áreas da fábrica. Consequentemente, isso resulta em menor consumo de insumos, menos retrabalho, evitando assim os custos da não qualidade.

7) Valorização do trabalho em equipe

Reconhecer que todos têm um papel na segurança do alimento promove um ambiente de trabalho colaborativo e responsável. Assim sendo, a cooperação de todos os níveis da operação gera envolvimento e responsabilidade. Isso é facilmente explicado pelo senso de pertencimento, termo utilizado na psicologia social e dinâmica de grupos.

8) Respeito pelo consumidor

Demonstrar compromisso com a segurança do alimento mostra respeito pelos clientes, garantindo a confiabilidade da marca. E isso reflete a ética de trabalho da empresa, o que está diretamente ligado à integridade pessoal: fazer o certo mesmo quando não se está sendo visto.

9) Garantia da qualidade do produto

A segurança do alimento está diretamente ligada à qualidade do produto final, garantindo que os alimentos atendam aos padrões estabelecidos. Como resultado, isso reduz perdas e fideliza os clientes, afinal, antes mesmo de abrir a embalagem o cliente já sabe o que esperar.

10) Cultura de prevenção

Promover uma cultura de prevenção em relação à segurança do alimento ajuda a identificar e corrigir problemas antes que se tornem crises. Ou seja, agir preventivamente é mais valioso do que reagir após um problema. E essa atitude exige uma avaliação prévia na qual se constroem cenários. Desta maneira, as chances de ser pego despreparado frente a algum incidente são reduzidas.

Por isso, não subestime seu papel na cadeia de produção. Cada indivíduo é corresponsável pela segurança do alimento, pelo sucesso da empresa e pelo próprio desenvolvimento profissional na indústria de alimentos.

Assim, finalizo: a Segurança do Alimento é uma tarefa compartilhada por todos nós!

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Diferenças e semelhanças da rotulagem do frango nos EUA e Brasil – Parte 1 de 2

7 min leituraViajando para os EUA, no início desse ano, fui ao supermercado fazer compras e, como profissional da área de alimentos, comecei a “inspecionar” os rótulos dos produtos. Fui até os produtos cárneos, fiz algumas fotos e agora as trago nesse post para mostrar semelhanças e diferenças de rotulagem do frango in natura produzido no Brasil e nos Estados Unidos da América (EUA).

O objetivo aqui não é fazer uma revisão completa dos requisitos regulatórios de rotulagem nacional e muito menos dos EUA, mas mostrar curiosidades e as principais diferenças entre ambos, no que tange à segurança dos alimentos e aos assuntos regulatórios. Para o post não ficar tão extenso, dividirei o assunto em duas partes. Hoje falarei das informações do painel principal (frontal). Na parte 2 comentarei as informações no painel secundário.

Abaixo segue a foto da embalagem (parte frontal e secundária) do produto Whole Young Chicken with Giblets – Frango Inteiro com Miúdos – que será alvo das explicações. O produto escolhido possui selo Orgânico, Antibiótico Free, uso de tecnologia de “resfriamento por ar – air-chilled”, OGM Free, frangos criados ao ar livre, com dieta 100% de produtos de origem vegetal. Comparando com a produção brasileira, o produto brasileiro análogo a essa categoria seria o da marca KORIN.

Humberto Cunha – supermercado em Atlanta EUA
Painel frontal (principal) – Frango resfriado (com miúdos) – orgânico

Produto análogo brasileiro

  • Denominação de venda

A legislação brasileira definiria a denominação de venda desse produto como “Frango (resfriado ou congelado) (sem miúdos) ou (indicar os miúdos contidos)”. Aqui vem a primeira diferença: nos EUA aparentemente não é obrigatório citar quais miúdos compõem o pacote que está dentro do “frango inteiro”, pois está escrito apenas “Whole Young Chicken with Giblets”, que se traduz como “Frango Inteiro com Miúdos/ Miudezas” (mais informações sobre rotulagem de frango nos EUA, leia QAD Instruction 544- Labeling Poultry Products.pdf (usda.gov)).

No Brasil, poderíamos dar como exemplo a figura abaixo, um produto com a seguinte denominação de venda: “Frango Resfriado (Contém: 1 Fígado, 1 Moela, 2 Pés, 1 Pescoço e 1 Cabeça). Observe que no Brasil considera-se que a empresa produtora garanta que esse produto possua quantitativamente e qualitativamente miúdos e partes declarados em rótulo. Dessa forma, quando o consumidor constata que uma parte ou miúdo está faltando, o SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor) é acionado para tratar da reclamação.

Exemplo de rotulagem (frontal) de frango resfriado com miúdos no Brasil

Não obstante, na rotulagem do frango norte-americano, logo abaixo da frase “Whole Young Chicken with Giblets” está escrito “parts of giblets may be missing” – partes dos miúdos podem estar faltando. Essa expressão deve ser utilizada para que a empresa possa informar ao consumidor que podem estar faltando alguns miúdos, por exemplo o fígado ou parte dele. Como o alimento é vendido por peso, não seria uma configuração de fraude pois o produto é pesado como um todo. Quem conhece a rotina de fabricação de “frango inteiro com miúdos” sabe o quão trabalhoso é padronizar esse pacote de miúdos e partes que constituem esse produto. Minha opinião é que parece mais sensata a alegação genérica no rótulo, porém não deixando de buscar a melhor padronização possível. Caso a empresa comece a ter muitos problemas com a falta de produto no pacote de miúdos/partes, o próprio consumir começará a escolher outra marca, que padronize melhor, fazendo uma melhor seleção no mercado, e não por uma imposição regulatória do Estado.

  • Air Chilled

A Portaria 210/98 autoriza o uso do pré-resfriamento por aspersão de água gelada; imersão em água por resfriadores contínuos, tipo rosca sem fim e resfriamento por ar (câmaras frigoríficas), sendo no Brasil a forma predominante de pré-resfriamento o sistema por imersão de carcaça em água, conhecido como pré-chiller e chiller, pelo melhor custo benefício. Em outros paíse,s como Canadá, EUA e o bloco europeu, o uso de sistema de pré-resfriamento por ar (air chilled) é comum. No caso de produto originado por air-chilled, há uma declaração em rótulo de que esse produto foi submetido a esse sistema.

Todavia, pelo posicionamento da foto, não ficou tão claro para checarmos a declaração. Sendo assim, notem a foto abaixo, do produto “Chicken Breast Tenders”, também com selo orgânico, da mesma linha orgânica de frango inteiro. Note a frase “Air-Chilled – for a juicier taste!” que significa “Refrigeração a ar – por um sabor mais suculento”. Segundo alguns pesquisadores (Air versus Water Chilling of Chicken: a Pilot Study of Quality, Shelf-Life, Microbial Ecology, and Economics)), o uso de “resfriamento por ar” parece atrasar o crescimento de Pseudomonas spp. Ao utilizar o air-chilled para reduzir as temperaturas das carcaças em vez do resfriamento com água, a indústria pode prolongar o tempo de prateleira (shelf-life) e, dependendo do custo da água na região, pode ter vantagens econômicas e de sustentabilidade. Segundo estes outros autores (Comparison of Air and Immersion Chilling on Meat Quality and Shelf Life of Marinated Broiler Breast Fillets – ScienceDirect), as carcaças resfriadas a ar (air-chilled) podem melhorar a cor, o rendimento da marinação e a maciez, além de também aumentar a vida útil dos filés de peito de frango embalados.

supermercado em Atlanta EUA
Exemplo de rótulo de outro produto (peito de frango) que contém a frase “AIR-CHILLED”

Caso o leitor não conheça um processo de air-chilled, segue a foto abaixo. Note que as carcaças não são despejadas num tanque inox com água gelada e gelo, como é feito majoritariamente no Brasil, mas permanecem penduradas durante todo percurso dentro de uma câmara fria específica, até chegarem à etapa de cortes ou de embalagem do frango inteiro.

Exemplo de processamento de carcaça de frango por air-chilled.

  • Non-genetically engineered (OGM)

Na rotulagem do frango norte-americano é possível encontrar a seguinte declaração: “non-genetically engineered”: “THE CHICKEN USED IN THIS PRODUCT IS FED A DIET THAT CONTAINS NON-GENETICALLY ENGINEERED INGREDIENTS. THE USDA ORGANIC REGULATIONS PROHIBIT USE OF GENETICALLY ENGINEERED FEED INGREDIENTS. FEDERAL REGULATIONS DO NOT PERMIT THE USE OF HORMONES IN CHICKEN”. A frase traduzida seria “Não geneticamente modificado – O FRANGO UTILIZADO NESTE PRODUTO É ALIMENTADO COM UMA DIETA QUE CONTÉM INGREDIENTES NÃO GENETICAMENTE MODIFICADOS. OS REGULAMENTOS ORGÂNICOS DO USDA PROÍBEM O USO DE INGREDIENTES DE RAÇÃO GENETICAMENTE MODIFICADA. REGULAMENTOS FEDERAIS NÃO PERMITEM O USO DE HORMÔNIOS NO FRANGO”.

Declaração de OGM (Organismo Geneticamente Modificado) no rótulo

No Brasil, conforme decisões proferidas nos autos das ações civis públicas nº 2007.40.00.00047-1-6/PI e 2001.34.00.022280-6/DF, os estabelecimentos que fabricam ou manipulam alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, nos termos do Decreto nº 4.680/2003, devem informar nos rótulos desses produtos a existência de OGM em qualquer percentual, mesmo inferior a 1% (um por cento). (Rotulagem de OGM — Ministério da Agricultura e Pecuária (www.gov.br)). No caso dos orgânicos, não há essa declaração e aposição do símbolo “T”, mas também não há uma declaração de “não transgênico” ou “não OGM”, conforme visto no rótulo norte-americano.

  • Selo/ carimbo Orgânico

Nos EUA o selo orgânico segue o seguinte modelo:

No Brasil o selo orgânico segue o seguinte modelo:

O que pode mudar no caso brasileiro é a forma de obtenção do selo. O selo da imagem foi obtido por “certificação por auditoria” (saiba mais em https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/organicos/cadastro-nacional-produtores-organicos). Embora com modelos de selo diferentes, a métrica para “conquista do selo” é semelhante. Ambos podem ser obtidos por auditoria por organismos de certificação. No caso do produto norte-americano, conforme informação em parte do painel secundário, o produto é “certified organic by Mosa”, ou seja, “certificado orgânico pela MOSA”, com descrição do sítio eletrônico www.mosaorganic.org. MOSA no caso seria o organismo de certificação. A legislação brasileira que estabelece as normas para a rotulagem de produtos orgânicos é a Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003, conhecida como a Lei dos Orgânicos. Ela foi regulamentada pelo Decreto nº 6.323, de 27 de dezembro de 2007, que detalha os requisitos para a produção, rotulagem, certificação e comercialização de produtos orgânicos no Brasil. Nos produtos brasileiros obtidos por certificação por auditoria, não é identificado no rótulo o organismo de certificação responsável, diferente do que observamos nos EUA.

  • Selo/ carimbo de inspeção (USDA)

USDA é o departamento nos EUA análogo ao MAPA no Brasil, responsável por conduzir a fiscalização dos estabelecimentos de produtos de origem animal, que inclui os abatedouros frigoríficos. A mensagem do selo é “Inspected for wholesomeness by US Departament of Agriculture” que seria traduzido como “Inspecionado quanto à salubridade pelo Departamento de Agricultura dos EUA”. No MAPA, a mensagem do selo/ carimbo é mais compacta e com outros dizeres.

Conclusão

Os EUA e o Brasil ocupam, no atual momento, os primeiros postos no ranking da cadeia de produção da carne de frango do mundo, EUA em primeiro lugar em produção e o Brasil como o maior exportador. Cada país regula seu mercado conforme seu cenário político (presença ou ausência de pautas ideológicas), políticas do departamento de agricultura (USDA e MAPA), estudos científicos desenvolvidos pelo governo, institutos de pesquisa e a própria indústria, contexto econômico-social e perfil do consumidor.

O que você achou dessa postagem trazendo algumas comparações entre a rotulagem do frango? Esqueci de comentar algo? Se você tem algo a dizer, participe aqui nos comentários.

Em breve publicaremos a parte 2 desse post. Diga se você gostou desse formato para que eu possa trazer futuramente outro tipo de produto cárneo (de aves ou de uma outra categoria) do qual eu também tenha realizado registros fotográficos no supermercado norte-americano.

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Qualidade, qual seu propósito, pequeno gafanhoto?

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Muitos me perguntam como escolhi a área de qualidade. Bom, não foi exatamente uma escolha; foi um momento em que eu estava precisando trabalhar, mas depois que entrei, o “mosquito da qualidade” me picou. A vida nem sempre foi fácil; muitas lacunas tive que preencher para conseguir chegar aonde estou hoje. No entanto, adotei alguns princípios na minha carreira para buscar sempre estar motivado e atuar dentro da qualidade e dos valores que carrego.

Por ser uma pessoa sempre curiosa, busquei compreender o que ocorria ao meu redor, às vezes sendo até chato de tanto que perguntava. Na minha jornada, tive inúmeros gestores de alta performance, mas um em particular me marcou muito: Alex Fernandes. Eu sempre o procurava para falar de tudo, e ele, ao me ouvir, perguntava: “Pequeno gafanhoto, o que você precisa?” Eu sempre despejava inúmeras perguntas, dores e frustrações da área da qualidade.

Ele, sempre com muita paciência, ajudava-me a entender os grandes desafios da área de qualidade. Houve um momento em que eu percebia a qualidade como um grande problema, sempre precisando orientar os operadores sobre o que fazer, cobrar ações para que seguissem as BPF (Boas Práticas de Fabricação), mas nunca entendendo por que eles falhavam em seguir.

Em um determinado momento, Alex me parou e disse: “Rômulo, você precisa criar propósito no time. As pessoas precisam entender por que fazem o que fazem e qual o objetivo. Se ficarmos somente cobrando, elas nunca vão incorporar a qualidade como uma premissa básica em seu dia a dia.”

Naquele momento, parei para refletir: será que as pessoas conhecem o propósito, ou eu mesmo não conheço o meu propósito como profissional? Após um tempo ponderando se realmente acreditava no que estava fazendo, comecei a entender minha atuação.

Concluí que eu era um contador de histórias cujo papel era fazer as pessoas felizes, e não um policial que apenas cobrava regras a serem cumpridas. Eu precisava encantar essas pessoas e plantar a semente da qualidade em seus sonhos. Como fazer isso? Comecei a explicar o porquê de cada atividade, fazendo com que entendessem o objetivo por trás de suas ações. Aquele treinamento rotineiro e chato transformou-se em um treinamento lúdico e com propósito.

Decidi ser um profissional que busca criar propósito nas pessoas, não apenas aplicar a qualidade por si só. Desde aquela época até hoje, muita coisa mudou. Passei por inúmeras culturas e lugares, mas sempre acreditei ser um gerador de cultura, baseado nos valores e propósitos das empresas por onde passei e onde estou.

Ser um profissional de qualquer área sem propósito leva à exaustão, e o dia se torna muito difícil de suportar. Quando você percebe que sua atuação gera mudanças nas pessoas e que elas criam propósito e conhecem seus objetivos, com certeza seu dia valeu a pena.

Busque seu propósito, que seu dia certamente passará sem que você perceba.

 

Leia mais:

  • Desafios e rotinas de qualidade em uma grande indústria de alimentos [link]
  • Competência dos colaboradores que afetam a qualidade e segurança de alimentos [link]
  • Como convencer a chefia sobre um bom programa de qualidade? [link]

 

Romulo Seixas Aliende é engenheiro químico e de segurança do trabalho, formado pela UNIFAE e UNIVAS, com trajetória destacada em grandes multinacionais como Ferrero, Danone, PepsiCo, Kerry e Coca Cola FEMSA.  Adquiriu experiência internacional significativa nos EUA, liderando operação e projetos de melhoria em sistemas de limpeza e sanitização, segurança comportamental (BBS) e gestão de crises, fortalecendo a resiliência organizacional. Atua como auditor líder de 1ª parte nas certificações FSSC 22000, ISO 14001, SA 8000, OHSAS 18001, ISO 45001 e AIBI.

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A arte de explicar de forma lúdica em Qualidade de alimentos

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Muitos me perguntam como mudar a cultura de uma equipe de chão de fábrica e como tornar as metodologias e normas complexas acessíveis no dia a dia de uma operação. A resposta é sempre: não é fácil, mas precisamos nos reinventar continuamente como profissionais de Qualidade e Segurança de Alimentos para garantir que as informações não apenas cheguem, mas também façam sentido para quem as recebe.

Uma grande parte da nossa atuação em qualidade são os treinamentos que aplicamos sobre boas práticas de fabricação, incluindo a limpeza dos equipamentos. Certa vez, durante um treinamento sobre a importância dessa limpeza, um colaborador me perguntou: “Rômulo, por que eu tenho que colocar os equipamentos sujos em cima de paletes de plástico limpos, em vez de diretamente no chão, já que vou limpá-los depois?”. Naquele momento, eu poderia ter sido super técnico e explicar sobre Listeria, contaminação cruzada etc. No entanto, decidi usar o método de aprendizagem reflexiva e perguntei ao colaborador: “Quando você está em casa e, após um belo jantar que preparou para sua esposa, levanta-se para lavar os pratos e panelas, você os coloca diretamente no piso da cozinha para depois decidir limpar o chão e, junto, os pratos e talheres? Você acha isso correto?” De imediato, o colaborador respondeu que não, que deveria colocá-los na pia da cozinha. E então perguntei: “E por que não pode?”. Ele respondeu: “Porque o chão é sujo e pode contaminar os pratos e talheres”. Após essa conversa, ficou fácil dialogar com ele e com o time sobre o conceito de contaminação cruzada e os riscos de os equipamentos de produção de alimentos entrarem em contato direto com o chão.

Não podemos usar fórmulas simples para explicar em todos os treinamentos, mas também nem todos os métodos são fáceis de serem adaptados à linguagem do receptor. Nós, como profissionais de qualidade, precisamos atuar de forma a traduzir o que é considerado “chato” em algo atrativo e de fácil compreensão, sem perder a essência da mensagem.

A dica que dou é utilizar situações cotidianas para explicar, tanto dentro quanto fora da empresa, para que a comunicação seja mais suave e flua de forma mais eficiente por todas as camadas da organização.

     Leia mais:

  • Treinamentos em Segurança de Alimentos: Inove com gamificação [link]
  • Cultura de Segurança de Alimentos: o guia definitivo de por que treinamentos não funcionam [link]
  • Como aumentar engajamento dos participantes nos treinamentos de BPF [link]
  • Como potencializar seu treinamentos A Pirâmide de William Glasser [link]
  • 5 dicas para abordagem do tema Boas Práticas de Fabricação em treinamento para manipuladores de alimentos [link]
  • Dinâmicas para uso em treinamentos de Boas Práticas [link]

 

Romulo Seixas Aliende é engenheiro químico e de segurança do trabalho, formado pela UNIFAE e UNIVAS, com trajetória destacada em grandes multinacionais como Ferrero, Danone, PepsiCo, Kerry e Coca Cola FEMSA.  Adquiriu experiência internacional significativa nos EUA, liderando operação e projetos de melhoria em sistemas de limpeza e sanitização, segurança comportamental (BBS) e gestão de crises, fortalecendo a resiliência organizacional. Atua como auditor líder de 1ª parte nas certificações FSSC 22000, ISO 14001, SA 8000, OHSAS 18001, ISO 45001 e AIBI.

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A IN 161/2022 na prática de uma indústria de laticínios

2 min leituraA partir de 1 de setembro de 2022 entrou em vigor a IN 161/2022 (Instrução Normativa da  Anvisa), que estabeleceu o padrão microbiológico dos alimentos.

Pensando na rotina das indústrias e serviços de alimentação, a grande alteração que ela trouxe foi o aumento do número de amostras analisadas por lote.  O número passou de uma unidade analisada por lote para cinco unidades analisadas. O contraponto é o valor dessas análises para a realidade da indústria.

Enquanto gestor da qualidade da indústria onde você trabalha, alguns pontos importantes a considerar:

  • Você sabe analisar o que a IN 161/2022 solicita quanto ao plano de amostragem?
  • Você sabe quantas amostras, e de quais produtos, deve enviar para análise externa?

Abaixo, a imagem da IN 161/2022 com o requisito legal para queijos:

Na prática, como acontecem essas análises? O blog já trouxe um texto explicando os laudos de análise e como interpretá-los.

Dentro do plano de amostragem, determinamos o número de amostras que serão analisadas (n) e o número de amostras aceitável (c) entre os limites m e M.

Considerando as informações acima para queijos, vemos que, para enterotoxinas estafilocócicas e Salmonela, o padrão é ausência de patógenos nas 5 amostras analisadas.

Para os outros agentes devemos analisar 5 amostras (n), sendo que no máximo uma ou duas amostras (c) podem ter resultados de análise intermediários, que seriam entre m e M.

Por exemplo: para bolores e leveduras em queijos ralados ou em pó, das 5 amostras analisadas (n), duas (c) podem ter contagem entre 5×102 e 5×103 e nenhuma das amostras pode apresentar resultado superior a 5×103.

Para interpretar os resultados, temos os limites microbiológicos, que seriam valores máximos possíveis de serem encontrados em cada alimento para que ele seja considerado próprio para consumo.

Esse é o plano amostral de três classes, quantitativo. O resultado aceitável é contagem abaixo de m, resultado intermediário entre m e M e resultado inaceitável superior a M.

Pensando no dia a dia da indústria de queijos, uma única massa de queijo pode dar origem a vários itens de venda. Assim, o que deve ser enviado para análise externa considerando o plano de amostragem acima?

  • Caso você tenha, a partir de uma única massa, alguns itens de venda fracionados, mas embalados com frações de pesos diferentes, eles podem ser considerados um único item a ser analisado ou não?
  • Caso você tenha um mesmo item fracionado, mas que pode ser embalado para diferentes marcas (ou seja, a embalagem é diferente), ele devem ser consideradas um único item a ser analisado?

Esses são questionamentos pertinentes a serem feitos aos agentes fiscalizadores da unidade onde você trabalha.

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Desafios e rotinas de qualidade em uma grande indústria de alimentos

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Gerir uma grande indústria alimentícia é um desafio constante, que exige foco e determinação para alcançar resultados expressivos. A chave para o sucesso está em manter processos bem estruturados e claros.

Primeiro passo: entendimento e controle dos processos

Para começar, é essencial entender quais processos precisam de controle. Implementando sistemas de gestão como as normas ISO 9001 para gestão da qualidade e ISO 22000 para segurança dos alimentos (disponíveis em iso.org), enfrentamos a tarefa de seguir muitos procedimentos e manter controles rigorosos. Identificar os Pontos Críticos de Controle (PCCs), conforme o sistema HACCP (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), definir Pontos de Controle de Qualidade (PCQs) conforme a Análise de Modos de Falha e Efeitos (FMEA), e determinar a frequência de revisão é fundamental para um gerenciamento eficaz. Em uma estrutura de qualidade, esses controles podem ser realizados tanto digital quanto analogicamente, com várias frequências. A escolha entre digital ou analógico será crucial na agilidade da tomada de decisão.

Segundo passo: gestão das informações

A gestão eficiente das informações coletadas é crucial. Dados brutos precisam ser transformados em insights valiosos. A análise desses dados deve ser feita por profissionais com conhecimento técnico avançado e familiaridade com ferramentas de análise de dados. A metodologia Lean Six Sigma | Visão Evolutiva da Qualidade na Indústria de Alimentos pode ser útil para a análise de dados, promovendo a geração de insights onde desvios prováveis ou reais são identificados e tratados dentro de ferramentas de solução de problemas, como métodos MASP, Sprint Kaizen ou, em casos complexos, DMAIC (Definir, Medir, Analisar, Melhorar, Controlar). Informações sobre essas metodologias podem ser encontradas no American Society for Quality (asq.org).

Terceiro passo: análise e avaliação frequentes

Com os métodos de análise definidos, é necessário estabelecer a frequência dessas análises. Reuniões produtivas e focadas são essenciais, devendo seguir uma estrutura de discussão que gere informações estruturadas. Dependendo da geração de dados, reuniões técnicas devem ocorrer pelo menos semanalmente, e discussões gerenciais podem ser semanais ou quinzenais. Modelos de gestão de informação, como dashboards e KPIs (Indicadores-chave de Desempenho), ajudam no monitoramento e discussão dos resultados. Ferramentas como Tableau ou Power BI podem ser usadas para criar painéis dinâmicos, facilitando a identificação de tendências e oportunidades.

Quarto passo: discussões estratégicas com a liderança

As discussões estratégicas com a liderança são essenciais para alinhar processos e produtos aos objetivos da indústria.  Nessas reuniões, é importante utilizar metodologias como o Balanced Scorecard para garantir que as decisões estejam alinhadas com a visão de longo prazo da organização. Informações adicionais sobre o Balanced Scorecard podem ser encontradas em recursos educacionais específicos. Tais encontros devem ser multidisciplinares, envolvendo diversas áreas para assegurar uma visão integrada das decisões estratégicas.

Conclusão

A integração efetiva desses passos na gestão das rotinas organizacionais e de produção e a cultura de aderência aos procedimentos são essenciais para o sucesso de uma organização. A adoção de práticas como Lean Manufacturing, TPM (Como implantar TPM com segurança dos alimentos – todos os passos da Manutenção Autônoma, Passo 7 de MA na indústria de alimentos – Gestão autônoma) e WCM, mais do que mera formalidade, deve ser vista como parte central da cultura organizacional, diferenciando as empresas de sucesso e garantindo uma gestão eficaz em um setor tão dinâmico quanto o alimentício.

 

Romulo Seixas Aliende é engenheiro químico e de segurança do trabalho, formado pela UNIFAE e UNIVAS, com trajetória destacada em grandes multinacionais como Ferrero, Danone, PepsiCo, Kerry e Coca Cola FEMSA.  Adquiriu experiência internacional significativa nos EUA, liderando operação e projetos de melhoria em sistemas de limpeza e sanitização, segurança comportamental (BBS) e gestão de crises, fortalecendo a resiliência organizacional. Atua como auditor líder de 1ª parte nas certificações FSSC 22000, ISO 14001, SA 8000, OHSAS 18001, ISO 45001 e AIBI.

3 min leituraGerir uma grande indústria alimentícia é um desafio constante, que exige foco e determinação para alcançar resultados expressivos. A chave para o sucesso está em manter processos bem estruturados e […]

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