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Acidentes de trabalho na produção de alimentos: o que é mais importante?

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Hoje vou abordar um tema que além de muito importante sempre causa um certo “conflito de interesses” pois gera bastante desconforto ou contradição. Como atuar em situações de acidentes de trabalho na produção de alimentos?

O que é mais importante? Com o que devemos nos preocupar?

É muito comum termos nas organizações “células” segregadas. Posso até arriscar que quando há uma interação os assuntos se agrupam em:

  • Qualidade + Segurança de Alimentos;
  • Meio Ambiente + Saúde e Segurança Ocupacional.

Então, se a gestão não é muito interativa, há uma disputa pelas prioridades.

Na minha opinião, a maioria das ocorrências são compartilhadas e em alguns momentos não conseguimos desvincular…. e em muitos casos, estas situações do dia-a-dia se relacionam com mais de dois temas ao mesmo tempo.

O que eu quero dizer com isso?

Quero dizer que é frequente que situações de segurança de alimentos envolvam práticas de meio ambiente e/ou saúde e segurança ocupacional. Posso citar aqui alguns exemplos em que os temas geralmente são comuns:

Mencionei apenas cinco, mas se formos avaliar mais profundamente, temos diversos outros temas que são relacionados.

E daí vem uma pergunta que não quer calar.

O que é mais importante numa situação em que um manipulador de alimentos sofre um acidente?

O colaborador pode perder o dedo desde que o membro ou o sangue não caiam sobre o produto?

Fazendo uma reflexão, entendo que este cenário de emergência tem como prioridade a vida e/ou bem-estar do manipulador. Se isso causou estranheza ou choque, vou explorar meu raciocínio.

O manipulador de alimentos, numa situação de acidente grave (considerando inclusive extremos de perda de movimentos ou amputação de membros) pode ter um prejuízo para sua vida que não é mensurável ou recuperável.

Contudo, se nesta mesma situação o processo de produtos potencialmente inseguros e não conformes estiver funcionando corretamente, o risco de contaminação para o produto será contido e administrado. Então,  sempre vou achar que o mais importante é a saúde das pessoas. Não faz muito sentido para mim ter um produto extremamente seguro, com todos os controles e tecnologias de monitoramento, se não é relevante para a organização o seu público interno. Que inclusive é a maior propaganda que uma empresa pode ter.

Por isso digo que os assuntos não podem ser desconectados.

Isso não significa que não acredito ser relevante a segurança do produto em processo. Muito pelo contrário, entendo que é uma falha gravíssima que o produto seja tratado com descaso e não seja avaliado, segregado e descartado se necessário. Mas isso significa que o produto potencialmente inseguro ainda pode ser bloqueado, ser retrabalhado (se possível) e em última instância ainda ter o recolhimento feito, se necessário. Desta forma, garantimos que a saúde de nosso consumidor está preservada! O que não é recíproco se falamos da saúde ou da vida de um colaborador. Aquele momento do primeiro atendimento pode ser imprescindível para decidir se o dano será reversível ou irreversível.

Na longa estrada de experiências que tive a satisfação de percorrer, certa vez vivenciei uma situação em que em um processo simulado de emergência ocupacional houve a atuação da brigada de emergência com extintores de incêndio e uma etapa do processo que não era enclausurada foi contaminada diretamente com o pó do extintor.

A situação foi contornada, o produto bloqueado e nada foi expedido fora dos parâmetros de qualidade e segurança de alimentos.

Contudo, entendo que foi uma atividade com um planejamento inadequado e que não previu este impacto no processo. Foi uma única área, pensando somente no trabalho de quem realizou uma atividade que deveria ser positiva (pensando na capacitação e simulação de uma emergência) e causou impactos no processo, na segurança do produto e também no custo de descarte do material.

Aqui reforço novamente que nós que somos da célula de segurança de alimentos não podemos enxergar somente o que nos interessa. Assim como as demais células precisam estar engajadas e alinhadas com os conceitos de segurança de alimentos, é necessário que tenhamos o cuidado de perceber qual o impacto das nossas atividades nas áreas de organização.

Temos que trabalhar para que nossos processos de emergências e gerenciamento de produtos potencialmente inseguros e não conformes estejam alinhados a ponto de garantir a segurança e saúde de nosso público interno tanto quanto de nosso público externo. Este é o desafio!!

O mais importante é cuidar da vida das nossas pessoas: nossos colaboradores e nossos consumidores!!

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Food Safety agregando valor aos negócios

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Quando construímos sistemas de gestão da qualidade em indústrias de alimentos ou bebidas, existem duas dimensões a serem trabalhadas: a chamada qualidade percebida e a intrínseca.

A qualidade percebida está associada a tudo aquilo que o consumidor percebe como valor agregado quando busca um produto numa gôndola de um supermercado. São os seus diferenciais, aquilo que o faz escolher um produto X em detrimento de um Y, como por exemplo, a crocância de um biscoito, a cremosidade de um sorvete, o sabor/ odor de uma sobremesa, ou normalmente uma combinação destas características, e por estarmos falando de alimentos e bebidas, sendo mais preciso, as chamadas características organolépticas.

Além disso, um consumidor também é atraído pelas cores, personagens, arte ou praticidade de embalagens, a quantidade fracionada que lhe atende, e mais recentemente, o olhar do consumidor que busca uma alimentação mais saudável tem voltado sua atenção aos rótulos, buscando conhecer as características nutricionais, por exemplo, quanto ao teor de sódio, de gorduras saturadas ou trans para evitar, ou quanto ao teor de fibras, vitaminas ou cálcio como atrativo.

Mas e a qualidade intrínseca?

Aqui se tange o óbvio, pois o tema trata daquilo que o cliente a princípio entende que é obrigatório num alimento (e de fato é), e que, portanto, sequer é uma característica que ele declare buscar: o fato de um alimento ou bebida não estar contaminado, de ser inócuo a sua saúde em termos de contaminações químicas, físicas ou biológicas. Claro, aqui também entra a questão da fraude, ninguém quer comprar gato por lebre.

Afinal, ninguém ao escolher um produto numa gôndola do mercado espera que algum dos produtos ali expostos esteja contaminado ou fraudado, espera-se que nenhum esteja, por isso, a princípio este tema não deveria ser um diferencial, mas uma “conditio sine qua non”.

Contudo, só nós profissionais da área de food safety sabemos quantos esforços são efetivamente necessários para garantir esta tal inocuidade, seja mediante ações de qualificação de fornecedores, cuidados quanto às boas práticas de fabricação, processos industriais bem desenhados, sistemáticas de limpeza e higienização eficazes, efetivo controles de processos, especialmente em pontos críticos, e tudo mais que isto envolve. Como exceção, mas fazendo parte disto, os únicos potenciais contaminantes que são declarados nos rótulos e que alguns clientes entendem sua ausência como “qualidade percebida” são os alergênicos, justamente porque são um problema não para todos, mas para grupos por eles afetados.

Assim, quando apresentamos aos executivos de empresas do segmento de alimentos e bebidas os investimentos demandados no que se refere à qualidade percebida é fácil argumentar, pois trata-se de tudo aquilo que se traduz em operações unitárias ou outros elementos capazes de agregar valor aos produtos, pois refletem diretamente em atrativos aos consumidores, traduzindo-se em valor diretamente aos olhos e/ ou ao paladar, portanto, gerando payback pelas expectativas de aumento de market share e argumentos para marketing e áreas comerciais convencerem consumidores a escolheres seus produtos.

Mas como demonstrar o retorno dos investimentos em operações e elementos associados com food safety, ou seja, com qualidade intrínseca?

Aqui tratamos dos investimentos que decorrem quando desenhamos processos para serem mais seguros, para minimizar riscos, adequados no que se refere a prevenir contaminações, sendo que muitas vezes são demandados investimentos em tecnologias como detectores de metais, ímãs, raios x, esterilizadores mais eficientes, melhorias estruturais em plantas industriais como em pisos com pintura epóxi, paredes com tintas laváveis e antimofo, janelas vedadas e/ ou teladas, portas automáticas, pressão positiva nas áreas com ar filtrado, banheiros com pias de acionamento automático, etc.

Neste caso não é o que se ganha ao fazer, mas o que pode se perder por não fazer!

Não investir em food safety pode refletir em altos prejuízos no que se refere a custos de não qualidade, o que em relação a questões intrínsecas pode ser fatal para as organizações, pois estará associado a ferir negativamente e profundamente marcas, ter que responder a processos judiciais, ver seus produtos associados a imagem negativa na mídia e em redes sociais, e tudo o que leva a perda de vendas, e claro, perda de valor.

No entanto, investir em food safety, mais que tudo, é uma questão de responsabilidade, pois negligenciar segurança dos alimentos pode significar risco de danos à saúde e integridade de consumidores, em casos severos e dependendo da categoria do produto, até morte.

Por isso, claro que investir em qualidade percebida é necessário para criar diferenciais em produtos que permitam destacar marcas num cenário competitivo, mas investir em qualidade intrínseca é primordial, pois sem isso, pode-se colocar todo o resto a perder.

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Time de Segurança de Alimentos

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Um dos grandes desafios para a liderança do Sistema de Gestão da Qualidade e de Segurança de Alimentos é formar um time (ou equipe como muitos adotam) comprometido com os programas implementados e com os princípios da segurança de alimentos.

Gosto do termo TIME pois, como em qualquer esporte, as funções são pré-definidas e é preciso identificar habilidades específicas para a execução das muitas tarefas que são necessárias no dia-a-dia de uma empresa.

Como tem perfil multidisciplinar, o time deve ser composto por colaboradores de diferentes áreas, mas muitas empresas caem na armadilha de nomear lideranças dessas áreas para participar e isso é um grande erro.

Em tempos de Copa do Mundo, todos nós somos tentados a opinar sobre quais jogadores devem ser selecionados e nos sentimos no direito de criticar escolhas que não consideramos corretas.

Ora, se somos bons para opinar e criticar, por que muitas vezes cometemos equívocos nas nossas “convocações”?

O Líder deve ter a prerrogativa e o discernimento para a identificação dos verdadeiros talentos entre todos os colaboradores e isso muitas vezes é bem difícil porque existe uma certa pressão para indicar coordenadores, supervisores ou líderes dos setores, talvez para dar maior visibilidade ou importância ao trabalho.

No entanto, o cargo jamais deve ser colocado como fator de indicação. É preciso identificar e selecionar os verdadeiros talentos.

Mas não se enganem! Só talento e força de vontade não são suficientes para bons resultados.

É preciso que haja formação consistente e continuada. Treinamentos de reciclagem são bons, mas é preciso que haja outras formas de capacitação, que incluam participação em eventos externos como cursos de especialização, workshops, troca de vivência com clientes, fornecedores e até com empresas do mesmo segmento.

Sei que esse último é bem difícil de acontecer porque não há ainda no Brasil uma visão de crescimento estratégico de segmento, mas empresas no exterior recebem visitas com muito boa vontade e seus fornecedores podem ajudar muito nessa aproximação.

No campo da prática, no dia-a-dia, o Time deve ter atividades estabelecidas que irão fomentar as reuniões periódicas que devem ocorrer obrigatoriamente e isso inclui visão estratégica do que ocorre na empresa, pois muitas vezes projetos são estabelecidos e o Time de Segurança de Alimentos só é chamado depois de iniciado, geralmente porque alguém se lembra dos requisitos legais…

Segurança de Alimentos é um dos pilares estratégicos dentro de uma empresa.

Dessa forma, um bom esquema tático aliado a um ótimo material/capital humano, com ótima capacitação é capaz de proporcionar resultados extraordinários que valorizarão todos os seus membros.

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Responsabilidade do varejo pela rotulagem dos alimentos

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Tive a ideia de escrever esse post após o questionamento feito por funcionário da empresa em que trabalho, sobre a responsabilidade do comércio quanto ao produto que vende, especificamente sobre a rotulagem.

Fazendo uma breve visita a qualquer mercado, encontramos produtos de diversas marcas e preços. Muitos consumidores têm preferência por marcas conhecidas, alegando que são produtos de melhor qualidade; outros fazem suas compras baseados no preço. As marcas conhecidas realmente podem apresentar melhor qualidade, e consequentemente serem mais caras, mas não porque outras empresas menores não tenham capacidade de ser tão boas quanto elas, e sim porque investem em melhorias e segurança do produto, em apresentar algo de confiança para o consumidor. Essas empresas são as primeiras também a serem apontadas quando encontradas não conformidades em seus produtos, por estarem sempre no foco.

O mercado varejista avalia a questão de custo e boa aceitação do produto nas gôndolas. Mas e a parte de rotulagem? Atualmente, muito se fala a respeito do consumidor estar mais atento aos rótulos e priorizar produtos de melhor qualidade nutricional, porém muitas empresas ainda não fazem a rotulagem de forma totalmente correta, deixando informações importantes ausentes. E as informações faltantes por vezes também não são identificadas pelos consumidores finais, afinal são legislações específicas da área; cabe à empresa apresentar os dados completos.

A rotulagem considerada aqui é principalmente: ingredientes, declaração de alergênicos e tabela nutricional.  Informações de validade, por exemplo, são verificadas no recebimento da mercadoria no próprio estabelecimento, pois nesse caso o mercado também seria responsável em caso de mercadorias vencidas ou sem esta informação. Já sobre expor quando uma produção é terceirizada, quando se usam os termos “produzido por: / distribuído por:”, não é verificado pelo varejista e faz parte da rotulagem obrigatória, ou na tradução de rótulos importados, quando muitas vezes  há informações confusas ou não coerentes.

A qualidade é uma vantagem competitiva, como já foi falado muitas vezes, pois apesar de ser obrigatória não são todas as empresas que a cumprem de forma correta e integral, tanto na parte de produção quanto nas informações que são expostas para o consumidor.

Se os pontos de vendas avaliassem também o que é mostrado ao consumidor, no caso do rótulo, muitas marcas de diversos produtos deixariam de ser comercializadas, já que não atendem aos requisitos obrigatórios. Por outro lado, os produtos que não atendem muitas vezes são mais baratos para o comerciante porque não se investe em mão-de-obra especializada para correção das não conformidades e informações faltantes. A qualidade assegurada dos produtos gera custos para a empresa, mas essa vantagem faz com que a indústria consiga ter retorno em valor agregado ao produto, já que garante um produto seguro e com rotulagem adequada.

Não sabemos se a responsabilidade por rotulagem incompleta e ou errônea será algum dia atribuída também ao ponto de venda, mas acredito que com os consumidores cada vez mais atentos e informados, eles mesmos comecem a exigir – ou preferir – comprar em locais onde sintam que os alimentos ali dispostos são seguros. Sintam que os alimentos ali foram “escolhidos a dedo” para serem comercializados, com melhor custo x benefício claro, mas não escolhidos por serem mais baratos; assim existirá a vantagem competitiva também para o mercado que optou por comercializar um produto mais caro, porém que se preocupa em fornecer segurança ao consumidor final. Não se pode esperar exigências de fiscalização para cumprir algo que deveria fazer parte do produto, de forma automática, na hora de escolher um produto para dispor no seu estabelecimento.

Enquanto isso não acontece, uma fiscalização mais frequente nos pontos de venda já iria adiantar para encontrar produtos que não se adequaram à rotulagem obrigatória e exigir as correções necessárias. Isso diminuiria a concorrência desleal, pois um alimento pode custar mais caro justamente por seguir a legislação e segurança dos alimentos à risca, contra um fabricante de produto similar que consegue ganhar na quantidade e preço, mas não segue exigência nenhuma porque até então não foi “pego no flagra”.

Bianca Gerino Cervantes Blanco é graduada em engenharia química pela Faculdade São Bernardo e  em tecnologia de alimentos pela Faculdade de Tecnologia Termomecânica. Atualmente cursa pós-graduação em Vigilância Sanitária e Segurança dos Alimentos pela USCS. Tem experiência na área de alimentos em Boas Práticas de Fabricação, rotulagem, treinamentos, documentos da qualidade, análises físico-químicas, pesquisa e desenvolvimento.

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Fomos certificados! Estamos livres dos questionários de autoavaliação?

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Com a vasta oferta de produtos e de fornecedores em um mercado globalizado e em constante crescimento, foi-se o tempo em que preços atrativos eram o suficiente. Hoje as empresas buscam a qualidade e a segurança dos alimentos como forma de diferenciação. Empresas certificadas vão além do básico, demonstrando interesse em crescer com responsabilidade e melhoria contínua, tanto dos produtos como dos processos, e acabam se tornando a preferência do cliente.

Uma das estratégias para estabelecer vantagens competitivas são as certificações, vistas como um diferencial de grande importância no mercado de alimentos, tanto nacional como internacional. Quando uma empresa opta por uma certificação reconhecida pelo GFSI, surgem o medo e as dores de cabeça em razão das mudanças documentais que causam longas discussões entre os setores e das mudanças estruturais, nas quais entra a questão financeira, afinal o mercado nem sempre se encontra favorável. Talvez uma das tarefas mais difíceis seja mudar hábitos dos colaboradores que estavam acostumados a fazer determinada tarefa há anos do mesmo jeito e, pior, a pessoa que sugere a mudança é mais jovem, às vezes do sexo oposto e nunca exerceu essa tarefa como ele. O preconceito também acontece em meio às mudanças, mas aos poucos tudo vai ficando conforme.

Finalmente concordamos estar prontos para a auditoria. Chega o grande dia, equipe preparada, tudo verificado mais de uma vez, nervos à flor da pele, será que vamos conseguir? Será que todo o esforço vai valer a pena? Afinal de contas, muito tempo e dinheiro foram investidos nisso, a expectativa da empresa como um todo e muitas vezes dos clientes é grande. Passam-se os dias de auditoria, tudo corre bem, umas observações aqui, outras ali, mas com resultado final positivo, fomos certificados!

E agora, o trabalho vai diminuir? O trabalho nunca diminui, ouso dizer que aumenta, torna-se cada vez mais difícil manter o mesmo padrão no decorrer dos anos. Além das inúmeras vantagens que uma certificação de segurança de alimentos pode trazer a uma indústria, uma das que eu tanto esperava – pois trabalho no setor da qualidade e estou em contato direto com os clientes – era diminuir a quantidade de questionários de autoavaliação de fornecedores, porém observei que poucos deles (contáveis nos dedos) ficaram satisfeitos apenas com o certificado de uma norma reconhecida pelo GFSI. Os questionários continuam chegando… Quando pergunto se existe a necessidade de respondê-los sendo que a unidade é certificada, muitos respondem que o certificado não é suficiente.

Aí me pergunto, qual o sentido? As questões, em sua maioria, já fazem parte dos requisitos da norma, ou seja, já foram verificadas pelo auditor e estão conformes. Trata-se de desconfiança do organismo certificador, comodismo ou apenas uma exigência desnecessária do cliente? Em minhas funções anteriores, aprendi que o cliente vem em primeiro lugar, mas confesso que fico frustrada e considero um retrabalho a necessidade de preencher tantos e tantos questionários com as mesmas perguntas básicas como “A empresa possui uma política da qualidade documentada?” É claro que sim! Entendo e concordo que a avaliação de fornecedores é extremamente importante, mas acredito que o certificado seja o suficiente. A relação cliente-fornecedor deve se basear em méritos, mas também em confiança, pois ambos são parceiros de negócios, se um não fizer bem o seu trabalho, consequentemente o outro também não vai bem. Um fornecedor certificado já possui sua qualidade assegurada por uma fonte confiável.
É cada vez mais difícil encontrar tempo e dispender horas, talvez dias – quando toda a informação solicitada não está centralizada em apenas uma pessoa – para responder a um questionário com perguntas que você já respondeu e provou a um organismo certificador que seus processos e documentos estão conformes.

Penso que o certificado deva substituir a necessidade de responder a questionários de autoavaliação, pois passar por todo esse longo processo de certificação e ainda não ser considerado suficiente, acaba sendo decepcionante. Esse tempo poderia ser utilizado para a melhoria contínua.  Afinal de contas “tempo é dinheiro”, famosa frase de Benjamin Franklin, e ninguém quer desperdiçar dinheiro.

Bruna Scalcon tem 24 anos, é formada em Administração e trabalha há 2 anos como Analista de Qualidade em uma empresa de alimentos.

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Precisamos formar food chatos

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Nos meus mais de 40 anos de experiência com segurança de alimentos, uma coisa sempre me intrigou: por que não formamos Food Chatos???

Neste período, acompanhei todos os avanços, exigências, mudanças, tendências, vertentes, tipos de auditorias, certificações, modismos, inspeções, visitas, etc, etc, nas indústrias, mas nada (ou muito pouco) mudou no elo mais importante da cadeia: a consciência das pessoas, o chamado consumidor…

Coordenei equipes de segurança de alimentos, montamos e revisamos diversos planos HACCP, complexos programas de controles de pragas, treinamentos de microbiologia, monitoramos atividade de água, pH, Salmonela, E. coli, testamos a  validade de produtos, qualidade da água, pesticidas, compramos livros sobre como colocar food safety na cultura da empresa (e demos para toda diretoria e gerência ler, com assinatura em lista de presença), perdemos noites de sono quando um PCC falhou e o consumidor, nada…

Tenho uma frustração enorme por não conseguir fazer algo simples, como lavar as mãos, ser aplicado na entrada de um restaurante e na saída (que dirá na entrada) de um banheiro.

Lembro-me de muitos treinamentos de GMP e 5S (senso de autodisciplina), quando após passar um bom tempo falando da importância e, principalmente, sobre como lavar as mãos, 95% das pessoas iam para o coffee break o mais rápido possível, sem… LAVAR AS MÃOS.

Por décadas, fiquei perguntando de quem era a culpa. E cheguei à pior conclusão possível: SOMOS TODOS CULPADOS.

Sim, sou culpado.  Apesar de conscientizar, dar exemplo e “obrigar” meus filhos a lavarem as mãos sempre, a verificarem o lacre e validade dos produtos, não cobrei da escola deles uma matéria sobre segurança de alimentos e não me ofereci para ir à escola falar sobre segurança de alimentos.

Recebo semanalmente uma enxurrada de anúncios sobre palestras, seminários, cursos, encontros e outros eventos sobre segurança dos alimentos. Sempre procuro ver o público alvo e nunca encontro uma chamada para o consumidor (ou representantes destes). Todos capacitam as empresas, mas ninguém capacita o consumidor.

Voltando ao título, é óbvio que peguei carona no ECOCHATO. Mas entendam, o ECOCHATO funciona. Tente jogar algo pela janela do carro com seu filho de 6 anos ao lado.

Então, por favor, vamos continuar consolidando o food safety nas empresas, mas vamos formar FOOD CHATOS! Vamos treinar funcionários, mas também os filhos, vamos mostrar os problemas que a falta de higiene causa nas empresas, mas também nas casas, vamos trabalhar na segurança dos alimentos e disseminar o conhecimento para a sociedade!!!

 

Carlos Alberto Fregati é consultor em segurança de alimentos, com mais de 40 anos de experiência na área (multinacionais de suco de laranja, bares e restaurantes). É administrador de empresas, auditor líder de diversas normas, como FSSC 22000, palestrante em treinamentos sobre GMP, PPHO, 5S, controle de pragas, ISOs, auditorias, etc.

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A greve dos caminhoneiros e a segurança de alimentos

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Em que ponto a greve/paralisação dos transportes rodoviários pode comprometer a segurança de alimentos?

Um assunto recente surgiu e está preocupando muitas pessoas, uma forte recomendação de intensificar a fiscalização para verificar a qualidade dos alimentos que chegarão com o início da desmobilização dos caminhoneiros. As características principais para tal fiscalização seriam as sensoriais (cor, odor e textura) e os sinais de adulteração dos produtos que possam ser consequência, por exemplo, da quebra na cadeia de frio no transporte, o que pode interferir na segurança do alimentos.

O cenário atual proporciona às empresas a oportunidade de colocar em prática a sistemática recém estabelecida de Prevenção de Fraudes em Alimentos, requisito adicionado no esquema FSSC 22000.

Mas até que ponto podemos considerar a real possibilidade de fraude nos alimentos que estão parados na greve?

Diante do exposto, se de fato essa possibilidade vier a ocorrer podemos classificá-la como uma motivação de anomalia econômica.

De acordo com o Guia de Mitigação de Alimentos da USP / Food Chemicals Codex, este fator destina-se a descrever a vulnerabilidade dos ingredientes à fraude em alimentos com base em anomalias econômicas que acontecem no mercado para o ingrediente. Dado que a fraude em alimentos é impulsionada por oportunidades econômicas, anomalias na economia de alimentos específicos ou fontes de alimentos que podem ser um indicador de problemas potenciais. Os preços abaixo de mercado, especialmente para produtos em que os custos estão aumentando, ou os fornecimentos escassos, tem sido um indicador em casos de fraudes em alimentos.

Outro ponto, considerando também que os veículos devem fornecer proteção contra danos ou contaminação dos produtos e que o controle de temperatura e da umidade deve ser aplicado e documentado, um ponto extremamente importante a ser avaliado é a condição do caminhão, pois devido ao tempo de permanência nas estradas e sem a devida limpeza e higienização existe a possibilidade dele apresentar condições de risco aos materiais/insumos transportados.

De acordo com o site “O Globo”, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não tem nenhum plano de atuação nacional diante do risco de sanitário causado pela greve dos caminhoneiros. A reguladora orienta que os consumidores procurem as vigilâncias sanitárias, estadual ou municipal, da sua região, que respondem diretamente pela fiscalização.

Autor Convidado: Everton Bordignon

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Que coisa é essa no meu longa vida?

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As embalagens cartonadas do tipo longa vida são uma realidade no cotidiano das pessoas, usadas para sucos, água de coco, leite, achocolatados, iogurtes, creme de leite, leite condensado, doces, extratos, leites vegetais como os de coco, de amêndoas e de soja, e até mesmo vinho, e que por isso ocupam nos supermercados brasileiros um bom espaço nas gôndolas.

O ganho de visibilidade por este tipo de embalagem ocorre por apresentar algumas vantagens que são óbvias, começando na logística dos cartonados para indústria que são transportados em formato de bobinas ocupando pouco espaço, e, portanto, trazem uma economia enorme de transporte se comparados, por exemplo, com garrafas de vidro.

Depois da conversão de bobinas para embalagens, elas propiciam facilidade de armazenamento e novamente ajudam na logística dos produtos para os clientes, por serem leves e permitirem por seu formato uma boa cubagem. Além disso, devido ao processo UHT utilizado, não requerem cadeia de frio, o que é ótimo no Brasil que é carente quanto a este tipo de necessidade logística. Também são atualmente oferecidas em diferentes designs com diversos tipos de tampas, dando ao pessoal de marketing boas opções para exercitar a criatividade.

Na perspectiva da segurança de alimentos, e também de preservação em termos organolépticos, este tipo de embalagem também é muito interessante. Ela é formada por 6 camadas: 1° externa de polietileno que protege contra umidade exterior; 2° papel que dá estabilidade e resistência; 3° outra de polietileno como camada de aderência; 4° uma folha de alumínio que age como barreira contra oxigênio, luz e odores exteriores; 5° mais uma de polietileno para aderência; e por fim, 6° e última de polietileno, agora para proteger o produto contra o meio externo.

Esta estrutura de embalagem aliada a um processo de fabricação que faz uso de uma linha asséptica UHT (Ultra High Temperature) com adequado controle do binômio tempo e temperatura calculado para um F0 suficiente para eliminar os mais resistentes esporos patogênicos ou deteriorantes (normalmente para bebidas que não são de baixa acidez, usam-se o C. botulinum ou o C. sporogenes como referência), e com PCCs já bem estudados justo pela enorme quantidade de empresas que fazem uso deste tipo de tecnologia, permitem um produto bastante seguro microbiologicamente, além de preservar por uma boa shelf-life as características do produto sem requerer uso de frio, o que é ótimo como já dito.

Então o uso de embalagens cartonadas longa vida só traz vantagens?

Bem, imagine que no armazenamento de um centro de distribuição ou mesmo na casa de um consumidor uma garrafa de vidro com um suco caia no chão. Se ela não quebrar, continuará mantendo a proteção hermética de seu conteúdo, mas se quebrar, o conteúdo estará perdido, em ambos os casos um produto contaminado não chegará ao consumidor. Analogamente, imagine agora o mesmo ocorrendo com uma embalagem cartonada que caia no chão, o líquido pode não vazar, e neste caso se não for consumidor na hora poderá vir a ser guardado como se nada tivesse acontecido. No entanto, há uma probabilidade de rompimento nas camadas citadas anteriormente, e uma vez rompidas, lá se foi a garantia de hermeticidade.

Imagine agora que você é um esporo microscópico de fungo presente no ambiente, e que o acaso lhe permita penetrar numa embalagem cartonada por esta microfissura que surgiu devido a uma queda e consequente rompimento das camadas de proteção, e lá dentro encontre um ambiente com nutrientes e devidamente estéril, portanto, sem microrganismos competitivos: podemos dizer que este seria o sonho paradisíaco deste fungo, que vai crescer, crescer e crescer e se tornar uma coisa macroscópica e bem estranha. De fato isso eventualmente acontece, e consumidores encontram este tipo de material, e para exemplificar, diversos casos podem ser encontrados bastando ir no Google e pesquisar por “coisa estranha em embalagem longa vida”, aliás, este é um novo risco em termos de imagem para marcas, pois via redes sociais a disseminação de problemas pode ocorrer antes mesmo que eles cheguem às organizações para que se tomem as devidas providências nos canais tradicionais de atendimento ao consumidor.

A grande maioria desses fungos não é patogênica e não causa problemas à saúde, enquanto não produzirem micotoxinas, o que só ocorreria dependendo do tipo do microrganismo e de circunstâncias específicas, como uma combinação nutricional adequada do produto e outras variáveis como pH do meio. Obviamente, ao ver este “corpo estranho” que causa repulsa, as pessoas também não vão consumir o produto, e se for numa embalagem pequena que use canudinho, o sabor deteriorado também é logo percebido, e o produto tende a ser desprezado. Isto tudo serve como ponto de partida para determinação de significância de riscos em planos de HACCP, mas e como prevenir melhor o problema?

É aqui que este artigo pretende chegar, mostrando que boas sistemáticas para minimizar riscos na produção de produtos processados fazendo uso de sólidos planos de HACCP precisam em muitos casos ir além das linhas industriais, abrangendo distribuição e informações ao consumidor.

Contudo, é claro que falhas podem também ser provenientes dos processos industriais, podemos citar planos de HACCP enjambrados e tecnicamente frágeis, equipamentos de medição em PCCs descalibrados e com limites de segurança insuficientes, equipes mal treinadas ou não conscientizadas e que por isso não seguem corretamente as operações de controle de PCCs ou atividades de suporte, cálculos de letalidade incorretos determinando um binômio de tempo e temperatura insuficientes, negligências em CIP (limpeza clean in place), formação de biofilmes permitindo que microrganismos resistam às limpezas, contaminações cruzadas pós tratamento térmico,  equipamentos com ranhuras ou falhas estruturais que permitem pontos de difícil limpeza e geram contaminação, desenvolvimento de microbiotas termorresistentes, enfim, a cada caso de contaminação é preciso uma boa investigação de causa raiz para eliminar possibilidades.

No entanto, efetivamente ocorrem casos nos quais houve uso de tecnologias de produção muito eficientes em termos de controle de tratamento térmico, o uso de embalagens cartonadas longa vida que são bem protetoras, conferindo ao final, processos industriais muito seguros, com PCCs muito bem definidos, com limites de controle e de segurança bem testados e com dados estatísticos abundantes que podem ser usados tornando cada vez mais robusta a garantia de inocuidade dos produtos processados, além de conhecidos cuidados em termos de limpezas de linha, cuidados para evitar biofilmes, validação de linhas com ultrassom, etc. Além disso, há ocorrências de produtos com contaminação com fungos que surgem no mercado que não possuem nenhum nexo causal com falhas operacionais, que são aleatórias não estando ligadas a repetições de um lote específico, e nestes casos, temos que ir além dos muros da empresa e olhar para fora quando não encontramos indícios internos, o que se pode iniciar pela recuperação da embalagem, para uma rigorosa análise e procura de microfissuras, pontos que tenham umedecido a camada de papel, indícios de rompimento da hermeticidade.

É aqui que há algumas fragilidades que precisam ser ainda melhor trabalhadas em termos de food safety:

  1. Primeiramente quanto aos cuidados nas cadeias logísticas de distribuição, para que no manuseio, transporte e empilhamento se tomem os devidos cuidados, evitando danos às embalagens, amassamentos ou rupturas. O desafio muitas vezes está em serem processos fora do controle direto das organizações, por serem serviços terceirizados ou executados pelos clientes, que por sua vez, muitas vezes subcontratam carregadores (chapas), e que se estes não tiverem o mínimo de instrução, não terão nenhum cuidado ao manusear as embalagens longa vida, conferindo os riscos abordados;
  2. Em segundo lugar, é preciso que diferentes empresas que utilizam este tipo de embalagem comecem a melhorar significativamente a comunicação com os consumidores quanto ao “uso seguro” para que estejam sempre atentos às condições das embalagens que contém os produtos que pretendem consumir, buscando se há sinais de amassamento ou deformação, alguma parte umedecida, ou outros indícios de rompimento das camadas protetoras, e neste caso, talvez julgar se o produto não deve então ser descartado.

A lição aqui é que Food Safety efetivo exige responsabilidade de todos stakeholders, desde os fornecedores de matérias primas, insumos e embalagens em condições apropriadas, seguras e devidamente dentro de especificações, a fabricantes que devem utilizar processos apropriados de produção sempre baseados em sistemáticas de identificação de perigos e controle de riscos e um bom sistema de gestão, distribuidores logísticos que devem estar engajados em manter a preservação e a qualidade do produto, e também consumidores conscientes, preparados para identificar anormalidades nas embalagens.

5 min leituraAs embalagens cartonadas do tipo longa vida são uma realidade no cotidiano das pessoas, usadas para sucos, água de coco, leite, achocolatados, iogurtes, creme de leite, leite condensado, doces, extratos, […]

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Avaliação na escolha de manga curta para uniformes de manipuladores de alimentos

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Recentemente realizei um levantamento a fim de justificar a escolha de manga curta nos uniformes de manipuladores de alimentos. Abordei diferentes aspectos e gostaria de compartilhar o assunto com vocês.

1. Considerações técnicas

As RDC 26/2004, RDC 275/2002, RDC 267/2003 e várias outras legislações da área de alimentos solicitam a lavagem das mãos: antes de manipular alimento e diversas vezes ao dia.  Quando o manipulador tem uma manga longa ele toca no tecido para “arregaçar” as mangas e realizar o procedimento de higienização das mãos. Como sua mão ainda não está higienizada, o tecido, que é um material poroso, é contaminado e permanece assim durante toda rotina de trabalho, pois não é passível de ser higienizado.

No procedimento ilustrado na imagem de destaque, também deve ser considerado que como ele é realizado diversas vezes ao dia, o elástico, em um determinado tempo, fica largo, visto que o antebraço tem um diâmetro maior que o punho. Dessa forma, permite-se que pelos depositados nos uniformes escorreguem para o produto.

Utilizar uniformes de manga curta permite que os pelos caiam no produto, em equipamentos e também em lugares onde não há risco, como piso e outros. Portanto, a probabilidade de o pelo cair no produto é significativamente menor que 100%. Utilizar uniforme de manga longa sem elástico ou com o elástico largo direciona os pelos que caíram e estão armazenados na manga para o alimento que estiver sendo manipulado, portanto a probabilidade de cair no produto é praticamente 100%.

A utilização de manga longa não garante 100% de proteção contra quedas de pelos, pois há pelos em mãos e dedos.

Uma grande preocupação com luvas e com máscaras é o acúmulo de micro-organismos devido às condições propiciadas por um ambiente úmido, com suor, em temperaturas de aproximadamente 36°C, a temperatura do corpo humano, e a presença de alimentos que podem entrar em contato com essas superfícies. Esse mesmo cenário propício à contaminação ocorre dentro da manga longa quando o funcionário transpira. E é importante considerar que a manga longa ajuda a causar a transpiração, visto que atrapalha a troca de calor com o ambiente e a passagem de ar na pele.

Segundo estudo realizado pelo NIH – National Istitutes of Health – o antebraço contém 44 bactérias diferentes, é a região do corpo que contém maior variedade de bactérias. Esse fato torna mais preocupante o punho deslizar sob essa superfície e não ser higienizado. E também torna maior o risco do cenário propício à multiplicação microbiana semelhante a luvas e máscaras descartáveis.

Outro fator importante a ser levado em consideração é o fato de que a RDC 26/2015 solicita que seja declarado qualquer um de seus 18 alergênicos, inclusive látex natural. Grande parte dos punhos que precisam de elasticidade e tem em sua composição o látex natural, forçando a empresa a declarar a frase “ALÉRGICOS: PODE CONTER LÁTEX NATURAL”. Dessa forma, pode haver impactos negativos na interpretação do consumidor em relação aos componentes do produto e também pode haver reações alérgicas caso a empresa use látex natural nos punhos e isso não seja incluído no PCAL – Plano de Controle de Alergênico.

A utilização da manga curta possibilita estabelecer como procedimento, também, a higienização dos braços, de modo que pelos que estão soltos ou prestes a se soltarem caiam na lavagem. A higienização dos braços também possibilita que a diversidade de micro-organismos do antebraço seja eliminada ou reduzida.

2. Legislações

Não há legislações que indiquem qual uniforme adotar para manipulação de alimentos. Inclusive as legislações citadas no item 3 sugerem que o uniforme deve ser “de acordo com a necessidade do processo”. O mais indicado é que o responsável por essa decisão avalie a possibilidade de climatizar o setor, de modo que evite transpiração e desconforto aos manipuladores. Sobretudo, mesmo que a climatização, apesar do seu alto valor financeiro, seja adotada, ela não elimina alguns riscos microbiológicos.

3. Gastos Econômicos

Segundo a ABNT 16060/2012, a média do comprimento de um braço masculino brasileiro tamanho M é de 63,5cm do ombro ao pulso. Segundo a mesma norma, o perímetro médio de um bíceps brasileiro tamanho M é de 34cm.

Calculando a área total do tecido utilizado em uma maga longa, chegamos a 0,2159m².

Se considerarmos que o comprimento de uma manga curta tem ¼ do comprimento do braço (15,875 cm), utilizando os mesmos dados, teremos 0, 053975m².

Entre uma manga curta e uma manga longa temos a economia de 0,161925 m². Podemos multiplicar esse valor por dois, visto que todo uniforme tem duas mangas, chegando a 0,32385 m² de economia por uniforme.

Se levarmos em consideração que as legislações ordenam uma troca mínima diária de uniforme, você terá que fornecer para cada funcionário, no mínimo, duas camisetas. Isto nos deixa com uma economia de 0,6477 m² por funcionário.

Como o material do tecido utilizado na confecção dos uniformes pode variar de uma empresa para outra, não será citado um tecido específico. O custo do m² do tecido utilizado também pode variar por região em que ele é comprado, portanto também não será citado. Outro item que não será citado é a quantidade de funcionários na empresa, pois pode variar.

Portanto, para saber o valor da sua economia em adotar o uso de uniformes de manga curta, basta seguir a seguinte equação:

0,6477.(preço do m² do tecido utilizado).(quantidade de funcionários) = R$ economizado.

Também deve-se levar em consideração que não serão utilizados elásticos e nenhum outro tipo de punho e linhas para costura, reduzindo ainda mais os custos.

Outro ponto a ser observado é que grande parte das legislações vigentes do setor alimentício sugerem que a lavagem dos uniformes seja feita pela empresa. Nesse caso menos tecido resulta em menos gasto com produtos químicos e com água. Em vários casos o uniforme é lavado em empresas terceirizadas, estas cobram por peça ou por peso. No caso em que for cobrado por peso, o uniforme de manga curta terá uma influência grande na economia.

4. Segurança no trabalho

Segundo a norma de higiene ocupacional nº 06 de 2017, em relação à segurança térmica, camisetas de manga longa não geram riscos ao trabalhador. No entanto, a norma não considera aspectos como conforto térmico.

A Norma Regulamentadora nº12 indica que as máquinas devem ser projetadas de modo que não funcionem em condições inseguras. Essa atualização somente é empregada em máquinas novas. Nas máquinas usadas, mesmo que exigido pela NR, geralmente isso não é cumprido devido aos altos custos que essa atualização demanda. Dessa forma, inúmeros operadores de máquinas podem realizar atos inseguros, realizando manutenções com a máquina em funcionamento.

Segundo a revista Pisat de fevereiro de 2017 o número de óbitos em acidentes em operação de maquinas durante o período de 2000 a 2014 para jovens entre 18 – 24 anos foi de 208 casos.

Da mesma forma que os uniformes dos responsáveis pela manutenção são de manga curta para não enroscar em correias, engrenagens e outros, manter o uniforme de um operador de máquinas que também manipula alimentos de manga curta aumenta a segurança na rotina de trabalho e diminui a possibilidade de acidentes.

Segurança de trabalho está diretamente ligada ao item GASTOS ECONÔMICOS, pois acidentes com operação de máquinas geram afastamento, dessa forma a empresa perde produtividade e em muitos casos é multada pela falta de segurança.

5. Impacto ambiental

Vários fatores ecológicos estão envolvidos quando deixamos de consumir ou consumimos em menor quantidade uma matéria prima. Desde o desmatamento para seu cultivo até os gastos para seu processamento e transporte, o ambiente sofre impactos, muitas vezes irreversíveis.

Ao analisar a cadeia produtiva de qualquer material, um dos recursos naturais gastos para sua produção é a água. Direcionando nosso foco apenas nesse recurso natural, podemos identificar que, mesmo indiretamente, ela é utilizada, como por exemplo em forma de vapor, na geração de energia elétrica e até mesmo para matar a sede dos trabalhadores envolvidos no processo. Essa teoria tem o nome de Água Virtual. Carmo cita que “em sua essência, água virtual diz respeito ao comércio indireto da água que está embutida em certos produtos”.

A água é um recurso natural que está envolvido, mesmo que indiretamente, na produção de qualquer bem material.

Para a produção de uma camiseta de algodão comum são gastos 2.000 – 2.700 litros de água.  Pontes cita valores ainda maiores, como 4.000 litros. As fontes não informam se essa camiseta é de manga longa ou curta, mas certamente a de manga curta tem um impacto no consumo de água virtual menor.

O consumo desse recurso natural não se limita somente à confecção do item. Levando em consideração a etapa de lavagem desse uniforme, podemos concluir que se o uniforme for de manga curta,  serão gastos menos produtos químicos, menos água e menos energia elétrica.

Ainda com o pensamento ecológico, também podemos direcionar nossa atenção para os casos de descarte incorreto. Um tecido demora de 6 meses a 1 ano para se decompor no ambiente. Isso certamente vai variar em função da quantidade de tecido.

E você, leitor, o que achou dos itens abordados? Como foi sua avaliação para escolher seus uniformes atuais?

Referências

  • BRASIL.Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n°216, de 15 de setembro de 2004, 16 de setembro de 2004, DOU. 
  • BRASIL.Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n°275, de 21 de outrubro de 2002, 26 de Outubro e 06 de novembro de 2002, DOU. 
  • BRASIL.Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n°267, de 25 de setembro de 2003, 26 de setembro de 2003, DOU. 
  • BRASIL.Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n°26, de 02 de julho de 2015, 03 de julho de 2015, DOU.
  • NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH. Study Finds Unexpected Bacterial Diversity on Human Skin. Disponível em: <http://www.nih.gov/news/health/may2009/nhgri-28.htm.Acesso em: 12 de Fevereiro de 2018.
  • NORMA DE HIGIENE OCUPACIONAL 06. Avaliação da Exposição Ocupacional ao Calor. Ed. Funda Centro. São Paulo. 2017.
  • NORMA REGULAMENTADORA Nº12. Segurança no Trabalho em Maquinas e Equipamentos. Portaria SIT n.º 197, de 17/12/10.
  • REVISTA PISAT. Boletim Epidemiológico – Acidentes de trabalho fatais em crianças e jovens de 10 a 24 anos no Brasil, 2000 – 2014. Ed. 10. Fevereiro. 2017.
  • CARMO, Roberto Luiz do et. al. Água virtual, escassez e gestão:O Brasil como grande“exportador” de água.Revista Ambiente & Sociedade. v. X, n. 1. jan.-jun. Campinas. 2007.
  • PONTES, Nádia. Brasil e a exportação de ‘água virtual’. In: Revistas águas subterrâneas. Ano 2, nº11. ABAS, 2009.

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Falta de qualidade + falta de ética = Lucro. E a segurança do consumidor, como fica?

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A pergunta acima deve ter sido feita inúmeras vezes nas últimas horas, desde o momento no qual surgiram informações a respeito da adulteração de resultados por parte de um grande grupo produtor de alimentos no Brasil.

Mais uma vez, a indústria de alimentos e seus profissionais são confrontados com piadas de gosto duvidoso sobre suas responsabilidades com a qualidade e a integridade dos alimentos que todos consumimos.

É justo que isso aconteça?

A indústria de alimentos deve ser colocada sob suspeita por conta do desvio de conduta de alguns executivos e gestores em mais um escândalo?

Em uma época onde a pressão por produção em grande escala, para o atendimento às demandas de mercado, é cada vez maior, os limites da ética são testados diariamente em muitas empresas e estabelecimentos comerciais.

O recente caso da BRF retrata de maneira crua o modelo que muitas organizações seguem no momento de atestar seus produtos antes de levá-los para o mercado.

O caso é emblemático porque, em tempos de comunicação digital extremamente rápida, ninguém que cometa um delito está a salvo de uma delação, um grampo ou um e-mail arquivado.

Assim como muitos políticos deixaram de guardar dinheiro em suas contas após as primeiras quebras de sigilo bancário em CPIs passadas, agora talvez certas organizações criem mecanismos paralelos e codificados para esconder suas ações antiéticas. Teremos uma época de “laranjas” para a indústria de alimentos?

Ironias à parte, o que me incomodou muito nessa história foi o comportamento da colaboradora que deflagrou a operação (sem querer, como disse seu advogado). Será que ela só queria ser indenizada pelo assédio moral que diz ter sofrido por parte de seus superiores? Tomara que tenha agido por ética e não apenas por vingança contra aqueles a quem ela se reportava.

É óbvio que os gestores que a pressionaram devem pagar pelo crime, mas o assunto acaba por aí? E quem agiu na prática para que a coisa se concretizasse, como fica?

É esse o papel de quem deve zelar pela segurança do que pessoas mundo afora irão comer?

Só porque as cargas iriam para outros países, distantes daqui  e portanto longe de nossos familiares, a coisa podia ser feita?

Há alguns anos, executivos de uma das maiores empresas fabricantes de pasta de amendoim dos Estados Unidos foram condenados a mais de 70 anos de prisão porque liberaram um lote suspeito de contaminação por Salmonella para diversos estados do país e do Canadá e, dessa forma, causaram inúmeros danos à saúde pública, incluindo a morte de consumidores (veja mais detalhes sobre isso aqui).  A então Gerente da Qualidade da empresa tentou se livrar das acusações alegando ter apenas cumprido ordens superiores, discurso que a justiça americana não aceitou e a condenou a 10 anos de prisão por conivência com seus superiores.

No Brasil, o MAPA agiu como advogado de defesa alegando que o microrganismo pode ser eliminado durante a preparação da carne (por cozimento ou fritura).

O caso não é esse! A verdade é que quem ordenou e quem fez sabiam o que estavam fazendo e que havia risco para quem consumisse os produtos contaminados.

E o que dizer dos laboratórios?

Essa é outra questão bastante importante a ser debatida. Como conseguem a acreditação e credenciamento?

E a forma de seleção de prestadores de serviços (no caso análises laboratoriais) da BRF? Será que só levava em consideração o custo por análise/laudo?

O caso da BRF servirá para marcar mais uma vez a diferença entre dois sistemas judiciários. Se as punições forem severas e atingirem a todos os envolvidos, independentemente do nível hierárquico, teremos uma nova era na forma que a indústria de alimentos do Brasil tratará seus consumidores onde quer que estejam.

Se ao contrário, as punições não forem exemplares, o sentimento que ficará por parte da maioria dos consumidores será de total desconfiança nos dois sistemas: o que deveria produzir com segurança e qualidade e o que deveria punir quem é capaz de cometer um crime dessa proporção apenas por pensar somente no resultado financeiro.

3 min leituraA pergunta acima deve ter sido feita inúmeras vezes nas últimas horas, desde o momento no qual surgiram informações a respeito da adulteração de resultados por parte de um grande […]

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