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A Inteligência Artificial revolucionará a segurança dos alimentos!

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A Inteligência Artificial (IA) refere-se à capacidade de sistemas computacionais realizarem tarefas que tradicionalmente exigiriam inteligência humana, como aprendizado, tomada de decisão e reconhecimento de padrões.

Parece um tema novo, mas a IA surgiu já na década de 1950, quando pesquisadores começaram a explorar a possibilidade de criar máquinas capazes de “pensar”, e desde então, avanços significativos em hardware e software impulsionaram a adoção da IA em diversas áreas, incluindo a indústria de alimentos.

Quando o supercomputador Deep Blue, da IBM, venceu Kasparov em 1997, marcou um momento histórico para a IA, demonstrando que máquinas podiam superar até mesmo os melhores humanos em tarefas altamente complexas, como o xadrez.

Esse feito simbolizou um avanço significativo na capacidade dos algoritmos de calcular jogadas e aprender padrões estratégicos, abrindo caminho para o desenvolvimento de IA em diversas áreas, como diagnósticos médicos, automação e aprendizado de máquina. Além disso, a vitória do Deep Blue intensificou o debate sobre os limites da inteligência artificial e seu impacto na sociedade.

Atualmente, 75 anos depois do surgimento embrionário da IA, esta tecnologia sai da esfera da ficção científica e mostra-se uma realidade.

Atualmente empresas como OpenAI, Google DeepMind, Microsoft, Amazon Web Services (AWS), NVIDIA, IBM Watson, Meta e Tesla, estão investindo fortemente na tecnologia. Os EUA lideram a corrida para dominar esta tecnologia e vem firmando parcerias estratégicas, por exemplo, com a Taiwan Semidonductor Manufacturing Company (TSMC) e também com o governo da Índia.

Stanford HAI AI Index adotou o que chama de ‘Ferramenta de Vibração Global de IA’, que combina 42 indicadores organizados em 8 pilares e faz um ranking entre países no uso da IA. O Brasil é o 34° entre 36 países avaliados. Os 5 primeiros países que lideram o ranking são:

  1. Estados Unidos: Lideram no uso da IA em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e economia. Os EUA produzem consistentemente os modelos de aprendizado de máquina de IA mais notáveis , atraem os maiores níveis de investimento privado em IA e lideram na publicação de pesquisas de IA responsáveis ;
  2. China: Demonstra pontos fortes substanciais nos pilares de P&D, economia e infraestrutura. O foco da China no desenvolvimento de tecnologias de IA de ponta e no aumento de seus investimentos em P&D a posicionou como uma grande potência em IA;
  3. Reino Unido: Demonstra força particular nos pilares de P&D , educação e política e governança;
  4. Índia: Tem forte desempenho em P&D e melhorias recentes no pilar econômico;
  5. Emirados Árabes Unidos:Tem pontuação alta no pilar econômico.

Fonte: Ranking de IA – Global IA Vibrancy Ranking – Stanford HAI AI Index. 

No entanto, apesar do maravilhamento e perplexidade que a IA vem causando, estamos só no começo, pois os computadores quânticos representam um salto tecnológico que pode revolucionar a IA.

O funcionamento da IA baseia-se em algoritmos avançados e redes neurais que permitem a análise e a interpretação de grandes volumes de dados, o que já é revolucionário com computadores tradicionais, mas com uso de computadores quânticos, as possibilidades são infinitas.

Um computador quântico é um tipo de computador que utiliza os princípios da mecânica quântica para processar informações de maneira muito diferente dos computadores tradicionais, podendo analisar bancos de dados significativamente maiores em espaços de tempo absurdamente reduzidos.

Diferentemente dos computadores tradicionais, que processam informações em bits, os computadores quânticos utilizam qubits que permitem uma capacidade de processamento muito maior, pois possuem propriedades especiais, como:

  • Superposição – Enquanto um bit clássico é 0 ou 1, um qubit pode ser 0, 1 ou ambos ao mesmo tempo (superposição). Isso, na prática, significa que um computador quântico pode realizar múltiplos cálculos simultaneamente;
  • Emaranhamento – Dois ou mais qubits podem se tornar interligados, de forma que mudar um qubit afeta o outro, mesmo a grandes distâncias. Isso permite que informações sejam processadas instantaneamente.

Com essa evolução, a IA se tornará ainda mais poderosa, possibilitando análises mais sofisticadas e precisas na indústria de alimentos, como a detecção avançada de contaminantes e a previsão de riscos em tempo real.

A tecnologia ainda avançará muito. A Google, por exemplo, lá em 2019 já havia anunciado que seu processador quântico Sycamore atingiu a chamada supremacia quântica, resolvendo um problema em 200 segundos que levaria milhares de anos em um supercomputador clássico.

As empresas de tecnologia estão trabalhando para superar os problemas da instabilidade dos qubits e a  necessidade de operar em temperaturas extremamente baixas, mas com a corrida pela IA, os esforços internacionais logo superarão este desafio.

A IA desempenhará cada vez mais um papel crucial na redução de riscos e na garantia da qualidade dos produtos alimentícios. Algumas de suas aplicações incluem:

  1. Monitoramento da cadeia produtiva – Sensores IoT (Internet das Coisas) e IA monitoram em tempo real as condições de produção e armazenamento, detectando potenciais ameaças, como contaminação por patógenos, tomando ações antes que os processos saiam de controle e sejam gerados produtos não conformes;
  2. Análise de dados e previsão de riscos – Algoritmos de aprendizado de máquina (machine learning) ao processar grandes volumes de dados podem identificar padrões que indicam riscos de contaminação, prevenindo surtos de doenças alimentares antes mesmo que um desvio na cadeia produtiva de alimentos ou em processos específicos ocorra, por exemplo, a partir de modelagens com uso de microbiologia preditiva;
  3. Inspeção automatizada – Câmeras com IA podem detectar falhas na produção, como defeitos em embalagens e presença de corpos estranhos nos alimentos e tomar decisões em tempo real, sem precisar da intervenção humana;
  4. Otimização de processos – Sistemas inteligentes ajustam automaticamente parâmetros operacionais da linha de produção para garantir eficiência e conformidade com padrões de qualidade;
  5. Previsão de demanda e redução de desperdício – Modelos preditivos auxiliam na gestão de estoques e no planejamento de produção, evitando desperdícios e melhorando a sustentabilidade.

A adoção da IA na indústria alimentícia não apenas melhora a qualidade dos produtos, mas também impacta positivamente a saúde pública. Ao reduzir a incidência de alimentos contaminados e otimizar os processos de inspeção e rastreabilidade, a tecnologia ajuda a prevenir surtos de doenças transmitidas por alimentos.

A Inteligência Artificial está transformando a indústria de alimentos, tornando-a mais segura, eficiente e confiável.

As indústrias que atualmente já estão investindo em IA e outras tecnologias emergentes da 4ª Revolução Industrial estarão à frente na próxima era da produção de alimentos, e neste sentido, algumas já vem se destacando:

Nestlé

  • Usa IA e big data para prever demandas e otimizar a produção;
  • Emprega robôs autônomos em fábricas para automatizar processos e reduzir desperdícios;
  • Utiliza blockchain para rastrear ingredientes, garantindo transparência na cadeia produtiva.

Coca-Cola

  • Implementa Internet das Coisas (IoT) para monitoramento em tempo real das máquinas e controle de qualidade;
  • Usa machine learning para prever preferências dos consumidores e desenvolver novos produtos;
  • Adota impressão 3D para criação rápida de protótipos de embalagens.

BRF (Sadia e Perdigão)

  • Investe em automação e robótica para manipulação de carnes com mais precisão e higiene;
  • Emprega sensores IoT para controle de temperatura e umidade no armazenamento de alimentos;
  • Utiliza big data para prever oscilações no mercado e ajustar a produção.

Cargill

  • Usa IA para otimizar o processamento de grãos e reduzir desperdícios;
  • Adota blockchain para rastrear a origem dos produtos e garantir qualidade e sustentabilidade;
  • Implementa análises preditivas para gerenciar a cadeia de suprimentos com mais eficiência.

O futuro chegou e quem não se movimentar ficará para trás, pois perderá competitividade e não conseguirá, com métodos de produção tradicionais, atingir os padrões de qualidade e segurança dos alimentos que as empresas que estão passando pela transformação tecnológica irão oferecer.

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Exportação bloqueada: alimentos contaminados por insetos

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O pequeno inimigo no caminho das Grandes Negociações

Em um porto movimentado, onde contêineres de alimentos seguem rumo a destinos distantes, um detalhe minúsculo, com seis patas, asas frágeis, talvez um exoesqueleto brilhante, pode interromper um fluxo comercial de milhões de dólares. A cena se repete com frequência perturbadora: um carregamento, após cruzar oceanos, é barrado na inspeção sanitária por contaminação de pragas. O prejuízo não é apenas financeiro, mas institucional, pois afeta a  reputação da empresa.

Se a tarefa de resolver esse problema estivesse em suas mãos, o que faria?

Os principais contaminantes

Relatos apontam que as pragas não apenas embarcam no transporte, mas proliferam nele. O período de viagem, que pode durar de 60 a 120 dias, cria o ambiente favorável para que esses organismos completem seu ciclo de maturação. Entre os vilões mais frequentes, besouros e carunchos se destacam. Diferentemente dos roedores, moscas ou baratas, que não resistem ao confinamento, essas espécies de insetos são pequenas, resistentes e especialistas em se infiltrar nas mercadorias. A ameaça pode estar no alimento já processado, na madeira dos paletes ou até mesmo no próprio piso do contêiner. Nomeamos, então, o nosso inimigo. Agora, como eliminá-lo?

As causas invisíveis

A contaminação começa muito antes do embarque. Em alguns casos, ovos de insetos sobrevivem a processos industriais e eclodem durante a jornada transoceânica. Alimentos como cereais, massas, leite em pó, castanhas e ração animal são particularmente vulneráveis.

Ao desembarcar no país de destino, há dois cenários possíveis: ou o carregamento é retido para fumigação —um processo caro, demorado e que prejudica a imagem da empresa—, ou a carga é descartada, acarretando um prejuízo ainda maior. Em tempos de acirrada disputa comercial, qualquer ocorrência pode ser transformada em uma barreira sanitária estratégica, criando embargos e impactando a balança comercial. Enquanto isso, o exportador se vê no centro de uma tempestade burocrática, carregando a responsabilidade nos ombros sem uma solução clara à vista.

O custo de um erro

Contratar uma empresa estrangeira para realizar a fumigação pode custar milhares de dólares, além dos dias perdidos com o carregamento imobilizado e o impacto nos prazos logísticos. Mas há uma situação ainda mais alarmante: algumas espécies de insetos são consideradas pragas exóticas invasoras. Se identificadas, podem gerar não apenas a rejeição da carga, mas multas exorbitantes.

Recentemente, uma indústria exportadora brasileira foi penalizada após um besouro silvestre comum, de áreas de preservação,  ser encontrado morto dentro de um contêiner 90 dias depois do embarque. O país importador, com regulamentos severos exatamente sobre aquela espécie, aplicou uma sanção financeira monumental.

O controle de pragas para exportação não admite amadorismo. Não se trata apenas de um custo operacional, mas de um diferencial estratégico. Exportadores com essa visão estão um passo à frente da concorrência.

Prevenção: a solução antes do problema

Processo produtivo seguro é obrigação do exportador, e a grande maioria das indústrias é cuidadosa nesse item, mas negligencia outro elemento fundamental. Elas mantêm um programa para controle de pragas insuficiente para vigiar todos os pontos mais vulneráveis: armazenamento e expedição são frequentemente subdimensionados pelas rotinas do controle de pragas. Pequenos erros passam despercebidos internamente, mas as agências reguladoras internacionais não se omitem.

Criar uma rotina eficaz para evitar contaminações exige atenção a detalhes que muitas indústrias ignoram. Veja alguns erros comuns:

  • Paletes contaminados: paletes reutilizados e sujos carregam ovos de insetos. Precisam ser submetidos a higienização e tratamento inseticida antes do uso.
  • Depósitos negligenciados: superfícies podem parecer limpas, mas estruturas de empilhamento, calhas elétricas e telhados costumam ser focos de infestação. A limpeza deve ser ampliada e acompanhada de tratamentos periódicos.
  • Containers contaminados: caminhões e contêineres chegam muitas vezes com resíduos e pragas, mas poucas empresas exigem comprovação regular de tratamento inseticida dessas estruturas.
  • Carregamento ao ar livre: exportadores frequentemente carregam contêineres no meio do pátio, expostos ao ambiente externo, aumentando os riscos de contaminação por insetos silvestres. Idealmente, o carregamento deve ocorrer sempre em docas e isoladas, ou pelo menos com cobertura permanente.
Inspeção por agente da FDA
Fonte: https://www.fda.gov/about-fda

Os principais mercados de exportação de alimentos processados impõem regras rigorosas. Nos Estados Unidos, a FDA e o USDA fiscalizam ativamente; na Europa, a Comissão Europeia mantém regulamentos rigorosos; países árabes e asiáticos seguem diretrizes igualmente exigentes. Empresas exportadoras que não possuem um especialista interno ou parceiro controlador de pragas atento a esses parâmetros, contratam consultorias para ampliar sua proteção contra perdas milionárias.

Um bom teste para avaliar o nível de percepção do parceiro controlador? Peça um resumo deste artigo em um minuto. Se não conseguir traduzir a complexidade do problema de maneira clara, talvez precise atualizar sua percepção.

A realidade da exportação brasileira

Empresas brasileiras já lidam com desafios como flutuações cambiais e regras alfandegárias. O controle de pragas não pode ser mais um obstáculo. A mentalidade precisa mudar, não basta apenas evitar infestações dentro da fábrica. É essencial monitorar toda a cadeia logística, do armazém ao porto de destino.

Os profissionais desse setor precisam enxergar além dos limites da planta industrial. O risco pode estar na carreta, no navio ou até no ambiente em que o contêiner foi armazenado antes do embarque. Se o exportador ainda não percebeu necessidade, o time de qualidade e especialistas no controle de pragas podem apontar como um controle rigoroso pode ser o diferencial competitivo no mercado global.

Uma selva de leões

Se você chegou até aqui, é porque entendeu que esse problema exige conhecimento técnico, estratégia e ação imediata. Quer melhorar processos, implementar novos protocolos ou simplesmente dominar esse assunto? Seja um leão neste assunto.

Deixo um conselho: capacite-se. Leia, estude, procure especialistas. E, acima de tudo, leve a sério cada detalhe dessa cadeia (ou selva). Bons estudos. Sua jornada pode começar lendo alguns conteúdos alinhados a essa visão: a, b e c.

Se precisar, estamos aqui.

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Surtos de Salmonella em brotos vegetais preocupam europeus

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Diversos surtos de Salmonella, envolvendo mais de 500 pessoas, ocorreram nos últimos dois anos na Europa, evidenciando novamente os riscos no consumo de brotos de alfafa e outras sementes germinadas.

Segundo o Food Safety News, houve surtos em 10 países, com 257 casos na Noruega, 110 na Suécia e 94 na Finlândia. Não foram relatadas mortes, mas 100 pacientes precisaram ser hospitalizados e dos 509 acometidos, 336 eram mulheres, entre 1 a 100 anos.

De acordo com o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), foram identificados 8 sorovares de Salmonella, entre elas S. Typhimurium (246 casos), S.  Newport (107) e Enteritidis (92). Outros 5 sorovares mais raros na Europa também foram encontrados.

A investigação do sequenciamento genômico das amostras e cruzamento dos dados das entrevistas com os pacientes aponta que a fonte dos surtos foram sementes de alfafa de três produtores da mesma região da Itália. Algumas sementes estavam contaminadas com múltiplos sorovares.

Ainda é necessário confirmar em que ponto ocorreram as contaminações das sementes, se foi no campo ou se houve contaminação cruzada na cadeia logística. Já foram realizados vários recolhimentos (recalls) dos lotes de produtos investigados, reduzindo muito o número de notificações. Porém alguns casos seguem ocorrendo, o que indica que parte das sementes contaminadas ainda pode estar no mercado.

Perguntei a um famoso microbiologista, em um congresso internacional, qual alimento ele jamais comeria, imaginando que a resposta seria um hambúrguer mal passado, mas ele me disse que sempre evitou os brotos crus! É algo que parece saudável, mas com frequência temos relatos de surtos envolvendo Salmonella spp, Listeria spp e E. coli toxigênicas (saiba o que os especialistas mais evitam em: 10 alimentos que especialistas em segurança não comem).

O risco de contaminação de brotos pode vir de bactérias aderidas externa ou internamente nas sementes, que ficam latentes enquanto estão secas, mas que passam a ter metabolismo na germinação, tornando-se rapidamente infectantes.  Alguns fatores importantes que devem ser controlados:

  • A água de irrigação pode ser contaminada na fonte ou armazenamento;
  • Adubos animais, que não sejam curtidos corretamente trazem muito risco. Por isto, muitas vezes os surtos são causados por alimentos orgânicos que não foram devidamente manejados, com controle de tempo e temperatura;
  • Animais selvagens como roedores e aves podem contaminar as sementes em silos, ou no campo;
  • Trabalhadores rurais que não seguem boas práticas de higiene podem contaminar as sementes ao manuseá-las;
  • Transporte inadequado: o transporte em embalagens contaminadas, como caixas reutilizadas sem a devida higienização ou contato com umidade podem trazer bactérias patogênicas;
  • Condições de germinação: sementes precisam de calor e umidade para germinar, dando condições ótimas para crescimento de patógenos.

Por estes riscos, o consumo de brotos não é recomendado para crianças menores de 5 anos, gestantes, idosos e pessoas com sistema imunológico debilitado. 

Especialistas recomendam consumir em estágios de crescimento mais avançados das plantas, no formato de “micro verdes” – que são plantas um pouco maiores, já fazendo fotossíntese, convertendo carboidratos em vitaminas, com pelo menos 2 folhas verdadeiras, entre 2-7 cm de comprimento.

Micro verdes são produzidos em ambientes mais ventilados, com iluminação direta, condições que podem reduzir o desenvolvimento de patógenos. Mas o ideal é sempre higienizar corretamente e, se possível, tratar termicamente antes de consumir.

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Embalagens sustentáveis: tendências e implicações para a segurança dos alimentos

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A evolução das embalagens na indústria de alimentos, incluindo as embalagens sustentáveis, tem sido impulsionada por dois desafios fundamentais: garantir a segurança e qualidade dos alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental. Nos últimos anos, a preocupação com a sustentabilidade levou à adoção de materiais ecológicos e à redução do uso de plásticos descartáveis. No entanto, encontrar o equilíbrio entre segurança dos alimentos e impacto ambiental continua a ser um desafio para empresas e consumidores.

Um dos fatores que agrava esta equação é a mudança no perfil das famílias. Com lares cada vez menores e um aumento no consumo individual, cresce também a procura por embalagens de menor dimensão e porções individuais. Este fenômeno responde à necessidade de conveniência e contribui para a redução do desperdício alimentar, mas, ao mesmo tempo, leva a um aumento no volume de resíduos gerados, especialmente de plástico. Assim, surge uma questão incontornável: como reduzir o impacto ambiental sem comprometer a proteção dos alimentos?

A segurança dos alimentos depende diretamente da eficácia da embalagem. Um produto bem embalado está mais protegido contra contaminação, degradação e perda de qualidade. No entanto, a substituição das embalagens convencionais por alternativas sustentáveis levanta desafios. Certos materiais ecológicos podem ser menos resistentes a fatores como umidade, oxigênio ou luz, aumentando o risco de deterioração e proliferação de microrganismos. Além disso, a utilização de materiais reciclados e biodegradáveis exige um controle rigoroso para garantir que não ocorram migrações de substâncias potencialmente nocivas para os alimentos.

O equilíbrio entre a segurança dos alimentos e a sustentabilidade exige um esforço conjunto da indústria e dos reguladores para garantir que as novas soluções de embalagens sustentáveis não comprometam a qualidade dos alimentos. Existem normas e regulamentos específicos que definem critérios rigorosos para o contato de materiais com alimentos, assegurando que qualquer embalagem utilizada na indústria cumpra os requisitos de segurança. No entanto, a questão que se impõe é como garantir esta transição de forma responsável?

As embalagens não servem apenas para conter e transportar alimentos. Elas desempenham um papel essencial na proteção contra contaminações, na preservação das propriedades nutricionais e na prevenção de alterações químicas e microbiológicas. Quando uma embalagem não cumpre a sua função de barreira protetora, os alimentos ficam expostos a fatores que podem comprometer a sua segurança, como:

  • Crescimento microbiológico – A exposição ao oxigênio e à umidade pode acelerar o desenvolvimento de fungos e bactérias, tornando os alimentos impróprios para consumo.
  • Perda de qualidade sensorial – Sem uma embalagem adequada, os produtos podem sofrer alterações de textura, sabor e aroma.
  • Oxidação e degradação nutricional – Alimentos expostos à luz ou ao ar podem perder vitaminas e antioxidantes essenciais.
  • Risco de contaminação química – Alguns materiais podem interagir com os alimentos, libertando substâncias indesejadas.

O mercado de embalagens sustentáveis tem crescido rapidamente, impulsionado pela necessidade de reduzir o impacto ambiental. No entanto, a adoção de novos materiais exige uma avaliação rigorosa para garantir que os alimentos continuam protegidos. Algumas das principais alternativas incluem:

  • Embalagens biodegradáveis e compostáveis – Feitas a partir de matérias-primas renováveis, como amido de milho, cana-de-açúcar ou algas. Apesar da vantagem ambiental, algumas destas embalagens ainda apresentam desafios, como menor resistência à umidade e a temperaturas extremas.
  • Plásticos reciclados para contato alimentar – Regulamentados para garantir que não libertam substâncias nocivas nos alimentos.
  • Papéis e cartões revestidos – Alternativas ao plástico tradicional, mas que podem exigir camadas de proteção adicionais, nem sempre recicláveis.
  • Embalagens à base de fibras naturais – Sustentáveis e leves, mas, em alguns casos, com menor durabilidade e resistência a fatores externos.

O verdadeiro desafio é garantir que estas novas soluções mantêm os padrões de segurança exigidos. Sem um controle eficaz, as boas intenções ambientais podem resultar em problemas na segurança dos alimentos.

A inovação no setor das embalagens está trazendo soluções cada vez mais avançadas, combinando sustentabilidade e a segurança dos alimentos. Algumas das tendências futuras incluem:

  • Embalagens comestíveis – Desenvolvidas a partir de proteínas ou polissacarídeos, eliminando totalmente os resíduos pós-consumo.
  • Nanotecnologia aplicada às embalagens – Utilização de barreiras ultrafinas que protegem os alimentos sem necessidade de múltiplas camadas plásticas.
  • Maior investimento na economia circular – Expansão dos sistemas de reutilização e incentivo a cadeias de reciclagem mais eficientes.

A sustentabilidade não pode ser dissociada da segurança dos alimentos. Reduzir o impacto ambiental da indústria alimentar é essencial, mas sem comprometer a proteção, a qualidade e a durabilidade dos produtos. A questão não é apenas substituir materiais, mas sim encontrar soluções que cumpram os rigorosos padrões exigidos para garantir alimentos seguros.

O futuro das embalagens sustentáveis dependerá da capacidade da indústria de inovar, testar e certificar novos materiais, garantindo que as mudanças implementadas não afetam a proteção dos alimentos nem a confiança dos consumidores. Mais do que uma tendência, a sustentabilidade das embalagens é um compromisso de longo prazo, que exige adaptação, responsabilidade e um equilíbrio constante entre segurança e impacto ambiental.

Imagem: Fox/pexels

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World Food Safety Day 2025 – Ciência em ação

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Já foi definido o tema do World Food Safety Day para 2025. É Food Safety: science in action.

Essa iniciativa da FAO e WHO acontece desde 2018, e em 2025 será no dia 07 de junho.

Nesse ano, o tema visa reforçar o papel da ciência na segurança dos alimentos, enfatizando que a ciência não se resume a conhecimento, ela inclui a ação.

Na publicação sobre o evento que está no site da FAO, também está disponível um toolkit para apresentação do tema e uso pelas empresas.

Algumas dicas que o toolkit apresenta:

  1. Implementar programas de segurança de alimentos baseados em evidências científicas
  2. Reforçar práticas de segurança dos alimentos
  3. Apoiar esforços de coleta de dados

Documentos e materiais de apoio também podem ser acessados, como mídias digitais e um trello com os materiais do evento.

E na sua empresa, como é celebrado o World Food Safety Day, essa data tão importante?

Imagem: FAO 

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Cloratos na indústria de alimentos: impactos, regulação e alternativas

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Recentemente, a Coca-Cola anunciou um recall de diversos produtos na Europa após a detecção de cloratos. Esse composto é um subproduto dos desinfetantes à base de cloro usados no tratamento de água e pode representar risco à saúde, especialmente para crianças e pessoas com deficiência de iodo, pois interfere na função da glândula tireoide.

Os cloratos podem competir com o iodo na captação pela glândula tireoide, reduzindo a síntese dos hormônios tireoidianos. Esse efeito pode levar a disfunções como o hipotireoidismo, especialmente em indivíduos com ingestão insuficiente de iodo.

Além disso, a exposição prolongada a cloratos pode causar a formação de meta-hemoglobina, uma forma alterada da hemoglobina que reduz a capacidade do sangue de transportar oxigênio. Isso pode resultar em anemia hemolítica, que pode ser grave em exposições crônicas.

Ou seja, a exposição excessiva a cloratos pode representar riscos à saúde, incluindo impactos na tireoide, danos aos glóbulos vermelhos e risco aumentado de anemia hemolítica, especialmente em indivíduos com predisposição genética. O monitoramento dos níveis de cloratos na água e nos alimentos é essencial para minimizar os efeitos adversos na população.

Diante desse cenário, este artigo discute o que são os cloratos, como se formam, seus limites permitidos, formas de prevenção e alternativas para a indústria de alimentos.

O que são cloratos e como se formam?

Os cloratos  são sais derivados do ácido clórico e se formam principalmente como subprodutos da desinfecção da água com compostos à base de cloro, como hipoclorito de sódio e dióxido de cloro. Durante o tratamento da água, esses desinfetantes reagem com substâncias presentes no meio, podendo resultar na formação de cloratos. Esse processo ocorre por meio da degradação química e oxidação progressiva de compostos clorados, especialmente sob condições como pH elevado, temperatura elevada e tempo de armazenamento prolongado.

Um dos principais mecanismos de formação de cloratos está relacionado ao uso de dióxido de cloro na desinfecção. Esse composto, amplamente utilizado na purificação da água e na indústria de alimentos, pode sofrer decomposição, gerando clorito e posteriormente clorato. Esse processo pode ser acelerado por fatores ambientais e operacionais, aumentando a presença de resíduos de cloratos nos produtos finais. Da mesma forma, o hipoclorito de sódio, um dos desinfetantes mais comuns, pode se degradar ao longo do tempo, formando cloratos como subprodutos indesejáveis. A exposição prolongada ao cloro em instalações industriais, especialmente em processos de higienização e sanitização, também pode contribuir para o acúmulo desses compostos.

Além disso, em processos industriais que utilizam oxidantes concentrados ou temperaturas elevadas, há maior risco de conversão de cloretos e cloritos em cloratos. Essa formação pode ocorrer de maneira não intencional ao longo da cadeia de produção.

Níveis permitidos de cloratos

Diversos órgãos reguladores e entidades internacionais estabelecem limites para a presença de cloratos em alimentos e água potável, visando garantir a segurança do consumo humano.

Na União Europeia, o Regulamento (CE) nº 396/2005 define os limites máximos de resíduos (LMRs) para pesticidas e subprodutos, incluindo os cloratos, em alimentos específicos. Para alimentos processados, o limite permitido é de 0,01 mg/kg, conforme estipulado pela Comissão Europeia. Desde 2020, a Comissão Europeia prevê um índice máximo de 0,05 mg/kg para a maioria das frutas e vegetais, inclusive congelados. Além disso, a União Europeia também estabelece limites para a presença de cloratos na água potável. Segundo a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), o limite máximo permitido na água potável é de 0,7 mg/L. A fiscalização tem sido intensificada para garantir que esses valores não sejam ultrapassados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também fornece diretrizes sobre a qualidade da água potável, recomendando limites para cloratos com base em avaliações de toxicidade. De acordo com as diretrizes da OMS de 2017, o limite seguro para cloratos na água potável é de 0,7 mg/L. Essas recomendações servem como referência para diversos países na definição de seus próprios padrões regulatórios.

O Codex Alimentarius, uma referência global para segurança de alimentos, estabelece padrões internacionais para resíduos de subprodutos de desinfecção, incluindo os cloratos. No entanto, os limites específicos podem variar de acordo com as regulamentações nacionais e locais, sendo geralmente alinhados aos padrões estabelecidos pelos órgãos reguladores de cada país.

Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) regula a presença de subprodutos na água potável por meio dos Regulamentos Nacionais para Água Potável. Embora os cloratos sejam monitorados, não há um limite específico estabelecido. Entretanto, para os cloritos, outro subproduto semelhante, o limite permitido é de 1 mg/L, servindo como referência para controle e monitoramento da qualidade da água.

A Austrália adota diretrizes baseadas nas recomendações da OMS, estabelecendo um limite de 0,7 mg/L para cloratos na água potável. As Diretrizes Australianas para Água Potável também incluem estratégias de monitoramento para garantir que os níveis de cloratos permaneçam dentro dos limites de segurança recomendados.

Dessa forma, os limites para cloratos variam de acordo com cada jurisdição, mas seguem padrões internacionais baseados em avaliações de risco e segurança. A intensificação da fiscalização e a atualização das diretrizes visam proteger a saúde pública e minimizar a exposição a esses compostos em alimentos e na água potável.

Métodos de prevenção e controle

A indústria alimentícia pode adotar diversas estratégias para reduzir a presença de cloratos em seus produtos:

  • Otimização do uso de desinfetantes: Reduzir a concentração e o tempo de contato dos sanitizantes à base de cloro durante o processamento.
  • Filtragem e monitoramento da água: Implementar sistemas de filtragem avançados para minimizar a presença de cloratos na água utilizada na produção.
  • Alternativas na sanitização: Substituir o cloro por métodos alternativos, como ozônio, aerossolização, eletrocloração e luz ultravioleta, que não geram resíduos de cloratos.
  • Boas Práticas de Fabricação: Treinar equipes para garantir a aplicação adequada de sanitizantes e evitar a contaminação cruzada.

Conclusão

O recall envolvendo a Coca-Cola trouxe à tona a importância do controle da presença de cloratos na indústria de alimentos. Com regulamentações cada vez mais restritivas, é essencial que as empresas adotem práticas seguras e sustentáveis para minimizar os riscos à saúde pública. A busca por alternativas aos desinfetantes à base de cloro, aliada a estratégias eficientes de monitoramento e controle, representa um passo fundamental para garantir a segurança dos alimentos.

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Um olhar sobre a Saúde Animal, seus programas e sua importância para a Segurança de Alimentos

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Todos sabemos que a Saúde Animal é um dos pilares que formam o conceito da Saúde Única e que ela exerce um papel crucial nas questões que envolvem  a epidemiologia e as zoonoses.

Para termos uma ideia da dimensão deste assunto, a OMS relata que 75% das doenças emergentes são zoonoses e 60% dos patógenos conhecidos por atingir humanos são de origem animal.

Se centralizarmos este tema no que se refere às questões de segurança de alimentos, temos o seguinte contexto: os animais de produção de maneira geral são criados em sistemas de alta densidade e baixa variabilidade genética, o que facilita a adaptação e transmissão de patógenos.

No intuito de gerenciar este cenário, programas de defesa sanitária animal têm sido implementados, visando tanto as questões sanitárias quanto as econômicas, uma vez que os impactos de determinadas doenças nos sistemas produtivos podem ser devastadores também para as relações internacionais.

No Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária, alinhado às diretrizes da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e através da sua divisão de Defesa Sanitária Animal (DSA), estabelece estratégias para atuar frente a doenças que podem impactar a saúde pública, como:

-Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT);

-Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros (PNCRH);

-Programa Nacional de Prevenção e Vigilância da Encefalopatia Espongiforme Bovina (PNEEB);

-Programa Nacional de Sanidade Suídea (PNSS);

-Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA).

Além destes, há outros programas voltados às diferentes espécies, como caprinos,  ovinos, animais aquáticos e abelhas, por exemplo.

A Saúde Animal exerce também um papel importantíssimo na ameaça global que é a resistência antimicrobiana, uma vez que os tratamentos e o uso de drogas e medicamentos nos animais devem ser sempre realizados de forma racional e consciente. Para este tema, o mesmo Ministério conta com o PNCRC: Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes, promovendo uma gestão de perigos químicos oriundos de drogas veterinárias em produtos de origem animal.

Além desses programas e do plano acima citado, o Ministério da Agricultura e Pecuária conta com alguns sistemas que gerenciam determinados temas.

No caso do Sistema Nacional de Informação Zoosanitária (SIZ) do Departamento de Saúde Animal, faz-se a gestão dos dados e informações de interesse para a saúde animal e, por sua vez, a Coordenação de Epidemiologia envia informes semestrais e anuais à Organização Mundial de Saúde Animal.

Essa gestão de dados visa consolidar, analisar e divulgar informações zoosanitárias que servem de base para tomada de ações e assim prevenir as doenças de relevância para pecuária e para a saúde pública, além de subsidiar certificações zoosanitárias nacionais junto a atores internacionais com os quais o Brasil mantém relações comerciais.

Mais detalhes sobre lista das 141 doenças de notificação compulsória, bem como a legislação vigente (IN 50/2013), podem ser encontrados aqui, além dos boletins e painéis de consultas do histórico de doenças relatadas. O destaque é para doenças importantes, como tuberculose, brucelose, toxoplasmose e cisticercose, apenas para citar alguns exemplos.

Há também sistemas integrados com objetivos de gerenciar tais informações e englobar outros envolvidos no cenário, como o setor privado e setor público ligados à agropecuária, à saúde pública, meio ambiente, ensino e pesquisa. São eles: Sistema Brasileiro de Vigilância e Emergências Veterinárias (SisBravet), Sistema de Gerenciamento de Estudos Epidemiológicos (SIGEP) e Sistema de Diagnóstico Animal (SISDIA).

O Ministério da Saúde conta com gestão de dados oriundos das redes de saúde pública e particular de saúde humana, através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), também com uma lista regulamentada de doenças de notificação obrigatória, incluindo casos suspeitos e investigações. Este material pode ser consultado em maiores detalhes neste link.

Importante observar que mais da metade das doenças da lista envolve animais em seus ciclos de transmissão, além de um campo para notificação de epizootias (doenças ou morte de animal ou grupo de animais que possam apresentar risco à saúde pública).

Vale lembrar da importância das ações desenvolvidas pelas Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZ), no intuito de estabelecer estratégias relacionadas às zoonoses bem como na prevenção de acidentes envolvendo animais de relevância para a saúde pública.

A ideia desse texto foi trazer uma apresentação breve de algumas das partes que compõem a Saúde Única no Brasil focando o que mais diretamente se relaciona com a segurança de alimentos. É muito válido lembrar que também dentro desse contexto, o Bem-estar Animal é  crucial na qualidade e segurança dos produtos de origem animal e já foi amplamente abordado aqui no Food Safety Brazil: veja aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Neste artigo você relembra um evento que abordou o tema da Saúde Única como solução de várias dores em segurança de alimentos. E para finalizar, complemente sua leitura com outros posts que abordam a Saúde Única: aqui, aqui e aqui.

3 min leituraTodos sabemos que a Saúde Animal é um dos pilares que formam o conceito da Saúde Única e que ela exerce um papel crucial nas questões que envolvem  a epidemiologia […]

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O desafio de construir uma cultura de segurança de alimentos na América Latina

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Garantir a segurança de alimentos na América Latina é, sem dúvida, um grande desafio. A região destaca-se pela sua riqueza e diversidade extraordinárias, tanto na produtividade — sejam carnes, cereais, frutas, hortaliças, pescados ou frutos do mar — quanto nos desafios significativos relacionados à educação e ao compromisso empresarial para melhorar a cultura de segurança de alimentos. Para isso, é necessário um esforço coletivo.

No último encontro da Global Food Safety Initiative (GFSI) em Singapura, com o tema “Alimentos seguros para todos”, foram discutidos alguns dos desafios globais nessa área.

A FAO, em seu evento de 2024 em Georgetown, Guiana, destacou como prioridade número um “Melhorar a Produção”, focando em garantir modelos sustentáveis por meio de cadeias de suprimentos e valor eficientes e inclusivas. Esse esforço busca assegurar a resiliência e a sustentabilidade dos sistemas alimentares em um contexto de mudanças climáticas e ambientais, reforçando a importância de melhorar a cultura de segurança de alimentos.

No livro destaca-se que:
“A cultura de segurança de alimentos não se trata de sistemas ou processos, mas de pessoas”.

Estatísticas e certificações que lideram a transformação

No relatório Overall Rankings Table da GFSI de 2022, que avalia segurança e qualidade alimentar em uma escala máxima de 100%, alguns países latino-americanos se destacaram:

  • Costa Rica: 18º lugar
  • Chile: 25º lugar
  • Peru: 37º lugar
  • Panamá: 40º lugar
  • México: 43º lugar
  • Equador: 48º lugar
  • Bolívia: 52º lugar
  • Argentina: 54º lugar

Em termos de volume de certificações, Brasil, México e Chile lideram, apoiados por fatores como densidade populacional e tamanho das empresas.

Certificações como FSSC 22000, BRCGS, IFS e ISO 22000, em conjunto com a GFSI, desempenham um papel crucial ao promover uma filosofia baseada em três pilares:

  • Compromisso transversal
  • Capacitação contínua
  • Melhoria contínua

Essas certificações fortalecem a confiança do consumidor e aumentam a competitividade das empresas no mercado global.

Construindo uma cultura de segurança de alimentos na América Latina

A cultura de segurança de alimentos não se constrói da noite para o dia. Ela depende de fatores internos e externos e exige um compromisso real de todos os envolvidos: diretores, gerentes, supervisores, operadores e colaboradores.

Sete passos para construir essa cultura

  1. Compromisso da liderança: Integre a segurança de alimentos na missão e visão organizacional, garantindo que todos abracem esse compromisso.
  2. Políticas e objetivos claros: Defina estratégias específicas e mensuráveis, alinhadas às regulamentações, utilizando linguagem clara e consistente.
  3. Sensibilização e capacitação contínua: Escute ativamente, promova o aprendizado e capacite em boas práticas de segurança de alimentos.
  4. Comunicação eficaz: Estabeleça canais bidirecionais para informar e coletar feedback, estimulando a integração nos processos e a delegação de responsabilidades.
  5. Medição e ajustes contínuos: Use KPIs e auditorias regulares para monitorar o desempenho e guiar melhorias.
  6. Reconhecimento de boas práticas: Motive os colaboradores com programas de reconhecimento que fortaleçam a autoestima e a confiança.
  7. Melhoria contínua: Reforce a ideia de que a segurança de alimentos é um processo em constante evolução.

Construir uma cultura de segurança de alimentos na América Latina é desafiador, mas possível. Depende do compromisso coletivo e da adoção de metodologias globais.

A segurança de alimentos não é apenas uma meta, mas um caminho para a excelência operacional e a confiança do consumidor.

Claudio Riquelme Jorquera é engenheiro de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente, auditor líder em Sistemas de Gestão de Qualidade – Black Belt (Kaizen) PMI e especialista em Melhoria Contínua (www.cibica.org)

Imagem: Anna Shvets

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O que perdas e desperdícios de alimentos têm a ver com a segurança de alimentos?

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Vamos diretamente para as respostas a esta brilhante questão sobre perdas e desperdícios levantada pela ONU, com contribuições de protocolos de certificações reconhecidas pela GFSI:

  1. Normas e regulações: Diversos países mantêm normas rigorosas para a segurança de alimentos, que podem ser comprometidas com altas taxas de perdas e desperdícios. O esforço para minimizar essas perdas pode contribuir para a manutenção de padrões adequados de segurança. E, nesta linha, o esquema FSSC 22.000 v.6 tem um requisito adicional auditável (2.5.16), que conecta uma visão mais sustentável com a responsabilidade social contra fome global.
  2. Qualidade do alimento: Quando alimentos são perdidos ou desperdiçados, muitas vezes eles passam por condições inadequadas de armazenamento e manuseio. Isso pode levar ao crescimento de microrganismos, comprometendo a qualidade e a segurança dos alimentos restantes.
  3. Riscos de contaminação: Alimentos não consumidos que ficam por muito tempo expostos podem atrair pragas e insetos, que são vetores de doenças. A presença dessas pragas pode contaminar não apenas os alimentos descartados, mas também outros produtos próximos.

E há mais razões:

Na produção e colheita

  1. Falta de higiene: Instrumentos e equipamentos não higienizados podem transferir microrganismos para os alimentos.
  2. Uso de água contaminada: Água contaminada utilizada para irrigação ou lavagem pode introduzir patógenos nos alimentos.

No transporte e armazenamento

  1. Temperaturas inadequadas: Quando alimentos não são mantidos em temperaturas apropriadas, microrganismos podem se multiplicar rapidamente.
  2. Contaminação cruzada: Durante o transporte, alimentos crus podem entrar em contato com alimentos prontos para consumo, levando à contaminação cruzada.

Na distribuição e varejo

  1. Exposição ao ambiente: Alimentos expostos podem entrar em contato com pragas como roedores e insetos, que são vetores de doenças.
  2. Manejo impróprio: Funcionários que não seguem práticas de higiene adequadas podem contaminar alimentos ao manuseá-los.

Na casa do consumidor

  1. Armazenamento inadequado: Não armazenar alimentos nas condições corretas pode levar ao crescimento de patógenos.
  2. Descarte impróprio: Alimentos que não são consumidos e são deixados em ambientes inadequados podem apodrecer e contaminar outros alimentos e outras áreas.
  3. Produtos alimentícios apodrecendo:Alimentos que entram em estado de decomposição podem liberar gases e líquidos que não só são perigosos para a saúde, mas também podem contaminar superfícies e outros alimentos próximos.

Manter a cadeia de alimentos limpa e eficiente é essencial para reduzir esses riscos e garantir um suprimento de alimentos mais seguro.

Recursos ineficientes: Perdas e desperdícios de alimentos significam que recursos importantes, como água, energia e trabalho, foram usados ineficientemente. Isso pode provocar dificuldades em outras áreas da produção de alimentos, afetando a segurança geral.

Produção e logística: Na tentativa de compensar as perdas, pode haver um aumento na produção que não leva em consideração as boas práticas de manuseio. O transporte e armazenamento adicionais também podem criar mais oportunidades para a contaminação.

Reduzir perdas e desperdícios não só contribui para uma cadeia alimentar mais eficiente, mas também aumenta a segurança geral dos alimentos que consumimos, por isto vale a pena investir em novas tecnologias e equipamentos para redução de perdas e educar para evitar desperdícios de alimentos, começando por campanhas governamentais, inclusive.

Deixo aqui algumas reflexões válidas sobre o tema:

– Não estamos sendo rigorosos demais com certos processos e parâmetros de produtos?

– Segurança sensorial é tão inegociável quanto a segurança dos alimentos quanto aos perigos e contaminantes?

– Como o design de produtos e das embalagens pode prevenir perdas e desperdícios?

– Órgãos reguladores favorecem o processo de aproveitamento de perdas geradas, como doações para consumos humanos e de animais?

– Produtos fora de validade (vencidos) são inseguros até que ponto para o consumo?

– Salvo poucas startups, como estão as plataformas digitais, via aplicativos, que conectam consumidores aos alimentos excedentes, com vendas mais baratas, mas nutricionalmente corretas?

– Temos criado indicadores como estes a seguir para medir PDA?

– Temos tecnologias como software de gestão de estoques e aplicativos para coleta de dados de descarte?

– Estamos fazendo avaliações comparativas entre fornecedores e operações similares (benchmarking)?

Conte-nos como a sua empresa está fazendo para atender este ODS e requisito normativo do esquema FSSC 22.000. Boas ideias são sempre agregadoras neste contexto.

Imagem em destaque: 17 ODS da ONU para 2030 com foco em 5 ODS

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Principais assuntos publicados em 2024 no Food Safety Brazil

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Fazendo uma busca pelos principais assuntos em nossas publicações de 2024, notamos que alguns temas foram recorrentes. Seguem aqui os tópicos e links para que essas publicações sejam revisitadas:

  • Enchentes no Rio Grande do Sul

Os eventos climáticos, como as enchentes, estiveram entre os principais assuntos. Nossos textos trataram desde a flexibilização na legislação para as empresas, propriedades rurais acometidas pela tragédia, até como higienizar e desinfectar equipamentos e instalações atingidos pelas enchentes. Além disso, foi questionado qual o grau de preparação das empresas frente a possíveis imprevistos dessa magnitude.

Enchentes no Rio Grande do Sul levam à flexibilização na produção de alimentos

Desinfecção de indústrias de alimentos após enchentes no RS

E agora, como retomar meu negócio após a enchente?

Preparando-se para o inesperado: você e sua empresa estão preparados?

  • Inteligência artificial, era digital e segurança de alimentos

Os posts abordaram como a inteligência artificial, que faz parte da era digital, atua direta e indiretamente na segurança de alimentos, e trouxeram discussões importantes: como engajar a equipe utilizando essas tecnologias digitais? Como humanizar na era digital? Qual o futuro da segurança de alimentos e como a inteligência artificial participa ativamente desse futuro?

Nossos colunistas discutiram a gestão de fornecedores, de documentos, análises microbiológicas e facilidade na comparação e tratamento dos dados gerados. Afinal, quais os desafios da era digital no nosso setor?

Este assunto também esteve presente em cursos e workshops do ano de 2024.

Integrando inteligência artificial aos processos de controle de qualidade: oportunidades e desafios

Como engajar a equipe na era digital?

A Era Digital e a humanização no controle de qualidade dos alimentos

  • Biofilmes e ocorrência de surtos, recalls por contaminação bacteriana

Alguns autores trouxeram novidades sobre o assunto biofilme. Se pensarmos em problemas microbiológicos  e contaminação na indústria de alimentos, não podemos nos esquecer de como identificar e solucionar esse problema de biofilme nas indústrias. Correlacionando a ocorrência de biofilme com algumas contaminações de alimentos, alguns textos trataram da Listeria monicytogenes e um deles falou sobre o surto de E. coli nos EUA.

Estratégias para a prevenção de biofilmes

O que se sabe atualmente sobre biofilmes na indústria de alimentos?

Destaques do IAFP Latino 2024: o que fazer quando os biofilmes atacam?

Novo recall de alimentos por contaminação com Listeria

Listeria em queijos: novo alerta nos Estados Unidos

Surgem novas espécies de Listeria: quais os riscos?

Escherichia coli O157:H7 – entenda o surto nos EUA e as tratativas

Imagem: Roberto Nickson

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