A crescente resistência das bactérias ao tratamento com antibióticos tem chamado a atenção das autoridades públicas em diversas partes do mundo.
No Reino Unido, autoridades médicas compararam a resistência aos antibióticos ao terrorismo e ao aquecimento global. No Brasil, a Anvisa lançou neste mês de junho um plano para o enfrentamento de microrganismos multirresistentes que tem início no Rio Grande do Sul.
É sabido que o aumento do consumo de antibióticos em geral tende a eliminar as bactérias mais fracas e selecionar as mais fortes, ou seja, leva ao aparecimento de superbactérias, resistentes a muitos antibióticos. A isto, soma-se o fato de que o desenvolvimento de novos antibióticos diminuiu nas últimas décadas. A última classe foi descoberta em 1987 e desde 2009 são lançados no máximo dois antibióticos por ano. A indústria farmacêutica prioriza a busca de remédios mais lucrativos, como os de uso prolongado para os tratamentos de diabetes e câncer.
As bactérias patogênicas que contaminam alimentos não escaparam deste contexto. No Canadá, foi divulgado recentemente um estudo que demonstra a resistência crescente da Salmonella enterica ao tratamento com antibióticos. A S. enterica é a forma mais comum de Salmonella responsável por intoxicação alimentar e infecta humanos e animais.
O estudo se concentrou na S. enterica sorovar Kentucky, demonstrando sua maior resistência ao tratamento com o medicamento ciprofloxacina. A pesquisa é baseada na observação de 76 isolados de S. enterica Kentucky submetidos ao Programa de Vigilância da Resistência Antimicrobiana no período 2003-2009. Dos 76 casos, 35 foram sensíveis a todos os antimicrobianos testados, porém 23 destes isolados (30%) apresentaram resistência à ciprofloxacina. Além disso, a proporção de isolados de S. enterica Kentucky com resistência à ciprofloxacina saltou de 22% em 2003 para 57% em 2009. Resistências semelhantes têm sido observadas na Europa, como demonstra outro estudo do Instituto Pasteur.
Na luta contra as superbactérias, os especialistas indicam várias medidas simultâneas, como o uso racional de antibióticos, a busca por novas drogas e o uso combinado das já existentes, e sobretudo ações preventivas, como o controle das infecções hospitalares e o fortalecimento da vigilância epidemiológica como um todo. Mesmo assim, persiste a preocupação de que este problema seja uma bomba-relógio prestes a explodir.
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