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A doença da vaca louca está mesmo de volta?

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Em 3 de setembro de 2021, por meio do Ofício Circular nº 67/2021 / DIPOA / SDA / MAPA, foi estabelecida a suspensão provisória e cautelar da Certificação Sanitária Internacional para a carne bovina brasileira a ser exportada para a República da China a partir do dia 4 de setembro.

Da mesma forma, o MAPA confirmou a ocorrência de 2 casos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) atípica em frigoríficos de Nova Canaã do Norte e de Belo Horizonte, esclarecendo que se trata de EEB atípico para diferenciá-la do EEB clássico. O MAPA esclareceu, ainda, que a OIE (Organização Internacional de Epizootias) exclui a ocorrência de casos de EEB atípica como risco de status sanitário do país, mantendo assim a classificação do Brasil como país de risco insignificante para esta doença.

Em 2013, o Food Safety Brazil já havia falado sobre a doença da vaca louca. Veja aqui. Vamos relembrar e reforçar os aspectos e conceitos mais importantes sobre este assunto.

Escopo: Existe um grande grupo de doenças que fazem parte das encefalopatias espongiformes que afetam animais e humanos. Neste artigo, vou me referir apenas à EEB (comumente conhecida como doença da vaca louca) e à nova variante da doença de Creutzfeldt-Jacob.

O que é a encefalopatia espongiforme bovina e qual é o seu agente etiológico?

A EEB faz parte das doenças espongiformes transmissíveis. É uma doença neurológica degenerativa crônica, não febril, que afeta o sistema nervoso central. Provoca a morte em bovinos e constitui um risco potencial para o homem. O período de incubação é longo e podem decorrer anos até o aparecimento dos sintomas clínicos.

“O quadro clínico em bovinos é neurológico, progressivo, debilitante e fatal e o agente infeccioso não induz uma resposta imune no hospedeiro”

Após observação microscópica do cérebro, o tecido parece esponjoso.

O agente etiológico foi inicialmente assumido como um vírus com comportamento diferente de outros vírus conhecidos, até que se determinou que se tratava de uma nova forma de agente infeccioso denominado “príon”. O príon é uma partícula de proteína com características infecciosas, desprovida de ácido nucleico. Vários tipos de príons são conhecidos por causar doenças infecciosas, como scrapie em ovelhas, EEB em bovinos e doença de Creutzfeldt-Jacob no homem. Esta última se tornou uma preocupação para a saúde pública global e foi reconhecida como uma nova zoonose. Aparentemente, o príon dentro da célula do sistema nervoso central (neurônios) usa o ácido nucleico do hospedeiro para sua replicação.

“Algumas doenças infecciosas emergentes, como o príon bovino que causa a EEB e a doença de Creutzfeldt-Jacob em humanos têm seu modo de transmissão através dos alimentos e a causa é o consumo de carne contaminada ou alimentos feitos com ela”

A Organização das Nações Unidas, por meio da FAO, está desenvolvendo um projeto de cooperação técnica regional que envolve países da América Latina (incluindo o Brasil), cujo objetivo é fortalecer os serviços veterinários de prevenção da EEB para garantir a segurança dos produtos. Em 1986, a doença foi reconhecida no Reino Unido e, desde então, medidas foram tomadas para reduzir o risco. Mas em 1996 uma nova variante da doença de Creutzfeldt-Jacob foi detectada em humanos, cujo agente causador é um príon muito semelhante ao que ataca o gado. Posteriormente, foi confirmado que se trata de uma zoonose. A EEB foi detectada em 14 países europeus, tornando-se um problema zoosanitário e de saúde pública em todo o mundo.

“Com isso, toda a cadeia produtiva da carne bovina está sob o controle dos serviços veterinários, com grande repercussão econômica regional e na saúde pública”

A doença de Creutzfeldt-Jacob foi descrita pela primeira vez em humanos há 100 anos e geralmente aparece após os 60 anos de idade. É caracterizada por demência e perda de coordenação motora e é causada por um gene que codifica a proteína PrP.

Nova variante da doença de Creutzfeldt-Jacob: Em 1996, foi publicado um estudo sobre o risco crescente de transmissão do príon da encefalopatia espongiforme bovina para humanos, estabelecido como uma nova variante da doença de Creutzfeldt-Jacob. Esta doença foi diagnosticada em pacientes jovens (20 a 30 anos) e mostrando lesões cerebrais na biópsia. Como a doença é contraída em humanos? Os humanos podem contrair uma variante da EEB ao comer alimentos feitos de partes bovinas contaminadas com o príon.

Sintomatologia em bovinos: O gado adoece com rações alimentadas artificialmente com partículas de animais contaminadas com o príon da EEB. Geralmente são animais alimentados em currais com concentrados contaminados de origem animal. Um animal doente tem dificuldade para andar e se levantar. O gado também pode agir muito nervoso ou violento. O período de incubação é geralmente de 6 anos  em média. Não existe tratamento ou vacina para prevenir a doença.

Encefalopatia Espongiforme Bovina Atípica: Deve-se notar que existem 2 tipos de EEB. Um chamado de clássico e outro de atípico. Este último é mais raro e ocorre espontaneamente, geralmente em animais de 8 anos de idade ou mais. Os primeiros casos atípicos foram notificados em 2004. O agente causador apresentou alteração no peso molecular, além de outras variantes em relação ao agente da forma clássica e as manifestações clínicas são diferentes. Por se tratar de uma variante da doença, estudos estão em andamento para determinar sua etiologia (agente causal), epidemiologia e seu potencial zoonótico.

Prevenção: Proibir que certas partes dos animais sejam utilizadas na alimentação do gado, especialmente aquelas correspondentes ao sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal), pois são consideradas de alto risco. Em alguns países, o uso de partes de animais é proibido, sem exceção, para alimentar o gado. A restrição da alimentação dos rebanhos com subprodutos de origem animal e a destruição nos frigoríficos das carcaças que constituam risco.

“Ao manter a alimentação do gado em segurança, as pessoas também estão protegidas contra a doença. Com animais saudáveis, não há probabilidade de infecção em humanos”

Considerando uma possível origem espontânea e esporádica da forma atípica, é possível que persista em rebanhos bovinos mesmo após a erradicação da forma clássica. Até o momento, não foi possível estabelecer uma relação entre a forma atípica e a doença em humanos, embora isso requeira mais pesquisas. Por esse motivo, o estado da sanidade do gado no Brasil provavelmente continuará favorável, sob risco desprezível.

 

Fontes:

http://www.fao.org/3/ah496s/ah496s.pdf

https://www.scielo.br/j/aib/a/qfY8gBkGY57pYLZFZ7SCTCK/abstract/?lang=pt#

https://www.scielo.br/j/aib/a/qfY8gBkGY57pYLZFZ7SCTCK/?format=pdf&lang=pt

https://www.fda.gov/animal-veterinary/animal-health-literacy/todo-sobre-eeb-enfermedad-de-las-vacas-locas

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Óxido de etileno em alimentos – novo alerta na Europa

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Em novembro de 2020 falamos aqui no blog sobre a contaminação de sementes de gergelim provenientes da Índia com óxido de etileno (veja aqui).  Se isso não bastasse, o óxido de etileno também foi encontrado em muitos outros produtos importados, não só da Índia, mas também de outros países, como China ou Turquia: coentro moído, pimenta-do-reino, curry, feijão, semente de linhaça, etc., tanto de produção convencional como de produção orgânica.

Desde então, muitos produtos  foram retirados do mercado por serem potencialmente perigosos.  De fato, mais de 7.000 foram recolhidos do mercado europeu por conta da presença de óxido de etileno, substância tóxica não permitida nos alimentos. De setembro de 2020 até o momento, cerca 578 notificações por essa causa foram registradas no Sistema de Alerta Rápido europeu (Sistema de Alerta Rápido para Alimentos e Rações – RASFF), provenientes de 24 estados membros – ou seja, óxido de etileno continua sendo o assunto “da vez”.

Foram identificados, no último junho, e notificados através do RASFF, alguns gêneros alimentícios (como sorvetes) elaborados com goma de alfarroba/farinha de semente de alfarroba (aditivo alimentar E 410) contaminada com óxido de etileno. Além da goma de alfarroba, a goma guar (E412) também foi apontada com alto risco de contaminação – ambas são usadas como estabilizantes na produção de sorvetes.

Como esses ingredientes são amplamente utilizados, outros produtos além de sorvetes e que contêm goma guar ou farinha de alfarroba, foram retirados das prateleiras – tais como biscoitos, produtos de panificação, etc.

O óxido de etileno é um gás à temperatura ambiente. É utilizado principalmente como matéria-prima na indústria química para a produção de outros compostos e também como agente esterilizante, principalmente em materiais sensíveis ao calor, como equipamentos médicos ou de laboratório, pois é capaz de eliminar microrganismos indesejáveis. Isso é possível porque danifica o DNA e é exatamente o que o torna perigoso para a saúde humana. É por isso que na União Europeia seu uso é proibido na alimentação, tanto na agricultura (como fitossanitário), quanto na preservação ou processamento de alimentos.

No entanto, em outros países, como a Índia, é usado com alguma frequência. Os alimentos importados pela União Europeia de países terceiros precisam cumprir a legislação europeia. Para tal, não são apenas efetuados controles analíticos e documentais nas fronteiras da UE, mas também a Comissão Europeia realiza auditorias regulares nos países de origem. Dos últimos relatórios de auditoria realizados na Índia, parece que o uso de óxido de etileno é relativamente recente. O que pode então estar acontecendo? Pesquisei na internet e achei a seguinte explicação:

Durante as últimas duas décadas, sementes de gergelim importadas da Índia foram rejeitadas repetidamente nas fronteiras da UE devido à contaminação com Salmonella. Para tentar evitar o desenvolvimento desse patógeno, os produtores usaram o brometo de metila, mas parece que não foi eficaz. É possível que isso os tenha levado a substituí-lo pelo óxido de etileno, que é dez vezes mais eficaz na prevenção do crescimento de organismos indesejáveis, como bactérias, bolores e insetos. A julgar pelos últimos alertas alimentares cadastrados no sistema RASFF, parece que desta forma conseguiram eliminar a presença de Salmonella, mas em contrapartida os produtos acabam sendo contaminados com vestígios desse composto tóxico.

Vale lembrar que no Brasil, substâncias utilizadas como agentes de controle de microrganismos são regulamentadas como coadjuvantes de tecnologia, conforme Portaria SVS/MS n. 540/97. Até o momento não existe previsão ou autorização de uso do óxido de etileno com esta finalidade.

Se a sua empresa utiliza alguns destes estabilizantes ou aditivos, vale a pena considerar uma avaliação mais rigorosa de seus fornecedores.

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Os impactos da 4ª Revolução Industrial no segmento de alimentos – 2

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Imagine obter instantaneamente e em qualquer lugar informações de temperatura, pressão, vazão, pH, packs envasados, brix, cor, paradas de linha, produtos finalizados, sub e sobrepesos, estatísticas de parâmetros de qualidade, variações elétricas, desvios em PCCs ou PPROs e o que mais imaginar, acessadas diretamente de seu smartphone ou de um tablet!

Pois bem, isso já é possível a custos bem razoáveis.

Detalhe, sem os erros, rasuras ou falta de completude dos tradicionais registros em formulários de papel preenchidos a mão, que a cada dia serão mais obsoletos, como é hoje um disco de vinil com 33 rotações.

Poderemos usar também algoritmos capazes de avaliar inúmeros cenários, com tudo sendo analisado em tempo real. Teremos informações precisas quanto à decisão de liberar lotes, rejeitá-los, destinar a reprocesso ou quaisquer outras destinações especiais.

Isso poderá implicar uma redução drástica de erros derivados de falhas humanas, assim como de custos de não qualidade e liberação de alimentos e bebidas inseguras ao consumidor!

É preciso desmitificar a Inteligência Artificial. AI não são robôs humanoides (ao menos por enquanto), mas sim sistemas integrados que analisam as variáveis operacionais presentes em processos de fabricação e identificam potenciais situações de risco, informando os gestores ou realizando intervenções de forma autônoma, por exemplo, tomando decisões no controle dos processos fabris, e claro, numa avaliação muito mais ampla, rápida e precisa do que as que fazemos usando, para exemplificar, nossas tradicionais cartas de CEP – Controle Estatístico de Processos.

Ou seja, o sistema autonomamente poderá decidir em caso de um desvio nos limites das variáveis de um processo sobre o que fazer para trazer o processo de volta à situação de controle, como num PCC, e para onde desviar automaticamente o produto que porventura possa ter sido produzido em condições parametrizadas como “não conforme”. Isso é qualidade acontecendo realmente just in time.

Claro que todas estas informações de controles estarão armazenadas e exigem transparência. Nisto surge outro conceito importante, o de blockchain, que são “protocolos de confiança”, ou bases de registros e dados distribuídos e compartilhados publicamente.

Estas bases de dados permitirão criar um índice global para todas as operações industriais em qualquer segmento, como insumos, embalagens, aditivos, cadeias de armazenamento, de distribuição, etc.

Existirá uma nova forma de prover, controlar e dividir registros, com muito mais segurança e com dados muito mais confiáveis, revolucionando as auditorias.

Na prática isso significa ter laudos analíticos de controle de matérias primas e liberações de lotes, rastreabilidade de insumos e matérias primas, controles das variáveis operacionais dos processos, dados completos sobre uma produção industrial, mercado e distribuição numa base de dados comum e compartilhada cliente-fornecedor.

Tudo isso dito até aqui sobre a indústria 4.0 facilitará muito o controle de liberações de lotes no segmento business to business e no varejo. Portanto, potencializará o controle de estoques de matérias primas, insumos, embalagens e produtos acabados, e a própria distribuição, além, é claro, do controle de demandas de fabricação aumentando a assertividade dos PCPs.

Segue uma lista onde as tecnologias da Indústria 4.0 serão e já são úteis:

  1. Controle de entradas de matéria-prima, insumos, embalagens com uso de QR Code;
  2. Controle absoluto para entrada de notas fiscais apenas de fornecedores qualificados;
  3. Otimização e assertividade da manutenção preditiva;
  4. Impressão de peças em impressoras 3 D
  5. Laudos de análise do fornecedor transferidos no momento da entrada para o banco de dados da empresa:
  6. Robôs controlando estoques;
  7. Rastreabilidade total e instantânea = blockchain;
  8. Aumento da assertividade na predição da programação;
  9. Algoritmos tomando decisões em PCCs, por exemplo, conciliando binômio tempo x temperatura e decidindo sobre ajustes, retornos e reprocessos;
  10. Sensores de internet das coisas com vazão, nível, cor, temperatura, pH, pressão, etc., otimizando os controles operacionais;
  11. Conexões por ondas de rádio (sem cabos) levando as informações destes sensores aos bancos de dados e dos bancos de dados para operadores e gestores;
  12. Dados coletados on-line com tomada de decisão usando indigência artificial e permitindo a criação de grandes bancos de dados (big-data) nas nuvesns;
  13. Máquinas e equipamentos se autoajustando em suas variáveis operacionais, portanto, sem ação humana;
  14. Controle de rendimento on line ajudando a avaliar desempenho de linhas, matérias-primas, ingredientes, e portanto, fornecedores;
  15. Compliance – Favorecimento valor de ações das empresas devido a maior confiabilidade das informações;
  16. Informações sobre paradas de equipamentos, causa das paradas, velocidade packs/ min, L/ h, etc;
  17. Gestores acessando todos dados de performance industrial (KPIs) em seus smartphones ou tablets;
  18. Resultados de análises por lote associados com dados de processo;
  19. Entradas e saídas de estoque com inventários precisos em tempo real;
  20. Robôs controlando estoques e saídas de produtos;
  21. Emissão de notas fiscais e laudos de análise correlatos em tempo real;
  22. Redução de ociosidade e melhor ocupação fabril com AI decidindo programações de produção;
  23. Retroalimentações, inclusive reclamações e devoluções, mais precisas e rápidas;
  24. Coleta de dados de rastreabilidade a montante em segundos com precisas informações;
  25. Rastreabilidade a jusante, com total segurança sobre onde cada produto está na cadeia de distribuição;
  26. Simuladores auxiliando a determinação das melhores configurações de operação de linhas industriais, ou simulando cenários para a investigação de problemas e validar PCCs e PPROs;
  27. Novos pedidos e especificações sendo informadas on-line com protocolos de confirmação, evitando erros de comunicação;
  28. Informações em tempo real sobre produtos que estão vendendo mais e que demandam maior produção, assim como tendências de mercado;
  29. Acionamento de gestão de crises e recall localizando consumidores em seus smartphones e dando alertas;
  30. Redução drástica dos riscos da geração de produtos não conforme ou de liberados em situações inseguras por terem extrapolado limites de controle em PCCs ou critérios de controle em PPROs.

Também contribuirá em transações comerciais com pagamentos sendo efetuados a partir das liberações dos lotes e com precificação em muitos casos variável, segundo atendimento de especificações acordadas entre clientes e fornecedores.

Teremos, além de tudo isso, agilidade em decisões que afetem riscos aos públicos consumidores, possibilitando ações rápidas e precisas como num eventual caso de recall, ou seja, garantindo ainda mais segurança em termos de qualidade de produtos e serviços, agora na óptica da gestão de crises.

Por fim, nas perspectivas econômicas que regem as oscilações nas bolsas de valores, teremos muito mais confiabilidade em marcas e organizações, pois suas informações serão muito mais transparentes, somando-se ao fato de que haverá uma melhor previsibilidade sobre as tendências dos mercados em que atuam.

Mas e o custo disto tudo?

Certamente demandará investimentos, mas os custos associados com tecnologia vêm caindo diariamente, e breve serão quase tratados como commodities. Além disso, são sistemas que se pagam, seja pela redução de custos de não qualidade, pelos ganhos de produtividade, e claro, pela proteção das marcas e consumidores com o incremento em food safety.

E não para por aí, estão chegando as redes 5G que devem consumir até 90% menos energia que as redes 4G atuais, e com esta tecnologia, os tempos de conexão entre aparelhos móveis devem ser inferiores a 5 ms (milissegundos), face à latência de 30 ms das redes 4G, isso evita o chamado “delay“, otimizando radicalmente a possibilidade de controle de plantas industriais à distância.

O número de aparelhos conectados por área deve ser 50 a 100 vezes maior que o atual em muito pouco tempo e devem ser realizados aumentos drásticos na duração da bateria de dispositivos rádio receptores. Com isso, o uso de smartphones será maior, assim como de dispositivos de internet das coisas, e as máquinas, equipamentos, robôs, indústrias e negócios mais conectados ainda, num turbilhão de informação gerando ações e direcionando os rumos das indústrias de alimentos e bebidas.

Estima-se que com o uso das tecnologias que são abrangidas pela indústria 4.0 seja possível ganhar entre 10 e 40% em redução de custos de manutenções; 10 a 20% com redução de consumo de energia elétrica; e de 10 a 25% em eficiência operacional. Isso porque reduz setup, evita erros de operação e torna as operações mais enxutas.

Todas estas tecnologias e seus custos mais acessíveis também permitirão o uso de forma cada vez frequente da robótica, fazendo serviços com precisão, evitando erros e falhas de operação e a contaminação e falhas provenientes das ações humanas, lembrando também que robôs não têm problemas com regras de BPF quanto à higiene pessoal.

Isso tudo nos permitirá obter:

  1. Alimentos mais seguros e mais baratos;
  2. Redução do erro humano e operacional;
  3. Menor veiculação de patógenos via manipulação;
  4. Rastreabilidade mais rápida e confiável;
  5. Maior velocidade em gestão de crises;
  6. Melhor entendimento das necessidades dos stakeholders.

A nós humanos, caberão os serviços nos quais seremos melhores que os robôs, que precisem da sensibilidade humana, o que é bem relevante numa indústria de alimentos e bebidas que faz produtos para agradar aos desejos, paladares e anseios humanos.

Nosso papel será maximizar nossas interações com estas tecnologias, e na foto abaixo eu sou o sujeito careca tentanto fazer isso, ao aprender sobre máquinas que já possuem estes recursos, permitindo conexões on line e com realidade aumentada

O sujeito ao meu lado com um óculos descolado está utilizando uma tecnologia de realidade aumentada, pois com este recurso consegue ver ao lado de cada equipamento informações de produtividade, paradas e variáveis operacionais.

Por isso as competências e habilidades que precisaremos potencializar estarão associadas com o uso de nossas características sensoriais, organolépticas, emotivas, da criatividade e do relacionamento interpessoal, o que aliás, como já disse, tem tudo a ver com o desenvolvimento de produtos para o setor de alimentos e bebidas.

Mas claro, haverá também muito espaço ainda para a engenheira, a eletrônica, a computação, a física e a matemática, afinal, são elas que constroem e movem toda a indústria 4.0.

Você acha que isto é em um mundo distante? Que é ficção?

Olhe ao seu redor, as tecnologias e o modo de operação da indústria 4.0 já fazem parte da sua vida diária, ajudando-o a se comunicar por telefone celular com transmissão a baixo custo de informações, sons e imagens; fazendo reuniões ou dando aulas e treinamentos on line; ao buscar um meio de transporte com rotas otimizadas e emissão de notas fiscais; com marketing sobre medida oferecendo-lhe  produtos de acordo com suas buscas e perfis em redes sociais; para se hospedar numa cidade, via aplicativos; ao se locomover com inteligência na busca de rotas mais seguras e rápidas com aplicativos de celular; ao fazer contatos, contratar ou  procurar uma recolocação, via rede social profissional; até para arrumar uma namorada usando rede social específica; e claro, para pedir um lanche, um almoço ou um jantar.

Todas estas tecnologias já estão aí, monitorando dados, alimentando Big Data, gerando informações, tomando decisões com uso de AI, são o futuro, e o futuro é agora!

Seja bem-vindo ao mundo 4.0, use-o ao seu favor, explore todo o potencial que surge com a 4ª revolução industrial, olhe ao seu redor e admire este momento histórico que estamos vivenciando.

Esta nova revolução agora vai muito além do campo industrial, das oportunidades potenciais com que iremos nos deparar na gestão da qualidade e segurança dos alimentos, pois é uma revolução na forma humana de interagir, de se comunicar, de se relacionar, de consumir, de produzir, enfim, de viver!

Este artigo iniciou em Os impactos da 4ª Revolução Industrial no segmento de alimentos – parte 1.

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Os impactos da 4ª Revolução Industrial no segmento de alimentos – 1

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Descobertas e avanços na tecnologia atualmente crescem em progressão geométrica. Para se ter uma ideia do reflexo disso, hoje 75% do mundo já está conectado por smartphones e a perspectiva deste número é crescente a cada dia, conectando pessoas em todos os continentes, suas ideias e desejos!

Parece um simples detalhe, mas esses smartphones aproximam diversos grupos mercadológicos e interagem com todos o tempo todo, expondo suas demandas em relação à indústria produtora e o setor comercial, fornecendo informações de hábitos de consumo, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, facilitando assim o entendimento das tendências, e claro, maximizando o contato entre produtores e consumidores, seja no varejo ou no mercado business to business.

Não tenha dúvidas: seus posts, comentários, likes e visualizações nas redes sociais feitas de seu computador, smartphone ou tablet, assim como  suas compras on line, ou mesmo as visitas feitas a sites de compras, estão direcionando os futuros negócios e para onde migrará o fluxo financeiro e os esforços no desenvolvimento de novos produtos, ditando que tipos de produtos, cores, sabores, texturas e tendências serão lançados.

É o futuro que já chegou, onde a tecnologia vem se tornando cada vez mais acessível, e nesse sentido, temos algo que vem sendo chamado de a 4° revolução industrial ou Indústria 4.0.

Nossa geração está vivendo um grande marco de transformação, pois a tecnologia fluente está ajudando imensamente a todos os segmentos industriais, e claro, isso causará mudanças nas relações entre os diversos stakeholders que são afetados pelos produtos e serviços de uma organização, e em consequência, sobre as expectativas quanto aos padrões de qualidade, e obviamente, no segmento de alimentos e bebidas isso não é diferente.

Podemos dizer que as definições de foco no cliente foram atualizadas!

Chama-se 4ª revolução industrial porque a 3ª aconteceu em meados do século 20, com a chegada da eletrônica, da tecnologia da informação e das telecomunicações; a 2ª ocorreu por volta de 1850 com a intensificação do uso da eletricidade que permitiu a manufatura em massa; já a 1ª e normalmente mais lembrada, marcou a passagem da produção manual à mecanizada, entre 1760 e 1830, especialmente, pelo uso das máquinas movidas a vapor que usavam carvão como combustível, dando um salto pouco tempo depois, quando se começou a utilizar derivados de petróleo.

O termo indústria 4.0 ou a 4ª revolução industrial é uma expressão que engloba algumas tecnologias para automação e troca de dados, utilizando conceitos de sistemas ciber-físicos e, com isso, facilita a visão e execução de “fábricas inteligentes” capazes de trazer inúmeras oportunidades para a agregação de valor aos consumidores e aumento de produtividade nos processos, e claro, tem um grande potencial para auxiliar numa efetiva gestão da qualidade e ajudar a melhorar as rotinas associadas com a segurança dos alimentos nas organizações.

Para iniciar com um exemplo corriqueiro, já convivemos atualmente com um novo fenômeno que veio para ficar: a força das redes sociais como o Facebook, Instagram, LinkedIn, Twitter etc., ou grupos que se comunicam via WhatsApp e que são capazes de potencializar a amplitude de uma reclamação ou insatisfação, inclusive com fotos, áudios e até vídeos.

Com todas essas formas de comunicação em massa provenientes do uso generalizado da tecnologia, um erro de uma organização que venha a causar a insatisfação dos clientes, uma falha de food safety, seja pelo produto não atender suas expectativas, estar com algum tipo de falha ou contaminante, gerar algum dano, desagradar demandas de algum grupo de stakeholders, um serviço mal realizado, etc, podem imediatamente viralizar, dependendo da atratividade do problema ao público, e então se disseminar, chegando a milhares de consumidores.

Este processo pode ferir ferozmente a imagem de uma marca ou de toda uma organização, e em segundos, atingir mais pessoas do que campanhas tradicionais de marketing que custaram milhões ou de construção de marcas que levaram anos.

Atuar, portanto, em redes sociais no monitoramento, tratativa e contenção de problemas é uma boa prática, estando atento às inovações que surgem na forma de se comunicar com clientes e consumidores, como foi visto no artigo “O papel estratégico do SAC para a qualidade e a segurança dos alimentos“.

Ter uma boa e arrojada sistemática de SAC, alinhada com os novos conceitos tecnológicos, portanto, é necessário para toda e qualquer organização que queira mesmo sair da zona de conforto e francamente ouvir o que o consumidor tem para dizer.

Entrando mais fundo no assunto, atualmente temos muito mais acessos a grandes bancos de dados, chamados de Big Data, com boa parte das informações coletadas justamente das já citadas redes sociais, contendo uma quantidade enorme de informações em diversos servidores que funcionam em sistemas de redes operacionais, portanto, interligados entre si.

A capacidade per capita tecnológica do mundo para armazenar informações praticamente tem dobrado a cada 40 meses, desde a década de 1980.

Para essa perspectiva ficar mais clara em sua mente, compare o quanto conseguia armazenar num disquete de 3 ½ polegadas e o quanto pode armazenar agora num pendrive ou num HD externo, portanto, as limitações que tinha e que não existem mais!

A partir de 2012, foram criados a cada dia 2,5 exabytes (2,5 x 1018 bytes) de dados, sendo que 90% dos dados no mundo foram criados nos últimos dois anos, decorrente da adesão das grandes empresas à internet, sendo exemplos, novamente, as redes sociais, mas também dados de GPS, dispositivos embutidos e móveis.

Estes dados podem ser valiosos dando sustentação para análises de riscos, tomadas de decisão em processos com foco na redução de custos de não qualidade e aumento da segurança dos alimentos, rastreabilidade em toda a cadeia produtiva, desde a produção primária, indústria de transformação e distribuição, incremento nos controles associados com estatísticas para a abordagem de surtos em doenças veiculadas por alimentos, e onde a imaginação permitir.

Mesmo pequenos produtores podem se dar ao luxo de tirar vantagens do Big Data, uma vez que não precisam fazer grandes investimentos nem se preocupar com o sistema operacional e hardware, podendo acessar seus dados na “nuvem computacional”, utilizando tecnologias chamadas de Cloud Computing, que referem-se à utilização da memória e da capacidade de armazenamento e cálculo de computadores e servidores compartilhados e interligados por meio da internet, fora que as atualizações dos softwares são feitas de forma automática.

Isso tudo, mais os avanços em automação com tecnologias para conexão ampla, na capacidade de miniaturização de dispositivos de coletas de dados online e o surgimento de sensores de todo tipo, que permitem que praticamente qualquer equipamento eletrônico possa fornecer informações na rede em tempo real, serão muito vantajosos para a construção de processos enxutos, assertivos e com ganho de produtividade, qualidade e segurança, como por exemplo, ajudando no controle de diversas variáveis operacionais, prevenindo a ocorrência de contaminações em linhas industriais, monitorando e controlando PCC e PPROs.

Uma vez estando tais sensores acoplados em linhas industriais, teremos a aplicação da chamada “Inteligência das Coisas” ou como vem sendo conhecida no mundo, Intelligent Things, permitindo em tempo real e de forma muito dinâmica, obter informações sobre o controle operacional e informações como tempo, temperatura, pH, vazão, acidez, viscosidade, cor, turbidez, etc.

Isso tudo encontrará diversas aplicações em toda a cadeia produtiva de alimentos e bebidas, desde a agroindústria até o pós venda, como veremos na segunda parte deste artigo.

Este artigo continua em Os impactos da 4ª Revolução Industrial no segmento de alimentos 2.

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Cultura de Segurança de Alimentos levada a sério: um caso de política pública

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Há algumas formas conhecidas, utilizadas por uma parcela das organizações do setor de alimentos, para fazer alavancar sua Cultura de Segurança de Alimentos. Esta parcela é, em sua maioria, formada por empresas que precisam atender a novos requisitos normativos ou requisitos de clientes. Não é raro que toda obrigação seja cumprida apenas através da quantidade mínima de esforço necessário. É a q.s.p., que nossos leitores químicos e farmacêuticos saberão reconhecer.

E isto acontece, sobretudo, porque uma fração importante de nossas lideranças não reconhecem a importância vital da Segurança de Alimentos para o negócio e, em função disso, a negligenciam.

Naturalmente que estes líderes não são más pessoas e nem querem propositalmente contaminar consumidores mundo afora. Tampouco profissionais da Qualidade foram talhados para lidar com este tipo de situação. Ao fim das contas, somos todos produtos do meio em que vivemos.

Por isto, o estudo da Cultura de Segurança de Alimentos é tão fascinante, cuja origem está fora do contexto do nosso setor. A Cultura de Segurança de Alimentos não é uma disciplina à parte da cultura de um povo, de uma sociedade, de uma comunidade. Trata-se, simplesmente, de Cultura. Incentivo desde sempre o estudo da nossa História e de disciplinas específicas da Sociologia, da Antropologia e da Psicologia. Pelo gosto e pelo prazer de nos conhecermos melhor e de saber como, de verdade, podemos mudar os comportamentos nas organizações.

Enquanto nossa cultura for legislar (de um lado) e trabalhar pelo cumprimento de requisitos (de outro), vamos seguir fazendo bem menos do que o necessário para ver nascer e naturalizar-se uma Cultura Positiva de Segurança de Alimentos.

E eis que venho me deparando com uma chuva de requisitos normativos e requisitos legais que pretendem impor às organizações para que haja iniciativas relacionadas ao avanço de uma Cultura de Segurança de Alimentos. Aqui mesmo no blog, recentemente, tratamos da publicação de uma atualização do Regulamento Europeu sobre o tema, que você pode reler aqui. Por si só, o empenho em relação a “haver iniciativas” é louvável. O problema é no que isto se transforma logo depois: uma chuva de guias, “receitas de bolo”, “faça você mesmo em 5 passos” e outros coelhos da cartola. A quem sabe usar um Guia com a leitura crítica necessária, este cumprirá sua função de orientar. A quem procura fazer tal qual, cuidado: soluções para a Cultura são como um vestido de noiva, ajustado e reajustado no corpo da modelo, conforme ele se transforma. As organizações não têm, nunca, as mesmas crenças, os mesmos valores compartilhados e tampouco são estáticas, elas se transformam conforme o trabalho evolui ou retrocede.

Sendo assim, a Cultura de Segurança de Alimentos se torna mais dependente de um contexto social geral, do que de ações pontuais aqui e ali dentro das organizações. Quanto mais pessoas e mais grupos na sociedade estiverem conscientes da importância do tema, como um tema de saúde pública, mais avanços teremos. Uma sociedade cujos cidadãos tenham o direito de ser manipuladores e consumidores mais instruídos, certamente resultará em uma Cultura de Segurança de Alimentos mais avançada e menos dependente de esforços pontuais.

E, enfim, tem uma boa notícia aqui do lado: na América do Sul, o exemplo pioneiro veio do Chile. Por lá, em 2018, foi lançado um plano, para o ciclo 2018-2030, de uma Política Nacional de Segurança e Qualidade dos Alimentos, que incorpora, como princípio e objetivo, o desenvolvimento de uma Cultura de Segurança de Alimentos e pode ser lida aqui.

O primeiro e enorme passo foi reconhecer que algo não ia bem e identificar as causas-raízes. O cenário no País, à época do estudo, foi caracterizado, com suas fortalezas e seus principais desafios. E, entre os desafios, percebeu-se a necessidade de uma estratégia para a ampliação da comunicação de riscos a diversos setores da sociedade, associando isto a uma Cultura institucional, que incluía o compromisso do próprio governo. Ou seja, existe ali uma visão de que é preciso conversar com a sociedade sobre Segurança de Alimentos. A Política cita, inclusive, que embora, em um primeiro momento, a responsabilidade possa ser atribuída às empresas que produzem alimentos, são os cidadãos, é a sociedade, como um todo, que vai criar alternativas, seja como manipuladores de alimentos, seja como consumidores, exigindo padrões de segurança mais elevados.

O desenvolvimento desta Cultura é declarado como uma ferramenta complementar das ações de regulação e controle, o que difere totalmente de outros regulamentos, como o Europeu. As ações de inspeção prosseguem, mas o principal compromisso destes órgãos passa a ser a prevenção. O documento também faz uma ponte entre essa Política Nacional de Segurança de Alimentos e os sistemas de saúde primária e de ensino. A Cultura de Segurança de Alimentos é declarada no documento como um “a expressão de um compromisso ético, e o compromisso de uma sociedade responsável”. São definidas linhas estratégicas bastante claras, propondo a formação de profissionais voltados para este tema em todos os setores da cadeia, a educação de crianças e adolescentes para a formação de consumidores conscientes, e também a educação dos atuais consumidores. Há também estratégias específicas para as pequenas empresas e empresas familiares e artesanais.

Em resumo, não estamos tratando aqui de um requisito legal, mas de uma política nacional que pretende, a médio e longo prazo, transformar definitivamente a relação do povo chileno com a segurança dos alimentos que produzem, distribuem e consomem. Os efeitos destas iniciativas serão conhecidos ao longo do tempo e, claro, também dependem da forma como serão implementados. Porém, nos parece um grande acerto que a Segurança de Alimentos seja promovida a partir da sensibilização e da conscientização de toda a sociedade, que passa a praticar e exigir alimentos mais seguros, independentemente da regulamentação.

Vamos acompanhar!

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Tecnofobia na indústria de alimentos

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Você já ouviu falar de tecnofobia? A definição é muito simples: tecnofobia é o medo da tecnologia moderna. Se pararmos para pensar, há inúmeros exemplos para ilustrar a tecnofobia, em todas as áreas das nossas vidas.

Neste artigo quero me concentrar especificamente na indústria de alimentos. Pois, sim, ela também foi pega por este “fenômeno” – que nem é tão recente. A tecnofobia alimentar (ou neofobia da tecnologia alimentar) é definida como o medo, aversão ou evitação de novas tecnologias alimentares pelos consumidores. A indústria de alimentos tem enfrentado, nos últimos 30 anos ou mais, o desafio constante de lidar com os “medos” causados pelos alimentos.

Um exemplo clássico é o uso das micro-ondas (alimentos irradiados) ou do próprio forno de micro-ondas doméstico. Quantas pessoas você conhece que ainda não possuem um aparelho de micro-ondas porque são super resistentes a esse método de aquecimento, descongelamento e até mesmo preparo de alimentos? Outros exemplos:

– engenharia genética ou organismos geneticamente modificados (GMO);

– alimentos ultraprocessados;

– uso de pesticidas agrícolas nas lavouras;

– corantes, conservantes e adoçantes artificiais;

– carne cultivada;

– produtos à base de insetos;

– alimentos reciclados.

O Food Safety Brazil já falou sobre alguns destes alimentos. Veja os artigos “Alimentos do Futuro – Parte 3” e “Alimentos Reciclados”.

Um artigo publicado em 2009 na Food Safety Magazine já trazia essa perspectiva de tecnofobia na indústria de alimentos e dizia que, embora a ciência seja fundamental para lidar com esses “medos” alimentares, a história tem demonstrado que os fatos científicos por si só não são suficientes para mudar a percepção do público – existem poucas histórias em que a ciência “equilibrada” venceu a disseminação do medo. Na verdade, pode-se argumentar que uma das razões para o problema é a incapacidade dos cientistas e da própria indústria de alimentos de se comunicarem efetivamente com o público leigo, resultando em redução da confiança.

Com o advento do movimento “clean label”, da super valorização de alimentos orgânicos, naturais, caseiros e locais e, sobretudo, das redes sociais, onde pessoas leigas estão cada dia mais ditando regras e propagando as fake news em relação aos alimentos (entenda aqui), a indústria tornou-se alvo fácil. E cá entre nós: os blogueiros e influencers se comunicam com o público de maneira muito melhor do que a própria indústria de alimentos. Sabendo disso, algumas indústrias têm se utilizado destes influencers para se comunicarem com seu público-alvo. Seria essa uma das saídas para a questão?

O fato é que o assunto tem ganhado tanto destaque que atualmente existem trabalhos (conheça aqui um desses estudos) e escalas para medir o grau de tecnofobia do consumidor – normalmente se usa uma escala psicométrica com base em uma série de afirmações que visam detectar a atitude do indivíduo em relação ao risco, tecnologia e ciência. Exemplos de afirmações usadas são:

  1. Não há necessidade de novas tecnologias alimentares porque existem muitos tipos de alimentos;
  2. Os benefícios associados às tecnologias alimentares inovadoras são frequentemente superestimados;
  3. Novas tecnologias alimentares reduzem a qualidade natural dos alimentos.

Os entrevistados são convidados a concordar ou discordar das afirmações em uma escala de 5 pontos, variando de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). A partir das respostas, um Índice de Tecnofobia é obtido.

O inegável é que a tecnologia e a ciência avançam a passos largos desde que o mundo é mundo. A FAO (Food and Agriculture Organization) estima que em 2050 a população mundial irá atingir mais de 9 bilhões de pessoas. Para que se possa atender essa crescente e mais exigente demanda, é preciso aumentar a produção de alimentos em 70%. Os desafios a serem enfrentados em inovação são enormes, envolvendo a atuação de diversos setores. Estamos, como profissionais da área de alimentos, preparados para auxiliar as indústrias e a ciência nos requisitos de comunicação externa com esse público cada vez mais exigente, heterogêneo e polarizado? Temos consciência de que o alimento fala, a embalagem fala, o rótulo fala, o processo fala – ou seja, TUDO comunica? Ou ainda trabalhamos somente a comunicação passiva e somos incapazes de lidar adequadamente com os “medos” que as pessoas têm dos alimentos?

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Food Defense – O caso da JBS e uma reflexão sobre TI e TO

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Todos nós fomos surpreendidos com a notícia no início do mês de Junho sobre o ataque cibernético sofrido pela JBS (veja a reportagem aqui). A JBS, uma das maiores produtoras de carne bovina e suína do mundo, foi vítima de um grande ataque cibernético no fim de semana do Memorial Day (31/05/21), levando ao fechamento de fábricas na América do Norte e Austrália.

Em 2 de junho, o FBI divulgou um comunicado atribuindo o ataque ao REvil, um grupo de língua russa que fez algumas das maiores demandas de ransomware nos últimos meses. Ransomware é um tipo de malware que restringe o acesso ao sistema infectado com uma espécie de bloqueio e cobra um resgate em criptomoedas para que o acesso possa ser restabelecido. Caso isso não ocorra, arquivos podem ser perdidos e até mesmo publicados.

Em 9 de junho, a subsidiária da JBS nos Estados Unidos informou que pagou o equivalente a US$ 11 milhões em resgate após o ataque hacker à sua operação no país. A empresa afirmou que a maioria de seus frigoríficos estava em plena operação no momento do pagamento. Em comunicado, a JBS apontou que a decisão de pagar o resgate foi tomada após consultar especialistas em segurança digital. O objetivo, segundo a companhia, foi reduzir problemas relacionados à invasão e evitar o vazamento de dados.

Ataques de hackers são cada dia mais comuns e estão, na maior parte das empresas certificadas em uma norma reconhecida pelo GFSI, mapeados nos Planos de Food Defense – já falamos sobre isso aqui no Food Safety Brazil.

A Revista Food Quality & Safety, na ocasião do evento da JBS, conversou com Stephen Streng, analista de defesa de alimentos do Food Protection and Defense Institute da University of Minnesota em St. Paul, e a fala dele pode nos trazer vários insights, inclusive relacionados à cultura de segurança de alimentos.

“As melhores práticas de segurança cibernética e controles de segurança para sistemas de TO [tecnologia operacional] e TI são bem conhecidos e há uma tonelada de recursos disponíveis”.

“O maior problema é assumir o compromisso de implementá-los, pois isso custa tempo e dinheiro. Esperançosamente, com a recente onda de ciberataques amplamente divulgada, as empresas começarão a ver que custará mais não dar atenção e recursos adequados à segurança cibernética. ”

“A maioria dos processadores e fabricantes de alimentos tem uma grande cultura de segurança de alimentos. Eles precisam incorporar a segurança cibernética porque, especialmente quando se trata de TO, a segurança cibernética insatisfatória é um problema de segurança de alimentos.”

A reportagem completa você encontra aqui.

Ao ler isso eu me perguntei se nós, profissionais da indústria de alimentos aqui no Brasil, sabemos o que é TO. Você já ouviu falar? Entenda aqui.

Ao pesquisar mais sobre o assunto, encontrei alguns dos riscos relacionados à segurança de TO que as empresas de alimentos e bebidas enfrentam. Estes incluem:

  • Infecção por malware (caso JBS) – sem os controles de segurança adequados, ambas as ameaças direcionadas e não direcionadas têm a liberdade de manobra de ambientes de TI para TO. O potencial transbordamento de um ataque de malware para redes TO pode ser caro – interrompendo a produção e criando problemas de segurança e conformidade;
  • Ameaça de acesso remoto de terceiros – fornecedores externos acessam remotamente as redes de TO das fábricas para fazer a manutenção das máquinas existentes, incluindo a realização de correção de erros e leituras de desempenho. Isso expõe os sistemas e controladores no chão de fábrica a um possível comprometimento se os sistemas da parte autorizada forem infectados com malware, suas credenciais de acesso forem roubadas ou se eles não aderirem às práticas recomendadas de segurança. Também é importante ter visibilidade do uso não autorizado e inadequado do acesso;
  • Alteração na operação do controlador em instalação remota – as instalações de tratamento de água, que garantem água potável para o processo de fabricação, normalmente estão fisicamente isoladas da planta. Espera-se que os sistemas que administram essas instalações operem da mesma maneira todos os dias. Qualquer mudança pode indicar uma ameaça de contaminação da água, mas a maioria das empresas não tem visibilidade granular desses sistemas para entender e explicar as mudanças. Ataques cibernéticos à estações de tratamento de água nos Estados Unidos têm acontecido nos últimos anos. Veja a reportagem sobre esses casos aqui.

Diante de tudo isso, fica a pergunta: será que os nossos planos de Food Defense estão realmente adequados quando falamos de ataques cibernéticos? Quais são as possíveis ações de mitigação? O pessoal de TI da sua empresa faz parte da equipe de Food Defense? Os sistemas de TO utilizados pela sua empresa foram mapeados e/ou contemplados dentro da sua avaliação de Food Defense? Os sistemas de TI e TO da sua empresa convergem de forma adequada?

A grande verdade é que quando falamos de segurança de alimentos nos dias atuais, podemos usar Shakespeare: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.

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Crimes cibernéticos nas indústrias alimentícias

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Segundo o 2021 Global Threat Report, o índice de crime cibernético aumentou mais de 123% de outubro de 2020 a fevereiro de 2021, apesar de grande parte deles não ser de conhecimento público. A indústria 4.0 é uma realidade irreversível e, devido a isso, conhecer o mundo virtual e suas ameaças se tornou uma estratégia de sobrevivência. Mas como as indústrias alimentícias se tornaram alvo e como se proteger desses ataques?

À medida que as empresas financeiras, de energia e saúde investiram em segurança da informação após inúmeras ocorrências de crime cibernético, o setor industrial passou a ser a vítima de acesso mais fácil, como falado por Stephen Streng no relatório FPDI de 2019. Um exemplo foi a cervejeira Lion do grupo Kirin com operações na Nova Zelândia e Austrália, que teve seu sistema invadido em junho de 2020, interrompendo a produção e o fornecimento de seus produtos na região.

Os ataques hackers na indústria de alimentos podem ter diversas motivações como roubo de dados, exposição pública, corrupção ou falsificação de informações. Por trás dessas motivações, o agente pode ser um hacker criminoso com objetivos financeiros, um funcionário insatisfeito ou mesmo um ativista alimentar extremista com intensões idealistas.

Os dados da indústria que apresentam potencial valor são fórmulas de produtos ou mesmo processos produtivos patenteados. Porém, a perda de dados em geral representa um grande impacto financeiro. Esse tipo de dados, como um plano HACCP ou estudos de novos produtos, se torna alvo de hackers, que podem criptografar arquivos e solicitar resgate pela devolução, processo conhecido como ransomware.

Como apresentado por Roger Woehl, diretor técnico da SafetyChain Software na Global Food Safety Resource, as ameaças cibernéticas não são muito diferentes dos riscos com que a indústria alimentícia lida diariamente – os perigos físicos, químicos e biológicos – podendo ser aplicadas as mesmas ferramentas para avaliá-las e estabelecer as medidas de mitigação.

Diante disso, é de extrema importância considerar essa ameaça no gerenciamento de risco, levando em conta os seguintes passos:

  • Incluir o time de TI na equipe de gerenciamento de crises;
  • Listar as ameaças de dados e informações no levantamento de riscos;
  • Após cruzar as informações na matriz de risco, determinar as medidas de mitigação;
  • Definir o protocolo de ações em situações de emergência;
  • Simular um teste do sistema.

Para mais dicas sobre como desenvolver um bom plano de gerenciamento de risco, clique aqui. Sob uma outra perspectiva, leia as sugestões de prova de acesso, físico ou digital, para o plano de food defense.

Cada vez mais informatizados, tanto os sistemas de grandes ou pequenas indústrias estão sujeitos a esta ameaça. Portanto, a prevenção mediante a avaliação dos riscos e o investimento em medidas de segurança mais sofisticadas devem ser preocupações da estrutura de alto nível de todas as empresas. Proteger as suas informações é melhor do que tentar recuperá-las!

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Faça-se Cultura! Agora, na Europa, com a força da lei

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Agora é lei! A União Europeia se une à ideia de que a Segurança de Alimentos é, antes de tudo, um conceito, uma forma de pensar. Finalmente, começa a surgir um consenso em torno do qual a Segurança de Alimentos deixaria de ser vista como um amontoado de regras. A intenção de um consenso se dá a partir da publicação, em setembro de 2020, da Comissão do Codex Alimentarius, que adotou uma revisão da sua norma mundial “Princípios gerais de higiene alimentar”, CXC 1-1969. A versão revista desta norma introduziu o conceito de “cultura de segurança dos alimentos” como princípio geral. O que a União Europeia faz, agora, é buscar alinhamento com o Codex por meio da alteração do anexo do Regulamento (CE) nº 852/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, no tocante à Cultura de Segurança dos Alimentos (também foram alterados os anexos que tratam da gestão de alergênicos e da redistribuição dos alimentos, este último um assunto ainda pouco explorado no Brasil).

Basicamente, a alteração se restringe ao Capítulo XI do texto original, que agora passa a conter uma “extensão” XI-A, transcrita em sua íntegra, abaixo:

“1. Os operadores das empresas do setor alimentar devem estabelecer, manter e apresentar evidências relativas a uma cultura de segurança dos alimentos adequada, cumprindo os seguintes requisitos:

a) Compromisso da gerência, em conformidade com o ponto 2, e de todos os trabalhadores no sentido da produção e da distribuição segura de alimentos;

b) Liderança que conduza à produção de alimentos seguros e ao envolvimento de todos os trabalhadores nas práticas de segurança dos alimentos;

c) Sensibilização de todos os trabalhadores da empresa em relação aos perigos para a segurança dos alimentos e à importância da segurança e higiene dos alimentos;

d) Comunicação aberta e clara entre todos os trabalhadores da empresa durante uma atividade e entre atividades consecutivas, incluindo a comunicação de desvios e expectativas;

e) Disponibilidade de recursos suficientes para garantir o manuseio seguro e higiênico dos alimentos.

2. O compromisso da gerência consiste em:

a) Assegurar que as funções e responsabilidades são claramente comunicadas de acordo com cada atividade da empresa do setor alimentício;

b) Manter a integridade do sistema de higiene dos alimentos quando são planejadas e implementadas alterações;

c) Verificar se os controles são realizados em tempo útil e de forma eficiente e se a documentação está atualizada;

d) Assegurar que os trabalhadores recebam treinamento adequado e sejam devidamente supervisionados;

e) Garantir a conformidade com os requisitos regulamentares aplicáveis;

f) Incentivar a melhoria contínua do sistema de gestão da empresa relativo à segurança dos alimentos, tomando em consideração, quando aplicáveis, os progressos em matéria de ciência, tecnologia e melhores práticas.

3. A implementação da cultura de segurança dos alimentos deve ter em conta a natureza e a dimensão da empresa do setor alimentar”.

Porém, a rigor, não existe nenhuma novidade nesta abordagem. Para as organizações que já se habituaram a conviver com requisitos normativos trata-se de uma repetição: compromisso das lideranças, comunicação eficaz e disponibilidade de recursos, por exemplo. Antigos termos também se fazem presentes, como “assegurar que”, “verificar se” e o famoso “garantir”.

Estamos muito longe, ainda, de comemorar mudanças na orientação para o desenvolvimento de uma Cultura. Estamos presos ao vício da gestão.

Além disso, não deixa de ser curioso que a intenção de construir uma nova abordagem, cultural, em substituição a uma visão anterior exclusivamente pautada em regras, ocorra justamente por força de decreto e valorizando as mesmas regras já conhecidas.

Com esforço, se olharmos a publicação como um recurso que presta auxílio para a criação de uma nova forma de pensar, sentir e agir, é possível acreditar que ela cumprirá sua função. Que não se espere dela, porém, um grande impulso à Segurança de Alimentos, com resultados imediatos. A ver, ainda, como se dará o desenvolvimento das estratégias nas organizações e o mecanismo de fiscalização de seu cumprimento. Se as estratégias repetirem a gestão e se os mecanismos de cobrança repetirem as auditorias, pouco muda. Neste caso, parece apenas tratar-se da ampliação do alcance de requisitos normativos de gestão para toda a cadeia.

No Brasil, um país com 39,3 milhões de trabalhadores informais (ou 41,6% da população ocupada), que mantém 13,6 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza* e cerca de 51,7 milhões de pobres (dados do IBGE), no qual se empreende com alimentos por necessidade, nossas preocupações ainda são outras.

A Cultura de Segurança de Alimentos que precisamos é aquela que apresenta às pessoas a oportunidade de viver melhor, com mais saúde, a partir de hábitos simples, capaz de ser compreendida e aceita por ambulantes e donos de lanchonetes. É uma questão de políticas públicas. A Indústria, esta sim, é um mundo à parte, no qual a necessidade de implementar gestão não deve ser confundida com a Cultura que queremos. Fazer gestão é uma coisa, ter Segurança de Alimentos como valor é outra. Nenhuma norma, requisito legal ou Guia de Cultura conseguiu chegar ao alvo. Aliás, nem perto disso.

*Nota: Segundo o IBGE, é considerado em situação de extrema pobreza quem dispõe de menos de US$ 1,90 por dia, o que equivalia a aproximadamente R$ 151 por mês em 2019. Já os considerados pobres são aqueles que vivem com menos de US$ 5,50, equivalente a R$ 436 no ano de análise.

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Embalagens inusitadas x food safety

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Olá leitores! Para começar o ano com o pé direito, que tal exercitarmos nosso senso crítico de food safety? Sim, esse post é para você que adora um desafio e é apaixonado por embalagens. Venha comigo, olhe as imagens ao longo do post e avalie: são seguras para o consumidor ou para o alimento ali contido? Já ficou curioso, né? Pois então o desafio está lançado…

A mudança de hábito e o aumento do consumo nas últimas décadas levaram a inovações tecnológicas e consequentemente à maior produção de bens de consumo, o que gerou um aumento de embalagens “diferentes” e nem sempre tão preocupadas assim com as questões de food safety. Nesta busca por embalagens criativas surgem criações inusitadas, em que diferentes materiais são utilizados e ideias são colocadas em prática. Às vezes o material escolhido ou o formato pode parecer fantástico do ponto de vista do marketing, mas e o food safety?

As embalagens, por serem o primeiro contato do consumidor com o produto, são consideradas como um veículo de venda e de divulgação da marca e da sua identidade, tornando-se uma das características principais na hora da compra. Dizem que a gente “come com os olhos”, neste contexto a embalagem é o primeiro impacto e às vezes conquista mais pelo design do que pelo produto em si, mas para os food safety lovers (como eu) não é bem assim, haverá sempre um olhar crítico após o primeiro impacto. Já para os consumidores “normais”, isso nem sempre fica claro e eles podem adquirir e consumir o produto com algum “defeito” sem considerar um problema.

Dito isso, seguimos para o desafio: as embalagens a seguir são seguras?

Lápis de parmesão comestível

Um briefing surgido na agência Kolle Rebbe na Alemanha, que consistia em desenvolver uma embalagem para um trio de queijo parmesão que incluísse o ralador para o produto, deu origem a esses criativos lápis de queijo, nos sabores cogumelo, pesto e chilli. O produto compõe o mix da The Deli Garage, uma marca alimentícia que apoia a produção de iguarias especiais. As 500 unidades lançadas na primeira edição foram vendidas em apenas 2 semanas.

 

 

 

 

 

 

 

Embalagem individual de manteiga

Desenvolvida por Yeongkeun Jeong, a embalagem da manteiga Butter! Better! tem como intenção oferecer praticidade pois dispensa o uso de talheres: a tampa faz o papel da faca. A cor do detalhe na tampa indica o sabor da manteiga.


Bambu como recipiente

Embalagem de bambu para sorvete ou açaí. A ideia seria utilizar um material sustentável e versátil.

Embalagem anti-roubo

Anti-Theft Lunch Bags são sacos com zíper que têm manchas verdes impressas em ambos os lados, dando a impressão de que o lanche está estragado. A ideia é afugentar aquele ‘mão-leve’ do trabalho ou o valentão da escola para que não fuja com sua refeição.

 

Embalagem anti-roubo 2

Mesma proposta da embalagem anterior, ou seja, afugentar ladrões de lanche alheio. Você escolhe: bolor ou barata. Neste caso, claro, não há risco em si, só o aspecto repugnante, uma brincadeira que poderia ser interpretada como de mau gosto por alguns consumidores.

Macarrão Arranha céu

Um projeto muito famoso e impressionante que foi apresentado através de vários blogs é, na verdade, um projeto universitário do estudante de design Alex Creamer. No lado inferior da caixa é um modelo do Edifício Chrysler de Nova York,  que empurra os espaguete  para criar a forma do famoso arranha-céu.

Sal e pimenta em formato de pilha

A proposta é promover o sal e a pimenta como geradores de energia com o slogan “Energia recarregável para sua mesa de jantar”.

Balas “soft”

Este produto foi ícone de mercado há muitos anos. Embora o problema não esteja na embalagem, mas no formato do produto,  resolvi compartilhar. Essas eram conhecidas como “balas assassinas” pois bloqueavam a traqueia, causando asfixia em muitas crianças e pessoas distraídas.  Hoje elas tem uma abertura central.

Taça de café comestível

Primeiro você bebe o café e então come a xícara. A ideia chamada de The Cookie Cup foi criada pelo designer venezuelano Enrique Luis Sardi junto com a empresa italiana de café LavazzaA xícara é feita de uma massa coberta com um açúcar especial que funciona como um isolante, fazendo com que a xícara fique impermeável e não se dissolva, além de deixar um gostinho especial no café. Ela dispensa a utilização de materiais descartáveis comumente utilizados para consumir a bebida. No Brasil, já temos algo semelhante lançado por empresa que faz “casquinha” de sorvete.

Embalagem com garfo

Embalagem para alimento que já vem com talheres. A ideia é facilitar a vida do consumidor oferecendo o talher para consumir o produto. É semelhante à ideia da manteiga.

Caixa de papelão para pizza

Ainda há quem utilize caixas de papelão “comum” para acondicionar pizza, por incrível que pareça!

E aí, identificou algum perigo? Uma sugestão para “corrigir” o design, apresentação, etc., a fim de torná-la segura. Conte pra gente nos comentários, o que você identificou.

As imagens utilizadas para este post foram retiradas de sites de busca como Google e Pinterest, o que significa dizer que não necessariamente eu conheça cada uma pessoalmente. A ideia aqui é apenas fazer um desafio e chamar atenção dos food safety lovers para os perigos que uma embalagem ou produto pode apresentar. Muitas dessas imagens são antigas, nos dias atuais esses “problemas” geralmente são detectados ainda pela equipe de pesquisa e desenvolvimento, evitando que cheguem as gôndolas com algum perigo. Daí a importância desta equipe, que geralmente deve ser multidisciplinar para garantir um produto mais seguro.

Agora, falando um pouco mais sobre embalagens em si, não podemos esquecer suas funções e benefícios. Elas possuem como funções clássicas proteger, conter, informar, conservar e vender o produto nelas acondicionado para o consumidor final. Muitas vezes, na função vender produto é que há o esquecimento de detalhes como os observados nas embalagens do post. Há outras funções relevantes, como a conveniência que a embalagem pode proporcionar através do fracionamento de porções maiores para porções únicas/individuais, facilidade de abertura, possibilidade de fechar após aberto, facilidade de descarte e simplicidade de uso.

Revendo conceitos

O que é embalagem?

Segundo a ANVISA, embalagem é o artigo que está em contato direto com alimentos, destinado a contê-los, desde a sua fabricação até a sua entrega ao consumidor, com a finalidade de protegê-los de agentes externos, de alterações e de contaminações, assim como de adulterações.

Segundo o Decreto lei 986/1969, embalagem é qualquer forma pela qual o alimento tenha sido acondicionado, guardado, empacotado ou envasado.

Segundo um dicionário, embalagem significa ato ou efeito de embalar, acondicionar ou empacotar.

Funções da embalagem

Basicamente conter, proteger, informar, vender.

O que é uma embalagem segura?

Uma embalagem segura é aquela que não causa ou introduz perigos ao produto, isto é, nenhum agente biológico, químico ou físico, com potencial de causar um efeito adverso à saúde do consumidor. As contaminações físicas e microbiológicas estão relacionadas principalmente com o processamento, manuseio e estocagem, e devem ser prevenidas com boas práticas de fabricação e quando estas não são suficientes, por medidas de controle específicas. Já a contaminação química está principalmente relacionada com as substâncias utilizadas na fabricação da embalagem e que serão parte de sua composição.

Quanto à fabricação das embalagens

As embalagens e equipamentos que estejam em contato direto com alimentos devem ser fabricados em conformidade com as boas práticas de fabricação para que, nas condições normais ou previsíveis de emprego, não produzam migração para os alimentos de componentes indesejáveis, tóxicos ou contaminantes em quantidades tais que superem os limites máximos estabelecidos de migração total ou específica.

As empresas fabricantes de embalagens para contato direto com alimentos devem estar devidamente licenciadas junto ao órgão de vigilância sanitária de sua localidade e devem observar o atendimento aos respectivos regulamentos.

As embalagens em geral são isentas da obrigatoriedade de registro junto à Anvisa, de acordo com a Resolução RDC n. 27/2010, o que não as desobriga de atender às exigências definidas nos regulamentos técnicos em vigor. No entanto, as embalagens obtidas por novas tecnologias, como por exemplo, embalagens de PET pós-consumo reciclado para contato com alimentos, têm obrigatoriedade de registro previamente à sua comercialização.

As orientações quanto ao licenciamento de empresas, regulamentos técnicos e obrigatoriedade ou isenção de registro se aplicam às embalagens nacionais bem como às importadas.

Pois bem, pessoal, o assunto é complexo, mas como eu tinha a intenção de descontrair, espero que tenha conseguido.

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