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Todo organismo geneticamente modificado é transgênico?

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Alimentos transgênicos são pauta de incontáveis debates e discussões e existem opiniões extremas sobre o assunto. A rotulagem dos alimentos transgênicos já foi abordada aqui no blog por Dafné Didier e Juliane Dias, além do texto sobre OGM em alimentos.

Mas afinal, o que são alimentos transgênicos? Quais os objetivos de sua produção e quais as outras manobras que a engenharia genética utiliza em alimentos?

Transgênicos são organismos que tiveram seu DNA alterado, recebendo genes de um outro organismo doador. Após estudar as características desejadas no doador, os genes que expressam tais características são extraídos e combinados no receptor para que ele expresse essas informações, resultando em um melhor valor nutritivo ou maior resistência a pragas, por exemplo. A sua produção também impacta a agricultura. Produtores citam melhor rendimento e aproveitamento das safras, o que faz com que mais alimentos estejam disponíveis para o consumidor final e também para os animais de produção.

A transgenia em alimentos é um tema com mais de duas décadas de pesquisas. Para se ter ideia, desde 1993 o salmão transgênico tenta aprovação nos Estados Unidos, tendo conseguido somente em 2015. As pesquisas são utilizadas também na indústria química e farmacêutica: já se fala em produção de plantas que funcionem como vacinas e medicamentos.

Além das alterações de DNA com inserção de genes de outro organismo, existem também as “quebras” de DNA que sofrem tratamento e posterior inserção na mesma espécie em questão, como é o caso da batata que não escurece, já comentada aqui no blog, aprovada nos Estados Unidos também em 2015. Sendo assim, temos um organismo geneticamente modificado, mas não necessariamente transgênico, pois não recebeu um gene externo.

Portanto, todo organismo que sofreu alteração em seu DNA é um Organismo Geneticamente Modificado (OGM), mas apenas aqueles que receberam um gene externo são, além de OGM, transgênicos.

Como exemplos práticos de alimentos transgênicos, podemos citar um milho que recebeu um trecho do DNA de uma bactéria, um tofu com soja transgênica ou um biscoito que tenha em sua composição algum ingrediente transgênico.

Dados recentes apontam que 80% do cultivo mundial de soja e 30% do milho sejam transgênicos.

As consequências para o cultivo e consumo de alimentos transgênicos são polêmicas. Opiniões são divididas em relação aos eventuais riscos de consumo a longo prazo (já que a liberação e consumo destes alimentos são recentes para pesquisas desse tipo) e sobre os danos ao meio ambiente. Há quem diga que podem causar alergias em pessoas sensíveis aos componentes do organismo doador (pensemos numa castanha, por exemplo, que é alergênica). Quanto aos riscos ambientais, todo cuidado deve ser tomado para não causar desequilíbrios ecológicos.

No caso do salmão, a criação é realizada em tanques distantes do mar, pois a criação foi direcionada de modo que a maior parte da população fosse de fêmeas estéreis e apenas poucos indivíduos para reprodução. Os peixes receberam genes relacionados ao crescimento, conseguindo atingir seu peso de venda na metade do tempo, diminuindo assim os custos de criação. Sua inserção em ambientes marinhos poderia causar danos imprevisíveis.

No caso de plantios, cuidados devem ser tomados com a possível contaminação cruzada com cultivos não transgênicos (através de insetos, vento, pessoal, armazenamento e transporte), item importante a ser avaliado pelo produtor também para não perder clientes, vendendo cultivos transgênicos e não transgênicos misturados.

Em relação aos consumidores, sabemos que ainda há resistência com o símbolo do transgênico, mesmo em casos em que não se tem conhecimento completo sobre o assunto. Sabemos da importância da pressão do consumidor sobre a produção de alimentos e sobre a correta informação na rotulagem, mas tão importante quanto estes itens é o conhecimento, para que saiba interpretar os rótulos e fazer escolhas conscientes dentro de sua proposta de alimentação.

Podemos concluir que, assim como tantos outros assuntos polêmicos, sempre há necessidade de debate e conhecimento. Entender a cadeia de alimentos desde o início, suas necessidades e limitações, entender o contexto das pragas específicas de cada cultivo, as escolhas e alternativas aos agrotóxicos e as questões de segurança e abastecimento de alimentos para a população auxilia nas escolhas e contribui para uma relação consumidor x indústria x produtor mais realista e justa.

Referência

Revista Super Interessante (edição 402- maio 2019)

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Resistência antimicrobiana e segurança de alimentos

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Você já se perguntou o que a resistência antimicrobiana, tão comentada nos últimos anos, tem a ver com o alimento que consumimos? Em que ponto estes temas se encontram e qual a relação do bem-estar animal e das boas práticas na produção animal com esse assunto?

Os antimicrobianos são substâncias utilizadas para uso terapêutico ou profilático com intuito de inibir o crescimento de microrganismos. A resistência dos microrganismos a estas substâncias tem sido debatida mundialmente e representa um problema sério para os sistemas de saúde. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), “a falta de antibióticos eficazes é uma ameaça de segurança tão séria como um surto de doença súbita e mortal”.

O uso indiscriminado é uma das principais causas de resistência, e quando lembramos que saúde animal e saúde humana são indissociáveis, podemos concluir que o uso destes medicamentos precisa ser criterioso, tanto na saúde humana (evitando a automedicação e respeitando a duração do tratamento, por exemplo), quanto na saúde animal (usando apenas medicamentos de fontes confiáveis e prescritos por um veterinário, associados às boas práticas de manejo e higiene).

Seguindo o conceito de saúde única, em que homem x ambiente x animais estão interligados, alguns fatores podem agravar ainda mais a resistência antimicrobiana, como a possibilidade de troca de material genético entre bactérias diferentes, a resistência a todo o grupo de antibióticos da mesma classe e as variadas formas de transferência de bactérias resistentes entre estes 3 elos da saúde única, o que cria efeitos capazes de afetar a saúde de todos.

As bactérias resistentes aos antimicrobianos podem circular entre seres humanos e animais por meio da alimentação, da água e do meio ambiente, e sua transmissão é influenciada pelo comércio, pelas viagens e pelas migrações humana e animal.

Sendo assim, em relação aos animais de produção, devemos ter atenção em relação à sanidade desde o nascimento até o abate, etapa em que se transformam em alimento e, para tal, devem ser medicados e tratados sempre que necessário. Atenção redobrada deve ser dada aos antibióticos, respeitando-se o período de carência, além de todo o controle de compra do fármaco (prescrição veterinária, notas fiscais), como também a correta armazenagem e descarte dos frascos.

Neste ponto entendemos que as regras das boas práticas pecuárias e de bem-estar animal, quando consideradas pelo produtor, podem reduzir o uso de fármacos, uma vez que reduzem o estresse dos animais melhorando, consequentemente, seu estado imunológico.

Outro ponto é o uso dos antibióticos de forma crônica e em doses mais baixas que as terapêuticas como preventivo de doenças, o que também favorece a resistência dos microrganismos e tem sido substituído pelo uso de probióticos e prebióticos, que não deixam resíduos nos alimentos de origem animal e reduzem a colonização de patógenos, representando, assim, vantagem em relação aos antibióticos.

Evidencia-se, portanto, a necessidade do uso criterioso e correto dos fármacos em todos os setores para que nem animais de produção nem seus consumidores sejam prejudicados.

 

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Bem-estar animal no setor de pescados e a sua relação com a segurança de alimentos

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Já se sabe que o bem-estar animal está diretamente relacionado à qualidade e à segurança dos alimentos, como já foi mostrado nos posts sobre Bem-estar e qualidade da carne, Bem-estar em frangos e Bem-estar e segurança de alimentos – algo em comum?, aqui no blog Food Safety Brazil.

Mas quando se fala em pescados, ainda existe muito assunto a ser debatido.

O conceito de bem-estar animal começou a ganhar força nos anos 60 e desde então tem rendido muitas discussões. É um conceito amplo, mas que pode ser resumido pelas chamadas 5 liberdades: sanitária, nutricional, ambiental, comportamental e psicológica. Como podemos ver, o conceito vai além do que normalmente imaginamos, sobre o animal estar livre de dor ou doenças e ter um suporte nutricional adequado, relacionados aos primeiros itens. Em relação ao ambiente: deve-se oferecer um espaço que evite o desconforto dos animais, no que diz respeito à temperatura, material e na capacidade do recinto, que propicie o comportamento natural da espécie em questão, além de evitar medo e estresse, contemplando assim, as 5 liberdades.

Este conceito está intimamente ligado ao conceito de seres sencientes: grosso modo, são aqueles capazes de sentir.

No caso dos pescados, o assunto se torna complexo, pois além de contemplar diversas espécies, o caminho percorrido até o consumo possui várias etapas vulneráveis. Basta pensarmos nos métodos de captura e abate ou então lembrarmos daquele caranguejo sendo vendido na beira da estrada. Lembrando que, por pescado, entendem-se os peixes, crustáceos, moluscos, anfíbios, quelônios e mamíferos de água doce ou salgada usados na alimentação humana, segundo a Embrapa.

Podemos então questionar: um crustáceo, por exemplo, é um animal senciente e tem consciência do que lhe rodeia? Como mensurar? Além disso, como é realizado o manejo, a captura, o transporte e o abate? E como isso altera a qualidade e a segurança no consumo?

Assim como qualquer outra espécie, se submetida a cargas de estresse durante o manejo, fica mais suscetível a doenças, visto que seu sistema imunológico fica comprometido. No caso de peixes, zoonoses como a parasitose causada por Anisakidae foi amplamente discutida e já foi citada aqui no blog.

Já pensando na etapa da despesca ou captura, etapa na qual o peixe atinge seu peso de consumo, se mal realizada, causa lesões na musculatura pelas tentativas de fugas que fazem o animal se debater, prejudicando assim a qualidade da carne. Quando do transporte, deve-se atentar para o tempo do trajeto, evitando assim a perda da qualidade da água pelo acúmulo de amônia e dióxido de carbono, que elevam o estresse dos animais, além da densidade, tamanho dos peixes e temperatura da água. Há ainda a recomendação de período de descanso para peixes após o transporte, o que retarda o rigor mortis e preserva a qualidade da carne.

Técnicas de insensibilização e abate ideais podem mudar de espécie para espécie. O que não muda é que, como nas demais espécies, abate e estresse são uma combinação que prejudica a qualidade da carne e diminui a vida de prateleira do produto. Em algumas espécies, o estresse causa reações enzimáticas que resultam em manchas conhecidas como black spot ou melanose, que prejudicam o sabor do pescado.

Nos pontos de venda, as condições de armazenamento e exposição também influenciam o aparecimento das melanoses, bem como influenciam diretamente na formação de histamina. O binômio tempo x temperatura deve ter atenção constante, assim como a qualidade do gelo (quando utilizado), além da sua uniformidade e distribuição sobre o pescado.

A demanda de consumidores cada vez mais exigentes com a procedência dos alimentos vem aumentando a atenção em relação aos processos de produção, no que diz respeito não apenas à qualidade e segurança, mas também em relação ao bem-estar animal, uma vez que estes fatores estão intimamente ligados e devem ser considerados desde o início da cadeia até o consumo final.

E você, já havia pensado nesses pontos? Deixe seu comentário!

Referências:

http://www.pubvet.com.br/uploads/4a1988006bae58abc4cde4f35b03551e.pdf

http://www.scielo.br/pdf/aib/v82/1808-1657-aib-000382013.pdf

 

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