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Embalagem para alimentos e riscos de Saúde pública

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Artigo pulicado na revista “Environmental Health Perspectives”, traz um relato da preocupação médica em relação aos contaminantes químicos que migram das embalagens para os alimentos e bebidas, e seu potencial efeito adverso à saúde. Inicialmente o autor descreveu a evolução no uso da embalagem para alimentos, ao longo dos anos, e os seus benefícios. Também foi apresentada a preocupação em relação ao impacto do resíduo gerado e o meio ambiente, uma vez que o volume das embalagens que são recicladas ainda não é considerável. Entretanto, o foco principal do trabalho é chamar a atenção sobre a exposição química da embalagem e sua relação com a saúde, uma vez que os componentes químicos da embalagem podem migrar para os alimentos. O quanto da migração ocorre e quais os efeitos potenciais sobre a saúde estão ganhando mais atenção dos pesquisadores, entretanto, o autor reforça que ainda há poucos estudos sobre os efeitos adversos dessas exposições, para a saúde humana.
O autor citou muitas referências de trabalhos de diferentes pesquisadores, os quais apresentam dados conclusivos sobre a real migração de contaminantes químicos para alimentos (Chumbo, Ftalato, BPA), oriundo de embalagens de diferentes tipos (vidro, PET, cartonado), comprovando a grande relevância deste tema, como por exemplo, a polêmica  do uso de resinas à base de epóxi contendo bisfenol A. Segundo apresentado, alguns autores estimam que a migração dos contaminantes de embalagens de alimentos pode ser muito superior a de outros contaminantes, como pesticidas e poluentes ambientais, “excede a maioria dos outros por um fator de 100-1000″. Isso somente considerando a pequena fração das substâncias que foram avaliadas, sendo que a maioria não foi sequer identificada.

Concluiu que não há como estimar o risco de ingestão crônica de contaminantes de embalagens de alimentos e o impacto para a saúde pública, enfatizando a necessidade de mais pesquisa sobre o tema.

Referência: CLAUDIO, Luz. Our Food: packaging and public health. Environmental Health Perspectives, [s.i.], v. 120, n. 6, p.233-237, jun. 2012.

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Tomar água ou café em copo plástico é seguro?

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Quando se considera o sistema embalagem-alimento, há uma preocupação com a migração ou transferência de substâncias da embalagem para o alimento. Estas substâncias podem gerar alterações sensoriais, como mudança de odor e sabor dos alimentos, e também podem ser tóxicas. Pensando nisso, tomar água ou café em copo plástico é seguro?

Durante o VI CONALI (Seminário sobre Contaminantes em Alimentos), realizado no ITAL, em Campinas, em novembro passado, Dra. Magali Monteiro da Silva falou sobre “Contaminantes Potenciais de Embalagens Plásticas de Alimentos”. A palestrante é professora do Depto de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp, SP. 

Inicialmente, ela explicou que o plástico é um material composto por resina e aditivos, sendo a resina constituída por polímeros, dos quais os mais usuais estão listados abaixo, com suas respectivas siglas:

  • HDPE, LDPE – polietileno de alta (H) e baixa (L) densidade;
  • PP – polipropileno;
  • PS – poliestireno;
  • PVC – policloreto de vinila;
  • PVdC – copolímero de cloreto de vinila e vinilideno;
  • PET/PETE– polietileno tereftalato;
  • PC – policarbonato;
  • EVA – copolímero de etileno e acetato de vinila;
  • EVOH – copolímero de etileno e álcool vinílico;
  • Nylon 6 – E-caprolactama.

Há uma codificação internacional para identificar estes materiais e sua “reciclabilidade”. Veja abaixo:

reciclagemCada tipo de polímero, dependendo de sua estrutura química, molecular, densidade e cristalinidade vai conferir as macro características dos materiais plásticos. Os aditivos são adicionados para desempenhar funções especificas, como as descritas abaixo:

ADITIVO FUNÇÃO POLÍMERO
Antioxidante Inibir ou retardar degradações termo-oxidativas PP, PE, PS
Estabilizantes ao calor Proteger da decomposição devido às altas temperaturas usadas no processo de transformação PE, PP, PVC, PVdC
Plastificantes  Reduzir temperatura do processamento

Tornar mais flexível 

PVC, PVdC
Estabilizantes à luz UV Proteger da degradação pela luz UV PVC, PE, PP, PET, PS
Lubrificantes e deslizantes Reduzir a tendência de adesão a superfícies

Promover a remoção de plásticos de moldes e cavidades 

PVC, Poliolefinas
Corantes  Melhorar aspecto visual

Evitar penetração da luz 

Uso geral
Agentes nucleantes Reduzir o tamanho dos cristais auxiliando na manutenção da transparência e claridade PET, PP
Agentes anti-estáticos Tornar a superfície do plástico mais condutiva

Melhorar “maquinabilidade” 

PE, PS, PP, PET, PVC
Agentes de expansão Favorecer a expansão PS 
Cargas Reduzir custos e/ou melhorar propriedades mecânicas Uso geral

Algumas destas substâncias, como o monômero Cloreto de Vinila e o plastificante DEHP (Dietilhexilftalato) são carcinogênicas para humanos. Outras, como o estireno, são possivelmente carcinogênicas (grupos 1 e 2 na classificação IARC).

A legislação brasileira estabelece listas positivas dos materiais de embalagens, ou seja, enumera todos que podem ser utilizados, bem como define um Limite de Composição (LC) que é o teor máximo da substância que pode estar presente na própria embalagem. As normas brasileiras definem também Limites de Migração Global (LMG) e Limites de Migração Especifica (LME). O Limite de Migração Global serve para os materiais de embalagem em geral e é de 50 mg do material /kg alimento (ou simulante) ou 8 mg/dm2 de área de contato. O LME só existe para algumas substâncias e seu valor é variado.

Dra. Magali já publicou vários trabalhos relacionados ao desenvolvimento e validação de métodos analíticos para quantificação da migração de substâncias de embalagens para os alimentos. Em sua apresentação, ela expôs alguns resultados destes trabalhos. Num deles, publicado em 2012, foi criado e validado um método para quantificação de poliestireno (PS) em copos plásticos. Das 11 marcas analisadas de copos descartáveis utilizados no Brasil, nenhuma ultrapassou o Limite de Composição do Estireno no material de embalagem (LC=0,25%). Também não foi detectada migração do estireno da embalagem para água nem para um simulante de alimentos contendo água e 20% de etanol. Portanto, considerando-se este resultado, podemos continuar tomando a água e o café nosso de cada dia em copos descartáveis.

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Pesquisas científicas em segurança de alimentos – temas de vanguarda do Instituto Campden

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O Instituto Campden, que realiza pesquisas de ponta em Alimentos no Reino Unido, é um dos centros de  vanguarda mundial em pesquisas na área de segurança dos alimentos.

Vamos dar uma espiada nos temas de projetos de 2014/2017 para buscar inspiraçao?

Primeiro na linha:

Food and Drink Safety:

  • Role of biofilms in Campylobacter transmissions through the food chain
  • Next generation techniques for microbiological and chemical food safety
  • Investigation of the efficacy, practicality and cost effectiveness of modified atmosphere packaging on Campylobacter numbers on raw chicken intended for retail
  • Continuous flow heat treatment of low water activity products: addressing an emerging food safety issue
  • Mung bean disinfection using cold atmospheric plasma – a feasibility study
  • Intelligent process and product design using new predictive tools 
  • Food allergens – providing guidance for compliance and resolving analytical challenges
  • Modelling ways to prevent attachment of enteric pathogens to fresh salad produce
  • Control of viruses in food production

Salmonella em alimentos secos

 Uma linha de pesquisa inteira focada na compreensão da resistência da Salmonella em ambientes hostis com baixa atividade de água e mecanismos para combater o patógeno.

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Segurança de materiais em contato com alimentos

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Alguns posts relacionados ao tema “materiais de contato com alimentos” já foram apresentados algumas vezes aqui no Blog. Recentemente li alguns artigos interessantes que tratam deste tema, entretanto com uma visão distinta da que estava acostumada, elaborados por pesquisadores da área médica, mais especificamente, epidemiologista. Um destes artigos, tem como enfoque a preocupação da área médica em relação aos efeitos nocivos e desconhecidos para saúde humana, em consequência do consumo de substâncias químicas oriundas da migração de materiais de contato com alimentos, como por exemplo, as embalagens, utensílios e equipamentos de processo ou preparação que possuem contato direto com o alimento. Não foi apresentado nenhum estudo de caso, somente uma revisão da arte sobre o tema com sugestões de futuros trabalhos e a justificativa para tal.

Como a maioria dos alimentos, hoje consumidos, são embalados e toda a população é susceptível a ser exposto, o autor enfatiza que é de extrema importância a realização de estudos para entender a correlação entre os materiais de contato no desenvolvimento de doença crônica e afirma que se torna uma urgência de interesse público.

A seguir apresento um resumo deste artigo, que foi publicado em julho de 2014, pela revista Epidemiol Community Health. Boa leitura!

 

“Embalagens e materiais de contato e a migração para os alimentos: Desafio dos Epidemiologistas”

 O autor primeiramente buscou apresentar o conceito sobre o risco da migração de componentes químicos para o alimento e a fundamentação da sua investigação, todos com base e referência científica. Os principais dados relatados por ele, que considero os principais, foram:

– A maioria dos materiais de contato com alimentos não são inertes e apresentam substâncias químicas, tais como, monômeros, polímeros, aditivos, coadjuvante de processo que podem se difundir para a bebida e/ou alimento e esta migração pode ser acelerada em determinadas situações de tempo de armazenamento, temperatura, propriedades físico-químicas tanto do material, como também do alimento.

-Nem todos os migrantes são regulados como aditivos alimentares indiretos e são, segundo referências citadas no artigo, contaminantes químicos.

– Contaminantes tóxicos conhecidos continuam sendo utilizados como aditivos alimentares na Europa e EUA e são aprovados por legislação local. Alguns exemplos: tipos de amianto, Formaldeído (este último presente em garrafas de PET e já comprovadamente cancerígeno), Bisfenol A, Ttriclosan e vários ftalatos (estes três últimos desreguladores endócrinos)

– Número de substâncias intencionais conhecidas e que são utilizadas na composição dos materiais de contato excedem 4000. Além disso, contêm um número desconhecido de subprodutos de polimerização, impurezas e outros que são as substâncias adicionadas não intencionalmente. Ainda não se conhece os perigos toxicológicos do consumo destas substancias.

– Doenças crônicas no mundo são responsáveis por cerca de dois terços das mortes. Apesar de haver causas múltiplas há fortes evidências entre este número com a exposição crônica a contaminantes químicos

– Ainda que haja estabelecida avaliação do risco químico para certos componentes, ou seja, existe um limite aceitável estabelecido para a exposição à toxicidade de um indivíduo, o autor enfatiza que no entanto, os seres humanos não são expostos a produtos químicos, de maneira isolada. Desta forma, somente estes dados não seriam suficientes para assegurar a inocuidade de um produto.

Diante destes fatos, o autor propôs que seja realizada de maneira urgente, uma avaliação da exposição de base populacional e biomonitoramento dos materiais de contato, a fim de avaliar as relações de causa-efeito entre as substâncias químicas dos materiais de contato com alimentos e as doenças crônicas como câncer, obesidade, diabetes e alterações neurológicas. Enfatizou que a migração química dos materiais de contato com alimentos e os efeitos na saúde humana, devem ser mais e, melhor investigados por pesquisadores e propôs início de estudos mais profundos sobre o tema.

O autor afirmou que a área de epidemiologia pode ajudar a melhorar o conhecimento sobre o papel dos produtos químicos dos materiais de contato com alimentos.

O autor sugeriu como metodologias:

– a utilização de questionários de frequência alimentar e métodos de avaliação do consumo alimentar (registros de consumo alimentar), complementada por esforços de biomonitoramento;

– Análises dos usos de materiais em contato com os alimentos em toda a cadeia de abastecimento alimentar (processamento, embalagem, armazenamento) e em casa, local de trabalho e outras configurações.

– Medição da frequência de práticas de consumo, tais como o armazenamento em freezers, pratos de plásticos e recipientes, o uso de filmes plásticos

– Preferência de embalagens pelo consumidor, ao comprar alimentos e bebidas

– Dados econômicos e culturais das influências sobre o consumo alimentar

– Análises estatísticas para integrar estas informações coletadas com os dados usados tradicionalmente em epidemiologia nutricional, ambiental e molecular.

Além disso, sugeriu uma série de outros campos de pesquisa sobre este tema: os mecanismos tóxicos, por exemplo, em estrogênica, androgênica, tireoide e os efeitos dos químicos que migram dos materiais de contato. Na homeostase de glicose e metabolismo de lipídeos, a homeostase de energia e a resistência à insulina; sobre o papel dos agonistas e antagonistas de receptores nucleares na modulação da função do receptor de doenças nucleares e endócrinas, incluindo receptores de membrana não-esteroides e receptores nucleares não-esteroides; em metabólica e disfunção mitocondrial, inflamação, adipogêneses e macrófagos adiposo.

Desta forma, o autor concluiu que Integrar o conhecimento sobre a composição química destes materiais e migração para os alimentos em estudos epidemiológicos é, uma oportunidade e um dever para os epidemiologistas. Eventualmente, essa pesquisa vai fortalecer as políticas de prevenção primária, reduzindo exposição a produtos químicos resultantes de uma fonte controlável. Ele também irá avançar no conhecimento básico e aplicado sobre os mecanismos moleculares e fisiológicos que apontam algumas substâncias químicas ambientais e doenças humanas.

 Referência do artigo: MUNCKE, Jane et al. Food packaging and migration of food contact materials: will epidemiologists rise to the neotoxic challenge? Epidemiol Community Health, [s.i.], v. 68, n. 7, p.592-594, jul. 2014.

 

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Garrafas de água mineral de PET podem apresentar migração de antimônio acima dos limites

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Artigo recentemente publicado na Food Chemistry, apresentou dados que comprovam a migração de substância química do plástico, neste caso o PET, para a bebida. O autor se baseou em estudos recentes que demonstram resíduo de Sb encontrados em amostras de água, quando armazenada em garrafas de PET, o que não ocorre quando armazenada em outros tipos de garrafa plástica ou quando a amostra de água é coletada diretamente da fonte, o que indica que a presença de Sb nas amostras de água é devido a migração do PET. Sabemos que PET é altamente utilizado como embalagem de alimentos e bebidas. Diante destes fatos, o autor pesquisou a influência de fatores físico-químicos em relação à migração do Sb (antimônio).

O autor selecionou amostras de 3 marcas de água mineral engarrafada em PET, de 3 tipos de cores (claro, azul claro e azul escuro). Os resultados obtidos foram:

– Avaliação da presença de Sb no material PET: Foram realizados testes analíticos, primeiramente para avaliar a presença do Sb no material PET. Os resultados apontaram quantidade significativa de Sb no PET, que ocorre em virtude de um catalisador (Sb2O3) utilizado durante o processo de fabricação, de excelente conversão, que no entanto pode gerar residual de Sb.

– Avaliação da influência da temperatura: as amostras foram submetidas por 15 dias a 60ºC e comparadas com o armazenamento a 15 dias a 60ºC mais 15 dias a 4ºC. Os resultados demonstraram o aumento da concentração do Sb em quase 3 x mais no teste com elevação da temperatura, ou seja, a migração de Sb aumenta ao longo do tempo e em maiores temperaturas. A quantidade de Sb encontrada na água foi superior ao permitido pela legislação, ou seja, quantidade prejudicial à saúde humana.

– Avaliação da cor: a água armazenada em garrafas coloridas continha concentrações Sb semelhantes, mas eram ligeiramente mais elevados do que os que estão armazenados em garrafas transparentes.

– Avaliação do CO2: testes comparativos entre amostras de água mineral gasosa x água mineral natural, concluíram que na primeira, a concentração residual de Sb é maior, indicando que a presença de dióxido de carbono acelera a migração de Sb.

 

Este é um tema muito relevante, uma vez que o consumo de água mineral engarrafada tem se tornado cada vez maior. Os resultados demonstrados por este trabalho apontam que a migração de contaminante químico pode ocorrer do material plástico para a bebida, principalmente quando estocado em condições de temperatura muito elevada e por muitos dias, o que ultrapassa a concentração permitida.

Na nossa legislação (RDC 17/08), é definido o LME = 0,04 mg/Kg para o Antimônio utilizado como aditivo. Importante ressaltar, que o valor estabelecido como “permitido”, é representativo para o consumo de um dia. Deve ser levado em consideração que outros produtos que são rotineiramente consumidos, também são embalados em material plástico PET, e portanto, podem fornecer Sb através do processo de migração, para a bebida ou alimento.

 

Referência: CARNEADO, Sergio et al. Migration of antimony from polyethylene used in mineral water bottles. Food Chemistry, Barcelona, p.544-550, jun. 2014.

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Adoçantes sintéticos podem contribuir para a diabetes, diz um novo e controverso estudo

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Tanto o açúcar como os adoçantes sintéticos enfrentam o fogo pesado das pesquisas científicas. Por um lado, o açúcar é associado à cárie dentária, diabetes, obesidade e até mesmo à violência infantil. A Organização Mundial de Saúde lançou, no início deste ano, um projeto de orientações que reduziu pela metade o consumo máximo de açúcar recomendado. Os adoçantes também estão na cadeira dos réus: já falamos aqui de uma pesquisa na qual os ratos alimentados com adoçantes engordavam mais que os alimentados com açúcar.

Agora, uma nova pesquisa publicada na revista Nature sugeriu que os adoçantes sacarina, aspartame e sucralose podem ter um efeito negativo sobre a flora intestinal e, assim, levar a um maior risco de diabetes.
No estudo, cientistas do Instituto Weizmann de Ciência em Rehovot, Israel, alimentaram ratos com água adoçada por açúcar ou por um dos seguintes adoçantes: aspartame, sucralose e sacarina.  Após 11 semanas, os ratos alimentados com adoçantes artificiais tiveram um pico anormalmente elevado nos níveis de glicose no sangue quando receberam refeição contendo glicose, uma condição chamada de intolerância à glicose, que é vista como um estágio inicial do desenvolvimento de diabetes. Porém, quando os ratinhos foram tratados com antibióticos durante quatro semanas, a intolerância à glicose não ocorreu, o que indica que os microrganismos da flora intestinal podem desempenhar um papel significativo neste processo.

Na verdade, os cientistas estão apenas começando a entender o papel das bilhões de células microbianas que colonizam o intestino humano. Alguns microrganismos são conhecidos por serem cruciais na quebra de nutrientes em nossa dieta. Estudos também têm demonstrado que as pessoas com excesso de peso tendem a ter, em seus intestinos, bactérias diferentes das presentes nas pessoas magras, mas não está claro se estas bactérias, de alguma forma, podem causar obesidade ou diabetes.

No estudo israelense, os pesquisadores também descobriram que certos tipos de microrganismos intestinais foram mais comuns em ratos alimentados com sacarina. Ao transferir as bactérias intestinais destes ratos para ratos saudáveis que não as continham, eles verificaram que também transferiram sua intolerância à glicose. Uma explicação seria que moléculas produzidas por algumas destas bactérias podem aumentar a produção de glicose no corpo e empurrar para cima os níveis de glicose no sangue.

Para testar se as suas conclusões são relevantes para os seres humanos, os pesquisadores acompanharam sete indivíduos que receberam uma dose alta de sacarina (5 miligramas por quilograma de peso corporal, índice máximo aceitável de ingestão segundo a FDA) por 6 dias consecutivos. Quatro desses indivíduos também começaram a mostrar sinais de intolerância à glicose, assim como ocorreu com os ratos. Para os pesquisadores, os adoçantes estudados “podem estar contribuindo diretamente para aumentar a epidemia de diabetes contra a qual eles próprios deveriam lutar”.

Na comunidade científica, o trabalho dos israelenses recebeu comentários elogiosos e também críticas. Segundo Peter Turnbaugh, um microbiologista da Universidade de Harvard, “o estudo é fascinante. Houve algumas sugestões na literatura de que os adoçantes sintéticos poderiam alterar a microbiota intestinal, mas esta é, de longe, a análise em maior profundidade que vi até agora.”

Michael Blaut, um microbiologista do Instituto Alemão de Nutrição Humana, disse que os dados apresentados “são críveis e notáveis”, mas tem dificuldade em imaginar um mecanismo que seria responsável por fazer três compostos tão diferentes quimicamente, como aspartame, sacarina e sucralose conduzirem às mesmas alterações na flora intestinal.

Outros cientistas, porém, não receberam bem os resultados da pesquisa. Eles questionam os dados sobre os seres humanos, de apenas sete pessoas, das quais quatro apresentaram o efeito. Alguns lembraram ainda que pesquisas anteriores parecem apontar para uma direção diferente: um grande estudo epidemiológico envolvendo milhares de pessoas publicado no ano passado descobriu uma ligação entre o consumo de bebidas adoçadas com açúcar e diabetes, mas não entre os refrigerantes adoçados artificialmente e diabetes.
Eran Segal, um dos autores do estudo, rebateu as críticas: “nós somos os primeiros a admitir que o estudo tem apenas resultados preliminares sobre um pequeno grupo de indivíduos, mas alguns estudos no passado também descobriram uma associação entre adoçantes sintéticos e o risco de diabetes. A falta de dados conclusivos e de um mecanismo em um assunto tão importante foi a base de nosso olhar para este assunto.”

Uma possível explicação para a discrepância com os estudos epidemiológicos de grande escala é que o novo estudo centraliza-se na ação da sacarina, adoçante não utilizado nos principais refrigerantes do mercado americano. Em estudos anteriores, os pesquisadores também testaram aspartame, que é muito utilizado como adoçante para refrigerante nos EUA, mas o efeito observado foi menor.  “Os autores estão confundindo suas conclusões, abordando todos esses adoçantes artificiais não calóricos juntos”, diz Brian Ratcliffe, um pesquisador de nutrição na Universidade Robert Gordon, no Reino Unido. “Ainda assim”, diz ele, “os dados certamente sugerem que há algo mais que precisa ser explorado sobre a sacarina.”

Fonte: Science Magazine

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Exposição de crianças aos corantes artificiais continua preocupando

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Os pesquisadores e a comunidade científica têm debatido, nos últimos 40 anos, se há uma ligação entre o consumo de corantes artificiais e a hiperatividade em crianças.

Em 2011, o FDA concluiu que, com base em todos os dados disponíveis, não foi possível estabelecer relação de causalidade entre o consumo infantil de corantes sintéticos e efeitos adversos comportamentais, incluindo hiperatividade. Uma conclusão idêntica já tinha sido divulgada pela Autoridade Europeia em Segurança de Alimentos em 2008, tendo sido inclusive o assunto de um post bem detalhado publicado aqui. Mesmo assim, o comitê do FDA recomendou recentemente uma pesquisa adicional, incluindo a avaliação da exposição de crianças e adolescentes aos corantes artificiais.

Em 13 de agosto último, durante o Encontro Nacional da American Chemical Society, parte do estudo foi divulgada em um pôster que pode ser acessado aqui. As principais informações deste levantamento dão conta de que, pelo menos 96% das crianças de 2-5 anos nos EUA estão expostas aos corantes vermelho 40, amarelo 5, amarelo 6 e azul 1.

A avaliação foi baseada na quantidade de corantes presentes em mais de 580 produtos alimentares e considerando dois dias de consumo, conforme dados de consumo de um trabalho da National Health and Nutrition. Segundo o estudo, todas as estimativas de exposição para esses corantes sintéticos estão muito abaixo dos níveis máximos de ingestão aceitáveis estabelecidos pelo FDA. Agora, o FDA recomendou um novo trabalho que inclua a estimativa da exposição aos corantes considerando o consumo alimentar de 14 dias. Lisa Lefferts, cientista sênior do Centro para a Ciência no Interesse Público, disse que “tal exposição generalizada aos alimentos coloridos artificialmente é uma má notícia para todas as crianças, uma vez que os alimentos coloridos artificialmente não são considerados, em princípio, alimentos saudáveis”.

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Fontes:

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Boas práticas em restaurantes do tipo self-service: situação no município de Alfenas, MG

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Os restaurantes do tipo self-service estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, oferecendo refeições de rápida aquisição e consumo, necessidades requeridas pelo ritmo de vida atual. Além de oferecer praticidade e refeições sensorialmente adequadas, estabelecimentos produtores de alimentos devem oferecer produtos seguros no aspecto higiênico sanitário, protegendo a saúde do consumidor. Assim, o objetivo deste estudo foi identificar a adoção de boas praticas na produção de refeições em restaurantes do tipo self-service no município de Alfenas-MG. Foi aplicado um checklist de verificação de atendimento aos itens exigidos pela legislação sanitária em 12 restaurantes, classificando os restaurantes nos grupos I, de baixo risco, II, de médio risco, e III, de alto risco de veiculação de doenças de origem alimentar. Dos estabelecimentos em estudo, 33% foram classificados como grupo I, 50% no grupo II e 17 % no grupo III. Concluiu-se que os restaurantes em estudo não possuíam padrões higiênico sanitários condizentes com os definidos na legislação das boas praticas de produção, uma vez que a maioria foi classificada como de médio ou alto risco de veiculação de doenças de origem alimentar, demonstrando precariedade no controle higiênico sanitário e risco a saúde dos consumidores.

Baixe o artigo completo gentilmente cedido pela revista Higiene Alimentar, aqui:

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Pesquisadores encontram bactérias resistentes a antibióticos em carne de sol na Bahia

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Pesquisadores da Universidade Federal do Recôncavo Baiano analisaram a carne de sol comercializada no município de Cruz das Almas (BA) e os resultados foram preocupantes. Foram coletadas 36 amostras em 12 estabelecimentos comerciais: supermercados, minimercados, açougues e mercado municipal. Entre os estabelecimentos estudados, os supermercados apresentaram as melhores condições higiênico-sanitárias. Nos demais estabelecimentos, os padrões microbiológicos foram insatisfatórios, com elevada carga de micro-organismos mesófilos aeróbios, presença de Salmonella e Escherichia coli.

Escherichia coli foi isolada em 75% dos estabelecimentos e Salmonella em 25%. Os pesquisadores também testaram a resistência aos antibióticos das bactérias encontradas.  Cepas de E. coli multirresistentes foram observadas em 87,5% dos isolados.  Perfil de multirresistência foi observado também em todas as Salmonellas: 100% resistente à tetraciclina, ácido nalidíxico, cefalotina e eritromicina, com resistência intermediária à ampicilina e gentamicina.

A carne de sol é um produto artesanal, resultante de técnicas superficiais de salga e desidratação. Um dos fatores determinantes para a elevada carga microbiana encontrada foi o baixo teor de sal utilizado.  Os manipuladores e comerciantes dos estabelecimentos afirmam que o teor de sal na carne de sol varia entre 5,0 e 6,0%. No entanto, apenas uma amostra analisada esteve dentro desse intervalo, tendo as demais amostras apresentado um teor de sal inferior. Isso ocorre porque a carne de sol é norteada por uma tecnologia rudimentar, não existindo um regulamento técnico que padronize a sua composição e parâmetros importantes como umidade e concentração de sal ainda são determinados por critérios aleatórios no processo de fabricação. A elevada resistência das bactérias aos antibióticos pode ter, como uma das causas, o uso extensivo de antimicrobianos na criação dos animais.

O estudo foi publicado pela revista Semina, da Universidade Estadual de Londrina, e pode ser acessado na íntegra aqui.  

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Bactéria super-resistente a antibióticos é encontrada em alimentos pela primeira vez

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Pesquisadores canadenses encontraram, pela primeira vez em um produto alimentar, um tipo de bactéria com elevada resistência aos antibióticos. Isto significa que, agora, o risco de exposição a este perigo atingiu mais um estágio. A bactéria é resistente aos carbapenens, um dos últimos antibióticos no arsenal da medicina, agente de largo espectro de ação usado justamente contra bactérias multirresistentes. A pesquisa foi publicada na revista Emerging Infectious Diseases, do Centro de Controle de Doenças do Canadá.

De acordo com o artigo, em janeiro de 2014, testes de rotina encontraram um microrganismo produtor de carbapenemase em lulas que estavam à venda em um supermercado de produtos chineses em Saskatoon, Canadá. Carbapenemases são enzimas que destroem os carbapenenos. As bactérias encontradas nas lulas têm um gene que as faz produzir a enzima e este gene pode ser transmitido para outras bactérias.  Embora a bactéria possa não ser patogênica (o estudo informa que ela não foi completamente identificada, parece ser Pseudomonas fluorescens), a preocupação reside na disseminação do fator de resistência ao antibiótico.

Os cientistas já tinham encontrado este tipo de bactérias no meio ambiente e em animais, mas nunca no próprio alimento. A lula foi provavelmente importada da Coréia do Sul. Até esta descoberta, os cientistas e os médicos pensavam que a maioria das bactérias resistentes aos antibióticos que causavam infecções potencialmente fatais só eram encontradas em contextos hospitalares e se espalhavam através de pessoas infectadas.

Esta descoberta indica que um segmento muito mais amplo da população está potencialmente em risco. Mas há formas de luta: no caso em questão, se a lula for cozida a uma temperatura interna final segura, as bactérias serão destruídas. O problema fica sendo a contaminação cruzada na cozinha.  Se os alimentos consumidos crus, como saladas, entrarem em contacto com a lula crua ou utensílios e superfícies contaminados por ela, a bactéria pode facilmente contaminar alguém e se espalhar.  

Os cientistas canadenses não sabem como a lula adquiriu as bactérias. Ela pode ter sido contaminada durante o processamento, transporte, manuseio ou a partir do ambiente. Segundo eles, esta descoberta cria uma “necessidade urgente de expandir o acompanhamento e monitoramento desses microrganismos”. 

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