O post de hoje é uma entrevista com o Dr. Rafael Ribeiro Gonçalves Barrocas, auditor fiscal federal agropecuário do MAPA há 18 anos. Ele é mestre em Gerenciamento da Qualidade de Alimentos pela Wageningen University (Holanda), agrônomo formado pela UFV e coautor do estudo Identificação de perigos biológicos, químicos e físicos em alimentos de origem vegetal: Riscos associados, rotas de contaminação e medidas de controle. Este estudo contém um guia com um mapeamento claro dos principais perigos associados a alimentos vegetais, facilitando a elaboração do plano APPCC e a adoção de medidas preventivas eficazes. Foi apresentado no VII Workshop Food Safety Brazil, em Porto Alegre, RS, em agosto de 2025.
1 – Dr. Rafael, pode nos contar como surgiu a ideia de criar o guia?
A ideia surgiu da constatação da carência, no Brasil, de um material técnico-científico consolidado que auxiliasse o setor produtivo e o serviço oficial na identificação de perigos em alimentos de origem vegetal.
Com o aumento das exigências sanitárias nos mercados internacionais e a necessidade de fortalecer os controles baseados em risco, entendemos que um guia robusto e sistematizado seria uma ferramenta estratégica para apoiar tanto a implantação do APPCC nas empresas quanto a fiscalização oficial, principalmente no escopo do Programa de Segurança de Alimentos de Origem Vegetal (PSAOV) da SDA/MAPA.
2 – Como foi definida a metodologia para avaliação do estudo? Quais os principais critérios para definição dos riscos?
A metodologia adotada envolveu uma extensa revisão bibliográfica nacional e internacional, coleta de dados oficiais de monitoramento (como o PNCRC/Vegetal), consulta a publicações científicas e relatórios de agências reguladoras, como FDA, EFSA, ANVISA e CFIA.
Para definição dos riscos, levamos em conta três critérios principais: a severidade do perigo para a saúde humana, a frequência de ocorrência nas cadeias produtivas brasileiras e o potencial de disseminação ao longo da cadeia alimentar. O material foi estruturado segundo as categorias de perigos (biológicos, químicos e físicos), com detalhamento por produto ou grupo de alimentos vegetais.
3 – Quais foram os maiores perigos encontrados? Em quais alimentos?
Entre os perigos biológicos, destacam-se patógenos como Salmonella spp., Escherichia coli O157:H7 e Listeria monocytogenes, especialmente em hortaliças folhosas consumidas cruas (para mais informações sobre parasitas em vegetais, leia Risco microbiológico de parasitas protozoários em alimentos).
No grupo dos perigos químicos, são os resíduos de agrotóxicos, micotoxinas, como aflatoxinas em amendoim e milho (leia mais em: Será que a alface está limpa mesmo? Sanitização de vegetais).
Já nos perigos físicos, fragmentos de vidro, metais e plásticos rígidos foram relatados com frequência em alimentos industrializados. Esses achados reforçam a necessidade de controles integrados em todas as etapas da cadeia, da produção primária ao processamento.
4 – Pensando em avaliação de risco, como os produtores de alimentos podem aproveitar este guia para trazer mais segurança aos processos?
Pequenos e médios produtores, que nem sempre têm acesso a consultorias especializadas, podem usar o material como referência técnica para implementar boas práticas agrícolas, higienização, rastreabilidade e monitoramento ambiental. Além disso, ao incorporar esse tipo de abordagem, os produtores ganham maior previsibilidade nas auditorias e mais competitividade em mercados exigentes.
5 – Quais as principais conclusões do estudo?
A principal conclusão é que a inocuidade de alimentos vegetais depende de uma abordagem integrada e baseada em risco. O estudo mostra que muitos perigos podem ser controlados com medidas relativamente simples, como manejo adequado da água de irrigação, controle de temperatura, capacitação de manipuladores e programas de higiene estruturados.
Também reforça a importância do alinhamento entre setor regulado e serviço oficial, com base em critérios técnicos e objetivos. O guia contribui para esse alinhamento ao oferecer uma base comum de conhecimento.
6 – Pensando no futuro, há planejamento de produção de novos guias para outras categorias de alimentos?
Sim. A equipe técnica da DIPOV/SDA já discute a ampliação do escopo, com foco em alimentos minimamente processados, polpas de frutas congeladas, grãos e sementes destinadas ao consumo humano.
O objetivo é que o guia se consolide como uma referência viva e atualizada dentro do Programa de Segurança de Alimentos de Origem Vegetal (PSAOV) do DIPOV, contribuindo continuamente para elevar o padrão de segurança dos alimentos vegetais no Brasil.
Quer ter acesso ao guia completo? Clique em: Repositório Institucional do MAPA: Identificação de perigos biológicos, químicos e físicos em alimentos de origem vegetal : Riscos associados, rotas de contaminação e medidas de controle.
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