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A fabricação de colágeno é segura?

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Hoje nossa colunista Cristina Leonhardt está de aniversário e nos presenteia com uma entrevista bastante esclarecedora através de sua bagagem de quem trabalha com ingredientes e aditivos, matérias-primas presentes em quase todas as indústrias alimentícias. Sua experiência com colágeno também nos possibiliza uma visita especial ao segmento.

Principal matéria-prima para a fabricação de gelatina e colágeno, a pele bovina recebe tratamento químico bastante agressivo nos curtumes. Alguns produtos utilizados são autorizados  também pelo próprio SIF (Serviço de Inspeção Federal) para tratamento de peles para a indústria do vestuário, com utilização maciça do cromo. Qual o grau de confiança que podemos ter em relação à eliminação deste metal pesado como um perigo?

O processo de curtimento para a derme bovina utilizada em alimentação não envolve cromo. O processo que usa cromo gera o produto wet blue, que é usado no segmento de estofados, calçados, automotivo, etc. O MAPA exige que os curtumes que destinam parte da sua produção à alimentação humana tenham setores completamente separados dos demais para este processo. Não há legislação nacional para produtos colagênicos para alimentação humana, desta forma o processo baseia-se na legislação europeia (Regulamento (CE) nº 853/2004), que limita a quantidade de cromo a 10ppm. Nosso histórico de avaliações indica que os níveis reais são sempre inferiores a isto.

 Quais medidas são adotadas pelo MAPA, e que sejam confiáveis, em relação à certificação e rastreabilidade bovina, assegurando que um subproduto do abate, o couro, possa ser transformado em alimento sem oferecer risco à saúde?

Os curtumes que nos atendem passam por processos de fiscalização do MAPA, que exige que todo couro seja obtido de animais sadios abatidos sob fiscalização dele. Todos os couros são legais, ou seja, comprados com declaração de procedência, guias de trânsito e documento comercial e foram devidamente liberados pelo frigorífico com autorização do SIF local. Além disso, há fiscalização do MAPA via um inspetor dentro do curtume e um inspetor do curtume dentro do frigorífico. Esta fiscalização também envolve o processo de boas práticas da obtenção da derme bovina – por exemplo, exigindo o uso de toucas, higienização de equipamentos, armazenamento adequado, químicos devidamente separados, entre outros. A derme transformada em alimento pela JBS é 100% desenvolvida pela Unidade Colágeno, garantindo o uso de produtos químicos adequados à alimentação humana. Temos um setor técnico responsável unicamente pelo abastecimento da fábrica com dermes adequadas à alimentação – realizando fiscalizações periódicas, desenvolvendo e acompanhando processos, realizando a rastreabilidade desde o fornecedor, lote a lote.

Posteriormente, nosso processo é fiscalizado pelo MAPA (somos a única produtora nacional de colágeno com SIF para alimentação humana). Além disso, temos um robusto sistema de auto-controle implantado, já que, na inexistência de legislação local, a empresa estabeleceu uma série de controles ao longo dos anos (tanto nos seus fornecedores, quanto no processo interno) para atendimento da legislação internacional de alimentos e das expectativas de seus clientes.

Diversas condições insalubres são percebidas nos curtumes e na transformação das peles em alimento. Elas incluem o contato com produtos químicos agressivos e seus vapores, altas temperaturas, entre outras condições. O elevado turnover é característico deste segmento. É possível perceber este impacto no resultado dos produtos? Apenas os treinamentos frequentes são suficientes para capacitar os colaboradores e evitar desvios?

O turnover de curtumes tem diminuído ao longo dos últimos anos, devido à preocupação com ergonomia e condições adequadas de trabalho. Por exemplo, cada vez mais as indústrias químicas do segmento coureiro vêm desenvolvendo insumos que atendam ao processo com qualidade e que sejam menos agressivos, reduzindo odores, facilitando manuseio, reduzindo número de reações espontâneas. Os curtumes tem automatizado e normatizado seus processos, aumentado controles e implantado procedimentos.

Como a transformação de pele em alimento somente ocorre nesta unidade no Brasil, vou falar da minha empresa. Nosso turnover é bem pequeno, abaixo de 1,5% ao mês, pois a empresa toma uma série de medidas para contê-lo: programas de motivação e retenção, adequação de condições insalubres, automação das linhas, presença marcante do setor de Segurança do Trabalho e RH na rotina e outros procedimentos internos.

Pela minha experiência, o turnover causa detrimento à segurança de alimentos em qualquer empresa, não sendo específico da área de produtos colagênicos. Tampouco condições insalubres são exclusivas do setor. Minha leitura é que o assunto segurança merece mais atenção do empresariado nacional, em todos os segmentos.

Que dicas você dá para as empresas que tem que utilizar especiarias importadas na hora de gerenciar pesticidas e micotoxinas?

 Pesticidas: Faça sua lição de casa: compre de olhos abertos, entenda o produto, como ele é produzido, o que pode ser esperado dele. E analise. Muito, repetidamente, todos os lotes pelo menos até montar um histórico de cada fornecedor. Faça auditorias in loco ou contrate uma empresa que as faça por você.

Micotoxinas: atente-se à armazenagem, transporte, umidade de embarque e desembarque dos produtos. Acompanhe desembarques: inspeção visual já pega muita coisa, mas mesmo assim analise, muito, repetidamente, todos os lotes pelo menos até montar um histórico de cada fornecedor. Faça auditorias in loco ou contrate uma empresa que as faça por você.

 Ambas: Compre de empresas confiáveis e lembre-se que a qualidade tem um custo. Ou seja, preço não deve ser o balizador do negócio, principalmente considerando que as especiarias participam em pequena quantidade no custo final do produto, mas tem um potencial de estrago imenso se não forem bem produzidas. Estude, leia aqueles artigos técnicos pendentes no seu HD. Informe-se sobre o que está comprando.

 

 

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Entrevista: Michel Assis

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Nosso colunista Michel Assis completou 36 anos esta semana. Mantendo nossa tradição, publicamos uma entrevista com este fiscal Federal Agropecuário para que nossos leitores possam conhecê-lo um pouco melhor.

Você percebe contrastes em termos de gestão nas pequenas e grandes empresas?
Sim, percebo. Geralmente, há uma maior profissionalização nas  grandes empresas, que têm RTs qualificados, gestão de produção e qualidade e a direção é mais comprometida. É claro que não podemos generalizar, conheço indústrias muito pequenas, familiares, que se profissionalizaram e conseguem executar de forma desejável quase todos os programas de autocontrole. Mas isso não é tão comum, pois a maioria das pequenas ainda tem dificuldades em implantar os programas de qualidade básicos (BPF e PPHO) e não investem em treinamento. Temos que considerar também em que instância o estabelecimento está registrado (SIM, SIE ou SIF) porque sabemos que uma cobrança efetiva por parte do Serviço Oficial, baseada na legislação e em pressupostos técnicos reconhecidos, influencia muito no desenvolvimento de uma empresa.

Quais são os fatores de sucesso para a adequação aos requisitos do Ministério?
Acredito que os fatores de sucesso são justamente os que citei acima: 1º profissionalização da atividade, principalmente para os pequenos; 2º comprometimento da direção da empresa com a qualidade; 3º investimento em treinamento e gestão da qualidade (autocontroles).

 O que o empresário brasileiro ainda precisa aprender para fazer direito?
Na minha opinião, o empresário brasileiro precisa primeiramente reconhecer que ele é o responsável pela qualidade dos produtos que comercializa, que em uma relação de consumo o elo mais frágil é sempre o consumidor e este deve ser sempre priorizado. Sempre temos que considerar que os alimentos podem transmitir doenças. E sempre digo que trabalhar com alimento não é brincadeira, não é uma atividade fácil. Se o empresário quer uma atividade mais tranquila, com menos riscos, que vá fabricar plásticos ou tijolos. 

 Você também já vigiou aduana sanitária em fronteiras. O que o brasileiro anda tentando trazer indevidamente? (para saber mais, leia o post Alimentos que não podem cruzar nossas fronteiras)
 No aeroporto internacional Hercílio Luz, em Florianópolis, onde atuei, os principais produtos apreendidos são doces de leite, queijos, frutas e vegetais “in natura”, às vezes carnes e pescados e também lanches de bordo com queijo e presunto. Acredito que muita coisa ainda entra no Brasil sem a devida autorização e isso é um risco iminente para a Defesa Agropecuária Nacional, e consequentemente para a produção de produtos agropecuários para o mercado interno e para exportação. A nossa vigilância agropecuária ainda é deficiente, seja por falta de pessoal, por deficiência de estrutura (principalmente nos  aeroportos) ou até pelo método de vigilância que é realizado. Na minha opinião, a vigilância por amostragem é falha, deveríamos ter equipamentos de raios X, operados por pessoas qualificadas, que  pudessem inspecionar 100% das bagagens que entram no nosso país em  busca de produtos agropecuários. Isso já acontece, por exemplo, no  Chile e na Argentina.

Qual é o valor da multa para o infrator?
Não é aplicada multa, apenas os produtos são apreendidos e  inutilizados por tratamento térmico.

  O que podemos esperar em termos de evolução na legislação sanitária?
 Tecnicamente falando, existe um direcionamento em adotar critérios harmonizados internacionalmente, principalmente dos europeus e americanos, mas nem todos porque muitos não são aplicáveis ao Brasil. Um exemplo disso é a lavagem de carcaças com água sob pressão e aspersão com ácidos orgânicos. Eu acredito que em alguns anos o Brasil passe a autorizar, até porque os europeus já estão considerando esta possibilidade, mas que isso não seja subterfúgio para permitirmos contaminações fecais e biliares nas carnes, o que é inaceitável.
 A nossa legislação realmente está atrasada com relação ao mundo e isso, para nós técnicos que entramos há dez anos atrás em um Ministério que sempre foi referência mundial em Inspeção Sanitária, tem sido bastante frustrante. As decisões de revisar as Leis e Normas são dos Gestores Públicos e eu infelizmente não tenho perspectiva de que haja uma evolução representativa antes de 2015.
Já existem muitas propostas de revisão prontas, faz alguns anos, inclusive com os devidos pareceres jurídicos, mas não seguem para publicação. Dois exemplos disso são o nosso RIISPOA (Regulamento de Inspeção de 1950) e a Portaria 711 (Normas de Suínos). Para terem uma  ideia, na revisão do RIISPOA, inciada em janeiro de 2008, participaram  mais de 100 técnicos (entre fiscais, professores e expertos), foi gasto muito dinheiro, e faz 3 anos que a proposta, extremamente necessária para atualização da nossa legislação, está aguardando autorização superior para ser publicada.

 Suas gêmeas estão com quase dois aninhos. Como são os cuidados com elas em casa em relação a alimentação?

 Procuramos dar alimentos feitos por nós ou os mais naturais possíveis, mas nem sempre é viável. Nessa fase  elas não estão querendo comer frutas, então damos batidas,  junto com o leitinho. Sempre fazemos  suco de laranja lima ou melancia para levarem e quando dá mandamos  almoço de casa também. Quando não dá, elas comem uma “quentinha” da  escola mesmo. Para os lanchinhos, damos biscoitos integrais e iogurte  integral, o de verdade, não aquelas bebidas lácteas fajutas. E de  noite, a sopa sou eu que faço e congelo alguns potes. Cada sopa dura  de 3 a 4 dias, mas eu tento fazer em menos tempo para revezar. Sempre  coloco muitas verduras e legumes, carne bovina ou de frango e um  macarrãozinho pra dar “sustança”.

 

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Entrevista com Humberto Soares: há um “jeito brasileiro” de gerir segurança de alimentos?

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Nosso colunista Humberto Soares já produziu mais de 30 posts desde a inauguração do blog, em abril de 2012.

Hoje ele compartilha conosco um pouco de sua experiência de mais de vinte anos de carreira como engenheiro de alimentos.

FSB – Você tem vivências na implementação de sistemas da qualidade e segurança de alimentos. O que funciona e o que não funciona na gestão de um grupo?
JHS – Quando há uma diretriz única e forte partindo da Alta Direção, a implementação tem sucesso, mesmo que haja mudança de objetivos durante o processo. Mas se os programas de segurança e qualidade passam por muitos avanços, recuos e interrupções; quando são necessárias muitas negociações internas entre os departamentos para se obter um consenso ou se diante de qualquer problema maior, os programas de qualidade ficam ameaçados, os funcionários sentem estas hesitações e caminham no mesmo ritmo.

FSB Você já trabalhou em mais de uma indústria de produtos à base de açúcar, como balas e confeitos. Quais as dificuldades deste setor em relação à qualidade e segurança dos alimentos?
JHS – Este é um segmento exportador que deve cumprir requisitos de diferentes países e clientes. Existem mercados que preferem a Certificação AIB, como EUA e Canadá, outros exigem BRC e outros querem pelo menos uma certificação em APPCC. Esta diversidade leva a empresa a certificar cada parte da planta por uma Norma, conforme os contratos de vendas, o que não é fácil de conduzir. Em termos de mercado interno, como a competição neste setor é acirrada e os produtos tem que ter baixo custo, é preciso avaliar bem antes de investir na modernização de equipamentos ou mesmo de embalagens que, além de outras coisas, poderiam melhorar a qualidade e segurança do produto.

FSB Seus mais de vinte anos de carreira foram em empresas brasileiras e familiares. Há um “jeito brasileiro” de se trabalhar com segurança de alimentos?
JHS – Cada empresa em que trabalhei vivia uma determinada situação, não posso generalizar. Nas empresas exportadoras, muitos esforços e investimentos para melhorar a segurança dos alimentos tinham origem nas exigências de clientes externos, principalmente nos casos de certificações, mas o resultado beneficiava o Sistema da Qualidade como um todo, ou seja, produtos destinados ao mercado interno também eram envolvidos. Não creio num “jeito brasileiro”, penso que os procedimentos e a cultura dependem do ambiente de cada instituição em particular.

FSB Você viaja muito nas férias para locais afastados e nem sempre urbanizados. Alguma dica baseada em experiência pessoal para não ter uma indisposição gastro-intestinal que acabe com a viagem?
JHS – Felizmente nunca tive um acontecimento deste tipo em minhas viagens para áreas não urbanas. Sempre viajamos em grupo e tomamos cuidado com as refeições. Para as caminhadas, só levamos produtos secos, como pães, castanhas e frutos secos, além de água. Em áreas rurais, muitas vezes nos alimentamos nas casas dos próprios habitantes da região, o que nos garante comida fresca e bem preparada. No interior da Bahia, tivemos um bom contato com a culinária local, pois comemos o cacto palma, miolo de jaca, casca de mamão verde, banana verde, todos cozidos e bem temperados. Apesar do cardápio inusitado, ninguém passou mal.

Curtas

Idade: 50 anos
Fato curioso na carreira: atualmente trabalho num projeto de implementação do conjunto de normas FSSC 22000 numa indústria que ainda está em fase de montagem. Desde o projeto da fábrica, instalações, equipamentos, desenvolvimento de produtos, etc, tudo é pensado para atender a FSSC mesmo sem a fábrica estar funcionando de fato. Esta é uma situação nova para mim e rara no mercado, pois as empresas que buscam a certificação em geral já existem e funcionam normalmente.
Orgulho profissional: ter desenvolvido produtos que impulsionaram o crescimento de uma empresa e foram líderes de venda no segmento por muitos anos.
Alimento que jamais come fora de casa: maionese e carne mal passada. Não apenas evito, mas tento fazer que com que quem estiver comigo também evite.
Em casa, cozinha seguindo as BPF?
Cozinho pouco e meus maiores cuidados são com os vegetais. Faço a higienização com hipoclorito de sódio antes de preparar as saladas. Além disso, arrumo a cozinha imediatamente após a refeição e não tenho lixos em cima da pia. Eliminei a esponja de aço por influência da Ana Cláudia, nossa colunista, e também por sugestão dela, higienizo os utensílios após a lavagem com álcool 70% em spray.

FSB – Qual é o post de sua autoria que mais gosta?
JHS – O que mais gostei de escrever foi Vinte anos de um surto de origem alimentar que ficou na história – Jack in the box, por ser um trabalho colaborativo. E tem outros 2 que merecem citação:
– O mais difícil de escrever: Bem-estar animal e segurança de alimentos: algo em comum?, pela extensão e pelo ponto-de-vista dos autores originais do artigo que comento no post;
O que gerou mais comentários: Legislação para cloro usado em tratamento de água de consumo humano, sendo que os comentários enriqueceram o texto.

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Parabéns, Juliane!

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Hoje é aniversário da nossa editora chefe, a Juliane Dias!

O Food Safety Brazil fez uma entrevista com ela, para entender um pouquinho mais de sua carreira na área de segurança de alimentos. Parabéns pelo sucesso!

 

– Como foi que você escolheu estudar engenharia de alimentos e se dedicar principalmente ao tema da segurança de alimentos na sua carreira profissional?

Quanto eu tinha 13 anos, minha mãe me disse que seus filhos teriam que ser capazes de pagar suas próprias faculdades. Para dar conta disso, ela deixou claro que seria necessário fazer um curso técnico, trabalhar de dia e estudar de noite. Eu tinha liberdade para escolher qual seria o curso, mas já estava determinada que seria a configuração. Na época de tomar a decisão, a revista Superinteressante publicou uma matéria de 3 edições sobre alimentação do brasileiro (O Brasil vai à mesa)  e fiquei fascinada pela área de nutrição. O curso mais correlato que havia em Campinas era o Técnico em Alimentos, do Cotuca/Unicamp, para o qual prestei Vestibulinho como treineira já na sétima série. Do técnico para a engenharia foi um caminho natural. Já o interesse pela segurança de alimentos foi surgindo no final da faculdade e também como influência do estágio em Garantia da Qualidade.

– Com a sua experiência de vários anos atuando em consultoria, quais foram as principais dificuldades que você encontrou?

Entendo que ainda há pessoas e organizações que enxergam o trabalho do consultor como uma ameaça, um atestado  de que “assumirei que não sou bom o suficiente se chamar alguém para ajudar”. Não há nada de errado em contar com parceiros especialistas para impulsionar um projeto e dar foco em suas tarefas principais, e esse conceito é aplicado há anos em outros segmentos.

-E o que te traz mais satisfação neste trabalho?

Voltar para a casa tendo a certeza que todo dia algo na rotina de uma pessoa ou empresa se tornou melhor ou mais prática, que alguém subiu um degrau de conhecimento ou ainda que aquela dúvida que estava emperrando vários processos foi esclarecida. Não tem dia inútil em consultoria. Se foi inútil, seu valor de mercado entrará em imediato declínio (risos).

– Você tem saudades do tempo em que trabalhou na indústria? Gostaria de voltar?

Trabalhar na indústria era tudo o que sonhei nos anos de estudo e estágios. Tinha muito claro que a supervisão de produção de uma fábrica me recrutaria várias competências, e realmente foi o que aconteceu. O aprendizado sobre as relações interpessoais e a dinâmica corporativa foi muito intenso e sou grata a este aporte, mas nos últimos anos outras frentes tem me seduzido e não tive o desejo de retornar.

– Você acredita que exista uma cultura nacional de negligência com a segurança dos alimentos?

O brasileiro não é negligente por que quer. Ninguém quer ter uma DTA, que seus parentes ou convidados de uma festa sejam afetados. Quem tem acesso à informação, coloca a boca no mundo quando se identifica como vítima de um alimento contaminado. O que falta é educação para a segurança de alimentos, seja para o consumidor, seja para os empresários da cadeia produtiva. Quem não sabe como trabalhar de forma mais segura, não enxerga as razões para investir mais ou tomar cuidados. O dono do restaurante deixa os alimentos mal refrigerados no buffet e o consumidor continua frequentando o local sem reclamar. O fiscal tem pena de autuar o local, pois este garante empregos.

Claro que há também a falta de ética em segmentos específicos, mas este já é um caso de polícia, como nas fraudes ou mesmo do empresário que mistura lotes de produtos diluindo um determinado contaminante.

– Quais são os desafios que você vê para o futuro da indústria de alimentos no que diz respeito à segurança de alimentos?

À medida que o conhecimento científico vai avançando, aumenta-se o cerco a perigos não reconhecidos no passado e a indústria tem que modificar seus processos e matérias primas, buscando alternativas tecnológicas mais seguras e viáveis. A acrilamida foi identificada como contaminante formado no processamento há apenas 10 anos, o bisfenol A não era reconhecido como desruptor endócrino e o corante caramelo reinava pacífico como um inocente corante natural. Os órgãos regulamentadores dão o ritmo das adequações. Há cenários onde há um prazo para a indústria se adaptar, como por exemplo, para as micotoxinas, mas em outros a vigência é imediata e na prática não há como subir um degrau tão rápidamente.

 – Você realizou  trabalhos fora do Brasil e também viaja sempre para Encontros e Simpósios Internacionais. Como avalia o estágio do Brasil e nossas indústrias de alimentos em relação aos outros países na questão da segurança de alimentos?

Tenho particular admiração pelo profissionalismo Chileno, pois nossos hermanos latinos despontam no mercado internacional pelos seus diferenciais de qualidade e sanidade em um país jovem. Lá o assunto é prioridade. Gosto também da forma americana de estabelecer regras e padrões claros com agilidade, sempre com muitos dados, pesquisas, indicadores. Vejo a indústria europeia sendo questionada e influenciada pelo consumidor. Mas me chama a atenção que os debates sejam mais ou menos homogêneos entre os países desenvolvidos ou em desenvolvimento: falta consolidar uma cultura de segurança de alimentos, é baixa qualificação dos manipuladores, o ritmo em que a legislação é editada não é coerente com as necessidades do mercado, a preocupação com a aquisição de matérias-primas importadas é crescente, há necessidade do estabelecimento de metodologias analíticas padronizadas…

– Quais são os pontos fortes e fracos do Brasil?

Existem duas realidades muito discrepantes aqui. As empresas que são exportadoras há anos seguem os protocolos mais exigentes do mercado internacional e estão entre as melhores do mundo. Fornecedores de grandes multinacionais também tendem a andar na linha, muitas vezes de forma mais disciplinada que seus próprios clientes. Porém, nessas mesmas empresas se um lote apresentar um determinado contaminante, havendo a possibilidade, ele é imediatamente desviado do fornecedor mais exigente para o menos exigente.  

 – Como surgiu a ideia de ter um blog de segurança de alimentos?

Eu já era seguidora de fóruns e páginas internacionais de segurança de alimentos, além de blogs de assuntos “não food”. Mas o estalo foi em 2012, na conferência anual do GFSI, onde assisti a uma palestra da Nielsen sobre redes sociais e comunicação da segurança de alimentos. Imediatamente saí com a inspiração de criar algo que viabilizasse a comunicação sobre segurança de alimentos. O primeiro passo foi o Facebook, e depois o blog.

– Quanto tempo transcorreu da ideia à realização?

O processo teria que ser democrático. Não teria muita graça um espaço na web onde um único autor ou organização se dispusesse a compartilhar suas mensagens isoladamente. Então precisei vender a idéia primeiro para colegas e amigos, e principalmente minha sócia, pois os investimentos necessários para alavancar a página  vieram do caixa da Flavor Food. Os conjunto da obra propiciado pelos colunistas é muito rico. Havia iniciativas semelhantes, mas nada com esse perfil.  A conferência do GFSI foi em fevereiro e o blog foi lançado em abril de 2012. 

 

 

 

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Entrevista com colunista – Juliana Levorato

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Dia 30 foi o aniversário de nossa colunista Juliana Levorato, e por isso nós a entrevistamos para que possam conhecê-la melhor:

 Você trabalhou por alguns anos no segmento de alimentos gordurosos. Quais são as dificuldades do setor? Como superá-las?

Falando das indústrias de alimentos no geral, acho que uma das principais dificuldades é conciliar produtividade com qualidade,  claro que o principal objetivo da empresa é produzir e ai consequentemente quando a situação aperta a qualidade que acaba sendo afetada. Superar isso não é fácil, por isso as equipes de qualidade tem que ser firmes, tem que cobrar e principalmente conscientizar. Outro fator que está contribuindo e muito para que a  qualidade seja prioridade é que o consumidor esta ficando mais exigente, mais crítico e botando a boca no mundo, isso deixa as indústrias mais preocupadas, ninguém quer ver sua marca sendo divulgada de forma negativa né. 

Como você enxerga hoje a aplicação do recall de alimentos no Brasil?
O fato de se ter um recall é uma situação que gera certo pânico a população, o que é inevitável, não tem como o consumidor não se assustar, sempre fica a dúvida do tamanho real do problema e da gravidade do mesmo.
No Brasil, o recall de alimentos é uma coisa nova e ainda não é bem estruturado, de acordo com o Procon de São Paulo de 2002 a 2013 foram feitas 10 campanhas de recall de alimentos(http://sistemas.procon.sp.gov.br/recall/relatoriosPHP/campanhas_recall_segmento_defeito.php), mas se perguntarmos à população no geral, no máximo um ou dois serão lembrados, até porque a divulgação não é tão grande na maioria dos casos.
Mas as coisas estão começando a mudar, na última semana a Anvisa divulgou que irá abrir uma consulta pública para elaborar regras para o recall de alimentos, veja reportagem na integra (http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2013/04/17/consulta-publica-sera-aberta-para-criar-regras-em-recall-de-alimentos). Quem sabe com estas novas regras as informações sejam mais claras e os consumidores se sintam mais seguros. 
 

 O que as empresas instaladas no Brasil, em geral, ainda precisam fazer para melhorar a segurança dos alimentos que produzem?

Acredito que as empresas e as pessoas precisam ter mais consciência do que um alimento contaminado, informações de rotulagem incorretas, uma falha no processo… podem causar na saúde de quem está consumindo, das sequelas que podem trazer como casos que já vimos aqui no blog . Muitas acham que nada vai acontecer e vão se acostumando a não fazer certo, a dar um jeitinho. Para melhorar é preciso que haja investimentos principalmente em treinamentos, em trabalhos fortes de conscientização desde os manipuladores até a alta direção. A partir do momento que for criada a “cultura” de segurança de alimentos dentro das empresas com certeza os riscos serão menores.
 

Por que ainda não fazem?
Ainda não fazem pela falta de cultura, por falta de fiscalização, que infelizmente é escassa no Brasil e por encararem qualidade como um custo, e não como investimento. Mas acho que esta situação esta começando a mudar, pois os consumidores estão ficando mais exigentes,mais interessados, com isso as empresas tem que garantir a qualidade para ter sucesso com suas marcas. 

 

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Food Chemical Codex – o que é e como utilizar

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 Os ingredientes alimentares são utilizados na grande maioria das indústrias de alimentos. Embora usados em pequenas quantidades, não se pode negligenciar a possibilidade da introdução de perigos através desta fração da formulação. Já escrevemos aqui no blog inclusive, como buscar referência para análise de perigos em aditivos e uma das referências citadas foi o Food Chemical Codex. Tivemos o privilégio de conversar com Dr Marcus Lipp, atualmente o responsável pela publicação destes padrões.

Que tipo de informação  pode ser encontrada no FCC?
O Food Chemicals Codex (FCC) é um compêndio que contêm especificações para a identidade, qualidade e pureza de cerca de 1.200 ingredientes alimentares como corantes, aromatizantes, emulsificantes, auxiliares tecnológicos e conservantes. Qualquer ingrediente alimentar legalmente comercializado em qualquer país do mundo é elegível para ser incluído no compêndio. É publicado pela USP (US Pharmacopeial Convention), que também fornece materiais de referência para apoiar estas especificações. 

De que forma esses documentos podem ser utilizados?
Os padrões do FCC são úteis em diversos casos, inclusive para manter a conformidade com a legislação e para realizar transações rotineiras como utilizá-lo como referência ao fechar contratos entre os fabricantes de alimentos e fornecedores de ingredientes. Podem ajudar a manter a transparência e a garantir que todas as partes têm as mesmas expectativas em relação à qualidade, mantendo a igualdade de condições. Em uma cadeia de alimentos globalizada, padrões fornecem benefício real, já que podem ajudar os fabricantes, reguladores e interessados a distinguir os produtos originais e produtos fabricados com ingredientes inferiores ou adulterados. Temos visto muitos casos de adulteração e fraude de alimentos nos últimos anos que reforçam esta preocupação. Um dos usos mais poderosos dos padrões é em testes de autenticidade. Para acompanhar o ritmo de adulterações, o desenvolvimento de mais testes de autenticidade específicos para ingredientes alimentares é um foco central da USP. Como a lista de adulterantes potenciais é quase interminável, os padrões do FCC se concentram em testes específicos para se comprovar o que a substância é, em vez de testar a ausência de adulterantes específicos (uma abordagem mais viável e econômica).
Como essas monografias são desenvolvidas?
Os padrões do FCC são desenvolvidos através de um processo aberto, transparente e público que convida os comentários de todos os interessados para chegar às melhores especificações possíveis. Geralmente, a USP trabalha com uma empresa responsável (fabricante / fornecedor) que cede um draft de monografia para a USP com base em sua própria especificação. Os pesquisadores da USP, então, trabalham com um Comitê voluntário de Especialistas (que compreende especialistas independentes de uma variedade de disciplinas) na análise destes dados, realizando testes laboratoriais necessários e garantindo que a informação estará sujeita a um novo processo de revisão e comentários do público. Uma proposta de um novo padrão ou revisão de um padrão FCC é publicada no Fórum da FCC, um veículo online gratuito através do qual USP publica e solicita comentários públicos sobre projetos durante 90 dias (mais informações e um link para o Fórum da FCC podem ser encontrados em www.usp.org / fcc).

 Depois de considerar todos os comentários, o padrão é novamente analisado e aprovado pelo Comitê de Especialistas. Se mudanças significativas foram feitas, o padrão será novamente publicado no Fórum para revisão pública. Através deste processo robusto, USP garante que seus padrões estão adequados.

E há aceitação destes padrões pela ANVISA?

 A ANVISA no Brasil, assim como ocorre na maioria dos países do MERCOSUL consideram o FCC como uma referência para se determinar se uma substância é de qualidade alimentar, a menos que haja uma legislação específica definindo especificamente isso para um determinado ingrediente.
Existe alguma relação entre as monografias FCC e as normas do Codex Alimentarius?
A Comissão do Codex Alimentarius, criada pela FAO e pela OMS em 1963, desenvolve normas harmonizadas a nível internacional de alimentos, orientações e códigos de prática para proteger a saúde dos consumidores e assegurar práticas eqüitativas no comércio de alimentos. Essas normas alimentares são reconhecidas internacionalmente e muitas vezes formam a base para uma legislação nacional. O Comitê de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA) em nome de Codex Alimentarius analisa a segurança dos ingredientes alimentares e muitas vezes refere-se aos padrões da FCC, a fim de definir um ingrediente alimentar. USP faz todos os esforços para se harmonizar com o Codex Alimentarius, no entanto, ao contrário do JECFA, a USP possui a capacidade para atualizar procedimentos analíticos para garantir as melhores ferramentas disponíveis para indústria e reguladores, a fim de determinar a autenticidade de ingredientes alimentares e, portanto,os métodos encontrados no FCC são freqüentemente mais adequados para as atuais práticas de laboratório. Além disso, o FCC também engloba o desenvolvimento de padrões para ingredientes alimentares que estão fora do âmbito de trabalho do JECFA.
– Pode uma monografia do FCC ser usada como referência durante a análise de perigos para as empresas que estão implementando HACCP? Por exemplo, quando um metal pesado é referido, ele deve ser automaticamente gerenciado como um possível perigo de um ingrediente?
A base de qualquer análise de perigo de um ingrediente alimentar e da sua cadeia de fornecimento é o conhecimento profundo da identidade e autenticidade de tal ingrediente. Sua identidade é relevante para avaliar a segurança de tal ingrediente e sua autenticidade é fundamental como uma pista que não há outros produtos químicos desconhecidos e indesejáveis presentes que podem representar um perigo para o consumidor. Apenas ingredientes alimentares com identidade conhecida e verificada podem ter sua segurança avaliada. Isto pode ser melhor ilustrado através de um exemplo, sucos de fruta frescos não devem conter qualquer água adicional; sucos de fruta industrializados, no entanto, normalmente contêm, além de suco de fruta, água, açúcar, acidificantes e aromatizantes, adicionando ingredientes para o plano HACCP que não se espera que estejam presentes em sucos de frutas frescos. Assim, para a integridade da segurança dos alimentos e do plano de HACCP, é essencial verificar a autenticidade de um alimento, ou seja, a ausência de adulteração. Quando a adulteração ocorre sem ser detectada, a segurança da cadeia de abastecimento, o alimento e, finalmente, o consumidor fica à mercê da ética e conhecimento do criminoso que comete a adulteração, pois só essa pessoa vai saber a composição do ingrediente alimentar e, portanto, pode avaliar a sua segurança.
Além disso, as monografias do FCC ajuda no estabelecimento de limites para alguns dos contaminantes mais comuns, tais como metais pesados nos planos HACCP. No entanto, legislação nacional ou regional devem ser consideradas para o estabelecimento de limites para contaminantes.


O que pode ser feito para melhorar os métodos de garantia de qualidade? Quais são as lacunas, mais especificamente falando?
Muitas abordagens para se garantir uma cadeia de alimentos segura são utilizadas pela indústria de alimentos. Estes incluem a ISO 22000, a Iniciativa Global para a Segurança dos Alimentos, British Retail Consortium (BRC) e outros sistemas que ajudam um fabricante a fornecer alimentos seguros para os clientes. A maioria dos sistemas de garantia de qualidade são construídos para procurar riscos conhecidos. Por exemplo, se você sabe que X é um subproduto de Y, você sabe que deve procurar X. No entanto, a adulteração econômica representa um desafio em que as substâncias utilizadas são muitas vezes pouco convencionais e inesperadas e são projetadas para serem invisíveis aos testes de rotina de garantia da qualidade. No caso de um adulterante desconhecido, muitos destes sistemas são discutíveis. A verificação periódica contra os padrões FCC, que definem a identidade de um ingrediente, pode ser uma ferramenta critica, e o conhecimento da autenticidade dos ingredientes alimentares é o elemento mais básico do sistema de qualidade  e segurança dos alimentos. Infelizmente, isso muitas vezes não é controlado, com os fabricantes assumindo que os ingredientes que compraram são de fato o que eles afirmam ser.

Dr. Markus Lipp é o Diretor Sênior de Padrões de Alimentos da Farmacopéia EUA (USP), responsável pelo “Food Chemicals Codex”. É Ph.D. em química analítica pela Universidade de Karlsruhe, Alemanha.

 

 

Tradução: Ana Cláudia Frota

5 min leitura Os ingredientes alimentares são utilizados na grande maioria das indústrias de alimentos. Embora usados em pequenas quantidades, não se pode negligenciar a possibilidade da introdução de perigos através desta fração […]

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Entrevista com colunista: Camila Miret

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Neste mês de aniversário do blog, nossa equipe decidiu inaugurar mais um ciclo de surpresas para nossos leitores.

Todo colunista faz aniversário, certo? Então nesta data publicaremos uma entrevista com cada um para podermos conhecê-los melhor.

Hoje, com a palavra, Camila Miret:


Por que escolheu trabalhar com segurança dos alimentos? Sempre pensou em atuar na área, ou simplesmente os caminhos te levaram a isso?
Foi a atração pelo tema, que começou desde a faculdade, quando tive a matéria específica, e depois busquei caminhos, com o mestrado. A segurança de alimentos é muito relevante e adoro trabalhar com ela.

O que mais lhe marcou da experiência de fazer um mestrado em Portugal, na área de segurança de alimentos?

Foi a interação com os colegas nas aulas, que incluía uma aluna de Moçambique, e principalmente a receptividade tanto dos professores e funcionários da faculdade quanto da empresa em que estagiei. Valorizo muito as amizades que conquistei nos dois anos lá e a experiência profissional no estágio da fábrica de concentrado de tomate. O trabalho foi levado bem a sério por todos, adorei.

O que gostaria de ver nesse nosso Brasil, em termos de segurança de alimentos?
Gostaria de ver uma ANVISA mais atuante e antenada nas novidades, com legislação atualizada, profissionais mais qualificados  e estudos mais aprofundados, e também que as “pontas” da cadeia (produção agrícola, transporte dos produtos finais e pontos de venda) levassem mais a sério o assunto de segurança dos alimentos, e se preocupassem com o consumidor e a saúde pública. Se cada etapa da cadeia fizesse o seu papel adequadamente e estabelecesse seus controles, não oneraria tanto a indústria de alimentos. Também gostaria que existissem mais ações de educação dos consumidores.

Quais são seus projetos futuros?
Não vejo a hora de ter o meu primeiro cliente de consultoria certificado. Nenhum deles ainda concluiu os projetos e não chegou ao momento da certificação, mas isso vai acontecer.

Quando você cozinha, toma algumas providências especiais?
Confesso que não sou muito fã de cozinha e raramente faço qualquer coisa. Não tomo nenhuma providência “especial”, só as clássicas e básicas como: lavar as mãos, retirar adornos, prender os cabelos, usar tábuas separadas, entre outras.

Qual é a sua maior frustração como profissional da área?
O desconhecimento do mercado sobre engenharia de alimentos e a desvalorização do profissional, com salários baixíssimos e ao mesmo tempo, grandes responsabilidades para com a saúde pública. Recentemente a ANVISA publicou edital de  concurso, considerando como aptos para concorrerem aos cargos de especialistas em regulação e vigilância áreas que pouco têm a ver, como engenharia mecânica, elétrica e de materiais, e nem sequer mencionaram a engenharia de alimentos. Falta regulamentação para o engenheiro de alimentos, falta fortalecer a categoria.

Qual você considera seu grande momento profissional?
Foi a conclusão do mestrado, o dia da defesa da tese, que me marcou muito e tenho certeza que foi o maior passo que dei para trabalhar com segurança de alimentos.

Qual o tipo de empresa/segmento/atividade mais difícil de auditar?
As dificuldades em auditoria, pelo menos para mim, não estão tão relacionadas a uma atividade ou um segmento, mas sim, a certas situações. Ir auditar uma empresa pela primeira vez sempre dá um friozinho na barriga, porque não sabemos como vamos ser recebidos (às vezes o auditor é visto como inimigo). Temos que ter jogo de cintura para lidar com pessoas, pessoas com diferentes personalidades e estado de espírito. Já observei uma auditoria
numa empresa em que a responsável pela qualidade era extremamente nervosa e ansiosa, tremia e parecia que ia se “desmontar” diante de nós.

Como auditora, percebe muita diferença na formação e grau de preparo do
pessoal das pequenas e médias empresas x grandes corporações?

Sim, já aconteceu algumas vezes. Normalmente as empresas menores não têm condições de investir na contratação e na qualificação de seus profissionais. Mas a principal diferença está entre as regiões do Brasil.
Infelizmente, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda são bastante carentes em termos de formação do pessoal e oportunidades de desenvolvimento, quando comparamos com Sul e Sudeste.

O que lhe dá mais satisfação no trabalho como auditora? 
Certamente é ter a oportunidade de poder voltar a um cliente já auditado anteriormente e ver a evolução das pessoas, do sistema de gestão, das práticas. Gosto de agregar valor e é bem gratificante quando auditamos uma
empresa que dá a devida importância à certificação, ao seu sistema de gestão e ao processo de auditoria, e enxerga isso como uma bela ferramenta de melhoria contínua.

Qual o seu post preferido do blog Food Safety Brazil?
Difícil dizer exatamente qual o post que mais gosto, mas curto demais a seção “Fator RH” com os textos e dicas do Crístian. O post de Fernando Ubarana, com os “Causos de auditor – graxa mais do que alimentícia” também é bem engraçado. O “Depoimento de uma mãe de bebê alérgico”, de Juliane Dias, me tocou e me chamou muito a atenção de como é difícil lidar com esta situação.

O que você não come na rua?
Tenho uma boa resistência contra intoxicações e infecções alimentares, mas passo longe de espetinhos, salgados caseiros e queijo coalho que costumam vender nas praias.

Qual post publicado lhe dá mais orgulho?
Sem dúvida o de tratamento de não conformidades. Estou bolando outros artigos relacionados ao tema.

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Listeria e E.coli não atormentam os brasileiros?

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Nada menos do que 42% dos canadenses maneiraram o consumo de carne por estarem preocupados com os surtos de E.coli O157, bactéria produtora de toxina shiga. Esta toxina pode levar à síndrome hemolítica urêmica, uma doença que pode vir a causar falhas renais e tornar as pessoas dependente de hemodiálise para sobreviver, além de poder causar morte em certos casos. Mas não só esta bactéria é motivo de apreensão: nos EUA, o surto com maior número de mortes dos últimos 90 anos foi causado por Listeria monocytogenes que em 2011, ceifou 29 vidas e causou um aborto.

Como os dados epidemiológicos de doenças causadas por alimentos no Brazil  não apontam correlação com estes patógenos e o consumo de algum alimento, convidamos a professora e pesquisadora Maria Teresa Destro, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, para nos conceder esta entrevista e esclarecer se devemos ou não nos preocupar com esses micro-organismos tão importantes em outros países.

 

Afinal, nós temos presença de L. monocytogenes no Brasil? Nossos alimentos são contaminados com eles?

Listeria monocytogenes é um patógeno muito comum, tanto no Brasil como nos demais países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Por ser um microrganismos de origem animal (zoonose), mas que resiste muito bem às condições ambientais, é muito fácil encontrarmos Listeria nos mais diversos  tipos de amostras: solo, plantas forrageiras, esterco, água não tratada, resíduos de indústrias alimentícias, animais silvestres, ambiente de indústria de alimentos. Por essa razão é muito fácil encontrar esse microrganismo em alimentos, mas deve-se levar em consideração que a simples presença de Listeria monocytogenes em um alimento não significa risco ao consumidor! Isso porque nos alimentos in natura que ainda passarão por algum processamento térmico (p. ex. pasteurização, cocção) o microrganismo será destruído e não virá a ocasionar problemas à saúde. Já em alimentos prontos para o consumo, que têm vida útil longa e permitem a multiplicação desse patógeno o risco, para a população suscetível, existe.

Quem é a população suscetível à listeriose?

São os indivíduos idosos, os imunocomprometidos, as crianças menores de 5 anos e as mulheres grávidas.

 Existem casos de listeriose no Brasil?

Infelizmente no nosso país são escassos os dados sobre ocorrência de listeriose e, nos poucos que existem, não foi avaliada a relação com o consumo de alimentos. Creio que a doença deva ocorrer em nosso país, mas que não seja identificada, já que uma grande variedade de alimentos, prontos para o consumo, daqui apresentam esse microrganismo.

 Os pesquisadores  brasileiros encontraram Listeria monocytogenes em quais alimentos prontos?

Estudos feitos em nossos laboratórios, e também em outros do país, indicaram a presença de L. monocytogenes em diversos produtos prontos para o consumo: embutidos cárneos cozidos, como presunto, salsichas comercializadas a granel, apresuntado, mortadela, etc; em queijos como o minas frescal, coalho, colonial; produtos a base de pescados; vegetais minimamente processados, dentre outros. Mas é importante ressaltar que a listeriose acomete somente uma pequena parcela da população e que, como ainda não se conhece a dose infecciosa (ou seja, quanto da bactéria tem que ser ingerida para causar a doença) não se pode simplesmente condenar um alimento devido a sua presença. Há necessidade de avaliações mais criteriosas para se definir se aquele alimento representa risco para a disseminação da doença.

É importante também dizer que, muitas vezes, a contaminação dos produtos se dá na etapa de comercialização, com p. ex. fatiadores de frios; bandejas de acondicionamento de produtos.

Falando sobre outro patógenos de muita repercussão lá fora, os produtores de toxina-shiga, como algumas cepas de E.coli. Estes patógenos fazem parte da microbiota brasileira?

Sim, temos E. coli produtoras de toxina de shiga em nosso meio, mas os estudos que têm sido feitos em nosso país indicam que as que são mais frequentes por aqui raramente (pois nunca em microbiologia não existe!) foram associadas a doenças transmitidas por alimentos. Trabalhos realizados em nossos laboratórios mostram que em carnes bovinas brasileiras (carcaças ou carne moída adquirida nas diversas regiões da cidade de SP) a frequencia de E. coli produtora de toxina de shiga pertencente ao grupo das “Big 6”, que atormenta os americanos, é baixa. Por exemplo: no estudo com carne moída, de +280 amostras avaliadas somente em 1 (0,4%) se detectou uma das Big 6.

Devemos tomar algum cuidado?

O problema de contaminação das carnes, por qualquer patógeno, está ligado principalmente com as carnes moídas. Nos cortes de carne, obtidos de animais sadios, a contaminação está restrita às superfícies; com a moagem essa eventual contaminação superficial é disseminada por toda a massa gerada havendo uma homogeneização da contaminação. Some-se a isso os problemas que possam existir com a higienização dos moedores (ou falta dela!), onde pode ocorrer acúmulo de produto e, portanto, multiplicação de microrganismos. Isso sem contar com as possíveis falhas na cadeia de frio.

Por essa razão, produtos preparados com carnes moídas (p. ex. hamburguer) devem sempre ser consumidos bem-passados. Já aquela picanha, ou outro corte que tradicionalmente é servido em pedaços inteiros, não apresenta o mesmo grau de risco (risco zero não existe!).

  

 

 

 

Para terminar, gostaria de lembrar que higiene nunca saiu de moda e deve estar sempre presente quando o assunto é manipulação de alimentos, seja nas indústrias, no comércio, em restaurantes industriais ou em casa. Afinal, todos nós somos sempre consumidores de alimentos.

Referências da introdução:

Canadian Food Safety Alliance

CDC: Deadly Listeria Outbreak Halted in Record Time

 

 

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Tendências alimentares na Europa

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O velho continente  influencia muito o Brasil em relação ao mercado de alimentos. É o nosso principal destino de exportações, segundo dados do Ministério da Agricultura. Também é considerado um bloco formador de opinião, e por essa razão, conversamos com Gislene da Silva Razavet, que desde 2007 vive na França, atuando no segmento de lácteos. Ela nos preparou uma dissertação especial para entendermos o momento que a Europa está vivendo.

A Europa passa por uma grande mudança de hábitos alimentares, devido à vários fatores como a crise econômica, uma legislação mais restrita sobre os funcionais e um retorno à simplicidade.

 Alimentos funcionais, orgânicos, comércio justo, produtos locais, sem corantes, com aroma natural, sem aspartame. Esses são só alguns exemplos do tipo de chamadas que podemos encontrar nas prateleiras da Europa, o que provoca às vezes uma grande confusão na cabeça do consumidor.

 A quantidade de produtos industriais é imensa. As vezes é mais barato comprar os produtos congelados ou enlatados que os produtos frescos, algumas frutas encontram-se na forma de geleias, sucos, mas não se encontra mais o produto fresco.

 Como uma boa parte da alimentação na Europa é composta de produtos industriais, existe uma tendência de retorno à simplicidade. Quanto menos ingredientes, aditivos, melhor. Os corantes artificiais praticamente não existem mais, nem nas balas ou confeitos, ou melhor, o mínimo de corante possível. Uma migração aos aromas naturais e uma tentativa de reduzir os aditivos.

 A naturalidade é sem duvida um pedido do consumidor, mas que as empresas ainda não conseguem atender à 100%, pois desde que há um compromisso do sabor, o consumidor prefere os aditivos à um produto inferior. O sabor é o rei, esta acima de tudo, mesmo dos benefícios de saúde.

 Os alimentos funcionais fizeram euforia durante uma boa década (antioxidantes, Omega, probióticos  produtos que auxiliam o regime), mas com a crise, o consumidor se torna mais critico e duvidoso de certos benefícios, compara mais e se pergunta se realmente o custo vale à pena.

Junto à isso, houve uma uniformização da legislação sobre os alegações funcionais à nível Europeu e somente uma centena de benefícios foram aprovados, então as empresas não podem mais comunicar diretamente sobre a funcionalidade dos seus produtos.

 Esta acontecendo uma segmentação: migração às marcas brancas e distribuidores (a maioria da população), mais baratas uns 5-10% ou para produtos realmente mais premium: orgânicos, comércio justo, sem aditivos, ou naturais.

 Outra mudança é a redução das embalagens, é preciso dizer que neste assunto o Brasil esta à anos luz de avanço da Europa, pois nossa industria se desenvolveu num contexto de economia, a industria europeia se desenvolveu num contexto de abundância.

Tudo é embalado individualmente, um grande desperdício. Por questões econômicas e ambientais existe um esforço de reduzir o supérfluo e priorizar o reciclável, que é outro pedido do consumidor.

Gislene da Silva Razavet

– Gerente de Produtividade Internacional na área de Leite de Outubro 2011 até a presente date, responsável pela Europa Central, Europa do Sul, Turquia e Africa do Sul.

– Responsavel de grupo desenvolvimento de produtos laticos Light de Julho de 2007 à Setembro de 2011 na França.

– Gerente de Desenvolvimento de Produtos na area de panificação de 2005 à Julho de 2007 na Arcor do Brasil.

– Coordenadora de Desenvolvimento de Produtos na area de biscoitos de 2001 à 2004 na Danone Brasil.

– Coordenadora de Processo Industrial na area de biscoitos de 1999 à 2000 na Danone Brasil.

– Estagiaria de Processo Indutrial na área de biscoitos em 1998.

– Autora da página: http://www.facebook.com/Alimentoduravel

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Direto da Arábia Saudita, o ponto de vista de um brasileiro

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 Ele havia acabado de se casar, quando recebeu a proposta de trabalhar na Arábia Saudita. Se desfez de seus presentes ainda embalados, levou a esposa na mala e começou nova vida em outras terras, experimentando uma cultura totalmente contrastante com a nossa. Essa é a história de Tomaz Zurita, que concedeu com exclusividade uma entrevista ao blog Food Safety Brazil. 

Por que um brasileiro na Arábia Saudita, responsável pela gestão do BRC em uma empresa líder em embalagens?
Por quê não? Foi o que eu pensei quando recebi um email de um outro brasileiro que era um dos gerentes aqui em Jidá (Jeddah), oferecendo a posição. Uma série de fatores me trouxeram para cá. Primeiro, como em qualquer contratação, havia um interesse mútuo. Da minha parte em relação ao conteúdo do trabalho e à experiência internacional. Da parte da empresa em relação a minha experiência com sistemas de gestão integrados que incluísse segurança de alimentos. As empresas que operam no Oriente Médio, especialmente nos países do Golfo, dependem fortemente de profissionais estrangeiros. Além disso, a Tetra Pak Brasil tem 2 das fábricas que normalmente circulam entre as melhores do grupo em termos de gestão da qualidade, inovação e manufatura classe mundial. Por essa razão os profissionais brasileiros são bem vistos. Isso certamente contou a meu favor.

Quais normas de certificação são mais reconhecidas na região?
As normas ISO 9001, 14001 e OHSAS 18001 predominam como em qualquer outra parte do mundo. Em relação às normas de gestão da segurança de alimentos, ISO 22000, BRC Food e BRC Packaging despontam. Também há diversas empresas utilizando esquemas de certificação não acreditada como selos de HACCP e GMP oferecido pelos grandes organismos de certificação.

Quais os temas em debate em relação à segurança de alimentos na Arábia Saudita?
O país é essencialmente importador, utiliza o idioma árabe e tem fortes restrições religiosas. Isso gera preocupações no que diz respeito a rotulagem. Outro assunto em foco são as boas práticas de manipulação no setor de hospitalidades, já que pequenos estabelecimentos e comércio informal são extremamente comuns. Mesmo as grandes redes de hotéis e restaurantes tem grandes desafios em manter padrões de qualidade e higiene devido à rotatividade e diversidade de funcionários com baixa qualificação.
Por outro lado, alguns temas de grande importância como as boas práticas de transporte, armazenamento e varejo são praticamente ignorados. E por sinal, essa deficiência afeta diretamente o Brasil, já que somos o principal fornecedor de carne bovina e de frango para a região e os cuidados com a cadeio do frio, por exemplo, deixam a desejar em muitas situações.

De que forma as diferenças culturais foram desafiadoras para o desenvolvimento do seu trabalho?
Eu trabalho com colegas de aproximadamente 30 nacionalidades. Talvez o inglês e o boné com o logo da empresa são as únicas coisas em comum. Cada um tem seu sotaque e graus diferentes de entendimento da língua. A linguagem não-verbal também é variada. Certos movimentos do corpo e gestos inocentes para uma cultura podem ser extremamente ofensivos para outra.
Especificamente sobre segurança dos alimentos, é notável a diferença nos padrões de higiene pessoal. É um grande desafio para padronizar as BPF que dependem fortemente de atitudes pessoais e auto-disciplina. Um exemplo curioso, porém real, é o seguinte: imaginem como é difícil localizar um fornecedor de protetores faciais (esses descartáveis de tecido-não-tecido “made in China”) que forneçam tamanho extra-extra grande para atender os colaboradores muçulmanos com barba longa e volumosa.
Outro aspecto diferente é a forma como cada cultura dá importância ao trabalho, às responsabilidades com prazos e resultados e às ambições de crescimento profissional. Há os que não medem esforço e topam trabalhar jornadas longas, horas extras, cobrir colegas em férias, etc. Há os que largam a caneta no meio de uma atividade quando dá o tempo, porém se organizam bem para entregar as tarefas conforme prometido e há aqueles que dependem quase que exclusivamente de um empurrão para concluir atividades ou seguir certas regras previamente acordadas. É certo que estas diferenças dependem de pessoa para pessoa, mas é possível identificar algums padrões em grupos de mesma nacionalidade ou de mesma identidade cultural-religiosa.
Aqui também não trabalham mulheres.
Enfim, há muitas outras que eu poderei comentar se os leitores se interessarem.

Nos dê um breve panorama da indústria de alimentos e correlatos na região.
Como eu comentei anteriormente, a Arábia Saudita, assim como a maioria dos países vizinhos dependem em grande parte da importação de produtos alimentícios e correlatos tais como ingredientes, aditivos, produtos de origem animal, frutas, café e chá, cereais, molhos. Outros produtos como óleos, laticínios, snacks, sucos e bebidas carbonatadas são produzidos localmente, porém em sua maioria por empresas multinacionais. Os produtos realmente locais são basicamente vegetais e hortaliças, pães e produtos regionais como alguns temperos, frutas, conservas.
Os mercados do Oriente Médio, especialmente nos países do Golfo e norte da África têm sido muito dinâmicos. Em muitos setores, o crescimento da demanda e consequentes aumentos de produção/importação só perdem para os níveis observados na China. Também é notável como foi rápida a recuperação das empresas de alimentos nos países afetados diretamente pela “Primavera Árabe”. Assim que a cadeia logística se recuperou, estradas e portos se abriram, suprimento de energia normalizou, as empresas retomaram seu ritmo anterior em questão de 3 a 6 meses.

O que é tendência na área de embalagens?
Hoje se fala muito em embalagens com menor impacto ambiental. Seja pela redução do uso de matérias primas, pelo uso de materiais renováveis, pela redução do uso de energia ou pela reciclagem pós-consumo. Se pensarmos que a embalagem define a forma do produto final, é fácil entender também que as embalagens tem um papel fundamental na eficiência da distribuição em termos do uso do espaço em transporte, estacagem e ponto de venda. A pegada de carbono é o conceito chave que direciona, digamos, os esforços
Poucas empresas conseguem desenvolver atividades em todas estas direções. É necessário mobilizar muita gente. Desde P&D, desenvolvimento de fornecedores, eficiência de manufatura, logística, relações com governos e sociedade, etc. É uma questão de importância estratégica para as empresas líderes.

Quer dar um recado para os leitores do blog?
Na verdade tenho dois recados:
1) Fiquem atentos e agarrem as oportunidades que a vida nos oferece.
2) Para o s meus amigos que sempre me perguntam: não existem Petro-dólares. Pronto, falei.
Tomaz Zurita é Engenheiro de Produção pela Poli-USP. Foi consultor e gerente operacional da Food Design. Trabalhou com análise de perigos, qualificação de equipamentos e validação de processos na Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos. É responsável pelo sistema de gestão integrado e líder do pilar de meio ambiente da Tetra Pak Arabia.

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