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Vai ter uvas-passas na sua ceia de Natal?

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Aproxima-se o período de festas de fim de ano, e com ele as polêmicas uvas-passas. Com elas funciona assim: ou se ama ou se odeia. Mas aqui trago uma outra perspectiva para essa discussão: do ponto de vista de segurança de alimentos, elas são mesmo seguras?

O principal vilão: micotoxinas

A presença de micotoxinas, e mais especificamente da ocratoxina A, é a principal razão para remessas de uvas-passas serem impedidas de acessar o mercado europeu. Isso porque o processo de secagem de uvas para obtenção das passas, na maior parte das vezes, ocorre por exposição ao sol. Tais condições favorecem o desenvolvimento de fungos produtores de toxina, principalmente a ocratoxina A (OTA). Diversas notificações do sistema RASFF (Rapid Alert System for Food and Feed) da União Europeia demonstram a sua alta ocorrência, além de evidências de recolhimento pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) no Brasil, em 2023 e em 2022, quando uvas-passas que seriam utilizadas para produção de panetones foram apreendidas.

Perigos microbiológicos

Apesar da baixa atividade de água após o processo de secagem, alguns microrganismos se mantêm viáveis até obter condições favoráveis para proliferação. Entre eles, nos preocupam os famosos patógenos Salmonella, E. coli e Listeria monocytogenes. Como exemplo, entre 2008 e 2009, mais de cinquenta pessoas foram reportadas com salmonelose, das quais 21 tiveram que ser hospitalizadas, todas relacionadas ao consumo de frutas secas.

Os pesticidas

O processo de secagem, com a redução do teor de água, acaba por aumentar o teor de resíduos de pesticidas presentes na fruta. Além disso, após a secagem é comum o uso da técnica de fumigação para garantir a ausência de pragas nos frutos secos, interrompendo ciclo de insetos que poderiam se desenvolver. Com base nisso, as uvas-passas estão entre as frutas mais contaminadas do mercado, segundo o EWG’s Shopper’s Guide to Pesticides in Produce.

Existem notificações do RASFF citando resíduos dos pesticidas clorpirifós e procimidona acima do lime aceitável, o que evidencia a ocorrência de tal perigo para esse tipo de fruta processada. Além disso, em 24 de novembro desse ano, a Alemanha reportou outro alerta de pesticidas acima dos limites em uvas-passas.

Os mais comuns: perigos físicos

Pequenas surpresas normalmente acompanham as frutas secas, incluindo aqui a uva-passa. Esses perigos podem ser a presença de pedrinhas, fragmentos da planta como galhos e hastes, inclusive insetos mortos. O processo de secagem acaba por deixar as frutas expostas a pragas, como os insetos. O mais comum para uvaspassas são fragmentos de galhos e areia.

Além disso, a infestação por insetos é comum durante o armazenamento da fruta seca. Eles são atraídos pelo alto teor de açúcar, associado ao alto longo período de armazenamento e falhas no programa de controle de pragas do local e na cadeia logística.

Nesta etapa, as condições da cadeia de abastecimento contribuem para o aparecimento ou desenvolvimento de alguns desses perigos, principalmente o armazenamento e distribuição a granel. Isso se deve à exposição ao ambiente, bem como aos instrumentos de manipulação. Isso também se aplica ao armazenamento nos locais de venda ao consumidor final e, até mesmo, em casa.

Relatos de casos

A visibilidade destes casos é maior nos Estados Unidos e Europa, mas não significa que a ocorrência no Brasil é menor. O sistema de alerta da Europa (RASFF), bem como a sistemática definida pelo FDA nos Estados Unidos, garantem a robustez da rastreabilidade e divulgação. Além disso, a Europa possuiu um sistema agressivo de controle de fronteira, com programas de coleta bem administrada com fiscalização.

No Brasil, a maior parte das frutas secas ou desidratadas típicas de Natal, como passas, damasco, figo e tâmara, é importada. No caso das uvas-passas, isso se deve às condições de cultivo das variedades específicas. Assim sendo, a cadeia de distribuição tende a incluir transportes de longo prazo e seus riscos associados, além de incrementar dificuldades na rastreabilidade.

Apesar dos programas de controle de fronteira no Brasil pela VIGIAGRO (MAPA), nem todos os lotes são fiscalizados, havendo margem de risco devido à característica de amostragem e capacidade dos órgãos fiscalizadores na realização de testes, além dos custos a eles relacionados.

Gerenciamento de riscos

Todos esses riscos são gerenciáveis na cadeia de produção e distribuição. Na indústria de alimentos trabalhamos com a aplicação de medidas de controle e monitoramento, a partir de um plano de análise de perigos, os quais podem ser minimizados ou controlados.

Além disso, o processo de fiscalização reforça a importância das indústrias e importadoras da aplicação das medidas de controle em todas as etapas da cadeia de distribuição, evitando perdas de produto e reputação da marca, além do impacto à saúde de seus consumidores.

Mas e agora, estou seguro consumindo o famoso arroz com passas de Natal?

Bem, as uvas-passas têm riscos conhecidos, em especial os relacionados a micotoxinas. As frutas secas exigem controle rigoroso da matéria-prima, do processo de secagem, armazenamento e distribuição. Os órgãos reguladores continuam cumprindo o seu papel de fiscalização nas condições atualmente disponíveis.

Dessa forma, nós, enquanto consumidores, devemos priorizar o uso de marcas reconhecidas por seu padrão de qualidade, de forma a ter maior garantia de que o clima permanecerá festivo após o Natal.

Com isso, me conte aqui: você é do time #compassas ou #forapassas?

Boas festas!

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Mutações recentes em Listeria monocytogenes fortalecem a formação de biofilmes

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A formação de biofilmes em superfícies como aço inox, plástico e vidro é um dos principais motivos pelos quais Listeria monocytogenes consegue persistir por longos períodos na indústria de alimentos, mesmo após procedimentos rigorosos de higienização.

Esse comportamento representa um risco concreto para a segurança dos alimentos, pois biofilmes mal removidos podem não apenas proteger células existentes, mas permitir que novas variantes mais persistentes surjam ao longo do tempo.

Compreender como a bactéria evolui essa habilidade é essencial para melhorar programas de higienização, monitoramento ambiental e gestão de risco microbiológico.

Um estudo recente da Wageningen University & Research (WUR), publicado no periódico Microbiological Research, trouxe avanços significativos ao demonstrar como L. monocytogenes pode evoluir rapidamente para formar biofilmes muito mais robustos. Em alguns casos, produz até sete vezes mais biofilme do que suas cepas ancestrais.

Na pesquisa, os cientistas simularam, de forma controlada, ciclos que podem ocorrer em ambientes industriais quando biofilmes persistem ou quando a higienização falha parcialmente. Cada etapa desse ciclo foi analisada separadamente, permitindo observar como a bactéria se adapta e evolui. As fases estudadas foram:

  1. Adesão inicial às superfícies: Momento em que células livres entram em contato com materiais como aço inox, plástico ou vidro e começam a se fixar. A etapa depende das características da superfície e da hidrofobicidade das células bacterianas.
  2. Formação do biofilme: Após a adesão, as células se multiplicam e passam a produzir a matriz extracelular (EPS), um composto viscoso que age como barreira física e química. Essa camada protege a comunidade bacteriana contra sanitizantes, temperatura e outros fatores ambientais.
  3. Dispersão: Por maturação do biofilme, estresse ou mudanças ambientais, parte das células se desprende e se torna capaz de se espalhar pelo ambiente produtivo.
  4. Recolonização: As células dispersas aderem a novas superfícies, reiniciando o ciclo e ampliando a contaminação dentro da planta industrial.

Ao final dos ciclos, surgiram variantes evoluídas (EV) com capacidade substancialmente maior de formar biofilmes e aderir a superfícies hidrofóbicas amplamente utilizadas na indústria de alimentos, como poliestireno e aço inox.

Biofilme formado por Listeria Monocytogenes. 

As análises proteômicas revelaram a superexpressão de duas proteínas diretamente relacionadas ao fenótipo aprimorado:

  • Lmo1799 – proteína ancorada à parede celular, associada a processos de adesão. Quando superexpressa, aumenta a hidrofobicidade da célula e facilita a fixação em superfícies como aço inox e plástico.
  • Lmo1798 – menos caracterizada, mas também superexpressa; por estar no mesmo operon, segue o mesmo controle regulatório. Evidências indicam que participa das alterações no envelope celular e na organização inicial do biofilme, atuando de forma complementar à Lmo1799.

As análises genômicas confirmaram mutações específicas no gene lmo1799, incluindo uma inserção imediatamente antes da região promotora e uma deleção de 42 nucleotídeos no próprio gene.

Essas modificações elevaram fortemente a expressão do operon lmo1798–lmo1799, alterando a superfície celular e ampliando a capacidade de formação de biofilmes.

O estudo mostra que o ponto-chave não é a simples presença dos genes, mas sua superexpressão, que desencadeia mudanças fenotípicas significativas.

Embora o foco do estudo tenha sido o biofilme, os autores sugerem que essas mutações podem também afetar:

  • Resistência a estresses ambientais;
  • Resposta a condições adversas;
  • Possíveis alterações na virulência.

Os resultados reforçam três pontos essenciais para programas de controle de Listeria:

  1. Biofilmes tornam-se progressivamente mais resistentes se não forem completamente removidos;
  2. A bactéria evolui dentro do próprio ambiente industrial, selecionando mutações que favorecem adesão e persistência;
  3. Monitoramento ambiental contínuo e higienização validada são indispensáveis para impedir o estabelecimento e a evolução das variantes.

Artigo recomendado: Estratégias para a prevenção de biofilmes.

Estudos como este demonstram que pequenas mutações genéticas podem gerar mudanças expressivas no comportamento de L. monocytogenes, ampliando sua capacidade de aderir, persistir e sobreviver em ambientes industriais. Em um cenário em que cepas podem evoluir rapidamente, práticas robustas de prevenção são essenciais para reduzir riscos e proteger a segurança dos alimentos.

Leia também:

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Como foi o 17º Meeting Food Safety Brazil – Monitoramento microbiológico do ar em plantas alimentícias

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No mês de novembro aconteceu o nosso 17° Food Safety Brazil Meeting. Este evento trouxe uma rica discussão sobre o monitoramento microbiológico do ar em plantas produtoras de alimentos.

Para debater  esse assunto iniciamos o encontro com a palestra do Luis Costa, gerente de aplicações na Merck para América Latina. Ele nos deu informações muito relevantes sobre os processos para uma coleta eficaz de amostras de ar, tanto no que tange aos equipamentos mais adequados, quanto sobre tempo/volume de ar coletado e os melhores locais para que seja feita a coleta de amostra. Além disso, explicou como a indústria traça seus parâmetros de avaliação das condições do ar da sua planta.

A segunda palestra foi da nossa colunista Carla Gomes, que trouxe exemplos práticos de condições físicas de alguns ambientes fabris e métodos para controlar a ocorrência de contaminantes microbiológicos.

Após as ótimas palestras, recebemos muitas perguntas dos mais de 300 participantes que acompanharam o evento.  Muitas delas foram respondidas prontamente e as demais encaminhamos para os palestrantes. As respostas seguem abaixo.

P – Considerando que não existe um valor único e universal de referência, uma vez que os limites podem variar conforme o tipo de indústria e o objetivo da análise, existe alguma previsão de regulamentação específica voltada ao controle e monitoramento de bioaerossóis na indústria alimentícia?

R – Não há previsão de regulamentação de limites microbiológicos para qualidade do ar na indústria de alimentos. Alguns estudos podem ajudar a ter uma base para saber se sua indústria esta próxima a outras do mesmo tipo:

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S016816052400223X

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S016816052400223X

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2211601X11001581

https://www.mdpi.com/2311-5637/10/5/231

https://www.mdpi.com/2311-5637/10/5/231

Muito importante salientar que a NBR 17037/2023 não é direcionada para indústria, mas para ambientes residenciais climatizados artificialmente

P – O parâmetro de bolores e leveduras pode ser maior que o de bactérias mesófilas? Há problema se for?

R – Sim, é possível que o parâmetro de bolores seja maior que de mesófilos mesmo que seja muito raro. Em nosso tempo de experiência isso ainda não ocorreu, mas poderia ocorrer em ambientes secos com alta quantidade de pós no ar.

P – Como posso pegar uma amostra de ar comprimido sendo que utilizo hoje o modo de exposição de placas?

R – Não é eficaz tentar amostrar ar comprimido usando placas simples com ágar. Há o chamado método de borbulhamento, que se baseia no borbulhamento do ar comprimido em uma solução estéril salina e depois essa solução é analisada. É um método usado por algumas empresas, mas a eficácia é baixa para análise microbiológica. A forma correta e segura de amostrar gases comprimidos é utilizando o aparelho MAS 100 Atmos.

P – Pode falar mais um pouco sobre biofilmes em ar comprimido?

R – Biofilmes em ar comprimido podem acontecer se não houver um bom controle de umidade na geração ou distribuição. Importante ter sistema para secagem. As linhas de ar comprimido normalmente não têm design higiênico, aumentando o risco de formação de biofilmes.

Uma forma de minimizar o risco de contaminação, quando o ar comprimido é utilizado em contato direto com produtos alimentícios, é instalar filtros microbiológicos próximos ao ponto de consumo. A troca deve ser conforme plano de manutenção, o  que não isenta a necessidade de remoção da umidade do ar.

O evento foi um sucesso e ficamos muito felizes em compartilhar informações tão relevantes com nossos leitores. Que venham outros encontros!

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Riscos em segurança dos alimentos: o que causa mortes?

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A segurança dos alimentos é um dos pilares da saúde pública moderna, mas continua sendo um desafio de dimensões globais, estimando-se que, todos os anos, cerca de 600 milhões de pessoas adoeçam após consumir alimentos contaminados, ou seja, 1 em cada 10 habitantes do planeta.

Dessas, aproximadamente 420 mil morrem por doenças transmitidas por alimentos (foodborne diseases) segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2024.

Esses números revelam uma verdade incômoda: mesmo com avanços em tecnologia, rastreabilidade e boas práticas, a contaminação microbiológica continua sendo o principal risco em segurança dos alimentos, e a causa mais frequente de mortes associadas ao consumo de alimentos.

No entanto, a falta de vigilância epidemiológica padronizada é um dos maiores obstáculos em segurança dos alimentos e na obtenção de dados estatísticos seguros. A maioria dos países, especialmente os de baixa e média renda populacional, não possui sistemas robustos de rastreabilidade ou diagnóstico laboratorial capazes de identificar a origem de surtos.

Além disso:

  • Muitas doenças alimentares têm sintomas inespecíficos, confundindo-se com viroses comuns;
  • Parte significativa das mortes ocorre sem confirmação laboratorial;
  • Os sistemas de notificação diferem em metodologia, cobertura e critérios diagnósticos.

De acordo com o relatório “WHO Estimates of the Global Burden of Foodborne Diseases” (OMS/ FERG, publicado em 2015, com ano-base 2010), as maiores causas de mortalidade global por alimentos contaminados são:

Agente Mortes estimadas (globais) Comentários
Salmonella enterica (não tifoide) ~59.000 Maior carga global de doença; associada a carnes, ovos e produtos crus
Salmonella Typhi (febre tifoide) ~52.000 Grave em países com saneamento precário
Norovírus ~35.000 Causa mais comum de gastroenterite viral; grande volume de casos
Escherichia coli (EPEC/ETEC) 26.000–37.000 Muito comum em países de baixa renda; alta carga em crianças
Taenia solium (tênia do porco) ~28.000 Provoca neurocisticercose; impacto regional grave
Hepatite A (alimentar) ~28.000 Menor incidência, mas alta letalidade em surtos

Em forma de gráfico de Pareto:

  • As barras azuis representam o número estimado de mortes por cada patógeno.

  • A linha vermelha indica o percentual acumulado, evidenciando quais agentes concentram a maior parte das mortes.

Podemos ver que Salmonella enterica (não tifoide) e Salmonella Typhi juntas já respondem por cerca de 40% das mortes globais listadas na tabela (fonte: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26633831)

Embora os números globais de mortes por alimentos contaminados sejam impressionantes, muitos desses problemas poderiam ser significativamente reduzidos com práticas básicas de higiene, saneamento e cocção adequada.

Salmonella enterica (não tifoide) é uma bactéria que causa diarreia, febre e cólicas. Embora possa ser grave, é altamente controlável com cocção completa e higiene na manipulação de carnes e ovos. Suas principais fontes incluem carnes cruas ou mal cozidas, ovos, laticínios não pasteurizados e produtos crus manipulados inadequadamente.

Salmonella Typhi, causadora da febre tifoide, provoca febre alta, fadiga e complicações graves. Diferentemente da Salmonella não tifoide, é transmitida principalmente por água e alimentos contaminados por fezes humanas, sendo mais comum em áreas com saneamento deficiente.

Norovírus é um vírus altamente contagioso que causa vômitos e diarreia. Ele se espalha facilmente por mãos, superfícies e alimentos manipulados por pessoas infectadas. Entre as principais fontes estão frutos do mar crus, saladas e alimentos prontos manipulados sem higiene adequada.

Escherichia coli (EPEC/ ETEC) é um grupo de bactérias patogênicas que provocam diarreia, cólicas e desidratação. Assim como outros patógenos bacterianos, podem ser controladas com higiene pessoal, saneamento e cocção adequada. Seus veículos mais comuns são carnes cruas ou malcozidas, leite cru, água contaminada e vegetais irrigados com água contaminada.

Taenia solium, conhecida como tênia do porco, é um parasita que causa cisticercose, podendo afetar o sistema nervoso e levar à morte em casos graves. É surpreendente que ainda registre alta mortalidade, evidenciando que a prevenção básica, especialmente o cozimento completo da carne de porco, continua crítica.

Por fim, hepatite A (alimentar) é causada por um vírus que provoca inflamação do fígado. Apesar de rara, apresenta alta letalidade em surtos e pode ser prevenida com saneamento adequado, vacinação e higiene durante a manipulação de alimentos. Os alimentos mais associados são frutos do mar crus, alimentos manipulados por pessoas infectadas e água contaminada.

O que chama atenção é que a maioria desses patógenos poderia ser evitada com medidas relativamente simples, como lavar bem as mãos, higienizar utensílios, cozinhar completamente carnes e frutos do mar e evitar a contaminação cruzada. A persistência da Taenia solium, em particular, mostra que mesmo riscos há muito conhecidos continuam a causar mortes quando as medidas básicas de prevenção são negligenciadas.

Vale destacar que esses dados têm cerca de uma década e, desde então, não houve uma atualização integral das estimativas globais. Embora a OMS tenha reafirmado os números em comunicados recentes (2023–2024), a nova edição do relatório do Foodborne Disease Burden Epidemiology Reference Group (WHO FERG, 2ª edição) ainda está em elaboração, sem data confirmada de publicação, mas com previsão de lançamento em breve (WHO FERG 2nd edition).

Além disso, em parceria com o Banco Mundial, a OMS está conduzindo um estudo complementar para estimar o impacto econômico global das doenças transmitidas por alimentos, com base no ônus à saúde pública, sendo que os resultados finais estão previstos para após 2026.

É preciso ressaltar que nem todas as informações sobre doenças alimentares na internet têm base científica. As principais fontes internacionais de dados confiáveis são:

Instituição Conteúdo principal Link
WHO (World Health Organization) Relatórios globais e regionais sobre foodborne diseases www.who.int
FAO (Food and Agriculture Organization) Diretrizes e dados sobre segurança e comércio de alimentos www.fao.org
CDC (Centers for Disease Control and Prevention – EUA) Vigilância de surtos e estatísticas atualizadas www.cdc.gov/foodsafety
EFSA (European Food Safety Authority) Relatórios anuais da UE sobre agentes zoonóticos e surtos alimentares www.efsa.europa.eu
PubMed / PLoS Medicine / Science Direct Artigos científicos revisados por pares www.pubmed.gov

Essas são as fontes primárias mais confiáveis para embasar decisões, treinamentos e auditorias de segurança dos alimentos.

Mesmo em 2025, os microrganismos patogênicos continuam sendo o maior desafio à segurança dos alimentos. Apesar dos avanços tecnológicos e normativos, como HACCP, ISO 22000 e FSSC 22000, a prevenção ainda depende essencialmente de boas práticas, treinamento humano e rastreabilidade eficaz.

Os avanços em tecnologia de alimentos, boas práticas e gestão de riscos (HACCP, ISO 22000, FSSC 22000) reduziram a incidência, mas não eliminaram o problema. A segurança dos alimentos exige esforços múltiplos: multissetorial, multidisciplinar, e claro, multifatorial, dependente de:

  1. Boas práticas agrícolas (BPA) e de fabricação (BPF) – conjuntos de procedimentos preventivos que asseguram que o alimento seja produzido e processado em condições higiênicas e controladas. As BPA atuam na etapa primária, controlando o uso de água, defensivos, solo e bem-estar animal, enquanto as BPF garantem higiene nas instalações, controle de temperatura, prevenção da contaminação cruzada e manutenção dos equipamentos. Juntas, formam a base de sistemas como o HACCP e normas ISO 22000, sendo essenciais para minimizar riscos microbiológicos, químicos e físicos em toda a cadeia produtiva;
  2. Treinamento contínuo de manipuladores – fundamental para reduzir falhas humanas e assegurar práticas seguras na manipulação dos alimentos. Ele capacita os profissionais a compreenderem riscos e adotarem comportamentos corretos, como a higiene pessoal adequada, o uso correto de equipamentos de proteção, o controle de tempo e temperatura e a separação entre alimentos crus e prontos. A formação contínua não apenas cumpre exigências legais, mas cria uma cultura de segurança, transformando cada manipulador em um agente ativo de prevenção;
  3. Rastreabilidade eficiente – sistema que permite identificar e acompanhar um alimento em todas as etapas da cadeia produtiva, do campo ao consumidor. Um sistema eficiente de rastreabilidade possibilita ações rápidas em casos de contaminação ou recall, reduzindo impactos à saúde e à reputação da empresa. Além de atender exigências legais e normativas internacionais, ela reforça a transparência, permite controle de lotes, facilita auditorias e aumenta a confiança entre produtores, distribuidores e consumidores;
  4. Comunicação transparente com o consumidor – componente essencial da segurança dos alimentos, pois fortalece a confiança e a responsabilidade entre empresas e consumidores. Inclui rotulagem clara sobre composição, origem, validade e alergênicos, além de uma postura ética e ágil em situações de risco ou recall. Informar de forma aberta e precisa demonstra compromisso com a saúde pública e contribui para a educação do consumidor, que passa a adotar práticas seguras também em casa, tornando a segurança do alimento uma responsabilidade compartilhada.

Até que novos dados globais sejam publicados, as estimativas de 2015 permanecem a referência mais sólida e cientificamente validada para compreender o panorama mundial de riscos em segurança dos alimentos.

Referências:

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O alimento estufado e a maturidade sanitária

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No varejo alimentar, os problemas raramente surgem como grandes acidentes; eles aparecem, na maioria das vezes, como pequenas alterações que passam despercebidas por quase todos, exceto por quem tem formação técnica para interpretá-las.

Um produto levemente estufado, uma lata com pressão acima do esperado, um pacote de frios inflando, um queijo liberando líquido ou uma película que perdeu o vácuo não são apenas defeitos pontuais: são manifestações visíveis de processos microbiológicos e físico-químicos que começaram horas, às vezes dias, antes de o sinal aparecer. E é justamente nesse ponto que a atuação do médico veterinário no varejo se torna indispensável, porque a leitura dessas alterações exige conhecimento científico, experiência prática e capacidade de relacionar múltiplas variáveis operacionais.

Imagem criada por inteligência artificial – para representar sinais de estufamento e alterações visuais em alimentos refrigerados

O estufamento, embora frequentemente associado aos iogurtes pelo consumidor, ocorre em praticamente todas as categorias sensíveis. É a consequência direta da produção de gases por microrganismos deteriorantes, leveduras osmofílicas, lactobacilos heterofermentativos, coliformes, psicrotróficas, que encontram naquele alimento um ambiente propício para metabólitos, CO2, H2 e compostos voláteis.

Isso normalmente acontece quando o produto passa por alterações de temperatura, microfissuras na embalagem, variações de umidade ou períodos fora da refrigeração que não chegam a configurar um abuso evidente, mas são suficientes para ativar o metabolismo de espécies capazes de crescer mesmo em cadeia fria.

Em termos práticos, o que aparece como uma tampa elevada ou um pacote mais rígido é, na verdade, o estágio final de uma sequência de eventos que o profissional treinado reconhece imediatamente como uma falha do sistema.

O que diferencia o olhar técnico do olhar comum é que, diante do mesmo produto, o consumidor enxerga o que está acontecendo naquele momento, enquanto o veterinário enxerga o percurso que levou até ali. Um produto estufado nunca é um ponto isolado: ele conta uma história. Pode ser uma descarga demorada no recebimento, uma porta de câmara que não vedou completamente durante a madrugada, uma prateleira exposta ao fluxo quente do corredor, um expositor sobrecarregado que perdeu eficiência, uma equipe reduzida que deixou caixas por tempo excessivo no ambiente, um turno mal treinado ou até um equipamento com variação térmica intermitente. Cada uma dessas pequenas falhas altera o comportamento microbiológico de um produto como um dominó que cai na ponta do sistema, mas cuja origem está muito longe da embalagem alterada.

Quando o veterinário encontra esse tipo de alteração, a ação imediata de retirar o produto da área de vendas é apenas o início de um processo de interpretação que envolve combinar microbiologia aplicada, avaliação de risco e leitura operacional. É preciso analisar lotes vizinhos, revisar temperatura de expositores e câmaras, verificar integridade de selos, conferir histórico de registros, observar padrões de recorrência e, principalmente, determinar se a falha é pontual ou sistêmica. Essa etapa exige percepção técnica, porque um estufado pode representar um risco real de deterioração avançada, mas também pode ser o primeiro sinal de que o sistema está começando a perder estabilidade. A diferença entre uma situação e outra determina se a loja precisará descartar um lote, revisar um equipamento, reorientar uma equipe ou abrir investigação com o fornecedor.

A relevância desse trabalho aumenta quando ampliamos a análise para outras categorias. Latas rígidas podem indicar deterioração anaeróbica ou reações químicas em produtos ácidos; frios inflando sugerem quebra de vácuo ou ativação de psicrotróficas; massas refrigeradas ganham pressão por fermentação residual; molhos estufam por atividade de leveduras adaptadas; proteínas embaladas podem apresentar sujidades internas, acúmulo de líquido e odor inicial decorrentes de proteólise. Cada padrão visual representa um comportamento microbiano específico e exige uma interpretação técnica que só é possível quando há compreensão profunda dos fatores que regulam a estabilidade do alimento.

A leitura desses sinais também revela o grau de maturidade sanitária de uma operação. Em lojas onde a cadeia fria é bem gerida, o fluxo operacional é coerente e a equipe é treinada de forma consistente, produtos alterados aparecem com menor frequência e, quando aparecem, são rapidamente identificados por profissionais que entendem a importância de evitar que uma alteração evolua para uma ocorrência. O oposto também é verdadeiro: quando produtos inflados, estufados ou alterados aparecem de forma recorrente, normalmente isso indica fragilidades estruturais, desde equipamentos saturados até rotinas que não foram internalizadas pela equipe.

É nesse ponto que o papel do médico veterinário deixa de ser apenas técnico e passa a ser estratégico. Além de identificar e retirar produtos inadequados, o profissional consegue interpretar padrões, mapear riscos, antecipar falhas e orientar correções que impactam diretamente a segurança do alimento e a reputação da loja. Um produto alterado não é apenas um item que não pode ser vendido; ele é um indicador de desempenho sanitário. Trabalhar a partir dessa leitura transforma a rotina da loja, porque a análise não se limita ao produto, mas ao contexto que permitiu que ele chegasse até ali.

Quando o consumidor vê um produto estufado, ele pensa em defeito.

Quando o veterinário vê um produto estufado, ele pensa em cadeia fria, microbiologia, tempo, temperatura, fluxo, manipulação, risco e impacto.

A diferença entre essas duas leituras é exatamente o que garante que produtos inseguros não cheguem ao público e o que faz do veterinário uma figura essencial dentro do varejo moderno.

No final, um produto alterado é menos sobre o que se vê na prateleira e mais sobre o que o sistema permitiu que acontecesse. Interpretar isso com precisão é o que mantém a segurança antes que qualquer risco se torne visível. E é por isso que, em um ambiente onde milhares de produtos passam pelos olhos de centenas de pessoas todos os dias, é o olhar técnico treinado, consistente, experiente que assegura que aquilo que o varejo não percebe não chegue ao consumidor.

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Casos de botulismo infantil nos EUA ultrapassam 100 registros

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A mídia internacional tem destacado uma possível correlação entre o aumento anormal de casos de botulismo infantil nos EUA e o consumo da fórmula infantil ByHeart.

Botulismo infantil é uma forma rara, porém grave, de botulismo que acomete bebês menores de 1 ano, especialmente abaixo de 6 meses, causada pela bactéria Clostridium botulinum. Esta bactéria produz uma toxina capaz de afetar o sistema nervoso do bebê e provocar fraqueza muscular e dificuldade de movimentação. Trata-se de uma emergência médica porque pode comprometer os músculos respiratórios.

Sintomas típicos podem aparecer de forma lenta e progressiva

  • Constipação (o sintoma mais comum e inicial);
  • Fraqueza muscular;
  • Choro fraco;
  • Dificuldade de sugar, mamar ou engolir;
  • Sonolência excessiva;
  • Diminuição dos movimentos;
  • Queda da cabeça (“cabeça mole”).

A ByHeart é uma marca norte-americana de fórmulas premium para bebês, produzidas com ingredientes selecionados e voltadas para pais que buscam uma alternativa de alta qualidade ao leite materno.

No entanto, a relação entre o produto da ByHeart e todos os casos ainda não é comprovada; apenas parte dos bebês adoecidos teve exposição confirmada à fórmula e as autoridades reforçam que a apuração permanece em andamento.

A investigação ganhou força quando o Departamento de Saúde Pública da Califórnia (CDPH) identificou novos casos de botulismo infantil iniciados já em novembro de 2024, que podem, embora ainda sem confirmação, estar vinculados ao atual surto associado à ByHeart.

Até 19 de novembro de 2025, o surto oficialmente reconhecido contabilizava 31 casos distribuídos por 15 estados, todos com início dos sintomas entre agosto e novembro de 2025.

O alerta inicial veio do Programa de Tratamento e Prevenção do Botulismo Infantil (IBTPP), ligado ao CDPH e responsável pelo único tratamento específico para botulismo infantil no mundo.

Com o avanço das investigações, o número de casos tratados pelo CDPH durante o período de aumento subiu de 84 para 107, todos ocorridos entre 1º de agosto e 19 de novembro de 2025.

A contabilização se baseia na administração do BabyBig, o único medicamento específico contra a doença, produzido exclusivamente pelo próprio CDPH. Contudo, nem todos os bebês tratados consumiram fórmula ByHeart, o que reforça que o nexo causal ainda é incerto.

Nos Estados Unidos, o padrão histórico é de menos de 200 casos anuais de botulismo infantil. Já no Brasil, para um comparativo, não há dados consolidados especificamente para essa faixa etária, pois os sistemas de vigilância registram apenas o total geral de botulismo, sem distinguir adequadamente os casos infantis, e a subnotificação dificulta qualquer estimativa confiável.

Além dos registros mais recentes, o CDPH identificou outros seis casos, ocorridos entre novembro de 2024 e junho de 2025, envolvendo bebês que também tiveram algum nível de exposição à fórmula ByHeart. Esses episódios continuam sob investigação, mas ainda não foram oficialmente ligados ao surto atual por terem ocorrido antes de 1º de agosto.

Paralelamente, o advogado Bill Marler, que representa famílias afetadas, afirma que ao menos cinco bebês apresentaram botulismo no fim de 2024 e início de 2025, período anterior ao pico que chamou a atenção do CDPH.

O CDC esclareceu que os esforços federais estão concentrados no aumento incomum após 1º de agosto, enquanto casos anteriores são difíceis de relacionar devido ao tempo decorrido e à baixa probabilidade de que os pais tenham guardado lotes ou embalagens da fórmula.

A situação ganhou novo peso em 19 de novembro, quando a própria ByHeart anunciou que testes independentes confirmaram a presença de Clostridium botulinum em seus produtos. Antes disso, o CDPH já havia detectado a bactéria em uma lata aberta consumida por um bebê adoecido.

A ByHeart anunciou um recall voluntário de dois lotes de sua fórmula infantil “Whole Nutrition Infant Formula” após uma investigação conduzida pelo FDA indicar possível contaminação por Clostridium botulinum.

No comunicado, a empresa explicou que o recall era uma medida de precaução, pois não havia confirmação laboratorial de toxina ou esporos nos lotes fechados naquele momento, mas recomendou que os consumidores interrompessem imediatamente o uso, descartassem ou devolvessem o produto e buscassem atendimento médico se houvesse sintomas compatíveis com botulismo. A ByHeart afirmou estar colaborando integralmente com o FDA e outros órgãos de saúde, realizando testes independentes e reforçando que casos de botulismo infantil são raros e historicamente não associados a fórmulas industrializadas.

Testes adicionais seguem sendo conduzidos por agências estaduais e pela FDA, que está analisando também amostras de latas fechadas. Por segurança, todos os produtos da marca foram recolhidos em âmbito nacional.

Por isso, a Anvisa proibiu no Brasil a importação, venda, distribuição, propaganda e uso da fórmula infantil ByHeart Whole Milk 0–12 meses (720 ml). A agência classificou a decisão como medida preventiva, destacando que a fórmula não possui registro sanitário no país, o que já tornava sua comercialização irregular. Além disso, a Anvisa orientou que qualquer unidade encontrada seja apreendida pelos órgãos de vigilância sanitária e reforçou que consumidores que, porventura, tenham adquirido o produto, devem interromper imediatamente o uso.

A crise também reabriu discussões sobre falhas prévias de segurança na empresa. Relatórios anteriores da FDA já apontavam problemas na instalação de produção, incluindo mofo, insetos mortos, telhados com vazamento e, em 2023, uma carta de advertência pela detecção de Cronobacter sakazakii em produtos da marca, um contaminante de alto risco para fórmulas infantis.

Embora a presença de C. botulinum em lotes da fórmula ByHeart esteja confirmada e parte dos bebês adoecidos tenha consumido o produto, as autoridades ainda não conseguem afirmar que todos os casos do aumento recente estejam ligados à marca.

A investigação continua, e uma correlação definitiva dependerá da análise de amostras, da rastreabilidade dos lotes e da consolidação dos dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. Até lá, recomenda-se cautela, acompanhamento das atualizações oficiais e rigor no uso de fórmulas infantis de qualquer fabricante.

Referências: 

Leia também:

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Estufamento tardio em queijos é um perigo à segurança dos alimentos?

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Na indústria láctea,  especificamente na de queijos, podemos ter um defeito que é conhecido como estufamento tardio. Esse evento pode acontecer em queijos que estão em processo de maturação média ou longa, como parmesão e emental.

O estufamento tardio tende a acontecer devido à produção de gás por bactérias do grupo butírico, como o  Clostridium tyrobutyricum, uma bactéria termodúrica, anaeróbica e produtora de esporos. O clostridium fermenta o lactato proveniente da lactose, gerando gás carbônico e gás hidrogênio que irão causar as rachaduras na massa do queijo e posterior estufamento.

É possível perceber o estufamento tardio pelo som oco gerado batendo na casca do queijo e pelo abaulamento externo, muito antes de percebermos as trincas no seu interior.

Para os esporos germinarem são necessárias algumas condições, como anaerobiose, ou seja, que o queijo fique sem oxigênio. Esse consumo de oxigênio geralmente é ocasionado pelo próprio fermento lático nas primeiras semanas de maturação.

Esse microrganismo é carreado para os laticínios através do leite e está relacionado à alimentação do gado com uso de silagem mal fermentada. Ele pode chegar ao equipamento de ordenha através da poeira e assim contaminar o leite. Ele não é patogênico para o homem, mas causa defeito visual, além de alteração de textura e sabor nos queijos e consequente desvalorização comercial.

Pensando na segurança do alimento, na indústria, quando temos a ocorrência do estufamento tardio é importante identificar que é causado por essa bactéria não patogênica e diferenciar o agente causador, já que o temido Clostridium botulinum e a Listeria spp também podem ser responsáveis por estufamento tardio em queijos e são patogênicos.

Porém, não é simples identificar o Clostridium tyrobutyricum. Não há muitos laboratórios que fazem essa análise. Pensando em prevenção e controle, alguns pontos importantes:

– higiene e controles na ordenha para diminuir a carga bacteriana

– higiene dos tanques isotérmicos tanto das fazendas leiteiras quanto dos caminhões de transporte de leite

– higienização dos silos de leite na indústria láctea.

Em todos esses casos é importante realizar corretamente os procedimentos de higienização desses equipamentos, utilizando concentração correta de sanitizantes e tempo de ação dos produtos para sanitização.

Pode-se realizar a bactofugação, que é um processo de alta centrifugação do leite, que diminui a carga bacteriana e o número de esporos no leite.

A pasteurização não tem ação de remoção dos esporos, apenas reduz a carga bacteriana, o que auxilia na não proliferação da quantidade desses esporos.

É possível utilizar bactérias competidoras na formulação dos queijos, ou bactérias starters que vão diminuir o pH no início do processo, o que também inibe a proliferação bacteriana e a ativação dos esporos.

O uso de aditivos como nitrato ou lisozima como ingredientes na produção das massas dos queijos também impede a proliferação bacteriana.

Esses processos visam diminuir a carga bacteriana, diminuir a carga dos esporos e/ou não dar condições favoráveis para que os esporos sejam reativados.

Imagem: Anna Shvets

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A ração do seu cachorro pode estar deixando sua família doente

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Trinta e duas pessoas hospitalizadas. Oito internações. Bebês e idosos entre as vítimas. E tudo começou com algo aparentemente inofensivo: a ração do cachorro.

O perigo escondido na tigela

Um surto de Salmonella no Canadá acendeu o alerta vermelho: ração e petiscos contaminados estão adoecendo famílias inteiras. O pior? Seu cão pode parecer perfeitamente saudável enquanto espalha a bactéria pela casa.

Os números que assustam

O Surto
Dados reais
Infectados
32 pessoas confirmadas
Hospitalizados
8 casos graves
Vítimas
De bebês a idosos de 87 anos
Casos ocultos
Para cada 1 reportado, há 26 não diagnosticados

Como você está se contaminando sem saber

Você não precisa comer ração para ficar doente. A infecção acontece de formas surpreendentemente simples:
  • Aquele carinho no cachorro? Suas mãos ficam contaminadas
  • A lambida carinhosa no rosto? Bactéria diretamente na sua boca
  • Lavar a tigela do pet na pia da cozinha? Contamina tudo ao redor
  • Tocar na ração? Depois você leva a mão à boca
Cães podem eliminar Salmonella nas fezes e saliva por até 7 dias, mesmo sem sintomas. E aí, o que pode acontecer? A famosa e conhecida CONTAMINAÇÃO CRUZADA.
Produtos recolhidos: verifique AGORA
Marcas Puppy Love e Puppy World recolheram petiscos de carne, frango e cordeiro vendidos de fevereiro a outubro de 2025. Se você tem esses produtos em casa, jogue-os fora imediatamente.

Sintomas: quando procurar ajuda

A Salmonela ataca rapidamente (6 a 72 horas após contato):
  • Febre alta e calafrios
  • Diarreia intensa (pode ter sangue)
  • Vômitos e cólicas violentas
  • Dor de cabeça súbita
Grupos de alto risco: crianças pequenas, idosos, grávidas e pessoas com imunidade baixa podem ter complicações graves.

As 4 regras de ouro para proteger sua família

1 – Lave as mãos sempre

Depois de tocar na ração, no pet ou nas fezes. Sem exceções. Use água e sabão por 20 segundos.

2 – Separe tudo

Tigelas e utensílios do pet são exclusivos. Nunca os lave junto com a louça da família.

3 – Armazenamento inteligente

Ração longe da comida humana. Longe do alcance de crianças. Sempre fechada.

4 – Cuidado com a comida crua

Dietas cruas para pets são bombas-relógio de bactérias. A FDA já alertou: cozinhar é a única forma segura.
O que fazer AGORA

1 – Verifique se há produtos recolhidos em casa

2 – Crie uma rotina de higiene rigorosa

3 – Ensine as crianças a lavar as mãos após brincar com o pet

4 – Considere mudar para ração de marcas com histórico limpo

A tigela do seu cachorro não deveria ser uma ameaça à sua família, mas a realidade é que pode ser. Proteja quem você ama com informação e atitude.

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Identificação de perigos biológicos, químicos e físicos em alimentos de origem vegetal

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O post de hoje é uma entrevista com o Dr. Rafael Ribeiro Gonçalves Barrocas, auditor fiscal federal agropecuário do MAPA há 18 anos. Ele é mestre em Gerenciamento da Qualidade de Alimentos pela Wageningen University (Holanda), agrônomo formado pela UFV e coautor do estudo Identificação de perigos biológicos, químicos e físicos em alimentos de origem vegetal: Riscos associados, rotas de contaminação e medidas de controleEste estudo contém um guia com um mapeamento claro dos principais perigos associados a alimentos vegetais, facilitando a elaboração do plano APPCC e a adoção de medidas preventivas eficazes. Foi apresentado no VII Workshop Food Safety Brazil, em Porto Alegre, RS, em agosto de 2025.  


1 – Dr. Rafael, pode nos contar como surgiu a ideia de criar o guia?

A ideia surgiu da constatação da carência, no Brasil, de um material técnico-científico consolidado que auxiliasse o setor produtivo e o serviço oficial na identificação de perigos em alimentos de origem vegetal.

Com o aumento das exigências sanitárias nos mercados internacionais e a necessidade de fortalecer os controles baseados em risco, entendemos que um guia robusto e sistematizado seria uma ferramenta estratégica para apoiar tanto a implantação do APPCC nas empresas quanto a fiscalização oficial, principalmente no escopo do Programa de Segurança de Alimentos de Origem Vegetal (PSAOV) da SDA/MAPA.


2 – Como foi definida a metodologia para avaliação do estudo? Quais os principais critérios para definição dos riscos?

A metodologia adotada envolveu uma extensa revisão bibliográfica nacional e internacional, coleta de dados oficiais de monitoramento (como o PNCRC/Vegetal), consulta a publicações científicas e relatórios de agências reguladoras, como FDA, EFSA, ANVISA e CFIA.

Para definição dos riscos, levamos em conta três critérios principais: a severidade do perigo para a saúde humana, a frequência de ocorrência nas cadeias produtivas brasileiras e o potencial de disseminação ao longo da cadeia alimentar. O material foi estruturado segundo as categorias de perigos (biológicos, químicos e físicos), com detalhamento por produto ou grupo de alimentos vegetais.


  3 – Quais foram os maiores perigos encontrados? Em quais alimentos?

 Entre os perigos biológicos, destacam-se patógenos como Salmonella spp., Escherichia coli O157:H7 e Listeria monocytogenes, especialmente em hortaliças folhosas consumidas cruas (para mais informações sobre parasitas em vegetais, leia Risco microbiológico de parasitas protozoários em alimentos).

No grupo dos perigos químicos, são os resíduos de agrotóxicos, micotoxinas, como aflatoxinas em amendoim e milho (leia mais em: Será que a alface está limpa mesmo? Sanitização de vegetais).

Já nos perigos físicos, fragmentos de vidro, metais e plásticos rígidos foram relatados com frequência em alimentos industrializados. Esses achados reforçam a necessidade de controles integrados em todas as etapas da cadeia, da produção primária ao processamento.


4 – Pensando em avaliação de risco, como os produtores de alimentos podem aproveitar este guia para trazer mais segurança aos processos?

Pequenos e médios produtores, que nem sempre têm acesso a consultorias especializadas, podem usar o material como referência técnica para implementar boas práticas agrícolas, higienização, rastreabilidade e monitoramento ambiental. Além disso, ao incorporar esse tipo de abordagem, os produtores ganham maior previsibilidade nas auditorias e mais competitividade em mercados exigentes.


5 – Quais as principais conclusões do estudo?

A principal conclusão é que a inocuidade de alimentos vegetais depende de uma abordagem integrada e baseada em risco. O estudo mostra que muitos perigos podem ser controlados com medidas relativamente simples, como manejo adequado da água de irrigação, controle de temperatura, capacitação de manipuladores e programas de higiene estruturados.

Também reforça a importância do alinhamento entre setor regulado e serviço oficial, com base em critérios técnicos e objetivos. O guia contribui para esse alinhamento ao oferecer uma base comum de conhecimento.


6 – Pensando no futuro, há planejamento de produção de novos guias para outras categorias de alimentos?

Sim. A equipe técnica da DIPOV/SDA já discute a ampliação do escopo, com foco em alimentos minimamente processados, polpas de frutas congeladas, grãos e sementes destinadas ao consumo humano. 

O objetivo é que o guia se consolide como uma referência viva e atualizada dentro do Programa de Segurança de Alimentos de Origem Vegetal (PSAOV) do DIPOV, contribuindo continuamente para elevar o padrão de segurança dos alimentos vegetais no Brasil.

 Quer ter acesso ao guia completo? Clique em: Repositório Institucional do MAPA: Identificação de perigos biológicos, químicos e físicos em alimentos de origem vegetal : Riscos associados, rotas de contaminação e medidas de controle.

3 min leituraO post de hoje é uma entrevista com o Dr. Rafael Ribeiro Gonçalves Barrocas, auditor fiscal federal agropecuário do MAPA há 18 anos. Ele é mestre em Gerenciamento da Qualidade […]

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Participe do 17° Food Safety Brazil Meeting – evento on line e gratuito

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Saiba tudo sobre monitoramento microbiológico do ar em plantas alimentícias

No nosso dia a dia em indústrias de alimentos, vários fatores precisam ser monitorados para evitar a contaminação dos produtos. Algumas práticas como controle de matérias-primas, higienização de equipamentos, utensílios e ambiente, além de acompanhamento das boas práticas de manipulação costumam ser bastante discutidas.

E quando pensamos nas condições do ar das plantas? Como fazemos esse monitoramento? Qual o impacto da carga microbiológica desse ar como possível vetor para contaminação dos alimentos?

O monitoramento do ar em indústrias de alimentos é uma etapa essencial dos programas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e de controle microbiológico ambiental.

É crescente a preocupação da indústria de alimentos quanto à qualidade do ar dentro das fábricas. O ar é um vetor potencial de contaminação e sua qualidade é considerada um fator crítico para garantir a segurança dos alimentos e a conformidade com as normas regulatórias, mesmo que ainda não existam normas específicas de carga microbiana no ar na indústria de alimentos.

Esse controle é crucial para atender parâmetros ambientais na ISO 22000, por exemplo. Em nosso webinar mostraremos exemplos práticos e cuidados para realizar análises corretas do ar nas indústrias de alimentos e bebidas.

Portanto, não fique de fora desse rico aprendizado e participe do 17° Meeting online do Food Safety Brazil, no dia 25 de novembro às 14h. Para se inscrever, clique nesse link  e reserve a data na sua agenda. A participação é gratuita, mas não deixe para a última hora, pois as vagas são limitadas.

Nessa edição estarão conosco a  Carla Gomes, consultora e colunista FSB e Luis Costa, gerente de aplicações na Merck para América Latina, apaixonado por ciência e inocuidade alimentar, com 25 anos de experiência em análises microbiológicas de alimentos e especialista em análise de ar aplicada à indústria de alimentos e bebidas.

Aproveite essa oportunidade para agregar ainda mais valor à sua jornada. O Food Safety Brasil é seu parceiro.

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