Blog FSB

2 min leitura
0

Cinco passos para aprimorar seu programa de proteção contra fraude alimentar

2 min leitura

Recentemente o Food & Drink Federation (FDF), organização do Reino Unido que representa as indústrias de alimentos e bebidas, publicou um guia denominado Food Authenticity Guide (Guia de Autenticidade Alimentar). Nesse documento, são apresentados 5 passos para auxiliar as organizações a se protegerem contra fraude alimentar.

As recomendações, ainda que práticas e gerais, fornecem insights importantes que merecem atenção no desenvolvimento dos programas de proteção contra a fraude alimentar.

Os cinco passos são:

  1. Mapear sua cadeia de suprimentos: compreender quais são os materiais e ingredientes do seu processo produtivo, os fornecedores de cada material e sua origem ou questões especiais;
  2. Identificar os riscos: entender os riscos associados à cadeia de suprimentos de cada material, podendo usar bases de dados e outras informações aplicáveis relacionadas ao fornecedor e ao material propriamente dito, como preço e características;
  3. Avaliar e priorizar o risco: uma vez conhecidos os riscos de fraude alimentar, estes devem ser avaliados com uso de uma metodologia de risco estabelecida, considerando evidências, informações e controles já utilizados;
  4. Criar e implementar um plano de ação: deve-se definir ações para mitigar e gerenciar os riscos, de acordo com a avaliação realizada, considerando questões sobre a cadeia de suprimentos e o processo;
  5. Rastrear, revisar e comunicar: importante garantir que a cadeia de suprimentos seja comunicada das ações aplicáveis aos seus negócios, assim como comunicação interna, garantindo sua plena integração.

O guia ainda conta, para cada etapa, com um checklist de ações a serem seguidas e uma saída esperada após sua execução.

O guia pode ser acessado gratuitamente no site do FDF, clicando aqui.

Para saber mais sobre fraude alimentar, confira outras postagens do blog:

   -> Fraudes em alimentos e os protocolos de certificação GFSI

   -> Orientação sobre Mitigação de Fraude Alimentar (documento da FSSC 22000)

   -> Desenvolvimento da estratégia de mitigação de fraude, segundo o programa Food Fraud da U.S. Pharmacopeia

2 min leituraRecentemente o Food & Drink Federation (FDF), organização do Reino Unido que representa as indústrias de alimentos e bebidas, publicou um guia denominado Food Authenticity Guide (Guia de Autenticidade Alimentar). […]

3 min leitura
0

A Era Digital e a humanização no controle de qualidade dos alimentos

3 min leitura

Garantir alimentos seguros e ter processos monitorados e controlados é um dos grandes desafios das indústrias de alimentos. A evolução tecnológica e as crescentes demandas dos consumidores tornam o futuro da segurança de alimentos cada vez mais complexo e desafiador. A era digital trouxe ferramentas poderosas que auxiliam o controle de qualidade e a garantia de segurança dos alimentos. No entanto, é essencial lembrar que a humanização continua sendo o pilar fundamental para a produção de alimentos seguros e de qualidade.

A Era Digital na segurança de alimentos

A tecnologia digital revolucionou muitos aspectos no controle da produção de alimentos. Hoje, temos diversas ferramentas que permitem uma vigilância constante, análises preditivas e a rastreabilidade detalhada de cada etapa da cadeia de produção.

  • Internet das Coisas (IoT): Sensores conectados à internet permitem monitorar condições como temperatura e umidade em tempo real, garantindo que os alimentos sejam armazenados e transportados em condições ideais. Isso reduz significativamente o risco de contaminação e deterioração dos produtos.
  • Inteligência Artificial (IA): Algoritmos de IA podem analisar grandes volumes de dados para identificar padrões e prever possíveis riscos de segurança dos alimentos, permitindo ações preventivas.
  • Blockchain: A tecnologia blockchain oferece uma maneira segura e transparente de rastrear a origem e a movimentação dos alimentos ao longo da cadeia de suprimentos. Isso aumenta a confiança dos consumidores e facilita a identificação e retirada de produtos quando se fizer necessário.
  • Big Data: A análise de big data permite às empresas identificar tendências e ineficiências em seus processos, melhorando continuamente a segurança e a qualidade dos alimentos.

A importância da humanização

Apesar dos avanços tecnológicos, a humanização permanece essencial para a segurança de alimentos. O comprometimento e o comportamento dos colaboradores, desde a alta direção até os operadores de linha, são cruciais para garantir a implementação eficaz das boas práticas de fabricação (BPF). A tecnologia pode fornecer as ferramentas, mas são as pessoas que fazem a diferença no dia a dia.

Comprometimento da Alta Direção

A cultura de segurança de alimentos começa no topo. A alta direção deve demonstrar um compromisso genuíno com a segurança de alimentos, não apenas em palavras, mas em ações concretas. Isso envolve a criação de políticas claras, a alocação de recursos adequados e o incentivo a uma cultura de melhoria contínua.

Conhecimento e empatia

Para garantir que os colaboradores sigam as boas práticas, é fundamental conhecê-los e entendê-los em sua essência. Um ambiente de trabalho onde os funcionários se sintam valorizados e compreendidos é mais propenso a promover comportamentos responsáveis e comprometidos com a segurança dos alimentos. Criar conexões sinceras e verdadeiras é essencial para que esse sentimento seja vivenciado no dia a dia na produção de alimentos seguros.

Boas práticas no dia a dia

Costumo dizer: “precisamos ter um arroz com feijão bem-feito” – ou seja, a execução consistente das práticas simples e básicas para alcançar a excelência na produção de alimentos. Isso inclui desde a lavagem correta das mãos, limpeza e sanitização das superfícies e instalações, até a manutenção precisa de registros.

10 dicas para conhecer e incentivar os colaboradores para produção de alimentos seguros

  1. Olho no olho: precisamos conectar as pessoas. Olhar nos olhos dos colaboradores de maneira receptiva e com brilho nos olhos.
  2. Sorriso no rosto: acolha o colaborador com um sorriso genuíno e demonstre a alegria de tê-lo no time.
  3. Escuta ativa: ouvir e valorizar as opiniões dos colaboradores promove um ambiente de confiança.
  4. Ações versus palavras: demonstre seu compromisso com a segurança de alimentos por ações concretas e visíveis. O exemplo ainda é a melhor ferramenta para engajar um time.
  5. Elogios e reconhecimento: reconheça publicamente as conquistas dos funcionários por meio de elogios verbais, reforçando comportamentos positivos. Proporcione recompensas tangíveis, certificados ou prêmios como bônus ou dias de folga, para funcionários que se destacam na implementação das boas práticas.
  6. Cuidar da equipe: pequenos gestos de cuidado, como oferecer um café da manhã ou um espaço de descanso adequado, demonstram uma preocupação genuína com o bem-estar dos colaboradores.
  7. Deixar a equipe brilhar: dê visibilidade aos sucessos da equipe, celebrando as vitórias e incentivando a cooperação e o trabalho em equipe.
  8. Enfatizar as coisas boas diariamente: crie o hábito de destacar aspectos positivos no cotidiano do trabalho. Isso aumenta a resiliência da equipe em momentos difíceis.
  9. Boas histórias sobre a empresa: incentive os funcionários a compartilharem suas experiências positivas na empresa, criando um ambiente de trabalho motivador.
  10. Avaliar a equipe: pessoas avaliadas tendem a buscar a excelência em suas ações. Com isso, o resultado esperado em nossos produtos será maior e melhor.

Conclusão

O futuro da segurança de alimentos está intimamente ligado à integração de tecnologias digitais e à humanização dos processos. Enquanto as ferramentas tecnológicas fornecem meios avançados de monitoramento e controle, o comportamento e o comprometimento dos colaboradores são fundamentais para a implementação eficaz dessas práticas. A combinação desses elementos assegura a produção de alimentos seguros, atendendo às expectativas dos consumidores e cumprindo os requisitos regulatórios.

Gislaine Taurim é consultora e auditora em Segurança de alimentos, com 18 anos de experiência em liderança de pessoas e gestão de processos em indústrias de alimentos. É graduada em Tecnologia de Alimentos, com especialização em Ciência e Tecnologia e Normas de Segurança dos Alimentos.

3 min leituraGarantir alimentos seguros e ter processos monitorados e controlados é um dos grandes desafios das indústrias de alimentos. A evolução tecnológica e as crescentes demandas dos consumidores tornam o futuro […]

2 min leitura
0

Palestra: Como prevenir fraudes na sua cadeia de abastecimento

2 min leitura

Este post relata a palestra apresentada no dia 15 de agosto de 2024, no VI Workshop Food Safety Brazil – O que esperar do futuro: segurança de alimentos e embalagens. No primeiro dia do evento, recebemos o Auditor Fiscal Federal Agropecuário Fabricio Pedrotti, com o tema Como prevenir fraudes na sua cadeia de abastecimento.

Logo no início da palestra, uma colocação muito pertinente foi que mesmo que não exista a intenção de fraudar, mas se existir uma falha no monitoramento da qualidade da empresa e um desvio no atendimento do regulamento, haverá um prejuízo à segurança de alimento.

“Fraude é qualquer ato ou omissão intencional concebido para enganar os outros, resultando na vítima sofrendo perdas e/ou o autor obtendo um ganho”

Alguns questionamentos importantes e que podem ajudar a entender a ocorrência de algumas fraudes são:

  • Qual é o meu negócio?
  • Qual a real capacidade do meu negócio?

Um exemplo foi sobre a capacidade produtiva de uma empresa que em um dado momento resolve produzir uma quantidade maior, sem se preocupar com sua capacidade de transporte na cadeia de frio. Isso acaba ocasionando um desvio de qualidade no produto que será entregue, mesmo que todos os cuidados tenham sido tomados durante o processo produtivo.

Foram elencados os cinco principais fatores que contribuem para a ocorrência das fraudes:

  • Política – relacionada aos interesses econômicos entre os países, como por exemplo a Guerra entre Ucrânia e Rússia. A guerra gera impactos na segurança de alimentos e coloca a questão: quais países poderão comercializar grãos para suprir a falta dessa capacidade da Ucrânia;
  • Economia – relacionada à intenção de aumentar faturamento, ter ganhos econômicos, como produzir acima de uma capacidade que permita atendimento aos requisitos de qualidade;
  • Climáticas – as mudanças climáticas alteram, por exemplo, os padrões das matérias-primas. Uma prática pouco realizada pelas empresas é analisar todos os lotes recebidos das matérias-primas; caso esse procedimento fosse realizado, alguns desvios poderiam ser detectados;
  • Ciberespaço – fraude relacionada à adulteração de relatórios de ensaios;
  • Logística – falhas na cadeia de armazenamento podem alterar um bom trabalho feito anteriormente durante o processo de produção. Uma medida que poderia evitar essas falhas, mas que não é comum nas empresas que produzem alimentos, são as auditorias em fornecedores logísticos.

Pensando em como prevenir fraudes, etapas importantes são: mapear riscos, identificar, controlar, monitorar pontos críticos. Esse trabalho iniciou-se com a implantação dos planos APPCC e uma questão relevante são as análises críticas contínuas dos dados gerados durante a análise de risco, inclusive quando houver alterações de processo e a necessidade de incluir novos possíveis riscos.

A Qualidade não é a executora do sistema, ela é o controle interno da empresa. Ela irá trabalhar para monitorar e fará um trabalho conjunto com os executores. Eles, os executores, são os que realizam o trabalho e que irão capacitar, que deverão participar da investigação da causa-raiz. Assim, a cultura de segurança de alimentos está sendo implantada. Existe um grupo multidisciplinar que trabalha em conjunto para garantir a segurança daquele alimento fornecido, que faz parte da saúde pública.

É importe ter um plano de resposta para problemas que podem afetar a imagem da empresa, definindo como agir em casos de impacto. Casos de recall são um exemplo: como a empresa responderá à sociedade? Qual o plano de resposta da empresa nesse caso? Porque essa identidade da empresa é que fará com que os consumidores decidam pela compra ou não do seu produto.

A certificação pode ser vista como um seguro que a empresa tem para garantir sua integridade frente a possíveis problemas.

2 min leituraEste post relata a palestra apresentada no dia 15 de agosto de 2024, no VI Workshop Food Safety Brazil – O que esperar do futuro: segurança de alimentos e embalagens. […]

4 min leitura
0

Novidades na legislação de embalagens e ensaios de migração: o que está por vir?

4 min leitura

Dr. Paulo Kiyataka, pesquisador científico do Centro de Tecnologia de Embalagem do Instituto de Tecnologia de Alimentos, fez palestra no VI Workshop deste blog (no CREA, em São Paulo). Ele encantou os participantes pela didática e clareza nas abordagens dos temas sobre legislação de embalagens e nas respostas às dúvidas da plateia no modo híbrido.

Compartilhamos aqui as palestras do evento.

O palestrante iniciou com regulatórios trazendo a definição de contaminantes físicos, químicos (radiológicos e alergênicos) e biológicos no Mercosul, GMC n.13/24, 28/05/2024: “Contaminante: qualquer substância indesejável não intencionalmente adicionada aos alimentos e que está presente como resultado da produção primária, industrialização, processamento, preparação, tratamento, embalagem, transporte ou armazenamento ou como resultado de contaminação ambiental.” E depois a RDC 91/2001 sobre os materiais x segurança: “As embalagens e equipamentos que estejam em contato direto com alimentos devem ser fabricados em conformidade com as boas práticas de fabricação para que, nas condições normais ou previsíveis de emprego, não produzam migração para os alimentos de componentes indesejáveis, tóxicos ou contaminantes em quantidades tais que superem os limites máximos estabelecidos de migração total ou específica”. A norma estabelece as Listas Positivas e Migração total e Migração específica de embalagens e equipamentos que entram em contato direto com alimentos durante sua produção, elaboração, fracionamento, armazenamento, distribuição, comercialização e consumo. Assim, frisou que, quando uma substância não está incluída em uma Lista Positiva, ela não pode ser usada em materiais para contato com alimentos, na aplicação a que se refere esta lista.

A Lista Positiva contém especificações e restrições, tais como:

  • Limite de Composição: concentração máxima permitida da substância no material ou no produto final;
  • Critérios de Pureza: teor máximo de prováveis contaminantes na substância;
  • Especificação: massa molecular, temperatura de amolecimento ou atendimento a requisitos técnicos;
  • Restrição de uso: a substância é aprovada para contato com determinada classe de alimento; ou com aplicações específicas; ou pode ser usada somente na formulação de um determinado componente, ou ainda, usada apenas com uma função específica;
  • Limite de Migração Específica (LME):  quantidade máxima admissível da substância que é transferida a um simulante do alimento, em condições específicas de contato.

A Migração Total e Específica depende das condições de extração:

  • Tipo de alimento;
  • Temperatura de contato;
  • Tempo de contato: contato breve ou contato prolongado;
  • Condições de uso: alimento quente, temperatura ambiente, refrigerado, congelado;
  • Uso em micro-ondas, forno convencional (condições para o consumo).

Paulo Kiyataka apresentou também as novidades de regulatórios do mercado comum do sul, os Estados Partes fundadores do MERCOSUL e signatários do Tratado de Assunção (TA), que são a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai, criado em 31 de dezembro de 1994:

A Diretoria Colegiada da Anvisa (Dicol) aprovou, por meio de Circuito Deliberativo (CD 1.312, de 15 de dezembro de 2023), a Agenda Regulatória (AR) para o ciclo 2024-2025. O documento, publicado no Diário Oficial da União pela Portaria 1.409, de 15/12/2023, é composto por 172 temas regulatórios distribuídos em 16 macrotemas. De acordo com o Manual da Agenda Regulatória, os temas estão alinhados aos objetivos estratégicos do Plano Estratégico 2024-2027 e possuem viabilidade de andamento durante a vigência da Agenda e pode ser consultado em:

https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2023/anvisa-aprova-agenda-regulatoria-2024-2025

Neste ano de 2024 estão sendo discutidas:

  • Atualização da Resolução RDC n. 217/2001 –  referente a filmes de celulose regenerada;
  • Revisão da Resolução RDC n.  20/2008 – referente a PET – PCR – reciclagem química;
  • Revisão pontual da Resolução RDC n. 88/2016 (referente ao DIPN – Diisopropil naftaleno);
  • Consulta Pública n. 1235 de 26/02/24: Proposta de Resolução de Diretoria Colegiada que dispõe sobre os requisitos sanitários aplicáveis aos silicones utilizados em materiais, embalagens, revestimentos e equipamentos destinados a entrar em contato com alimentos e a Consulta Pública n.1236 de 26/02/24: Proposta de Instrução Normativa que estabelece as listas de substâncias que podem ser utilizadas na elaboração de silicones utilizados em materiais, embalagens, revestimentos e equipamentos destinados a entrar em contato com alimentos;
  • Aguardando publicação como consulta pública para inclusão de duas substâncias na Resolução GMC 02/2012 (Resolução RDC 56/2012): Consulta Pública n. 1241 de 20/03/24 sobre a Poliamida-imida 2 (PAI-2) e Éter Diglicidílico de Tetrame l Bisfenol F (TMBPF-DGE) e duas no Resolução GMC n. 39/2019 (Resolução RDC n. 326/19): Consulta Pública n. 1244 de 20/03/24 sobre Fosfato de prata-magnésio-sódio-boro (silver glass) e Dietilaminoetanol;
  • Publicada como RDC 854/2024, de 4 de maio de 2024 e revoga a RDC 20/2007 e a RDC 498/21, abordada neste blog em outro post, com novidade sobre os materiais metálicos. O limite individual de arsênio não deve ser maior do que 0,030% e o alumínio tecnicamente puro e suas ligas, sobre tempos de contatos com alimentos muito ácidos e muito salgados. Aço carbono sem revestimento somente para a fabricação de equipamentos da indústria agroalimentícia para o processamento, armazenamento (tanques, silos etc.), condução (tubulações, acessórios etc.), e transporte (contêineres de navios, ferroviários, rodoviários etc.) de gorduras e óleos brutos e semirrefinados, processamento de cacau e derivados, chocolates, coberturas, granulados e recheios à base de gorduras, alimentos secos (arroz e outros cereais, leguminosas etc.) e tubérculos. Os metais e revestimentos metálicos podem ser passivados por meio de um pós-tratamento químico ou eletroquímico com cromo, manganês, titânio, estanho e/ou zircônio e/ou seus óxidos e/ou sais inorgânicos;
  • Foi revogado o registro de embalagens. A Resolução 23, de 15 de março de 2000, dispõe sobre o Manual de Procedimentos Básicos para Registro e Dispensa da Obrigatoriedade de Registro de Produtos Pertinentes à Área de Alimentos e a Resolução 22, de 15 de março de 2000, dispõe sobre os procedimentos básicos de Registro e Dispensa da Obrigatoriedade de Registro de produtos IMPORTADOS pertinentes à área de alimentos;
  • Publicada em 22 de fevereiro de 2024 a 6ª edição de perguntas e respostas sobre materiais de contato com alimentos, acessível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/alimentos/perguntas-e-respostas-arquivos/embalagens-materiais-em-contato-com-alimentos.pdf/view

O palestrante fez algumas considerações sobre a cadeia produtiva ampla e processos complexos no setor de embalagens, cabendo respeitar a legislação vigente, ao setor produtivo entender, estudar, discutir a legislação. A cadeia produtiva deve interagir, sempre utilizar o princípio da precaução e a conformidade do artigo final só será possível se todos da cadeia observarem a sua responsabilidade compartilhada, como simbolizado na figura abaixo:

4 min leituraDr. Paulo Kiyataka, pesquisador científico do Centro de Tecnologia de Embalagem do Instituto de Tecnologia de Alimentos, fez palestra no VI Workshop deste blog (no CREA, em São Paulo). Ele […]

3 min leitura
0

Perigos químicos emergentes identificados pela EFSA

3 min leitura

A European Food Safety Agency – EFSA (Agência Europeia de Segurança de Alimentos) – recentemente publicou um relatório técnico sobre perigos químicos emergentes relacionados à segurança de alimentos para humanos e animais, compreendendo o período de 2020 a 2023.

Perigos químicos emergentes são aqueles que eram desconhecidos ou pouco mencionados até então. Durante o levantamento de dados pela EFSA, diversas fontes foram consideradas, como: projetos de avaliação da EFSA, como Screener Project, mudanças climáticas, desafios dos oceanos e outras ferramentas de dados (ex. JRC TIM Analytics tool e EuroCigua I and II projects).

A identificação destes perigos químicos emergentes foi baseada em análises a partir de uma abordagem multidisciplinar, considerando aspectos toxicológicos, químicos, epidemiológicos e outras informações relevantes.

No projeto SCREENER, a EFSA realizou avaliação de 212 substâncias químicas. Destas, 15 foram priorizadas por resultados de análises quantitativas em amostras de diversos alimentos. Na tabela abaixo são apresentadas 12 dessas substâncias, sendo que 3 ainda carecem de mais estudos (3,4-dimethylaniline, quinoline, n-methylacetamide).

Com base no TIM Analytics tool, desenvolvido pelo Joint Research Centre (JRC), 60 químicos foram analisados, baseados na lista de 212 substâncias do EFSA e em outros químicos analisados utilizando o “TIM Technology” e “TIM News”. Nos estudos, foram considerados cerca de 3.000 artigos. Os químicos emergentes identificados são apresentados nas tabelas abaixo. A Tabela 2 refere-se aos resultados usando a ferramenta “TIM Technology”, enquanto a Tabela 3 usou a “TIM News”.

Com relação às mudanças climáticas, o CLEFSA Project identificou uma lista de 19 químicos emergentes, apresentados na Tabela 4, que representam impacto à saúde pública por serem caracterizados como novos perigos, pelo aumento à exposição de um perigo conhecido. Na Tabela 5, são apresentados perigos de variação de micro/macro nutrientes nas matrizes de alimentos.

Os projetos EuroCigua I and II identificaram ocorrências de ciguatoxinas, resultado da bioacumulação e biotransformação por precursores de toxinas produzidos por dinoflagelados Gambierdiscus spp. e Fukuyoa spp., com registro de um total de 209 casos em 34 surtos de ciguatera na União Europeia de 2012 a 2019.

Por fim, o projeto “Food and feed safety vulnerabilities in the circular economy” (Vulnerabilidades na segurança dos alimentos e de rações na economia circular), com base em diversos estudos, identificou alguns perigos químicos emergentes, como: metais pesados (em particular, altos níveis de Cd e Ni em pré-pupas), dioxinas, bifenilos policlorados (PCBs), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), hidrocarbonetos de óleo mineral, medicamentos veterinários, pesticidas e a absorção de alérgenos por insetos do substrato (ex. glúten).

Além destes, também são apresentadas duas tabelas com alguns outros químicos que atualmente não podem ser concluídos como perigos emergentes, devido à insuficiência de dados e informações.

O estudo completo pode ser acessado diretamente no site da EFSA, clicando aqui.

Imagem em destaque gerada por inteligência artificial

3 min leituraA European Food Safety Agency – EFSA (Agência Europeia de Segurança de Alimentos) – recentemente publicou um relatório técnico sobre perigos químicos emergentes relacionados à segurança de alimentos para humanos […]

4 min leitura
0

Fraude na fabricação de materiais de embalagens de alimentos

4 min leitura

No VI Workshop deste blog, em 16/08/2024, contamos com a participação internacional (remotamente) de John W. Spink, PhD, diretor da Academia de Prevenção de Fraudes Alimentares e professor auxiliar no Departamento de Gestão da Cadeia de Suprimentos da Faculdade de Negócios, MSU. Ele abordou brilhantemente a revisão da fundação GFSI e do FSMA para entender de onde e como a fraude alimentar pode ocorrer com materiais de embalagens. Apresentou uma abordagem holística e abrangente para a fraude alimentar, incluindo adulteração por motivos econômicos, adulteração intencional e falsificação e trouxe aos olhos do público o conceito relativamente novo de prevenção de fraudes alimentares. A palestra (juntamente com as demais apresentações do evento) pode ser conferida aqui.

O palestrante iniciou com os seguintes questionamentos: como atender aos requisitos de conformidade? Realizar uma avaliação de vulnerabilidade a food fraud, independentemente de o resultado ser “sem vulnerabilidades” – você ainda precisa de uma avaliação para defender isso, e; uma estratégia de prevenção de fraudes alimentares com contramedidas ou sistemas de controle para vulnerabilidades identificadas em #1 – você ainda precisa de uma estratégia, mesmo que afirme que a única ação é “monitorar ativamente”?

Lembrou a todos que se você vende embalagens para a indústria alimentícia, então você ESTÁ na indústria ALIMENTÍCIA. Você está sujeito às leis e regulamentos ALIMENTARES. Não cumprir é muitas vezes criminoso! Trabalhando juntos, podemos garantir que todos operemos de acordo com os altos padrões da cadeia de suprimentos exigidos pelos clientes dos seus fornecedores. E estes devem estabelecer, implementar, documentar e manter os sistemas de gestão da qualidade e segurança de alimentos e melhorar continuamente sua eficácia para atender aos requisitos e todas as leis e regulamentos aplicáveis. Os fornecedores devem demonstrar a eficácia de tais sistemas por meio de processos documentados, medidas de controle e resultados de auditoria e devem realizar uma análise de risco em ingredientes e matérias-primas para garantir o cumprimento dos requisitos de segurança e qualidade de alimentos e evitar ameaças de fraudes alimentares, documentando tudo isso.

Lembrou o conceito da GFSI: “Fraude alimentar: um termo coletivo que engloba a substituição, adição, adulteração ou deturpação deliberada e intencional de alimentos, ingredientes alimentares ou embalagens de alimentos, rotulagem, informações sobre produtos ou declarações falsas ou enganosas feitas sobre um produto para ganho econômico que pode afetar a saúde do consumidor” (requisitos de benchmarking GFSI, 2017). Desde julho de 2014 é uma preocupação crescente a fraude alimentar, incluindo a subcategoria de adulteração economicamente motivada. É enganar os consumidores que usam produtos alimentícios, ingredientes e empacotamento para ganho econômico e inclui substituição, melhorias não aprovadas, falsificação, bens roubados ou outros.

Existem três vulnerabilidades específicas da cadeia à fraude alimentar:

1)      – matérias-primas ou componentes,

2)      – na cadeia de abastecimento legítima, e

3)      – produto que nunca entra na cadeia de suprimentos proprietária.

John Spink trouxe-nos os requisitos de embalagem na GFSI, provocando o que é a embalagem ou o embalamento? Um pacote (o recipiente e os componentes) ou o processo de enchimento da embalagem? Quem é responsável pelo quê: o vendedor de pacotes? O comprador do pacote? O usuário do pacote? Os requisitos sobre estas questões estão nas ferramentas: HACCP, TACCP, VACCP. Escopo do esquema e elementos-chave estão no objetivo da Parte lll – Produção de Embalagens de Alimentos que é definir os requisitos para que os sistemas de gestão da segurança de alimentos, os requisitos de Boas Práticas e do HACCP devem estar em vigor no padrão do esquema para o escopo de reconhecimento GFSI – Produção de Embalagens de Alimentos (embalagens para alimentos e rações, materiais de embalagem, componentes de embalagem sob a forma de matérias-primas, materiais de embalagem parcialmente processados, semi-convertidos, convertidos ou totalmente acabados e produtos para uso na cadeia de suprimentos). Além do sistema de gestão, deve garantir que as embalagens usadas para transmitir ou fornecer um efeito funcional aos alimentos, como extensão do prazo de validade, sejam, quando conhecidas, eficazes dentro de seus próprios critérios especificados.

O comprador de embalagens deve exigir o gerenciamento de suprimentos para garantir que todos os materiais e serviços de origem externa que afetam os materiais de embalagem seguros para alimentos estejam em conformidade com os requisitos especificadores e regulamentares, incluindo os requisitos do plano de mitigação de fraudes alimentares. O uso de fornecedores não aprovados deve ser aceitável em uma situação de emergência, desde que a instalação tenha sido avaliada e o produto atenda às especificações, minimamente.

As normas certificadas devem exigir que a organização disponha de um procedimento documentado de avaliação da vulnerabilidade à fraude para identificar potenciais vulnerabilidades e dar prioridade às medidas de atenuação da fraude e que nele especifique as medidas que a organização implementou para mitigar os riscos à saúde pública decorrentes das vulnerabilidades identificadas, sempre apoiado no SGSA.

Seguindo as referências apresentadas no final deste post, a orientação foi perguntar aos seus fornecedores em auditorias:

1)      – Realizou pelo menos uma Avaliação de Vulnerabilidade à Fraude Alimentar? (S/N)

2)      – Está escrita? (S/N)

3)      – Criou uma estratégia de prevenção de fraudes alimentares? (S/N)

4)      – Está escrita? (S/N)

5)      – Demonstra implementação? (S/N)

6)      – Obteve aprovação de nível executivo? (S/N)

7)      – Realiza minimamente uma revisão anual de incidentes de fraude alimentar? (S/N)

8)      – Qual o método para revisar seus incidentes e os incidentes gerais de mercado? (S/N)

9)      – Aborda todos os tipos de fraudes alimentares? (S/N)

10) Endereça todos os produtos, tanto de mercadorias recebidas (por exemplo, ingredientes) quanto de mercadorias de saída (por exemplo, produtos acabados) até o consumidor? (S/N)

Gostou das dicas deste especialista internacional no tema? Em breve publicaremos mais postagens sobre outras palestras deste evento.

Referências

4 min leituraNo VI Workshop deste blog, em 16/08/2024, contamos com a participação internacional (remotamente) de John W. Spink, PhD, diretor da Academia de Prevenção de Fraudes Alimentares e professor auxiliar no […]

7 min leitura
0

Desafios e práticas de Segurança de Alimentos no abate e processamento de jacarés

7 min leitura

O abate e processamento de jacarés no Brasil é uma atividade única, que exige uma série de adaptações para garantir a segurança dos alimentos, diferentemente do que ocorre com o de animais mais comuns, como bovinos, suínos e aves. Nesta entrevista exclusiva com uma profissional especializada*, exploramos os principais desafios, práticas de higienização e regulamentações envolvidas no abate e processamento de jacarés, proporcionando uma visão detalhada desse processo que é ainda pouco conhecido.

A partir dessa conversa, fica claro que o controle rigoroso desde a criação até o abate é fundamental para assegurar a qualidade e a segurança microbiológica da carne de jacaré. As práticas adotadas, embora semelhantes em alguns aspectos às de outros abatedouros, têm suas particularidades, especialmente devido às características biológicas dos jacarés e às condições específicas de seu manejo.

1) Quais são os principais desafios relacionados à segurança de alimentos durante o abate de jacarés, especialmente em comparação com o abate de outros animais mais comuns como bovinos e aves?

Além de todos os itens habituais, determinados pelo plano de autocontrole para garantir a inocuidade do que é produzido, há vários desafios a serem encarados, ao se tratar da segurança de alimentos no abate de crocodilianos, alguns semelhantes e outros bastante distintos de outras espécies:

– Chegada dos animais: Os animais são transportados da criação ao frigorífico em veículos adaptados. Ao chegarem são acomodados em baias de espera, onde permanecem em jejum, apenas com água potável. Esse jejum pode durar entre 18 e 72h, pois os jacarés são pecilotérmicos e, em temperaturas mais baixas, o metabolismo dos jacarés cai, desacelerando o esvaziamento do trato gastrointestinal. A quantidade de trocas de água nessa baia também varia de acordo com a temperatura ambiente.

Foto 01 – Baia de espera

– Abate: Após a inspeção ante mortem os animais são liberados e encaminhados para uma baia de recepção, dentro da sala de abate, dotada de água hiperclorada, com teor de cloro entre 3 e 10 ppm.

Foto 02. Baia de recebimento sala de abate

Na sangria, quando ocorre o içamento do animal a nória, é feita a introdução de um algodão embebido em água hiperclorada na cloaca dos jacarés, também para evitar o extravasamento de conteúdo. É válido descrever aqui a forma como a sangria é realizada. Nos outros animais de açougue, a sangria ocorre no pescoço bilateral, para seccionar os grandes vasos da região como carótida e jugular. Já no caso dos crocodilianos, a sangria ocorre através de uma secção profunda na região occipital (“nuca”) de modo a cortar todos os plexos venosos locais. Após essa operação, ocorre a secção da medula e a desmielinização da medula, com estilete, com o objetivo de impedir com que os nervos sejam capazes de conduzir corretamente as mensagens para o cérebro e evitar movimentos espasmódicos contínuos.

Foto 03 – Sangria

– Temperatura ambiente: A temperatura da sala de abate é sempre inferior a 16ºC. No setor de miúdos e desossa, as temperaturas devem ser sempre de 14ºC ou menos.

Portanto, o grande desafio relacionado à segurança dos alimentos é padronizar as atividades de inspeção e autocontrole, uma vez que é um segmento que carece de maior arcabouço regulatório do MAPA. O grande esforço dos agentes privados que atuam nesse segmento é validar suas atividades junto aos órgãos de fiscalização sanitária.

2) Como é feita a inspeção sanitária dos jacarés antes e depois do abate, e quais são os principais patógenos de preocupação nesse tipo de processamento?

Os animais chegam ao frigorífico acompanhados do documento de transporte (o DTA – Documento de Trânsito Animal ou a GTA – Guia de Trânsito Animal, dependendo de cada caso de transporte) e com base neste documento serão elaboradas a escala de abate e as fichas de baia. O auditor fiscal federal agropecuário (AFFA), do SIF/MAPA, realiza a Inspeção Ante Mortem, observando a presença de lesões externas ou alterações comportamentais. Após isso, os animais são liberados para abate.

Na sala de abate as carcaças passam por inspeção, observando a presença de alterações ou lesões macroscópicas. Se existirem alterações na cor da carcaça, odor diferenciado, formação de abcessos, as carcaças devem ser encaminhadas ao DIF (Departamento de Inspeção Final) e avaliadas caso a caso, dando julgamento e destino adequado ao produto. Na inspeção de linha dos jacarés não há uma divisão pré-estabelecida em legislação, como acontece por exemplo no setor de aves, que possui inspeção de Linha “A” para “interna”, Linha “B” para “vísceras e miúdos” e Linha “C” para “externa”.

Foto 4 – Inspeção de carcaça
Foto 5 – Inspeção de miúdos

Os miúdos são avaliados junto à carcaça e depois de desprendidos vão para mesa, onde serão lavados, separados e inspecionados individualmente, sendo observada qualquer alteração em sua cor, tamanho, consistência ou espessura de cápsula.

Foto 6 – Escorrimento de miúdos após inspeção

Na legislação brasileira, não estão descritos achados pós mortem ou o destino das carcaças, parte de carcaças ou órgãos afetados. Dessa forma, qualquer situação diferente do esperado fisiologicamente, é avaliada com cuidado.

Foto 7 – Após liberadas, carcaças ficam na câmara de resfriamento.

Por serem abatidos animais criados em situação controlada e relativamente jovens (entre 24 e 36 meses), praticamente não há a ocorrência de helmintos. Dessa forma, o principal patógeno é a Salmonella spp que é um gênero de microrganismos que podem estar presentes normalmente no trato gastrointestinal dos jacarés, e geralmente não causam danos à saúde animal, mas pode haver consequências para saúde humana caso haja consumo de carne com presença de espécies ou sorotipos patogênicos.

3) Existem práticas específicas de higienização adotadas no processamento de jacarés para garantir a segurança do produto final? Como essas práticas se comparam com as usadas em outros tipos de abatedouros?

A higienização de um abatedouro frigorífico de crocodilianos é bastante semelhante à das outras espécies, de certa forma até mais simples. A coagulação sanguínea é mais rápida e a quantidade de gordura presente no abate é muito menor, comparadas às espécies dos animais de açougue como bovinos e suínos. Na sala de abate, durante as operações não são observadas grandes quantidades de sangue, conteúdo gastrointestinal e gordura, como de praxe na rotina de outros abatedouros, então o abate está sempre com uma aparência “limpa”. Essa situação operacional mais controlada facilita a remoção de matéria orgânica de superfície para melhor eficácia da etapa seguinte, a sanitização, em atividades de higienização pré-operacional.

Com relação ao APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), a planta em que atuo possui apenas um PCC, em sua análise de risco, que é biológico e tem como objetivo controlar a contaminação cruzada do conteúdo gastrointestinal, biliar e da glândula paracloacal para a carcaça.

Foto 8 – Abertura da cavidade

Foto 9 – Toalete e PCC 1B (Contaminação Fecal, Biliar e da Glândula Paracloacal)

Foto 10 – Desossa

4) Como as condições de criação e manejo dos jacarés antes do abate influenciam a qualidade e a segurança microbiológica da carne?

Não há como dissociar a forma que esses animais foram criados da qualidade e segurança dessa carne.

Os jacarés são criados desde a incubação, com alimentação controlada e de qualidade, sem acesso a ambientes ou alimentos externos que possam trazer parasitas ou contaminantes. A água da criação é utilizada toda em ciclo fechado, sendo realizada a filtração natural e biorremediação. Dessa forma, são desenvolvidas bactérias positivas, que decompõem as toxinas e evitam a proliferação de microrganismos nocivos.

Outro aspecto importante é em relação ao bem-estar animal. Existe um rigoroso controle e procedimentos operacionais bastante rígidos que buscam manter o estado de bem-estar animal durante todo o processo, desde a incubação até o abate e isso afeta a qualidade e segurança da carne de maneira muito positiva.

Foto 11 – Ovoscopia
Foto 12 – Criação Controlada

5) Quais são as regulamentações específicas que orientam o abate e o processamento de jacarés no Brasil, e como elas garantem a segurança dos alimentos para o consumidor final?

Temos as legislações ambientais, que regulamentam e dispõem sobre a criação e a comercialização de partes e produtos, no geral específicas e adaptadas aos crocodilianos.

O maior desafio ocorre no processo de abate, pois não existem normas específicas e os crocodilianos são incluídos na categoria dos pescados. As orientações gerais para todas espécies em relação aos procedimentos de abate, inocuidade, bem-estar etc. são as que servem de parâmetros.

Nenhum dos produtos comestíveis é regulamentado, por isso são utilizadas as normas para pescado em sua obtenção.

Nota: as fotos anexadas ao texto supracitado foram cedidas pela profissional entrevistada, oriundas de seu arquivo pessoal, portanto deve-se respeitar os direitos autorais e de propriedade intelectual.

*Nossa entrevistada é Thaís Cristina Vieira Vianna, médica veterinária, especialista em Gestão de Segurança de Alimentos, Tecnologia de Carne e Derivados e Medicina Veterinária de Animais Silvestres. Responsável Técnica, responsável pelo Controle de Qualidade em abatedouros frigoríficos há 18 anos e consultora em entrepostos, açougues e supermercados há 12 anos. Atualmente é médica veterinária da Caimasul, abatedouro frigorífico de crocodilianos.

Leia também:

É necessário enxágue após sanitização das instalações e equipamentos em abatedouro frigorífico (aves)?

7 min leituraQuais são os maiores desafios no abate de jacarés? Descubra nessa entrevista inédita do blog sobre o assunto com uma profissional autoridade no abate de crocodilianos.

5 min leitura
0

O futuro da Segurança de Alimentos: avanços e desafios

5 min leitura

A segurança de alimentos é um tema de crescente relevância em um mundo cada vez mais globalizado. Com o aumento da população mundial, a urbanização acelerada e as mudanças nos hábitos alimentares, os desafios para garantir que os alimentos sejam seguros para o consumo tornam-se mais difíceis.

Antes de tudo, saber a diferença entre segurança alimentar e segurança de alimentos é crucial para entender melhor o assunto. Segurança de alimentos refere-se à proteção dos alimentos ao longo de toda a cadeia de produção, garantindo que sejam seguros para consumo. Isso inclui desde a escolha das matérias-primas até o produto final, assegurando que estejam livres de contaminantes e adequados para o consumo humano. Segurança alimentar relaciona-se ao direito de todos terem acesso constante a alimentos nutritivos e seguros. Segundo a FAO, isso envolve garantir que todas as pessoas tenham acesso físico, social e econômico a uma quantidade suficiente de alimentos para manter uma vida saudável e ativa.

Historicamente, a segurança de alimentos tem sido uma preocupação constante, especialmente após eventos de surtos alimentares que resultaram em doenças e mortes. Nos últimos anos, houve um avanço significativo nas regulamentações e práticas de segurança de alimentos, buscando por uma maior conscientização e cuidado sobre os riscos associados à contaminação de alimentos. Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) são mecanismos adotados nas empresas de alimentos para minimizar o risco de contaminação.

Os avanços na segurança de alimentos não se limitam somente às regulamentações. O desenvolvimento de metodologias científicas para a detecção de patógenos e contaminantes desempenham um papel crucial.  A biotecnologia, por exemplo, permitiu a criação de métodos de detecção mais rápidos e precisos, facilitando a identificação e controle de surtos alimentares antes que eles se tornem possíveis epidemias.

Apesar dos avanços, a segurança de alimentos ainda enfrenta desafios. A adaptação de micro-organismos, novas tecnologias de produção, variações ecológicas e o aumento do comércio global de alimentos são fatores que complicam a situação. Além disso, novos hábitos alimentares e a crescente demanda por alimentos frescos e minimamente processados aumentam a necessidade de práticas rigorosas. O crescimento do comércio global de alimentos implica em desafios logísticos e regulatórios. A diversificação das fontes de alimentos e a complexidade das cadeias de abastecimento elevam o risco de contaminação e tornam a rastreabilidade dos produtos mais desafiadora.

Os surtos alimentares continuam a ser um problema: entre 2009 e 2019, o Brasil registrou 7.674 surtos alimentares, com a maioria dos casos ocorrendo em residências. Isso demonstra que, apesar das melhorias, ainda há muito a se fazer. A subnotificação de surtos alimentares pode acontecer e pode ser atribuída à falta de conscientização, infraestrutura inadequada e limitações nos sistemas de vigilância.

O futuro da segurança de alimentos será fortemente influenciado por inovações tecnológicas. A digitalização e a automação estão transformando a forma como os alimentos são produzidos, processados e distribuídos. Tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) permitem o monitoramento em tempo real das condições de armazenamento e transporte, garantindo que os alimentos sejam mantidos em condições seguras.

Além disso, a biotecnologia está desempenhando um papel crucial na segurança de alimentos. O desenvolvimento de culturas resistentes a pragas e doenças pode reduzir a necessidade de agrotóxicos, enquanto a engenharia genética pode ajudar a criar alimentos com propriedades nutricionais melhoradas. A biotecnologia permite a seleção de microrganismos que produzem substâncias antimicrobianas, oferecendo uma alternativa ao uso de aditivos químicos nos alimentos, ajudando a aumentar a segurança e a vida útil dos produtos sem os efeitos adversos de conservantes químicos. No entanto, essas tecnologias também levantam questões éticas e de segurança que precisam ser consideradas.

A automação e a inteligência artificial (IA) estão se tornando ferramentas essenciais para se obter segurança de alimentos. A IA pode analisar grandes volumes de dados para prever e identificar potenciais riscos de contaminação, enquanto a robótica pode ser utilizada para tarefas que exigem precisão e higiene, minimizando o risco de contaminação.

A atualização constante dos sistemas de gestão da qualidade é fundamental para o futuro da segurança de alimentos, pois a adoção de normas internacionais, como a ISO 22000, que estabelece requisitos para um sistema de gestão da segurança de alimentos, ajuda as empresas a garantirem a segurança em toda a cadeia de suprimentos. A integração de práticas de sustentabilidade e responsabilidade social também será essencial, pois os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à origem (alimentos orgânicos, livres de organismos geneticamente modificados) e ao impacto ambiental dos alimentos que consomem.

A rastreabilidade é outro aspecto crucial na gestão da qualidade. Sistemas avançados de rastreamento permitem monitorar cada etapa da produção e distribuição de alimentos, facilitando a identificação de problemas ou falhas e a implementação rápida de medidas corretivas. Essa transparência é fundamental para ganhar a confiança do consumidor e assegurar a integridade dos produtos alimentícios.

A conscientização do consumidor é um fator que moldará o futuro, pois com o acesso à informação facilitado pela internet, os consumidores estão mais informados sobre os riscos associados aos alimentos e as práticas de segurança, o que leva a uma maior demanda por transparência das indústrias e por alimentos que atendam a padrões de segurança mais rigorosos.

As empresas que se adaptarem a essa nova realidade, investindo em comunicação clara e em práticas de segurança de alimentos, estarão mais bem posicionadas para conquistar a confiança dos consumidores. A educação do consumidor sobre a manipulação e o armazenamento adequados de alimentos deve sempre ser considerada para reduzir o risco de contaminação em casa.

A segurança de alimentos é um desafio global que requer colaboração entre países, organizações e setores, pois essa troca de informações sobre surtos alimentares, práticas de segurança e inovações tecnológicas pode ajudar a fortalecer a segurança dos alimentos em todo o mundo. Iniciativas como o Codex Alimentarius, que estabelece normas internacionais para alimentos, são exemplos de melhorias significativas em conjunto para a segurança de alimentos.

A cooperação entre setor público e privado também é fundamental, parcerias entre governos, indústrias e ONGs podem acelerar a implementação de tecnologias e práticas inovadoras que melhoram a segurança dos alimentos.

Com um compromisso coletivo e uma abordagem proativa, podemos esperar um futuro em que a segurança de alimentos seja uma prioridade global, garantindo que os a alimentos sejam seguros e nutritivos para o consumo, e a colaboração global, a inovação tecnológica e a educação serão os pilares para alcançar esse objetivo.

Por Leonardo Gomes Petrucci, estudante universitário

Imagem gerada por inteligência artificial

Referências

ANGÉLICA, S.; MARIA. Conceito e aplicação da rastreabilidade de alimentos: uma revisão. Hig. Aliment. (Online), [s. l.], p. e1130–e1130, 2023. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1531968 . Acesso em: 27 jul. 2024.

BARRETO, M.; PAULA, A.; SOUSA, F.; SILVA; MARLENE NUNES DAMACENO. Panorama dos surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil no período de 2009 a 2019. Recima21, [s. l.], v. 2, n. 11, p. e211935–e211935, 2021. Disponível em: https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/935. Acesso em: 27 jul. 2024.

BRITO, G. F. Seleção e microencapsulação de bactérias ácido-láticas potencialmente probióticas obtidas de frutos do bacupari (Rheedia gardneriana). Uft.edu.br, [s. l.], 2021. Disponível em: https://repositorio.uft.edu.br/handle/11612/3578 . Acesso em: 27 jul. 2024.

CAIO FACIOLLI. Segurança de alimentos e segurança alimentar: afinal, há alguma diferença? – Food Safety Brazil. 2023. Disponível em: https://foodsafetybrazil.org/seguranca-de-alimentos-vs-seguranca-alimentar-afinal-ha-alguma-diferenca/ . Acesso em: 23 jul. 2024.

?FARIAS CUNHA, F.; BLANDINA, M.; MAGALHÃES, H.; SANTESSO BONNAS, D. >Artigos Desafios da gestão da segurança dos alimentos em unidades de alimentação e nutrição no Brasil: uma revisão. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistacontextos/wp-content/uploads/2013/04/Revista_Vol1_N24a14.pdf .

JOSENNE FEITOSA; ANDRADE, P. SEGURANÇA DOS ALIMENTOS E FERRAMENTAS DA QUALIDADE. Enciclopédia biosfera, [s. l.], v. 19, n. 39, 2022. Disponível em: https://www.conhecer.org.br/ojs/index.php/biosfera/article/view/5444. Acesso em: 27 jul. 2024.

LILIAN, S.; SOARES; COMASTRI, R.; ALMEIDA, C.; FEDERAL DA BAHIA, U. Conhecimento, atitudes e práticas de manipuladores de alimentos em segurança dos alimentos: uma revisão sistemática. Higiene Alimentar, [s. l.], v. 30, [s.d.]. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/08/1473/separata-71-76.pdf

LÚCIO DA SILVA, E.; ALDEANE DA SILVA, M. FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO BAIXO SÃO FRANCISCO DR. RAIMUNDO MARINHO FACULDADE RAIMUNDO MARINHO. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://raimundomarinho.edu.br/rdta/files/original/30419bc83a33ba73fbb2ebf418e78766287f5630.pdf . Acesso em: 27 jul. 2024.

MOREIRA, A.; SANTOS; PAMELLA BIAZI MACHADO; LUÍSA GÖTZ BERGHAHN; PEDROSO, G.; VIEIRA, C.; SIMONE INOE ARAÚJO; LUIZ, F. Uso de Inteligência Artificial na Pecuária: Revisão de literatura. Research, Society and Development, [s. l.], v. 12, n. 4, p. e6612440777-e6612440777, 2023. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/40777 . Acesso em: 24 jul. 2024.

5 min leituraA segurança de alimentos é um tema de crescente relevância em um mundo cada vez mais globalizado. Com o aumento da população mundial, a urbanização acelerada e as mudanças nos […]

9 min leitura
0

Guia de Auditoria sobre questões de mudanças climáticas, conforme a ISO

9 min leitura

O Auditing Practices Group (APG) elaborou um guia denominado “Auditando questões de mudanças climáticas na ISO 9001”  (“Auditing Practices Group Guidance on: Auditing Climate Change issues in ISO 9001” ) para orientar os auditores  de 1ª, 2ª e 3ª parte na avaliação de questões climáticas dentro dos sistemas de gestão.

Em alinhamento com as Diretrizes ISO 19011:2018, o guia enfatiza a necessidade de manter objetividade e neutralidade ao auditar a relevância das mudanças climáticas para a organização. O papel do auditor é avaliar se a organização determinou se as mudanças climáticas são relevantes ou não em relação ao seu sistema de gestão e seus resultados pretendidos e, em caso afirmativo, como elas são abordadas no sistema de gestão de forma eficaz.

Conforme destaca Richard Green, fundador e proprietário da Kingsford Consultancy Services, em artigo publicado pelo CQI e IRCA, este guia é uma ferramenta essencial não apenas para empresas certificadas na ISO 9001, mas também para aquelas com outras certificações ISO. Assim, sua metodologia abrange, por exemplo, as normas ISO 22000 e FSSC22000v.6 (#5 do BoS). Além disso, o guia fornece orientações práticas que auxiliam tanto auditores quanto empresas auditadas a assegurar a conformidade e a excelência na gestão, abordando as mudanças climáticas de forma estruturada e baseada em evidências.

A JTCG (Joint Technical Coordination Group) esclarece que essas alterações não obrigam a organização a adotar iniciativas climáticas, como por exemplo a redução da pegada de carbono ou emissões de gases de efeito estufa (GEE), a menos que sejam consideradas relevantes e definidas como metas pela própria organização.  O foco principal da auditoria deve ser evidenciar se a organização considerou a mudança climática como um potencial problema (impactando diretamente ou sendo impactado pela mudança climática) influenciando sua capacidade de atingir os resultados pretendidos no seu sistema de gestão. Em sistemas de gestão integrados, a questão climática deve ser abordada sob diferentes perspectivas, considerando seus efeitos em áreas como meio ambiente, saúde ocupacional e finanças e é provável que uma mesma questão seja analisada sob diferentes perspectivas de forma holística, com possíveis sobreposições, como por exemplo design de produto considerando aspectos ambientais.

Os responsáveis pelos programas de auditoria devem ajustar a equipe para incluir conhecimentos sobre as novas iniciativas climáticas da organização (caso a organização identificar a mudança climática como uma questão relevante), sem exigir que os auditores sejam especialistas. Eles devem ser capazes de avaliar como as mudanças climáticas impactam o sistema de gestão e foram integradas nos processos relevantes.

A conformidade pode ser comprovada através de entrevistas e registros, como análise de risco, auditoria interna e revisão de gestão. Embora a falta de consideração clara possa resultar em uma não conformidade menor em relação às seções 4.1 ou 4.2 dos padrões de gestão, no início da implementação, isso provavelmente será identificado como uma Oportunidade de Melhoria (OFI). Se a organização determinar que as mudanças climáticas são irrelevantes para seu sistema de gestão, os Órgãos de Certificação avaliarão a eficácia dessa decisão.

Processo de Auditoria

Do ponto de vista de um auditor, é crucial integrar as mudanças climáticas ao processo de auditoria, analisando como elas interagem com todas as cláusulas pertinentes. Embora a abordagem de auditoria para a ISO permaneça inalterada, novas perguntas foram introduzidas para compreender como essas mudanças impactarão e orientarão o sistema de gestão de uma organização. O auditor deve estar atento a como essas mudanças influenciarão todo o sistema de gestão da organização, considerando os seguintes aspectos:

  1. A organização identificou se as mudanças climáticas são uma questão relevante?
  2. A determinação da organização está em conformidade com os requisitos legais e regulamentares aplicáveis aos seus produtos e serviços?
  3. A avaliação da organização está alinhada com seus requisitos contratuais?

Segundo os exemplos fornecidos pelo guia Auditing Climate Change Issues in ISO 9001, as organizações podem adaptar suas práticas de auditoria para atender às exigências específicas das normas ISO 22000 e FSSC22000v.6. Esses exemplos ilustram como a consideração das mudanças climáticas pode ser integrada em sistemas de gestão mais amplos, fortalecendo a resiliência organizacional:

4.1: Novo requisito: A organização deve determinar se a mudança climática é uma questão relevante.

As considerações de auditoria para os impactos das mudanças climáticas decorrentes de questões externas e internas podem incluir:

a)       Alterações em requisitos estatutários ou regulamentares, tais como restrição ao uso de determinados materiais, circularidade do produto, ciclo de vida do produto, origem do produto, declarações ambientais.

b)      Uso de materiais renováveis de base biológica.

c)       Impactos potenciais nos produtos e serviços ou nos processos de sistema de gestão da qualidade (e segurança de alimentos), por mudanças determinadas em outras disciplinas do sistema de gestão, por exemplo, necessidade de reduzir o consumo de energia, reduzir o desperdício, reutilizar ou reciclar materiais.

d)      Vida útil prolongada de produtos, serviços pós-entrega e assistência

e)       Requisitos para migrar para produtos e serviços neutros em carbono.

f)       Problemas que impactam os processos e a infraestrutura, devido à energia e outras considerações.

g)      Vulnerabilidade da organização para entregar seus produtos e serviços devido à maior frequência de tempestades, incêndios, secas, que podem implicar em desabastecimento ou dificuldades na distribuição. (Nota da colunista: avaliar se sua empresa já possui o Sistema de Gestão de Continuidade de Negócio a partir dos planos de Contingência que faz parte da Gestão de Risco. Boas referências são a PAS 200, ISSO 22301 e isso 31000).

h)      Preocupações relacionadas ao conhecimento global e controle da cadeia de suprimentos em questões relacionadas às mudanças climáticas.

i)        Tendências de mercado em sustentabilidade de produtos e serviços e informações e sinistros relacionados.

j)        Produtos e serviços concorrentes com potencial melhor desempenho em questões relacionadas às mudanças climáticas.

4.2: NOTA: As partes interessadas relevantes podem ter requisitos relacionados com as mudanças climáticas

A organização determinou a existência de requisitos aplicáveis relacionados às mudanças climáticas de partes interessadas relevantes?

Partes interessadas, como clientes, consumidores e autoridades regulatórias, podem ter expectativas específicas sobre mudanças climáticas. É fundamental alinhar as estratégias da organização com essas expectativas e cumprir as exigências legais. O auditor deve avaliar como essas questões são integradas no sistema de gestão da qualidade (e segurança de alimentos).

Exemplos:

  1. Requisitos estatutários e regulatórios, ambientais ou de mudanças climáticas para o produto ou serviço prestado e aqueles que afetam a capacidade da organização de fornecer esse produto ou serviço.
  2.  Requisitos do cliente em relação a mudanças climáticas, sistemas de descarga zero de efluentes ou requisitos de carbono neutro dos produtos. (Nota da colunista: é muito provável que durante a auditoria perguntem se há algum requisito do cliente relacionado às mudanças climáticas com o qual você concordou em seus contratos)
  3. Políticas e estratégias corporativas.
  4.  Requisitos relacionados à informação do produto sobre aspectos relacionados à mudança climática (sustentabilidade da origem, reutilização, reciclabilidade, fim de vida, carbono incorporado, rotulagem “greenwashing”), incluindo declarações sobre o produto e os requisitos legais, estatutários e outros existentes associados.
  5. Mudanças nos códigos e normas da indústria relacionados às mudanças climáticas.
  6. Acordos ambientais com grupos comunitários ou organizações não governamentais.
  7. Licenças, alvarás ou outras formas de autorização ambiental.
  8. Requisitos relacionados às mudanças climáticas em processos como embalagem, fabricação, manutenção, logística, entre outros.

Abordagem das questões determinadas como relevantes pela organização

Se a organização determinou que existem questões relevantes ou requisitos de clientes e outras partes interessadas relacionados às mudanças climáticas, o próximo passo para o auditor é avaliar como essas questões são abordadas no Sistema de Gestão da Qualidade (e segurança de alimentos) seguindo os mesmos caminhos de quaisquer outras questões. A seguir, são apresentados alguns exemplos não exaustivos de perguntas e aspectos relacionados para que o auditor avalie como a organização está lidando com essas questões.

4.3 Determinando o escopo do SGQ

Essas questões relevantes de mudanças climáticas impactam o escopo ou alteram a aplicabilidade de certos requisitos ou e quaisquer mudanças em produtos e serviços?  Há necessidade de alterar o escopo do SGQ?

Quando as normas mencionam “escopo”, observe que não estamos nos referindo ao escopo que está no seu certificado de registro do organismo certificador. O que você precisa ter é um escopo documentado para o seu site que aborde como o seu sistema de gestão específico trata questões como:

  1. as questões externas e internas referidas em 4.1;
  2. os requisitos das partes interessadas relevantes referidos em 4.2;
  3. os produtos e serviços da organização.

Exemplos:

  1. A organização considerou mudar de local devido ao maior risco de alagamentos em sua localização atual.
  2. A organização recebe diferentes produtos e serviços.
  3. A organização não aplicou desenvolvimento de produto, mas mudanças em matérias-primas ou processos determinaram a necessidade de sua aplicabilidade.

6.1   Ações para abordar riscos e oportunidades

A organização considerou essas questões para determinar riscos e oportunidades?

As questões de mudança climática impactam em algum ponto do fluxo de valor de uma organização (dos requisitos do cliente à satisfação do cliente)?

Nota da colunista: Aproveite a matriz de risco que sua empresa já utiliza e inclua uma coluna de oportunidade para abordar quaisquer questões relacionadas às considerações sobre mudanças climáticas.

Exemplos:

  1. Essas questões levam a mudanças no suporte, como infraestrutura, equipamentos de monitoramento e medição, conhecimento, comunicação ou outros?
  2. Há mudanças pertinentes nos processos operacionais?
  3.  Mudanças no que precisa ser monitorado e medido?
  4. Quais são os riscos que precisam ser abordados?
  5. A organização identificou novas oportunidades?

–     Novos produtos e serviços ou mudanças nas ofertas existentes:

o    Oportunidades de financiamento para mudanças em sua infraestrutura e processos

o    Comunicação relacionada a produtos e serviços que abordam questões relacionadas às mudanças climáticas.

o    Novos mercados para seus produtos e serviços

–   A organização determinou como os riscos e oportunidades identificadas impactam os resultados pretendidos do SGQ (e segurança de alimentos)?

–      Quais são as ações planejadas para esses riscos e oportunidades?

 6.3 Gestão de mudanças

Potenciais riscos e oportunidades determinados ou mudanças de escopo implicam mudanças no sistema de gestão e seus processos? As ações planejadas consideraram todos os itens referidos em 6.3 a) a d).?

Ao atualizar documentação ou processos, é importante implementar uma Gestão de Mudanças (MOC) formal para garantir que as novas atividades atinjam os resultados esperados e tomar ações corretivas se necessário. Embora não seja obrigatório documentar, organizações que mantêm algum tipo de registros de MOC podem considerar incluir referências às mudanças climáticas.

7.1 Recursos

Se as questões de mudanças climáticas foram consideradas relevantes, como isso afeta os recursos para alcançar a conformidade e fornecimento de produtos e serviços?

Espera-se que a liderança avalie se recursos adicionais serão necessários para abordar as mudanças climáticas, como treinamento adicional, consultores externos ou novos equipamentos. É essencial considerar todos os aspectos e impactos relevantes durante o planejamento. Também é importante demonstrar como a organização está se preparando para o futuro, incluindo possíveis solicitações de melhorias de capital para atender a essas necessidades de recursos.

Exemplos:

  1.  Como as considerações sobre as mudanças climáticas impactam o ambiente para a operação dos processos (7.1.4)?
  2.  Como a organização determina uma fonte de conhecimento apropriada para basear suas decisões (7.1.6)?

 8.  Operações

Se as questões relativas às alterações climáticas foram determinadas como pertinentes e não implicam alterações no SGQ, nem no seu âmbito de SGQ, já são tratadas dentro das disposições do SGQ atual?

Muitas empresas possuem programas de reciclagem ou reutilização, o que é um bom ponto de partida para revisar suas operações diárias, implementar em mais áreas pode aumentar a eficiência. Métodos como Six Sigma ou Lean que buscam tornar a operação mais eficaz, na maioria dos casos ajudam a otimizar operações, economizando tempo e custos de energia, demonstrando um impacto positivo nas mudanças climáticas. Auditorias internas também são úteis para envolver a equipe na busca por maneiras de melhorar processos, contribuindo para novas ideias e soluções na cláusula 6.1.

Exemplos:

  1.  Identificação e rastreabilidade únicos dos produtos a fontes sustentáveis de matérias-primas,
  2. Nomeação de pessoas competentes, incluindo as qualificações exigidas,
  3. Atividades pós-entrega, como reciclagem e disposição final,
  4. Evidência de conformidade com os critérios de aceitação,
  5. Controle das saídas não conformes

9.  Avaliação de Desempenho

Caso questões relevantes relacionadas às mudanças climáticas tenham sido determinadas pela organização, estas podem ter necessidades específicas de monitoramento e medição, eventuais implicações no monitoramento e mensuração da satisfação dos clientes ou mudanças no programa de auditoria.

A maioria das organizações já monitora suas operações diárias, semanais e mensais por meio de Scorecards ou KPIs.  Provavelmente, você já tem métricas relacionadas a diferentes usos de serviços públicos que agora também podem ser usadas para abordar as mudanças climáticas. Os esquemas da 14001 e 50001 podem servir de referência para benchmarking de método. Além disso, a ISO desenvolveu padrões e documentos de orientação que podem apoiar a melhoria contínua relacionada às mudanças climáticas. Em resumo, essa nova ênfase na mudança climática pode ser vista como uma extensão dos esforços contínuos de sua organização para aprimorar suas operações.

Exemplos:

  1. Fontes confiáveis de informações e dados, externos ou internos
  2. Monitoramento e mensuração do impacto organizacional, resultados das mudanças introduzidas

Espera-se também que os inputs da análise crítica pela direção considerem quaisquer mudanças relacionadas a esta questão de contexto, e os resultados análise crítica pela direção possam incluir decisões relacionadas, incluindo oportunidades de melhoria.

Preocupações específicas

Cabe à organização determinar se e como as questões de mudanças climáticas impactam o SGQ e seus resultados pretendidos.

Para os auditores, é necessária atenção especial para reclamações de produtos e serviços relacionadas a questões de mudanças climáticas, como acontece com outras declarações feitas pela empresa sobre seus produtos, pois a organização deve demonstrar que garante que pode atender às demandas pertinentes dos clientes (8.2.1 b).

Muitas dessas declarações podem implicar metodologias específicas para monitoramento e medição, podem exigir verificação adicional de terceiros ou estar sujeitas a requisitos estatutários e regulamentares. Auditar os métodos usados para determinar essas declarações pode estar fora dos objetivos de uma auditoria ISO 9001. No entanto, os auditores devem estar cientes dos requisitos relacionados a essas declarações para que possam avaliar se a organização pode demonstrar que as declarações podem ser cumpridas ou se há risco para a integridade do sistema de gestão da qualidade (e segurança de alimentos), especialmente em auditorias de certificação por terceiros.

Leia também:

1.       Mudanças Climáticas e as normas de SG [link]

2.       Agora Mudanças Climáticas virou tema no FSSC 22000. O que eu faço? [link]

3.       As mudanças climáticas e os impactos na segurança de alimentos [link]

4.       Mudanças climáticas e o futuro da segurança dos alimentos- perspectiva da FAO [link]

Referências

·         Auditing Climate Change (CQI/IRCA) [link]

  •    Auditing Practices Group Guidance on: Auditing Climate Change issues in ISO 9001 (Edition 1– Mar/2024) [link]

·         Managing Changing Climate (CQI/IRCA) [link]  

·         Taking Action Climate Change (CQI/IRCA) [link]

·         ISO Climate Change: The Ongoing Story [link]

·         Deciphering the latest changes to the Harmonized Structure [link]

9 min leituraO Auditing Practices Group (APG) elaborou um guia denominado “Auditando questões de mudanças climáticas na ISO 9001”  (“Auditing Practices Group Guidance on: Auditing Climate Change issues in ISO 9001” ) […]

4 min leitura
1

Certificações em segurança de alimentos em países da América Latina

4 min leitura

De acordo com a Embrapa, o agronegócio brasileiro é responsável por alimentar 10% da população mundial. O Brasil é o maior exportador de alimentos industrializados do mundo, levando seus alimentos para 190 países. E segundo a ABIA, a indústria brasileira de alimentos e bebidas é a maior do país: representa 10,7% do PIB brasileiro e gera 2,0 milhão de empregos formais e diretos, através de 38 mil empresas. Somos uma potência em alimentação, é um fato. Mas qual será a posição do Brasil em relação às certificações em segurança de alimentos comparado com outros países da América Latina?

Realizei uma pequena amostragem considerando os países da região que têm tradição como exportadores de alimentos.

De acordo com o post Distribuição geográfica das certificações em segurança de alimentos no Brasil (GFSI), temos  1071 empresas certificadas em nosso país. Isso não nos coloca em posição de liderança, comparado com  os vizinhos.

Estamos atrás do México, detentor de 1780 certificados, que é o primeiro colocado na amostragem realizada. Ou seja, já não ocupamos a primeira posição em número total de certificados, mesmo sendo o Brasil significativamente maior do que o México:

População

PIB (Produto Interno Bruto) em 2023

Fiquei surpresa por termos sido “ultrapassados” por este país e pedi para o Co-Pilot compartilhar um pouco mais de informação (as fontes dos dados são acessadas pelos hiperlinks, é só passar o mouse e clicar).

O México é um grande exportador de diversos produtos agrícolas e alimentícios. Entre os principais alimentos exportados pelo México estão:

  1. Abacate: O México é o maior exportador mundial de abacate, com os Estados Unidos sendo o principal destino
  2. Cerveja: O país é o segundo maior exportador de cerveja do mundo, com grandes volumes enviados para os Estados Unidos, Canadá e países da União Europeia
  3. Tomate: Outro produto importante, com os Estados Unidos sendo o maior importador
  4. Pimentão: Exportado principalmente para os Estados Unidos
  5. Manga: Exportada para os Estados Unidos, Canadá e alguns países da Europa

Além desses, o México também exporta grandes quantidades de café, açúcar e limão. 

Esses produtos são enviados principalmente para os Estados Unidos, que é o maior parceiro comercial do México, seguido por Canadá, China, Japão e Alemanha. 

Dados relativos? Não temos

Fiquei bastante curiosa para entender a relação entre números de certificações em segurança de alimentos x número de indústrias de alimentos, para entender o grau de profissionalização de cada país. Contudo,  foi difícil balizar os dados, pois parece que cada entidade responsável utiliza critérios diferentes para definir indústria de alimentos e pequenos negócios. Se consideramos a ABIA e as nossas 38 mil empresas de alimentos, temos apenas 2,8% de nossas empresas certificadas. Já se compararmos com o Chile, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), em 2023 havia cerca de 5.000 empresas registradas no setor de alimentos e bebidas. Isso significa que proporcionalmente estamos falando de 12,2% de empresas certificadas e novamente não estamos na primeira posição.

Saiba mais sobre o Chile e seus produtos de exportação:

  1. Frutas frescas: Uvas, cerejas, mirtilos (blueberries) e maçãs são algumas das frutas frescas mais exportadas.
  2. Produtos do mar: Salmão, truta, caranguejos e óleos de pescados são importantes produtos de exportação.
  3. Vinhos: O Chile é conhecido mundialmente pela qualidade de seus vinhos, sendo um dos maiores exportadores desse produto.
  4. Frutos secos e desidratados: Nozes, amêndoas e ameixas secas são bastante exportadas.
  5. Pisco: Uma bebida destilada tradicional do Chile, feita a partir de uvas.

Esses produtos são exportados para diversos países, incluindo Estados Unidos, China, Japão e Brasil, entre outros.

A indústria de alimentos no Chile representa aproximadamente 18% do PIB do país

As normas mais queridinhas variam?

Sim. No México, Brasil e Argentina, a FSSC 22000 é a norma predominante. Muitas foram introduzidas por empresas globais, que definiram este este esquema como prioritário para seus fornecedores. Proporcionalmente, a Argentina conta com mais presença do BRCGS, o que faz sentido, uma vez que é um grande produtor de carne bovina e este esquema tem sido exigido pelos mercados receptores destas proteínas.

O Chile com salmão e Peru com aspargos para o mercado europeu têm a BRCGS como norma de maior predominância. Já o México, que foca a terra do Tio Sam como principal cliente, detém em disparada o maior número de certificados SQF, norma preferida pelos Estados Unidos.

Como curiosidade, o Peru é um grande exportador de diversos produtos agrícolas e alimentícios na América Latina. Entre os principais alimentos exportados pelo Peru estão:

  1. Uvas: O Peru é um dos maiores exportadores de uvas do mundo, com os Estados Unidos, China e Países Baixos sendo os principais destinos.
  2. Abacate: O país é o terceiro maior exportador mundial de abacates, com grandes volumes enviados para os Estados Unidos, Europa e China.
  3. Manga: Exportada principalmente para os Estados Unidos, Canadá e Europa. 
  4. Café: Um dos produtos mais amplamente vendidos pelo Peru, exportado para os Estados Unidos, Alemanha e Bélgica. 
  5. Aspargos: O Peru é o segundo maior exportador mundial de aspargos frescos, com os Estados Unidos e a Europa sendo os principais mercados. 
  6. Quinoa: Exportada para os Estados Unidos, Canadá e Europa. 

Esses produtos são enviados principalmente para os Estados Unidos, China, Países Baixos, Alemanha e Bélgica

Você imaginava que estávamos posicionados desta maneira na América Latina?

4 min leituraDe acordo com a Embrapa, o agronegócio brasileiro é responsável por alimentar 10% da população mundial. O Brasil é o maior exportador de alimentos industrializados do mundo, levando seus alimentos […]

Compartilhar
Pular para a barra de ferramentas