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Alterações na Portaria nº 210/98 MAPA – Aves (Parte 2)

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Em publicação anterior, informamos sobre as principais mudanças da Portaria nº 210/98 com a vinda da nova Portaria nº 74/2019. Neste post iremos abordar sobre as revogações.

A nova Portaria revogou os seguintes dispositivos da Portaria nº 210, de 10 de novembro de 1998:

I – item 9.4 do Anexo II;

II – item 3.5.7 do Anexo III;

III – item 9.3 do Anexo V; e

IV – anexos VII, VIII e IX.

I – item 9.4 do Anexo II

“9.4. Os estabelecimentos que não possuírem graxaria, deverão instalar forno crematório, construído de alvenaria ou outro material apropriado, destinado à incineração de carcaças condenadas pela Inspeção, bem como de aves chegadas mortas ou que tenham morrido na plataforma de recepção;”

Comentário: A revogação deste item deve-se, provavelmente, ao fato de que, atualmente, empresas que não dispõem de graxarias, vendem estes despojos para terceiros com devido atendimento dos trâmites legais. Não faria sentido uma empresa comercializar este material e por outro lado, ser obrigada a ter um forno crematório em suas dependências.


II – item 3.5.7 do Anexo III

“3.5.7. Esteira transportadora de carcaças e miúdos: Sempre que usadas, deverão prever sistema de lavagem contínua com água preferentemente morna.”

Comentário: Vale ressaltar que o item 3.5.3 do ANEXO III não foi revogado, que diz:

“3.5.3. Todos os equipamentos automáticos (para corte de cloaca, corte e desarticulação de pescoço, corte abdominal, eventração e/ou outros), deverão dispor de eficiente sistema de higienização contínua, durante todo o processamento;”

Nesse caso, qual seria a interpretação correta: que poderá ser retirada auto lavagem de todas as esteiras (inclusive de cortes) ou somente as que transportam miúdos e carcaças inteiras? Afinal o item 3.5.3 não menciona esteira transportadora e sim “todos equipamentos automáticos para corte e/ou outros”.

Devemos aguardar um posicionamento do MAPA.


III – item 9.3 do Anexo V

“9.3. O número de funcionários especificados na Tabela abaixo, será referente, tão somente, às necessidades junto às linhas de inspeção, não computando outras necessidades, devendo, portanto, ser observado o disposto na Portaria n.º 082, de 27 de fevereiro de 1976. Devem ainda ser observadas particularidades de cada indústria, constituindo-se, portanto, em referência
básica e não absoluta.”

Comentário: Este item merece um posicionamento do MAPA, pois a tabela supracitada sempre foi uma referência do setor de Recursos Humanos (RH) das empresas para disponibilizarem o número correto de funcionários auxiliares (art. 73) para inspeção post-mortem (inspeção de linha). Todavia, o item 8.1.1 do ANEXO V, que trata da regra do tempo mínimo de 2 segundos/ave para cada funcionário, não foi revogado, então ele servirá como referência para as empresas e Inspeção Federal (IF).


IV – anexo VII (revogado totalmente)

INSPEÇÃO ANTE MORTEM (CONTROLE DA PROCEDÊNCIA DAS AVES, VEÍCULO E A CORRELAÇÃO COM A INSPEÇÃO POST MORTEM)

IV – anexo VIII (revogado totalmente)

MOVIMENTO MENSAL DE DESTINAÇÃO DAS AVES ABATIDAS PASSADAS PELA INSPEÇÃO FINAL

IV – anexo IX (revogado totalmente)

DESTINOS E CRITÉRIOS DE JULGAMENTO EM AVES

Comentário: O MAPA revogou totalmente os anexos responsáveis pelas diretrizes da inspeção ante-mortem (IAM) e post-mortem (IPM) das aves. Os principais motivos, podem ser para padronização e utilização de formulários de IAM e IPM mais atualizados e com referências legais vigentes, como caso do anexo IX que se embasa em artigos do antigo RIISPOA (Decreto 30.691/1952).

No cenário atual, para realização da IAM e IPM, o Auditor Fiscal Federal Agropecuário (AFFA) deverá se embasar:

  • No Decreto 9.013/17 (novo RIISPOA) de preferência ao uso de artigos específicos de aves e lagomorfos (Subseção I) para segurança jurídica.

E você, o que achou das mudanças? Será que o MAPA trará mais mudanças para a Portaria nº 210/98?

Deixe seu comentário.

 

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Alterações na Portaria nº 210/98 MAPA – Aves (Parte 1)

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Com seus mais de 20 anos de idade, a Portaria nº 210/98 (MAPA) de aves (Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica e Higiênico-Sanitária de Carnes de Aves) precisava ser revisada em diversos pontos. E foi … a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) publicou no dia 07 de Maio de 2019 a Portaria nº 74 com algumas alterações em determinados assuntos.

As mudanças envolvem tanque de pré-resfriamento, gotejamento, temperaturas, frequência de testes, além de revogar item dos anexos II, III e IV e todo o anexo VII, VIII e IX. Com a publicação da nova Portaria, a Portaria nº 210, de 10 de novembro de 1998, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Como era: ANEXO II “4.5.6. Cada tanque do sistema de pré-resfriadores contínuos por imersão deve ser completamente esvaziado, limpo e desinfetado, no final de cada período de trabalho (oito horas) ou, quando se fizer necessário, a juízo da Inspeção Federal;” (Portaria 210/98)

Como ficou: ANEXO II “4.5.6. Cada tanque do sistema de pré-resfriadores contínuos por imersão deve ser completamente esvaziado, limpo e desinfetado pelo menos nos intervalos dedicados a higienização pré-operacional;” (Portaria 74/19)

Comentário: Foi suprimida a frase “… no final de cada período de trabalho (oito horas) ou, quando se fizer necessário, a juízo da Inspeção Federal...”. Agora as empresas que trabalham em dois turnos ou mais de abate por exemplo, não necessitam esvaziar, limpar e desinfetar o tanque do sistema de pré-resfriamento na troca de turno, que coincidia com as oito horas de trabalho determinada pela Portaria nº 210/98, prática inexequível para as empresas. Dentro os motivos de inexequibilidade, podemos citar o fato de que esvaziar, limpar, sanitizar e encher novamente um tanque de pré – resfriamento (pré-chiller e chiller), de uma empresa de grande porte de volume de abate, demora cerca de 4 horas. Esse tempo, para execução durante a higienização pré-operacional é praticável, mas na higiene operacional ou troca de turno de trabalho não.

Outro fato que pode ser ponderado é que manipular sanitizantes (produto químico) deve ser feito somente por funcionários treinados, em atendimento ao PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional) da empresa. Estes funcionários treinados, por sua vez, normalmente não são os da higienização operacional (durante os turnos de abate), mas os da higienização pré-operacional (após atividades de produção – “madrugada”).

Independente do número de turnos de abate, agora a regra é que as empresas deverão realizar o atendimento do item 4.5.6 de acordo com descrito em seu PAC (Programa de Autocontrole) de PPHO (Procedimentos Padrão de Higiene Operacional), onde essa ação deve estar contemplada na higienização pré-operacional.

Outro ponto de destaque é a retirada da frase “ou quando se fizer necessário, a juízo da Inspeção Federal“, demonstrando que o MAPA está determinado, cada vez mais, a responsabilizar a empresa pela sua qualidade de produto e processo, fazendo jus ao termo autocontrole.


Como era: ANEXO II “4.6. GOTEJAMENTO Destinado ao escorrimento da água da carcaça decorrente da operação de pré-resfriamento. Ao final desta fase, a absorção da água nas carcaças de aves submetidas ao pré-resfriamento por imersão, não deverá ultrapassar a 8% de seus pesos. O gotejamento deverá ser realizado, imediatamente após o pré-resfriamento, com as carcaças suspensas pelas asas ou pescoço, em equipamento de material inoxidável, dispondo de calha coletora de água de gotejamento, suspensa e disposta ao longo do transportador. Processos tecnológicos diferenciados que permitam o escorrimento da água excedente nas carcaças de aves decorrente da operação de pré-resfriamento por imersão em água poderão ser autorizados, desde que aprovados pelo DIPOA”. (Portaria 210/98)

Como ficou: ANEXO II “4.6. GOTEJAMENTO Destinado ao escorrimento da água da carcaça decorrente da operação de pré-resfriamento. Ao final desta fase, a absorção da água nas carcaças de aves submetidas ao pré-resfriamento por imersão, não deverá ultrapassar a 8% (oito por cento) de seus pesos. O gotejamento deverá ser realizado imediatamente após o pré-resfriamento, em equipamento de material inoxidável, dispondo de calha coletora de água de gotejamento, suspensa e disposta ao longo do transportador. Processos tecnológicos diferenciados que permitam o escorrimento da água excedente nas carcaças de aves decorrente da operação de pré-resfriamento por imersão em água poderão ser autorizados, desde que aprovados pelo DIPOA.” (Portaria 74/19)

Comentário: Foi suprimida a frase “… com as carcaças suspensas pelas asas ou pescoço…”. A suspensão das carcaças na saída do pré-resfriamento, até então, deveria ser realizada pelas asas ou pelo pescoço. Agora passa a ser feita de acordo com as especificações técnicas da empresa, ou seja, poderá ser feito por outras regiões anatômicas da ave, como pelas coxas por exemplo. Na rotina de abate, de empresas que contam com máquina de corte automática, as nórias são projetadas de maneira que as carcaças sejam suspensas pelas coxas, pois isso facilita as etapas subsequentes. A velocidade com que os processos tecnológicos se propagam é rápida, sendo assim, o MAPA omite a maneira pela qual a carcaça deve ser suspensa, pois não há relevância para saúde pública, qualidade e/ou tecnologia do produto, zelando apenas, nesse item, pela fiscalização do controle de absorção de água nas carcaças (máximo 8%), isto é, combate a fraude.


Como era: ANEXO II “5.2.4. A temperatura das carnes manipuladas nesta seção não poderá exceder 7ºC.” (Portaria 210/98)

Como ficou: ANEXO II “5.2.4. A temperatura das carnes na entrada desta seção não poderá exceder 7°C. A variação aceitável de temperatura dos produtos no ambiente de corte e manipulação deve ser estabelecida e validada como base em microbiologia preditiva, de forma garantir a manutenção do binômio tempo e temperatura que garanta a ausência de multiplicação de patógenos e a produção de toxinas, respeitado o resfriamento dos cortes a 4°C em até 4 horas.” (Portaria 74/19)

Comentário: O MAPA manteve a temperatura máxima de 7ºC para os cortes, porém inseriu um novo conceito, o da microbiologia preditiva. A microbiologia preditiva descreve, de forma quantitativa, os efeitos de fatores (intrínsecos e extrínsecos) no crescimento ou inativação dos microrganismos nos alimentos, tais como propriedades dos alimentos (fatores intrínsecos como, atividade de água, potencial redox e pH) e por condições externas (fatores extrínsecos como temperatura, umidade relativa e atmosfera). Para tanto, são construídos modelos matemáticos derivados de estudos quantitativos dos microrganismos sob dadas condições experimentais, gerando curvas de crescimento/inativação microbiana. Em outras palavras, estes modelos são obtidos a partir de estudos, onde é realizada a determinação do crescimento microbiano, ao longo de um tempo delimitado sob condições como, temperatura, pH, e meio conhecidos e controlados. O tratamento destes dados permite obter uma equação matemática que poderá prever o tempo de ajuste ao meio (fase lag) e/ou a velocidade máxima de crescimento, podendo ser então, extrapolados para os alimentos, baseado na premissa de que as respostas das populações de microrganismos aos fatores ambientais que afetam seu crescimento e sobrevivência são reprodutíveis, tornando possível a partir de observações anteriores, prever as respostas microbianas em outros ambientes semelhantes. Todavia, qualquer proposta de validação deve respeitar o resfriamento dos cortes a 4ºC em até 4 horas.


Como era: ANEXO VI “2.15.2.9. Freqüência dos testes: recomenda-se no mínimo 1 (um) teste para cada turno de trabalho (quatro horas)”. (Portaria 210/98)

Como ficou: ANEXO VI “2.15.2.9. Frequência dos testes: dentro da Verificação Oficial do autocontrole relativo aos controles de composição de produtos e prevenção de fraude.” (Portaria 74/19)

Comentários: O MAPA retirou a necessidade da verificação oficial na frequência recomendada na Portaria 210/98. A mudança neste item veio porque a Portaria nº 210/98 entrava em conflito com a Norma Interna DIPOA/SDA nº01, de 08 de março de 2017, no que se refere à frequência dos testes realizados pela IF (Inspeção Federal) para realização do teste Método de Controle Interno (absorção de água em carcaças de até 8%). Por um lado a Norma Interna 01/2017 determina que em abatedouros-frigoríficos a frequência da verificação oficial seja quinzenal, onde um dos elementos é combate a fraude. Por outro, a Portaria 210/98 recomenda no mínimo um teste para cada turno de trabalho. Desse modo, haviam servidores públicos seguindo uma e outros a outra legislação, sem padrão para a frequência do teste. Agora o que vale é o estipulado na Norma Interna 01/2017, que através de sorteio, o SIF poderá contemplar o teste Método de Controle Interno em suas auditorias quinzenais.

Vale destacar que a empresa, de acordo com seu PAC, realiza o teste na frequência em que julgar segura para o controle de qualidade de seu produto. Caso em uma verificação oficial for constatado irregularidades, o agente público poderá não só tomar ações fiscais pertinentes, como exigir aumento da frequência do teste até retomada do controle do processo.


Os itens revogados serão discutidos em uma próxima postagem (leia mais).

E você o que achou das mudanças?

Referências Bibliográficas

BRASIL. 2017. Norma Interna nº 01, 08 de março de 2017. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília: DF.

BRASIL. 1998. Portaria nº 210, 10 de novembro de 1998. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília: DF.

BRASIL. 2019. Portaria nº 74, 07 de maio de 2019. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília: DF.

ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer – Goiânia, v.9, n.17; p. 1909; 2013.

5 min leituraCom seus mais de 20 anos de idade, a Portaria nº 210/98 (MAPA) de aves (Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica e Higiênico-Sanitária de Carnes de Aves) precisava ser revisada em […]

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Como responder a um termo de apreensão cautelar do SIF – hipótese de aproveitamento condicional

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O Decreto 9.013 do MAPA (RIISPOA) em seu art. 495 prevê:

“Se houver evidência ou suspeita de que um produto de origem animal represente risco à saúde pública ou tenha sido alterado, adulterado ou falsificado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento deverá adotar, isolada ou cumulativamente, as seguintes medidas cautelares”:

 I – apreensão do produto;

II – suspensão provisória do processo de fabricação ou de suas etapas; e

III – coleta de amostras do produto para realização de análises laboratoriais.

Para apreensão do produto, o Serviço de Inspeção Federal lavra um documento chamado Termo de Apreensão Cautelar, determinando qual(is) lote(s), produto(s), quantidade(s) e motivo(s) que justifique(m) a apreensão.

Em posse deste documento, é lícito a empresa requerer, sob embasamento legal e/ou científico, a liberação dos produtos apreendidos para:

  1. aproveitamento condicional (termo processamento) ou
  2. expedição, conforme produção e rotulagem original.

Existem, todavia, situações nas quais a legislação não permite liberação do produto a não ser para aproveitamento condicional, como é o caso da evisceração retardada acima de 60 minutos em carcaças de frangos (ver Portaria 210/98). Sobre este exemplo, darei as diretrizes para construirmos uma resposta ao Termo de Apreensão Cautelar, cabendo a você, querido leitor, imaginar uma situação análoga com aplicabilidade ao seu processo.

Contados a partir da sangria, caso as carcaças sejam evisceradas após 60 minutos, o SIF adota o seguinte critério:

  1. Condenação dos órgãos internos (incluindo os comestíveis coração, fígado e moela);
  2. Avaliação minuciosa e criteriosa da carcaça sob o ponto de vista organoléptico e adotando o seguinte critério, dependendo do grau de comprometimento dos caracteres organolépticos:
    • Aproveitamento Condicional;
    • Condenação total.

Como se pode notar, não há possibilidade legal de requerer liberação das carcaças para processamento e futura expedição, conforme produção e rotulagem original, sendo, neste caso, necessário a requerente pleitear o aproveitamento condicional, se assim o departamento técnico (qualidade) julgar aplicável.

Partindo do pressuposto que a empresa detém cozinha industrial dotada de elementos necessários para termoprocessamento; além de infraestrutura e aprovação do MAPA para elaboração de outros produtos, neste caso, termoprocessados, vamos ao passo-a-passo (faça download do arquivo aqui).

Obs: Cada empresa poderá elaborar a resposta da maneira que julgar mais apropriada. O objetivo é dar um norte para quem tem dificuldades para embasar sua resposta ao SIF, principalmente em casos que requerem destinação para aproveitamento condicional.

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O fim do monitoramento dos Programas de Autocontrole (PACs) em papel impresso – SIF/MAPA

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Todo gestor da qualidade sonha ter indicadores que ajudem na investigação de problemas e tomadas de decisões mais assertivas. Alguns indicadores são gerados pela colheita dos dados diários de dentro da planta, por meio de planilhas específicas dos famosos Programas de Autocontrole (PACs) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Eu costumo dizer que “o mundo é tech” e tudo vem evoluindo numa velocidade assustadora. As empresas de alimentos atualmente têm ao seu lado inúmeras ferramentas que geram praticidade e confiabilidade em suas atividades, porém quando o assunto é trâmite documental dos PACs entre empresa e MAPA, a realidade é outra … até agora.

Num evento que estive em Belo Horizonte este ano (2018), uma Auditora Fiscal Federal Agropecuária (AFFA) do MAPA informou que um abatedouro frigorífico pleiteou o uso de software para registro dos PACs (BPF, PPHO, APPCC, por exemplo) por tablets/celulares e houve aprovação do DIPOA (Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal) depois de “idas e vindas”. Uma notícia maravilhosa, que mudará o “mindset” de auditores e empresa e que trará excelentes resultados para ambos os lados.

Tive acesso ao projeto do software e desejo apresentar alguns benefícios.

Benefícios para a empresa:

  • Manter uma base de dados mais robusta de todos os seus registros dos PACs;
  • Gerar gráficos e indicadores com maior praticidade e confiabilidade;
  • O gestor da qualidade poderá ser notificado por e-mail em tempo real, toda vez que alguma não conformidade for identificada na planta;
  • Através de filtros, é possível buscar datas de produção específicas com maior praticidade;
  • Poder atuar com 5w2H, Diagrama de Ishikawa, PDCA, 5 Por quês, dentro do próprio software; entre outros.

Benefícios para o SIF/MAPA:

  • Com o papel de auditor, poder acessar no computador, através de login e senha pessoal e intransferível, o monitoramento “in time” da equipe de qualidade, referente aos monitoramentos dos PACs.
  • Os dados da empresa, registrados no software, serão armazenados em “nuvem” externa gerando maior confiabilidade dos registros;
  • O software não permite alterações no lançamento, diminuindo a probabilidade de alterações de resultados que o registro em papel permite. O programa autoriza mudança em “x” minutos após o lançamento para corrigir (a tempo) possíveis erros na digitação dos dados – é um tempo curto; entre outros.

Ainda existem os benefícios em comum:

  • Menor burocracia no trâmite documental. O Departamento de Qualidade não precisaria ficar enviando “pilhas” de documentos para o SIF, pois o mesmo pode acessar a qualquer momento os registros;
  • Menor impacto ambiental devido à drástica redução na impressão de folhas.

Já imaginou uma auditoria do MAPA com laptops, tablets e celulares abertos sobre a mesa? Parece um cenário futurista, mas que está prestes a se tornar realidade em diversas empresas, quiçá em todas.

E você, como enxerga esse novo cenário? Quais pontos negativos ou positivos você apontaria?

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Dica PGA SIGSIF: Leiaute de rotulagem – local para data de produção, validade e lote

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Gostaria de dar uma dica aparentemente simples, mas que poderá salvar sua vida ao inserir um novo processo no PGA SIGSIF, principalmente para aqueles produtos que não possuem RTIQ. Um produto sem RTIQ não possui aprovação automática, carecendo de aprovação do DIPOA, com uma fila de espera considerável.

A dica é sobre o leiaute da rotulagem no campo onde será destinado para “data de produção, prazo de validade e lote”. Certa vez, tive uma aprovação de rótulo indeferida (com pendência) no PGA SIGSIF por alguns motivos, mas dentre eles estava o fato de não termos inserido de forma clara a indicação do local da data de produção, validade e lote.

Figura 1 – Adequação do leiaute – à direita está a forma correta, indicando o local para informação da “data de produção, prazo de validade e lote”.

Embora as informações de “data de fabricação, validade e lote” sejam obrigatórias de acordo com o Decreto 9.013 (RIISPOA 2017), não cometa o erro de lançar as informações somente no “processo de fabricação” e deixar o campo do leiaute em branco, imaginando que o auditor do MAPA subentenderá o que você pensou.

Seja o mais claro possível em todas as informações lançadas no processo PGA SIGSIF, mesmo que pareçam óbvias para você.

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Em quais casos tenho abate sanitário num abatedouro-frigorífico de frangos?

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No post “A contribuição da inspeção ante-mortem de frangos para a segurança de alimentos” prometi que explicaria a questão do abate sanitário de lotes de frangos em caso de jejum não respeitado. Contudo, aproveito o espaço para dizer como é o abate sanitário e em quais outros casos posso tê-lo numa planta abatedora de frangos.

Vamos considerar os seguintes lotes para abate sanitário:

  • Período de jejum mínimo não respeitado
  • Aves com papo cheio
  • Suabe de arrasto com laudo positivo para Salmonella spp.
  • Período de carência de medicamentos não respeitado

As experiências compartilhadas estão pautadas na minha vivência e podem mudar de empresa para empresa, pois dependem dos planos de autocontrole aprovados pela autoridade sanitária competente.

Primeiramente, como é o abate sanitário?

Ele pode estar contemplado no Plano APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), PSO (Procedimento Sanitário Operacional) ou PPHO (Procedimento Padrão de Higiene Operacional) da empresa e seu objetivo principal é evitar a contaminação cruzada no processo. Resumidamente, ele pode ocorrer da seguinte maneira (podendo variar de acordo com cada plano aprovado nas empresas):

  1. O lote suspeito é abatido no final do turno de abate do dia;
  2. Após o final do abate do último turno, aguarda-se um determinado tempo para que as carcaças do lote anterior saiam totalmente do pré-chiller;
  3. As aves podem entrar no abate em velocidade de linha reduzida, em caso de papo cheio ou jejum mínimo não respeitado, para minimizar a contaminação cruzada e melhorar a qualidade do serviço da inspeção post-mortem e do PCC 1B (contaminação fecal e biliar);
  4. Quando este lote entrar no pré-chiller e chiller, não deve haver nenhuma outra carcaça do lote anterior;
  5. Após saída do chiller e destinação para cortes, os produtos podem ser sequestrados para análise laboratorial para casos de período de carência de medicamento não respeitado ou desabilitação do lote para certos mercados, como o europeu, em casos de suabe de arrasto positivo para Salmonella spp;
  6. Após o término do abate sanitário a planta é submetida ao rigoroso processo de PPHO (higiene operacional) conforme descrito no plano da empresa.
  1. Período de jejum mínimo não respeitado

O colaborador do serviço de inspeção oficial, ao executar a inspeção ante-mortem, se atenta para essa informação mediante os documentos: FAL (Ficha de Acompanhamento do Lote) e Boletim Sanitário. Se no momento do abate o jejum for inferior ao mínimo exigido, o lote será considerado como risco de contaminação microbiológica por Salmonella sp.. Este risco se dá pelo fato de as vísceras das aves estarem repletas de conteúdo fecal e aumentar as chances de disseminação da bactéria nos produtos e na planta. Portanto, o lote é submetido ao abate sanitário.

abate sanitario 1

Figura: Boletim Sanitário contendo informação da data e hora da retirada da alimentação.  Fonte: arquivo pessoal

Claro que a empresa pode optar por abater este lote mais adiante, colocando outros (com período de jejum conforme) à frente. O problema é quando não há mais nenhum lote para ser abatido e consequentemente só resta este para abater. Por outro lado, se o tempo de espera for muito longo (mais que 12 horas) para atender o período mínimo de jejum, haverá falha de Bem Estar Animal.

  1. Aves com papo cheio

O colaborador do serviço de inspeção oficial pode detectar, durante o exame visual e palpatório das aves, a presença de muitas aves com PAPO CHEIO.

abate sanitario ii

Figura: Palpação do papo durante a inspeção Post-mortem. Fonte: arquivo pessoal

Por que se preocupar com o papo cheio?

O tempo de jejum dos frangos não deve ser maior que dez horas, tempo este que inclui o transporte e a espera na plataforma do abatedouro. Um período maior que este faz com que a ave fique estressada e elimine uma quantidade maior de Salmonella spp, aumentando a contaminação cruzada entre aves. O consumo de cama, que permite o papo cheio, também pode ser intensificado pela ave enquanto no aviário pela procura de alimento, o que aumenta a ingestão da bactéria. O jejum muito prolongado torna a parede intestinal mais frágil, o que leva a um maior número de rompimentos durante o processo de abate.

abate sanitario 2

Fonte: arquivo pessoal

Portanto, nesses casos de detecção de lote com papo cheio, o mesmo deverá ser submetido ao abate sanitário, devendo ser encarado como um risco sanitário semelhante à contaminação fecal.

  1. Suabe de arrasto com laudo positivo para Salmonella spp

De acordo com a IN 20/2016 do MAPA, todos os lotes que chegarem ao abatedouro devem ter sidos submetidos previamente à pesquisa de Salmonella spp por suabe de arrasto das granjas. O verso do Boletim Sanitário traz as informações dessa análise e uma vez positivos, são submetidos ao abate sanitário e a produção é desviada para mercados que não restringem a presença do patógeno. Vale lembrar que, pela IN 20/2016, estes lotes positivos são obrigatoriamente tipificados para S. Typhimurium, S. Enteritidis, S. Gallinarum, S. Pullorum, ou seja, todas aquelas contempladas no PNSA (Programa Nacional de Sanidade Avícola).

  1. Período de carência de medicamentos não respeitado

Constando na Ficha de Acompanhamento do Lote (FAL) ou Boletim Sanitário o uso de algum medicamento para o qual não tenha sido respeitado o período de carência, o lote é submetido ao abate sanitário. Toda produção é sequestrada e amostras são enviadas para análise da droga. Com a chegada do resultado laboratorial é possível dar o devido destino ao produto. Se estiver abaixo do LMR (Limite Máximo de Resíduo) permitido para aquela droga (baseado no Codex Alimentarius) a venda está autorizada. Evidente que há mercados que podem restringir a venda como o Japão que proíbe o uso de Nicarbazina, então o destino deve passar pelo crivo do Controle de Qualidade. Caso esteja acima do LMR, não é permitido enviar para graxaria, sendo o destino correto o aterro sanitário.

E você, já presenciou algum caso de abate sanitário em aves? Conte-nos sua experiência ou se tiver dúvidas, envie-nos sua questão.

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Aplicando a semiologia veterinária na Inspeção Ante-Mortem de Aves

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Se você fosse o veterinário responsável de um abatedouro de frangos e estivesse executando a inspeção ante-mortem numa ave com essa sintomatologia (torcicolo) qual seria sua conduta? Será que se trata de uma doença de notificação obrigatória do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) como a Doença de NewCastle ou Marek? Sabe-se que um dos objetivos da inspeção ante-mortem é detectar doenças de difícil constatação no exame post-mortem (carcaças e vísceras) e também notificar o Serviço de Defesa Sanitária Animal em caso de doenças que justifiquem isso (já falamos um pouco aqui sobre a importância da inspeção ante-mortem.)

O caso da foto é real e aconteceu em um certo abatedouro-frigorífico de frangos. Ele foi tratado como uma lesão cervical originada pela má conduta do colaborador da apanha no galpão. Como descobrimos? Ao avaliar mais aves do mesmo lote, durante a inspeção Ante-Mortem, constatou-se que somente esta ave apresentava tal sintomatologia, isto é, o torcicolo. Se tivéssemos uma doença viral circulante, como Marek ou NewCastle, outras aves do mesmo lote estariam com sintomas semelhantes ou sugestivos para as doenças suspeitas. Uma questão não só semiológica, mas epidemiológica. Portanto, o diagnóstico presuntivo foi torcicolo por lesão física (apanha), o animal foi para abate imediato e a empresa respondeu RNC (Relatório de Não Conformidade) por falha de Bem Estar Animal.

A semiologia é a parte da medicina que estuda os métodos de exame clínico, pesquisa os sintomas e os interpreta, reunindo, desta forma, os elementos necessários para construir o diagnóstico e presumir a evolução da enfermidade. Agora você entende a aplicabilidade dos conceitos semiológicos vinculados à área da Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública?

Abaixo, seguem fotos de frangos acometidos por Doença de Marek  e NewCastle para fins comparativos.

marek
Torcicolo causado pela Doença de Marek / Dr. Jaime Ruiz
newcastle
Torcicolo causado pela Doença de NewCastle / Cornell University

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Responsável por Food Safety da Vila dos Atletas da Olimpíada do Rio conversa com o blog

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O mundo dos esportes em 2016 foi marcado por diversos acontecimentos e um deles foram os Jogos Olímpicos do Rio. A cerimônia de abertura foi elogiada pela crítica mundial, conquistamos a tão sonhada medalha de ouro no futebol de Neymar, e fomos ouro também no vôlei de Bernardinho, enfim houve momentos de alegria. Todavia, algo em que fiquei pensando, como profissional da Segurança de Alimentos, foi: “Como foi todo o preparo, manipulação e cuidados gerais com a alimentação dos atletas e pessoas envolvidas dentro da Vila Olímpica”?

Em busca de respostas, o blog resolveu entrevistar o profissional Geidemar Ferreira Oliveira, que atuou como Responsável por Food Safety na Vila dos Atletas e fez parte do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio 2016.

  1. Como você entrou para o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016? E o que o motivou?

A motivação foi poder fazer parte do maior evento esportivo e da maior operação de produção de alimentos do mundo. Entrei para o Comitê após entrevista para entendimento do conhecimento na área dos alimentos. O foco foi Food Safety e operacional. Meu currículo foi entregue à Gerencia Geral da área de alimentos e bebidas e após a entrevista eu fui contratado. Havia da minha parte, o interesse em trabalhar com grandes volumes de produção, o que só aconteceria na Vila dos Atletas. Houve uma primeira entrevista com o coordenador operacional do setor e uma segunda com a gerência de alimentos e bebidas da Vila dos Atletas.

  1. Qual foi seu cargo dentro do comitê e quais eram suas atribuições e responsabilidades?

Temos que dividir o projeto em duas partes, o planejamento e a execução:

Planejamento:

Na fase de planejamento da operação, atuava como Especialista em Alimentos e Bebidas. Durante esta fase foi projetada toda a operação de A&B dentro da Vila dos Atletas e demais instalações. Um ano antes do evento, começamos as reuniões para definição da operação junto ao Caterer, a quem estaríamos terceirizando a operação dentro da Vila dos Atletas. Foram definidas estratégias e tomadas ações na área de recursos humanos, suply chain, tecnologia da informação, sustentabilidade, infraestrutura, equipamentos, saúde do trabalhador, programação da produção e qualidade, sempre com o foco na segurança dos alimentos.

Um tópico que merece ser comentado é a contratação dos equipamentos para a Vila dos Atletas. Boa parte dos equipamentos vieram de navio, de várias partes do mundo, via uma empresa britânica. A definição dos modelos a serem utilizados e a sua quantidade foram itens discutidos exaustivamente. Vale lembrar que, por se tratar de um evento extremamente dinâmico, não existia um quantitativo de refeições real.

Um ponto importante a ser considerado, em relação aos equipamentos, é a redução de custos proporcionada pela equipe ao Comitê, sem deixar de atender à demanda necessária.

O mais gratificante nesta fase do projeto foi ter participado de todas as fases, da elaboração das plantas baixas dos locais de produção de alimentos na Vila dos Atletas, até a completa execução do projeto olímpico.

Várias reuniões e adequações foram feitas no intuito de garantir a segurança dos alimentos e atender à legislação vigente no Brasil. Temos que salientar que havia muitos estrangeiros no projeto e também uma equipe multidisciplinar sem conhecimento específico na produção de alimentos ou da legislação nacional.

Foi interessante também participar da elaboração e revisão da documentação de Food Safety que foi utilizada em todas as operações de alimentos e bebidas nos Jogos. Uma das ações mais relevantes foi a participação na elaboração do checklist de Food Safety que foi utilizado em todos os locais de produção e distribuição de alimentos vinculados ao Comitê Rio 2016. Este documento foi a base para a criação de um software fundamental para o monitoramento e tomada de decisões durante as operações. Este checklist foi criado tendo como referência a Norma NBR 15635 da ABNT (Boas Práticas para Serviços de Alimentação). Esta foi uma importante contribuição visto ter participado da revisão desta Norma em 2015.

Outra parte interessante nesta fase foi a participação na elaboração da matriz de KPI’s do projeto. Durante esta fase de planejamento, pude participar também da elaboração do leiaute estrutural das cozinhas-containers utilizadas em diversas instalações, bem como na seleção dos equipamentos a serem utilizados nestes locais.

A análise das estruturas físicas existentes referentes à cadeia de produção dos alimentos nos estádios de futebol também fez parte do escopo.

A maior lição aprendida nesta fase foi a gestão de mudanças. Tudo no Comitê era muito dinâmico e tínhamos que assimilar e reagir na mesma velocidade.

Operação:

A operação de alimentos e bebidas da Vila dos Atletas foi a primeira a começar e a última a terminar dentre todas as instalações. Foram três meses chegando a servir 75.000 refeições/dia no pico da operação. O horário de funcionamento era 24h/dia, sete dias por semana.

Servíamos toda a força de trabalho, terceirizados que contrataram o serviço, todos os atletas, comissão técnica e árbitros.

Nesta fase, atuei como Gerente Adjunto Serviços de Alimentação, sendo responsável por Food Safety e manutenção da estrutura predial e equipamentos.

Havia dois pontos de produção de alimentos, o Main Dining e o Casual Dining. O primeiro era uma tenda de 24.500 m2, a segunda maior do mundo. Era dividido em armazenamento, pré-preparo, produção e dois restaurantes. Este era o principal restaurante de toda a operação olímpica. Vale informar que pela primeira vez nos Jogos ,não foi utilizada fritura neste estabelecimento. O Casual Dining tinha um ar de piquenique e o principal era o churrasco. Foi um sucesso e só ganhou elogios.

Para entender minha rotina durante o evento, é necessário entender como estava estruturada a equipe do Comitê Rio 2016 e a empresa contratada. Pelo comitê, eu gerenciava uma equipe de sete monitores. Eles foram responsáveis por realizarem rondas divididas em 3 turnos e fomentar o software desenvolvido para o gerenciamento de qualidade. Fui responsável por orientar e supervisionar a empresa contratada que contava com uma equipe de mais de 40 profissionais para monitoramento de Food Safety. O foco era aproximar o máximo possível o que havia sido planejado à produção real. Existia um alinhamento diário com a gerência e direção de produção da terceirizada.

Diariamente eram levantadas não conformidades e compiladas no software de gestão da qualidade. Estas eram divididas entre críticas e não críticas. A principal função que eu tinha na operação era sanar estas não conformidades e atuar com a melhoria contínua.

Os monitores haviam sido orientados a realizar a correção in loco, o que foi engrandecedor para a operação e para a crescimento profissional destes profissionais. On line, utilizando aplicativos de comunicação, compilávamos todas as não conformidades encontradas. Isto foi de grande valia porque era possível agir sempre que necessário, em tempo real, mesmo quando não estava na Vila.

Fazíamos a comunicação das não conformidades ao caterer no momento da detecção, sendo que cada turno era responsável por esta ação. As decisões eram tomadas em conjunto entre monitores e equipe da qualidade da terceirizada. Caso se tratasse de um risco maior ou uma não conformidade não resolvida, cabia a mim e à responsável por Food Safety da terceirizada darmos a solução ou minimizar ao máximo o risco. 

Minha rotina era chegar na Vila, analisar e propor soluções para as não conformidades críticas que ainda não haviam sido sanadas e posteriormente as não críticas. Tínhamos também indicadores de recorrência, o que também ganhava prioridade.

Após esta etapa, realizava uma ronda por toda a operação com o objetivo de verificar a efetividade das ações realizadas e visualizar novas não conformidades. Nesta fase, também realizava e reforçava o treinamento da equipe de funcionários da terceirizada.

Fazia parte da ronda a avaliação da matéria prima em estoque ou sendo recebida, todo o pré-preparo, preparo, armazenamento e distribuição. Vale ressaltar que não existia uma ordem certa para esta ronda, o que regia eram as não conformidades relatadas e principalmente estar junto dos monitores para resolução em tempo real. Claro que apareciam algumas situações em que o fogo precisava ser apagado imediatamente e estes casos tinham total prioridade. O foco desta ronda servia também para avaliação da estrutura e equipamentos, avaliar e solicitar o apoio da manutenção.

O controle de pragas mereceu uma atenção especial pela localização do estabelecimento. Os três turnos estavam atentos e todo desvio desta natureza foi prontamente tratado. Não chegamos a ter incidentes maiores.

O controle da qualidade da água também fazia parte da rotina diária.

Contamos durante todo o evento com a parceria da Vigilância Sanitária, sendo fundamental para balizar toda a operação. Recebíamos visitas, no mínimo, semanalmente e realizávamos o alinhamento das medidas necessárias com a direção da empresa contratada.

Nesta fase do projeto, o mais interessante foi ter que tomar várias decisões em um curto espaço de tempo, repetindo isto diariamente. A operação pedia isto devido a sua complexidade e particularidades.

O tamanho da operação pode ser exemplificado pelos números no dia de pico da produção:

  • 2,5 toneladas de carne;
  • 2,0 toneladas de frango;
  • 1,0 tonelada de peixe;
  • 2000 pizzas;
  • 4,0 toneladas de frutas;
  • 3,0 toneladas de legumes.
  1. Quais os maiores desafios em Food Safety (Segurança de Alimentos) encontrados?

A própria operação já era um desafio na visão de Food Safety, pelo volume a ser movimentado, produzido e controlado.

No início da operação tivemos falhas graves na cadeia de suprimentos, fugindo completamente à operação planejada. Foram várias adequações até alcançarmos um patamar satisfatório. Uma aula de gestão de mudanças.

Um ponto que merece ser destacado é o treinamento do manipulador. A equipe era composta de aproximadamente 2.000 funcionários. Muitos foram contratados pouco tempo antes do evento, às vezes com pouca ou nenhuma experiência em produção de alimentos e precisávamos treiná-los. Além do número de colaboradores, o pouco tempo hábil para esta formação era sempre uma barreira para a operação. Foi uma tarefa árdua, mas muito compensadora, ver o resultado alcançado. Foi um prazer colaborar com a terceirizada nesta realização.

O número de preparações distintas e o correto monitoramento do binômio tempo e temperatura estiveram no radar durante todo o evento. Foi um trabalho árduo e efetuado com sucesso pela equipe de qualidade. O grande conceito utilizado aqui foi a gestão de riscos.

A estrutura temporária montada para o evento também foi um grande desafio, visto termos que definir o leiaute antes da própria operação em si. Foi uma constante adequação. Um exemplo foi termos planejado a compra de frutas devidamente higienizadas, o que não ocorreu na totalidade e nos obrigou a uma readequação da linha de produção durante o evento.

A própria estrutura física também apresentou problemas, como era de se esperar em uma construção com tamanhas dimensões. A distribuição da rede elétrica e rede hidráulica são exemplos de pontos que sofreram ações de correção durante o evento. Houve também uma necessidade de reforço do piso na área de estoque de produtos secos para suportar o peso dos produtos movimentados.

O correto funcionamento dos equipamentos, suas manutenções preventivas e corretivas foram também um entrave em algumas situações. Estávamos em uma operação que não parava e alguns equipamentos necessitavam de maior atenção, como os balcões de distribuição fria. Em algumas situações específicas, tivemos de reduzir o nível de serviço para atuar com a segurança necessária para a qualidade dos alimentos.

Fazia parte do meu escopo de trabalho atuar intermediando interesses das empresas terceirizadas que atuavam diretamente junto à área de alimentos e bebidas, e as diferentes áreas funcionais dentro do Comitê Rio 2016 (similar aos setores dentro de uma empresa). A gestão de conflitos e a capacidade de negociação foram grandes desafios a serem superados para garantir um alimento seguro.

Outro ponto que merece especial destaque é o desgaste de toda a equipe com a evolução do evento. Todo mundo se doou para alcançar o objetivo de entregar os Jogos da melhor maneira possível. Jornadas longas faziam parte dos profissionais envolvidos, seja da terceirizada responsável pela produção ou do próprio Comitê Rio 2016 responsável pela supervisão, correção e orientação. Dez a doze horas diárias eram o normal. Na fase de implantação, cheguei a trabalhar por 36h para colocar em prática o que havíamos planejado. Todo mundo já sabia que não seria diferente e fomos até o final.

  1. Poderia revelar-nos se os resultados do trabalho foram satisfatórios? Houve algum caso de DTA (Doença Transmitida por Alimento) dentro da Vila Olímpica?

Com o final do evento ficou a sensação de dever cumprido. O desafio era enorme, a missão era garantir a qualidade e segurança dos alimentos em uma operação de tamanha dimensão. Foi o único evento em que trabalhei na minha vida, e logo o maior de todos. Já havia trabalhado em grandes operações em indústria de alimentos e cozinha industrial, produzindo grandes volumes, mas nada parecido aos Jogos Olímpicos. Foi um prazer ter ajudado o Brasil a fazer bonito e arrancar elogios de profissionais das mais diversas áreas e diferentes países.

Felizmente não tivemos na Vila nenhum caso de DTA ou surto alimentar. Este fato é orgulho para toda a equipe envolvida em todas as etapas da cadeia. Os perigos eram iminentes, mas as precauções e ações tomadas se mostraram eficientes para alcançar o objetivo proposto.

  1. Que lição de vida e profissional você tirou após participar dos Jogos Olímpicos do Rio 2016?

As lições aprendidas são várias e de diferentes causas.

Profissionalmente fica a satisfação de ter feito parte deste megaevento e ter tido a oportunidade de aprender muito com uma equipe multiprofissional e com pessoas de várias partes do mundo. A troca de experiências fazia parte do dia a dia. Saí muito melhor do que entrei, em se tratando de gestão de pessoas, mudanças, de riscos, conflitos e em técnicas de negociação. A capacidade de tomada de decisão em tempo real foi também um grande aprendizado que pude lapidar neste projeto.

Pessoalmente, foi uma lição de vida. Além das amizades construídas, foi muito interessante ver tanta gente com hábitos tão diferentes, oriundos dos mais diversos países com culturas completamente diferentes se darem tão bem e com o verdadeiro espírito olímpico.

Para ilustrar a lição de vida, fica um fato ocorrido em um dos nossos restaurantes:

Uma atleta biamputada dos braços chegou para almoçar, tirou o tênis com a boca, arrumou os cabelos com o pé, prendendo-o atrás da orelha e almoçou tranquilamente. Foi impressionante vê-la pegando o talher com o pé. Voltou a calçar o tênis e, para a surpresa de todos, ao invés de levantar e ir embora começou a empurrar a cadeira de rodas de uma compatriota rampa acima com o seu tronco.

Podemos sempre ser pessoas melhores do que somos, esta é a principal lição que ficou.

lisboaAtuação junto a Indústria de Alimentos, Cozinhas Industriais e Indústria Farmacêutica. Farmacêutico Bioquímico Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto. Especialista em Controle da Qualidade e Toxicologia dos Alimentos pela Universidade de Lisboa. Licenciado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de Lisboa. Auditor em Sistemas de Qualidade pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas. MBA Gestão Empresarial pela FGV. Membro da Comissão de Segurança dos Alimentos da ABNT. Trabalho utilizando as ferramentas da qualidade e a gestão de pessoas para alcançar os objetivos da empresa de acordo com o seu planejamento estratégico. Natureza objetiva e assertiva para o fechamento de negócios, positivo, arrojado, ativo, competitivo e persistente.

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Engenheira de Alimentos de companhia aérea fala sobre sua rotina de trabalho

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Quando estamos na graduação, nossos professores nos informam quanto aos campos de atuação de nossa profissão. Pensar na indústria alimentícia é umas das principais opções para alguém que deseja atuar na área de Food Safety, mas você já pensou em trabalhar numa companhia aérea? Quais seriam as principais atribuições do cargo? Quais conhecimentos seriam exigidos deste profissional? Estas, entre outras perguntas, serão respondidas logo mais.

Buscando trazer luz aos questionamentos, o blog Food Safety Brazil entrevistou a engenheira de alimentos Jacqueline Nochi, Analista da Qualidade de Serviço a Bordo em uma famosa companhia aérea operante no Brasil.

  1. Jacqueline, obrigado por aceitar o convite. A primeira pergunta que gostaria de fazer é quais foram os caminhos que você trilhou até chegar neste atual cargo?

Humberto, logo após a graduação, eu participei de um processo seletivo de Trainee de uma usina produtora de açúcar e etanol e, uma vez aprovada, trabalhei por 3 anos na área de qualidade de produtos acabados (açúcar cristal e refinado). Durante este período, fiz pós-graduação à distância em Segurança de Alimentos e estive em constante contato com as ferramentas da qualidade e auditorias das normas ISO 9000 e FSSC 22000.

Comecei a buscar outra oportunidade em São Paulo, quando me candidatei à atual vaga, pois havia me interessado muito pelo desafio. No início de 2016, iniciei como Analista de Qualidade de Serviço a Bordo nesta companhia, onde trabalho atualmente.

  1. Quais as principais atribuições do seu cargo?

Primeiramente vou explicar como este mundo dinâmico funciona. As companhias aéreas têm parcerias firmadas com fornecedores ao redor do mundo, que garantem a preparação e entrega do serviço de bordo de cada voo. Nestes locais, há uma grande operação para abastecer todos os voos, com rígido controle de qualidade, baseado em padrões internacionais. Sendo assim, todos os alimentos são preparados sob um rigoroso controle, baseado nos princípios do HACCP. Como analista da qualidade, minha responsabilidade é trabalhar em parceria com estes fornecedores, desenvolvendo-os através de indicadores de performance, e também realizando reuniões e as Auditorias de Qualidade.

O analista, como o próprio nome diz, trabalha muito com informações e acompanha a execução do que foi previamente definido. Você deve estar pensando: você viaja muito? Sim! Temos que viajar para visitar e auditar os fornecedores, mas não trabalhamos voando, o nosso trabalho é em solo durante a preparação dos alimentos, além de gerenciar todos os dados obtidos neste processo.

  1. Como funciona a gestão de alimentos alergênicos visto que uma emergência em pleno voo poderia ser fatal?

Neste ponto, em determinados voos, as companhias oferecem aos passageiros alimentações especiais para dietas restritivas, como por exemplo, alergias e intolerâncias. O passageiro pode consultar nos meios de contato das companhias para verificar o que estará disponível para a rota, bem como solicitar uma refeição adequada.

  1. Qual o perfil ideal de um profissional da qualidade (alimentos) de uma companhia aérea? Seriam os mesmos de uma indústria? Deixe por fim uma dica aos estudantes ou profissionais que buscam (re)colocação.

As competências são as mesmas exigidas por qualquer indústria ou serviço de alimentação: conhecimento nos princípios da Segurança Alimentar e no sistema HACCP, bem como as BPF, Controle de Pragas, Rastreabilidade, Higiene de Funcionários e Manipuladores, Treinamentos, entre outros. É importante também ter conhecimento das Ferramentas da Qualidade, como Ishikawa, 5W2H, Diagrama de Pareto, PDCA, entre outras, para trabalhar com os dados. Toda experiência é importante e em todos lugares e trabalhos você pode aprender alguma nova informação. A experiência na indústria e com as auditorias me ajudou, mas as oportunidades estão aí e são elas que ajudarão os profissionais a se desenvolverem para chegar onde desejam.

Enfim, a minha dica é: aproveitem ao máximo o que os professores e os colegas têm a ensinar, ensinamento nunca é demais. Estejam abertos às novidades, estudem e  mantenham-se informados; trabalhem com o que amam! Assim, mesmo com todas as dificuldades, você estará realizado.

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Jacqueline Nochi é Engenheira de Alimentos pela Universidade Estadual de Maringá – UEM PR, com especialização em Gestão da Segurança dos Alimentos pelo SENAC SP, e atualmente é Analista da Qualidade de Serviço a Bordo de uma companhia aérea.

 

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A contribuição da inspeção ante-mortem de frangos para a Segurança de Alimentos

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Há dois tipos de inspeção sanitária em abatedouros-frigoríficos, segundo o RIISPOA, chamadas de ante-mortem e post-mortem. Como a própria raiz da palavra (em latim) quer dizer, ante-mortem é aquela realizada com o animal ainda vivo e post-mortem, por outro lado, refere-se àquela das carcaças e vísceras dos animais. Todavia, qual a importância delas para a Segurança dos Alimentos? Hoje falaremos sobre a ANTE-MORTEM.

Segundo a Portaria SDA 210/98 do MAPA, a inspeção ante-mortem compreende no exame visual dos lotes de aves destinadas ao abate e do conjunto de medidas adotadas para o processamento industrial, além de ser uma atribuição exclusiva do médico veterinário oficial encarregado da unidade, em outras palavras, consiste na verificação da documentação sanitária do lote e da avaliação clínica da saúde das aves nas gaiolas (paradas) e no cercado (em movimento).h2h1

Figura – Realização da inspeção ante-mortem –  Esquerda: avaliação documental (FAL – Ficha de Acompanhamento do Lote e BS – Boletim Sanitário); Direita: avaliação clínica da saúde das aves nas gaiolas.

Fonte: Arquivo Pessoal.

O objetivo da inspeção ante-mortem é:

  1. Evitar o abate de aves com repleção do trato gastrointestinal (respeitar jejum);

As aves devem chegar ao abatedouro com jejum de no mínimo de 6 a 8 horas, não podendo ultrapassar 12 horas (falha de bem estar animal). O objetivo é esvaziar o trato gastrointestinal das aves e assim diminuindo a probabilidade de contaminação cruzada por conteúdo fecal ou do papo, consequentemente, aumentando a segurança sanitária do processo. Também é comum, nos últimos dias de vida das aves na granja, ingerirem água com ácidos orgânicos, a fim de reduzir a colonização de Salmonella sp nos intestinos dos animais.

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Figura: Com os comedouros suspensos as aves não têm acesso à ração, todavia as mesmas continuam ingerindo água até momentos antes da apanha.

Fonte: Google Imagens.

Caso o jejum mínimo não seja respeitado, isto é, caso os animais cheguem ao estabelecimento com jejum inferior a 6 horas, e for constatado no exame clínico que os mesmos estão com papo cheio, estas aves devem ser abatidas considerando um risco iminente de contaminação por Salmonella sp. (Descreverei em uma futura postagem como funciona esse abate sanitário).

  1. Conhecer o histórico do lote, por meio do Boletim Sanitário, para evitar o abate em conjunto de aves que tenham sido acometidas por doenças que justifiquem o abate em separado (exemplo, lote acometido por Aerossaculite – generalizado);

O Boletim Sanitário nos permite conhecer:

  • Procedência e número de aves da referida granja;
  • Doenças detectadas no lote pelo Veterinário responsável pela granja;
  • Se houve algum tratamento e agente terapêutico usado durante a criação das aves;
  • Data da suspensão da ração com antibióticos ou coccidiostáticos (caso a empresa utilize);
  • Data e hora da retirada da alimentação sólida (suspensão dos comedouros);
  • Entre outras informações.

O procedimento de conferência do Boletim Sanitário é uma ferramenta importante para a inspeção sanitária oficial, pois ações corretivas antecipadas podem ser tomadas em caso de não conformidades. Por exemplo, se durante sua conferência, o veterinário oficial constatar que o lote está com alta incidência de Aerossaculite (inflamação dos sacos aéreos), a velocidade das nóreas deverá ser reduzida gradativamente a fim de que a equipe de inspeção sanitária post-mortem tenha maior acuidade visual e as partes das carcaças e vísceras afetadas sejam devidamente descartadas.

  1. Detectar doenças que não sejam possíveis de identificar no exame post-mortem, especialmente aquelas que afetam o sistema nervoso (por exemplo, a Doença de New Castle manifesta sintomatologia nervosa e como poderíamos observá-la após a morte do animal?);

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Figura: Inspeção da ave em movimento.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Certas doenças das aves, como a Doença de Marek, podem causar lesões nervosas. Embora as empresas vacinem os animais contra esse vírus, faz parte do programa sanitário do MAPA verificar, durante a inspeção ante-mortem, suspeitas de doenças de notificação obrigatória (como a Marek).

É comum que um animal acometido por essa doença viral apresente paralisia de asa(s) ou pata(s) devido à lesão do nervo radial ou ciático respectivamente. A ave apresenta “asa caída” ou uma “pata se arrastando”. Eu lhe pergunto: Será que conseguiríamos suspeitar dessa doença com a ave já abatida? Certamente não. Por isso a importância da inspeção clínica afinal se ela apresentar uma paralisia do nervo ciático unilateral, por exemplo, uma de suas patas estará se arrastando. Para tirar a “prova real” de que se trata da doença viral e não de uma fratura, mais aves deverão ser avaliadas.

  1. Identificar lotes com suspeitas de problemas que justifiquem redução na velocidade normal de abate para um exame mais acurado;

Durante o exame clínico das aves pode-se detectar algumas lesões ou doenças em elevada porcentagem se esse lote tiver um status sanitário ruim. Se isso acontecer é necessário reduzir a velocidade de abate antes de pendurar as aves na nórea, a fim de corroborar com a inspeção sanitária post-mortem. Essa redução de velocidade é importante para não permitir que carcaças com lesões passem pela inspeção sem a devida análise e sigam para a sala de cortes, onde gerariam possíveis contaminações cruzadas.

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Figura: Carcaça com Dermatose na região da sobrecoxa.

Fonte: Arquivo Pessoal

  1. Possibilitar a identificação de lotes de aves que tenham sido tratadas com antibióticos, para efeito de sequestro, objetivando a realização de análises laboratoriais que detectem a presença de resíduo na carne;

Nesse caso a inspeção de maior relevância é a DOCUMENTAL. Através do Boletim Sanitário e FAL o veterinário oficial consegue detectar se aquele lote foi medicado e se o período de carência foi respeitado. Supondo que o lote chegue para o abate, onde foi constatado o uso antibiótico terapêutico com período de carência desrespeitado, qual seria a conduta mais eficiente?

Primeiramente o lote será abatido e depois sequestrado para envio de amostra para um laboratório credenciado ou habilitado. Será quantificado o resíduo do medicamento na carne e caso esteja dentro do LMR (Limite Máximo de Resíduo), estabelecido pelo Codex Alimentarius, o produto será liberado para venda (consumo). Mas e se estiver acima do LMR? Podemos enviar para Graxaria (Fábrica de Farinhas)? Não! Porque este resíduo passaria adiante para os animais que consumissem a ração, dando margem ao desenvolvimento de resistência ao antibiótico. O procedimento correto é destinar ao aterro sanitário, com todo procedimento ambiental adequado.

Conclusão

Busquei abordar de forma resumida os principais pontos da inspeção ante-mortem e acredito que foi possível entender sua importância para a Segurança dos Alimentos. Sem ela, certamente comprometeríamos a qualidade sanitária dos produtos de origem animal.

Você gostou dessa postagem? Dê um feedback aqui nos comentários e se possível deixe alguma sugestão de postagem que envolva abate e processamento de frangos, tentarei contribuir com minha experiência.

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Workshop Food Safety Brazil – O segundo filho do blog nasceu!

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Quem já organizou um evento sabe quão trabalhoso isso é. Durante o II Workshop Food Safety Brazil, algumas pessoas me questionaram como eu estava me sentindo e eu dizia: “Estou me sentindo em trabalho de parto”. Depois de finalizado o evento, parece que o segundo filho do blog nasceu e com muita saúde e vigor (o primeiro nasceu em Fortaleza-CE). Não há mais sentimento de preocupação e sim alívio, gratidão e satisfação.

No total tivemos 72 inscritos neste Workshop, entre profissionais da indústria, professores universitários, estudantes e um representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). As áreas de atuação dos participantes eram diversas, tais como:

  • Indústria de Leite e Derivados;
  • Indústria de Carne e Derivados;
  • Indústria de Aveia, Cevada, Farinhas, etc;
  • Indústria de Embalagens;
  • Indústria de Doces;
  • Indústria de Azeite de Oliva;
  • Laboratório Análise de Alimentos (credenciado pelo MAPA);
  • Cooperativas de Grãos;
  • Indústria de Biscoitos e Bolachas;
  • Indústria de Café;
  • Serviços de Alimentação (restaurante industrial);
  • Consultoria e treinamento.

Londrina estava merendo um evento na área de Segurança de Alimentos e esse sonho foi possível graças ao conjunto de esforços do comitê organizador, palestrantes e claro, pela confiança e participação do público. O feedback que tive dos palestrantes foi sobre a excelente participação (interatividade) do público de Londrina, uma nota 10 sem titubear. Diversos questionamentos foram levantados durante e ao final das palestras, de forma que as respostas vinham não somente do interlocutor, mas também dos colegas participantes. Isso enriqueceu o evento!

Ficamos satisfeitos com a avaliação do público quanto ao conteúdo, didática e interação dos palestrantes com seus respectivos temas. De excelente (nota 10,0) a fraco (nota 2,5), a maioria dos palestrantes atingiu nota média 9,0. Os principais pontos positivos extraídos das fichas de avaliação foram: PONTUALIDADE do evento; coffee break bem servido e de qualidade; e o alto nível de conhecimento dos palestrantes. Quanto aos pontos negativos o blog os lê com critério a fim de implementar melhorias.

Muito obrigado a você que participou desse II Workshop Food Safety Brazil – Entender para realizar (Desmistificando a Segurança dos Alimentos). Agradeço também aos nossos patrocinadores: Grupo Brasmo, Sealed Air Food Care – Diversey e IFS Certification que investiram em nosso sonho; aos apoios da empresa Rumen Forte do Brasil (nutrição animal), Universidade Filadélfia – UNIFIL, Instituto Haward (escola de inglês) e a cervejaria Von Borstel. A todos vocês que possibilitaram a realização deste evento, o nosso muito obrigado.

Em breve disponibilizaremos as palestras aqui no site e você receberá essa informação por e-mail, afinal você é assinante do blog não é?

Fique ligado que o III Workshop Food Safety Brazil vem aí: primeiro semestre de 2017!

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Bem-estar animal (em frangos) e a segurança dos alimentos

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Introdução

O frango brasileiro atingiu excelentes diferenciais sendo reconhecido internacionalmente e um dos produtos brasileiros mais concorridos do mercado mundial. Isto é possível devido à combinação da tecnologia de ambiência, genética, alimentação à base de milho e soja produzidos no Brasil, e o sistema de integração produtores – frigoríficos.

As práticas de bem estar animal (BEA) são um dos pilares da avicultura moderna, afinal o mundo está preocupado com as reais condições de criação destes animais. Entende-se que quanto melhores forem as condições de criação, melhor será o desempenho zootécnico dos animais. Mas e quanto à segurança de alimentos?

Bem-estar Animal

Em 1992 a FAWC (FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL) desenvolveu as chamadas “cinco liberdades”, sendo utilizadas como base para assegurar o bem estar dos animais.

  1. Livres de medo e angústia: Todos que manejem as aves necessitam ter conhecimentos básicos do comportamento animal para evitar o estresse das mesmas;
  2. Livres de dor, sofrimento e doenças: Os animais devem ser protegidos de injúrias e elementos que possam causar dor ou que atentem contra a saúde. O ambiente onde as aves são criadas deve ser manejado para promover boa saúde e estas devem receber atenção técnica rápida quando for necessário;
  3. Livres fome e sede: A dieta deve ser satisfatória, apropriada e segura. A competitividade durante a alimentação deverá ser minimizada pela oferta de espaços, suficiente para comer e beber. Os animais devem ter acesso à água potável e limpa;
  4. Livres de desconforto: O ambiente deve ser projetado considerando-se as necessidades das aves, de forma que seja fornecida proteção às mesmas, bem como prevenção de incômodos físicos e térmicos;
  5. Livres para expressar seu comportamento normal: Deve ser oferecido espaço suficiente e instalações apropriadas. As instalações não devem alterar a natureza das aves, sendo compatível com a saúde e o bem-estar das mesmas.

Do ponto de vista sanitário é possível avaliar o seguinte …

1 – Livres de medo e angústia

O momento da apanha tem grande influência sobre o aspecto qualitativo-sanitário da carne. Durante este momento é recomendada a construção de uma limitação de espaço para locomoção das aves a fim de que as mesmas não permaneçam agitadas e minimize por sua vez lesões e traumas (Figura 1).

Figura 1: Apanha de frangos manualmente. Observar a posição das caixas que limitam o espaço de locomoção das aves

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Fonte: Arquivo Pessoal

O funcionário da apanha não pode capturá-las pelo pescoço, pernas ou asas. As aves devem ser pegas pelo dorso, usando as duas mãos e pressionando as asas contra o corpo (Figura 2). Os animais devem ser contidos de maneira confortável, evitando que os mesmos se debatam. A apanha pelo dorso oferece maior proteção, causa menos estresse e reduz os riscos de fraturas nas aves, resultando em uma menor condenação de carcaça.

Figura 2: Apanha pelo dorso (manejo correto)

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Fonte: Google Imagens

As aves devem ser colocadas dentro das caixas de transporte da forma mais cuidadosa possível e isso requer um corpo técnico bem treinado.  A densidade das caixas também deve ser considerada, pois caso contrário as aves sofrerão estresse térmico.

2 – Livres de dor, sofrimento e doenças

A criação das aves deve possuir condições que respeitem o ambiente ideal para seu desenvolvimento sem dor e sofrimento. Essas condições incluem, por exemplo, fornecer uma cama fofa e um galpão ausente de objetos perfuro-cortantes como pregos, cacos de vidro, arames a fim de evitar lesões das aves (Figura 3).

Figura 3: Arame dentro do galpão podendo propiciar dor e sofrimento às aves

fig3

Fonte: Arquivo Pessoal

3 – Livres de fome e sede

Os comedouros e bebedouros devem estar ajustados à altura da inserção cranial do peito dos animais a fim de que tenham condições de apreensão da comida e bebida. A água, por exemplo, deve ser fresca, com temperatura abaixo de 24 graus Celsius, hiperclorada e ausente de matéria orgânica.  Temperaturas elevadas da água diminui sua ingesta e proporciona desidratação, queda de peso e imunidade dos animais.

Figura 4: Temperatura da água em 27,0 graus Celsius que propicia a diminuição da ingesta

fig4

Fonte: Arquivo Pessoal

4 – Livres de desconforto

Em relação ao calor, os pintos são animais pecilotérmicos, ou seja, não têm capacidade de regular a temperatura corporal própria, tendo a temperatura do corpo igual a do ambiente. Quando crescem, o sistema termorregular se desenvolve e passam a ser animais homeotérmicos, quando mantêm a temperatura do corpo constante, independente da temperatura do ambiente. Para os pintinhos, o ambiente quente é fundamental para a sobrevivência, eles devem ficar juntos e bem aquecidos (Figura 5).

Figura 5: Pintinhos em um ambiente confortável termicamente. Notar que estão comendo e bebendo e não estão nem muito amontoados (caracteriza frio) e nem muito espalhados (caracteriza calor)

fig5

Fonte: Arquivo Pessoal

5 – Livres para expressar seu comportamento normal

A densidade do galpão é algo a ser levado muito a sério, uma vez que repercute na produtividade das aves, além do aspecto sanitário (Figura 6). Elevada densidade proporciona estresse térmico e desenvolvimento de doenças como, por exemplo, aerossaculite (inflamação dos sacos aéreos).

Figura 6: A densidade segundo Diretiva Europeia é de 30kg/m2. Se forem cumpridas certas exigências, pode ir para 38 kg/m2

fig6

Fonte: Arquivo Pessoal.

Consequências

Em todos os casos de falhas de BEA, animais que não vêm a óbito, crescem em subdesenvolvimento, não atingindo seu potencial zootécnico máximo e por vezes, adoecendo em detrimento a baixa imunidade. Uma vez com baixa imunidade, o animal adquire doenças de importância à saúde animal ou humana.

Outra situação é que em virtude dos casos de arranhaduras de pele podem-se desenvolver patologias inflamatórias, associadas a microrganismos, como é o caso da celulite (Figura 7), que em análise bacteriológica demonstra a presença majoritária da bactéria E. coli.

Figura 7: Presença de placa caseosa subcutânea amarelada, isto é, celulite

fig7

Fonte: Arquivo Pessoal

A carne DFD (Dark, Firm, Dry) em frangos também está associada ao estresse físico ou emocional, que causa depleção do glicogênio muscular, interrupção da glicólise post-mortem e consequente elevação do pH final (em torno de 6,05). Esse pH é favorável ao crescimento microbiano.

De acordo com Banwart (1989) existem valores mínimos, máximos e ótimos de pH para multiplicação de alguns microrganismos, tais como:

[table id=20 /]

Levando-se em consideração fatores intrínsecos e extrínsecos dos alimentos para o desenvolvimento microbiano, carnes com condições anormais de pH, como produtos DFD, favorecem o desenvolvimento de microrganismos deteriorantes, diminuindo a vida de prateleira dos alimentos (shelf life), como de microrganismos patogênicos, atentando contra a vida do consumidor.

Conclusão

Respeitar o BEA não é somente uma questão humanitária ou simplesmente para atender à legislação vigente, mas também algo que tange à esfera da Segurança dos Alimentos.

Referências Bibliográficas

BANWART, G.J. Basic Food Microbiology. 2nd ed. Van Nostrand Reinhold New York, p. 371-392, 1989.

FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL–FAWC. Five Freedoms. 1992. Disponível em: https://www.gov.uk/government/groups/farm-animal-welfare-committee-fawc. Acesso em: 03 de outubro de 2016.

OIE. Organização mundial de saúde animal. Código sanitário dos animais terrestres. 2013. Disponível em: http://www.oie.int/international-standard-setting/terrestrial-code/access-online/. Acesso em: 03 de outubro de 2016.

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Vencedores concurso cultural do II Workshop Food Safety Brazil

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Os textos e seus respectivos autores vencedores do concurso cultural do II Workshop Food Safety Brazil foram:

  • Resíduo de Antibióticos na Cadeia de POA – Ingrid Mengue;
  • A acessibilidade da Segurança de Alimentos – José Gonçalves de Miranda Jr.

Nos próximos dias vocês poderá acompanhar as publicações dos vencedores aqui na blog.

A comissão organizadora do evento agradece a todos aqueles que participaram do concurso e parabeniza aos ganhadores. Aos vencedores das cortesias das inscrições, aguardamos vocês em Londrina-PR nos dias 22 e 23 de Novembro.

Atenciosamente,

Humberto Cunha

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Dia Mundial do Ovo (14 de Outubro)

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A International Egg Commission (IEC) (leia mais sobre a comissão aqui) criou em 1996 o DIA MUNDIAL DO OVO. A comemoração ficou estabelecida para toda segunda sexta-feira do mês de Outubro, e em 2016 o dia é celebrado em 14 de outubro, hoje!

Eu particularmente consumo ovos e derivados toda semana. Se não os como in natura, certamente se dá através de massas e bolos. O ovo é um alimento integrante do meu cardápio, pois o considero nutritivo e saboroso. Mas o que a ciência diz sobre esse alimento?

Aspecto Nutricional

Por anos o ovo foi considerado mais um risco à saúde do que um alimento saudável. Uma vez que este alimento é rico em colesterol, a ciência recomendava que pessoas com “colesterol alto” reduzissem o consumo (O que é colesterol? Leia mais aqui).

Embora seja verdade que as gemas contém um nível significante de colesterol, podendo afetar os níveis da circulação sanguínea, as gemas também contêm nutrientes, incluindo proteínas, vitaminas B12 e D, riboflavina e ácido fólico, que podem ajudar a reduzir o risco de doenças cardíacas. Observe a Tabela 1 que traz alguns dados nutricionais do ovo e compara a quantidade de colesterol presente no ovo inteiro, gema e clara:

Tabela 1 – Composição de nutrientes de ovos frescos de galinha (por 100g)* – adaptada

[table id=18 /]
*a composição varia de acordo com a alimentação e criação das galinhas
Fonte: U.S. Department of Agriculture, Composition of Foods, Agriculture Handbook n 8-1.

Em 1999 a Universidade de Harvard conduziu um estudo, no qual analisou 115 mil pessoas durante uma década, e concluiu que comer um ovo diariamente não levaria a um aumento do colesterol sanguíneo. Um outro estudo realizado em 2007, com 9.500 pessoas, reportado no Medical Science Monitor, demonstrou que o consumo de um ou mais ovos por dia, não aumentou o risco de doenças do coração ou infarto entre adultos saudáveis, e que o consumo de ovos pode estar relacionado com a redução da pressão sanguínea.

Em uma entrevista dada à rede BBC Mundo, a especialista em nutrição integrativa, Rebecca Eisenmann, afirmou que ovos fritos ou mexidos são as maneiras menos recomendadas de consumi-los, pois nessas formas de preparo as gorduras naturais são oxidadas. Além disso, fritá-los em óleo aumenta a quantidade de gordura em 50%, segundo o sistema de saúde da Grã-Bretanha (NHS).

Existem 10 benefícios em consumir ovos que já foram confirmados pela ciência, sendo estes (Top 10 health benefits of eating eggs):

  1. Ovos estão entre os alimentos mais nutritivos do planeta;
  2. Ovos são ricos em colesterol, mas eles não afetam negativamente o colesterol sanguíneo;
  3. Ovos elevam o HDL (o “bom”) colesterol;
  4. Ovos contém colina;
  5. Ovos estão associados à redução do risco de doenças cardíacas (ligados a um subtipo de LDL);
  6. Ovos contêm luteína e zeaxantina. Antioxidantes que têm grandes benefícios para a saúde dos olhos;
  7. Ovos enriquecidos com ômega 3 e pasteurizados contêm quantidades significativas de ácidos graxos ômega 3, que por sua vez são efetivos na redução dos triglicerídeos do sangue;
  8. Ovos são ricos em proteínas de qualidade, tendo todos os aminoácidos essenciais em proporção correta;
  9. Ovos podem reduzir o risco de AVC;
  10. Ovos são altamente saciáveis e tendem a fazer você comer menos calorias, ajudando na perda de peso.

Segurança de Alimentos

Em Segurança de Alimentos existem dois pontos que devemos considerar na cadeia produtiva de ovos, sendo estes:

  1. Risco de contaminação do ovo por Salmonella sp;
  2. Pessoas alérgicas ao ovo.

A qualidade da casca está intimamente associada à contaminação do ovo pela Salmonella sp. Tempo e temperatura de armazenagem são fatores fundamentais para que as salmonelas passem da superfície da casca para as estruturas internas do ovo. Os ovos podem também se contaminar via transovariana (via gema “de mãe para filho”). Nesse caso, como a contaminação está localizada na gema, os processos convencionais de desinfecção dos ovos não são eficientes.

Nas granjas avícolas e nos entrepostos de ovos a limpeza pode ser feita, se necessário, a seco, com jatos de ar, escovas e esponjas secas. É bom lembrar que ovos sujos ou trincados não podem ser colocados no comércio. O blog já debateu sobre o assunto no texto “Quando devemos lavar os ovos?”.

Para garantir a qualidade do ovo é importante orientar o consumidor a:

  • Atentar-se ao tempo vs temperatura e forma de armazenamento;
  • Evitar consumi-lo cru ou mal cozido (Salmonela sp é sensível ao calor);
  • Adquiri-lo de fonte confiável onde há fiscalização sanitária oficial.

Sobre o tema alergênico, o blog Food Safety Brazil já publicou mais de 116 posts relacionados, incluindo a alergia ao ovo. Um grande avanço para os consumidores alérgicos foi o deferimento da RDC 26/2015, na qual trouxe regulamentação para a rotulagem de alimentos alergênicos.

FELIZ DIA MUNDIAL DO OVO!

Embora mereça atenção em alguns aspectos sanitários e nutricionais, o dia mundial do ovo fornece uma oportunidade para educarmos as pessoas sobre o verdadeiro valor dos ovos. Países ao redor do mundo comemoram este dia em reconhecimento desta poderosa fonte de alimento.

ovo1

Referências

  1. Djousse L, Gaziano JM. Egg consumption and risk of heart failure in the Physicians’ Health Study. Circulation. 2008; 117:512-6.
  2. Fernandez ML. Dietary cholesterol provided by eggs and plasma lipoproteins in healthy populations. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2006; 9:8-12.
  3. Hammack TS et al. Research note: Growth of Salmonella enteritidis in grade A eggs during prolonged storage. Poult. Sci., v.72, p.373-377, 1993.
  4. Hu FB, Stampfer MJ, Rimm EB, et al. A prospective study of egg consumption and risk of cardiovascular disease in men and women. JAMA. 1999; 281:1387-94.
  5. Silva, EN. Salmonella enteritidis em aves e saúde pública. Hig. Alimentar, v.9, p.7-13, 1995.

Créditos de imagem: Authority Nutrition.

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Concurso Cultural II Workshop Food Safety Brazil | Londrina – PR

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O Blog Food Safety Brazil contemplará duas cortesias (inscrições gratuitas) para você participar do II Workshop Food Safety na Prática.

Como posso participar desse concurso cultural? Leia o regulamento abaixo:

Escreva um texto a respeito da temática Segurança de Alimentos. Vale escrever para qualquer uma das categorias do blog: Pesquisas, Legislação, Dicas Vencedoras, HACCP, etc.

  1. O texto deve ter entre 700 a 2000 palavras, escrito em Word, ser inédito, relevante sobre o assunto, e tratar de um tema ainda não abordado no Food Safety Brazil (use a caixa de PESQUISA para verificar a originalidade do seu tema antes de começar a escrever). Textos com palavras de baixo calão e ataques a pessoas ou empresas serão desconsiderados.
  1. Envie o seu texto para o email eventos@foodsafetybrazil.org deixando como título CONCURSO CULTURAL. Inclua as suas informações de contato, um mini-currículo de até 300 caracteres e uma autorização para publicação do texto no Food Safety Brazil (no final do texto).
  1. Os textos recebidos serão avaliados conforme os critérios de publicação do blog. Os autores cujos textos foram aceitos para publicação serão informados por e-mail.
  1. Serão aceitos textos enviados até 14 de Outubro de 2016. No dia 17 de Outubro de 2016 serão divulgados os resultados no blog e na página do blog no Facebook.
  1. O prêmio refere-se à isenção de pagamento para uma vaga no “II Workshop Food Safety – Entender para Realizar” em Londrina-PR. Despesas relacionadas a transporte, alimentação e hospedagem são responsabilidade do participante.

Aguardamos seu post. Participe! 

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A diferença entre Atividade de Água (Aw) e o Teor de Umidade nos alimentos

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Quando falamos em segurança e qualidade de alimentos, existem duas medidas críticas que todos os fabricantes devem conhecer:

  • Teor de Umidade;
  • Atividade de Água.

Ambas as medições podem parecer a mesma coisa, mas não são! Elas são medidas para dois propósitos diferentes, e cada uma mostra conceitos próprios sobre rendimento, qualidade e segurança dos alimentos.

Meu objetivo aqui não é dar uma aula ou fazer uma revisão bibliográfica sobre o assunto, mas elucidar do ponto de vista prático. Este post irá abordar as diferenças e a importância de cada medição:

TEOR DE UMIDADE

Após um processo padronizado de secagem do alimento, podemos definir:

Umidade (%) = [(Pi – Pf) / Pi] × 100

Onde:

  • Pi = Peso inicial da amostra;
  • Pf = Peso final da amostra.

O teor de umidade é a medida da quantidade total de água contida num alimento (água total), e é geralmente expresso como uma porcentagem (%) do peso total. É uma das medidas analíticas mais importantes, sendo utilizada no processamento e testes de produtos alimentícios, tendo importância direta para:

  1. Processador e consumidor;
  2. Qualidade do alimento;
  3. Estabilidade do alimento;
  4. Uniformidades de resultados;
  5. Valor nutritivo e
  6. Especificações de padrões de identidade e qualidade do produto.

Como o custo da matéria prima é baseado no peso, algumas vezes os fabricantes tentam usar água adicional para obter lucros ilícitos. Em alimentos líquidos, quanto maior for o teor de umidade padrão do alimento, maior a chance de o produto ser fraudado, isto é, temos fraude com adição de água no leite, mas não na farinha de trigo por exemplo.

ATIVIDADE DE ÁGUA (Aw)

Enquanto o teor de umidade simplesmente define a quantidade de água nos alimentos e ingredientes, a atividade de água, em termos práticos, é uma medida que permite avaliar a disponibilidade de água no alimento que estaria susceptível a diversas reações (químicas, enzimáticas) ou para uso dos microrganismos presentes. Quanto mais elevada for a atividade da água, mais rapidamente os microrganismos (como bactérias, leveduras e bolores) poderão se multiplicar. A importância da Aw está na sua relação com a conservação dos alimentos.

Primeiramente, preciso citar as três formas de apresentação da água nos alimentos propostas por Labuza (1970):

  • Água livre (disponível ou não ligada);
  • Água adsorvida (hidratada);
  • Água ligada.

Água livre – está presente nos espaços intergranulares e entre os poros do material. É eliminada com facilidade. Atua como meio de dispersão e nutriente para o crescimento de microrganismos ou reações químico-enzimáticas.

Água adsorvida – uma parte da água que está adsorvida como uma camada muito fina nas superfícies internas e externas dos coloides macromoleculares (amidos, pectinas, celuloses e proteínas) por meio de Força de Van der Waals e formação de ligação hidrogênio.

Água ligada – está combinada quimicamente com outras substâncias. Este tipo de água não é utilizada como solvente, não permite o desenvolvimento de microrganismos e é difícil de ser eliminada.

Figura: Desenho esquemático dos tipos de água nos alimentos

hc2

Fonte: Google imagens

Para melhorar a estabilidade dos alimentos, a água livre pode ser reduzida através do congelamento, concentração, desidratação parcial ou adição de açúcar ou sal.

O crescimento e a atividade metabólica dos microrganismos precisam de água em forma disponível. A medida mais comumente empregada para expressar a estabilidade de um produto é a determinação do nível de água em sua forma livre, que em alimentos, denomina-se Índice de Atividade de Água, Aw, que é determinada pela fórmula: Aw = P/P0. Define-se a Aw, portanto, como a relação existente entre a pressão de vapor de água de uma solução (ou de um alimento) (P) e a pressão de vapor da água pura (P0) à mesma temperatura.

Nossa mente está condicionada a achar que um produto com elevada atividade de água terá elevado teor de umidade ou o contrário (baixo/baixo). Isto muitas vezes ocorre, todavia é possível, por exemplo, um produto apresentar baixo teor de umidade e alto ou médio valor de atividade de água, como é o caso do pão.

Observe a tabela abaixo:

hc3

Observação: Aw varia numericamente de 0 a 1

O teor de umidade (água total) do pão é baixo (40%), enquanto sua Aw (água livre) é alta (0,96). Quando comparamos as atividades de água do pão com a da geleia, 0,96 e 0,86, respectivamente, nota-se que a disponibilidade de água para crescimento microbiano no pão é maior.

Outra comparação interessante é entre a carne fresca e o pão. Embora o teor de umidade da carne fresca (70) seja maior do que o teor no pão (40), ambas possuem um valor de Aw muito próximo (carne fresca = 0,985 vs pão = 0,96).

Valores de atividade de água entre 0 e 0,20 indicam que a água está fortemente ligada, enquanto valores de atividade de água na faixa de 0,70 a 1,00 indicam que a maioria da água encontra-se livre, sendo esta passível de ser utilizada em reações químicas, enzimáticas e para o desenvolvimento de microrganismos.

Medir a atividade de água nos alimentos é importante para:

  1. Prever o desenvolvimento microbiano;
  2. Avaliar as reações químicas e vida de prateleira;
  3. Avaliar a estabilidade física;
  4. Projetar a embalagem – proteção contra umidade ambiente;
  5. Analisar a transferência de umidade entre ingredientes;
  6. Considerar o intercâmbio de umidade com o meio ambiente;
  7. Predizer a curva de isoterma – Umidade vs Aw.

Tratando-se de Segurança de Alimentos, é pertinente apresentar os valores mínimos de Aw para o crescimento e produção de toxina de patógenos de importância alimentar, conforme tabela abaixo:

hc4

O comportamento microbiano frente à Aw quanto à disponibilidade de água livre é extremamente variável, sendo as bactérias mais exigentes, em relação aos fungos e as leveduras. Os alimentos de baixa atividade de água (< 0,60) são microbiologicamente estáveis.

Conclusão

A atividade de água pode ser utilizada como parâmetro de controle de qualidade, mostrando valores efetivos da disponibilidade da água no alimento para participar de reações de deterioração,  enzimáticas e microbiológicas, sendo que estes fatores podem afetar diretamente a qualidade sensorial ou sanitária do alimento. Já o teor de umidade está mais associado ao rendimento e qualidade sensorial (ex: crocância de um alimento).

Referências Bibliográficas:

CECCHI, H. M. Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos. 2. ed. Campinas: editora da Unicamp, p. 2003. 207.

DAMODARAN, S.; PARKIN, K.L.; FENNEMA, O.R. Química de Alimentos de Fennema. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do instituto Adolfo Lutz. v. 1: Métodos químicos e físicos para análise de alimentos, IV. ed. São Paulo: IMESP, p.98-99, 2005.

LABUZA, T. P.; TANNEMBAUM, S. R.; KAREL, M. Water content and stability of lowmoisture and intermediate-moisture foods. Food Technology. p .543-550, 1970.

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Sou Biomédico, posso atuar com alimentos?

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Entrevista com a Professora Dra. Nathália Cirone

Recentemente fui questionado: “Humberto, sempre vejo você falando da importância de diversas profissões na área de segurança dos alimentos, mas e quanto ao BIOMÉDICO?! Concordo, tenho falhado com vocês. Todavia, após meu ingresso no mestrado, a pluralidade acadêmica de alunos e professores do programa permitiram que eu aprendesse com agrônomos, zootecnistas, nutricionistas, químicos, farmacêuticos, biólogos, engenheiros, tecnólogos e (…) biomédicos (O blog já lembrou das categorias nesse post). Essa intensa interação permitiu compreender como diferentes cursos contribuem para o campo da ciência, tecnologia e segurança de alimentos.

Lancei o convite para a Professora Dra Nathalia Cirone, que prontamente aceitou nossa entrevista. Cirone é formada em Ciências Biológicas – Modalidade Médica pela UNESP – Instituto de Biociências (IBB), com Mestrado e Doutorado em Biologia Geral e Aplicada pela UNESP e pós-doutorado pela USP, desde 2015 é Docente na FEA, Faculdade de Engenharia de alimentos da UNICAMP (Currículo Lattes). Sua linha de pesquisa é com:

  • Análise da Qualidade e Segurança Microbiológica dos Alimentos;
  • Análise Genotípica de Patógenos em Alimentos.

1. Alguns leitores desconhecem o conteúdo programático do curso de Biomedicina ou Ciências Biológicas – Modalidade Médica, então nos diga quais disciplinas da graduação dão subsídios ao aluno atuar com segurança de alimentos?

A grade de disciplinas pode variar de uma faculdade para outra. Mas encontramos cursos que possuem bromatologia, análises de alimentos, toxicologia de alimentos, microbiologia de alimentos, entre outras. No meu caso, as disciplinas voltadas para a área de alimentos eram oferecidas como optativas.

2. Em qual momento da sua vida acadêmica você decidiu trabalhar com isso? E quando foi que partiu para a microbiologia e segurança de alimentos?

Desde que eu tive a disciplina de Microbiologia básica já tinha me interessado muito pelo mundo microbiano, e acabei realizando a disciplina optativa de microbiologia de alimentos. Pronto, estava apaixonada, pesquisei sobre a área, realizei visitas em laboratórios que realizam análises microbiológicas de alimentos, compreendi a importância da microbiologia para a área de alimentos e decidi realizar minha iniciação científica e trabalho de conclusão de curso nessa área, assim consegui a habilitação em Microbiologia de alimentos assim que me formei.

3. Conseguiria descrever o papel do biomédico no passado, presente e futuro sob a ótica da segurança dos alimentos?

O curso de biomedicina foi criado com o nome de Ciências biológicas modalidade médica, conhecido também como Ciências Biomédicas e o objetivo era, principalmente, para a formação de docentes e pesquisadores na área de biologia e medicina. O profissional biomédico formado passou a atuar em laboratórios, hospitais e também em indústrias. Pela proposta inicial do curso, a maioria possuía e ainda possui uma grade voltada principalmente para a área médica. Como comentei anteriormente, o curso que realizei não possuía disciplinas na área de alimentos e mesmo após passar por reformulação não incluiu as disciplinas da área de alimentos como obrigatórias. É possível observar que de alguns anos para cá os cursos têm liberado disciplinas optativas na área de segurança de alimentos, bem como cursos mais recentes já possuem essas disciplinas como obrigatórias. Confirmando a tendência de um aumento de profissionais biomédicos atuando na área, acredito que em um futuro os cursos de graduação valorizarão ainda mais essa área reformulando as grades curriculares, logo teremos mais biomédicos nesse mercado de trabalho.

4. Sendo você uma professora e pesquisadora, quais as tendências nacionais e internacionais para a Food Safety?

A microbiologia preditiva tem se apresentado como uma das principais tendências tanto para estudos envolvendo patógenos como para o shelf life de produtos. É uma ferramenta importante uma vez que descreve de forma quantitativa os efeitos de fatores intrínsecos e extrínsecos nos micro-organismos em determinado alimento. Os modelos matemáticos, resultantes de estudos experimentais, permitem prever a influência que os fatores intrínsecos ou extrínsecos provocam no crescimento microbiano.

No Brasil, nós temos, atualmente, as alterações de legislação que vem sendo realizada pela ANVISA. No último workshop sobre Food Safety, realizado na UNICAMP, uma das responsáveis pelas discussões, Lígia Schreiner, comentou que o plano de amostragem possivelmente altere. Então acredito que a quantidade de amostras microbiológicas que as indústrias deverão realizar aumente, bem como a lista de micro-organismos que deverão ser pesquisados.

Mundialmente, o que vem sendo bastante discutido é a resistência de bactérias patogênicas a antibióticos. É cada vez maior os relatos de isolamento dos mesmos em alimentos, principalmente de origem animal. Outro ponto é a sobrevivência de micro-organismos em alimentos com baixa atividade de água por longos períodos de tempo.

5. Sei que seu doutorado sandwich foi realizado na Espanha (Universidad de La Rioja). Quais os principais pontos positivos deste país comparados ao Brasil em termos de pesquisa?

Trabalhar na Universidad de La Rioja foi uma grande experiência profissional. Os principais pontos positivos em relação ao Brasil são:

  • Tempo maior para realização de doutorado, por exemplo. Os alunos possuem tempo para realizar experimentos, escrever artigos e estudar;
  • Lá a burocracia é menor. É mais fácil comprar um reagente, os produtos chegam rapidamente, mesmo os importados. Não temos o problema que acontece aqui no Brasil de esperarmos meses por um reagente que está na alfândega;
  • O custo de reagentes e serviços terceirizados é bem menor que aqui, o que acaba reduzindo os custos das pesquisas;
  • Há maior colaboração internacional nos laboratórios de lá que aqui. Tanto para receber alunos (por exemplo, enquanto estive lá trabalhei no laboratório com uma mexicana, portuguesa, tunisianos e, claro, espanhóis) quanto para enviar alunos (as pessoas que estavam lá fazendo doutorado tinham realizado parte na Dinamarca, Inglaterra, Alemanha). A ideia de colaboração internacional está mais disseminada aqui no Brasil, porém não vejo da mesma forma que ocorria por lá.

6. Quais dicas você daria aos biomédicos que desejam atuar na indústria de alimentos?

Hoje, há cursos de biomedicina com diferentes grades curriculares quando falamos da área de alimentos. Acredito que seja importante ao biomédico a realização de estágios na área bem como cursos de especialização, mestrado e doutorado para melhor capacitação do profissional e consequentemente maior sucesso.

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Informações sobre a carreira do Fiscal Federal Agropecuário (FFA)

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Embora essa função exista no serviço público federal há mais de 140 anos, a carreira só foi oficializada em 2000. A MEDIDA PROVISÓRIA (MP) nº 2.048-31, de 23 de Novembro de 2000, criou a carreira do Fiscal Federal Agropecuário (FFA), reeditada como 2.136-38/01, 2.150-42/01 e atualmente como 2.229-43/01.

Antes da criação da carreira de Fiscal Federal Agropecuário, as atividades de inspeção, fiscalização e o controle da defesa agropecuária eram exercidos pelos engenheiros agrônomos, e pelos médicos veterinários. Para tanto, as atribuições e as habilitações profissionais eram respaldadas em diplomas legais disciplinares. Isso permitiu o surgimento da construção da carreira no Ministério da Agricultura, que mobilizou os profissionais envolvidos com inspeção, fiscalização, certificação, controle de produtos, insumos, materiais de multiplicação, análises laboratoriais, meios tecnológicos e processos produtivos na agricultura e na pecuária.

Com a Lei nº 10.883, de Junho de 2004, novas diretrizes foram dadas para as atribuições dos titulares do cargo de FFA (ler por completa aqui), tais como:

  • A defesa sanitária animal e vegetal;
  • A inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal e a fiscalização dos produtos destinados à alimentação animal;
  • A fiscalização de produtos de uso veterinário, dos estabelecimentos que os fabricam, de agrotóxicos, seus componentes e afins;
  • A fiscalização do registro genealógico dos animais domésticos, da realização de provas zootécnicas, das atividades hípicas e turfísticas, do sêmen destinado à inseminação artificial em animais domésticos e dos prestadores de serviços de reprodução animal;
  • A fiscalização e inspeção da produção e comércio de sementes e mudas, e da produção e comércio de fertilizantes, corretivos, inoculantes, estimulantes ou biofertilizantes destinados à agricultura;
  • A fiscalização da produção, circulação e comercialização do vinho e derivados do vinho, da uva e de bebidas em geral;
  • A fiscalização e o controle da classificação de produtos vegetais e animais, subprodutos e resíduos de valor econômico e elaboração dos respectivos padrões;
  • A fiscalização das atividades de aviação agrícola, no que couber;
  • A fiscalização do trânsito de animais vivos, seus produtos e subprodutos destinados a quaisquer fins, de vegetais e partes vegetais, seus produtos e subprodutos destinados a quaisquer fins, de insumos destinados ao uso na agropecuária e de materiais biológicos de interesse agrícola ou veterinário, nos portos e aeroportos internacionais, nos postos de fronteira e em outros locais alfandegados;
  • Lavrar auto de infração, de apreensão e de interdição de estabelecimentos ou de produtos, quando constatarem o descumprimento de obrigação legal relacionada com as atribuições descritas neste artigo;
  • Assessorar tecnicamente o governo, quando requisitado, na elaboração de acordos, tratados e convenções com governos estrangeiros e organismos internacionais, dos quais o País seja membro, nos assuntos relacionados com as atribuições fixadas neste artigo;
  • Fiscalizar o cumprimento de atos administrativos destinados à proteção e certificação de cultivares;
  • As demais atividades inerentes à competência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que lhes forem atribuídas em regulamento.

O que é necessário para ser um FFA?

  • A função pode ser exercida por: Médicos Veterinários, Engenheiros Agrônomos, Zootecnistas, Químicos ou Farmacêuticos.
    * Atualmente existe uma petição pública para incluir o profissional Engenheiro de Alimentos na carreira de FFA (entenda melhor aqui);
  • Ser aprovado em concurso público para o cargo de FFA.

Qual o salário do servidor?

De acordo com o edital do último concurso público aberto pelo MAPA em 2014, o salário inicial do FFA é R$ 12.539,381.

Após assumir o cargo de FFA, quais treinamentos o FFA recebe?

Uma vez aprovado, o novo FFA é conduzido ao posto de trabalho localizado na cidade que ele escolheu no momento da inscrição da prova (prática usada nos últimos concursos do MAPA). Seu treinamento será conduzido pelo FFA responsável do local, ou o MAPA pode optar em destinar outro estabelecimento, ou seja, ele não precisa ser treinado necessariamente no local em que ele vai assumir.

Seus conhecimentos adquiridos na Universidade serão aperfeiçoados através da colaboração de um servidor FFA mais experiente, que passará grande parte dos seus conhecimentos técnicos e de suas experiências com gestão da qualidade e de pessoas, em outras palavras, o intuito é aproveitar o know how de quem está há bastante tempo na função. Além disso, legislações inerentes à sua área de atuação (Inspeção Sanitária de Suínos, por exemplo) serão apresentadas, pois estas serão suas diretrizes legais para tomada de decisões fiscais.

Nesse ano, a ex Ministra da Agricultura, Kátia Abreu, aprovou o Decreto nº 8.701, de 31 de março de 2016 que institucionalizou a Escola Nacional de Gestão Agropecuária (ENAGRO), com objetivo de capacitar os novos servidores FFA do MAPA e reciclando os que estão em atividade.

Onde podemos notar a presença do FFA?

1. Nos portos, nos aeroportos e nos postos de fronteira

Para garantir a segurança dos rebanhos e das lavouras brasileiras contra possíveis doenças de animais, plantas vindos de outros países, os Fiscais Federais Agropecuários realizam um rigoroso controle em portos, aeroportos e postos de fronteira. Desse modo, passa pela avaliação dos Fiscais Federais Agropecuários todo e qualquer pedido de importação de sementes e mudas destinadas ao plantio, animais para criação, assim como os produtos e os subprodutos manufaturados de origem vegetal ou animal para o consumo. Também passam pela inspeção e pela certificação dos fiscais todos os produtos de origem vegetal e animal exportados de nosso país, além de todos os insumos para a agropecuária.

Figura: Língua de pato de origem chinesa – VIGIAGRO
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Fonte: ANFFA Sindical.

2. Nos campos brasileiros

O trabalho dos fiscais inclui, entre outras atividades, a prevenção, o controle e a erradicação de pragas e doenças; a inspeção de campos de produção de sementes; a fiscalização de organismos transgênicos, de produtos orgânicos, indicação geográfica, associativismo ou cooperativismo, e a garantia à proteção de cultivares. O trabalho preventivo leva os FFAs a monitorar safras e rebanhos; fazer o registro de raças animais, bem como o registro genealógico de animais; inspecionar mudas e plantas matrizes; inspecionar a produção de sementes, de acordo com padrões internacionais. Os Ficais Federais Agropecuários também fazem o trabalho de inspeção do material de multiplicação animal, como sêmen, embriões e ovos férteis.

Figura: Fiscalização de biossegurança de lavoura de algodão OGM (transgênico)
2Fonte: ANFFA Sindical.

3. Nas empresas agropecuárias e agroindustriais

Passam pelos FFAs os registros e os credenciamentos de todas as agroindústrias, entre as quais as empresas de bebidas; de produtos de uso veterinário; de natureza farmacêutica, biológica e de embelezamento; de alimentação animal; de aviação agrícola; produtoras de agrotóxicos e afins; assim como as que produzem fertilizantes e corretivos agrícolas. Estão sob o crivo dos fiscais todos os abatedouros, frigoríficos indústrias de pescado, laticínios e entrepostos de ovos e mel, e também as empresas de classificação e padronização animal e vegetal; igualmente os entrepostos de processamento de frutas; as empresas produtoras de semente e mudas; as produtoras de embriões e sêmen; os laboratórios de diagnóstico sanitário e fitossanitário; as distribuidoras de insumos agropecuários; de sementes e mudas e o credenciamento de campos de produção.

Figura: Filé de peixe – excesso de água.
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Fonte: ANFFA Sindical.

4. Nos laboratórios

A atividade de fiscalização é coberta pelas análises laboratoriais que garantem a classificação, a qualidade dos produtos e a segurança dos alimentos, a saúde animal e vegetal e a qualidade dos insumos agrícolas, como agrotóxicos, fertilizantes e sementes. Entre estas está o controle dos medicamentos veterinários; as vacinas e os antígenos; os diagnósticos de doenças vegetais e dos animais, como a febre aftosa, a gripe aviária e a ferrugem asiática da soja; os produtos de origem animal e vegetal, como carne, leite e café. Nos laboratórios busca-se também a detecção de resíduos biológicos, tais como hormônios e resíduos químicos, agrotóxicos, antibióticos e metais pesados. Avalia-se também a eventual presença de toxinas em alimentos, como as micotoxinas, e a qualidade das bebidas destinadas ao consumo. Preventivamente, analisam-se os alimentos para uso animal, como as rações. Esta última providência, por exemplo, é a principal barreira contra males como a encefalopatia espongiforme bovina (doença da vaca louca) e outros. Os fiscais também fazem o credenciamento e as auditorias de laboratórios públicos e privados.

Figura: LANAGRO (LABORATÓRIO NACIONAL AGROPECUÁRIO) – Goiânia/GO
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Fonte: ULBRA.

5. Nos programas agropecuários

Um dos trabalhos mais importantes dos Fiscais Federais Agropecuários está no planejamento, no acompanhamento e na gestão das ações produtivas nacionais. Eles estão envolvidos nas atividades vinculadas aos estoques reguladores e nas operações de compra e venda de alimentação do governo federal; na orientação e na aprovação de estabelecimentos, projetos e produtos; nos estudos, nas análises, nas avaliações e nas vistorias; na aplicação do processo universal de controle de qualidade; na emissão de pareceres; na elaboração e no monitoramento de tratados e acordos internacionais.

6. Nas cidades

É trabalho dos Fiscais Federais Agropecuários o registro de distribuidoras de produtos pecuários, o comércio de produtos vegetais (embaladores, fracionadores e atacadistas), o comércio de fertilizantes, corretivos, sementes e mudas.

7. Nas relações internacionais

Além dos trabalhos realizados aqui no Brasil, existe a representação em oito postos no exterior, onde os Fiscais Federais Agropecuários ocupam as funções de Adidos Agrícolas. Os Adidos Agrícolas atuam como representantes do agronegócio brasileiro, identificando mercados, divulgando os produtos nacionais e intermediando políticas agrícolas com os países onde estão instalados. Hoje, existem sedes em Bruxelas, Buenos Aires, Genebra, Moscou, Pequim, Pretória, Tóquio e Washington.

Figura: Delegação do Ministério da Agricultura nos Estados Unidos.

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Fonte: MAPA.

Atuais desafios dos FFAs

Segundo Maurício Porto, presidente da ANFFA SINDICAL, numa entrevista dada a Rádios EBC, um dos grandes “gargalos” da categoria ainda é a falta de profissionais suficientes para atender aos respectivos postos de trabalho, ou seja, é necessária a reposição de pessoal. Outro ponto preocupante é que aproximadamente 54% dos FFA já poderiam estar aposentados, o que se ocorrer, agravaria ainda mais o quadro de defasagem. Ainda segundo Porto, de imediato, o MAPA precisaria da contratação imediata de mais de 1.000 servidores para o cargo.

Para tentar amenizar o problema da defasagem profissional, o MAPA tem discutido sobre a terceirização da função para iniciativa privada. O blog já levantou a discussão desse tema nos links abaixo:

Atuais mudanças na carreira do FFA

Foi publicado no Diário Oficial da União no dia 29/07/2016 a alteração do nome de carreira dos Fiscais Federais Agropecuários. Agora o nome passa a ser “Auditor Fiscal Federal Agropecuário”. Segundo o Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários a realização de auditorias sempre foi uma atribuição do servidor e a mudança do nome serve para adequar a função executada. A sigla de FFA passará a ser AFFA.

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Fonte: Thaís d’Avila.

Legislações da carreira do FFA:

8 min leituraEmbora essa função exista no serviço público federal há mais de 140 anos, a carreira só foi oficializada em 2000. A MEDIDA PROVISÓRIA (MP) nº 2.048-31, de 23 de Novembro […]

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Probióticos: o futuro da nutrição e saúde humana (e animal)

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Introdução

Certa vez participei de uma palestra da pesquisadora finlandesa Maria Saarela, autoridade em microbiota intestinal humana, e sua mensagem final foi: “O que os antibióticos foram para o século XX, os probióticos serão para o século XXI”. Desde então tenho refletido nisso …

De fato, em 1928 a descoberta da Penicilina por Alexander Fleming mudou o mundo. Agora, feridos em guerra recebiam tratamento mais adequado e certas doenças passavam a ser combatidas.

Numa sociedade globalizada em que se preconiza o uso de tecnologias modernas para atingir recordes de produtividade na agricultura e pecuária, o uso de substâncias químicas para manter a sanidade dos rebanhos e melhorar o desempenho animal é uma realidade. Na ausência de agentes antimicrobianos, seríamos forçados a conviver com elevados níveis de mortalidade de animais, ampla disseminação de doenças infecciosas agudas e crônicas e, consequentemente, quedas drásticas de produtividade e lucratividade da atividade pecuária. De modo geral, os antibióticos são utilizados na produção animal com três finalidades básicas:

  • Tratar doenças e infecções (uso terapêutico);
  • Prevenir doenças em animais sadios (uso profilático);
  • Aumentar a taxa de crescimento ou eficiência alimentar de animais destinados à produção de alimentos (uso como promotor de crescimento).

Agora chegamos ao ponto onde um dos temas mais debatidos no meio científico é a resistência bacteriana a antimicrobianos. A preocupação gira em torno de moléculas que perderam sua eficácia, em detrimento a novas fórmulas que não estão sendo desenvolvidas com tanto êxito. Trata-se de um problema tanto da saúde humana, como veterinária.

Uma das alternativas que o setor agropecuário tem buscado está no uso de probióticos, prebióticos ou simbióticos na nutrição animal. Essa corrente tem crescido muito ao longo dos anos, fortalecendo a frase da Dra Saarela. No post de hoje quero falar um pouco sobre “probióticos, o futuro da nutrição e saúde humana (e animal)” e o porquê dessa vertente estar ganhando prestígio, principalmente no mercado Europeu, frente à Segurança dos Alimentos.

O que são probióticos?

Probióticos são microrganismos vivos que se consumidos em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro (FAO/OMS, 2001). Os microrganismos utilizados como probióticos são classificados em quatro grupos: aeróbios (Bacillus sp.); anaeróbios (Clostridia sp. ); bactérias produtoras de ácido lático (Bifidobacterium sp., Lactobacillus sp. , Enterococci sp .) e leveduras (Saccharomyces cerevisae, Aspergillus oryzae e A. nigery). Uma importante condição para que haja o efeito benéfico destes microrganismos é que estes devem proceder do trato gastrointestinal (TGI) da própria espécie.

Mecanismos de ação dos probióticos

Os mecanismos de ação dos probióticos no organismo animal ainda não estão bem definidos, porém acredita-se que os mesmos apresentem pelo menos cinco tipos de mecanismos de ação que ocasionam benefícios ao hospedeiro (GARCIA , 2008). São eles:

  • Melhoria da barreira epitelial (mucinas defensivas);
  • Adesão aumentada à mucosa intestinal;
  • Inibição da adesão de patógenos;
  • Exclusão de microrganismos patogênicos por competição; e
  • Produção de substâncias antimicrobianas.

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Fonte: Estítica no Mundo.

Uso de probióticos em animais

Uma das principais razões pelo interesse dos probióticos na saúde animal é que tais microrganismos podem modular a microbiota intestinal de modo a reduzir a incidência de bactérias patogênicas no TGI, garantindo a manutenção da saúde do animal, sem necessariamente precisar recorrer ao uso de antibióticos.

O Regulamento técnico sobre aditivos para produtos destinados à alimentação animal (IN 13/2004) (MAPA, 2016) classifica os aditivos de acordo com suas funções e propriedades nas seguintes categorias: aditivos tecnológicos compreendem qualquer substância adicionada ao produto destinado à alimentação animal com fins tecnológicos; aditivos sensoriais melhoram ou modificam as propriedades organolépticas ou as características visuais dos produtos; aditivos nutricionais correspondem a toda substância utilizada para manter ou melhorar as propriedades nutricionais do produto; aditivos zootécnicos influem positivamente na melhoria do desempenho dos animais; aditivos anticoccidianos eliminam ou inibem protozoários.

Os probióticos enquadram-se como aditivos zootécnicos equilibradores da microbiota do trato digestório e são definidos como cepas de microrganismos vivos (viáveis), que agem como auxiliares na recomposição da microbiota do trato digestivo dos animais, diminuindo o número dos microrganismos patogênicos ou indesejáveis (MAPA, 2016).

Timmerman et al. (2005) utilizando um composto com cepas de Lactobacillus, Lactococcus e Enterococcus na alimentação de bezerros recém nascidos verificaram redução nos casos de diarréia, e também no número de dias que os animais permaneciam com diarréia no lote de animais que consumiam o probiótico. De acordo com Batista et al. (2008) a adição de probiótico (Lactobacillus acidophillus, Bifidobacterium bifidum e Enterococus faecium) ao leite sem resíduo de antimicrobiano reduziu o número de dias com diarréia de bezerras holandesas, de um a 60 dias de idade.

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Fonte: rblvet.

No passado da suinocultura, a gestão de desmame dos leitões envolvia o uso preventivo de antibióticos e metais (cobre e zinco) na dieta. No entanto, após a proibição total de antibióticos na alimentação e a drástica redução nos níveis de incorporação de cobre e zinco pela União Europeia, soluções alternativas, como uso de probióticos, têm sido continuamente exploradas.

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Fonte: agroceres.

Campylobacter é um gênero microbiano de preocupação na avicultura, exemplo de sua ocorrência foi sua detecção na Itália em 82,9% das amostras de frangos (também em suínos e bovinos), com vários isolados apresentando resistência múltipla a antibacterianos (PEZZOTTI, et al., 2003). Na Irlanda, do isolamento de C. jejuni spp de aves, 35,9% eram resistentes a ampicilina, 20,5% a tetraciclina, 17,9% a ciprofloxacina, 10,2% a eritromicina e 2,5% a estreptomicina, sendo 30,7% resistentes a mais de um antibiótico. Na França, detectou-se este patógeno em 71,2% das amostras de excreta coletadas em dois aviários, e em 75% das amostras de comidas presentes em supermercados (DENIS et al., 2001).

Leandro (2010) demostrou que em pintos desafiados com Salmonella enteritidis, o probiótico adicionado na ração proporcionou redução cecal da salmonela. Além disso, a inoculação de probiótico no ovo evitou a colonização do papo e do ceco de pintos desafiados após a eclosão com Salmonella enteritidis, melhorando o peso vivo aos 21 dias de idade.

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Fonte: NFT Alliance.

Pesquisas realizadas em Salmão do Atlântico (Salmo salar) comprovaram que cepas de Vibrio alginolyticus são efetivas, como probióticos, na redução de doenças causadas por Aeromonas salmonicida (Nikoskelainen et al., 2001).

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Fonte: Seafood Brasil.

A crescente preocupação com a seleção de microrganismos resistentes deve-se ao fato dos animais de produção serem considerados reservatórios de várias bactérias potencialmente patogênicas, incluindo Escherichia coli, Salmonella spp., Listeria monocytogenes, Campylobacter spp. e Mycobacterium paratuberculosis. Vários surtos causados pela ingestão de alimentos contaminados com bactérias têm sido associados com produtos de origem animal, especialmente carne e leite. Além disso, a disseminação de patógenos e de genes de resistência pode ocorrer pelas fezes do animal, contaminando o solo e aquíferos.

Conclusão

Existem duas verdades universais: a população do globo terrestre está aumentando e precisaremos abastecê-la com alimentos (Food Security); e os consumidores cada vez mais estão buscando alimentos nutritivos e seguros (Food Safety), livres de resíduos químicos.

No atual cenário produtivo, o setor agropecuário tem utilizado antibióticos como último recurso, isto é, mais para fins terapêuticos e do que profiláticos e as indústrias têm implementado fortes esquemas de análises de risco e gestão da qualidade (APPCC, ISOs, FSSC, etc). Todavia, existe uma tendência universal (com forte influência europeia) em se reduzir (quiçá abolir) o uso de antibióticos e permanecer somente o uso profilático dos probióticos. Será possível? Estudos devem ser cada vez mais conduzidos nessa área.

Qual seria a melhor opção em sua opinião:

  1. Aumentar o rigor da fiscalização do uso de antimicrobianos (humanos e veterinários) e concomitantemente implementar (e melhorar) programas de análises de riscos?
  2. Buscar práticas alternativas, como o uso de probióticos ao invés de antimicrobianos?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATISTA, C. G.; COELHO, S. G.; RABELO, E.; LANA, A. M. Q.; CARVALHO, A. U.; REIS, R. B.; SATURNINO, H. M. Desempenho e saúde de bezerras alimentadas com leite sem resíduo de drogas antimicrobianas ou leite de vacas tratadas contra mastite adicionado ou não de probiótico. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 60, n. 1, p. 185 – 191, 2008.

DENIS, M. et al. Campylobacter contamination in french chicken production from farm to consumers. Use of a PCR assay for detection and identification of Campylobacter jejuni and E. coli. Journal of Applied Microbiology, v.91, n.2, p.255-267, 2001.

FAO/WHO. Health and nutritional properties of probiotics in food including powder milk with live lactic acid bacteria. Córdoba FAO/WHO; 2001.

GARCIA, G. R. Caracterização microbiológica e avaliação de uma cepa de Bacillus subtilis no desempenho de bezerros da raça holandesa. 2008. 68f. Tese (Doutorado em Microbiologia Agropecuária) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária – Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita, Jaboticabal.

LEANDRO N. S. M. et al. Probiótico na ração ou inoculado em ovos embrionados. Desempenho de pintos de corte desafiados com Salmonella Enteritidis. R. Bras. Zootec. v.39, n.7, p.1509-1516, 2010.

MAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Nº 13, de 30 de novembro de 2004. Disponível em: MAPA. Acesso em 27 de julho de 2016.

NIKOSKELANEN, S.; SALMINEN, S.; BYLUND, G. et al. Characterization of the properties of human and dairyderived probiotics for prevention of infectious diseases in fish. Applied and Environmental Microbiology, v. 67, n. 6, p. 2430-2435, 2001.

TIMMERMAN, H.M.; MULDER, L.; EVERST, H. et al. Health and grow of veal calves fed milk replacers with or without probiotics. Journal of Dairy Science, Champaing, v. 88, n. 6, p. 2154 – 2165, 2005.

PEZZOTTI, G. et al. Occurrence and resistance to antibiotics of Campylobacter jejuni and Campylobacter coli in animals and meat in northeastern Italy. International Journal of Food Microbiology. v.82, n.3, p.281-287, 2003.

Créditos de imagem: Formularium.

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Oxidação proteica em carnes e os efeitos deletérios à saúde humana

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Entrevista com o PhD MARIO ESTÉVEZ GARCÍA (Universidad de Extremadura – Espanha)

O blog Food Safety Brazil decidiu procurar uma autoridade mundial sobre o assunto “oxidação proteica em carnes e os efeitos deletérios à saúde humana”, para responder algumas perguntas. O convite foi lançado ao Professor Dr. Mario Estévez García, da Espanha, que prontamente aceitou meu pedido.

O Professor Mario é formado em Medicina Veterinária na Universidade de Extremadura (Cáceres – Espanha), onde também terminou seus estudos de Doutorado (2005). Depois de um pós-doutorado na Universidade de Helsinki – Department of Food and Environmental Sciences (Finlândia), voltou para sua Universidade na Espanha para trabalhar como pesquisador sênior e supervisor de Mestrado e PhD internacional. Mario também é autor de artigos e livro, e é membro do conselho editorial do: Meat Science, Journal of Food Science, Journal of Food Science and Technology.

1. Professor Mario, você poderia começar explicando (resumidamente) o que é oxidação proteica? Como ela ocorre nos alimentos?

Oxidação proteica é um conjunto complexo de reações químicas que envolvem o ataque, de espécies de radicais livres, às proteínas e leva a modificações na composição química (aminoácidos oxidados), estrutura da proteína e sua funcionalidade. Uma vez que as proteínas são componentes importantes no sistema biológico e desempenham um papel importante na maioria das funções fisiológicas, este dano conduz ao mau funcionamento e a doença. Em animais (inclusive seres humanos vivos), a oxidação de proteínas ocorre como resultado do estresse oxidativo que é, por sua vez, provocada por vários fatores, incluindo doenças, envelhecimento, etc; já nos alimentos, a oxidação de proteínas, bem como a de lipídios, ocorre por todo o caminho, desde a produção do alimento (ou seja, do abate dos animais de açougue) até o momento do consumo. Ao longo da cadeia alimentar, a oxidação proteica é potencializada como resultado de altas temperaturas, exposição à luz, processamento (trituração e corte), e preparação na culinária (Figura 1).

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Fonte: Professor PhD Mario E. Garcia

2. Quais são os alimentos mais susceptíveis de ocorrer essa oxidação de proteínas?

Os mais suscetíveis são proteínas de origem animal e mais em certas proteínas globulares. Assim, alimentos como leite ou produtos lácteos, ovos e produtos cárneos são os mais suscetíveis.

3. Por que temos que nos preocupar com isso? Ingerir alimentos oxidados pode ser perigoso à nossa saúde?

Radicais Livres ocorrem naturalmente em alimentos e também em nossos próprios tecidos, em nosso corpo. Podemos tentar inibir e controlar, mas nunca parar completamente a oxidação lipídica ou proteica. Assim, os produtos da oxidação lipídica e proteica estão naturalmente presentes em certos níveis em todos os tipos de alimentos. É importante tentar manter estes níveis tão baixos quanto possível, uma vez que alguns destes compostos formados a partir da oxidação lípido-proteica podem ser perigosos à saúde humana. Malondialdeído (MDA), um produto bem conhecido da oxidação de lipídios e produtos da oxidação de diversas proteínas (carbonilas, ditirosinas, etc.) tem sido encontrado como promotor de condições patológicas, incluindo danos fisiológicos ao trato gastrointestinal (doença inflamatória do intestino) e órgãos internos (fígado, rim e cérebro, entre outros). Ainda sabemos muito pouco sobre a patogenia e impacto real dessas espécies químicas, mas é provável que elas ajam ao longo prazo, e possam estar envolvidas em doenças crônicas e relacionadas com a idade. Todavia, é a exposição crônica a níveis elevados que é muito perigoso.

Em alimentos, temos estratégias disponíveis para controlar a oxidação lipídica ou proteica e, consequentemente, manter os níveis de oxidação sob controle. Estas estratégias envolvem o uso de bons materiais de embalagem para manter os alimentos longe do oxigênio e da luz (ambos os pró-oxidantes), otimizando o processamento de alimentos (limitar a exposição ao calor, ar, luz etc.) e utilização de aditivos ou ingredientes com atividade antioxidante. Muitos destes antioxidantes são componentes naturais de frutas e plantas que, usados razoavelmente, eles fornecem bons benefícios para a comida e para nós mesmos como consumidores finais. Podemos também tentar evitar (ou comer em quantidades controladas) alimentos altamente processados e alimentos submetidos a vários ciclos de reaquecimento após armazenamento, afinal as reações oxidativas são altamente promovidas nestas circunstâncias. Sabe-se também que a combinação de alimentos mais sensíveis, tais como os acima mencionados, com frutas e legumes é uma boa opção para evitar a produção de estresse oxidativo no nosso intestino e, por conseguinte, limitando a exposição a produtos da oxidação potencialmente perigoso. O exercício físico regular também contribui para manter em bom estado de saúde e também pode ajudar no controle do estresse oxidativo.

4. Como é a patogênese da oxidação proteica na dieta?

Os produtos da oxidação proteica são acumulados nos alimentos durante o processamento e também formados durante a digestão deles, nos intestinos durante as fases gástricas, intestinais e do cólon. Assim, uma concentração indeterminada de variados produtos da oxidação é exposta à mucosa intestinal (primeira camada de tecido dos nossos intestinos) e em que nessa localização, eles têm sido encontrados alterando a microbiota e facilitando o aparecimento de várias doenças inflamatórias do intestino. Do mesmo modo, estes compostos de baixo peso molecular são capazes de serem absorvidos e transferidos para órgãos internos. Alguns compostos, como o ácido alfa-aminoadípico (produto da oxidação da lisina), afeta o funcionamento correto do pâncreas, a ditirosina (forma de ligação cruzada oxidativa da tirosina) afeta o fígado e os rins, enquanto quinureninas (produtos da oxidação do triptofano) têm algum impacto sobre as células cerebrais (Figura 2).

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Fonte: Professor PhD Mario E. Garcia

5. Conte-nos sobre as perspectivas futuras (dentro do cenário científico).

A verdade é que temos informações suficientes para sustentar que a oxidação proteica na dieta é uma ameaça para a nossa saúde, mas a extensão dessa ameaça e os meios para aliviar esses problemas exigem mais investigação. Deve haver outros compostos desconhecidos que podem ter potencial tóxico e para aqueles já identificados, nós ignoramos em grande parte a base molecular da sua patogênese: isto significa que nós não sabemos exatamente quais são as vias bioquímicas específicas, reações ou mecanismos de controle alterados por estas espécies. Futuros estudos exigem a aplicação de metodologias avançadas baseadas em técnicas chamadas “genômica” para descobrir os mecanismos moleculares destes produtos da oxidação que podem envolver a modificação da expressão do DNA em células-alvo e tecidos, e comprometimento epigenético de proteínas de alta importância biológica. Tanto uma, como a outra forma, podem explicar a patogênese de compostos particulares que podem facilitar (Figura 3):

  1. O desenvolvimento de técnicas de processamento de alimentos otimizados para inibir ou minimizar a formação de tais compostos tóxicos;
  2. Estabelecer recomendações dietéticas fundamentadas para evitar a formação destes compostos nos alimentos ou durante a digestão;
  3. Estabelecer estratégias eficientes para a detecção precoce de doenças específicas, utilizando marcadores de oxidação de proteínas específicas envolvidas na patogênese;
  4. Desenvolver um alvo e, consequentemente, tratamentos eficientes para evitar os mecanismos patogênicos específicos ativados pelo produto de oxidação.

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Fonte: Professor PhD Mario E. Garcia

Clique aqui para acessar a entrevista original em inglês.

Referências Bibliográficas:

Berlett, Barbara S., and Earl R. Stadtman. “Protein oxidation in aging, disease, and oxidative stress.” Journal of Biological Chemistry 272.33 (1997): 20313-20316.

Estévez, M. “Oxidative damage to poultry: from farm to fork.” Poultry science 94.6 (2015): 1368-1378.

Estévez, M., and C. Luna. “Dietary Protein Oxidation: A Silent Threat to Human Health?.” Critical Reviews in Food Science and Nutrition just-accepted (2016): 00-00.

Esterbauer, Hermann. “Cytotoxicity and genotoxicity of lipid-oxidation products.” The American journal of clinical nutrition 57.5 (1993): 779S-785S.

Li, Zhuqing Leslie, et al. “Effect of oxidized casein on the oxidative damage of blood and digestive organs in mice.” Acta Nutrimenta Sinica 35.1 (2013): 39-43.

Créditos de imagem: Belta.

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