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O futuro inteligente da indústria de alimentos: a Inteligência Artificial está transformando tudo

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O blog Food Safety Brazil já escreveu excelentes textos sobre o impacto revolucionário das IAs na produção de alimentos, como “A inteligência artificial revolucionará a segurança de alimentos” e “Integrando inteligência artificial aos processos de controle de qualidade: oportunidades e desafios”. Agora, permita-me discorrer ainda mais sobre este assunto, que merece ser cada vez mais informado e debatido pelos profissionais da indústria de alimentos.

Sabemos que a busca por alimentos mais seguros, saudáveis e rastreáveis nunca esteve tão intensa. Cada vez mais exigentes, consumidores querem transparência total sobre o que consomem. E a indústria de alimentos precisa responder rapidamente, inovando em segurança, eficiência e competitividade.

É nesse cenário que a Inteligência Artificial (IA) deixa de ser promessa para se tornar realidade, uma revolução silenciosa, mas que está redefinindo processos, produtos e a maneira como lidamos com a segurança dos alimentos.

"Inteligência Artificial e robôs otimizando a segurança de alimentos em ambiente industrial automatizado"
Foto gerada por I.A. por Humberto Cunha

Como a Inteligência Artificial atua na indústria de alimentos?

Inteligência Artificial é a capacidade de sistemas computacionais aprenderem, analisarem grandes volumes de dados e tomarem decisões de forma autônoma. Na prática, ela já está transformando toda a cadeia alimentícia em diferentes frentes:

  • Treinamento imersivo com realidade virtual (VR) e aumentada (AR)

Funcionários são treinados em ambientes simulados para aprender, de forma prática e segura, boas práticas como higienização de mãos, armazenagem correta de alimentos e ações de resposta a surtos alimentares.

  • Chatbots e assistentes virtuais

Essas ferramentas estão melhorando o atendimento a consumidores e colaboradores, respondendo às dúvidas, alertando sobre produtos contaminados e identificando ingredientes alergênicos rapidamente.

  • Análise preditiva com Big Data

Com o uso de IA e Big Data, é possível prever contaminações, monitorar fornecedores e aumentar a rastreabilidade, prevenindo grandes crises e recalls.

  • Robôs e sensores inteligentes

Em supermercados e indústrias, robôs já monitoram temperatura, detectam prateleiras desorganizadas e até realizam limpezas automatizadas em áreas críticas, reduzindo a transmissão de patógenos.

Casos reais de sucesso

Tractian — A empresa, parceira de gigantes como Coca-Cola, Danone e JBS, desenvolveu sensores inteligentes que monitoram moinhos, misturadores e extrusoras, detectando falhas antes que causem paradas inesperadas.

Detecção precoce de patógenos — Grandes frigoríficos já utilizam IA para identificar bactérias como Listeria monocytogenes em imagens microscópicas, prevenindo surtos.

Previsão de falhas em equipamentos — Fábricas de laticínios usam IA para prever falhas e evitar perdas financeiras e riscos sanitários.

Análise preditiva de recalls — Supermercados cruzam dados de fornecedores e consumidores com IA para antecipar recalls de produtos.

NotCo — A startup chilena criou o Giuseppe, uma IA capaz de desenvolver versões vegetais de alimentos tradicionais, como a NotMayo e o NotCheese. O sucesso foi tanto que Jeff Bezos investiu US$ 30 milhões no projeto.

Gastrograph AI — A startup usa algoritmos genéticos para criar sabores personalizados, considerando fatores como idade, etnia e classe social dos consumidores.

Kellogg’s e Givaudan — Ambas utilizam IA para melhorar marketing e desenvolver produtos que atendem exatamente ao paladar dos consumidores.

Carne sintética: um exemplo revolucionário

Um dos avanços mais emblemáticos é a produção de carne cultivada. O processo começa com a extração indolor de células musculares de bois ou frangos, que são cultivadas em biorreatores com nutrientes. Com o apoio da IA, as condições de crescimento são monitoradas e ajustadas em tempo real, produzindo fibras musculares que resultam em carne com aparência, textura e sabor muito próximos da original — sem abate animal.

O futuro da indústria de alimentos é inteligente e colaborativo

A inteligência artificial não vai substituir os profissionais de qualidade e engenharia de alimentos. Pelo contrário: ela vai potencializar seu trabalho, oferecendo dados mais rápidos, decisões mais assertivas e processos muito mais eficientes.

Para essa transformação acontecer de forma segura e sustentável, será essencial:

  • Investir em capacitação e treinamento contínuo
  • Criar regulamentações inteligentes e atualizadas
  • Formar parcerias estratégicas com empresas de tecnologia

O futuro da indústria alimentícia será mais conectado, mais inteligente e profundamente colaborativo. A IA será a grande aliada — desde que utilizada com ética, responsabilidade e foco em qualidade.

Empresas que investirem agora em tecnologia, cultura de dados e inovação terão vantagem competitiva nos próximos anos.

Prepare seu negócio para um futuro mais seguro, eficiente e sustentável!

Ana Silvia Mattos Gonçalves é engenheira de alimentos, coordenadora de Segurança de Alimentos e Qualidade e especialista em assuntos regulatórios e qualificação de fornecedores

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Trend do Macarrão: quando a brincadeira pode virar risco (e como evitar)

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Tendências de consumo e comportamento social têm ganhado cada vez mais atenção na área de Segurança de Alimentos, especialmente quando se manifestam em práticas coletivas, informais e altamente compartilhadas nas redes sociais. Essas tendências, como a “trend do macarrão”, revelam hábitos emergentes, novas formas de interação com o alimento e, por vezes, riscos à segurança de alimentos que escapam do olhar comum.

A chamada “Trend do Macarrão” — onde colegas de trabalho, amigos ou familiares se reúnem para montar e compartilhar uma única receita, cada um levando um ingrediente — oferece um exemplo oportuno e atual para refletirmos sobre como a cultura alimentar contemporânea pode impactar diretamente a segurança dos alimentos, especialmente quando a informalidade e a descontração se sobrepõem a cuidados básicos de higiene e manipulação.

Sabe aquela ideia de juntar os amigos, cada um levando um ingrediente, e preparar na hora do encontro um super macarrão coletivo? É cena de pura alegria: descontração, risadas, garfadas e quase sempre muito queijo derretido. Mas… e se essa mistura de sabores também estiver trazendo, sem querer, um combo de microrganismos perigosos?

Preparar alimentos em grupo virou uma forma deliciosa de criar memórias — e dá para entender o porquê: é uma maneira gostosa (em todos os sentidos) de se conectar com quem a gente gosta. Mas há um detalhe importante que quase nunca entra na conversa: a informalidade da situação — falar em cima da comida e a conservação e transporte dos ingredientes de forma não controlada — que pode acabar abrindo a porta para uma festinha de bactérias.

A informalidade da trend pode acabar abrindo a porta para uma festinha de bactérias.

Neste artigo, vamos mostrar os riscos que podem estar escondidos nesse tipo de preparação coletiva, tomando como exemplo a “Trend do Macarrão”. Vamos falar sobre contaminação cruzada, conservação e transporte inadequado de alimentos, gotículas de saliva e como garantir que tudo isso aconteça com o máximo de segurança — sem perder o clima leve e divertido do momento.

A origem do risco: ingredientes que vêm de todo lado

A ideia do macarrão compartilhado é simples: cada um leva um ingrediente e todo mundo monta o prato junto, filma e posta nas redes sociais. Só que, na prática, isso significa misturar alimentos de várias origens, com diferentes níveis de cuidado. Alguns ingredientes chegam prontos, outros crus, alguns bem quentes, outros quase gelados — e, muitas vezes, tudo fica ali, esperando, à temperatura ambiente.

Essa condição é um prato cheio para a contaminação cruzada e a multiplicação de microrganismos como:

  • Salmonella, que pode estar presente em carnes, ovos e molhos mal preparados e conservados;
  • Listeria monocytogenes, resistente até em temperaturas de geladeira;
  • Staphylococcus aureus, que vive nas nossas mãos e pode contaminar a comida com facilidade.

Transporte e conservação: o que a gente não vê (mas pode sentir depois)

Muitas vezes, os ingredientes são levados em recipientes comuns, sem refrigeração ou aquecimento adequados. Parece um detalhe pequeno, mas faz toda a diferença. Se o alimento fica entre 5°C e 60°C por mais de duas horas, ele entra na chamada zona de perigo — ideal para a proliferação de bactérias.

E o mais traiçoeiro: nem sempre a comida contaminada tem cheiro ruim ou aparência estranha. Às vezes, ela parece ótima — até começar a causar sintomas horas depois.

A fala que contamina pelas gotinhas que nem sempre conseguimos ver

Quem nunca ficou animado(a) montando um prato em grupo? É risada pra cá, opinião sobre o molho pra lá, e todo mundo falando seu nome e o ingrediente em cima do recipiente. Só que essa empolgação também libera microgotículas de saliva, que podem carregar bactérias e vírus diretamente para os alimentos — e causar doenças, especialmente se forem só levemente aquecidos ou se já estiverem prontos para consumo.

Quando o corpo reage: sintomas comuns de uma intoxicação alimentar

Mesmo com todo o cuidado, às vezes a contaminação passa despercebida — e os sintomas aparecem depois, quando a festa já acabou. Os sinais de uma possível intoxicação alimentar geralmente surgem entre 6 a 48 horas após o consumo do alimento contaminado, dependendo do tipo de microrganismo envolvido.

Os sintomas mais comuns são:

  • Dor abdominal ou cólicas;
  • Diarreia (às vezes intensa e com muco);
  • Náuseas e vômitos;
  • Febre leve a moderada;
  • Cansaço ou fraqueza generalizada;
  • Desidratação (em casos mais graves ou prolongados).

Em crianças, idosos e pessoas com imunidade baixa, esses quadros podem evoluir com mais rapidez e gravidade, exigindo atenção médica. Por isso, mesmo em encontros informais, é importante lembrar que um pequeno descuido pode ter consequências reais para a saúde.

Alimentos alergênicos e contaminações intencionais: riscos muitas vezes invisíveis

Num encontro informal, onde cada participante leva um ingrediente e há troca livre de utensílios e superfícies, o cuidado com alimentos alergênicos deve ser redobrado. Leite, ovo, trigo, soja, castanhas, entre outros, estão entre os ingredientes mais comuns e também entre os que mais causam reações alérgicas graves — inclusive anafilaxia.

Por isso, se algum integrante do grupo tem alergia alimentar conhecida, é fundamental que isso seja comunicado com clareza e antecedência a todos os participantes. Também é essencial evitar o uso cruzado de utensílios e superfícies — um simples contato pode ser suficiente para causar uma reação.

Compartilhar informações sobre alergias é um cuidado com a vida do outro — e demonstração de respeito e responsabilidade coletiva.

Além disso, vale mencionar que encontros em que os alimentos passam por várias mãos ou são manipulados em locais de acesso amplo podem se tornar vulneráveis à contaminação intencional — seja por brincadeiras de mau gosto ou má fé. A prevenção passa por atenção ao ambiente, supervisão dos ingredientes e cuidado com quem manipula os alimentos. Em qualquer situação, a segurança de alimentos depende da confiança, comunicação e vigilância compartilhada.

Como tornar essa trend mais segura (e ainda deliciosa)

A boa notícia? Com pequenas mudanças, dá para manter o espírito da trend sem colocar ninguém em risco. Olha só:

  • Combine antes: organize quem leva o quê e oriente para que os ingredientes perecíveis sejam transportados em bolsas térmicas ou gelo.
  • Fique de olho na temperatura: alimentos frios devem ficar abaixo de 5°C; os quentes, acima de 60°C.
  • Separe talheres de servir e de comer: evite mergulhar o mesmo garfo da boca na panela que todo mundo vai usar.
  • Evite falar sobre a comida (literalmente): cubra os alimentos e, se possível, monte o prato em um espaço ventilado. Se for gravar a brincadeira, opte em não falar sobre o alimento o nome e o ingrediente em uso; edite-o depois incluindo legendas com essas informações com uma música engraçada ao fundo.
  • Cozinhe bem: carnes, ovos e molhos com leite e derivados precisam ser cozidos e mantidos em temperaturas seguras.
  • Sirva em porções individuais: monte o prato bonito para foto, mas depois distribua as porções para cada um. Nunca consumir de forma compartilhada a partir de um único recipiente.

A “trend do macarrão” é sobre união, afeto e diversão. E cuidar da segurança dos alimentos é só mais uma forma de demonstrar esse carinho.

Na próxima vez que for montar um macarrão coletivo com sua galera, lembre-se: prevenção é um tempero que não pode faltar. Se curtiu esse conteúdo, compartilhe com quem vai cozinhar em conjunto — e bora espalhar essa trend de forma mais segura e consciente.

Diogo Ximenes é técnico em alimentos pela UFRPE, graduado em administração de empresas e pós-graduado em engenharia de alimentos. Com 17 anos de experiência na área de Qualidade e Segurança de Alimentos, é auditor líder FSSC 22000 e classificador oficial de açúcar pelo MAPA. É especialista no processamento de cana-de-açúcar para alimentos e bebidas, incluindo açúcar, cachaça e aguardente. Atualmente ocupa o cargo de Supervisor de Qualidade e Segurança de Alimentos em indústria sucroenergética em Pernambuco. 

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Impactos econômicos globais: a Segurança de Alimentos em tempos de guerra comercial

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A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China não está apenas nos jornais — ela pode estar dentro do seu sistema de gestão de segurança de alimentos.
O que parece um embate político e econômico distante pode estar afetando diretamente a sua operação, o seu fornecedor, a composição do seu produto… e, principalmente, a segurança do alimento que você entrega ao consumidor.

Você já refletiu sobre como uma política de tarifas comerciais pode fazer com que o seu SGSA precise ser revisto? Quando insumos desaparecem, custos aumentam e fornecedores mudam, o SGSA exige ação rápida e estratégica — e é aí que muitas organizações falham ou se destacam.

Neste artigo, vamos entender:

  • Como a guerra tarifária entre EUA e China vem afetando diretamente o setor alimentício global;
  • Quais os impactos disso para empresas certificadas pela ISO 22000 e FSSC 22000;
  • Que requisitos da norma são diretamente acionáveis nesse contexto;
  • Como transformar um cenário de crise em oportunidade de reforço do SGSA;
  • E por que manter a segurança de alimentos no centro das decisões é mais urgente do que nunca.

O que está em jogo na guerra tarifária EUA x China?

A disputa comercial entre Estados Unidos e China, iniciada em 2018 no primeiro mandato de Donald Trump, ainda reverbera no mundo inteiro — especialmente nos setores que dependem de insumos, ingredientes e matérias-primas importadas ou exportadas.

Segundo a OMC, essa guerra tarifária já impactou milhões de toneladas de produtos alimentícios, como grãos, carnes e ingredientes amplamente utilizados pela indústria, como o xarope de milho.

A imposição intempestiva mais recente de tarifas vem causando aumento nos preços, dificuldades logísticas e instabilidade nas cadeias de suprimento e no mercado financeiro.

A disputa entre os dois gigantes econômicos afeta diretamente o mercado global, inclusive o de alimentos.

O impacto direto no setor alimentício e no SGSA

O setor de alimentos sofre com:

  • Aumento no custo de insumos, ingredientes, peças e equipamentos;
  • Redução da oferta desses mesmos produtos;
  • Alteração forçada em fórmulas e fornecedores.

Esses fatores desafiam diretamente a integridade dos Sistemas de Gestão de Segurança de Alimentos (SGSA), que exigem padronização, controle e validação rigorosa.

Para empresas certificadas em qualquer protocolo de segurança de alimentos, cada alteração pode gerar riscos adicionais à segurança dos produtos finais.

As mudanças podem afetar não só a qualidade, mas a segurança dos alimentos, ao longo de toda a cadeia.

O impacto organizacional e a necessidade de resposta estratégica

A guerra tarifária não afeta apenas os produtos. Ela altera também:

  • O contexto organizacional, que deve ser monitorado continuamente conforme exige a ISO 22000;
  • As expectativas de partes interessadas (clientes, fornecedores, órgãos reguladores);
  • A estabilidade dos contratos e a conformidade com normas legais e sanitárias.

Clientes pressionam por preços menores. Fornecedores podem falhar nos prazos e nas quantidades. E as autoridades exigem comprovações mais detalhadas sobre ingredientes e origem dos insumos.

O impacto da guerra tarifária não deve ser visto apenas como aumento de custos, mas como uma potencial alteração no risco de segurança de alimentos.

Requisitos da ISO 22000 diretamente relacionados ao cenário

A seguir, os principais pontos da ISO 22000:2018 que se conectam a esse contexto de crise:

  • Requisito 4 – Contexto da Organização: Compreensão de fatores externos (econômicos, políticos e legais) que afetam o SGSA.
  • Requisito 5 – Liderança: Comprometimento da alta direção em manter a segurança dos alimentos como prioridade, mesmo sob pressão financeira.
  • Requisito 6 – Planejamento: Avaliação e gestão de riscos e oportunidades. A guerra tarifária demanda planejamento para substituição de fornecedores, gestão de mudanças e controle de riscos emergentes.
  • Requisito 7 – Apoio (Recursos): Manutenção de recursos críticos, mesmo com cortes ou ajustes orçamentários: pessoas, infraestrutura, conhecimento e sistemas.

Esses pontos não são apenas requisitos documentais — eles formam a base da resiliência organizacional para a Segurança de Alimentos em tempos de instabilidade global.

Oportunidade estratégica: adaptar o SGSA e reforçar compromissos

Em vez de apenas reagir, sua organização pode usar este cenário para revisar, fortalecer e tornar mais estratégico seu SGSA. Veja como:

1 – Reavaliação da cadeia de suprimentos: mudar fornecedores ou diversificar origens pode ser necessário. A ISO 22000 exige que você mapeie riscos e implemente ações preventivas.

Situações de crise aumentam as oportunidades para operações fraudulentas.

2 – Revisão da análise crítica de segurança de alimentos: as mudanças exigem uma nova avaliação de riscos, especialmente se houver alteração nos processos ou matérias-primas.

3 – Atualização de planos de contingência: Escassez de produtos, atrasos de entrega ou custos elevados? É preciso prever cenários e garantir continuidade sem comprometer a segurança de alimentos.

Não deixe a Segurança de Alimentos sair do primeiro plano

Momentos de crise colocam empresas à prova. É aqui que muitas negligenciam o SGSA — e pagam caro por isso. Priorize:

  • Manutenção de recursos críticos (pessoas, infraestrutura, tempo e conhecimento);
  • Validação de mudanças antes de implementá-las (ingredientes, processos e fornecedores);
  • Comunicação clara e treinamentos atualizados com todas as equipes;
  • Análise imediata de desvios: aumento de NCs, atrasos, falhas logísticas e mudanças na qualidade.

Um SGSA eficaz é aquele que é interativo com o contexto, mas que não perde de vista seus princípios fundamentais – a Qualidade e a Segurança do Alimento.

Em tempos de guerra comercial, o SGSA deixa de ser apenas uma ferramenta de conformidade e se torna um instrumento de sobrevivência e reputação.
O que separa empresas resilientes das que apenas sobrevivem é a capacidade de manter a segurança de alimentos como prioridade inegociável.

Revise agora mesmo sua cadeia de suprimentos, reavalie seus riscos e valide todos os processos impactados por variações de insumos. Promova reuniões com sua equipe de SGSA. Atualize o plano de contingência. Treine. Reforce. Antecipe-se.

Sua próxima decisão pode ser o que define o quanto a sua organização vai sofrer — ou crescer — em meio à turbulência global.

Diogo Ximenes é técnico em alimentos pela UFRPE, graduado em administração de empresas e pós-graduado em engenharia de alimentos. Com 17 anos de experiência na área de Qualidade e Segurança de Alimentos, é auditor líder FSSC 22000 e classificador oficial de açúcar pelo MAPA. É especialista no processamento de cana-de-açúcar para alimentos e bebidas, incluindo açúcar, cachaça e aguardente. Atualmente ocupa o cargo de Supervisor de Qualidade e Segurança de Alimentos em indústria sucroenergética em Pernambuco.

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Higienização das mãos: o hábito simples que salva vidas

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Um pequeno gesto, um impacto gigante

Todos os dias, manipuladores de alimentos em todo o mundo desempenham um papel fundamental: garantir que o que chega ao prato das pessoas seja seguro. Porém, o que muitos não percebem é que a segurança de alimentos começa em um ponto muitas vezes subestimado: as mãos.

Agora, imagine que um único descuido na higiene possa desencadear uma cadeia invisível de contaminação, afetando centenas de pessoas. Se lavar as mãos é uma das formas mais simples e eficazes de prevenir doenças, por que ainda não tratamos isso como um ato que literalmente salva vidas?

O blog Food Safety Brazil já tratou muito bem desse assunto em posts no passado, mas por ser ato de extrema importância para a segurança dos alimentos, merece ser trazido novamente para discussão e reflexão.

Do hospital à cozinha, o objetivo é o mesmo

O Dia Mundial da Higienização das Mãos (05 de maio) foi criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para conscientizar profissionais da área da saúde sobre a importância da higienização correta das mãos na prevenção de infecções hospitalares. Mas, e se dissermos que essa campanha deve ir além dos hospitais?

Se a higiene das mãos salva vidas no ambiente hospitalar, ela também protege pessoas na manipulação de alimentos. Afinal, seja em um restaurante, em uma padaria, indústria de alimentos ou até na cozinha de casa, a regra é universal: mãos higienizadas ajudam a garantir alimentos seguros.

Por isso, indústrias de alimentos devem adotar essa data como um marco de conscientização, reforçando que higienizar as mãos com frequência e da forma correta não é apenas um protocolo – é um compromisso com a saúde pública.

Neste artigo, destacamos o Dia Mundial da Higienização das Mãos (05/05), instituído pela OMS, e trazemos sugestões sobre como as empresas de alimentos podem aproveitar essa data para reforçar a conscientização dos manipuladores sobre a importância dessa prática. Além disso, apresentaremos atividades interativas para engajar os profissionais, reforçaremos os procedimentos corretos de higienização e destacaremos cuidados essenciais com a instalação destinada a essa atividade.

Como realizar a higienização correta das mãos

Você já sabe, mas não é demais lembrar que é fundamental que todas as partes das mãos sejam devidamente higienizadas. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de uma escova macia para remover resíduos mais difíceis, como no caso de trabalhadores que lidam com ingredientes que grudam nas mãos, como farinha ao preparar massas.

A seguir, sugerimos um processo simples para lavar as mãos corretamente:

  1. Molhe as mãos com água potável corrente;
  2. Aplique sabão/ sabonete antisséptico suficiente para cobrir toda a superfície das mãos;
  3. Esfregue as palmas das mãos uma contra a outra;
  4. Esfregue o dorso de ambas as mãos;
  5. Entrelace os dedos e esfregue bem os espaços entre eles;
  6. Esfregue a base dos polegares;
  7. Limpe bem as unhas (se necessário, utilize uma escova de cerdas macias);
  8. Higienize também os pulsos;
  9. Enxágue completamente as mãos;
  10. Seque-as com papel descartável;
  11. Convém que as torneiras não sejam de acionamento manual. Caso seja, use uma toalha de papel para fechar a torneira, evitando o contato direto com as mãos higienizadas.

Ao seguir essa rotina, todas as áreas das mãos são devidamente lavadas e ensaboadas, reduzindo o risco de contaminação. É importante lembrar que microrganismos podem se acumular sob as unhas e nos pulsos, áreas muitas vezes negligenciadas durante a lavagem. Além disso, evitar tocar diretamente na torneira após a lavagem contribui para manter a higiene, reduzindo a possibilidade de contato com microrganismos.

Outro aspecto essencial para manipuladores de alimentos é o método de secagem. Deve-se sempre optar por toalhas ou lenços de papel limpos, pois o uso de secadores de ar pode aumentar o risco de recontaminação, se não forem utilizados corretamente. Quando o uso de secador for inevitável, observe:

  • Se o acionamento do secador for por botão, use o cotovelo ou um lenço de papel para evitar o contato direto com as mãos limpas. Prefira secadores automáticos com sensor de movimento;
  • Certifique-se de que suas mãos estejam completamente secas antes de concluir a secagem, pois mãos úmidas favorecem a proliferação de bactérias;
  • Depois de secá-las, use um lenço de papel para abrir portas ou tocar em objetos de uso comum, como maçanetas e torneiras;
  • É importante a manutenção e higienização do aparelho de secagem, o que inclui limpeza regular do exterior e interior do secador, inspeção e troca ou higienização dos filtros de ar (se o secador não tiver filtro, é ainda mais importante garantir a limpeza interna do equipamento – se permitido pelo fabricante – para evitar a dispersão de microrganismos), verificação do funcionamento do sensor de movimento e do fluxo de ar, com todas essas atividades respaldadas em registros.

Em quais momentos os manipuladores de alimentos devem lavar as mãos?

Em quais situações a higienização das mãos é indispensável? Sempre que um manipulador de alimentos tocar em qualquer objeto ou superfície que não seja o alimento que está preparando, deve lavar as mãos. Mesmo ações simples, como abrir uma porta acionando manualmente a maçaneta ou até mesmo pegar em ingredientes, podem levar à contaminação. Em resumo:

Antes de:

  • Iniciar o turno de trabalho;
  • Manusear carnes cruas, ovos ou alimentos prontos para consumo;
  • Colocar luvas descartáveis

Depois de:

  • Utilizar o banheiro;
  • Entrar em contato com produtos químicos, como agentes de limpeza ou aditivos;
  • Tossir, espirrar ou tocar no rosto, cabelo ou na roupa utilizada para o trabalho;
  • Manipular resíduos;
  • Remover as luvas descartáveis;
  • Comer e beber (inclusive na saída do refeitório) ou fumar;
  • Usar ou limpar equipamentos sujos;
  • Realizar qualquer atividade de limpeza.

Seguir esses cuidados rigorosamente ajuda a manter um ambiente seguro e higiênico na manipulação de alimentos, evitando riscos à saúde dos consumidores.

Onde e quais as condições básicas para higienização das mãos?

Parece óbvio, mas muita gente não sabe que a lavagem das mãos deve ser em local exclusivo para este fim, nunca em pias utilizadas para a preparação de alimentos ou limpeza de outros objetos. É importante considerar a condição dos lavatórios e sua estrutura, tais como:

  • As pias devem ser projetadas para facilitar a limpeza e manutenção, incluindo acessórios de encanamento adequados.
  • É recomendado que a água fornecida atinja uma temperatura mínima de 38°C, podendo ser controlada por uma válvula de mistura. No Brasil, não há exigência legal que determine uma temperatura mínima para a água utilizada na lavagem das mãos em estabelecimentos que manipulam alimentos. No entanto, em locais com clima ameno ou frio, a água muito gelada pode desmotivar os colaboradores a lavarem as mãos com a frequência necessária, comprometendo a higiene. Por isso, oferecer água em temperatura confortável, sempre que possível, pode contribuir para a adesão correta dos manipuladores às práticas de higienização.
  • As pias devem ser estrategicamente localizadas, como próximas aos banheiros e às áreas de preparo dos alimentos.
  • Se forem utilizadas torneiras automáticas, elas devem garantir um fluxo contínuo de água por pelo menos 15 segundos.
  • É essencial garantir o fornecimento de água potável mesmo em casos de interrupção no abastecimento regular, seja por manutenção, emergências ou outros motivos. Para isso, pode ser necessário ter um reservatório ou caixa d’água para essa finalidade, garantindo que a água utilizada na higiene e manipulação de alimentos esteja sempre disponível e segura para utilização.

Materiais essenciais para a higienização das mãos

  • O estabelecimento deve disponibilizar sabonetes aprovados pela ANVISA para a lavagem das mãos;
  • Em locais com acesso limitado à água corrente, como food trucks e feiras gastronômicas, é possível o uso de lenços umedecidos antissépticos descartáveis para essa higienização, conforme regulamentação sanitária.

Regras e sinalização

  • Deve haver pelo menos uma pia exclusiva para lavagem das mãos em locais de fácil acesso para os funcionários, a menos que o órgão de saúde local indique outra exigência.
  • Todas as pias devem conter sinalização obrigatória lembrando os manipuladores de alimentos da importância da higienização das mãos.
  • As pias não podem ser obstruídas por equipamentos de limpeza, utensílios sujos ou qualquer outro objeto que impeça seu uso imediato.

Criando uma cultura de higienização na manipulação de alimentos

Lavar as mãos corretamente não pode ser apenas uma exigência no papel – precisa ser um reflexo automático. Mas como transformar essa obrigação em um compromisso genuíno? Aqui estão algumas estratégias e dinâmicas inovadoras para reforçar esse hábito de maneira impactante:

A lâmpada UV da verdade – Você realmente higienizou suas mãos?

Objetivo: Demonstrar visualmente falhas na higienização das mãos.

  • Passe um gel fluorescente seguro nas mãos dos participantes sem que eles percebam;
  • Após um tempo, leve-os para um ambiente com luz UV. O gel revelará onde ainda há contaminação;
  • Peça que lavem as mãos e repitam o teste. O choque ao ver a diferença fortalece a importância da técnica correta.

O jogo do contágio – como a contaminação se espalha sem você perceber

Objetivo: Mostrar de forma interativa como um erro na higiene pode contaminar alimentos e superfícies.

  • Antes da dinâmica, passe um pó fluorescente em um utensílio usado por um dos participantes (pela caneta que utilizam para assinar a ata).
  • Peça para ele seguir sua rotina normalmente, tocando objetos e alimentos.
  • No final da atividade, use uma luz UV para revelar quantas superfícies foram contaminadas sem que ninguém percebesse.

Corrida do higienizador – quem lava as mãos corretamente no melhor tempo?

Objetivo: Criar um espírito competitivo para incentivar a lavagem correta.

  • Monte uma estação de lavagem de mãos e separe os participantes em duplas.
  • Um participante lava as mãos e o outro marca o tempo e avalia a técnica.
  • Quem conseguir higienizar corretamente dentro do menor tempo ganha um selo de excelência.

Linha do tempo da contaminação – os impactos de um pequeno descuido

Objetivo: Mostrar como um simples erro pode afetar toda uma cadeia de produção de alimentos.

  • Crie um painel mostrando o que acontece desde um manipulador que não lavou as mãos até uma intoxicação alimentar no consumidor final.
  • Ilustre as consequências reais de uma contaminação: desde pequenos desconfortos gastrointestinais até surtos alimentares graves.
  • Isso faz com que os manipuladores percebam que seus hábitos impactam diretamente a saúde de muitas pessoas.

Higienizar as mãos é proteger vidas

A higienização das mãos não é apenas um protocolo, é um compromisso real com a saúde pública. Seja no hospital ou na cozinha, mãos limpas salvam vidas – e essa deve ser a mensagem levada para cada manipulador de alimentos, independentemente do setor em que atue.

Novas abordagens para o futuro

Para que a higienização das mãos se torne um pilar inquestionável na segurança de alimentos, considere:

  • Treinamentos imersivos: Utilização de realidade aumentada ou gamificação para ensinar a importância da higienização.
  • Desafios semanais: Criar pequenas competições para reforçar o hábito, com premiações simbólicas.
  • Comunicação ativa: Inserção de QR Codes nos postos de higienização, levando a vídeos educativos curtos antes da higienização das mãos.

O que você pode fazer agora?

  • Marque no calendário o Dia Mundial da Higienização das Mãos (05 de maio);
  • Implemente pelo menos uma dessas dinâmicas no seu local de trabalho.
  • Compartilhe esse conhecimento com sua equipe e transforme esse dia em um marco anual.

A segurança de alimentos começa nas mãos de quem prepara os alimentos. Adote esse hábito, multiplique essa ideia e proteja vidas!

A revolução na segurança de alimentos começa com pequenas mudanças – e lavar as mãos é o primeiro passo para um mundo mais seguro e saudável.

Agora é com você! Como seu local de trabalho pode inovar na conscientização sobre a higienização das mãos? Compartilhe sua ideia e ajude a espalhar essa causa!

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Bioinsumos e seu papel na produção de alimentos mais seguros e saudáveis

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O uso de produtos biológicos sempre foi uma prática muito importante para a agricultura. Registros apontam que bioinsumos são utilizados há séculos para reduzir os danos nas lavouras causados por pragas e doenças. Já no século III os chineses utilizavam formigas como controle biológico nas suas plantações de laranjas. No século XVIII foram descobertos fungos e bactérias entomopatogênicas na Europa e no século XIX foi registrada na Califórnia a primeira introdução de uma praga exótica para o controle de pulgões em citros, vinda da Austrália. Exemplos como esses são comuns na literatura.

Na história recente, os bioinsumos sempre estiveram associados principalmente com a produção orgânica, biodinâmica, agroecológica, regenerativa, devido à escassez de métodos de controle que não fossem os tradicionais defensivos químicos. Mas nos últimos anos seu uso não tem se restringido apenas a esses modelos de produção. Eles estão sendo aplicados em toda a agricultura e na maioria das culturas. Se considerarmos que os maiores avanços em pesquisas e novas descobertas ocorreram a partir do século XX, podemos afirmar que esses insumos são ferramentas imprescindíveis nos dias de hoje e projetam um futuro de crescimento a passos largos.

Bioinsumos

Os bioinsumos como conhecemos hoje em dia dividem-se em dois segmentos de acordo com a sua finalidade, sendo produtos para controle biológico, como os biodefensivos e os macroorganismos, e aqueles para estímulo das plantas, os bioativadores. Os primeiros são elaborados à base de fungos, bactérias, vírus, insetos e ácaros e quanto ao seu uso são principalmente classificados com bionematicidas, biofungicidas e bioinseticidas.

Agrivalle
Possuem muitas funções, como eliminar  ou reduzir a pressão de pragas, doenças e ervas daninhas; contribuir para o manejo da resistência; diminuir os custos de produção e melhorar a qualidade dos alimentos. Também podem melhorar a qualidade do solo e do sistema radicular das plantas, e, não menos importante, são insumos com baixíssima probabilidade de contaminação do aplicador, do meio ambiente, dos inimigos naturais e polinizadores e dos alimentos. Apresentam baixa toxicidade, zero período de carência e zero resíduos, desde que recomendados e utilizados conforme as instruções da bula e por profissionais capacitados. Esses produtos também têm um fit excelente em questões de programas de rastreabilidade, conforme comentado em meu último artigo nesse blog. Em um mundo onde a sustentabilidade é o conceito da vez, esses produtos não poderiam ser melhores alternativas.

Os bioativadores, por sua vez, são elaborados à base de aminoácidos, algas, micronutrientes e outros compostos que ajudam a aumentar a produtividade pela melhor absorção dos nutrientes, do combate ao estresse das plantas e da melhoria da qualidade da produção. A crescente adesão dos agricultores a essa categoria vem ao encontro do desafio que o setor passa diante do cenário das mudanças climáticas, pois as plantas são mais exigidas perante a escassez de água, altas temperaturas e outros fatores adversos.

Devemos considerar que esses produtos têm passado por inúmeras melhorias e vêm quebrando paradigmas do passado que impediam que seu uso se disseminasse em um país com as dimensões do Brasil. Foi-se o tempo em que necessitavam de frigoconservação até o momento da aplicação, tinham prazos de validade curtíssimos ou formulações que dificilmente formavam uma calda minimamente aplicável por entupirem pontas, por não se dissolverem corretamente ou por não se compatibilizarem com os químicos tradicionais. Hoje as formulações se modernizaram e estão no mesmo nível dos defensivos sintéticos. Existem misturas prontas de diferentes microrganismos, o que aumenta seu espectro de ação, podendo até diminuir o número de aplicações. Significativos investimentos em pesquisas levam ao desenvolvimento de novas cepas e aumentos na sua virulência, para com isso se tornarem indispensáveis na agricultura moderna.

Todos os protocolos de produção sustentável demandam o uso desses produtos e pouco a pouco ganham o espaço dos tradicionais químicos, cujos benefícios e malefícios são amplamente conhecidos e muitas vezes combatidos por setores mais conservadores da sociedade. Outro fator inequívoco desse avanço é que atualmente todas as empresas químicas e tradicionais desse ramo têm uma área de desenvolvimento de biológicos e seu portifólio de produtos, fato que não se via há apenas uma década atrás. Podemos chamar isso de evolução e adaptabilidade do setor.

Dados do mercado

Recente relatório divulgado pela Crop Life Brasil, “Desafios e oportunidades para o mercado brasileiro de bioinsumos”, traça um panorama completo sobre a situação do setor, que ao nível mundial tem como principais atores os Estados Unidos, Europa e países asiáticos. De acordo com dados da associação, em 2023 o valor do mercado mundial de bioinsumos agrícolas foi estimado entre US$ 13 e 15 bilhões, abrangendo todos os segmentos. A previsão é que a taxa de crescimento anual global até 2032 fique entre 13% e 14% a.a., atingindo cerca de US$ 45 bilhões, o que equivale ao triplo do valor atual.

Dentro desse mercado, o segmento de controle biológico destaca-se como o mais relevante, representando 57% do valor estimado. A tendência é que eles continuem liderando a participação de mercado nos próximos anos. O crescimento projetado está baseado na expectativa de que tanto os Estados Unidos quanto a Europa ampliem o uso de bioinsumos na produção de grandes culturas, similar ao que ocorre no Brasil, que já se destaca com uma das maiores taxas de adoção desses insumos globalmente.

No Brasil, o mercado de bioinsumos, que abrange produtos de controle biológico, inoculantes fixadores de nitrogênio e solubilizadores de fósforo, apresentou um crescimento de 15% na safra 2023/2024 em relação à safra anterior, levando em conta o valor final para o agricultor. Nos últimos três anos, o mercado de bioinsumos no país teve um aumento médio anual de 21%, o que é quatro vezes superior à média global, mas se considerarmos a participação do mercado de bioinsumos comerciais no valor de mercado total (considerando tratamento de sementes, inoculantes, fungicidas, inseticidas, nematicidas, herbicidas, adjuvantes e óleos) passou de 3,9 bilhões de reais na safra de 2021/22 para 5,1 bilhões de reais em 2023/24, apresentando um crescimento de 30% nessas últimas três safras.

Esse crescimento é bem maior se considerarmos o crescimento do mercado de  químicos, que tem apresentado números de apenas um dígito nesse intervalo de tempo, (6% de acordo com o trabalho do Instituto Futurum e mostra a tendência para as próximas safras, considerando que a participação dos bioinsumos no faturamento total do setor ainda não ultrapasse muito os 5%). A expectativa para a safra 2024/25 é que o faturamento ultrapasse os 6,3 bilhões de reais, o que deve manter a média de crescimento das últimas safras e a consolidação do mercado. Essa mesma estimativa aponta que em 2030 o mercado deve chegar a 16,9 bilhões de reais e certamente trará um aumento na participação do setor como um todo, que poderá ultrapassar os 10%.

Já em relação à área tratada com bioinsumos no Brasil, também houve crescimento de 50% na safra de 2023/24 em relação à safra de 2021/22, conforme dados da Blink no trabalho associado à Crop Life. A área tratada com bioinsumos corresponde a 11% da área tratada total. No que tange às principais culturas, 55% dos bioinsumos utilizados foram destinados à soja, 27% ao milho, 12% à cana-de-açúcar e 6% ao algodão, café, citrus e hortifrúti (HF). Quando consideramos a área tratada, a soja representa 68% do total, seguido por milho, com 21%, e cana-de-açúcar, com 7%. Como exemplo, no tratamento de sementes de soja emprega-se 100% de biológicos para nematoides, associados aos tradicionais químicos.

Dados do Ministério da Agricultura mostram que até o primeiro semestre de 2023, o Brasil liderava o ranking de adoção de defensivos biológicos, bioestimulantes e biofertilizantes No caso do controle biológico, mais de 55% das lavouras já tinham algum tipo de biodefensivo. Na União Europeia, a aplicação de biológicos ocorreu em 23% das plantações, e na China, a terceira colocada na lista, em 8%. O número de produtos biológicos registrados no Brasil passou de 1 em 2005, para 616 em 2023. Só durante o ano de 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e demais órgãos competentes registraram 90 produtos de baixo impacto (produtos de origem biológica, fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica, semioquímicos e reguladores de crescimento).

Desafios do mercado

Apesar da sua longa história como produtos utilizados na agricultura, seu inegável crescimento nos últimos anos e uma perspectiva de avanço significativa rumo ao futuro, como apontam os especialistas, o mercado para os bioinsumos em si ainda é muito novo. Uma série de problemas devem ser contornados para suportar esse avanço.

Um dos principais é o tratamento legal. Atualmente os bioinsumos estão enquadrados em legislações destinadas a produtos químicos, sintéticos ou minerais, como a Lei dos Agrotóxicos (Lei14.785/2023) e a Lei de Fertilizantes (Lei 6.894/1980), sendo suas regulamentações adaptadas por meio de normas infralegais para abranger as novas tecnologias e as multifuncionalidades para uso agrícola. No entanto, como essas leis não foram originalmente elaboradas para bioinsumos, há requisitos e exigências que não são aplicáveis e, por outro lado, elas também não contemplam as especificidades necessárias para os diferentes graus de complexidade.

Sendo assim, a primeira norma que trata desse assunto de forma diferenciada foi o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB) de 2020, que tem como foco a implementação de práticas sustentáveis e valorização da biodiversidade brasileira, além de incentivar a produção nacional, a inovação tecnológica e favorecer a bioeconomia. Iniciativas legislativas no congresso nacional também estão em curso para acelerar esse processo.  Esses são, portanto, os principais gargalos a serem solucionados para dar segurança jurídica a todos os atores dessa cadeia.

Outro fator relevante é a baixa capacitação da mão de obra, pois isso dificulta a adoção ampla de tecnologia. A agricultura brasileira é muito grande e heterogênea no tocante ao perfil dos produtores e suas realidades e suas estruturas de armazenamento de insumos. A tecnologia de aplicação nem sempre é a mesma utilizada na aplicação de produtos sintéticos. No caso desses últimos, por exemplo, por serem insumos utilizados há décadas, o conhecimento está bem mais estruturado e difundido, e no caso dos biológicos nem sempre a tecnologia disponível atende às exigências, pois devemos lembrar que são seres vivos muito mais sensíveis, em muitos casos.

Com relação aos custos, embora os bioinsumos nem sempre apresentem preços menores que outros insumos, é fundamental considerar a relação custo-benefício, levando em conta a perspectiva de redução dos impactos negativos ao meio ambiente, à saúde humana e o aumento na produtividade. Além disso, é de suma importância ressaltar que o uso de bioinsumos, devido ao seu modo de ação e por depender do nível de dano das pragas e doenças, pode não substituir completamente os químicos, sendo adequado considerá-los como mais uma ferramenta para o controle integrado de pragas e doenças que uma solução única e definitiva.

Conclusões e perspectivas

Apesar de serem conhecidos há centenas de anos, os bioinsumos, em especial os biológicos, terão cada vez mais um papel fundamental na evolução da agricultura no tocante à garantia da produção de alimentos mais saudáveis como uma demanda da sociedade em nível mundial, garantia da biodiversidade, da sustentabilidade e da diminuição da contaminação do meio ambiente, com impactos positivos na qualidade de vida. É certo que a adoção desses produtos representa um avanço significativo, mas os químicos ainda continuarão a ser utilizados em larga escala nas próximas décadas.

Agrivalle

O que estamos presenciando é que a participação dos produtos químicos será cada vez menor e esse espaço será ocupado pelos bioinsumos. Devem avançar, de maneira coesa, as pesquisas, métodos e tecnologias de produção, aumento da conscientização e nível técnico dos produtores, bem como legislações apropriadas e abrangentes que promovam a segurança jurídica de toda a cadeia de produção. Nós todos, como consumidores de todas as partes do planeta, e o planeta em si, já estamos sendo e seremos cada vez  mais beneficiados.

Marcos Pozzan é engenheiro agrônomo, atualmente em atividade na Itália

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Food Defense e Segurança de Alimentos: lições criativas da cultura pop

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Você já sabe que a segurança de alimentos é uma prioridade global para garantir a saúde pública e a confiança do consumidor. Sabe também que enquanto as práticas de segurança de alimentos se concentram na prevenção de contaminações acidentais, o Food Defense, ou defesa de alimentos, trata especificamente da proteção contra sabotagens e envenenamentos intencionais. Pois saiba que, surpreendentemente, a cultura pop pode ser uma ferramenta poderosa para ensinar sobre isso.

Agora, imagine que você pode usar cenas de videoclipes para treinar sua equipe de forma criativa e impactante. Sim, isso mesmo! Lady Gaga, por exemplo, com seus videoclipes cheios de drama e emoção, pode ser uma surpreendente aliada na luta contra ameaças intencionais à segurança de alimentos. Curioso para saber como?

Neste artigo, vamos explorar como o Food Defense pode ser promovido de maneira eficaz e envolvente, usando elementos da cultura pop, como os videoclipes de Lady Gaga. Você vai descobrir como essas representações fictícias podem ser transformadas em lições valiosas para o setor alimentício e como elas ajudam a engajar sua equipe no combate a riscos reais de contaminação intencional.

Com o crescimento das cadeias alimentares globais, aumentam também as oportunidades para ações maliciosas, como o envenenamento ou sabotagem intencional de alimentos. Esses incidentes podem ser motivados por questões políticas, econômicas ou pessoais. Por isso, empresas do setor alimentício precisam implementar medidas de segurança rigorosas, não apenas para proteger a saúde pública, mas também para preservar sua reputação e evitar danos financeiros. Food Defense concentra-se na prevenção dessas ameaças.

Ao longo da história, exemplos de contaminação intencional de alimentos mostram o impacto devastador que esses crimes podem ter. Alguns casos notáveis incluem:

Caso Rajneeshee (1984, EUA): Um grupo religioso contaminou alimentos com Salmonella, atingindo 750 pessoas. Este foi um dos primeiros grandes incidentes de bioterrorismo envolvendo alimentos.

Figura 1 - Grupo religioso Rajneeshee
Grupo religioso Rajneeshee

Caso Gunma (2014, Japão): A fábrica Aqlifoods foi responsável por contaminar alimentos com malation (um pesticida), afetando 2.800 pessoas e resultando no recolhimento de 6,4 milhões de produtos.

Alguns produtos contaminados da Aqlifoods

Caso bolo de Natal (2024, Brasil): Uma mulher foi acusada de envenenar nove membros de sua família com arsênio, resultando na morte de quatro pessoas. O veneno foi misturado à farinha usada para fazer um bolo que matou suas duas irmãs e uma sobrinha. Ela também tentou envenenar o marido, o que colocou em risco o filho, colocando arsênio em um suco. A mulher foi presa e, em fevereiro, encontrada morta na prisão. A polícia concluiu que ela foi responsável pelos envenenamentos, e a investigação está prestes a ser finalizada (leia mais aqui).

Bolo de natal objeto do crime e arsênio, elemento químico encontrado no bolo

Caso baião de dois (2024) – Piauí, Brasil: Um envenenamento em série matou oito membros de uma família em Parnaíba, Piauí. Inicialmente, uma vizinha foi acusada, mas a investigação apontou o marido de uma das vítimas como principal suspeito. Ele tinha um relacionamento conturbado com os familiares e foi encontrado com informações relacionadas ao uso de venenos. A esposa dele, que também tentou envenenar outra vizinha, confessou o crime. Ambos agora respondem pelas mortes.

Baião de dois que teria sido objeto do crime

Esses casos nos alertam sobre os perigos reais e a necessidade de adotar práticas preventivas de Food Defense para evitar que incidentes como esses se repitam.

Uma maneira criativa de aumentar a conscientização sobre Food Defense é usar cenas fictícias de videoclipes, como os de Lady Gaga. Nos clipes de “Telephone” (2010) e “Paparazzi” (2009), a cantora aborda, de maneira dramática, envenenamentos alimentares que ilustram falhas no controle de segurança. Embora fictícias, essas representações podem ser usadas de forma eficaz em treinamentos sobre segurança de alimentos.

“Telephone”: Um envenenamento de uma pessoa em ambiente comercial que “sai do controle” e atinge a todos os clientes do restaurante

Lady Gaga preparando a receita “Cozinhar e Matar”, adicionando elementos diversos às refeições no restaurante (veneno para rato, cianeto, Fex-M3 – toxina fictícia – e Tiberium – elemento radioativo fictício) – Telephone (2010): YouTube.

No videoclipe de “Telephone”, Lady Gaga retrata um envenenamento em massa em um restaurante. A falha no controle de segurança, como a falta de monitoramento rigoroso das áreas de preparo e o acesso irrestrito à cozinha, são destacados de forma dramática. Essa representação pode servir como uma ferramenta útil para treinar profissionais da indústria alimentícia sobre a importância da vigilância constante.

“Paparazzi”: Um envenenamento de uma pessoa em ambiente doméstico

“Paparazzi”, Lady Gaga envenena a bebida de seu parceiro em um ato de vingança. Esse cenário chama a atenção para a vigilância nas interações pessoais envolvendo alimentos, lembrando que, até em ambientes domésticos, práticas como a inspeção de alimentos e a supervisão das interações devem ser seguidas para evitar contaminações.

Lady Gaga adicionando a um suco que em breve dará ao seu parceiro, um pó branco com um alerta de “veneno”. Logo após tomar o suco, o seu parceiro morre e ela faz uma autodenúncia à Polícia, que a prende. Paparazzi (2009): YouTube.

Embora esses clipes sejam ficcionais, eles mostram falhas cruciais em sistemas de segurança de alimentos, o que os torna uma ferramenta interessante para treinamentos criativos, enfatizando os riscos de falhas no plano de food defense, tornando o aprendizado mais envolvente e impactante.

Como usar videoclipes para treinamentos de Food Defense?

Incorporar clipes musicais nos treinamentos de Food Defense pode ser uma forma eficaz de alertar os colaboradores sobre os riscos de falhas nos sistemas de segurança de alimentos. Ao conectar ficção com realidade, esses vídeos tornam o aprendizado mais memorável e impactante.

Sugestões de dinâmicas de treinamento

  • Análise crítica de riscos: Após assistir a cenas selecionadas dos clipes, os participantes poderiam identificar as falhas nos sistemas de segurança e sugerir melhorias. A avaliação pode, inclusive, se expandir para o seu ambiente de produção, a fim de que as saídas nessa análise crítica sirvam como entradas para a análise de vulnerabilidades.
  • Avaliação de simulações: Considerar situações reais que podem ocorrer no ambiente de produção, distribuição e comercialização de alimentos, abordando práticas de prevenção, inspeção e monitoramento.
  • Discussões interativas: Promover debates sobre os impactos das falhas na segurança dos alimentos evidenciados nos clipes, tanto em termos de saúde pública quanto de danos à imagem das empresas. Fazer a correlação com os impactos que podem ocorrer por falhas reais onde os colaboradores trabalham.

Cuidados ao usar videoclipes em treinamentos

Utilizar videoclipes musicais no treinamento de Food Defense pode ser uma maneira criativa e eficaz de aumentar a conscientização sobre riscos relacionados a segurança de alimentos, conectando ficção e realidade de forma impactante. Ao adotar essas abordagens inovadoras, empresas podem reforçar a gestão da segurança de alimentos e engajar suas equipes na proteção da saúde pública.

Porém, ao utilizar clipes culturais para fins educativos, é essencial contextualizar corretamente o conteúdo. A ficção nunca deve ser confundida com a realidade, especialmente em questões tão sérias como o envenenamento de alimentos. O uso indevido de ficção poderia criar uma percepção equivocada de que comportamentos criminosos, como envenenar alimentos, são aceitáveis ou até mesmo interessantes. A seriedade do Food Defense deve ser enfatizada em todas as discussões.

Está pronto para adotar novas abordagens e transformar seu treinamento de Food Defense? Em 2025, o tema da Semana da Qualidade é “Pensar Diferente”. Isso vai além de simplesmente adotar novas formas de fazer o que já havia sido feito, é questionar o que é convencional e estar aberto a novas ideias. Pense fora da caixa! Não deixe que falhas nos sistemas de segurança comprometam sua marca.

Você se arriscaria a utilizar essa ferramenta lúdica (os videoclips pops) como suporte em seus treinamentos Food Defense ou acha arriscado ou ainda não impactante? Gostaríamos de ouvir sua opinião sobre o assunto. Escreva nos comentários.

Diogo Ximenes é  técnico em alimentos pela UFRPE, graduado em administração de empresas e pós-graduado em engenharia de alimentos. Com 17 anos de experiência na área de Qualidade e Segurança de Alimentos, é auditor líder FSSC 22000 e classificador oficial de açúcar pelo MAPA. É especialista no processamento de cana-de-açúcar para alimentos e bebidas, incluindo açúcar, cachaça e aguardente. Atualmente ocupa o cargo de Supervisor de Qualidade e Segurança de Alimentos em indústria sucroenergética em Pernambuco. Contato: LinkedIn – Diogo Ximenes.

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Contaminações intencionais de alimentos: precisamos falar sobre isso

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No final de 2024, três pessoas morreram no estado do Rio Grande do Sul após terem consumido um bolo no qual  posteriormente foi constatada a presença de arsênio. No início deste ano, cinco pessoas da mesma família no Piauí também perderam a vida após comerem arroz envenenado. Ambos os casos foram classificados pela perícia como contaminações intencionais.

Contaminações intencionais de gêneros alimentícios podem ocorrer por meio de atos perniciosos de adulteração, sabotagem, contrafação, terrorismo e outras ações ilegais danosas, podendo ter efeitos devastadores no setor alimentar.

Num mundo dominado pela globalização, pela urbanização, pelo aquecimento global e pelas mudanças nos hábitos de consumo, a questão da segurança e da qualidade dos alimentos deve ser uma prioridade para os governos, para os operadores da indústria alimentar e para os consumidores, sobretudo pela possibilidade de os alimentos poderem ser contaminados nas diferentes etapas da cadeia alimentar, a saber: produção, transformação, transporte, armazenamento e distribuição, e causar efeitos prejudiciais à saúde.

Dada a grande variedade de perigos alimentares conhecidos, que podem ser introduzidos nas diferentes etapas da cadeia alimentar, não é possível prevenir cada um destes perigos de um modo específico. Considerando todos estes riscos de contaminação na cadeia alimentar, é importante que se desenvolvam planos de segurança e defesa alimentar que contemplem as etapas mais vulneráveis e planos de resposta que incluam mecanismos de vigilância, técnicas de diagnóstico e metodologias de investigação como forma de atenuar o impacto na saúde humana.

Muitos fabricantes de alimentos já adotam medidas de Food Defense, mas nos lares também é possível adotar algumas práticas para evitar problemas como intoxicação e envenenamento. Algumas dicas importantes:

  • Conheça bem a origem do alimento que será consumido;
  • Tenha atenção redobrada com a comida de lugares públicos;
  • Evite alimentos em conserva que estão com a embalagem danificada ou amassada;
  • Coloque cadeados e limite o acesso aos armários onde são guardados os alimentos;
  • Observe atentamente a data de validade dos alimentos;
  • Ao fazer compras, armazene adequadamente os alimentos assim que chegar a casa;
  • Identifique potes e vasilhas que tenham alimentos fracionados;
  • Acha que o alimento pode estar estragado com aparência e gosto estranho? Jogue fora!

Toda precaução é pouca quando se trata de cuidados para evitar contaminações intencionais de alimentos, e infelizmente nem todas as ações preventivas surtirão o efeito desejado em sua totalidade. Porém, tudo o que estiver ao nosso alcance para preservar a segurança do alimento consumido, seja nas indústrias, restaurantes, supermercados ou mesmo em nossas casas, é válido. O que pode parecer o mínimo a ser feito também pode ser o máximo para salvar vidas.

Quais outras dicas importantes você daria para evitar contaminações intencionais em alimentos?

Imagem: Geovane Souza

José Gonçalves de Miranda Junior é tecnólogo agroindustrial de alimentos (Universidade do Estado do Pará), pós-graduado em Engenharia de alimentos – Desenvolvimento de Produtos (Instituto Mauá de Tecnologia), especialista em Segurança de Alimentos e auditor líder no esquema FSSC 22000.  Atualmente trabalha em indústria de processamento de casquinhas para sorvete

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Mudanças na impressão nos ovos: análise da Portaria SDA/MAPA 1.179/2024

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Diferentemente do muito que se tem falado, a impressão individual nos ovos – regulamentada no Brasil pela Portaria SDA/MAPA Nº 1.179, que entrou em vigor dia 5 de setembro de 2024 e com prazo final para adequações em 04 de março de 2025 – não será obrigatória para todos os ovos.

· Embasamento legal: Portaria SDA/MAPA Nº 1.179/2024

A nova portaria traz inovações significativas, especialmente no que diz respeito à impressão diretamente na casca dos ovos, conforme detalhado em seu artigo 41. Essa mudança visa não apenas a modernização do setor, mas também a aumentar a transparência e a rastreabilidade dos produtos.

“Art. 41. Ovos destinados ao consumo direto devem ser individualmente identificados, com a data de validade e com o número de registro do estabelecimento produtor, quando não seja utilizada uma embalagem primária.”

Na prática, apenas os ovos que são vendidos soltos, ou seja, sem rotulagem, devem ter a informação impressa em sua casca, incluindo o número de registro do produtor e a data de validade. Isso garante a rastreabilidade e a origem dos ovos. A venda de ovos soltos em feiras livres, caminhões autônomos e até mesmo supermercados com tendências gourmets, que acham chique vender ovos como antigamente, expõe os consumidores ao risco de não saberem quem são os produtores, o tipo, lote, data de produção e validade dos ovos. Além disso, aumenta os riscos de contaminação pela manipulação dos ovos sem embalagem nas gôndolas.

· Ausência de contaminação dos ovos pela tinta

Vale ressaltar que os estabelecimentos que optarem por imprimir nas cascas dos ovos devem utilizar tinta de grau alimentício, garantindo assim que não haja contaminação.

“Parágrafo único. A tinta utilizada para a impressão ou marcação da casca de ovos em natureza deve ser específica para uso em alimentos, atóxica, não constituir risco de contaminação ao produto, bem como atender aos padrões estabelecidos pelo órgão competente.”

· Impactos para produtores e consumidores

A impressão individual não é obrigatória para todos os ovos. Mas caso o produtor opte por fazê-la, ele terá que adaptar seus processos de embalagem e impressão para atender às novas exigências. Isso pode envolver altos investimentos em tecnologia e equipamentos, mas também representaria uma oportunidade para melhorar a imagem da marca e aumentar a confiança do consumidor.

Para o consumidor, na prática só haverá mudança se ele tiver o hábito de comprar ovos sem embalagens primárias. Neste caso a nova sistemática trará maior transparência e segurança, com informações claras e acessíveis, sabendo exatamente a origem dos ovos que está adquirindo. A rastreabilidade também é um fator importante em casos de recall de produtos, pois facilita a identificação de lotes específicos.

Cabe agora saber se o mercado consumidor e produtivo está preparado para arcar com esse custo de investimento.

· Conclusão

Vale ressaltar que o rótulo com os selos de inspeção ainda é a melhor arma que tanto o consumidor quanto o produtor têm para divulgar e conhecer todas as informações, tanto sobre a origem do produto, quanto do próprio produtor. Por fim, é essencial lembrar que o consumidor só estará seguro comprando ovos de estabelecimentos registrados em órgãos federais, estaduais, distritais ou municipais.

An´Anezia Ramos é auditora líder em Sistema de Gestão da Qualidade ABNT NBR ISO 9001:2015 e FSSC 22000:2018, consultora em programas de autocontrole, normas IFS Food, BPF/GMP, APPCC/HACCP base Codex Alimentarius

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O desafio de construir uma cultura de segurança de alimentos na América Latina

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Garantir a segurança de alimentos na América Latina é, sem dúvida, um grande desafio. A região destaca-se pela sua riqueza e diversidade extraordinárias, tanto na produtividade — sejam carnes, cereais, frutas, hortaliças, pescados ou frutos do mar — quanto nos desafios significativos relacionados à educação e ao compromisso empresarial para melhorar a cultura de segurança de alimentos. Para isso, é necessário um esforço coletivo.

No último encontro da Global Food Safety Initiative (GFSI) em Singapura, com o tema “Alimentos seguros para todos”, foram discutidos alguns dos desafios globais nessa área.

A FAO, em seu evento de 2024 em Georgetown, Guiana, destacou como prioridade número um “Melhorar a Produção”, focando em garantir modelos sustentáveis por meio de cadeias de suprimentos e valor eficientes e inclusivas. Esse esforço busca assegurar a resiliência e a sustentabilidade dos sistemas alimentares em um contexto de mudanças climáticas e ambientais, reforçando a importância de melhorar a cultura de segurança de alimentos.

No livro destaca-se que:
“A cultura de segurança de alimentos não se trata de sistemas ou processos, mas de pessoas”.

Estatísticas e certificações que lideram a transformação

No relatório Overall Rankings Table da GFSI de 2022, que avalia segurança e qualidade alimentar em uma escala máxima de 100%, alguns países latino-americanos se destacaram:

  • Costa Rica: 18º lugar
  • Chile: 25º lugar
  • Peru: 37º lugar
  • Panamá: 40º lugar
  • México: 43º lugar
  • Equador: 48º lugar
  • Bolívia: 52º lugar
  • Argentina: 54º lugar

Em termos de volume de certificações, Brasil, México e Chile lideram, apoiados por fatores como densidade populacional e tamanho das empresas.

Certificações como FSSC 22000, BRCGS, IFS e ISO 22000, em conjunto com a GFSI, desempenham um papel crucial ao promover uma filosofia baseada em três pilares:

  • Compromisso transversal
  • Capacitação contínua
  • Melhoria contínua

Essas certificações fortalecem a confiança do consumidor e aumentam a competitividade das empresas no mercado global.

Construindo uma cultura de segurança de alimentos na América Latina

A cultura de segurança de alimentos não se constrói da noite para o dia. Ela depende de fatores internos e externos e exige um compromisso real de todos os envolvidos: diretores, gerentes, supervisores, operadores e colaboradores.

Sete passos para construir essa cultura

  1. Compromisso da liderança: Integre a segurança de alimentos na missão e visão organizacional, garantindo que todos abracem esse compromisso.
  2. Políticas e objetivos claros: Defina estratégias específicas e mensuráveis, alinhadas às regulamentações, utilizando linguagem clara e consistente.
  3. Sensibilização e capacitação contínua: Escute ativamente, promova o aprendizado e capacite em boas práticas de segurança de alimentos.
  4. Comunicação eficaz: Estabeleça canais bidirecionais para informar e coletar feedback, estimulando a integração nos processos e a delegação de responsabilidades.
  5. Medição e ajustes contínuos: Use KPIs e auditorias regulares para monitorar o desempenho e guiar melhorias.
  6. Reconhecimento de boas práticas: Motive os colaboradores com programas de reconhecimento que fortaleçam a autoestima e a confiança.
  7. Melhoria contínua: Reforce a ideia de que a segurança de alimentos é um processo em constante evolução.

Construir uma cultura de segurança de alimentos na América Latina é desafiador, mas possível. Depende do compromisso coletivo e da adoção de metodologias globais.

A segurança de alimentos não é apenas uma meta, mas um caminho para a excelência operacional e a confiança do consumidor.

Claudio Riquelme Jorquera é engenheiro de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente, auditor líder em Sistemas de Gestão de Qualidade – Black Belt (Kaizen) PMI e especialista em Melhoria Contínua (www.cibica.org)

Imagem: Anna Shvets

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Como o Janeiro Branco pode impactar positivamente a segurança de alimentos

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A campanha Janeiro Branco é um movimento nacional que busca conscientizar a população sobre a importância da saúde mental. Reconhecida oficialmente como lei federal desde 2023 (Lei 14.556/23), a campanha tornou-se um marco no calendário brasileiro. O tema deste ano, “O que fazer pela saúde mental agora e sempre?”, propõe estimular indivíduos, famílias, empresas e instituições públicas e privadas a priorizarem ações concretas em prol do bem-estar mental coletivo.

A escolha do primeiro mês do ano reflete o simbolismo de recomeço, enquanto a cor branca representa uma folha de papel ou uma tela em branco, simbolizando a oportunidade de escrever novas histórias, desejos e sonhos. Essa analogia inspira reflexões e decisões voltadas à construção de um futuro mais saudável emocionalmente para todos.

Quando consideramos o contexto de Food Defense, a conexão está em como a saúde mental dos colaboradores impacta diretamente a segurança intencional da cadeia de alimentos. Vamos explorar essa relação:

Valorização da saúde mental para prevenir riscos internos

  •  A proposta do Janeiro Branco incentiva as organizações a priorizarem a saúde mental dos colaboradores. Isso é crucial para Food Defense, pois funcionários emocionalmente equilibrados têm menor probabilidade de cometer atos intencionais ou negligentes que coloquem a segurança dos alimentos em risco.
  • Colaboradores que se sentem reconhecidos e apoiados têm maior engajamento e senso de responsabilidade, reduzindo vulnerabilidades internas.

Criação de um ambiente psicologicamente seguro

  • A campanha destaca a importância de um ambiente de trabalho saudável, onde os colaboradores possam expressar preocupações ou desconfortos.
  • Um ambiente psicologicamente seguro é essencial em Food Defense, pois estimula a comunicação aberta sobre possíveis vulnerabilidades ou suspeitas de atos mal-intencionados, criando uma cultura de segurança.

Prevenção de atos de sabotagem ou negligência

  • Uma das preocupações em Food Defense é o risco de sabotagem por parte de pessoas insatisfeitas ou mentalmente fragilizadas.
  • O Janeiro Branco pode ajudar a empresa a identificar e tratar problemas emocionais que, se ignorados, poderiam levar a comportamentos prejudiciais.

Fortalecimento da cultura organizacional

  • Janeiro Branco promove o diálogo sobre saúde mental, fortalecendo a cultura organizacional.
  • Uma cultura organizacional forte e integrada está diretamente ligada ao sucesso de Food Defense, pois equipes coesas e saudáveis trabalham melhor para proteger os alimentos contra ameaças intencionais.

Redução do estresse e aumento da vigilância

  • O estresse pode prejudicar a atenção e a capacidade de seguir protocolos, elementos essenciais para a segurança dos alimentos.
  • Iniciativas do Janeiro Branco, como palestras, atividades de relaxamento e programas de apoio psicológico, ajudam os colaboradores a manterem o foco e a vigilância necessária para identificar riscos em Food Defense.

E como aliar Janeiro Branco ao Food Defense?

  • Campanhas integradas: Realizar ações que unam os temas, como palestras sobre saúde mental e sua relação com a segurança dos alimentos.
  • Capacitação emocional: Oferecer treinamentos para ajudar os colaboradores a lidar com o estresse e reforçar a importância da vigilância.
  • Monitoramento contínuo: Implementar políticas de saúde mental no ambiente de trabalho que também contribuam para o fortalecimento das estratégias de Food Defense.
  • Incentivo à comunicação aberta: Criar canais seguros para que os colaboradores possam reportar problemas emocionais ou vulnerabilidades na segurança dos alimentos.

Ao unir os princípios do Janeiro Branco com os objetivos de Food Defense, as empresas podem criar um ambiente mais saudável, seguro e comprometido com a proteção da cadeia alimentar, promovendo tanto o bem-estar humano quanto a segurança do consumidor.

Por Kendra Rothbrust de Lima

Imagem: Julia Avamotive

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