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Embalagens para alimentos: entenda por que não teremos um regulamento de Boas Práticas de Fabricação no Brasil

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) iniciou este processo regulatório em 2008 com a elaboração do Guia de Boas Práticas de Fabricação para Embalagens. Em 2009 foi publicada a Consulta Pública CP nº 79/2009 com a proposta de Resolução sobre Guia de BPF e Inspeção Sanitária de Estabelecimentos Produtores de Embalagens e Equipamentos em contato com alimentos. A CP nº 79/2009 não foi concluída, e o tema foi incluído na Agenda Regulatória 2013-2014, permanecendo na Agenda 2015-2016.

Como publicado aqui no blog, em maio de 2015, a ANVISA publicou nova consulta, a CP nº 42/2015 referente à proposta de Resolução sobre as Boas Práticas de Fabricação (BPF) para estabelecimentos produtores de embalagens para alimentos. O período para recebimento de contribuições foi de 60 dias, terminando em julho de 2015.

De acordo com o Relatório de Análise da Participação Social nº 20/2015 da ANVISA, a CP nº 42/2015 teve a participação de 38 respondentes, sendo 34% do setor regulado (indústrias e associação) e 26% de profissionais relacionados ao tema. A CP recebeu 227 propostas de alteração, inclusão ou exclusão de dispositivos, com destaque para dois temas: i. procedimentos de BPF e ii. edificações e instalações. Cerca de 55% dos respondentes manifestou concordância parcial com a proposta, não havendo discordâncias, e aproximadamente 71% apontou impacto positivo relativo à proposta (padronização e melhorias das Boas Práticas de Fabricação dos estabelecimentos produtores de embalagens para alimentos).

A Reunião de Consolidação das contribuições da CP nº 42/2015 foi realizada na ANVISA no primeiro semestre de 2016, e o tema foi concluído em dezembro de 2017 durante a 32ª Reunião Ordinária Pública (ROP) da Diretoria Colegiada. Conforme consta na ATA ROP 032/2017, a Diretoria Colegiada decidiu por unanimidade arquivar a minuta da RDC (Resolução de Diretoria Colegiada) referente a Boas Práticas de Fabricação para estabelecimentos produtores de embalagens destinadas ao contato direto com alimentos e lista de verificação das Boas Práticas de Fabricação para estabelecimentos produtores de embalagens destinadas ao contato direto com alimentos.

O Despacho de Arquivamento nº 117 de 26 de dezembro de 2017 (publicado no Diário Oficial da União – DOU de 27/12/2017) elenca as seguintes justificativas  para o arquivamento: i. divergência internacional da estratégia regulatória proposta, especialmente em relação àEuropa e EUA, onde há autorregulação do setor de embalagens e as normas são menos prescritivas, e ii. falta de informações confiáveis sobre o impacto regulatório da proposta, principalmente para pequenos e médios fabricantes.

A necessidade de regulamentar as Boas Práticas de Fabricação para Embalagens de Alimentos surgiu devido à ausência de norma específica para esta categoria. Segundo a Justificativa da ANVISA para a CP nº 42/2015, a publicação de regulamento específico favorece o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) porque padroniza as ações fiscais; além disso, proporciona melhor orientação ao setor regulado sobre as exigências sanitárias para a categoria. As dúvidas sobre o tema são comuns e já foram abordadas aqui no blog.

Os regulamentos técnicos aplicados até hoje são relativos à produção de alimentos: Portaria nº 326/98 e RDC nº 275/02. Também o item 3.1 da RDC nº 91/2001 determina que os materiais e embalagens em contato com alimentos sejam fabricados segundo as Boas Práticas de Fabricação, visando evitar riscos à saúde humana ou alterações inaceitáveis nos alimentos (composição ou características sensoriais).

Importante ressaltar que Boas Práticas de Fabricação para Embalagens de Alimentos é tema de grande relevância para Food Safety. De acordo com a Justificativa da ANVISA anteriormente citada, um dos motivos para a regulamentação são os perigos à saúde do consumidor: i. químicos (migração de substâncias acima do limite regulamentado ou emprego de substâncias não permitidas para uso em alimentos), ii. microbiológicos (contaminação) e iii. físicos (corpos estranhos, por exemplo, cacos de vidro ou pedaços de plástico). Logo, o assunto pode voltar para a Agenda da ANVISA, e não necessariamente como proposta de RDC, mas de outro instrumento regulatório, por exemplo Guia.

Como citado anteriormente, uma das justificativas para arquivamento da proposta de RDC foi a falta de informações do impacto regulatório da proposta. A Análise de Impacto Regulatório (AIR) é um tema em discussão e em constante evolução na ANVISA (veja Guia de AIR publicado no início de 2019 – vigente e aberto para contribuições da sociedade e setor regulado). Portanto, para abertura de nova discussão sobre Boas Práticas de Fabricação para Embalagens de Alimentos, é importante que os interessados observem os mecanismos regulatórios disponíveis como o Guia da AIR. Lembro que também está prevista atualização anual da Agenda Regulatória da ANVISA 2017-2020, processo que levará em conta a identificação de problemas regulatórios.

O processo de Análise de Impacto Regulatório subsidia a tomada de decisão do órgão e favorece tanto a transparência do processo de regulação como o diálogo entre governo, setor regulado e sociedade. Uma das etapas da AIR inclui a análise e definição do problema regulatório, bem como suas causas e consequências. Tal fase também identifica os agentes afetados pelo problema e define os objetivos pretendidos com a atuação regulatória. E é aqui que os profissionais de Food Safety têm muito para contribuir na discussão das Boas Práticas de Fabricação para Embalagens de Alimentos. Acompanhe os temas da Agenda e fique de olho no DOU!

Talita Fernanda Santos Andrade é engenheira de alimentos e especialista em assuntos regulatórios.

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O aumento do empreendedorismo e a relação com a segurança dos alimentos nos serviços de alimentação

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Foi possível perceber nos últimos tempos um crescimento exponencial de micro e pequenas empresas especialmente no setor alimentício, sendo esse um dos setores que sempre possui crescimento econômico garantido, até porque mesmo diante de grandes crises financeiras, não deixamos de nos alimentar, seja pela necessidade fisiológica ou pelas questões afetivas, culturais e sociais que a alimentação representa para os indivíduos.

Segundo o site e-commercebrasil, no primeiro semestre do ano de 2018, o Brasil bateu recorde histórico na abertura de empresas, registrando um marco de 1,2 milhão de novas empresas. Deste total de empreendimentos, o que possui maior crescimento e ocupa o topo do ranking do mercado nacional são os serviços de alimentação, sendo que mais de 80% destas empresas são do tipo MEI (Micro Empreendedores Individuais).

Como o cenário está favorável para o pessoal que está empreendendo e inovando no ramo alimentício, devemos criar um alerta para os empresários dessa área: o foco não deve ser apenas a inovação de produtos, as “sacadas” de marketing e postagem nas redes sociais para seu negócio crescer, pois tão importante quanto isso é a segurança dos alimentos oferecidos aos consumidores.

Vamos compartilhar as principais dicas para aqueles que estão iniciando um novo negócio em serviços de alimentação e que desejam obter êxito, lucro e a confiança dos seus clientes:

– Documentação e registro: segundo a Resolução RDC 216 (2004) da Anvisa, os serviços de alimentação devem dispor de documentos específicos, tais como: Manual de Boas Práticas de Fabricação e os Procedimentos Operacionais Padronizados. Com esses documentos bem descritos e implementados, os estabelecimentos garantem a segurança dos alimentos, através de ações como a higienização das instalações e equipamentos, controle de saúde dos manipuladores, controle de vetores e pragas urbanas, entre outros. Agora, se o proprietário não possui experiência, formação ou nem sabe o que são esses documentos, deve contratar profissionais da área para sua realização e implantação, ou até mesmo empresas de consultoria e prestadores de serviços qualificados para tais fins.

– Legislação: muito mais do que possuir um amontoado de papéis arquivados no escritório sobre Boas Práticas de Fabricação (BPF), higiene e qualidade, os proprietários devem ter noções básicas de legislação sanitária de serviços de alimentação, sendo as principais:

  • Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004: Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação.
  • Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002: Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos.

-Higiene e asseio pessoal: um dos pontos fundamentais para garantia da segurança dos alimentos nos serviços de alimentação é a higiene e asseio pessoal dos manipuladores de alimentos. É importante que todos os colaboradores entendam as regras básicas de Boas Práticas de Fabricação e saibam da importância da sua aplicabilidade. Alguns pontos fundamentais são: lavagem de mãos, uniforme limpo, cabelos protegidos, barba feita, ausência de maquiagem e adornos, entre outros.

-Limpeza e desinfecção: a limpeza e a desinfecção dos estabelecimentos é quase um cartão de visita do local, já que muitos clientes não entrariam em um local sujo, com maus odores e risco de contaminação ao se alimentar dos produtos oferecidos naquele estabelecimento. A limpeza das áreas e dos equipamentos é fundamental e devem ser utilizados produtos de limpeza sem perfume e destinados para área processadora de alimentos.

Como o tema é vasto e existem diversos tipos de estabelecimentos que estão dentro da categoria de serviços de alimentação, vou dividir minhas postagens de forma específica, falando separadamente sobre cada tipo de local. Dividirei em: padaria, pizzaria, confeitaria e lanchonete.

Aguarde as demais postagens e caso tenha sugestões, dúvidas e necessidades específicas, coloque nos comentários para que eu possa abordar.

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Cultura da Segurança dos Alimentos: 7 práticas vencedoras para definir um tom positivo!

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O sucesso da organização é medido através da consistência comportamental, do engajamento e comprometimento da equipe.  O caminho para essa visão está diretamente focado na cultura da empresa, e não somente em melhores tecnologias, padrões de certificação ou soluções de inteligência artificial, mas na otimização da cultura por meio da política de Segurança dos Alimentos. Várias pesquisas foram realizadas em diversas indústrias de alimentos e foi observado que o foco de trabalho é a cultura da empresa. Alguns indicadores concretos mostram a maturidade e o desempenho financeiro dessas empresas.

Como cumprir essa visão e alcançar resultados elevando a performance dessas empresas?

Encontre o caminho 

Trinta e cinco líderes de grandes empresas globais se uniram ao GFSI – Global Food Safety Initiative para construir e delinear cinco dimensões distintas, porém integradas, relevantes para a cultura de segurança de alimentos e publicaram o seu posicionamento técnico, desenvolvido por líderes, para líderes (by leaders, for leaders).

Figura 1

O projeto consiste em cinco dimensões (Figura 1) baseadas em uma revisão de sete ferramentas de avaliação da cultura existente. Para que você entenda a sua cultura atual e busque melhorá-la, você deverá olhar para as cinco dimensões traçadas. Nenhuma dimensão sozinha poderá fortalecer a sua atual cultura.  Para descrever a visão e a missão da posição do GFSI, os líderes recomendam sete práticas vencedoras para definir um tom positivo (topdown).

Para cada passo (Figura 1), você encontrará um resumo das ideias práticas a serem consideradas em sua jornada. Selecione aquela que pode ser integrada à sua cultura e ao seu sistema e crie um caminho único e impactante para melhorar e manter o desempenho de segurança alimentos da sua empresa!

Atualmente, não é mais uma questão de “será que a cultura impactará a segurança alimentos…” e sim uma questão de como encontrar e comprometer-se com o melhor caminho para a empresa crescer.

Definindo o tom 

O líder deve definir um tom positivo através da palavra e da ação, exercitando e modelando bons princípios de liderança trazendo ao time orientação e alinhamento, aumentando assim a eficácia da cultura da organização.

Os líderes devem estabelecer um diálogo claro e descrever um cenário cultural desejado para a excelência em segurança de alimentos.

Abaixo, compartilho as observações que os líderes definiram para impactar positivamente a cultura através das “Sete Práticas Vencedoras(Figura 2) que definirão o tom certo para a excelência cultural em segurança alimentos.

 

 

Figura 2

Prática 1: Garantir a consistência 

As pessoas em uma organização prestam atenção aos comportamentos observados, tanto bons quanto ruins. Quando a organização vê consistência nos líderes, isso reforça seus próprios comportamentos. Sua adesão consistente a comportamentos adequados de segurança de alimentos reforçará padrões consistentes em toda a organização. Essa coerência apoiará o aprimoramento da cultura de segurança de alimentos da organização. Por outro lado, o comportamento inconsistente poderá levar ao caos com desvios das expectativas e padrões de segurança de alimentos. Isso resulta em uma cultura menos coerente e será facilmente reconhecida pelos clientes e parceiros de negócios em detrimento da organização.

Compartilhar seus próprios objetivos e resultados de segurança de alimentos com sua equipe é uma excelente maneira de modelar responsabilidade e transparência e mostra como os objetivos individuais estão interligados com o avanço da cultura da organização.

Prática 2: Alocação de recursos para Segurança de Alimentos 

A alocação de recursos financeiros pelos líderes envia uma forte mensagem à organização de que a segurança de alimentos é importante. Esses recursos podem ser capital para melhorias na planta, investimentos no sistema de TI, despesas com treinamento e educação, viagens para auditorias de fornecedores, participação em reuniões externas ou solicitação de expansão de pessoal para conduzir e apoiar a agenda de segurança de alimentos. O impacto dessas alocações vai além do projeto imediato. Isso fala em voz alta aos colaboradores sobre a importância da segurança de alimentos na organização, aumentando assim a eficácia da cultura de segurança de alimentos. Os pedidos de recursos devem sempre caber dentro do modelo de cultura corporativo e de segurança alimentos e levar a futuros benefícios positivos.

Prática 3: Transparência

Uma visão clara do estado atual (pontos fortes, fracos e vulnerabilidades) é um importante passo transformador em qualquer jornada cultural. Essa visão clara exige a construção e a manutenção da confiança e o reforço da mentalidade de que o conhecimento e o compartilhamento de informações são fundamentais para alcançar a excelência. Dificuldades de desempenho e desafios ao longo da jornada são importantes dados para compartilhar e refletir de forma construtiva. Essa reflexão ajudará a construir a resiliência organizacional e a prever os processos de prevenção a partir do zero. Isso também reduz a probabilidade de o mesmo problema ser repetido em toda a organização por outro site.

Aprender com os erros, fracassos ou “quase erros” é uma experiência preciosa para impulsionar uma mudança cultural positiva.

Celebrar e identificar perdas. O líder deve reconhecer abertamente e fornecer uma apreciação pela transparência do compartilhamento das potenciais perdas, incidentes e riscos identificados. Esse reconhecimento demonstra apreciação pela identificação de quase-acidentes e condições de alto risco que são sistematicamente compartilhados como parte da aprendizagem e  melhoria. Desenvolva um banco de dados que liste os casos internos e externos, como parte da análise e reflexão e que sejam relatados e compartilhados em fóruns de liderança criando um senso mais aberto para refletir sobre as vulnerabilidades.

Defina o tom certo e garanta transparência. Analise os indicadores de desempenho removendo todos os filtros existentes para que surjam todos os resultados. Recompense e reconheça as pessoas por compartilhar seus aprendizados e destaque as economias e perdas evitadas pela solução que elas forneceram à organização. Recompense e reconheça pessoas que não têm medo de falar quando vêem ou percebem algo que não está dando certo. Forneça insights para seus líderes sobre como outras indústrias se destacaram ao adotar a transparência. Duas excelentes leituras para aprofundar nesse conhecimento são: Black Box Thinking – A verdade surpreendente sobre o sucesso (Pensadores da Caixa Preta) e a A Reclamação é um Presente.

Prática 4: Apreciação 

O reforço positivo e o reconhecimento do esforço realizado, mesmo sem os resultados desejados, são uma abordagem vencedora que incentiva comportamentos construtivos. Para ser eficaz, o feedback deve ser oportuno, regular, equilibrado e consistente. Embora a apreciação não possa ser distribuída aleatoriamente, um líder não deve perder a oportunidade de elogiar grandes resultados, esforços contínuos significativos e conquistas marcantes, consistentes com os valores e a visão da empresa. O ciclo positivo de apoio e elogio a líderes não pode ser subestimado.

É amplamente sabido que o engajamento e a motivação dos colaboradores são amplificados pela crença de que suas contribuições fazem a diferença e quando acreditam na missão e visão da organização. Ao estabelecer um caminho para a excelência, o líder deve reconhecer as contribuições essencialmente importantes promovendo a missão e acrescentando um multiplicador motivacional em toda a organização. Um programa de reconhecimento de qualidade deve comemorar as contribuições vitoriosas e diversificadas de toda a empresa.

É importante refletir sobre as pequenas e grandes contribuições e garantir que todas as funções dentro da organização se sintam capazes de participar. Um fórum de reconhecimento pode ser usado para reforçar o mantra organizacional da excelência cultural em segurança de alimentos. Os esforços individuais não são eventos aleatórios, mas pequenos passos ao longo da jornada.

Estabeleça um programa de prêmios e reconhecimento especificamente para programas de segurança e qualidade dos alimentos. Esse programa poderá ser ampliado para colaboradores, times, departamentos ou sites. Forneça treinamentos e missões especiais para aqueles que têm a ambição de alavancar suas carreiras e desenvolver o seu perfil profissional em segurança de alimentos e gestão da qualidade. Premie pequenos reconhecimentos em reuniões de rotina e eventos programados e reconheça contribuições e comportamentos individuais. Estes podem ser cartões de presentes, lembranças com o logotipo da empresa ou um certificado de elogio personalizado. Crie programas formalmente estruturados que incentivem a identificação de soluções (e celebrem!) sem medo de consequências negativas. Trabalhe em uma abordagem just-culture concentrando-se em descobrir por que os problemas acontecem, não em quem é o culpado.

 Prática 5: Adaptabilidade 

A compreensão e a efetivação da mudança cultural na segurança de alimentos exigirão a adaptação às culturas existentes em diversas organizações, que podem estar separadas geograficamente, ter diferentes perfis de clientes, usar diferentes processos e ter diferentes níveis de maturidade organizacional. Isso também pode incluir a incorporação de novas culturas integradas por meio de joint ventures (alianças estratégicas), fusões e aquisições.

Embora alguns princípios fundamentais possam permanecer sagrados, a praticidade dita que nem sempre haverá uma solução única para todos os tipos de normas ou políticas de segurança de alimentos. Ao revisar uma política específica ou implantação de programa, o líder deve entender a maturidade da cultura operacional, assim como os programas atuais de segurança de alimentos. Garantir uma compreensão de ponta a ponta dos perigos e riscos está documentado em vários modelos de cultura de segurança alimentos.

Tenha uma discussão aberta e desafiadora das políticas e programas de segurança de alimentos com os principais interessados quando eles estão sendo elaborados e através da implantação para garantir o verdadeiro alinhamento. Uma equipe de revisão bem representada pode sinalizar desafios significativos e possíveis soluções em um estágio inicial. Um líder pode definir o tom certo, procurando garantir a visibilidade e a aceitação na primeira etapa possível.

O líder deve defender e apoiar ferramentas e modelos padronizados de avaliação de risco que impulsionem a participação no nível local na identificação de riscos e soluções para gerenciá-los. Isso criará uma discussão robusta e factual sobre as condições divergentes e como elas estão sendo gerenciadas.

Prática 6: Acessibilidade

Os grandes líderes devem ser embaixadores e defensores altamente acessíveis e altamente visíveis da excelência em segurança de alimentos. Em certo sentido, um líder em segurança de alimentos é uma posição central que precisa se estender em todas as direções, hierarquicamente e funcionalmente, para garantir que a mensagem, o programa, o progresso, os sucessos e as oportunidades sejam ouvidas e compartilhadas. Trata-se de construir um relacionamento de confiança. Embora processos formais como boletins informativos e atualizações eletrônicas sejam úteis, um toque pessoal por meio de contato face to face (cara a cara) será necessário para construir um relacionamento de trabalho respeitoso entre as partes interessadas.

Uma incapacidade crônica de ser acessível por telefone, e-mail ou face to face poderia, inadvertidamente, enviar uma mensagem de que a segurança de alimentos pode não ser tão importante quanto outros tópicos da agenda corporativa. Os líderes devem garantir que reuniões de revisão de segurança de alimentos bem organizadas e orientadas pela agenda sejam realizadas rotineiramente – mesmo quando não houver mudança ou atualização significativa – para manter todos informados e concentrados na missão. Líderes devem estar sempre disponíveis para atualizações de segurança de alimentos. Há sempre oportunidades proativas de fornecer revisões, comentários e lições aprendidas para casos além dos muros da própria organização, mas presentes na mídia. Grandes lideranças de segurança de alimentos devem agendar reuniões individuais de rotina com membros da equipe, líderes funcionais e líderes de qualidade.

Prática 7: Avaliação 

Uma revisão regular do desempenho da segurança de alimentos pode garantir a segurança no nível executivo de que os programas refletem os valores corporativos e demonstram a melhoria contínua, além de fornecer governança para atividades em toda a empresa. O elemento de avaliação e relatório é a oportunidade de um líder para fornecer o painel, as principais medidas, a estratégia e a direção para os tomadores de decisão e, por outro lado, fornecer feedback e orientação para a equipe. É de vital importância a crítica, o estabelecimento de metas e o fornecimento de indicadores no progresso de segurança de alimentos.

Progresso, riscos ou necessidades de investimento que nem sempre fazem assinatura em uma sala de diretoria executiva correrão o risco de perder visibilidade em qualquer empresa. As métricas devem ser relatadas de maneira sucinta, destacando resultados, tendências, ações necessárias e, idealmente, o nível de priorização de riscos.  Qualquer programa sem governança e revisão de progresso de rotina perderá rapidamente força e correrá o risco de se tornar extinto. Os líderes devem estar cientes dos riscos para o desempenho e a reputação da organização, e está no papel do líder garantir que as métricas estejam em vigor e sejam rotineiramente discutidas.

Líderes em segurança de alimentos devem garantir uma revisão regular e disciplinada entre os executivos mais graduados da organização. Eles também devem alinhar-se aos KPIs fornecendo uma visão franca sobre o progresso e os desafios, com o uso de indicadores. Líderes executivos devem reservar tempo para participar das reuniões de revisão de segurança de alimentos e se envolver ativamente com outros líderes. Quando não puder comparecer à reunião principal, solicite uma discussão individual.  Ter um executivo corporativo, além do líder em segurança de alimentos, comunicar notícias, resumos e atividades de segurança de alimentos em todas as reuniões do conselho é uma ótima maneira de definir o tom em que todo líder pode e deve falar em segurança de alimentos.  Uma declaração de política, assinada por líderes deve estar em vigor para esclarecer os padrões e expectativas de relatórios para a missão de segurança de alimentos.

Uma ótima maneira de pensar sobre a jornada da cultura de segurança alimentos é relacioná-la à marcha de 20 milhas descrita por Jim Collins em seu livro Great by Choice. Para o guru americano Jim Collins, a receita das empresas vencedoras é consistência.

Garantir uma ligação clara e intuitiva dos valores e visão organizacionais à agenda de segurança alimentos. Reputação, confiança do consumidor e integridade da marca são essenciais para o sucesso organizacional. Garantir que os líderes em todas as funções entendam isso e abraçar seu papel na proteção e construção da confiança através da excelência em segurança alimentos será um catalisador para a transformação cultural.

Fonte:

https://www.foodsafetymagazine.com/magazine-archive1/junejuly-2018/company-culture-and-the-path-to-improved-food-safety-setting-the-tone-to-support-a-strong-food-safety-culture/

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GFSI lança guias sobre saneantes químicos para uso em alimentos

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Fruto de mais um grupo de trabalho, o GFSI lança dois manuais sobre saneantes químicos para uso em alimentos:

VOLUME 1
The optimal usage of cleaning agents, sanitisers and disinfectants to minimise the risk of traces in foods (32 páginas)

VOLUME 2

Cleaning agents, sanitisers and disinfectants in food businesses: detection of traces and human risk assessment processes (42 páginas)

Veja o resumo executivo de cada uma das publicações e aproveite esta informação técnica!

Volume 1:

Uma adequada higiene dos alimentos está relacionada ao controle de microorganismos prejudiciais e traços de produtos químicos, que podem causar doenças aos consumidores. Além disso, a boa higiene dos alimentos ajuda as empresas a produzir produtos alimentícios de alta qualidade.
A limpeza eficiente, seguida de sanitização/desinfecção aprovados, reduz o potencial de contaminação cruzada dentro de uma instalação de alimentos. Estes passos são elementos fundamentais para garantir higiene que ajudará as empresas a:
– Cumprir a legislação;
– Reduzir o risco de intoxicação alimentar entre os consumidores;
– Proteger a reputação da empresa.
Este guia fornece uma visão geral de alto nível das considerações que um operador de empresa de alimentos precisa considerar em relação à garantia de práticas higiênicas apropriadas. Destina-se a uma variedade de leitores, da transportadora de alimentos ou agricultor até indústrias globais e estabelecimentos de restaurantes / varejo.
O guia foca no uso responsável e eficaz de saneantes químicos na higiene de alimentos para garantir que os vestígios químicos sejam minimizados nos alimentos como resultado de práticas de limpeza, sanitização/desinfecção, especialmente de equipamentos de contato com alimentos e outras superfícies de contato com alimentos, incluindo as mãos. O objetivo é garantir que o risco de traços nos alimentos seja minimizado, garantindo a eficácia microbiológica.
Os modelos de documentos são incluídos como exemplos de boas práticas e podem atuar como pontos de partida úteis para a preparação dos documentos específicos da instalação.

 

Volume 2:

Limpeza na indústria de alimentos é um complexo processo.  Resultado físico, químico e (micro) limpeza biológica são pré-requisito para a segurança dos alimentos. Esse documento fornece uma visão geral dos métodos existentes para a detecção de traços em pontos relevantes processo de produção de alimentos e estabelece critérios e abordagens para avaliação de risco relativo à aquisição e aplicação
de produtos químicos na higiene dos alimentos. As empresas do setor alimentício e os produtores primários (incluindo pequenas entidades) podem utilizar estes critérios como guia.
Boas Práticas de Fabricação e HACCP são geralmente abordagens eficazes para produzir alimentos seguros. Este documento dá suporte à
operadores de empresas de alimentos ao longo da cadeia de fornecimento para identificar riscos e etapas críticas de controle, dependendo dos métodos de limpeza (por exemplo, limpeza úmida) e dos produtos químicos em uso (por exemplo, sanitizantes ou desinfetantes). Um processo padronizado de limpeza é de grande importância.

Uma avaliação de risco é necessária para determinar se uma atividade em que introduz agentes de limpeza, saneantes e desinfetantes representa um risco químico conhecido ou razoavelmente previsível. Portanto, este  documento inclui um questionário para ajudar as empresas e os produtores primários a navegarem no processo de avaliação de risco.

Os objetivos de qualquer avaliação preliminar de riscos são (1) identificar a necessidade de limpeza, desinfecção ou sanitização, (2) definir a melhor técnica e (3) identificar onde, por que e como os desinfetantes, desinfetantes e agentes de limpeza são introduzidos no processo de fabricação de alimentos. Quando necessário, uma avaliação de risco humano pode ser necessária para apoiar qualquer decisão de gerenciamento de risco. Além disso, validação, monitoramento e verificação são componentes críticos dos programas de segurança de alimentos e de gerenciamento de qualidade; Esse guia portanto, inclui informações sobre esses componentes.
Trata também da necessidade de métodos analíticos para resíduos químicos ou marcadores avaliados. Uma árvore decisória foi desenvolvida para auxiliar a busca pelo método analítico de ajuste no contexto de uma abordagem de avaliação de risco.
Em resumo, este documento fornece ferramentas úteis para implementar avaliações de risco de riscos químicos na indústria de alimentos (relacionados a saneantes), aplicando vários questionários e árvores decisórias para esse fim.

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Quais as novidades do GFSI de 2019 em Nice?

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Dia 11/04/19 aconteceu em São Paulo o Workshop promovido pela DNVGL, com os compartilhamentos das vivências de alguns participantes como a da palestrante Juliani Kitakawa que abordou os seguintes temas:

– Visão geral da conferência;

– GFSI & Você;

– O futuro da Segurança de Alimentos (SA) em uma pesquisa conjunta entre a DNVGL e o GFSI;

– Cultura de Segurança de Alimentos.

Segundo a palestrante, o evento em Nice contou com 1000 participantes, sendo 477 da Europa e 226 dos EUA. Esta foi a 19ª edição, realizada entre 25 a 28/02/19 (em 2018 foram 1200 participantes em Tóquio). A 20ª edição será no próximo ano, em Seattle.

No dia 25, as plenárias (além de break out Sessions e sessões especiais, tais como blockchain, rastreabilidade, inovação e soluções digitais e tecnologia) foram sobre inovação e soluções em SA; desafios e temas emergentes em SA; como avançar com o Global Markets; lições aprendidas com as novas tecnologias e como construir uma cultura SA coesa.

No dia 26/02/19, na seção opcional, ocorreu uma conversa para expor os trabalhos e explicar o GFSI, que faz parte do The Consumer Goods Forum, com 400 membros, envolvendo na comunidade indústrias, organismos certificadores, governos, fornecedores, proprietários da normas, varejos. São 7 grupos regionais, com Brasil dentro do grupo formado em 2015.

Principais trabalhos GFSI contemplam a harmonização através de benckmark, capacidade de crescimento através de Global Markets e mercados emergentes e buscar parcerias público-privadas para alinhar a mesma linguagem do mercado. Projetos público-privados existem em 9 países com entidades intergovernamentais (182 países para 9 esquemas reconhecidos) com intercâmbio entre empresas de modo global. Trabalhar com equivalências técnicas e reconhecimento de normas dentro dos programas governamentais, qualificação de auditores também são objetivos. Parcerias com alinhamento com as autoridades dos dados, harmonizações entre Ministérios da Agricultura da Argentina e Chile, por exemplo.

Solução ao número de certificados de 2003 até 2018 com 13.000 certificados emitidos com 20 escopos e 20 categorias reconhecidas. Entretanto, ainda é muito pouco, pois nem 15% das indústrias globais são certificadas e menos de 1% da produção primária é certificada.

GFSI Board com a BRF sendo a única brasileira no time e este ano, em 7 de junho de 2019 será o Dia Mundial da Segurança de Alimentos, anunciado no evento a ser comemorado anualmente. Em 2020 GFSI estará em sua 20ª edição com promoção de SA utilizar a #GFSIbirthday para compartilhar globalmente as suas ações como celebração.

O que se espera de SA? Em novembro e dezembro de 2018 foram realizadas pesquisas com 1.643 profissionais de alimentos e bebidas em todos os continentes com empresas certificadas, sendo 48,7% as respostas vindas de empresas europeias, com representantes da indústria de alimentos com 60% com até 500 colaboradores e empresas líderes que consideram SA como estratégias de negócios e elas se declaram líderes e vão gastar mais do que já gastam nos próximos 3 anos. As razões de se certificarem dividem-se em: 88% para atender aos consumidores, 69% às leis e 61% por requisitos de clientes. Riscos levantados foram: riscos operacionais e falta de Cultura SA em 2º lugar, antes de Compliance e antes de fraudes alimentares (ranking das preocupações). As ações: 85% ter HACCP, 68% procedimentos para SA desde o design, 66% gestão operacional e 64% programa SA. Quais benefícios? Atender requisitos legais, seguido de diminuir recall e depois melhorar imagem e reputação da marca, melhorar a qualidade e segurança do produto e melhorar a cultura. Por que certificar? Os clientes exigem e agregam valor às companhias e as partes interessadas (51% disseram que muito e 88% na neutralidade e para as líderes 72% e 94%, respectivamente). A certificação cascateia na cadeia de fornecimento? 70% acreditam que sim. Quais benefícios da certificação dos fornecedores? Confiança, produtos seguros, conformidades com relação às certificações e requisitos. Quanto investir? 48% gastaram mais do que gastam hoje e 42%  gastarão o que já gastam hoje. Tecnologia digital: apenas 9% e entre as líderes sobe para 17% e no futuro 48% das líderes desejam novas tecnologias como sensores e beacons, blockchain, smart tags e rotulagens, big data e inteligência artificial.

Conclusão: SA é preocupação na saúde dos consumidores, cultura SA com preocupação no elemento humano, benefícios em toda a cadeia e as empresas líderes vêem mais e as tecnologias ajudam nisso tudo.

Gestão de riscos pela confiança e colaboração através de harmonizações entre certificadoras, governos e crescimento de capacidades das áreas emergentes. Decisões em SA baseadas na ciência e sair do compliance para a cultura.

Acompanhe nos próximos posts a continuação de outras palestras que marcaram esse evento!

3 min leituraDia 11/04/19 aconteceu em São Paulo o Workshop promovido pela DNVGL, com os compartilhamentos das vivências de alguns participantes como a da palestrante Juliani Kitakawa que abordou os seguintes temas: […]

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15 dicas para você resolver o problema com as moscas de uma vez por todas!

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Uma infestação de moscas representa um grande risco à saúde. Pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia identificaram cerca de 351 tipos de bactérias em uma mosca doméstica, as quais podem causar salmonelose, diarreia, febre tifoide, ou seja, as moscas podem disseminar mais doenças do que você pode imaginar.

Estas doenças são transmitidas porque as bactérias ficam grudadas no pelo, patas e saliva da mosca e acabam sendo liberadas sobre a comida quando entram em contato direto. Além disso, as moscas ingerem bactérias patogênicas que se mantêm vivas durante alguns dias dentro do inseto e podem ser depositadas no alimento quando a mosca utiliza a saliva para comer.

As fêmeas procuram por matéria orgânica em decomposição, resíduos alimentares para colocarem seus ovos, como fezes, lixo, alimentos estragados, ambientes com longo tempo sem limpeza, “pontos mortos” em equipamentos, tubulações sujas e cadáveres de animais. As moscas precisam de apenas alguns segundos para transferir os microrganismos para a superfície.

As moscas estão divididas em mais de 100 mil espécies, dentre elas a mosca-varejeira, a mosca-das-frutas e a mosca doméstica. O ciclo de vida médio é de aproximadamente 30 dias. Durante esse período passam do ovo à forma adulta, sendo que no período de 8 a 24 horas a larva nasce e, em seguida, começa a comer o residual ambiente. No terceiro dia, a camada externa da larva endurece e forma um casulo. Após três a seis dias ela passa à fase adulta. Durante a fase reprodutora, uma mosca bota cerca de 100 a 150 ovos. Os tratamentos utilizados para o controle de moscas têm normalmente ação temporária, pois acabam atingindo somente a população adulta, por isso, para uma boa aplicação de controle de pragas é importante estar atento ao ciclo de reprodução deste inseto, realizando aplicações semanais, quinzenais até recuperar a estabilidade do ambiente.

Há grande dificuldade de se encontrar os locais onde elas se desenvolvem, portanto no controle de moscas é importante estar atento ao seguinte:

1. Elimine o residual (matéria orgânica) que está atraindo este inseto como lixo exposto, resíduos orgânicos no ambiente, equipamentos sujos.

2. Instale pontos estratégicos de armadilhas luminosas e biológicas que irão atrair os insetos que estão no ambiente.

3. Remova água parada, pois as moscas necessitam de umidade para se reproduzir

4. As moscas possuem hábitos diurnos e são atraídas por luminosidade. Facilmente você as encontrará nesses ambientes.

5. As moscas são sensíveis a fluxos de ar. Ventiladores e cortinas de ar repelem os insetos.

6. Ralos, quando sujos e com detritos, são grandes atrativos, então realize uma frequente limpeza desses pontos.

7. Lixeiras: garanta que os recipientes de lixo estejam adequadamente fechados. Verifique se os resíduos da sua fábrica ficam próximos a acessos.

8. Garanta que não existam alimentos à disposição das moscas.

9. Instale telas mosquiteiras nas janelas, portas, exaustores, passagens de ar.

10. Cortinas de ar – instale equipamentos para geração intensa de fluxo de ar em portas.

11. Acabe com a desorganização do ambiente. Remova itens armazenados no chão, equipamentos sujos, sacos sujos mal acondicionados em áreas externas.

12. Inspecione, vede e mantenha as portas, fresta em telhados, forros, janelas em boas condições de isolamento e devidamente fechadas, com borrachas, vedações.

13. Durante o recebimento de materiais, não deixe as portas abertas por um longo período de tempo. Portas muito grandes podem não impedir 100% do acesso da praga, por isso esteja atento ao dimensionamento da intensidade de ar a ser aplicada.

14.   As cortinas de ar devem ser inspecionadas com frequência para garantir o funcionamento adequado. Cortinas e portas automáticas devem ser  devidamente protegidas quanto ao desligamento mal intencionado.

15.   Em ambientes com controle de pressão, cheque a pressão de ar positiva/negativa das entradas, pois a pressão interna negativa pode fazer com que insetos voadores entrem na instalação.

A melhor solução para a prevenção de moscas é não lhes dar nenhuma razão, atrativo ou maneira de entrar.

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Erva-mate: cuidados necessários em busca da segurança do alimento

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A erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hil.) é um dos produtos agroindustriais de grande importância econômica no sul do Brasil, sendo produzida nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.  O produto foi levado a outros pontos do país e para países vizinhos por meio das melhorias dos meios de transportes, que incluíram o deslocamento no lombo de animais, carroças trazidas da Europa, barcos a vapor, os trens e, finalmente, os caminhões. Assim, a erva-mate alcançou um patamar de consumo atual que transcende o Brasil e ganha, até mesmo, outros continentes.

A produção e comercialização do produto no país é regulamentada pela ANVISA, IBAMA e INMETRO. O produto ofertado já no comércio é submetido ao controle pela ANVISA que regulamenta, controla e fiscaliza produtos e serviços que envolvam riscos à saúde pública, inclusive padrões com limites de contaminantes, resíduos tóxicos, desinfetantes, metais pesados e outros. Os aspectos fundamentais da qualidade da erva-mate são: a identidade do produto, qualidade microbiológica, toxicologia, composição físico-química adequada e características sensoriais.

Em recente conversa com a pesquisadora em erva-mate do Alto Uruguai gaúcho, Dra. Alice T. Valduga, formulei algumas questões que você pode conferir a seguir.

Como está a produção de erva-mate hoje no Brasil e no mundo?

A produção brasileira de erva-mate mostra um crescimento contínuo desde 2010, visto que em 2014 foram produzidas 935,5 mil toneladas, das quais 64% tiveram como origem ervais cultivados e 36% foram de ervais nativos. Desta produção, 34,6 mil toneladas foram exportadas, o que representou US$ 114,08 milhões. Em escala mundial, além do Brasil, a Argentina é uma grande produtora de erva-mate, atingindo produção de 690 mil toneladas em 2013, e o Paraguai, produzindo aproximadamente 85 mil toneladas.

Quais os cuidados que os comerciantes e consumidores devem ter no armazenamento do produto?

Os cuidados são os mesmos exigidos para outros produtos alimentícios à base de grãos ou farinhas, uma vez que a erva-mate é um alimento sujeito a alterações em caso de oscilação de temperatura e umidade.

Há risco de desenvolver fungos ou de produção de micotoxinas no produto devido à umidade ou mau acondicionamento? Como evitar?

Todo produto alimentício sob umidade pode desenvolver fungos e bolores, portanto durante toda produção é preciso tomar cuidados e na armazenagem da erva-mate deve-se controlar umidade e temperatura. Os fungos presentes nos produtos armazenados, por exemplo, são espécies pertencentes ao gênero Aspergillus, Penicillium e alguns xerófilos. Os fatores que influenciam no desenvolvimento são o conteúdo de umidade do substrato, a temperatura, o tempo, o grau de invasão fúngica antes do armazenamento e a atividade de insetos e ácaros que facilitam a disseminação. Quanto às micotoxinas, já foram encontradas em quase todos os tipos de cereais, oleaginosas e produtos alimentícios, tanto de origem vegetal como animal. As informações disponíveis atualmente permitem avaliar quais os alimentos e matérias primas que apresentam maior risco, pois sabe-se que alguns produtos são muito mais susceptíveis à invasão por fungos potencialmente toxigênicos que outros. A maioria dos alimentos termoprocessados, por exemplo, deve ser protegida por meio do monitoramento da matéria-prima ou, depois de manufaturados, através de análises químicas.

Quais os cuidados necessários durante a produção de erva-mate?

Todos aqueles exigidos no processamento de alimentos, como boas práticas agrícolas e boas práticas de fabricação.

Há risco de perigos químicos (resíduos de pesticidas, por exemplo), presença de material físico (parafusos, pregos, etc.) ou perigos microbiológicos durante a produção da erva?

Dificilmente. Porém, material físico pode vir com a matéria prima e deve-se ter cuidado para o controle destes perigos. Como a erva-mate, durante o processamento, passa por altas temperaturas, os riscos microbiológicos são controlados (a temperatura média da erva na entrada do sapecador é de 400°C e na saída é de 65°C. O tempo de residência oscila em torno de 8 minutos). Quanto aos resíduos de pesticidas há legislação e fiscalização para que não ocorram fora dos limites aceitáveis.

Como evitar que estes perigos cheguem ao consumidor?

É responsabilidade da indústria que tem sido cada vez mais cobrada, seja pelo consumidor seja pela competitividade de mercado; para isso existem as boas práticas de cultivo, manejo e processamento. Ao consumidor cabe os cuidados de armazenagem e durante o consumo.

Quais as principais legislações aplicáveis a produção e comercialização da erva-mate?

Além daquelas normalmente exigidas para produção de alimentos, podemos citar as seguintes legislações:

Resolução – RDC nº 277, de 22 de setembro de 2005

Portaria MAPA nº 381 de 28/05/2009

Há algum perigo de alergias para os consumidores de erva-mate?

Que eu saiba ninguém morreu por tomar chimarrão, muito pelo contrário! A pesquisa nada tem revelado sobre isto.

Quais os benefícios da erva-mate para a saúde?

  • Anti-inflamatória (Pasquali et al., 2011)
  • Antimicrobiana (Carelli, et al., 2011; De Biasi, et al., 2009)
  • Estimulante (Isolabella  et al., 2011; Dutra e Ribani, 2010)
  • Hipocolesterolêmica (Rill et al., 2011; Gao et al., 2013)
  • Anti-estresse oxidativo (Borges et al., 2012;Filip 2000)
  • Cicatrizante (Valduga et al., 2006)
  • Anti-obesidade (Açari et al., 2009)
  • Hipoglicêmico (Kang et al., 2012)

Entrevista concedida por Dra. Alice Teresa Valduga  que possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Passo Fundo (1978), mestrado em Ciências (Bioquímica) pela Universidade Federal do Paraná (1981) e doutorado em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (2002). Atualmente é professora pesquisadora da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões em Erechim. Tem experiência na área de bioquímica, atuando principalmente nos seguintes temas: erva-mate, educação, Ilex paraguariensis, metabólitos secundários e novos produtos. 

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Copiar o resultado de uma análise em múltiplos laudos é fraude!

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Em duas auditorias de minha vida profissional procurei rastrear o resultado analítico de um laudo gerado por uma empresa com o respectivo relatório de ensaio do laboratório terceirizado. Constatei tristemente que embora a empresa emitisse um laudo a cada lote ao seu cliente “informando” os resultados dentro das especificações, ela só enviava amostras para o laboratório prestador de serviços uma vez a cada seis meses.

Achou difícil de acreditar? Vou desenhar:

 

A resposta para isso: “A diretoria não aprova tantas análises  por questão de custo e como os resultados não variam muito e nunca dá problema, utilizamos o resultado mais recente obtido. Nenhum cliente reclamou até hoje”.

Várias empresas consideram em seus estudos de APPCC que podem confiar em um fornecedor por gestão de qualidade assegurada e se respaldam em resultados analíticos dos laudos enviados lote a lote. Contudo, nem todas as empresas avaliam criticamente os laudos enviados por seus fornecedores e pedem para eles discriminarem quais são as análises feitas internamente e as que são terceirizadas. Quando terceirizadas, uma boa prática é solicitar, como medida de verificação, que o laudo do laboratório externo acompanhe o laudo “internalizado” da empresa.

Alguns fornecedores são mais sinceros e emitem um documento com o número do lote enviado, acompanhando a nota fiscal, e numa nota de rodapé explicam quais dos parâmetros apresentados são daquele lote mesmo, ou o resultado de um plano de análises amostral. Isso inclui parâmetros físico-químicos, microbiológicos, micotoxinas, contaminantes inorgânicos, dentre outros.

Contudo, seria mais honesto, caso o fornecedor decididamente não queira assumir o custo das análises, que ele emita uma carta declarando a periodicidade de seu plano amostral. Aí caberá ao seu cliente fazer sua avaliação de riscos e tomar a decisão se esta periodicidade lhe atende ou não. Se não atender, devem ir para a parte não técnica (comercial) da negociação de expectativas.

Copiar o resultado de uma análise em múltiplos laudos é fraude! Não há nada de errado em uma empresa gerar  um documento único compilando resultados de análises que podem ter origens distintas: internas, terceirizadas de um ou mais laboratórios, colocando seu logo e CNPJ. A questão é comunicar que um determinado lote apresenta o resultado analítico tal, sendo que este resultado é proveniente de outro lote.

Ficou claro?

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GLOBALG.A.P. v.5.2 – o que mudou nessa versão?

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Foi publicada em 01/02/19 e torna-se obrigatória após 01/08/19 a nova versão 5.2 do GlobalG.A.P., com maior ênfase em outros requisitos e cláusulas das normas de certificações de Gestão em Segurança de Alimentos reconhecidas pelo GFSI. Esta versão destaca os aspectos de legalidade (mencionados entre parênteses nos requisitos seguintes), cujas principais alterações vem ao encontro das questões emergenciais de segurança de alimentos. Identificaram uma série de oportunidades para um maior desenvolvimento desta nova edição da norma. Portanto, os principais objetivos foram identificados como:

– AF 17.1 item Novo  – Requisito Maior para a produção primária: “O produtor tem um procedimento documentado para produtos não conformes, o procedimento está implementado?”, sendo o critério de cumprimento: “Um procedimento documentado está em vigor, especificando que todos os produtos não conformes devem ser claramente identificados e colocados em quarentena, conforme apropriado. Esses produtos devem ser manipulados ou descartados de acordo com a natureza do problema e/ou requisitos específicos do cliente.”

– CB 5.3.4 com melhor esclarecimento do requisito Menor para a produção primária: “a análise laboratorial considera a contaminação química e física (Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017). O laboratório que realiza as análises é acreditado na norma ISO 17025 ou pelas autoridades nacionais / locais competentes para testar a água?”, sendo o critério de cumprimento: “De acordo com a avaliação de risco e os padrões atuais específicos do setor, se houver risco de contaminação, a análise laboratorial fornecerá um registro dos contaminantes químicos e físicos identificados. Os resultados das análises feitas em um laboratório adequado, acreditado segundo a norma ISO 17025 ou equivalente, ou aprovados para testes de água pelas autoridades nacionais / locais competentes estão disponíveis.
(N/A para sub-escopo Flores e Ornamentais).”

– FV 4.1.4 com melhor esclarecimento do requisito Menor para a produção primária: “a análise laboratorial considera a contaminação microbiológica (Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017), e o laboratório é acreditado pela norma ISO 17025 ou pelas autoridades nacionais / locais competentes para testar a água?”, sendo o critério de cumprimento: “As análises são realizadas por um laboratório adequado, acreditado segundo a norma ISO17025 ou norma equivalente, com capacidade para realizar análises microbiológicas, ou por laboratórios aprovados para teste de água pelas autoridades nacionais/locais competentes. (Não há N/A).”

– FV 5.1.1 com melhor esclarecimento do requisito Maior para a produção primária: “Foi feita uma avaliação de riscos de higiene para a colheita, o processo de transporte dentro da empresa, e as atividades pós-colheita, incluindo o manuseio do produto?”, sendo o critério de cumprimento: “Existe uma avaliação de risco de higiene documentada que cobre os contaminantes físicos, químicos (incluindo alérgenos – RDC 26,  de 02 de julho de 2015) e microbiológicos, derramamento de fluidos corporais (por exemplo, vômito, hemorragia) e doenças humanas transmissíveis, personalizadas para os produtos e processos. Abrange todas as atividades de colheita e manuseio de produtos realizadas pelo produtor, bem como pessoal, objetos pessoais, equipamentos, roupas, material de embalagem, transporte, veículos e armazenamento de produtos (também armazenamento a curto prazo na fazenda).
A avaliação de riscos de higiene deve ser adaptada às atividades da fazenda, às culturas e ao nível técnico do negócio e ser revisada toda vez que os riscos mudarem e, pelo menos, anualmente. (Não N/A).”

– FV 5.2.6 com melhor esclarecimento do requisito Maior para a produção primária: “Os veículos e outros equipamentos utilizados no transporte e carregamento do produto colhido (Portaria SVS/MS nº 326, de 30 de julho de 1997 Resolução-RDC Anvisa nº 275, de 21 de outubro de 2002) são limpos e é feita a sua manutenção, sempre que necessário, de acordo com a avaliação de riscos?”, sendo o critério de cumprimento: “Veículos agrícolas usados para carregamento e transporte de produtos colhidos e / ou produtos embalados são limpos e mantidos de forma a evitar a contaminação do produto (por exemplo: solo, sujeira, esterco animal, derramamentos, etc.).”

– FV 5.7.2 com melhor esclarecimento do requisito Maior para o packing house: “Se existe recirculação da água utilizada para lavagem final do produto, essa água é filtrada e são monitorados periodicamente os níveis de pH e concentração dos desinfetantes?”, sendo o critério de cumprimento: “Onde a água é recirculada para a lavagem final do produto (isto é, nenhuma lavagem adicional feita pelo produtor antes do produto ser vendido), é filtrada e desinfectada, e os níveis de pH, concentração e exposição ao desinfectante são monitorizados rotineiramente. Registros são mantidos. A filtragem deve ser feita usando um sistema eficaz para sólidos e suspensões que tenha um cronograma de limpeza de rotina documentado de acordo com as taxas de uso e volume de água. Quando a gravação de eventos de retrolavagem automática do filtro e alterações nas taxas de dosagem por injetores automatizados de desinfetante pode ser impossível, um procedimento / política escrito(a) deve explicar o processo.”

– FV 5.9.1 item Novo – Requisito Maior para o packing house: “A rotulagem do produto, onde ocorre a embalagem final, é feita de acordo com as regulamentações de alimentos aplicáveis (RDC n° 26 de 02 de julho de 2015, Lei nº 10.674, de 16 de maio de 2003, RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002, RDC nº 123, de 13 de maio de 2004, Portaria Inmetro nº 157, de 19 de agosto de 2002, RDC nº 359, de 23 de dezembro de 2003) no país de venda pretendido e de acordo com as especificações do cliente?”, sendo o critério de cumprimento: “Quando a embalagem final ocorre, a rotulagem do produto deve seguir as regulamentações de alimentos aplicáveis no país de venda pretendido e quaisquer especificações do cliente.”

– FV 5.9.2 item Novo – Requisito Maior para o packing house: “Onde a avaliação de risco indica potencial contaminação cruzada por alérgenos alimentares (RDC n° 26 de 02 de julho de 2015), os produtos são rotulados para identificá-los?”, sendo o critério de cumprimento: “Quando a avaliação de risco indicar potencial contaminação cruzada, o produto deve ser rotulado de acordo com o país de produção e a legislação de destino com relação aos alérgenos alimentares.”

Quem tem implementada e/ou certificada a versão 5.1, percebeu as pequenas alterações (senão seria versão 6.0), com 6 itens Maiores na classificação de não conformidades das auditorias, totalmente alinhados aos requisitos legais do Brasil e de outros países para onde possam exportar, como é o caso de frutas, verduras e legumes que abastecem principalmente Mercosul.

4 min leituraFoi publicada em 01/02/19 e torna-se obrigatória após 01/08/19 a nova versão 5.2 do GlobalG.A.P., com maior ênfase em outros requisitos e cláusulas das normas de certificações de Gestão em […]

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Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos no Processamento de Produtos lácteos (HPA)

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Henrique B. Rocha1, Simone L. Q. de Souza1,  Renata S. L. Raices1

 

1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a característica lipofílica dos HPAs proporciona que estes sejam dissolvidos rapidamente e transportados por lipoproteínas das membranas celulares. Foi verificado através de estudos toxicológicos e epidemiológicos que certos HPAs são mutagênicos, potencialmente genotóxicos, teratogênicos, imunotóxicos, causadores de doenças cardiovasculares e neurológicas e carcinogênicos para os humanos (sabe-se que mais de  30 HPAs e seus derivados apresentam efeitos carcinogênicos) (WHO, 2005).

De acordo com a Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) 16 HPAs devem ser monitorados e regulados: Acenafteno (Ace), Acenaftileno (Aci), Antraceno (Ant), Benzo(a)antraceno (BaA), Benzo(a)pireno (BaP), Benzo(b) fluoranteno (BbF), Benzo(g,h,i)perileno (BPer), Benzo(k)fluoranteno (BkF), Criseno (Cri), Dibenzo(a,h)antraceno (DBA), Fenantreno (Fen), Fluoranteno (Fla), Fluoreno (Flu), Indeno (1, 2, 3 – cd) pireno (InP), Naftaleno (Naf), e Pireno (Pir). A International Agency for Research on Cancer (IARC) destaca o BaP como cancerígeno ao homem e também tem priorizado uma regulação e o monitoramento de 4HPAs (Criseno, Benzo(b)fluoranteno, Benzo(k)fluoranteno, Benzo(a)pireno) (IARC, 2012).

Sendo o leite e os produtos lácteos extremamente utilizados e importantes na alimentação do homem e em especial, de crianças e idosos em sua dieta, é salutar avaliar o nível de contaminação de tais produtos. E, essa ocorrência vai depender de qual é o tipo de produto, qual o método de processamento e também da forma de preparo para consumo. Sabe-se que o processamento térmico de alta intensidade pode propiciar a pirólise de compostos orgânicos formando HPAs (YEBRA-PIMENTEL et al., 2015).

Em trabalho realizado por Naccari et al. (2011) foi observado que o tratamento térmico utilizado pode propiciar a formação de HPAs. Foi verificada a presença de 16 HPAs em leite integral, pasteurizado, UHT, semidesnatado UHT. Dos 16 investigados nas diferentes amostras de leite, foram encontrados os seguintes HPAs: Fen, Ant, Pir, BaA, Cri, BkF, BaP e BPer. Ao comparar-se a concentração total dos 8 HPAs nas amostras de leite integral UHT (7,75 ng g-1) e leite semi-desnatado UHT (5,94 ng g-1 de leite), verificou-se que no leite integral UHT foram observadas as maiores concentrações de HPAs, provavelmente devido ao maior teor de gordura. Em função dos resultados obtidos, atribuiu-se a presença de Fen, Ant, Pir, BaA, BaP e BPer a diferentes fontes de contaminação, provavelmente relacionadas à poluição ambiental na região, entretanto, Cri e o BkF foram encontrados apenas em amostras de leite pasteurizado e leite UHT, que sofrem tratamento térmico.

No preparo de fórmula infantil, a utilização da técnica de secagem por pulverização com alta temperatura (a temperatura do ar de entrada é 137-204°C e a temperatura do ar de saída é de 104°C) pode levar a um aumento na concentração de HPAs segundo estudo de Cho e Shin (2012) que determinaram a concentração de 7 HPAs no mercado da Coreia. Encontraram BaA, Cri, BbF, BkF, BaP, DBA e BPer, numa faixa de 0,064 a 0,968 ?g kg-1.

Segundo Esposito et al. (2015), 6HPAs foram determinados em Mussarela defumada de Bufalo da Campana. Técnicas diferentes de defumações foram estudadas pelos autores. As técnicas de defumação revelaram alto nível de contaminação. Na casca do queijo mussarela, que foi diretamente exposta a fumaça (queima de madeira), a concentração de B(a)P variou de <0,8 mg kg-1 a 28,2 mg kg-1 e a soma de 4HPAs foi 26,2mg kg-1. Avaliaram também a defumação utilizando para tal papel liso e corrugado, onde observaram que usando o papel liso os resultados foram semelhantes ao do uso da madeira. Entretanto, altas concentrações foram obtidas com o uso de papel corrugado, a saber: 247,9 mg kg-1, 498,7 mg kg-1, 410,7 mg kg-1 e 177,8 mg kg-1 para B(a)P, B(a)A, B(b)F e Cris, respectivamente. Valores estes muito elevados.

Naccari et al. (2008) realizaram um estudo com queijo provolone defumado, onde as concentrações de HPAs no queijo defumado por meio de métodos naturais foi superior (B(a)P: 0,46-1,13 mg kg-1e B(a)A: 1,38-9,29 mg kg-1) aos encontrados em amostras aromatizadas Liquid-smoked (B(a)P: 0,085-0,32 mg kg-1; B(a)A: 1,20-2,98 mg kg-1).

Gul et al. (2015) encontraram B(a)P em 90% e 30% das amostras de queijo defumado e não defumado, respectivamente, em queijo Circassiano defumado e não defumado, de mercados turcos e destacaram que os HPAs de maior concentração e predominância foram Naf e Ace.

A fim de avaliar a interferência da altura em que os queijos permanecem nos defumadores, amostras de queijo Herreño defumado e não defumado foram comparadas. Em todas as amostras de queijos defumados foram detectados BaA, Cri + trifenileno, em especial naquelas onde os queijos foram colocados exatamente na pluma da fumaça (GUILLÉN et al., 2011).

Diante do exposto, é necessário que estudos experimentais com variedades de produtos lácteos em diferentes formas de processamento e de consumo sejam desenvolvidos. Assim como, mais pesquisas no campo da bioquímica (in vivo, in vitro) em conjunto com a química analítica, a fim de  nortear com mais certeza as rotas metabólicas, em que, HPAs de menor ou maior número de anéis aromáticos perfazem o organismo, e até que ponto causam os temidos efeitos carcinogênicos, genotóxicos e mutagênicos ocasionados pela contaminação durante ou após a ingestão de alimentos.

 

 

Referências

CHO H.S.; SHIN H.S. Evaluation of polycyclic aromatic hydrocarbon content and risk assessment for infant formulae in Korea. Food Science Biotechnology, v.2, p.1329-1334, 2012.

ESPOSITO, M. et al. Influence of different smoking techniques on contamination by polycyclic aromatic hydrocarbons in traditional smoked Mozzarella di Bufala Campana. International Journal of Dairy Technology, v. 68, n. 1, p. 97-104, 2015.

GUILLÉN, M. D. et al. Contamination of cheese by polycyclic aromatic hydrocarbons in traditional smoking. Influence of the position in the smokehouse on the contamination level of smoked cheese. Journal of Dairy Science, v. 94, n. 4, p. 1679-1690, 2011.

GUL, O.  et al. Evaluation of polycyclic aromatic hydrocarbons in Circassian cheese by high-performance liquid chromatography with fluorescence detection. Journal of Food Composition and Analysis, v. 37, p. 82-86, 2015.

INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER, IARC. Agents Classified by the International Agency for Research on Cancer. Monographs. v. 1-103. Last updated 22 February, 2012.

ISHIZAKI, A. et al. Determination of polycyclic aromatic hydrocarbons in food samples by automated on-line in-tube solid-phase microextraction coupled with high-performance liquid chromatography-fluorescence detection. Journal of Chromatography A, v.1217, p.5555–5563. 2010.

LAPOLE, D. et al. Milk and urine excretion of polycyclic aromatic hydrocarbons and their hydroxylated metabolites after a single oral administration in ruminants. Journal of dairy science, v. 90, n. 6, p. 2624-2629, 2007.

NACCARI, Clara et al. PAHs concentration in heat-treated milk samples. Food research international, v. 44, n. 3, p. 716-724, 2011.

NACCARI, Clara et al. Levels of benzo[a]pyrene and benzo[a]anthracene in smoked “Provola” cheese from Calabria (Italy). Food Additives & Contaminants: Part B, v.q, n.1, p. 78-84, 2008.

PURCARO, G. et al. Overview on polycyclic aromatic hydrocarbons: occurrence, legislation and innovative determination in foods. Talanta, v.105, p. 292-305. 2013.

ROSE, M. et al. Investigation into the formation of PAHs in foods prepared in the home to determine the effects of frying, grilling, barbecuing, toasting and roasting. Food and Chemical Toxicology, v. 78, p. 1-9, 2015.

WHO – WORLD HEATH ORGANIZATION. Summary and conclusions of the sixty-fourth meeting of the joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. Rome: WHO, 47p., 2005.

YEBRA-PIMENTEL, I. et al. A critical review about the health risk assessment of PAHs and their metabolites in foods. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, v. 55, n. 10, p. 1383-1405, 2015.

 

 

Este texto foi enviado pelo professor Adriano Cruz, da IFRJ. Você também tem um trabalho para compartilhar? Escreve para o Food Safety Brazil: redacao@foodsafetybrazil.org.

5 min leituraHenrique B. Rocha1, Simone L. Q. de Souza1,  Renata S. L. Raices1   1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Programa de Pós-Graduação em Ciência […]

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Gestão de Emergências Globais em Segurança dos Alimentos – 1ª Conferência Internacional de Segurança de Alimentos da FAO/ OMS/ AU [6/6]

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Sistemas internacionais para atendimento e resposta a emergências em segurança dos alimentos são fundamentais para garantir uma ação coordenada para combater surtos de doenças transmitidas por alimentos no mundo todo, e a FAO, juntamente com a OMS, lideram as redes mundiais de informação e prevenção, envolvendo autoridades nacionais e especialistas para prevenir, se preparar preventivamente e responder a emergências de uma forma rápida e ordenada.

O papel desempenhado pela FAO é o de cooperar com os países para que construam seus sistemas de prevenção e gestão de emergências em segurança dos alimentos, buscando fortalecer a resiliência às crises na cadeia alimentar.

Justamente para fomentar este propósito e facilitar um rápido intercâmbio de informações durante eventos emergenciais relacionados à segurança dos alimentos, a FAO e a OMS coordenam a Rede Internacional de Autoridades em Segurança dos Alimentos/ International Food Safety Authorities Network (INFOSAN).

Figura 1: INFOSAN ajudando a fomentar ações em segurança dos alimentos.

A INFOSAN já existe há 15 anos, e vem facilitando a comunicação entre os países membros da rede. Com isso, já auxiliou na tratativa de centenas de emergências em segurança dos alimentos.

Em todos estes casos a INFOSAN tem demonstrado ser uma rede de informações prática e confiável, ajudando efetivamente a mitigar e reduzir os impactos de crises associadas a alimentos, permitindo que os gestores de risco locais evitem doenças transmitidas por alimentos (DVA) e salvem vidas, realizando recalls de produtos e alertas ao consumidor em escalas entre fronteiras.

Para conhecer um pouco mais do papel da INFOSAN, há o artigo “Conheça a INFOSAN – Rede das Autoridades Internacionais em Segurança de Alimentos” que foi publicado aqui no blog em 24 de março de 2014.

Diversos eventos recentes destacam o importante papel que a INFOSAN desempenha. Como exemplos, dois desses eventos começaram em 2017 e continuaram em 2018:

SALMONELOSE NA FRANÇA

  • Surto de salmonelose ligado a formulações infantis produzidas na França e exportadas para mais de 80 países. Se quiser conhecer um pouco mais deste caso, leia aqui.

LISTERIOSE NA ÁFRICA DO SUL

  1. Surto de listeriose ligado a produtos de carne prontos para consumo produzidos na África do Sul e exportados para 15 países. Se quiser conhecer um pouco mais deste caso, leia aqui.

Durante esses eventos, os responsáveis pelos Contatos de Emergência nos países de origem do problema forneceram informações importantes à Secretaria da INFOSAN, sendo a principal e mais imediata, quais eram os países de destino dos produtos contaminados. A INFOSAN notificou os Contatos de Emergência nos países importadores (destinos), fornecendo detalhes dos produtos afetados e informações para auxiliar na rastreabilidade e interromper a distribuição.

A INFOSAN conta com a participação proativa de membros em todo o mundo para implementar medidas apropriadas de gestão de riscos, conectando atualmente cerca de 600 membros em 188 estados de diversos países, e este número vem crescendo ano a ano.

Este compromisso com uma participação ativa na rede INFOSAN é uma importante forma das agências governamentais nacionais demonstrarem sua dedicação para melhorar a segurança dos alimentos num contexto global.

IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO DE SURTOS ALIMENTARES

A efetiva prevenção de surtos de doenças veiculadas por alimentos requer uma mudança na concepção de ações de “reação e resposta” para “previsão e prevenção”, indo de uma lógica reativa para uma preventiva e proativa.

Isto requer abordagens sistêmicas e estruturadas com uso de inteligência para coletar e analisar informações e dados para a identificação precoce de questões emergentes. Para isso, a FAO trabalha com diferentes parceiros e países membros para desenvolver essa inteligência e visão para subsidiar as amplas decisões da cadeia de alimentos e fornecer orientação sobre as principais questões emergentes.

Em realidade, é difícil estimar o ônus das doenças transmitidas por alimentos, uma vez que apenas uma pequena fração é reconhecida pelas autoridades competentes. O objetivo final das autoridades em segurança dos alimentos e saúde pública é prevenir esses surtos. Os sistemas de vigilância permitem que as autoridades compreendam melhor os principais riscos de segurança dos alimentos e voltem a concentrar esforços de prevenção.

Justamente por permitir uma detecção precoce de eventos adversos em segurança dos alimentos e respostas imediata e eficazes, a FAO colabora com a OMS em diversas atividades voltadas para a prevenção e gestão de emergências nesta área, lembrando que decisões rápidas e assertivas podem salvar vidas e economizar milhões aos cofres públicos.

Figura 2: Ação conjunta FAO e OMS.

 

AUMENTANDO A CONSCIENTIZAÇÃO DOS CONSUMIDORES

Os surtos de doenças transmitidas por alimentos e os recalls podem ter consequências e impactos de longo alcance sobre a confiança do consumidor na segurança do suprimento de alimentos.

A prevenção ou as ações de resposta a emergências exigem uma eficiente comunicação sobre riscos associados a alimentos entre todas as partes interessadas (stakeholders) na cadeia agroalimentar, começando pelos gestores de risco ou comitês de gestão de crises das empresas que devem tomar a decisão de alertar sobre emergências identificadas em seus processos, e consequentemente, em seus produtos: os demais elos da cadeia produtiva e de distribuição; os órgãos governamentais de apoio em cada país para estas questões, como a ANVISA e o MAPA no Brasil; e claro, os próprios consumidores.

Sobre este tema em âmbito interno das organizações, que são onde deveria ocorrer o start de um processo de resposta a emergências, justamente por ser onde um potencial risco de segurança dos alimentos deveria ser primeiramente identificado, o blog publicou em 20 de junho de 2018 o artigo “Emergências, gestão de crises e recall” para quem deseja se aprofundar e obter dicas sobre como lidar com preparação e resposta a emergências em food safety.

Essa troca de informações e opiniões entre todos os envolvidos é fundamental para restaurar a confiança e proteger a qualidade de vida das pessoas.

Por exemplo: o Mali é um país que buscou melhorar sua abordagem de tomada de decisões em relação à segurança dos alimentos adotando uma estrutura de análise de risco. Já tendo acesso a dados relevantes de análise e consumo de alimentos, as autoridades do país procuraram o conselho da FAO sobre como usar os dados para orientar as escolhas estratégicas e as atividades cotidianas de controle de alimentos e prevenção de riscos, e com isso, em 2014, o Mali e a FAO lançaram um programa com duração de 2 anos visando desenvolvimento e capacitação para uma ampla gama de atores envolvidos com a questão da segurança dos alimentos daquele país.

Autoridades competentes, começando pelos órgãos nacionais que tratam da segurança dos alimentos e seus laboratórios de apoio, atores do setor privado, incluindo produtores primários, representantes de consumidores, instituições de pesquisa, universidades e representantes da sociedade civil foram treinados sobre como usar seus dados nacionais para priorizar riscos e otimizar a gestão desses riscos.

Como resultado, o Mali agora é capaz de construir programas de monitoramento e controle de alimentos nacionais e importados com base em um entendimento amplo e prático da análise de risco.

O PAPEL DO BRASIL

Aqui no Brasil somos líderes em muitos setores da produção agroindustrial, temos a agroindústria e a pecuária como pontos fortes de nossa economia, respondendo por 23 – 24% de nosso PIB, e de fato contribuímos com a alimentação global através das exportações brasileiras ao mundo.

Por isso, ações preventivas efetivas e eficientes no campo da segurança dos alimentos são fundamentais, seja para proteger a saúde dos consumidores, o que é prioritário, seja para proteger a economia brasileira, uma vez que surtos alimentícios geram falta de confiança dos mercados consumidores, e na prática isso reflete em recuo de países compradores, portanto, rompimento de contratos.

Figura 3: Posição do Brasil no fornecimento mundial de alimentos. 

Nosso papel neste cenário não pode ser de um mero coadjuvante, mas um dos atores principais, justamente pela importância que o Brasil desempenha no cenário global quanto ao fornecimento de alimentos ao mundo.

 

Fonte:

  • The Future of Food Safety – First FAO/ WHO/ AU International Conference Food Safety – Food Safety in Emergencies, pag 20 – 23 – Addis, 12 – 13 February.

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Perfil dos treinamentos de Boas Práticas de Fabricação aplicados no Brasil

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Em setembro de 2018, realizei uma pesquisa para mapear o perfil dos estilos de treinamentos aplicados nas indústrias e demais processadores de alimentos. Você que acompanha o Blog Food Safety Brazil deve ter visto essa publicação.

Sabemos que os treinamentos de Boas Práticas de Fabricação são obrigatórios e devem ser ministrados no mínimo na integração do colaborador(a) e depois com uma reciclagem anual. É através desses treinamentos que o colaborador(a) conhece ou relembra as regras e procedimentos para garantir a produção de alimentos seguros e atendimento à legislação. Mas cumprir essa agenda de treinamentos é quase sempre um grande desafio para o time de Qualidade e Segurança de Alimentos, pois nem sempre estão à disposição os recursos necessários para que os treinamentos aconteçam da forma planejada. Você já deve ter passado por alguma das seguintes situações: falta de orçamento, falta de tempo disponível para treinamento – já que a prioridade é produção, falta de recursos, falta de engajamento e disposição dos colaboradores (que pensam: “mais uma vez esse treinamento”).

O objetivo da pesquisa era entender o panorama atualizado das formas de treinamentos de BPF utilizadas hoje pelas indústrias de alimentos no Brasil e como esses treinamentos estão sendo aplicados:  quais as metodologias, as formas de avaliação do conhecimento, sua eficácia e se existe inovação ou não. Em um momento no mundo em que a tecnologia é dominante e indispensável, será que as empresas que trabalham com alimentos estão fazendo uso dela e conseguindo inovar na sua forma de capacitar seus colaboradores? O resultado da pesquisa revelou que não. Ainda somos muito conservadores quando falamos de capacitação dos nossos times. É o que vamos revelar abaixo, com o resultado da pesquisa.

Mapeando o perfil de pesquisados, dos 170 respondentes, 80,5% eram profissionais da indústria de alimentos, 12,8% consultores ou auditores, 6,12% relacionados a serviços de alimentação e 0,61% vendas. Em relação ao número de funcionários, empresas com até 100 funcionários foram as que tiveram maior número de respondentes, seguidas pelas com mais de 1000 funcionários.

Figura 1 – Número de funcionários das empresas participantes

Quando questionados sobre a forma utilizada nos treinamentos nos últimos 2 anos, 46% dos respondentes afirmaram que utilizam métodos tradicionais, em sala de aula, com ou sem dinâmicas, para realizar os treinamentos de Boas Práticas de Fabricação. Aproximadamente 33% realizam atividades interativas, com dinâmicas, teatro e vídeos. 9,11% incluem palestras ou cartilhas educativas para capacitar seus times, e somente 3,4% utilizam métodos que envolvam tecnologia (cursos online, EAD, jogos, etc).

Figura 2 – Formas de treinamentos

Foi dada a opção para as pessoas marcarem se usavam mais de um método na capacitação dos times. A maioria dos participantes da pesquisa, 58%, relataram que utilizam métodos combinados. Também foram citadas outras formas de treinamentos como dinâmicas de grupo, quizz com brindes, treinamento on the job, Diálogos de Qualidade e Segurança de Alimentos.

A carga horária, em sua maioria (55%), é de 1 hora e são realizados na integração do funcionário, com reciclagem anual.

Figura 3 – Carga horária e frequência dos treinamentos

Esses dados nos mostram que o modelo principal utilizado nas empresas que processam alimentos é o tradicional: treinamento anual, em sala de aula, com duração de 1 hora, usando recursos extras como dinâmicas, vídeos, jogos. A média de participação nos treinamentos foi de 88%, variando entre 30% a 100%. Isso demonstra que algumas empresas têm mais dificuldade que outras para conseguir realizar os treinamentos de BPF. A gestão dos treinamentos é feita majoritariamente pelo time de Qualidade (58%), seguido por RH (25%), depois com gestão compartilhada entre Qualidade e RH (14%) e por último por terceiros (4%). Na maioria das respostas, o controle dos treinamentos é manual, com uso de planilhas Excel (89%). Somente 11% dos respondentes utilizam algum tipo de software para fazer a gestão dos treinamentos. Alguns dos softwares citados foram JoinRH, RM, Adata, RH, Fortes RH, Humanos, SAP, Senior, Stratws.

Quanto à avaliação de eficácia, esta é feita na sua maioria por meio de prova individual ou auditoria em chão de fábrica. 19% não realizam avaliação de eficácia.

Figura 4  – Avaliação da  Eficácia

Certamente hoje talvez esse seja o modelo possível de acontecer, considerando os obstáculos que todos que trabalham com qualidade e segurança de alimentos enfrentam quando precisam capacitar o time de manufatura (faltam recursos, disponibilidade de tempo, orçamento). A prioridade é a produção, e retirar um colaborador da linha de produção para participar de um treinamento exige muita negociação. Para conseguir atender o plano anual de treinamento, portanto, este é compactado para o tempo de uma hora, o que teoricamente teria menor impacto na produção. Mas como fica a eficiência dos treinamentos? Será que é afetada? E no dia-a-dia da fábrica, será que existem desvios por falta de capacitação dos times? Será que a falta de capacitação dos colaboradores provoca outros impactos na produção com maiores perdas e maiores custos? Ficam as reflexões.

Todos os modelos abordados na pesquisa cumprem o objetivo de levar conteúdo relevante para os colaboradores e cumprir o plano anual de treinamentos, mas também temos a expectativa de que promova uma transformação cultural na empresa relacionada aos requisitos de Qualidade e Segurança de Alimentos.  Por isso, vimos que muitas empresas usam diferentes recursos para capturar a atenção dos colaboradores. Foram comentados o uso de vídeos, quiz, jogos, dinâmicas. Mas para mim, o uso desses modelos significa que estamos fazendo mais do mesmo, e não realmente inovando. Considerando que estamos vivenciando uma revolução tecnológica, falando de Educação 3.0 e Indústria 4.0, estamos ainda longe de realmente inovar na forma de capacitar os colaboradores na indústria de alimentos.

Estamos ouvindo falar cada vez mais de uso de Inteligência Artificial, Robótica, Realidade Virtual Aumentada, Educação Online na educação. Outros modelos que já estão sendo utilizados é Ensino Híbrido e U-Lead: Human-Machine Interactions, além da Gamificação, que tem um poder gigante de criar engajamento e participação ativa.

Uma reflexão que faço em relação ao resultado dessa pesquisa é que nós, profissionais da área de Qualidade e Segurança de Alimentos, precisamos influenciar cada vez mais a alta direção para investir em capacitação dos seus times. Qualquer valor investido em treinamento não pode ser considerado como gasto, mas sim como investimento. O retorno virá na forma de maior produtividade, redução de perdas, redução de retrabalho, redução do risco de um recall, maior satisfação dos clientes e consumidores, atendimento às leis e organismos regulamentadores. Devemos mostrar esses ganhos e reforçar nosso poder de influência para conseguir os recursos necessários para os treinamentos de Boas Práticas de Fabricação e real qualificação dos colaboradores.

E agora convido vocês à ação. Para continuar a evoluir na jornada de capacitação em Boas Práticas de Fabricação precisamos nos reinventar todos os dias. E a primeira ação que os convido a fazer é um assessment (verificação) da eficácia dos treinamentos de BPF em sua empresa. Avaliem como está sendo sentido pelos colaboradores. E uma dica é começar pelos líderes. Esteja aberto aos feedbacks positivos e negativos. Escute o seu cliente. Você pode ter boas surpresas ou bons insights. Algumas perguntas que você pode fazer: o que você acha dos treinamentos de BPF? Você teria alguma sugestão de como podemos melhorar? Inclua o colaborador no processo de melhoria dos treinamentos de BPF. Faça com ele. Em paralelo, busque conhecer mais as novas metodologias aplicadas à educação e como poderiam ser utilizadas na sua empresa. Eu tenho certeza de que você vai aprender coisas novas e poderá aplicá-las nas próximas turmas de formação em Boas Práticas de Fabricação em sua empresa. Enjoy!

Lillian Glory é engenheira de alimentos, mestre em Tecnologia de Alimentos e trabalha como gestora de Qualidade e Food Safety há 20 anos em grandes indústrias nacionais e multinacionais. 

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Segurança de Alimentos requer soluções compartilhadas – 1ª Conferência Internacional de Segurança de Alimentos da FAO/ OMS/ AU [5/6]

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Entre os vários micro-organismos patógenos aos quais nós, humanos, estamos expostos, mais de 60% são provenientes de animais vertebrados, segundo dados da ONU.

Além dos altos números de óbitos, as zoonoses também causam impactos significativos na produção pecuária, segurança alimentar, conservação ambiental e outros. Nessa parte do material da Conferência (citada no título) que estamos traduzindo, a FAO promove uma abordagem “One Health”, expondo seu envolvimento nesse conceito.

One Health – Em português significa “Uma Saúde”. É uma visão que reconhece as ligações existentes entre saúde humana, sanidade animal e o meio ambiente. Ela incentiva novas políticas de gestão de saúde.

Essa visão abrange os riscos provenientes de poluição, degradação da terra, desastres, água potável, fornecimento de alimentos, controle de pragas, mudanças climáticas e muito mais.

A FAO combina especialização em produção sustentável de alimentos nos setores agrícolas e ciências de alimentos para identificar fontes de risco à segurança dos alimentos e desenvolver medidas para prevenir ou minimizar esses riscos nas etapas mais apropriadas da cadeia. Exemplos:

MICOTOXINAS

FAO e OMS produziram uma ferramenta on-line (FFS) de fácil utilização e disponível gratuitamente para orientar as autoridades nacionais e os operadores a amostrar 26 combinações de micotoxinas em commodities.

Os Farmer Field Schools (FFS) provaram ser um veículo eficaz para permitir aos agricultores entender e aderir às boas práticas. Os FFS são desenvolvidos para integrar totalmente a higiene alimentar às questões de produção, como técnicas integradas de controle de pragas. A FAO trabalha com instituições nacionais para desenvolver suas capacidades para projetar e implementar programas para melhorar a segurança de alimentos na produção primária de frutas e legumes. Isso inclui programas com foco em boas práticas agrícolas, bem como no monitoramento de pesticidas e outros contaminantes.

PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

A FAO presta orientação sobre boas práticas em alimentação animal, criação de animais, aplicação de antibióticos, abate e manipulação e processamento. Os especialistas da FAO trabalham em conjunto para garantir uma abordagem científica e integrada à gestão de riscos de segurança de alimentos, incluindo a resistência antimicrobiana (AMR), uma das ameaças à saúde pública mais urgentes do mundo.

A intoxicação por peixes com escombrotoxina (SFP), frequentemente chamada de “envenenamento por histamina”, ocorre quando certas espécies de peixes marinhos – incluindo atum, cavala, sardinha e anchova – são armazenadas indevidamente e um aminoácido natural do peixe é convertido em histamina por contaminantes bacterianos.  Muitos países recorrem a especialistas da FAO para ajudar a desenvolver as capacidades de inspeção de pescado e a promover a aplicação de boas práticas por todos os operadores de pesca e aquicultura.

LEGISLAÇÕES

Em todos os países, a alimentação é regida por uma complexidade de leis e regulamentos que estabelecem os requisitos do governo a serem cumpridos pelos operadores da cadeia alimentar para garantir que os alimentos sejam seguros e de qualidade adequada. A FAO pode ajudar a promover a elaboração de estruturas regulatórias nacionais viáveis e apropriadas em todas as áreas.  A assistência é adaptada à situação de cada país, com atenção ao marco legal e tradição nacional, bem como à implementação de acordos internacionais aplicáveis e padrões internacionais de referência.  Até hoje, a FAO auxiliou uma ampla gama de países e organizações regionais em cinco continentes na revisão de sua legislação. A FAO também possui o maior banco de dados legislativos do mundo (FAOLEX) em alimentos e agricultura, incluindo gestão de recursos naturais (pesca, terra, água e florestas), e fornece informações jurídicas publicando estudos legislativos e documentos legais on-line, incluindo boas práticas regulatórias (GRP) para a elaboração ou revisão dos quadros jurídicos nacionais.

Segue aqui um pouco mais sobre o tema One Health.

Não deixe de ler as outras partes traduzidas da 1ª Conferencia Internacional de Segurança de Alimentos, aqui no FSB.

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Boas práticas de uso de peneiras para o controle de corpos estranhos

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Os corpos estranhos encontrados em alimentos sempre geram publicidade e reportagens negativas. Estes perigos causam não só ansiedade e indignação, como também podem ser um risco potencial para o consumidor e levar a reclamações. Os consumidores entendem que qualquer coisa que não pertença ao produto é um corpo estranho, pois ele espera receber o produto como foi descrito e desejado.

A análise e a avaliação de riscos revelam quais corpos estranhos podem aparecer no produto e em quais etapas do processo uma entrada pode ser esperada.  Por isso, os sistemas de inspeção e detecção devem ser selecionados e implementados para serem adequados ao respectivo processo de produção.

Um dos métodos de inspeção e detecção são as peneiras, mas quando elas devem ser usadas?

Devem ser utilizadas para que corpos estranhos não entrem no produto, garantindo a segurança dos alimentos. Em termos de engenharia de processo, o peneiramento é visto como um processo de separação que envolve avaria mecânica de produtos. Assim, o peneiramento mais grosso pode proteger máquinas e equipamentos de serem danificados devido a grandes peças.

Quais propriedades do produto devem ser levadas em consideração?

Viscosidade, distribuição de tamanho de partículas, forças de coesão, forma de partículas e carga eletrostática são as propriedades de líquidos e produtos secos que influenciam o comportamento de peneiramento e, com isso, a taxa de peneiramento. Os processos de peneiramento para produtos granulados a granel poder ser estimados. Um critério importante é a relação entre o tamanho de partículas (X) e a abertura da malha (W) do fundo da peneira.

A abertura da área de peneiramento de uma malha de peneira A0 pode ser estabelecida de acordo com a norma ISO 4783-1:

  • Produto a granel com tamanho de grão menor que 100 µm é bastante inadequado para peneirar devido às forças de coesão entre partículas (forças de Van der Waals). As pequenas partículas se ligam às outras e formam aglomerados que podem bloquear a malha.
  • O comportamento eletrostático do produto a granel tem uma grande influência na taxa de peneiramento
  • A umidade do produto também afeta muito a taxa de peneiramento.
  • No caso de líquidos, a viscosidade é um fator decisivo.

Formas irregulares de grãos também podem influenciar o comportamento de peneiramento. Partículas longas (prisma, cilindro ou forma de vareta) são difíceis de peneirar e podem passar pela peneira mesmo que o comprimento de partícula seja um pouco mais longo do que as aberturas da malha. Partículas esféricas, formas regulares e compactas são mais fáceis de serem peneiradas.

O que influencia a vazão?

As forças de coesão entre as partículas e a agregação associada podem ter um forte efeito sobre a passagem pela peneira. Por esse motivo, testes para determinar a respectiva taxa de peneiramento são recomendados. A quantidade de material na superfície da peneira é um fator determinante para uma taxa de peneiramento ideal. Quanto maior a quantidade de material na peneira ou na superfície da peneira, maior o tempo do processo de peneiramento, além de que há o risco de quebra.

O tamanho da malha é apropriado para o produto? 

Dependendo da aplicação, tamanhos de malha de 0,09 mm a 20 mm têm eficácia comprovadas sobre proteção e controle de peneiramento de produtos a granel. Malhas de até 4 mm são usadas para proteção e controle de peneiramento. Aberturas de malha mais largas são usadas para peneiramento de corpos estranhos maiores. As peneiras mais grossas devem ser usadas durante a alimentação de produtos de matérias-primas, a fim de diminuir o risco de quebra da peneira devido a corpos estranhos em máquinas de peneirar subsequentes. A ISO 4783 contém diretrizes para selecionar a combinação do tamanho de abertura da malha e diâmetro do fio.

Quais materiais de construção são usados para as peneiras?

Dependendo da aplicação, vários materiais podem ser usados para a malha da peneira. Peneiras usadas na tecnologia de peneiramento industrial são feitas de nylon, carbono e aço inoxidável, e são utilizados como tecido ou placas perfuradas. Durante o processo de avaliação de risco, a usabilidade de peneiras metálicas com fio fino deve ser avaliada. Deve ser dada atenção à espessura do fio, pois peças da estrutura quebrada podem ser detectadas.

O que deve ser levado em conta ao monitorar as peneiras?

As peneiras devem ser verificadas frequentemente quanto a malhas defeituosas e resíduos de corpos estranhos. Rotineiras verificações visuais devem ser realizadas em todas as peneiras e serem documentadas. Ao fazer isso, as rupturas da malha que cobrem toda a área da rede da peneira são verificadas quanto a defeitos (quebra da peneira) e expansões inaceitáveis. As peneiras defeituosas devem ser substituídas imediatamente – o uso posterior não é permitido. Após a substituição, o produto que estava sendo testado antes para a substituição da peneira deve ser verificado novamente. Se houver corpos estranhos na peneira, eles devem ser removidos imediatamente. A quebra da peneira pode ocorrer devido à fadiga do material da peneira, objetos pontiagudos ou pesados (corpos estranhos), e também devido à sobrecarrega da máquina com grandes quantidades de material de alimentação. Os seguintes tipos de danos podem ocorrer na peneira de rede:

Quebra de peneira devido a rasgos (por exemplo: furos que aparecem como resultado de uma ruptura de malha em um ou mais lugares)

• Dilatação da malha (por exemplo: expansão inadmissível de intervalos de malha individuais)

O perigo potencial de fragmentos de madeira que entram no produto deve ser levado em conta ao usar peneiras com molduras de madeira.

O que deve ser levado em consideração durante a limpeza e manutenção?

Para limpar as máquinas de peneirar, o material da peneira geralmente é removido sem uma ferramenta quando a máquina não está operando. As máquinas de peneiramento são limpas de forma seca ou úmida, dependendo dos requisitos de higiene. Corpos estranhos podem ser liberados durante o processo de limpeza ao remover a peneira. Por esta razão, o trabalho de limpeza só deve ser realizado com colaboradores treinados e supervisionados. Todo procedimento de limpeza deve ser documentado. Escovas com cerdas naturais ou plásticas e panos de limpeza feitos de fibras naturais e sintéticas são recomendados para limpeza a seco no exterior. Ao usar escovas para as partes internas, existe o risco de cerdas individuais caírem e, posteriormente, entrarem no processo como corpos estranhos. Dependendo dos graus de contaminação, podem ser utilizados agentes de limpeza permitidos pelo fabricante do equipamento. A peneira deve ser totalmente monitorada quanto a danos após a limpeza e só será reinstalada quando estiver livre de defeitos. O trabalho de manutenção necessário sugerido pelo fabricante do equipamento deve ser devidamente seguido.

Tradução do capítulo 5.2.1 do texto IFS Foreign Body Management guideline – Guidelines for an effective foreign body management from the perspective of IFS

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A importância do laudo para equipamentos magnéticos na indústria alimentícia

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Nas indústrias de alimentos, a segurança de alimentos é de extrema importância, até porque as normas para auditorias exigem a segurança no processo produtivo para garantir que o produto não seja um risco para o consumidor. A Resolução RDC N° 14, de 28 de março de 2014, da Anvisa,  estabelece limites de tolerância para materiais macroscópicos e microscópicos em alimentos e bebidas e determina que para objetos rígidos pontiagudos e/ou cortantes, o nível aceitável é de no máximo 7 mm de diâmetro.  Para os rígidos não pontiagudos ou cortantes, esse nível é de 2 mm. Para atender esta norma, usam-se equipamentos magnéticos (ímãs) para assegurar a retirada de materiais ferrosos na matéria-prima no processo ou no produto já finalizado.

                        Parafuso encontrado em um sorvete

Muitas empresas desconhecem a utilização desses equipamentos, pois possuem o detector de metal e acreditam que seja a opção mais eficiente e aprovada para detecção de materiais ferrosos, mas podem estar enganadas. O detector de metais detecta o metal já no processo final, muitas vezes com o produto já embalado, e pode ser que neste momento todo o lote esteja comprometido.

Os ímãs trabalham para complementar o processo, pois sua instalação requer um estudo da linha de produção para distribuir os equipamentos nos pontos críticos (HACCP) e com a capacidade magnética adequada para cada etapa.

Para saber qual ímã utilizar no seu processo é necessário consultar um técnico especializado na área para uma visita, na qual irá verificar os pontos de colocação dos equipamentos, fazer uma análise do material para saber o nível de impurezas contidas nele, e verificar o espaço mecânico para instalação.

A força magnética especificada nos equipamentos é descrita como “Gauss”, uma grandeza magnética. Quanto maior o valor em Gauss, maior sua força de retenção dos contaminantes ferrosos. Estamos falando na retirada de materiais de diferentes tamanhos, desde parafusos, porcas, arruelas, até limalha e pó de ferro.

                     Limalhas e pó de ferro retidos em uma barra magnética

Aqueles que já possuem esses equipamentos na fábrica, precisam saber que é necessária a  verificação anual dos ímãs, isso é, uma medição para atestar sua eficiência que chamamos de Laudo Magnético. Esse documento é de extrema importância, pois ele avalia as condições magnéticas do equipamento comprovando sua eficiência e aptidão ou não para função. A verificação dos ímãs deve ser feita por um técnico especializado na área que possua um equipamento de medição chamado “Gaussmeter”. Esse equipamento deve possuir certificado de rastreabilidade RBC e estar dentro da validade. Essa medição dos ímãs é uma verificação do campo magnético, que será comparado com as informações do fabricante. Caso não possuam essa informação, serão considerados os padrões estabelecidos pelo mercado, lembrando que não se trata de uma calibração ou aferição, pois os imãs possuem um campo permanente e que não pode ser mudado.

                        Medição de uma barra magnética utilizando o Gaussmeter

A exigência do laudo para os equipamentos magnéticos está ingressando cada dia mais no setor de qualidade e auditorias. Os clientes têm exigido de seus fornecedores que comprovem o uso dos ímãs e atestem essa eficiência por conta das novas normas e resoluções (ISO), porém é um assunto que não e muito divulgado e conhecido nos setores fabris, mas o crescimento de relatos de pessoas que encontraram objetos metálicos nos alimentos faz com que as indústrias busquem mais informações e recursos para melhoria do processo e da qualidade do produto.

A instalação errada do equipamento ou a falta de manutenção e um mau manuseio pode comprometer a eficiência do equipamento. Estabelecer parâmetros de limpeza, respeitar a temperatura de trabalho do equipamento e treinar seus colaboradores para uma manutenção adequada faz com que seu equipamento tenha uma vida útil bem maior, podendo assim ser aprovado no laudo magnético e passar nas auditorias.

Monise Nathan A. B. Rodrigues é engenheira de produção e especialista em emissão de laudos para equipamentos magnéticos e consultoria técnica na área de soluções magnéticas no ramo alimentício e plástico, com 9 anos de experiência no segmento.

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Panorama sobre o 6º Simpósio Internacional 3M Food Safety

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O blog Food Safety Brasil esteve presente no 6º Simpósio Internacional 3M Food Safety –  As boas práticas através do conhecimento, representado pela nossa editora chefe Juliane Dias e as colunistas Juliana Levorato e Aline Santana. Para você que não pode participar segue um resumo com os destaques das palestras!

Tendências no mercado de alimentos, foi ministrada pelo palestrante Dr. João Dornelas (Presidente executivo da ABIA), que contextualizou a indústria de alimentos e bebidas e sua importância para o Brasil.

Você sabia que a Industria de Alimentos e Bebidas:

  • Processa 58% da produção agropecuária do pais;
  • Representa 9,8% do PIB, sendo o principal segmento;
  • Os setores que tem maior participação são: carnes (22%); bebidas (19,7%); laticínios (10,5%); café, chá e cereais (10,2%) e óleos e gorduras (9%);
  • Exporta para 180 países, tendo como principais clientes: Ásia (35,9%), União Europeia (19,2%) e Oriente Médio (14%).

João falou um pouco da tendência em relação a rotulagem nutricional, que está em discussão a colocação de um painel frontal nas embalagens indicando o teor (alto, médio, baixo) de açúcar, gordura saturada e sódio. E também sobre as comidas do futuro: insetos, de acordo com a FAO já há mais de 900 espécies comestíveis; carne de laboratório; comida de impressora 3D.

Cultura de Food Safety, foi o tema de duas palestras, “Cultura de Food Safety – Produção e Qualidade jogando no mesmo time, ministrada pela Dra Dory Worcman Barninka (Nestle) ” e “ Fortalecer a Cultura e Food Safety é fortalecer a Indústria de Alimentos, ministrada pela Dra Pamela Wilger (Cargill) ”, ambas falaram da importância das pessoas e que a mudança de cultura depende única e exclusivamente delas. Elas precisam querer!

Também reforçaram o papel da liderança, que o exemplo tem de vir de cima e utilizaram bastante o termo “Walk the talk”, ou seja, colocar em prática o que se fala. No meu próximo post vou falar mais destas palestras, que trouxeram alguns exemplos práticos de como implementar a “cultura de food safety”.

O tema Big Data foi trazido pela palestrante, Emilia Raucci (Diretora de Qualidade da JBS), que explicou como funciona na prática o gerenciamento de dados, suas vantagens e dificuldades na implementação. No grupo são mais de 1 milhão de dados coletados por dia, 30 por segundo! Uau é muita informação! Mas como gerenciar tudo isto? Como separar o importante do urgente?

Através do levantamento de dados foi possível identificar as necessidades de correções e melhorias e transformar lacunas em oportunidades.

Por que o big data? O aumento exponencial do número de dados causou o travamento do sistema e o não processamento dos dados em tempo hábil. Com isso mudanças foram implementadas, os computadores locais passaram a fazer parte dos trabalhos de análise consolidação dos dados e um computador central finaliza o trabalho.

Como funciona? Os colaboradores trabalham com tablets, onde inserem os dados monitorados do processo. Faixas de trabalho são cadastradas e para cada tipo de desvio uma mensagem é disparada imediatamente, e de acordo com o tipo de problema ações previamente estabelecidas são tomadas e registradas. Desta forma as equipes passaram ter mais autonomia, rapidez na execução, além de maior domínio na execução dos monitoramentos.

Ferramentas de green/black belt, aprimoramento de modelos de prevenção e predição também foram implementados durante o processo.

Os resultados apresentados são motivadores, de 2016 para 2018 houve redução de 25% do número de devoluções e 59% menos reclamações no SAC. Além de saltar de uma classificação “regular” no Reclame Aqui em 2016, para “ótimo” em 2017 e a empresa ser indicada ao prêmio Época – Reclame Aqui em 2018.

Emilia ressaltou a importância do envolvimento dos colaboradores e que é primordial a divulgação dos resultados para incentivar a utilização da ferramenta. A palestra foi muito interessante, pois mostrou na prática a implementação, as dificuldades e os resultados positivos da utilização do big data.

Quer saber mais sobre o assunto, leia os posts:  BIG DATA: a tecnologia da informação transformando o sistema de alimentos e BIG DATA torna mais seguros os sistemas de produção de alimentos.

Na sequência tivemos a palestra “Monitoramento ambiental de alergênicos, ministrada pelo Dr Wilfredo Dominguez (Cientista sênior – 3M)”, que iniciou reforçando a importância do gerenciamento de riscos, mudança de cultura e treinamento contínuo.

Wilfredo trouxe alguns dados sobre alergia alimentar, são mais de 250 milhões de pessoas no mundo com este tipo de alergia e que nos Estados Unidos, 47% dos recalls são ocasionados por alergênicos não declarados.

Os principais passos para a implementação do programa de monitoramento de alergênicos são:

  • Monitorar os fornecedores;
  • Identificar e avaliar os riscos de contaminação em cada etapa do processo;
  • Controlar através de materiais dedicados, segregação, identificação adequada, rastreabilidade, limpeza e sanitização da linha, ambiente e utensílios.
  • Validar o processo para garantir que não há risco de contaminação cruzada
  • Verificar se tudo está funcionando conforme o planejado.

A ANVISA e o MAPA também estiveram presentes no evento, a primeira foi representada pela Dra Lígia Schreiner que falou sobre “ Atualização da RDC 12” (Este tema já foi tratado aqui no blog Fim da Consulta Pública de revisão da RDC 12/2001: e agora?) a perspectiva é que a mesma seja publicada ainda este ano. As principais mudanças estarão nos microrganismos, plano amostral e categoria dos alimentos. O foco continuará em alimentos prontos para consumo, não serão incluídos padrões microbiológicos para produtos intermediários que serão processados posteriormente.

Já o MAPA foi representado pela Dra Josinte de Freitas, que falou sobre “ Atualizações sobre os Programas de Controle em alimentos” e informou que os métodos de análise microbiológicos e físico químicos serão revisados.

E fechando com chave de ouro, a palestra “O fim do círculo vicioso, ministrada por Márcio Fernandes”, que fazendo um link com cultura de food safety, reforçou a importância de engajar as pessoas, fazer com que elas acreditem nos seus propósitos, de forma que façam as coisas porque querem e não porque são mandadas.

Já estamos ansiosos pela próxima edição!!!

4 min leituraO blog Food Safety Brasil esteve presente no 6º Simpósio Internacional 3M Food Safety –  As boas práticas através do conhecimento, representado pela nossa editora chefe Juliane Dias e as […]

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Toda reação adversa a um alimento é uma alergia?

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Não! Comumente pessoas relacionam uma reação a determinado alimento como alergia, mas nem toda reação adversa a um alimento é de fato uma alergia.

Interessante que em janeiro deste ano foi publicada uma pesquisa realizada nos EUA com 40 mil pessoas, na qual se concluiu que metade dos indivíduos que diziam ter alguma alergia alimentar na verdade não sofria desse problema. Justamente porque há uma confusão entre intolerância ou sensibilidade a um alimento, com a alergia verdadeira. Caso você tenha curiosidade em ler a pesquisa, segue o link aqui.

Vamos entender um pouco mais. Quando pensamos em reações adversas a alimentos, podemos dividi-las em dois grandes grupos:

– Reações adversas que podem ocorrer em todos os indivíduos, ou seja, em qualquer um de nós!

Exemplos: intoxicação ou infecção alimentar (ingestão de alimentos contaminados por determinadas bactérias), doenças causadas a médio ou longo prazo pelo consumo de alimentos com presença de contaminantes químicos (metais pesados, resíduos de agrotóxicos, toxinas, etc.), danos provocados pelo consumo de alimentos contaminados com algum tipo de perigo físico (por exemplo: um pão com um pedaço de vidro…  Certamente causará algum dano, certo?). E por aí vai…

– Reações de hipersensibilidade: são aquelas que ocorrem somente em pessoas que são suscetíveis, ou seja, pessoas que possuem alguma pré-disposição e ou fator genético relacionado.  Muitos estudos já foram e continuam sendo conduzidos, e ainda não há um consenso, mas entende-se que a causa pode estar relacionada à predisposição genética, fatores fisiológicos e sensibilização.

Exemplos: doença celíaca, alergia alimentar, intolerância à lactose, hipersensibilidade aos sulfitos e outros distúrbios com mecanismos desconhecidos.

Para todos os casos há uma preocupação de saúde pública relacionada ao consumo de alimentos e a correta informação ao consumidor. Quem trabalha direta ou indiretamente na cadeia produtiva de alimentos (seja na indústria, restaurante, produção primária, etc.) deve estar atento a todas as práticas adequadas para fabricação e ou fornecimento de alimento seguro, e também ao que a legislação regulamenta para estes casos.

Agora que você já sabe que nem toda reação adversa a um alimento é uma alergia, em um próximo post vamos falar especificamente das reações de hipersensibilidade e entender a diferença entre cada uma delas. Vamos ver o que a legislação determina que as indústrias de alimentos façam para atender a necessidade de informação às pessoas que são susceptíveis a estas reações, que podem ocorrer com o envolvimento do nosso mecanismo de defesa (imunológico) ou não.

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Quais os possíveis riscos no consumo de leite de cabra cru?

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Gustavo Luis de Paiva Anciens Ramos 1,2, Janaína dos Santos Nascimento1*

 

1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos

2 Universidade Federal Fluminense (UFF), Faculdade de Farmácia, Laboratório de Higiene e Microbiologia de Alimentos *Email: janaina.nascimento@ifrj.edu.br

 

O leite de cabra

Os produtos lácteos caprinos são considerados saudáveis e com características bioquímicas e sensoriais desejáveis, permitindo a produção de uma grande variedade de derivados, principalmente vários tipos de queijo com alto valor de mercado (CAVICCHIOLI et al., 2015).

O leite de cabra vem se revelando uma opção ao leite de origem bovina por razões de alergenicidade, especialmente em crianças. Suas composições centesimais são parecidas numericamente, porém existem diferenças estruturais que afetam as características digestivas. A proteína ?s1-caseína, associada à alergenicidade, é presente no leite bovino em cerca de 12 a 15 g/L, enquanto no leite caprino, este valor chega no máximo a 7 g/L. Com relação ao conteúdo lipídico, o leite de cabra tem glóbulos de gordura menores e maior presença de ácidos graxos de cadeia média e curta, causando um impacto positivo no processo digestivo (LAI et al., 2016; HODGKINSON et al., 2017).

O Brasil possui um rebanho de caprinos que figura entre os vinte maiores do mundo, sendo que mais da metade deste consiste de animais leiteiros. Ainda assim, a produção nacional é pouco expressiva, correspondendo a apenas 1,66% da produção mundial (15.262.116 toneladas). Em termos de América do Sul, o Brasil é o maior produtor, correspondendo a 80% do total (314.565 toneladas) (FAO, 2016).

Segundo a Instrução Normativa Nº 37 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que regulamenta o procedimento técnico de produção, identidade e qualidade do leite de cabra, este é definido como produto oriundo da ordenha completa, ininterrupta, em condições de higiene, de animais da espécie caprina sadios, bem alimentados e descansados. Neste regulamento técnico são explicitados os requisitos para o processo de produção, assim como sua higiene, controle e beneficiamento. Apresenta, ainda, os critérios de classificação, designação, composição e aborda pontos relacionados a fraudes, contaminantes, rotulagem e critérios microbiológicos (BRASIL, 2000).

 

Riscos microbiológicos e químicos do leite de cabra cru

O leite é um alimento com alto valor nutritivo e, por isso, tende a ser um meio de cultura excelente para micro-organismos deteriorantes e patogênicos. Devido a esse fato, deve ser obtido em rígidas condições de higiene e imediatamente refrigerado, com posterior tratamento térmico (WESCHENFELDER et al., 2016; ALEGBELEYE et al., 2018). A cadeia de produção de lácteos também contribui para a contaminação, pois além da contaminação primária durante a criação do animal, existem pontos críticos durante o processamento, transporte e armazenamento dos produtos finais (AGRIMONTI et al., 2017).  Logo, as condições higiênico-sanitárias no processo de obtenção do leite estão diretamente relacionadas com os parâmetros microbiológicos do produto, e consequentemente com a qualidade do produto final (QUEIROGA et al., 2007).

A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) Nº 12 de 2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) apresenta o regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. No grupo de alimentos denominado leite de bovinos e de outros mamíferos e derivados, onde inclui-se o leite de cabra, são indicados os micro-organismos que devem ser pesquisados, assim como seus valores numéricos máximos, para que a qualidade mínima do produto seja garantida. Para leite fluido pasteurizado, a recomendação é que sejam pesquisados coliformes a 45ºC e Salmonella spp. Já para queijos, a orientação varia de acordo com o tipo e a umidade de cada produto. Em geral, devem ser pesquisados coliformes termotolerantes, estafilococos coagulase positiva, Listeria monocytogenes e Salmonella spp. Não há parâmetros para o leite cru (BRASIL, 2001), entretanto, o consumo deste alimento é uma prática muito disseminada em várias regiões do Brasil, o que pode constituir um riso para a saúde do consumidor.

A microbiota natural do leite de cabra cru é composta em sua maior parte por bactérias ácido-láticas, como espécies dos gêneros Lactococcus e Lactobacillus, e por membros da família Enterobacteriaceae. A composição microbiológica pode variar de acordo com a estação do ano em que o leite foi coletado, devido às mudanças na alimentação e na saúde do animal, que podem estar relacionadas à temperatura do ambiente (QUIGLEY, et al., 2013). Este alimento, no entanto, é frequentemente relacionado à presença de Staphylococcus aureus enterotoxigênicos e Escherichia coli produtoras de toxina Shiga (STEC). Ainda, é ocasionalmente relacionado à presença de Listeria monocytogenes, Campylobacter spp., e outros micro-organismos dos gêneros Salmonella e Cronobacter, ressaltando, assim, que o seu consumo in natura pode vir a se tornar problema de saúde pública (ÁLVAREZ-SUÁREZ et al., 2015; OSMAN et al., 2013).

A  nível nacional, a presença de micro-organismos potencialmente patogênicos no leite caprino cru também tem sido comumente descrita. Um estudo recente avaliou a qualidade microbiológica do leite caprino cru na Paraíba, onde foram obtidas contagens acima do considerado tolerável de mesófilas totais e de coliformes, indicando falhas no processo higiênico de ordenha. Foram detectadas, ainda, contagens significativas de Staphylococcus aureus em cerca de 5% das amostras, revelando um potencial problema relacionado à produção de toxinas por estes micro-organismos e uma possível associação com mastite no animal, uma vez que esta bactéria é a mais relacionada à esta infecção. Salmonella enterica foi isolada em 1,3% das amostras pesquisadas, revelando a variedade e gravidade dos patógenos encontrados no leite caprino cru (MONTE et al., 2016).

Outros estudos exibem resultados igualmente preocupantes. Em amostras de leite caprino cru obtidas no estudo de São Paulo, detectou-se alta prevalência (cerca de 35%) e diversidade de mico-organismos do gênero Staphylococcus, além de representantes da família das enterobactérias, ambos frequentemente associados a surtos alimentares e considerados, assim, potenciais riscos à saúde humana (MACHADO et al., 2018a). Essa afirmação é fortemente corroborada por Cavicchioli e colaboradores, que realizaram um estudo em Minas Gerais, com leite de cabra cru, onde além de revelar alta contagem de estafilococos coagulase positiva nas amostras analisadas, também comprovou a produção efetiva de enterotoxinas por estes micro-organismos (CAVICCHIOLI et al., 2015).

Em um trabalho realizado no estado do Rio Grande do Norte, além de amostras de leite caprino cru, foi avaliada também a condição higiênico-sanitária dos manipuladores da ordenha, dos utensílios utilizados durante o processo e dos tetos dos animais. Nos manipuladores, foram encontrados estafilococos coagulase negativa em mais de 70% das amostras, assim como coliformes totais e termotolerantes em cerca de um quarto dos colaboradores avaliados. Estes resultados evidenciam a higiene precária das mãos antes do processo de ordenha, podendo ocorrer contaminação do leite obtido pelo manipulador. Com relação à superfícies de utensílios (baldes e peneiras) utilizados diretamente no processo de ordenha, 91% das amostras analisadas apresentou contagem total de mesófilos acima de 5,0 x 10 UFC/cm², indicando deficiência nos processos de sanitização dos utensílios e falha nos processos de controle. Ainda, cerca de 20% destes utensílios e 52% das amostras de leite apresentaram presença de coliformes totais e termotolerantes e estafilococos coagulase positiva e negativa, indicando alta probabilidade contaminação cruzada (SILVA et al., 2017).

De acordo com Martin e colaboradores, no leite cru de bovinos e outros animais, os coliformes são encontrados em cerca de 98% das amostras. Se detectados mais de 10.000 ufc/mL desse grupo, supõe-se que haja uma correlação com práticas inadequadas de higiene, refrigeração ineficiente do produto ou condição de mastite no animal. Por outro lado, no leite pasteurizado, a presença de coliformes indica contaminação pós-pasteurização, relacionada à formação de biofilme, ou falha no processo térmico (MARTIN et al., 2016). Silva e colaboradores confirmam a importância da observação das práticas de higiene, uma vez que verificaram que a contaminação de utensílios utilizados na ordenha de cabras por coliformes e estafilococos pôde ser corrigida em quase totalidade dos casos após a simples implementação de boas práticas no processo de ordenha (SILVA et al., 2017).

Outro problema que merece destaque quando se trata do consumo de leite caprino cru consiste no fato de que em vacas e cabras no período de lactação, é usual o tratamento de mastites e outras infecções com antibióticos. Porém, o uso indiscriminado e muitas vezes sem o acompanhamento de um médico veterinário pode resultar em superdosagem ou em rota de administração inadequada (BELTRÁN et al, 2013). Pode, ainda, ocorrer o uso de substâncias não adequadas para o animal em questão ou o descumprimento do tempo de não retirada do leite após a administração do medicamento, gerando resíduos no leite obtido (BELTRÁN et al, 2014). Embora o risco de se encontrar resíduos de antibióticos em leste pasteurizado também ocorra, muitos consumidores erroneamente acreditam que leite cru e leite orgânico são, necessariamente, sinônimos, ou ainda, que resíduos de antibióticos podem ser encontrados apenas em leite bovino e não em leite caprino.

Um estudo recente demonstrou que 46% de amostras de leite de cabra analisadas na Bahia apresentaram resíduos de antibióticos acima do limite máximo recomendado, a partir do uso de testes rápidos de detecção, sendo que determinadas propriedades apresentaram percentual de até 67% de amostras com resultado positivo. Esse percentual se revelou consideravelmente maior em relação a estudos realizados na década passada, que oscilaram entre 7 e 30% de amostras com resíduos de antibióticos identificados, revelando a gravidade e o avanço deste problema de saúde pública (SANTOS, CRUZ e BRANDÃO, 2015).

A associação do uso de antimicrobianos nos animais com o desenvolvimento de multirresistência pelos micro-organismos têm desencadeado estudos no sentido de buscar alternativas para o tratamento de infecções, especialmente de mastite, com o objetivo de reduzir a administração destes fármacos (KRÖMKER & LEIMBACH, 2017). A prevenção e o controle da mastite caprina ainda são as melhores opções para evitar a utilização de antibióticos e estão relacionadas a aplicação de medidas sanitárias nas propriedades criadoras e às boas práticas de higiene das glândulas mamárias e dos profissionais envolvidos durante a ordenha, além da sanitização adequada dos utensílios utilizados nesse processo (CONTRERAS et al., 2007; MACHADO et al., 2018b).

 

Conclusões

No mercado consumidor brasileiro, assim como em outras partes do mundo, é crescente a demanda por produtos lácteos que possuam boa qualidade e que tenham um longo prazo de validade. Dessa forma, o leite pasteurizado apresenta uma grande vantagem em relação ao leite cru. Entretanto, o consumo de leite cru é comum em várias cidades brasileiras, por motivos culturais e, nos últimos anos, pelo apelo de ser um produto mais saudável.

Um fato preocupante, que deve ser considerado, consiste na comercialização de leite sem inspeção governamental, principalmente em cidades pequenas, onde grande parte da produção é proveniente de pequenos produtores, e que, na maioria das vezes, acaba sendo sua principal fonte de renda. Além disso, problemas na ordenha ou no armazenamento do leite de cabra cru contribuem para aumentar a contaminação microbiológica do produto, especialmente, em pequenas propriedades. Nesses casos, uma política de conscientização e treinamento com os produtores poderia auxiliar no processo de garantia da qualidade do leite.

Devido ao importante e crescente papel que o setor de produtos lácteos caprinos desempenha na economia nacional e devido aos riscos microbiológcos e  químicos que o consumo de leite de cabra cru pode ocasionar,  faz-se necessária uma maior fiscalização da comercialização do leite por parte dos órgãos regulamentadores para melhor zelar pela saúde dos consumidores, mas sem causar prejuízo aos pequenos produtores.

 

Referências

 

AGRIMONTI, C.; BOTARI, B.; SARDARO, M. L. S.; MARMIROLI, N. Application of real-time PCR (qPCR) for characterization of microbial populations and type of milk in dairy food products. Critical Reviews In Food Science And Nutrition, v. 53, n. 7, p. 1157-1226, 2017

ALEGBELEYE, O. O., GUIMARÃES, J. T., CRUZ, A. G., & SANT’ANA, A. S. (2018). Hazards of a ‘healthy’trend? An appraisal of the risks of raw milk consumption and the potential of novel treatment technologies to serve as alternatives to pasteurization. Trends in Food Science & Technology.82: 148-166, 2018.

ÁLVAREZ-SUÁREZ, M.; ANDRÉS, O.; GARCÍA-LOPEZ, M.; SANTOS, J. A. Microbiological Examination of Bulk Tank Goat’s Milk in the Castilla y León Region in Northern Spain. Journal of Food Protection, v. 78, n. 12, p.2227-2232, 2015.

BELTRÁN, M. C.; BORRÀS, M.; NAGEL, O.; ALTHAUS, R. L.; MOLINA, M. P.  Validation of Receptor-Binding Assays To Detect Antibiotics in Goat’s Milk. Journal of Food Protection, v. 77, n. 2, p. 308-313, 2014.

BELTRÁN, M. C.; ROMERO, T.; ALTHAUS, R. L.; MOLINA, M. P. Evaluation of the Charm maximum residue limit ?-lactam and tetracycline test for the detection of antibiotics in ewe and goat milk. Journal of Dairy Science, v. 96, n. 5, p. 2737-2745, 2013.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC Nº 12/2001. Regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos, 2001.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº. 37, de 31 de outubro de 2000. Regulamento técnico de produção, identidade e qualidade do leite de cabra, 2000.

CAVICCHIOLI, V. Q.; SCATAMBURLO, T.M.; YAMAZI, A. K.; PIERI, F. A.; NERO, L. A. Occurrence of Salmonella, Listeria monocytogenes, and enterotoxigenic Staphylococcus in goat milk from small and medium-sized farms located in Minas Gerais State, Brazil. Journal Of Dairy Science, v. 98, n. 12, p.8386-8390, 2015

CONTRERAS, A., SIERRA, D., SÁNCHEZ, A., CORRALES, J. C., MARCO, J. C., PAAPE, M. J., & GONZALO, C. Mastitis in small ruminants. Small Ruminant Research, v. 68, p.145-153, 2007.

FAO, Food And Agriculture Organization Of The United Nations. FAOSTAT – Statistic Database. 2016. Disponível em: <http://www.fao.org/faostat/en/#data/QL>. Acesso em: 07 jan. 2018.

HODGKINSON, A. J.; WALLACE, O. A. M.; BOGGS, I.; BROADHURST, M.; PROSSER, C. G. Gastric digestion of cow and goat milk: Impact of infant and young child in vitro digestion conditions. Food Chemistry, v. 245, p.275-281, 2017.

KRÖMKER, V; LEIMBACH, S. Mastitis treatment-Reduction in antibiotic usage in dairy cows. Reproduction In Domestic Animals, v. 52, p.21-29, 2017.

LAI, C. Y., FATIMAH, A. B., MAHYUDIN, N. A., SAARI, N., & ZAMAN, M. Z. Physico-chemical and microbiological qualities of locally produced raw goat milk. International Food Research Journal, v. 23, n.  2, p. 739-750, 2016.

MACHADO, G. P.; SILVA, R. C.; GUIMARÃES, F. F.; SALINA, A.; LANGONI, H. Detection of Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae and Escherichia coli in Brazilian mastitic milk goats by multiplex-PCR. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 38, n. 7, p.1358-1364, 2018a.

MACHADO, G. P., GUIMARÃES, F. F., MENOZZI, B. D., SALINA, A., POSSEBON, F. S., & LANGONI, H. Occurrence, pathogens and risk factors for subclinical mastitis in dairy goats. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 70, n. 5, p. 1665-1670, 2018b.

MARTIN, N. H.; TRM?I?, A.; HSIEH, T.; BOOR, K. J.; WIEDMANN, M. The Evolving Role of Coliforms As Indicators of Unhygienic Processing Conditions in Dairy Foods. Frontiers In Microbiology, v. 7, p.1-8, 2016.

MONTE, D. F. M.; LOPES JÚNIOR, W. D.; OLIVEIRA, C. J. B; MOURA, J. F. P. Indicadores de qualidade microbiológica do leite caprino produzido na Paraíba. Agropecuária Científica no Semiárido, v. 12, n. 4, p.354-358, 2016.

OSMAN, K. M.; ZOLNIKOV, T. R.; SAMIR, A.; ORABI, A. Prevalence, pathogenic capability, virulence genes, biofilm formation, and antibiotic resistance ofListeriain goat and sheep milk confirms need of hygienic milking conditions. Pathogens And Global Health, v. 108, n. 1, p.21-29, 2013.

QUEIROGA, R. C. R. E.; COSTA, R. G.; BISCONTINI, T. M. B.; MEDEIROS, A. N.; MADRUGA, M. S.; SCHULER, A. R. P. Influência do manejo do rebanho, das condições higiênicas da ordenha e da fase de lactação na composição química do leite de cabras Saanen. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, n. 2, p. 430-437, 2007.

QUIGLEY, L.; O’SULLIVAN, O.; STANTON, C.; BERESFORD, T. P.; ROSS, R. P.; FITZGERALD, G. F.; COTTER, P. D. The complex microbiota of raw milk. Fems Microbiology Reviews, v. 37, n. 5, p. 664-698, 2013.

SANTOS, J. F.; CRUZ, L. Z.; BRANDÃO, L. G. N. Perfil Lipídico e Resíduos de Antibióticos no Leite Caprino no Município de Senhor do Bonfim –Ba. Revista de Ciência Veterinária e Saúde Pública. v. 2, n. 2, p.92-98, 2015.

SILVA, J. B. P.; MACÊDO, C. S.; OLIVEIRA, S. M. S.; RANGEL, A. H. N.; MURMANN, L. Qualidade microbiológica do leite caprino em propriedades rurais da região de macaíba/rn. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, v. 72, n. 2, p.67-73, 2017.

WESCHENFELDER, S.; PAIM, M. P.; GERHARDT, C.; WIEST, J. M. Avaliação da rotulagem nutricional e das características físico-químicas e microbiológicas de diferentes marcas de leite pasteurizado e leite UHT. Boletim de Indústria Animal, v. 73, n. 1, p. 32-38, 2016.

Este texto foi enviado pelo professor Adriano Cruz, da IFRJ. Você também tem um trabalho para compartilhar? Escreve para o Food Safety Brazil: redacao@foodsafetybrazil.org.

10 min leituraGustavo Luis de Paiva Anciens Ramos 1,2, Janaína dos Santos Nascimento1*   1Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Mestrado em Ciência e Tecnologia de […]

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A ciência como base para a segurança de alimentos – 1ª Conferência Internacional de Segurança de Alimentos da FAO/ OMS/ AU [4/6]

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A Primeira Conferência Internacional sobre Segurança de Alimentos da FAO/OMS/AU (Food and Agriculture Organization of the United Nations/ World Health Organization/ Africa Unite) enfatizou a importância do papel central da ciência na avaliação de risco em todos os assuntos que envolvem segurança de alimentos. Isto significa dizer que deve-se basear em pareceres científicos sólidos e provas fornecidas por painéis de especialistas competentes e independentes.

A FAO trabalha em colaboração com especialistas científicos e fornece orientação para os países em desenvolvimento e emergentes, para que o gerenciamento de riscos em segurança de alimentos seja centrado no que a ciência possui de mais eficiente. Esta orientação é adaptada às necessidades específicas do país, especialmente daqueles que possuem poucos dados ou têm sistemas de controle menos efetivos e estão empenhados em promover abordagens assertivas no processo para obter resultados em segurança de alimentos.

As avaliações de risco fornecem informações para identificar e caracterizar os riscos alimentares. As informações de avaliação de risco são úteis para determinar quais perigos são de tal natureza que sua prevenção, eliminação ou redução a níveis aceitáveis seja necessária. A informação também é útil para determinar as estratégias de intervenção mais eficazes. Além disso, a disponibilidade de ferramentas para a tomada de decisão torna inclusivas e transparentes as políticas de segurança de alimentos.

Tomar decisões estratégicas sólidas é a principal responsabilidade dos gerentes de risco em segurança de alimentos, que devem pesar vários critérios e interações de risco complexas. Essas decisões exigem o equilíbrio de prioridades na segurança de alimentos, priorizando recursos, seguindo recomendações políticas e selecionando a intervenção mais apropriada para minimizar os riscos. Para a construção de programas sólidos em segurança de alimentos, os gerentes de risco precisam se basear nos melhores dados e evidências científicas disponíveis. Também devem levar em consideração os impactos na saúde pública, no comércio, no acesso a alimentos e segurança alimentar.

A FAO trabalha juntamente com a OMS, fornecendo aconselhamento científico neutro e independente como base essencial para as normas internacionais de Segurança de Alimentos, diretrizes e códigos estabelecidos pela Comissão do Codex Alimentarius e para apoiar o desenvolvimento de sistemas de controle de alimentos pelas autoridades de cada país, como o sequenciamento do genoma de patógenos veiculados por alimentos para vigilância epidemiológica. Para se desenvolver um aconselhamento científico globalmente relevante e de alta qualidade, é considerada toda a cadeia de produção de alimentos. Além disso, são realizadas atualizações dos métodos e abordagens das normas internacionais na área de alimentos, para que haja consistência nos dados transmitidos.

 Comitês Científicos da FAO/OMS

Os comitês científicos da FAO/OMS são órgãos interdisciplinares formados por cientistas de notório saber em suas áreas de conhecimento, responsáveis pelas avaliações demandadas pelos comitês do Codex, com base em princípios da Análise de Risco devidamente estabelecidos. Esses comitês exercem papel essencial nas decisões de gerenciamento de riscos. Os comitês permanentes são:

  • Comitê FAO/OMS de Peritos em Aditivos Alimentares (Joint FAO/OMS Expert Committee on Food Additives – JECFA) se reúne desde 1956 para fornecer orientação científica sobre aditivos alimentares, contaminantes e resíduos de medicamentos veterinários em alimentos, assessorando o Codex Alimentarius em suas decisões. Com base em estudos toxicológicos, o JECFA estabelece, quando possível, a Ingestão Diária Aceitável – IDA – dos aditivos.
  • Comitê FAO/OMS de peritos em Avaliação de Risco Microbiológico (Joint FAO/OMS Expert Meetings on Microbiological Risk Assessment – JEMRA) se reúne desde  2000 como um grupo internacional de especialistas científicos para avaliação de risco de microrganismos patogênicos considerados relevantes em alimentos.
  • Comitê FAO/OMS de peritos sobre Resíduos de Pesticidas (Joint Meeting on Pesticides Residues – JMPR) se reúne anualmente desde 1963 para realizar avaliações científicas de resíduos de pesticidas em alimentos, fornecendo conselhos sobre os níveis aceitáveis de resíduos de pesticidas em alimentos comercializados internacionalmente.
  • Comitê FAO/OMS de peritos em Nutrição (Joint FAO/OMS Expert Meetings on Nutrition – JEMNU) foi estabelecido em 2010 para fortalecer o papel da FAO e da OMS na prestação de assessoria científica sobre nutrição aos Estados Membros e órgãos como a Comissão do Codex Alimentarius e em particular o Comitê do Codex para Nutrição e Alimentos para Usos Alimentares Especiais (CCNFSDU) com o objetivo de estabelecer padrões de nutrição global apropriados para a proteção da saúde e inclusão comercial.

Princípios Essenciais Para Conselhos Científicos

  • Solidez: excelência científica, baseada em evidências, rigorosa e repetível.
  • Responsabilidade: responsabilidade, salvaguardando a integridade do processo.
  • Objetividade: inclui a neutralidade dos especialistas e do aconselhamento fornecido
  • Equidade: do processo e respeito por todos os participantes e suas visões científicas
  • Transparência: tanto do processo como do aconselhamento científico
  • Inclusão: equilíbrio de habilidades e competências, opinião científica minoritária, equilíbrio geográfico e socioeconômico sem comprometer a excelência.

Para saber mais:

www.who.int/food-safety/international-food-safety-conference

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Higienização de EPIs

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Considerando que um dos principais pré-requisitos de boas práticas de fabricação está relacionado à limpeza e higienização de ambientes e equipamentos, é pertinente explorar as barreiras do tema e avaliar a possibilidade de contaminação cruzada derivada da falta ou inadequada higienização de EPIs.

Afinal de contas, o que é um EPI?

Pela definição da NR-06 (Norma Regulamentadora 06 – Equipamento de Proteção Individual) “considera-se EPI todo dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis a segurança e saúde no trabalho.”

A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados.

Como podem perceber, quando falamos de equipamentos de proteção, o foco principal é segurança ocupacional. Contudo, não podemos fechar os olhos para o impacto que este item pode ter em relação ao risco de contaminação de processos e produtos se não forem adequadamente limpos e higienizados. E aqui, há uma linha tênue entre a necessidade de manter estes equipamentos limpos tanto para garantir a eficiência e minimização dos riscos para a saúde dos colaboradores quanto para não acarretar riscos de contaminação aos produtos.

No conteúdo de hoje vou abordar a quais critérios temos que atentar para fazer a gestão da higienização destes equipamentos.

Bem, para começar vale ressaltar que quando falamos em EPI devemos ter em mente que é obrigatório garantir a individualidade do equipamento. Ou seja, se vamos recolher o EPI do colaborador de matrícula 1234 devemos garantir que o EPI higienizado deve retornar para o colaborador de matrícula 1234. Este conceito se aplica a sapatos de segurança, cintos lombares, protetor auricular, uniformes para eletrecistas e qualquer outro equipamento de proteção individual. Esta regra está estabelecida na própria NR-06 (Norma Regulamentadora 06 – Equipamento de Proteção Individual).

Já para os uniformes das demais funções da organização esta rastreabilidade não é obrigatória, é apenas uma boa prática. Somente é necessário garantir a correta higienização.

E como estabelecemos a metodologia para uma higienização eficaz de EPIs?

Podemos ter o mesmo equipamento de proteção sendo utilizado em dois ou mais processos de uma mesma empresa ou de empresas diferentes e este equipamento ter a necessidade de métodos de higienização diferentes. Por que isso acontece?

Porque a contaminação (de processo ou de resíduo) deste EPI depende do meio ao qual ele está exposto e também do usuário.

É provável que numa mesma organização, um único método de higienização para um determinado equipamento de proteção possa ser suficiente para garantir que o equipamento esteja em adequadas condições de retornar ao uso, mas isso vai depender das características específicas do processo e do método de higienização.

Exemplo: vamos considerar que a lavanderia de uma empresa faz a lavagem dos uniformes dos processos “A” e “B”. No processo A, podemos encontrar no mapeamento de perigos, a possibilidade de contaminação por alergênicos derivados de castanhas. Já no processo “B”, para alguns produtos são utilizados como matéria prima ovos e leite. A eficácia da lavagem dos uniformes deve ser testada tanto para a remoção dos alergênicos da castanha quanto para ovos e leite.

A forma correta de higienizar o EPI pode variar de acordo com cada um dos tipos e do material que compõe o equipamento. Abaixo listei as principais formas de higienização de alguns equipamentos:

Higienização de sapatos de segurança: Os calçados de segurança feitos de couro não devem ser lavados diretamente para evitar o ressecamento do material. Neste caso, o ideal é que a limpeza seja feita com pano úmido. Por outro lado, calçados de PVC e de microfibra podem ser lavados. Para ambos os casos, é imprescindível que o EPI seque por completo antes do uso.

Você pode encontrar outras informações sobre higienização de calçados de segurança aqui.

Higienização de protetores auriculares: Limpar usando água corrente, e esfregando o protetor com as mãos.

Não misture o equipamento com roupas sujas para evitar a contaminação.

Higienização de cintos lombares: Em geral, o ideal é lavagem com água morna e sabão neutro. Não utilizar secadora, mas deixar secar à sombra.

Higienização de capas térmicas: Lavar com cuidado, usando sabão neutro e enxaguar abundantemente com água corrente. Não use nenhum produto químico ou alvejante na remoção de sujeira. Deixar secar à sombra, evitando o uso de máquina de lavar ou secar.

Em geral, para validar o processo de higienização é comum encontrarmos estudos de validação que contemplam no mínimo 3 tomadas de amostras para análise considerando a repetibilidade do processo de limpeza / higienização. Desta forma, se as análises apresentarem resultados similares e dentro do nível aceitável, podemos concluir que o método de higienização garante que não haverá o arraste de contaminação.

Além disso, seguem outras informações importantes sobre uma gestão de EPIs eficaz:

-O EPI deve ter CA (Certificado de Aprovação emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego) válido;

-Os equipamentos têm vida útil, com isso a organização deve definir uma periodicidade de troca para se certificar de que o equipamento está cumprindo a sua função principal;

-Estabelecer controle para que o equipamento retorne ao seu colaborador de origem após a higienização (este controle pode ser por matrícula do colaborador, nome ou outra metodologia estabelecida pela organização).

Pronto para encarar o desafio da higienização de EPI?

Boa sorte!!!

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