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Ketchup, mostarda e mel: o que realmente precisa ir à geladeira?

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Entre ciência, legislação e boas práticas, descubra quando a refrigeração é obrigatória e quando é apenas uma questão de qualidade. Quem nunca discutiu sobre onde guardar o ketchup? Ou se a mostarda precisa mesmo ficar na geladeira depois de aberta? Embora pareçam dilemas domésticos, essas perguntas têm base científica sólida — e entender o comportamento microbiológico por trás dos condimentos é fundamental tanto para quem trabalha na indústria quanto para quem atua em serviços de alimentação ou simplesmente é dona de casa.

Aqui vai um insight importante: a recomendação “refrigerar após abrir” não está necessariamente ligada apenas à segurança microbiológica, mas também à preservação da qualidade sensorial. Produtos como molhos, geleias e manteigas têm características que dificultam o crescimento microbiano: baixa atividade de água (aw), alta acidez (pH baixo), presença de sal, açúcar ou conservantes naturais, além de terem passado por processos térmicos para eliminar patógenos.

Esses fatores, isolados ou combinados, tornam a maioria dos condimentos estável à temperatura ambiente — ao menos do ponto de vista da segurança de alimentos. O que se perde fora da geladeira, na maioria das vezes, é a cor, sabor e textura, não a inocuidade. Como explica a professora Abby Snyder, da Universidade Cornell:

“Microrganismos deteriorantes podem até se desenvolver, mas raramente os patogênicos. O principal risco é sensorial, não sanitário.”

O que dizem as normas legais brasileiras?

A RDC 727/2022 da ANVISA regula a rotulagem de alimentos embalados e estabelece que as condições de armazenamento devem constar no rótulo quando necessárias para garantir qualidade e segurança. Para quem trabalha com food service, a RDC 216/2004 determina que produtos prontos para consumo sejam mantidos sob condições que previnam contaminação. Mas atenção: isso não significa que tudo precisa estar refrigerado. A IN 161/2022, que estabelece padrões microbiológicos, reconhece que produtos com pH ácido e alta concentração de sal ou açúcar são naturalmente mais estáveis, tendo critérios menos restritivos.

E aqui entra um conceito fundamental: a tecnologia de obstáculos (hurdle technology). A RDC 331/2019 classifica alimentos com pH abaixo de 4,5 como ácidos, de baixo risco para patógenos como Clostridium botulinum. Quando combinamos acidez com baixa atividade de água (aw < 0,85 já inibe Staphylococcus aureus), criamos barreiras que tornam o produto microbiologicamente seguro sem refrigeração.

Na prática: cada condimento é um caso

  1. Ketchup é provavelmente o exemplo mais emblemático. Com pH em torno de 3,9 e aw entre 0,93-0,97, ele é naturalmente estável. É por isso que restaurantes o deixam fora da geladeira sem causar surtos de DTA. A refrigeração aqui é puramente para manter cor e sabor vibrantes por mais tempo. Conforme a RDC 216/2004, não há restrição para manter sachês individuais em temperatura ambiente no food service — desde que protegidos de luz e calor excessivo.
  2. Mostarda é ainda mais impressionante. Com pH entre 3,5-4,5 e compostos antimicrobianos naturais (isotiocianatos), ela é praticamente autoconservante. Como diz Brandon Collins, sommelier de mostarda: “É antibacteriana, então nada pode realmente crescer nela.” A geladeira apenas preserva aquele ardor característico que se perde com o tempo. Microbiologicamente falando, pode ficar na despensa sem preocupação.
  3. Mel é o campeão da estabilidade. Com aw de aproximadamente 0,6 e mais de 65% de açúcares redutores, é um ambiente hostil à vida microbiana. A IN 11/2000 do MAPA nem exige refrigeração — aliás, refrigerar mel é um erro comum que acelera a cristalização. Mas atenção ao alerta do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria: nunca ofereça mel a bebês menores de 1 ano, devido ao risco de esporos de Clostridium botulinum. Outra informação importante: o mel de abelhas nativas (sem ferrão) tem um teor mais elevado de umidade e precisa, sim, ser mantido sob refrigeração.
  4. Maionese comercial é interessante porque muda de status. Fechada, fica em temperatura ambiente graças ao pH 3,8-4,2 e à pasteurização. Aberta, precisa ir para a geladeira — não tanto pelo risco microbiológico (o pH ácido protege), mas porque o calor desestabiliza a emulsão. E aqui vai um ponto crítico da RDC 216/2004: maionese caseira com ovos crus é proibida em estabelecimentos comerciais justamente pelo risco de Salmonella.
  5. Molho de soja tradicional, com 15-18% de sal e processo fermentativo natural, dispensa refrigeração. Mas cuidado com versões “light” reduzidas em sódio — essas podem precisar de frio; sempre confira o rótulo.
  6. Geleias, doces em pasta e compotas, apesar da alta concentração de açúcar e pH ácido, devem ir para a geladeira após abertura para evitar fungos na superfície.

Contaminação cruzada, o verdadeiro vilão

Aqui está o segredo que muita gente ignora: mesmo produtos microbiologicamente estáveis podem ser comprometidos por manipulação inadequada. Utensílios úmidos ou sujos, armazenamento em ambientes incorretos (com condensação) — tudo isso introduz microrganismos que não deveriam estar ali. Para a indústria e para o food service, implementar POPs claros e treinar equipes sobre contaminação cruzada é tão importante quanto escolher a temperatura de armazenamento.

Para quem formula e fabrica

Se você trabalha com desenvolvimento de produtos, sabe que estudos de vida de prateleira não são opcionais. Análises microbiológicas, avaliação sensorial, monitoramento de pH e aw, testes de desafio microbiano (challenge test) — tudo isso justifica aquela frase no rótulo. A rastreabilidade completa, incluindo condições de armazenamento por lote, não só facilita recalls como demonstra comprometimento com a qualidade. E lembre-se: a declaração no rótulo não é só para cumprir tabela — ela orienta o consumidor e protege sua marca.

O que levar dessa discussão?

Produtos com pH < 4,5 e/ou aw < 0,85 são microbiologicamente seguros à temperatura ambiente. A refrigeração, nesses casos, é aliada da qualidade, não da segurança. Mas isso não significa negligenciar o frio — ele retarda oxidação, preserva compostos voláteis e mantém a experiência sensorial que o consumidor espera.

A conformidade com a RDC 727/2022 e outras normas não é burocracia: é gestão de risco baseada em ciência. E a maior lição? Refrigerar o que é necessário é prudência. Refrigerar o que não precisa é zelo. Saber a diferença é o que separa profissionais preparados de quem apenas segue instruções.

Como sempre dizemos: a manipulação higiênica após a abertura é mais crítica que a temperatura de armazenamento. Use colheres limpas e secas, mantenha embalagens bem fechadas, e eduque equipes e consumidores sobre boas práticas. Isso, sim, faz a diferença.

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Nutrigenômica e Segurança de Alimentos: quando a promessa de saúde vira excesso

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Hoje parece impossível ir ao mercado sem encontrar embalagens estampando frases como “rico em ferro”, “fonte de cálcio” ou “enriquecido com vitaminas do complexo B”.

Somado a isso, cresce o consumo de suplementos multivitamínicos e packs prontos, muitas vezes sem orientação profissional.

O resultado? Uma equação perigosa: nutrientes essenciais sendo consumidos muito além da quantidade recomendada.

A nutrigenômica, ciência que estuda como nutrientes interagem com nossos genes, mostra que cada pessoa responde de forma diferente aos alimentos. Mas na prática, estamos vivendo o oposto da personalização: uma avalanche de fortificação industrial mais a suplementação indiscriminada que ignora a individualidade e empurra muitos para o risco da hipervitaminose.

Neste artigo você vai entender:

  • Como a nutrigenômica se conecta à segurança de alimentos;
  • O impacto da fortificação em larga escala nos industrializados;
  • A sobreposição com suplementos e os riscos do consumo desenfreado;
  • Como fazer escolhas mais seguras e conscientes no dia a dia.

O que é nutrigenômica

A nutrigenômica busca compreender como genes e nutrientes interagem. Ela abre caminho para dietas personalizadas, adaptadas ao DNA de cada indivíduo. Mas enquanto a ciência caminha nessa direção, o mercado de alimentos e suplementos empurra a população para o excesso padronizado.

A nutrigenômica emergiu no início dos anos 2000 com o avanço das tecnologias de sequenciamento genético, possibilitando compreender como as variações no DNA influenciam a resposta individual aos nutrientes. Inicialmente focada em pesquisas laboratoriais, a área vem evoluindo para aplicações práticas, como dietas personalizadas, que buscam otimizar a saúde e prevenir doenças através da alimentação alinhada ao perfil genético de cada indivíduo. Este avanço tecnológico permitiu ampliar a compreensão da interação gene-nutriente, marcando uma revolução na ciência nutricional.

O boom da fortificação industrial de alimentos

Farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, leite “rico em cálcio e vitamina D”, cereais matinais “fortes em vitaminas”, bebidas lácteas com adição de zinco… A fortificação tem sua importância na prevenção de deficiências de nutrientes na população (exemplo clássico: redução da anemia com a fortificação de farinhas).

Mas quando somamos todos os produtos que consumidos diariamente, biscoitos, achocolatados, pães, bebidas, a ingestão de micronutrientes pode ultrapassar com facilidade a Ingestão Diária Recomendada (IDR).

Algumas variações genéticas comuns ilustram o impacto dessa individualidade alimentar. Como exemplo, polimorfismos no gene MTHFR (metilenotetrahidrofolato redutase) podem influenciar a metabolização do ácido fólico, essencial para prevenir defeitos congênitos em fetos. Pessoas com variantes menos eficientes desse gene podem necessitar de diferentes formas ou quantidades de folato. Outro exemplo é a intolerância à lactose, genética e comum, que determina a capacidade de digerir o açúcar do leite. Além disso, variações que afetam o metabolismo da cafeína, do álcool e do sódio podem modificar os riscos de consumo padrão desses componentes em alimentos industrializados. Ignorar essas diferenças, especialmente quando há uma fortificação padronizada, pode levar a efeitos adversos para muitos indivíduos.

Suplementos + alimentos industrializados = sobreposição perigosa

Fonte: https://www.elfarmaceutico.es/formacion-investigacion/salud/beneficios-usos-micronutrientes_152213_102_amp.html

Agora imagine esse cenário:

  • Café da manhã com cereal enriquecido, leite fortificado e suco adicionado de vitamina C;
  • Almoço acompanhado de um multivitamínico “para garantir energia”;
  • Pré-treino com pack de cápsulas contendo as mesmas vitaminas já presentes nos alimentos.

Essa sobreposição silenciosa pode levar a quadros de excesso, muitas vezes confundidos com “sintomas vagos” como dor de cabeça, enjoo, fadiga e que em casos mais graves evoluem para problemas hepáticos, renais e até malformações em gestantes (ex.: excesso de vitamina A).

O que a ciência e a toxicologia mostram

  • Vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) acumulam-se no organismo, aumentando risco de intoxicação.
  • Minerais em excesso (ferro, zinco, selênio) podem causar desequilíbrios e interações negativas com medicamentos.

Dados da OMS mostram aumento global de casos de hipervitaminose em países onde a suplementação cresce junto com a indústria de alimentos fortificados. No Brasil, embora faltem dados oficiais consolidados, estudos regionais e relatos emergenciais indicam um aumento no consumo indiscriminado de suplementos vitamínicos e multivitamínicos, muitas vezes sem acompanhamento profissional. Pesquisa da Sociedade Brasileira de Nutrição realizada em 2023 apontou que cerca de 40% dos adultos entrevistados fazem uso habitual de suplementos, muitos combinando esses produtos com alimentos industrializados fortificados, potencializando riscos de hipervitaminoses. Casos clínicos frequentes relatam sintomas inespecíficos como fadiga, dores de cabeça e náuseas, que podem estar associados ao consumo excessivo desses micronutrientes.

Interações pouco discutidas

Além do excesso, há outras interações:

  • Vitamina K interfere em anticoagulantes;
  • Ferro reduz absorção de antibióticos;
  • Zinco atrapalha alguns anti-hipertensivos.

Essa informação raramente aparece de forma clara nos rótulos, o que torna ainda mais difícil para o consumidor comum avaliar riscos.

A regulamentação atual da Anvisa exige informações sobre composição nutricional e advertências básicas, mas ainda carece de regras específicas sobre alertas para a sobreposição de nutrientes oriundos da combinação de alimentos fortificados e suplementos. A rotulagem raramente informa sobre o risco potencial de toxicidade por consumo concomitante, dificultando a avaliação consciente do consumidor. Além disso, a ausência de padronização nessas informações aumenta o desafio para profissionais de saúde no acompanhamento dos casos de excesso nutricional.

A nutrigenômica nos lembra que não existe “dose padrão” de saúde.

Cada organismo responde de forma única, mas a realidade atual é que estamos expostos a uma combinação de alimentos industrializados fortificados e suplementos com micronutrientes em quantidades padronizadas que muitas vezes ultrapassam os limites seguros individuais.

Informação e acompanhamento profissional são fundamentais para transformar a promessa de saúde em benefício real, e não em excesso perigoso.

Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/alimentacao/como-ler-os-rotulos-de-alimentos/amp/

Antes de colocar no carrinho ou engolir uma cápsula:

  1. Olhe o rótulo: veja se o alimento já contém vitaminas e minerais adicionados.
  2. Some o todo: considere não apenas o suplemento, mas todos os industrializados que consome.
  3. Evite duplicar: packs + multivitamínicos + produtos fortificados = risco de excesso.
  4. Informe seu médico ou nutricionista sobre suplementos e alimentos enriquecidos que consome.
  5. Desconfie de promessas milagrosas de energia ou imunidade em cápsulas.

O futuro da nutrigenômica aponta para avanços digitais que prometem revolucionar o acesso à alimentação personalizada. Aplicativos de dieta baseados em perfis genéticos, alimentos personalizados impressos em 3D e o uso crescente de inteligência artificial para combinar dados genéticos, hábitos e preferências são tendências já em desenvolvimento. Além disso, acredita-se que regulamentações mais rígidas, alinhadas ao avanço da ciência, irão exigir maior transparência nas informações oferecidas ao consumidor. Essas inovações poderão tornar a promessa da nutrigenômica em benefícios concretos, minimizando riscos e potencializando a saúde de forma individualizada.

Compartilhe este artigo com quem você sabe que consome suplementos juntamente com muitos produtos industrializados. Informação é prevenção.

Diogo Ximenes tem mais de 17 anos de experiência na área de qualidade e segurança de alimentos. Construiu uma trajetória sólida desde o laboratório de controle de qualidade até a liderança de equipes e implementação de sistemas de gestão reconhecidos. Foi responsável pela certificação FSSC 22000 em duas indústrias sucroalcooleiras e pela implantação da ISO 17025:2017 em laboratório industrial, elevando padrões de precisão e conformidade. Durante a pandemia, liderou a produção e regulamentação de 11 produtos antissépticos, unindo conhecimento técnico e visão estratégica. Pós-graduado em engenharia de alimentos, certificado como Auditor Líder FSSC 22000 v6 e em Design Sanitário EHEDG, segue comprometido em promover a excelência, inovação e sustentabilidade na indústria de alimentos.

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Animais silvestres e segurança de alimentos: contenção de “pragas” com mínimo impacto ambiental

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O crime não compensa 

O esforço contínuo para proteção da saúde e preservação de patrimônio de pessoas e indústrias elege alguns “vilões da contaminação”, digamos assim. São mosquitos, baratas, ratos, moscas, formigas, carunchos, pombos, enfim uma extensa lista de animais para os quais são mobilizados esforços de vigilância permanente e ações de controle.

Mas nem sempre o invasor contaminante é um “suspeito” com longa ficha corrida, incluindo crimes contra a vida, como dengue, leptospirose, toxoplasmose, salmonelose, ou depredação de patrimônio praticada pelos cupins, brocas, formigas e carunchos.

Metaforicamente, em alguns cenários, o delito contaminante é provocado sem dolo (ou intenção). Seria um crime circunstancial (culposo) ou até por “legítima defesa”, quando são inocentemente atraídos por iluminação, mas o ato ainda impõe ao meliante uma condenação, como consequência do enorme risco que causou à sociedade.

Portanto, precisamos lidar com responsabilidade com o fato de animais silvestres, sem associação com doenças ou danos estruturais e nenhuma perda econômica, mesmo agrícola ou paisagística, sofrerem o aumento da pressão migratória, principalmente em função das condições climáticas. A cultura food safety, incluindo o programa controle de pragas, precisa enfrentar esse cenário com lucidez. Isso inclui saber argumentar com fiscais, auditores e até críticos internos que, muitas vezes, “julgam” e “condenam” inocentes.

Ou seja, não é razoável condenar abelhas, vespas, andorinhas, sabiás, pica-paus, besouros, tesourinhas, cobras, morcegos e até pequenos roedores silvestres ao extermínio, por duas razões bem objetivas:

Erro 1: Eliminar animais silvestres é crime ambiental, com penas severas conforme a legislação brasileira;

Erro 2: Pragas existem em função do desequilíbrio provocado no meio ambiente pela atividade humana, portanto aumentar o extermínio de animais silvestres resulta em mais desequilíbrio, e consequentemente mais pragas.

Eu sei, é um desafio conciliar a proteção de contaminantes com responsabilidade ambiental. Precisamos controlar esses invasores, com mínimo impacto possível. Como fazer? Existem estratégias que afastam animais silvestres sem letalidade?

SIM!!!!! Várias estratégias. E vamos descrever alguns CASOS REAIS.

Uma empresa controladora de pragas atualizada, com profissionais certificados e responsável técnico atuante tem todas as ferramentas para conter sem matar. Alguns exemplos nos inspiram:

CASO REAL 1 – Morcegos

Morcegos são animais que preferem abrigos naturais, como fendas em rochas, cavernas e árvores ocas. Sua ocupação de telhados e galpões não é natural, mas ocorre quando seus abrigos originais são modificados ou eliminados. Em alguns cenários a ocupação do ambiente ocorre por poucos dias enquanto rastreiam novas fontes de abrigo.

Um controlador identificou fezes de morcego em uma área de depósito de um laticínio, e notificou o gestor da qualidade, que imediatamente pediu à empresa especializada um plano de contenção. Após o Responsável Técnico examinar o cenário, apontou que era uma espécie que se alimenta de frutas, com migração sazonal, e que possivelmente em até 4 semanas faria a migração. Apresentou-se um plano para instalação de repelentes, mas recomendaram que aguardasse o tempo de adaptação dos animais. Conclusão: em 3 semanas os animais migraram e não foi necessário nenhum investimento.

CASO REAL 2 – Andorinhas

Andorinhas são pássaros bastante adaptáveis a edificações urbanas. Embora tenham preferência por nidificar em árvores e encostas rochosas, frente a indisponibilidade de abrigo, usam telhados, calhas elétricas, beirais e outras estruturas industriais  para nidificar.

Um fiscal do MAPA notificou uma fábrica de rações para contenção de andorinhas na área de expedição, pelo risco de contaminação por fezes nos pacotes e pessoas durante o carregamento. A empresa controladora contratada não tinha domínio sobre esse tipo de invasor, e o fabricante contratou um consultor especializado, que apontou claramente a necessidade de instalar barreiras na área de expedição. Projeto caro, com várias semanas de execução, sem previsão no orçamento. Cenário desolador, mas o especialista apontou uma solução intermediária com aplicação gradual das barreiras, indicando ao fiscal do MAPA um plano de ação gradual para ser concluído em até 12 meses. Conclusão: com poucos dias e baixo orçamento, a contenção foi iniciada na área mais contaminada, o fiscal concordou com o plano gradual e em poucos meses a área estava completamente protegida.

CASO REAL 3 – Roedores silvestres

Roedores silvestres são pequenos animais que normalmente se alimentam de frutas e cereais de gramíneas presentes na vegetação periférica de cidades e áreas industriais. São predadores de pequenos insetos e servem como alimento para serpentes e pássaros.

No período sem chuva, com limitação da oferta de alimentos, esses pequenos animais migravam para uma instalação industrial fabricante de bebidas com extensa faixa verde, na qual havia porta iscas de anel primário (armadilhas para roedor na cerca), se alimentavam do raticida e morriam, causando desequilíbrio no local, inclusive com surgimento eventual de serpentes, que perdiam seu principal alimento. O responsável técnico da empresa controladora indicou a remoção do anel sanitário primário (não era requisito da norma food safety), pois não havia risco de migração por roedores urbanos, e já havia dezenas de porta-iscas protegendo as edificações, com taxa de consumo menor que 1%. Um índice de infestação muito baixo. Conclusão: embora a gestão de qualidade da indústria estivesse insegura com a remoção do anel primário, aceitou a sugestão do especialista, mantendo os pequenos roedores distantes dessa perigosa fonte alimentar, e não houve nenhuma atividade migratória para as áreas edificadas.

Cases como esses poderiam compor um webinário. Temos histórias de pica-paus, cobras, besouros, tesourinhas, formigas, abelhas e vários outros, fazendo o que os bichos fazem. O erro acontece quando não conseguimos contornar essas situações com inteligência.

UM CONVITE

Reflita – Controle de Pragas não depende de veneno. Não se apoia apenas em extermínio como estratégia de controle. Precisa de controladores certificados e responsável técnico pensante e atuante.

Controladoras que sustentam suas estratégias apenas na aplicação repetida de defensivos, sem estudos de impacto ambiental, parecem seguir uma lógica que, além de gerar custos desnecessários, pode colocar a imagem da sua empresa em julgamento e pior, ser acusada de ter eliminado um inocente. E em tempo de boas práticas ESG, o mercado tende a não perdoar esse tipo de crime. Não perdoa mesmo.

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Morango do Amor: doce viral, riscos reais e o que levar em conta sobre segurança de alimentos

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A viralização de receitas nas redes sociais têm transformado o comportamento alimentar contemporâneo. Como discutido em artigo anterior sobre a trend do macarrão, essas receitas, compartilhadas informalmente, evidenciam o quanto hábitos aparentemente inofensivos podem representar riscos quando desconectados de princípios básicos de higiene e manipulação segura de alimentos. No caso do morango do amor, a estética sedutora do doce esconde uma série de etapas críticas, desde a escolha e higienização do morango até a manipulação dos ingredientes que o revestem.

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Código GTIN e segurança de alimentos

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Quem trabalha fornecendo produtos alimentícios para redes de supermercados e atacadistas, faturando notas fiscais eletrônicas de venda, em algum momento já se deparou com o termo código GTIN.

Vocês sabem do que se trata?

GTIN (Global Trade Item Number) é um identificador único para produtos, utilizado para fins de rastreabilidade e gestão da cadeia de suprimentos. Ele é composto por 8, 12, 13 ou 14 dígitos e aparece nos campos cEAN e cEANTrib do XML da NF-e (Nota Fiscal Eletrônica). 

É um número que aparece ao lado do código de barras na embalagem. O GTIN é gerenciado pela GS1, uma organização internacional sem fins lucrativos, que desenvolve padrões globais para a cadeia de suprimentos. Abaixo vou exemplificar alguns desses códigos, com os quais estou mais familiarizada na minha atividade.

Alguns conhecem como código EAN ou GTIN-13 aquele que corresponde ao número que identifica cada unidade/embalagem.

DUN e GTIN-14 corresponde ao código que aparece na caixa de embarque, que serve de transporte para algumas unidades do mesmo produto e em alguns casos existem caixas de embarque que mesclam mais de um produto, mas cada caixa de embarque deve ter os mesmos itens na mesma quantidade.

Por exemplo: se temos um código GTIN – 14 para 12 unidades de um item X com peso variável –, aquele código só pode ser usado para essa configuração: sempre o mesmo item, na mesma quantidade de unidades por caixa.

Se tivermos duas configurações, uma com esse mesmo item acima com 12 unidades na caixa e outra com o mesmo item com 24 unidades na caixa, para o primeiro exemplo temos o código GTIN-14 começando com o numeral 1 e para o segundo exemplo temos o primeiro numeral 2 e a mesma sequência numeral.

Existem outras regras dentro da numeração do GTIN – 13. Uma delas é que, para itens com peso variável ou item com peso padrão, o primeiro número da sequência é diferente.

E qual a relação desse código com a segurança de alimentos?

Cada produto tem seu código próprio, o que facilita os trabalhos de rastreabilidade, seja para identificação do item, seus lotes, datas de fabricação, validade, ou outras características implícitas de cada produto. Seu uso diminui inclusive as possibilidades de fraudes.

Não é possível cadastrar mais de um produto com o mesmo código na GS1. Quando um código de barras é gerado para um novo produto, algumas informações, como foto, número de peças por caixa, temperatura de conservação, prazo de validade são imputados no sistema de cadastro.

Desde 2022, essas informações vêm sendo associadas também a questões fiscais. Assim, atrelado a um código de barras existem dados como o NCM do produto e esses dados precisam estar adequados no GS1 e no sistema utilizado pela empresa, porque aparecerão na nota fiscal e serão checados antes da emissão dela pela SEFAZ (Secretaria da Fazenda), ou seja, qualquer inconsistência não permite a emissão da nota fiscal.

Com esse trabalho, o setor de desenvolvimento de novos produtos passa a ter papel importante em um setor chave da indústria: o faturamento, a venda de produtos. Caso as informações não estejam alinhadas, a empresa pode ter atrasos e perdas em vendas.

Imagem: Kampus Production

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Turnover e segurança dos alimentos: o que há em comum?

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No post de hoje trago uma nova reflexão: turnover e segurança dos alimentos, o que esses assuntos têm em comum? E se eu disser que há muita coisa?!

Pois bem, uma empresa é formada por pessoas, uma cultura é formada por pessoas, ou seja, uma organização ciente e com um olhar focado para isso sabe a importância da existência de programas voltados a recursos humanos, da existência de políticas internas e dos impactos e benefícios ao adotar ou não um olhar apurado para o desenvolvimento de talentos.

Antes de nos aprofundarmos neste tema, para que não existam dúvidas, vamos nivelar nossa linguagem e entender o que é o turnover sob o aspecto que quero tratar nesse post.

Turnover, no contexto de gestão de pessoas, vem do inglês, significa “renovação” ou “virada”. É um termo usado para descrever a rotatividade de funcionários em uma empresa, ou seja, o número de pessoas que entram e saem da organização em um determinado período de tempo. Grosso modo, isso revela a capacidade que uma empresa tem para reter os talentos internos, além de demonstrar a sua atratividade para futuros novos talentos.

Vamos utilizar um exemplo de uso prático:

Se uma empresa tem 100 funcionários e ao longo de um ano 20 saem e são substituídos, o índice de turnover anual é de 20%.

Essa rotatividade normalmente é vista de forma global, sendo que a empresa possui um percentual geral, mas também pode ser visualizada mensalmente e até de forma muito detalhada, olhando-se os percentuais existentes para cada departamento.

Monitorar esses números, projetar cenários e entender as causas é uma, mas não a única, base para entender o clima organizacional e como todos enxergam a empresa.

Um sistema de gestão está diretamente relacionado a pessoas. Vejamos algumas citações em normas:

  • Quando a organização determina a necessidade de mudanças no SGSA, incluindo mudanças de pessoal, as mudanças devem ser realizadas e comunicadas de maneira planejada;
  • A organização deve assegurar que as pessoas necessárias para operar e manter um SGSA eficaz são competentes;
  • A Alta Direção deve demonstrar liderança e comprometimento com relação ao sistema de gestão da qualidade, engajando, dirigindo e apoiando pessoas a contribuir para a eficácia do sistema de gestão da qualidade.

Altos índices de rotatividade potencializam novos cenários internos que podem impactar negativamente a organização. Vejamos alguns exemplos:

  • Quebra da padronização: novos colaboradores ainda não dominam os padrões estabelecidos e podem cometer mais erros.
  • Perda de conhecimento tácito: parte do conhecimento operacional não está documentada, sendo aprendida com o tempo e com a prática.
  • Custos de treinamento e integração mais altos, dado o nível de rigor e detalhe necessários para seguir os padrões e processos internos.
  • Comprometimento com a cultura: há impacto em uma cultura de longo prazo e o senso de pertencimento ao time se perde com trocas frequentes.

A menos que a empresa esteja escalando intensamente no mercado, com mudanças positivas de processos, novos portfólios e vivendo em um cenário disruptivo, a alta taxa de rotatividade pode comprometer a evolução e manutenção dos programas internos.

Bem, é natural que a área técnica sempre busque racionalizar e mensurar características como essas citadas acima, mas agora vamos olhar para as questões humanas e deixar de lado os números.

Quando há instabilidade no sentido negativo, quando a empresa não tem uma política para o desenvolvimento humano e o que chamamos popularmente de “retenção de talentos”, isso atrapalha a consolidação de um sistema de gestão de segurança dos alimentos. O GFSI define a cultura da segurança do alimento como “valores, crenças e normas compartilhadas que afetam a mentalidade e o comportamento em relação à segurança do alimento dentro e fora de uma organização” (GFSI 2020.1).

Portanto, diante das diversas rotinas e controles operacionais a serem executados, PCCs, monitoramentos, validações, pergunto: como estaria a cabeça das pessoas em um ambiente em que todos se sentem sobrecarregados? Sem perspectivas de carreira, em um ambiente em que as pessoas se sentem números dentro da organização, onde não exista senso de pertencimento, onde os treinamentos são mero cumprimento de requisitos, onde a liderança que reina é a que “eu mando e você obedece”.

Todos esses pontos são reflexões para olharmos a gestão de pessoas sob uma nova ótica, considerando a importância de uma boa e verdadeira gestão de talentos e acima de tudo, de uma gestão humanizada.

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Indicações de TED Talks para quem gosta de segurança de alimentos

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TED Talks são palestras que em até cerca de 15 minutos entregam conteúdo concentrado baseado em uma ideia principal. As que abordam segurança de alimentos são raras, sendo possível garimpar em algumas que encontrei, reflexão e informação útil.

2 min leituraCinco TEDx Talks sobre segurança dos alimentos.

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Como “colar” os treinamentos em segurança dos alimentos no cérebro?

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É comum ouvir, de profissionais de segurança dos alimentos, que as organizações fazem esforços para treinar seus times de trabalho, mas depois, em poucos meses, ou mesmo semanas, os empregados esquecem os temas abordados nos treinamentos e deixam de seguir normas, regras e parâmetros técnicos.

A eficácia dos treinamentos sobre segurança dos alimentos depende diretamente da maneira como a informação é repassada, para que seja processada e retida pelos colaboradores.

Uma abordagem eficaz para maximizar o aprendizado e a retenção de conhecimento é baseada na teoria da neurociência, que propõe que o cérebro humano é composto por três estruturas distintas que evoluíram em diferentes fases da história humana: a teoria do cérebro trino.

Esta teoria baseia-se numa simplificação do cérebro humano, desenvolvida por Paul MacLean na década de 1960. Segundo ele, cada uma das três estruturas do cérebro (reptiliano, límbico e neocórtex) desempenha um papel fundamental na motivação e no aprendizado, e ativá-las de maneira estratégica pode tornar os treinamentos mais envolventes e impactantes.

O cérebro reptiliano, a parte mais primitiva, surgiu há cerca de 500 milhões de anos em receptores e funções básicas de controle, como respiração, corações cardíacos e instintos de sobrevivência. Posteriormente, há cerca de 250 milhões de anos, com os primeiros mamíferos, surgiu o sistema límbico, responsável pelas emoções, memórias e vínculos afetivos e sociais. Por fim, o neocórtex, que começou a se desenvolver há cerca de 2 milhões de anos nos primeiros hominídeos, tornou-se uma região mais complexa, possibilitando raciocínio abstrato, linguagem e criatividade, sendo o grande diferencial da espécie humana.

A teoria dos três cérebros propõe que o cérebro humano, portanto, é composto por três camadas evolutivas que trabalham em conjunto, mas possuem funções e motivações distintas:

  1. Cérebro Reptiliano (Cérebro Primitivo): Responsável por funções instintivas, como sobrevivência, reflexos automáticos e comportamentos de rotina;
  2. Sistema Límbico (Cérebro Emocional): Relacionado às emoções, sentimentos, memórias e conexões sociais;
  3. Neocórtex (Cérebro Racional): Responsável pelo pensamento lógico, análise crítica e aprendizado consciente.

Compreender esses três níveis é essencial para desenvolver treinamentos eficazes, pois cada um deles precisa ser ativado para garantir que o conhecimento seja absorvido e aplicado de maneira duradoura.

Ao integrar estratégias que ativem os três cérebros, os treinamentos sobre segurança dos alimentos se tornam mais eficazes, garantindo maior retenção do conhecimento e aplicação correta das normas e procedimentos.

Assim, as empresas podem construir uma cultura de segurança dos alimentos forte, reduzindo riscos e garantindo a qualidade dos produtos.

Estratégias para motivar cada cérebro em treinamentos sobre segurança dos alimentos

Cérebro reptiliano/ primitivo

O cérebro reptiliano tem um papel importante na conscientização sobre riscos e no desenvolvimento do senso de urgência, essenciais numa abordagem de tomada de ações em casos de desvios em critérios de controle nos PPROs (Programas de Pré-Requisitos Operacionais) e em limites críticos nos PCCs (Pontos Críticos de Controle), assim como na contenção de não conformidades que exijam ações rápidas e/ ou emergências.

O estímulo ao cérebro primitivo pode ser obtido ao:

  1. Utilizar exemplos reais de riscos: Demonstrar situações de contaminação dos alimentos e seus impactos gerados como doenças e morte de consumidores, estimulando um senso de urgência, tomada de ação e necessidade de mudança de comportamento;
  2. Treinamento prático e repetitivo: Como esse cérebro responde bem a rotinas e hábitos, a prática contínua de protocolos de segurança dos alimentos ajuda a internalizar requisitos de Boas Práticas de Fabricação e rotinas de higiene;
  3. Criar regras claras e objetivas: Procedimentos bem estruturados e repetitivos são assimilados mais facilmente por essa parte do cérebro.

No entanto, se apenas o medo do risco for explorado, os colaboradores podem não compreender a real importância das boas práticas.

Sistema límbico

A influência do cérebro límbico é perfeita para treinamentos que objetivam estimular ações positivas, introduzir novos conceitos, aumentar engajamento com programas de segurança dos alimentos.

O estímulo ao cérebro límbico pode ser obtido ao:

  1. Criar um ambiente motivador: O uso de histórias, depoimentos e exemplos de sucesso pode despertar emoções e fortalecer a conexão dos colaboradores com a importância da segurança dos alimentos;
  2. Reforço positivo e reconhecimento: O cérebro emocional responde bem ao reconhecimento, então premiar boas práticas ou elogiar comportamentos corretos pode aumentar o engajamento;
  3. Treinamento em equipe e interativo: Simulações, dinâmicas em grupo e atividades que envolvam colaboração incentivam conexões sociais e tornam o aprendizado mais significativo. Treinamentos por gamificação ajudam muito a estimular emoções.

Contudo, o engajamento emocional isolado pode gerar entusiasmo momentâneo, mas sem aprendizado prático.

Neocórtex

O raciocínio lógico do neocórtex é fundamental nas tomadas de decisões que exigem uma cognição mais elaborada, por exemplo, compreensão de cálculos de letalidade usados para determinar o Fo em esterilizadores, ações sistêmicas preventivas a riscos e planos de ação com tarefas cronológicas em comitês de gestão que envolvem comando de ações e execução de tarefas.

O estímulo ao cérebro lógico pode ser obtido ao:

  1. Explicar o “porquê” das regras: Apresentar dados científicos, estatísticas sobre contaminação e surtos de doenças transmitidas por alimentos, assim como fazer uso de exemplos práticos de ações que resultam em redução de riscos, ajudam na compreensão lógica da importância da segurança dos alimentos;
  2. Oferecer desafios e resolução de problemas: Casos práticos onde os colaboradores precisam identificar falhas e sugerir soluções estimulam o pensamento crítico;
  3. Usar multimídia e tecnologia: Vídeos, infográficos e simulações digitais ajudam a tornar o conteúdo mais dinâmico e compreensível.

No entanto, treinamentos que abordam apenas o lado racional (neocórtex), sem ativar o emocional e o instintivo, podem ser esquecidos rapidamente.

Com base na teoria do cérebro trino, para que um treinamento efetivamente “cole”, ou seja, tenha efeitos mais duradouros, não se perdendo facilmente com o tempo, é preciso envolver três fatores: instinto, emoção e lógica.

Planeje bem os treinamentos. O artigo “Técnicas de treinamento na Indústria de Alimentos” apresenta diversas abordagens que podem ser utilizadas.

Um bom treinamento trará os componentes técnicos que precisam ser repassados de forma clara, objetiva e suficientemente detalhada, mas faz isso envolvendo emocionalmente os participantes, num momento agradável, descontraído e alegre, e não apenas com slides maçantes repetidos sem entusiasmo. Também é importante o componente primitivo, alertando os riscos de não cumprir procedimentos apropriadamente, seja para o produto ou para o próprio profissional e sua carreira.

Emoções “ruins” também são válidas para acionar a parte límbica do cérebro. Assim, treinamentos que exploram problemas reais e ocorridos em outras organizações de forma impactante sobre a vida das pessoas também ajudam a reter conhecimento.

Para que os treinamentos sejam eficazes, é necessário considerar como o cérebro humano processa e retém informações. Ao ativar o cérebro reptiliano, o sistema límbico e o neocórtex de forma equilibrada, os treinamentos se tornam mais motivadores, engajadores e eficientes, garantindo que as requisitos em segurança dos alimentos sejam internalizados e aplicados no dia a dia, culminando ao final, na criação de uma cultura organizacional sólida e comprometida com a segurança dos alimentos.

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Técnicas para treinamento na indústria de alimentos

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Muitas empresas, ao contratarem novos empregados, no momento da admissão recorrem ao chamado “treinamento de integração”. Isto é necessário, bem-vindo, mas é apenas um momento introdutório, insuficiente para que novos empregados efetivamente absorvam todas as demandas requeridas numa indústria de alimentos.

Normalmente, esse treinamento consiste em palestras com apresentação de slides abordando uma variedade de temas, como Boas Práticas de Fabricação (BPF) incluindo higiene pessoal e operacional, Manejo Integrado de Pragas (MIP), outros tópicos de segurança dos alimentos específicos da organização, além de regras gerais, direitos e deveres trabalhistas, uso do refeitório e aspectos associados à saúde e segurança ocupacional.

No entanto, esse modelo concentra uma grande quantidade de informações em um curto espaço de tempo, resultando em baixa retenção de conhecimento.

Muitas vezes, os participantes assinam uma lista de presença sem realmente absorver o conteúdo, alguns distraídos com o celular, outros cansados ou simplesmente desinteressados. Mesmo assim, algumas empresas assumem que essa abordagem é suficiente para garantir a prevenção de riscos sanitários e operacionais.

Este artigo destaca que treinamentos de integração são apenas um primeiro passo. Embora a assinatura da lista possa servir como registro de participação e referência para cobranças futuras, o verdadeiro aprendizado ocorre ao longo do tempo, com a adaptação dos funcionários aos locais de trabalho e respectivos processos, desenvolvimento de consciência sobre os temas associados à segurança dos alimentos e aplicação prática dos conceitos.

Depois de atividades de treinamento, nas quais há uma transferência de competências e conhecimento, o reforço contínuo, bons exemplos por parte dos líderes, retreinamentos e, em alguns casos, medidas disciplinares, farão parte da construção de uma curva efetiva de absorção do aprendizado, criando uma atitude voltada para a conscientização. Em seguida, derivam para a aplicação prática daquilo que foi aprendido, fomentam a criação de um comportamento individual proativo.  Só assim, disseminando ao máximo competências em segurança dos alimentos, será possível criar um comportamento coletivo que se traduza em cultura organizacional.

A indústria alimentícia contabiliza numerosos incidentes devido a treinamentos ineficazes, resultando em contaminações e não conformidades. Para evitar esse cenário, as empresas devem abandonar métodos ultrapassados que não desenvolvem habilidades essenciais e nem promovem uma cultura de segurança dos alimentos proativa, investindo continuamente na capacitação de seus times, e mais, sempre avaliando se as ações tomadas foram eficazes.

As empresas devem enxergar o treinamento e o desenvolvimento de funcionários como um investimento estratégico, e não apenas como uma exigência burocrática para atender requisitos normativos.

Após qualquer treinamento, é essencial dedicar tempo e esforço para garantir que a equipe realmente pratique os conceitos aprendidos. A educação diária e a criação de uma cultura de aprendizado contínuo são fundamentais para minimizar riscos e elevar os padrões de qualidade, segurança e eficiência operacional.

Andragogia: o ensino para adultos

É fundamental compreender que ensinar adultos exige uma abordagem diferente do ensino infantil ou juvenil. Os adultos possuem experiências prévias, são mais independentes e precisam enxergar uma aplicação prática imediata para o que estão aprendendo.

A andragogia, conceito desenvolvido por Malcolm Knowles, trata do ensino de adultos e se baseia em estratégias que maximizam a aprendizagem. Diferentemente da pedagogia, que é voltada para crianças e adolescentes, valorizam-se aqui a experiência prévia, a autonomia e a responsabilidade do aprendiz pelo próprio processo de aprendizagem.

Princípios fundamentais da andragogia

  1. Necessidade de saber – Os adultos precisam compreender a relevância do aprendizado para suas vidas, tanto profissional quanto pessoal. No contexto da segurança dos alimentos, por exemplo, é essencial que eles entendam como as falhas podem impactar a empresa, seus empregos e a saúde dos consumidores;
  2. Autonomia – O aprendizado deve ser prolongado de forma independente, permitindo que os adultos tenham controle sobre o próprio processo de desenvolvimento e sejam estimulados a buscar novas informações;
  3. Experiência prévia – Conhecimentos adquiridos em empregos anteriores ou na vida pessoal influenciam a forma como novas informações são processadas e aplicadas, podendo e devendo fazer parte do aprendizado, pois adicionam novas camadas de conhecimento;
  4. Aprendizagem orientada a problemas – Os adultos aprendem melhor ao enfrentar desafios reais e situações concretas, como uma tomada de decisão diante de um produto não conforme ou uma falha em um ponto crítico de controle, desde que bem orientados.

Modelos e técnicas de ensino para adultos

Com base nesses princípios, diferentes técnicas podem ser aplicadas para tornar o ensino mais eficaz. Entre as principais estão:

I – Aprendizagem Ad Hoc

A aprendizagem Ad Hoc ocorre de maneira espontânea e não estruturada, sendo aplicada para situações específicas. No dia a dia da indústria de alimentos, pode ser usada quando um funcionário precisa, por exemplo, aprender rapidamente a higienizar um equipamento ou separar produtos defeituosos. É voltada, portanto, para tarefas simples, claras, pontuais e objetivas.

Embora útil para necessidades pontuais, a abordagem Ad Hoc não é suficiente para lidar com desafios complexos, pois pode deixar lacunas no conhecimento.

Para avaliar a eficácia em treinamentos ao estilo Ad Hoc, os instrutores podem fazer perguntas diretas sobre o conteúdo abordado, garantindo que os conceitos essenciais foram compreendidos e assimilados.

II – Treinamento On the Job

O treinamento On the Job ocorre diretamente no ambiente de trabalho e é uma forma prática e econômica de capacitação, podendo incluir:

  • Job Rotation – Rodízio de funções para que o colaborador tenha uma visão ampla do negócio;
  • Aprendizado por observação – O funcionário acompanha um colega mais experiente para aprender suas funções;
  • Shadowing (Sombreamento) – O funcionário segue um especialista durante sua rotina para compreender melhor a atividade.

Para garantir a eficácia desse modelo de transferência de competências, é fundamental que o treinamento seja bem estruturado e acompanhado por instrutores capacitados no tema que farão a instrução, e também, capazes de exercer uma pedagogia apropriada. Depois, os resultados podem ter sua eficácia avaliada pelo uso de checklists específicos que incluam os pontos chaves de uma tarefa ou processo, para que o instrutor certifique-se de que cada um está sendo atendido sem execução de erros pelo aprendiz.

É uma ótima técnica para treinar tarefas como monitoramento de Limites Críticos (LC) em Pontos Críticos de Controle (PCC) ou Critérios de Controle (CC) em Programas Operacionais de Pré-Requisitos (PPROs).

III – Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL)

A Aprendizagem Baseada em Problemas é uma técnica que desafia os funcionários a resolver situações reais ou simuladas.

O BPL pode ser altamente eficaz na segurança dos alimentos, preparando os profissionais para tomar decisões corretas em situações críticas como gestão de emergências, destinação de produtos não conforme e recall.

Para avaliar o aprendizado, o instrutor pode aplicar um estudo de caso ao final do treinamento, permitindo que os participantes demonstrem sua capacidade de resolver problemas e garantindo que qualquer erro seja corrigido no momento, com isso, reforçando o aprendizado.

IV – E-learning e Microaprendizagem

O uso da tecnologia no aprendizado tem crescido, permitindo que os funcionários aprendam no ritmo próprio. O e-learning oferece cursos completos online, enquanto o microlearning apresenta conteúdos curtos e diretos, facilitando a absorção.

É importante escolher muito bem o material a ser utilizado em e-learning ou na microaprendizagem, pois cursos genéricos e superficiais podem não preparar especificamente os funcionários para identificar e lidar com riscos emergentes, além de se tornarem monótonos e o aprendiz fingir que assistiu, sem assistir com a devida atenção.

Para garantir a eficácia desse método, avaliações periódicas devem ser aplicadas, por exemplo, com uso de provas ao final de cada carga de aprendizado, que também podem ser feitas com uso de recursos de tecnologia.

V – Mentoria e Coaching

O modelo de mentoria conecta aprendizes a profissionais experientes, os coachings (treinadores), promovendo aprendizado pela troca de experiências e orientação personalizada. O coaching, por sua vez, auxilia o desenvolvimento de habilidades específicas e a melhoria do desempenho.

O sucesso de uma mentoria depende da qualidade do coaching, do seu real conhecimento no tema no qual fará mentoria, e das suas habilidades, tanto técnicas quanto pedagógicas.

Também é preciso levar em consideração que aprender enquanto se executam tarefas, ainda mais sob o olhar de um coaching, pode ser estressante para alguns empregados, principalmente em ambientes de alta demanda.

Neste modelo de transferência de competências, apropriado especialmente para temas mais complexos e gestão, o próprio coaching, ao final, deve avaliar se sua mentoria foi eficaz e se o aprendiz está apto ou não, para seguir com suas próprias pernas.

VI – Gamificação

O treinamento por gamificação é uma abordagem que usa elementos de jogos, como pontuação, desafios, recompensas e rankings, para tornar o aprendizado mais envolvente e motivador.

As principais vantagens da gamificação incluem o aumento do engajamento dos participantes, a melhoria na retenção do conhecimento e a criação de um ambiente mais interativo e sonoro.

Um exemplo prático é o uso de plataformas de aprendizado corporativo que premiam funcionários com medalhas virtuais, dia de folga ou brindes para aqueles que completam com melhor performance cursos ou desafios.

No entanto, esse método apresenta desafios, como a necessidade de um design bem estruturado para evitar que a competição desmotive alguns participantes, além do risco de os colaboradores focarem mais nas recompensas do que na aprendizagem em si.

Use exemplos!

O exemplo é uma das ferramentas mais eficazes para o ensino, pois facilita a compreensão e a assimilação do conhecimento ao tornar conceitos abstratos mais concretos e acessíveis.

Ao apresentar exemplos práticos, deve-se estabelecer conexões entre a teoria e a realidade, permitindo que os participantes visualizem a aplicação do conteúdo no cotidiano.

Além disso, exemplos bem escolhidos despertam o interesse, promovem o engajamento e ajudam na memorização, tornando o aprendizado mais significativo. Dessa forma, o uso de exemplos é essencial para uma educação mais clara, dinâmica e eficaz.

Alguns exemplos de como dar exemplos

  1. Se vai treinar sobre limpeza de tubulações e placas, mostre exemplos destas tubulações e placas abertas, com formação de biofilme;
  2. Se vai treinar em higiene pessoal, colete swabs de mãos, faça análises de contagem total e mostre os resultados;
  3. Se vai treinar em prevenção de carunchos, mostre produtos infestados com larvas, pupas e carunchos.

Treinamento desenhado conforme o público-alvo

Para que um programa de treinamento seja realmente eficaz, ele deve ser estruturado conforme o público-alvo. Isso significa que os conteúdos e abordagens devem ser adaptados às necessidades específicas de cada grupo dentro da organização. Dessa forma, o treinamento pode tanto desenvolver habilidades técnicas e operacionais quanto fornecer um conhecimento mais amplo, essencial para o desempenho de funções mais estratégicas.

Por motivos óbvios, as necessidades de aprendizagem variam significativamente entre gestores, líderes e funcionários da linha de frente, portando, precisam ter conteúdo programático e estratégia de abordagem diferentes.

Isso inclui uma abordagem estratégica na escolha da técnica de ensino que será utilizada, considerando que não é preciso escolher uma única. Num programa de treinamento robusto aconselha-se combinar diferentes técnicas para que sejam melhor sucedidas, devido aos efeitos sinérgicos, ao estimular diferentes partes do cérebro (não perca o próximo artigo será sobre teoria da neurociência do cérebro trino).

Treinamento para gestores

Para os gestores, a capacitação deve ter um foco estratégico, priorizando o desenvolvimento de liderança, a gestão de riscos e a compreensão sistêmica dos processos.

Além disso, é fundamental aprofundar conhecimentos sobre conformidade regulatória, padrões normativos para a indústria de alimentos, compreensão do contexto na cadeia produtiva e boas práticas de governança, garantindo que possam promover uma forte cultura de segurança dos alimentos dentro da organização.

Espera-se que profissionais na posição de gestores tenham capacidade de liderança, influência e implementação de iniciativas que fortaleçam a segurança dos alimentos em toda a empresa, incluindo conexões com fornecedores, distribuidores e clientes.

Treinamento para líderes e funcionários da linha de frente

Os líderes e funcionários da linha de frente requerem treinamentos mais práticos e direcionados à execução de tarefas operacionais.

Isso inclui, por exemplo, identificação de riscos e estratégias de resposta imediata, a resolução de problemas em situações críticas, aplicação de correções, ações corretivas e preventivas para desvios em Planos de APPCC, em critérios de controle de PPROs (Programas de Pré-Requisitos Operacionais) e limites críticos em PCCs (Pontos Críticos de Controle), etc.

Além dos aspectos técnicos, também é essencial desenvolver habilidades interpessoais , como comunicação eficaz para relatar incidentes e compartilhar informações associadas com a segurança de alimentos, desenvolver senso de prioridade, e claro, pensamento crítico e raciocínio lógico , fundamentais para avaliar situações e tomar decisões rápidas e assertivas.

Enquanto os gestores devem ser capacitados para definir estratégias e implementar melhorias de longo prazo, os treinamentos práticos garantem que os funcionários da linha de frente possam implementar procedimentos de segurança dos alimentos. No entanto, independentemente da função exercida, ações contínuas de treinamento e conscientização são essenciais para fortalecer a cultura de segurança dos alimentos dentro das organizações.

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Um olhar sobre a Saúde Animal, seus programas e sua importância para a Segurança de Alimentos

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Todos sabemos que a Saúde Animal é um dos pilares que formam o conceito da Saúde Única e que ela exerce um papel crucial nas questões que envolvem  a epidemiologia e as zoonoses.

Para termos uma ideia da dimensão deste assunto, a OMS relata que 75% das doenças emergentes são zoonoses e 60% dos patógenos conhecidos por atingir humanos são de origem animal.

Se centralizarmos este tema no que se refere às questões de segurança de alimentos, temos o seguinte contexto: os animais de produção de maneira geral são criados em sistemas de alta densidade e baixa variabilidade genética, o que facilita a adaptação e transmissão de patógenos.

No intuito de gerenciar este cenário, programas de defesa sanitária animal têm sido implementados, visando tanto as questões sanitárias quanto as econômicas, uma vez que os impactos de determinadas doenças nos sistemas produtivos podem ser devastadores também para as relações internacionais.

No Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária, alinhado às diretrizes da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) e através da sua divisão de Defesa Sanitária Animal (DSA), estabelece estratégias para atuar frente a doenças que podem impactar a saúde pública, como:

-Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT);

-Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros (PNCRH);

-Programa Nacional de Prevenção e Vigilância da Encefalopatia Espongiforme Bovina (PNEEB);

-Programa Nacional de Sanidade Suídea (PNSS);

-Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA).

Além destes, há outros programas voltados às diferentes espécies, como caprinos,  ovinos, animais aquáticos e abelhas, por exemplo.

A Saúde Animal exerce também um papel importantíssimo na ameaça global que é a resistência antimicrobiana, uma vez que os tratamentos e o uso de drogas e medicamentos nos animais devem ser sempre realizados de forma racional e consciente. Para este tema, o mesmo Ministério conta com o PNCRC: Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes, promovendo uma gestão de perigos químicos oriundos de drogas veterinárias em produtos de origem animal.

Além desses programas e do plano acima citado, o Ministério da Agricultura e Pecuária conta com alguns sistemas que gerenciam determinados temas.

No caso do Sistema Nacional de Informação Zoosanitária (SIZ) do Departamento de Saúde Animal, faz-se a gestão dos dados e informações de interesse para a saúde animal e, por sua vez, a Coordenação de Epidemiologia envia informes semestrais e anuais à Organização Mundial de Saúde Animal.

Essa gestão de dados visa consolidar, analisar e divulgar informações zoosanitárias que servem de base para tomada de ações e assim prevenir as doenças de relevância para pecuária e para a saúde pública, além de subsidiar certificações zoosanitárias nacionais junto a atores internacionais com os quais o Brasil mantém relações comerciais.

Mais detalhes sobre lista das 141 doenças de notificação compulsória, bem como a legislação vigente (IN 50/2013), podem ser encontrados aqui, além dos boletins e painéis de consultas do histórico de doenças relatadas. O destaque é para doenças importantes, como tuberculose, brucelose, toxoplasmose e cisticercose, apenas para citar alguns exemplos.

Há também sistemas integrados com objetivos de gerenciar tais informações e englobar outros envolvidos no cenário, como o setor privado e setor público ligados à agropecuária, à saúde pública, meio ambiente, ensino e pesquisa. São eles: Sistema Brasileiro de Vigilância e Emergências Veterinárias (SisBravet), Sistema de Gerenciamento de Estudos Epidemiológicos (SIGEP) e Sistema de Diagnóstico Animal (SISDIA).

O Ministério da Saúde conta com gestão de dados oriundos das redes de saúde pública e particular de saúde humana, através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), também com uma lista regulamentada de doenças de notificação obrigatória, incluindo casos suspeitos e investigações. Este material pode ser consultado em maiores detalhes neste link.

Importante observar que mais da metade das doenças da lista envolve animais em seus ciclos de transmissão, além de um campo para notificação de epizootias (doenças ou morte de animal ou grupo de animais que possam apresentar risco à saúde pública).

Vale lembrar da importância das ações desenvolvidas pelas Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZ), no intuito de estabelecer estratégias relacionadas às zoonoses bem como na prevenção de acidentes envolvendo animais de relevância para a saúde pública.

A ideia desse texto foi trazer uma apresentação breve de algumas das partes que compõem a Saúde Única no Brasil focando o que mais diretamente se relaciona com a segurança de alimentos. É muito válido lembrar que também dentro desse contexto, o Bem-estar Animal é  crucial na qualidade e segurança dos produtos de origem animal e já foi amplamente abordado aqui no Food Safety Brazil: veja aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Neste artigo você relembra um evento que abordou o tema da Saúde Única como solução de várias dores em segurança de alimentos. E para finalizar, complemente sua leitura com outros posts que abordam a Saúde Única: aqui, aqui e aqui.

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