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Entrevista com Dra Andrea Boanova, perita aduaneira e judicial na área de alimentos

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Muita gente já a conhece pelo trabalho ou já a ouviu em palestras e eventos. Ela é perita, grande disseminadora de conhecimento, sempre disponível e acessível para dar informações e contar casos que marcaram sua carreira.

Dra Andrea Boanova é médica veterinária, especialista em Direito Sanitário, mestre e doutora em Saúde Pública, com uma vasta experiência na área de alimentos, estando à frente da Vigilância Sanitária de Alimentos do município de São Paulo por 32 anos, além de ser perita pelo Instituto de Medicina Social e Criminologia (IMESC). Atua também como perita aduaneira, judicial e com emissão de laudos, pareceres técnicos e defesa em fiscalizações. Já publicou livros e ministra aulas e palestras para compartilhar conhecimento e contribuir para a área de alimentos.

É sempre interessante entendermos um pouco mais sobre o funcionamento dessa área, além de conhecer casos marcantes que podem contribuir para o nosso trabalho na área de alimentos, seja dentro da indústria ou nas auditorias e consultorias Brasil afora!

Dra Boanova, obrigada por aceitar esse convite! Um prazer estar mais uma vez contigo, uma profissional tão relevante para a nossa área. Como foi sua escolha pela área: o que a levou a seguir na área de perícia em alimentos?

Resposta: Primeiramente eu gostaria de agradecer a oportunidade de colaborar com esse espaço tão importante, para podermos compartilhar um pouco do nosso trabalho e contribuir com os profissionais que atuam na área de alimentos.

A experiência na Vigilância Sanitária de Alimentos de São Paulo me mostrou como a fiscalização é importante para a elucidação de possíveis causas de contaminação dos alimentos. E o ato de fiscalizar nada mais é do que uma perícia. A diferença está no fato de que, na fiscalização, o processo é administrativo.

Motivada pela minha atuação na fiscalização, senti a necessidade de fazer uma segunda faculdade, a de Direito. Nessa área conheci a perícia judicial e me encantei. Posso agora exercitar as minhas duas áreas de formação que se complementam, sempre com o objetivo de proteger a saúde do consumidor.

Pensando em quem quer seguir ou quem não imagina como é o dia a dia do perito aduaneiro em alimentos, explique como funciona, na prática, um caso de perícia aduaneira e qual é o processo para ser um perito aduaneiro?

Resposta: Eu gostaria de esclarecer a diferença entre a perícia judicial e a perícia aduaneira. A perícia judicial pode ser realizada por qualquer profissional com capacitação e expertise em determinada área ou assunto. Ele se cadastra nos tribunais e a sua indicação para perícias é feita pelo juiz. Já para a perícia aduaneira, que também deve ser realizada por profissionais que possuem capacitação e expertise em determinadas áreas de atuações, preestabelecidas pela Receita Federal do Brasil – o acesso à função é por meio de processo seletivo.

Na perícia aduaneira, o profissional vai auxiliar o fiscal ou auditor da Receita Federal do Brasil com a classificação e quantificação de mercadorias importadas ou a serem exportadas, nos casos em que ele tiver qualquer dúvida técnica que requeira a ajuda de um profissional especializado. Por exemplo: a pessoa diz que importou tomate seco. Visualmente não é possível identificar se é tomate seco mesmo ou uma pimenta desidratada. Então o perito aduaneiro recolhe a amostra, leva ao laboratório para identificação e faz o laudo para o auditor, indicando a identidade do produto. A perícia aduaneira acontece dentro de processos administrativos e de fiscalização da Receita Federal do Brasil.

Outro aspecto importante é que a perícia é realizada em portos, aeroportos e recintos alfandegados.

E na perícia judicial, o processo é parecido?

Resposta: Em alguns aspectos. O laudo, o procedimento de coleta de amostras, as análises laboratoriais e a imparcialidade e ética estarão presentes em toda e qualquer perícia.

O perito judicial, porém, é indicado pelo juiz e será seu especialista de confiança, para trazer a verdade aos autos sobre determinada demanda entre autor e réu, fornecendo a convicção para o juiz, para que ele tome uma decisão justa e fundamentada. A perícia cível acontece dentro de processos judiciais que tramitam nos Tribunais de Justiça.

Na sua experiência, diante dos casos concluídos, acha que os fabricantes de alimentos cometem mais falhas em controles de seus processos de fabricação ou realizam desvios intencionais, que podem ser considerados fraudes mesmo?

Resposta: A minha experiência tem mostrado que existem muito mais falhas de controle, mas não só do processo de fabricação. Também os transportadores, distribuidores, comerciantes e até os próprios consumidores podem contribuir com as inconformidades que são tratadas em ações judiciais. Casos de fraudes acontecem, mas na minha opinião, estão sendo tratados mais administrativamente por órgãos de fiscalização e de Defesa do Consumidor e entidades de proteção contra fraudes.

Gostaria de saber qual sua visão sobre como as exigências sanitárias brasileiras se comparam com as de outros países?

Resposta: Do meu ponto de vista, temos um repertório enorme de normas que são bastante rigorosas e creio que uma das mais exigentes de todo mundo. Além disso, temos hábitos de higiene diferenciados com relação a outros países e culturas. Situações que pude presenciar em outros países jamais seriam aceitas aqui.

No entanto, vejo que o suporte para o trabalho da vigilância sanitária e da inspeção é muito aquém do necessário e a divulgação do excelente trabalho realizado por nossos especialistas não é valorizado como deveria.

Ocorrências de surtos de intoxicação e de fraude na União Europeia e nos EUA são minhas fontes de estudo. Aqui no Brasil os dados são desatualizados e defasados, não espelhando a realidade. Infelizmente.

Como o perito deve agir para garantir que permaneça ético e imparcial quando interesses comerciais entram em conflito com critérios técnicos? Já passou por alguma situação nesse sentido?

Resposta: Sim. O profissional que quer ser perito, antes de tudo tem que ser ético e responsável. Você está representando o juiz e existem vidas envolvidas com o resultado do seu trabalho. Na perícia judicial essa situação é muito bem controlada porque os peritos procuram ter o mínimo de contato com as partes, uma vez que todas as informações necessárias estão no processo. E se não estiverem,  ele pode solicitá-las diretamente ao juiz.

No caso da perícia aduaneira existem mais interesses comerciais porque são, na maioria, mercadorias importadas em grandes quantidades e de alto valor. De qualquer maneira, somos representantes da Receita Federal do Brasil e temos que defender o que é correto e justo para o nosso país.

Temos que realizar as análises necessárias para a correta classificação fiscal das mercadorias.

Pensando no aumento da complexidade da cadeia produtiva de alimentos, com maior trânsito internacional de alimentos e com as diferenças regulatórias entre os países, quais você considera os maiores desafios na liberação ou retenção de produtos de origem animal em zonas alfandegárias?

Resposta: Eu penso que as novas tecnologias e novos produtos estão sempre desafiando a fiscalização e a legislação não consegue acompanhar essa evolução. Existem brechas na legislação em vigor que podem favorecer a liberação de mercadorias não regulamentadas. Também ações judiciais e mandados de segurança muitas vezes conseguem pareceres favoráveis para liberação dessas mercadorias. Para mim, um dos maiores desafios é a atualização constante e célere da legislação em vigor.

O trabalho que a VIGIAGRO exerce na fiscalização de produtos de origem animal é fantástico e deveria ser mais divulgado e valorizado. Eles são a primeira barreira para os produtos de origem animal irregulares. Se eles não autorizam, a Receita Federal também não autoriza a nacionalização.

Imagino que deva ser difícil selecionar apenas um caso, mas uma pergunta que nos deixa sempre muito curiosos é: na sua trajetória, qual o caso mais marcante?

Resposta: Não é difícil porque alguns casos são bem marcantes. Um caso de perícia judicial em arroz industrializado, cuja consumidora havia comprado em um supermercado. Estava envolvido nesse processo a indústria do arroz e o supermercado onde foi feita a compra, além da consumidora, autora da ação.

O arroz estava contaminado com larvas. A contaminação não foi na casa da consumidora porque ela constatou a contaminação no momento do preparo do arroz, que foi no mesmo dia da compra.

Restava saber onde havia sido a contaminação.

Para minha sorte, a consumidora havia guardado dois sacos íntegros do arroz, além do saco de arroz que ela tinha aberto para preparar.

Conhecendo um pouco do comportamento da larva e da sua fase alada, pensei em realizar a análise da embalagem plástica para ver se tinha perfurações. Mandei para um laboratório especializado em fitopatologia vegetal e eles, por sorte, tinham essa expertise.

Eles fizeram a análise da embalagem e constataram que havia perfurações somente de dentro para fora. Ou seja, o arroz foi embalado já com os ovos que evoluíram durante a cadeia de distribuição do arroz.

Essa análise eliminou a possibilidade de contaminação no supermercado ou na casa da consumidora porque, em ambos os casos, as perfurações seriam em dois sentidos: de dentro para fora e de fora para dentro.

Foi um caso muito interessante e que só deu certo porque a consumidora guardou as embalagens com muito cuidado por mais de 2 anos, evitando qualquer tipo de contaminação.

A minha experiência na vigilância sanitária foi fundamental nesse processo. E eu sou imensamente grata por isso.

Gostou do conteúdo? Muito bom saber mais sobre as atuações específicas da área de alimentos, que é tão abrangente e multidisciplinar, não é mesmo? Para ver mais entrevistas como esta, seguem algumas opções aqui no Food Safety Brazil:

Entrevista com médico veterinário perito criminal da Polícia Federal

Entrevista com Hans Philipowski, presidente da Associação Internacional de Segurança da Cadeia de Abastecimento

Segurança de Alimentos na gastronomia, com Eduardo César Tondo

Insetos como alimento: entrevista com Thelma L Cheung

Imagem: Sora Shimazaki

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Alérgenos não declarados tornam-se a principal causa de recalls alimentares na Irlanda

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Em julho de 2025, a Food Safety Authority of Ireland (FSAI) divulgou seu relatório anual, trazendo um dado que acendeu o sinal vermelho na cadeia global de segurança dos alimentos: os recalls motivados por alérgenos não declarados superaram, pela primeira vez, os casos de contaminação microbiológica.

Foram 126 alertas alimentares registrados no ano, sendo 56 relacionados a falhas na declaração de alérgenos como leite, ovo, gergelim, nozes, glúten e mostarda. Embora o dado se refira à realidade irlandesa, ele carrega um impacto que extrapola fronteiras, pois revela uma vulnerabilidade crescente e global na comunicação dos riscos ao consumidor alérgico.

Entre 2020 e 2025, o número de alertas alimentares por alérgenos na Irlanda cresceu 38%, superando pela primeira vez os casos de contaminação microbiológica. Esse salto revela uma tendência clara: falhas na gestão e comunicação de riscos alérgicos vêm se tornando o principal motivo de acionamento das autoridades sanitárias.

Enquanto a Europa avança em ferramentas de rastreabilidade e protocolos de avaliação de risco para alérgenos, o Brasil ainda busca consolidar as mudanças exigidas pela RDC nº 727/2022. Essa regulamentação representou um avanço significativo ao exigir termos padronizados e destaque gráfico, além de vedar o uso de expressões genéricas. A implementação, contudo, tem demandado adequações operacionais contínuas por parte da indústria, que busca garantir conformidade ao mesmo tempo em que aprimora práticas internas de rastreabilidade, validação e comunicação.

A complexidade do tema é global. Em diversos países, o controle de alérgenos exige não apenas conformidade com a legislação vigente, mas também a adoção de protocolos baseados em risco, capazes de diferenciar entre presença acidental, traços não intencionais e ingredientes declarados. Ferramentas como o VITAL Program, amplamente adotado na Austrália, e o regulamento europeu EU 1169/2011, exemplificam abordagens que buscam equilibrar rigor técnico com clareza para o consumidor. Em ambos os casos, a comunicação de risco é construída com base em evidências analíticas, níveis de referência e protocolos validados de limpeza e segregação.

Mesmo com diferentes modelos regulatórios, há um ponto de convergência: a necessidade de alinhar formulação, rotulagem, logística e informação ao consumidor de forma integrada e transparente. Em diversas partes do mundo, falhas simples — como alterações na composição sem revisão do rótulo, ou ausência de validação de limpeza entre lotes com e sem alérgenos — continuam a ser causas frequentes de recall.

Essas falhas, além de gerarem custos elevados com logística reversa e destruição de produtos, também impactam diretamente a saúde pública e a reputação das marcas. Casos de reações alérgicas graves, hospitalizações e perda de confiança do consumidor se tornam frequentes quando o controle falha.

Abaixo, alguns exemplos verídicos ilustram esse cenário:

Ano Empresa / País Alimento Alérgeno não declarado Impacto Fonte
2025 La Fiesta / EUA Pan Ralado Gergelim Recall nacional; gergelim não declarado nos EUA Link
2025 Wegmans / EUA Nonpareils de chocolate Leite Possível risco de anafilaxia por traços de leite Link
2025 Costco (Kirkland) / EUA Sweet Cream Butter Leite Recall de 79.000 lbs por erro de rotulagem Link
2025 Pearl Milling (Quaker) / EUA Mistura de panqueca Leite Risco elevado de reações alérgicas graves Link
2024 RV Pharma / EUA Welby B12 Amendoim Contaminação cruzada com amendoim Link
2025 Casa Mamita (Aldi) / EUA Churros congelados Leite Erro de rotulagem causou recall nacional Link
2024 Whitley’s / EUA Mix de castanhas Amendoim, leite, soja, trigo, gergelim Falha generalizada em rotulagem de vários alérgenos Link
2025 Patties Food Group / Austrália Roast Chicken Roll Amendoim, crustáceos Alérgenos não listados; recall preventivo Link
2024 Nocelle Foods / Austrália Ranger Mix Caju Risco à população com alergia a castanhas Link

Esses episódios reforçam o valor estratégico da gestão de alérgenos como parte integrante dos programas de segurança de alimentos. Para os profissionais da área, a atenção deve estar voltada não apenas ao cumprimento normativo, mas à eficácia prática dos controles implementados — o que inclui capacitação de equipes, validação laboratorial de limpeza, segregação física e revisão de rotulagem por múltiplos setores envolvidos.

Diversas empresas globais já adotam políticas internas de validação cruzada entre áreas de qualidade, P&D e rotulagem, garantindo que mudanças em ingredientes acionem automaticamente revisão dos rótulos e treinamento das equipes.

Recomendações práticas para controle de alérgenos na indústria

  • Treinamento contínuo de colaboradores sobre manipulação segura e rotulagem clara;

  • Validação de limpeza entre lotes com e sem alérgenos, por meio de testes laboratoriais;

  • Auditorias internas e revisão de rótulos por múltiplas áreas (qualidade, P&D, marketing);

  • Aplicação de ferramentas analíticas baseadas em risco, como o VITAL Program;

  • Comunicação clara com o consumidor, inclusive em canais digitais e SAC.

Diante da crescente exigência por transparência e responsabilidade compartilhada, o controle de alérgenos se consolida como um indicador de maturidade do sistema de gestão da qualidade. O alerta vindo da Irlanda não se restringe a um contexto local: ele ecoa como uma oportunidade para reforçar políticas internas, revisar fluxos operacionais e investir em soluções baseadas em ciência e prevenção.

Afinal, comunicar corretamente os riscos não é apenas uma exigência legal — é um compromisso ético com a saúde, a integridade e a confiança do consumidor.

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Participe do CLASA – Congresso Latino-Americano de Segurança de Alimentos

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O Congresso Latino-Americano de Segurança de Alimentos (Clasa) será realizado nos dias 27 e 28 de agosto de 2025, no Expo Mag, RJ. As inscrições estão abertas! 

Profissionais da indústria, pesquisadores e estudantes da área de Segurança de Alimentos de toda a América Latina estarão reunidos no Rio de Janeiro nos dias 27 e 28 de agosto de 2025 para a segunda edição do Congresso Latino-Americano de Segurança de Alimentos (Clasa), considerado um dos eventos mais relevantes do setor.

Durante dois dias de programação, os participantes terão acesso a palestras sobre temas essenciais como controle de qualidade, microbiologia, alergênicos e cultura de segurança de alimentos. O conteúdo foi cuidadosamente selecionado para apresentar o que há de mais atual e relevante para o segmento.

De acordo com Luciana Salles, uma das organizadoras do evento, os palestrantes escolhidos estão em sintonia com os desafios e as demandas tanto da indústria quanto da pesquisa. “Eles terão uma abordagem prática, mas também atualizada e científica. Os congressistas podem esperar uma verdadeira conexão com o conhecimento, além da oportunidade de se aproximar de especialistas, profissionais do mercado latino-americano de alimentos e fornecedores estratégicos”, afirma.

Neste ano, o Clasa será realizado no Expo Mag, um dos principais centros de convenções do Rio de Janeiro, oferecendo estrutura e conforto para todos os participantes. Os organizadores do evento estimam a presença de 400 inscritos nos dois dias de congresso.

Natália Lima, também organizadora, reforça que a segunda edição será ainda mais impactante. “Esta nova edição do Clasa conectará ainda mais pessoas por meio do olhar da segurança dos alimentos, com uma curadoria de temas e palestrantes que refletem os assuntos mais relevantes para quem atua na produção segura de alimentos. Juntos, vamos transformar e impulsionar a segurança de alimentos na América Latina.”

Espaço dedicado à ciência no Clasa

Além de uma programação técnica de alto nível, o Clasa 2025 também abre espaço para a divulgação científica. Estudantes e pesquisadores terão a oportunidade de apresentar seus trabalhos acadêmicos em sessões dedicadas, fortalecendo o intercâmbio entre ciência e indústria.

“Muitas vezes, esses dois universos parecem distantes, e o congresso vem justamente para aproximá-los. Os pesquisadores terão espaço para apresentar seus estudos e dialogar diretamente com quem está no dia a dia do setor. O mais interessante é que essa troca pode gerar parcerias, ideias inovadoras e mostrar, na prática, como a ciência se aplica à realidade”, diz Jackson Medeiros, que completa o trio de organizadores deste grande evento.

O Clasa é uma realização do Agron Food Academy em parceria com o Portal e-food, e conta com grandes empresas e multinacionais do setor de alimentos como patrocinadoras.

Acesse o site do evento e saiba como participar: https://agronfoodacademy.com/iiclasa/

Serviço

Data: 27 e 28 de agosto de 2025
Local: Expo Mag (R. Beatriz Larragoiti Lucas, s/n – Cidade Nova, Rio de Janeiro – RJ, 20211-175)
Inscrições pelo link: https://agronfoodacademy.com/iiclasa/

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Análise de dados e rastreabilidade na indústria de alimentos

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A análise de dados e rastreabilidade de informações para tomada de decisões é uma das atividades mais difíceis (e mais importantes) na indústria de alimentos.

Sua relevância se dá principalmente porque eventuais crises nesse setor precisam ser resolvidas com agilidade e precisão e ter informações de fácil acesso e com interpretação de dados fornece uma celeridade acima da média.

Já a dificuldade está intimamente ligada a desafios como:

  • Produção de muitos dados;
  • Tratamentos de dados sujos e não confiáveis;
  • Processos e informações não rastreáveis;
  • Falta de automatização para rastreabilidade e tratamento de dados;
  • Falta de conhecimento sobre análise de dados.

Promover a rastreabilidade e análise de dados como fatores indispensáveis nos processos de indústrias de alimentos deve ser uma ação pensada em prol da organização, velocidade e tomada de decisões eficazes, com uma velocidade alinhada ao grau de urgência de uma crise, como mandados de recalls.

A importância da análise de dados para tomada de decisões

A premissa de uma análise de dados é interpretar um conjunto de dados, sejam eles quantitativos ou qualitativos, para tirar conclusões que sejam úteis e, sobretudo, verdadeiras, sobre o negócio. Dessa forma, a análise de dados tem como principal objetivo apoiar tomadas de decisões realmente assertivas.

Partindo desse pressuposto, ao trazer a análise de dados para a indústria de alimentos, devemos considerar que as informações colhidas devem ser suficientes para tomadas de decisões como:

  • Ajuste de parâmetros de processo, como tempo, temperatura e pH, com base em dados históricos e desempenho por lote.
  • Identificação de gargalos ou desvios operacionais, com base em dados de OEE.
  • Aprovação ou rejeição de matérias-primas, com base em laudos e critérios de inspeção.
  • Elaboração de relatórios para auditorias (internas, clientes ou órgãos reguladores).
  • Gestão de validade e rotação de estoque (FIFO/FEFO) com base em dados em tempo real.
  • Resposta a fiscalizações e exigências regulatórias, com base em evidências rastreadas.
  • Lançamento ou descontinuação de produtos, com base em análise de consumo, rejeições e custos.
  • Ajuste de formulações ou processos, de acordo com feedback de clientes e indicadores de qualidade.
  • Avaliação de impacto de ações ambientais ou sociais, como certificações sustentáveis.
  • Identificação de tendências e novas demandas de mercado, usando dados de consumo e reclamações.

Nesses casos, e em outras diversas decisões, os dados fornecidos pelo próprio sistema vão garantir que a organização está no caminho correto. Isso porque essas informações vão ajudar a identificação de padrões de falha, sinalizam desvios, ajudam na comparação de lotes, rastreiam não conformidades e por aí vai…

Nesse sentido, o desafio maior é garantir que esses dados sejam gerados e monitorados em tempo real, de forma confiável. Além disso, é preciso ter na equipe profissionais que entendam como os processos da indústria funcionam, e o que aqueles dados querem dizer.

Quais dados devem ser monitorados?

Processos produzem infinitos dados. Em meio a uma quantidade realmente alta de informações produzidas, cabe à equipe responsável analisar quais são os dados realmente relevantes para sua indústria de alimentos.

Para definir quais dados devem ser monitorados, considere:

  • Qual decisão será tomada?
  • Quais são os objetivos dessa decisão?
  • Quais são os processos envolvidos?
  • Quais são as variáveis desses processos que devem ser consideradas?
  • Quais são os dados produzidos por esses processos?
  • Quais desses dados são relevantes para a tomada de decisão?

De forma geral, é possível dizer que cada decisão analisará um conjunto de dados diferentes, mesmo que determinados dados funcionem para mais de uma decisão. Nesse sentido, alguns dos dados mais utilizados na indústria de alimentos são:

  • Temperatura, umidade e pH em pontos críticos de controle (HACCP);
  • Resultados de análises microbiológicas e físico-químicas
  • Frequência e tipo de não conformidades registradas
  • Histórico de reclamações de clientes
  • Eficiência das linhas (OEE – Overall Equipment Effectiveness)
  • Tempo de setup e troca de produtos
  • Rendimento por tipo de insumo ou formulação
  • Registros de aplicação de produtos químicos (concentração, tempo de contato)
  • Histórico de auditorias (internas, externas, de clientes ou regulatórias)
  • Planos de ação e status das não conformidades
  • Documentos e versões atualizadas (POP, BPF, manual da qualidade)
  • Indicadores de conformidade com legislações específicas (MAPA, ANVISA, SIF)
  • Dashboards de indicadores-chave (KPIs), como, como índice de qualidade por produto, tempo médio de resposta a falhas, % de produtos rastreáveis e índice de satisfação do cliente (NPS, SAC).

Como a rastreabilidade ajuda a análise de dados na indústria de alimentos?

A rastreabilidade vem justamente para solucionar o maior desafio da análise de dados na indústria de alimentos: garantir dados seguros, gerados e monitorados em tempo real. Dessa forma, a possibilidade de rastrear informações é a garantia de que os dados estão sendo colhidos e tratados de forma certa.

Nesse sentido, é crucial considerar que a rastreabilidade para análise de dados não é somente para tomada de decisões, mas também para assegurar que os processos estão sendo seguidos da forma como foram desenhados. No ciclo de vida de documentos, por exemplo, saber quem aprovou, reprovou e acessar todas as versões é essencial para segurança e conformidade.

Além disso, a rastreabilidade na indústria de alimentos vai ajudar a:

  • Garantir a segurança e integridade do alimento: processos rastreáveis produzem alimentos identificáveis e facilmente isoláveis, sendo possível detectar lotes contaminados e outros desvios de segurança e ameaça à saúde dos consumidores.
  • Facilitar recalls e gestão de crises: com a localização exata dos produtos afetados, assim como a identificação dos pontos do processo que devem passar por ajustes é muito mais fácil tomar ações rápidas e com menor impacto para a reputação.
  • Atender as exigências legais e normativas: rastreabilidade é requisito para inúmeras normas e órgãos, como ANVISA, MAPA e certificações como ISO 22000 e FSSC 22000, assegurando conformidade com padrões de segurança alimentar.

Rastreabilidade na hora de recalls e auditorias

Além de todas as funcionalidades detalhadas, a rastreabilidade tem um papel ainda mais forte quando o assunto envolve recalls e auditorias. Nesse caso, a sua atuação é crucial para que todo o processo de recall seja realmente rápido, e a organização consiga passar por auditorias sem dores de cabeça.

Recalls na indústria de alimentos costumam ser causados por contaminação microbiológica, rotulagem incorreta, presença de alergênicos não declarados, objetos estranhos ou falhas no processo produtivo. Quando isso ocorre, o tempo de resposta é fundamental tanto para proteger o consumidor, quanto para preservar a imagem da empresa.

Nesse cenário, a rastreabilidade permite:

  • Localização completa do lote afetado;
  • Identificação dos insumos e fornecedores envolvidos;
  • Mapeamento de quais clientes ou distribuidores receberam o produto;
  • Bloqueio automatizado do lote em estoque e processos;
  • Geração de relatórios em tempo real para os órgãos competentes;
  • Histórico completo de cada unidade produzida, com data, turno, equipamentos e operadores envolvidos.

Para auditorias internas e externas, as organizações precisam ter acesso rápido a informações documentadas, rastreáveis e confiáveis. A ausência de evidências ou inconsistências nos registros é uma das maiores causas de não conformidade.

Para esse caso, a rastreabilidade vai:

  • Organizar os registros de forma automática, com histórico por produto, processo ou colaborador.
  • Permitir a recuperação de evidências em segundos, sem busca manual em papéis ou planilhas.
  • Manter versões atualizadas de documentos e registros de alterações.
  • Apontar ações corretivas e preventivas já realizadas, com base em não conformidades anteriores.
  • Integrar registros de sensores, sistemas e formulários digitais, aumentando a confiabilidade dos dados.
  • Facilitar o monitoramento contínuo de pontos críticos de controle (HACCP), com alertas automáticos.

Como assegurar rastreabilidade e fazer análise de dados na indústria de alimentos?

Existem algumas etapas comuns que ajudam organizações a assegurar rastreabilidade e fazer análise de dados na indústria de alimentos. Ainda assim, é de suma importância considerar contextos e objetivos específicos da sua indústria.

  • 1 – Mapeie os processos e pontos críticos da cadeia produtiva

Só vai ser possível garantir rastreabilidade se todos os processos produtivos estiverem mapeados. Além disso, é interessante saber quais são os dados oriundos de cada etapa do processo, para entender a melhor maneira de os colher e interpretar.

  • Identifique quais etapas exigem rastreabilidade, como recebimento de mercadoria, produção, envase, armazenamento, expedição.
  • Classifique pontos críticos de controle (HACCP) e defina quais dados devem ser registrados em cada etapa.
  • Estabeleça o nível de rastreabilidade: por lote, por unidade, por fornecedor ou por cliente.

Com isso, o esperado é que a organização tenha uma base estruturada para uma rastreabilidade eficiente e análise de dados segmentada por processo.

  • 2 – Padronize os registros e defina indicadores-chave (KPIs)

Sem padronização, os dados coletados perdem valor. Nesse sentido, padronizar formatos, critérios e frequências de registro é essencial para confiabilidade. Com isso, será possível ter dados comparáveis e consistentes, que ajudam a automatizar a análise dessas informações.

  • Crie formulários ou checklists digitais padronizados por tipo de processo.
  • Defina os principais indicadores a monitorar, como temperatura, tempo de cocção, pH, devoluções, perdas.
  • Defina a equipe responsável pela coleta e validação dos dados.
  • 3 – Automatize a rastreabilidade dos dados

A rastreabilidade manual é lenta, sujeita a erros e falhas de registro. Nesse sentido, a automação é o caminho para tornar o processo confiável, escalável e auditável. Com rastreabilidade contínua, em tempo real e com mínima intervenção humana, a organização alcançará uma considerável redução de falhas.

  • Adote plataformas digitais integradas à produção, qualidade e estoque.
  • Utilize coletores automáticos (sensores, etiquetas RFID, QR codes) para registrar dados em tempo real.
  • Implemente registros automáticos por lote, incluindo entradas, saídas, testes e movimentações.
  • Garanta que o sistema gere relatórios e trilhas de auditoria completas, com histórico de alterações.
  • 4 – Garanta a confiabilidade e integridade dos dados

Não basta coletar dados: eles devem ser precisos, protegidos e auditáveis. Dados confiáveis são a base de qualquer tomada de decisão baseada em evidências. Assim, será possível ter certeza sobre auditorias, recalls, análise de causas, indicadores etc.

  • Elimine registros manuais sempre que possível.
  • Use sistemas com controle de acesso, versões e logs automáticos.
  • Valide dados com checagens cruzadas automáticas e alertas para inconsistências.
  • Capacite os times para entenderem a importância dos dados e seguirem os padrões.
  • 5 – Transforme dados em decisões com dashboards e relatórios

Com os dados organizados e rastreáveis, o próximo passo é transformá-los em considerações acionáveis para a gestão. Dessa forma, a tomada de decisão será mais ágil e estratégica.

  • Use dashboards com indicadores em tempo real (qualidade, perdas, devoluções, produtividade).
  • Programe relatórios automáticos por período, produto ou unidade produtiva.
  • Aplique análises preditivas e estatísticas para antecipar falhas ou desvios.
  • Compartilhe os dados com áreas estratégicas (produção, qualidade, logística, diretoria).

Plataformas que contribuem para rastreabilidade em tempo real

O Docnix é uma plataforma completa para gestão da qualidade e compliance, com destaque para o Módulo Documentos, que centraliza, versiona e automatiza fluxos de aprovação. O módulo também gera relatórios e gráficos para monitoramento em tempo real.

Com ele, as informações certas chegam às pessoas certas no momento certo, fortalecendo a rastreabilidade de ocorrências e decisões. A digitalização de documentos e o histórico de revisões permitem identificar falhas, comprovar conformidade e responder rapidamente a auditorias, recalls ou não conformidades, com coleta e análise de dados com ferramentas da qualidade.

Tudo isso com dados confiáveis, rastreáveis e organizados e prontos para apoiar uma gestão baseada em evidências. É visibilidade em tempo real com segurança e controle.

Docnix

Docnix é uma suíte para gestão e qualidade organizacional com mais de 20 anos de história. A solução conta com 13 módulos independentes, mas integráveis, que vão acabar com o trabalho manual repetitivo da sua equipe de gestão, automatizando gerenciamento de documentos, ações, riscos, governança e outros. Para conhecer a Docnix, clique aqui.

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Os principais guardiões dos alimentos da sua mesa: órgãos fiscalizadores

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Você já parou para pensar que, toda vez que consome um alimento, abre a geladeira ou vai ao supermercado, está exposto a um dos sistemas mais complexos e sofisticados do mundo? Não estamos falando apenas de logística ou agricultura, estamos falando de uma rede global de “Guardiões Invisíveis” que trabalham para garantir que aquele iogurte, aquela carne ou aquele pão não se tornem uma ameaça às nossas vidas. São os órgãos fiscalizadores. 

O que são siglas como FDA, EFSA, ANVISA, MAPA…? Elas representam algumas organizações poderosas e influentes, e estes órgãos não aparecem nas manchetes dos jornais (a menos que algo dê muito errado), mas suas decisões afetam diretamente a vida de bilhões de pessoas e movimentam trilhões de dólares na economia global.

O poder silencioso que move trilhões

Imagine por um momento que você é o CEO de uma multinacional de alimentos, e sua empresa produz em 50 países e vende em outros 150. Cada país tem suas próprias regras, seus próprios padrões, seus próprios órgãos fiscalizadores. Um erro de interpretação regulatória pode custar centenas de milhões de dólares em recalls, multas e danos à reputação.
Os números são assustadores: um único recall pode custar muito dinheiro. A Abbott perdeu mais de $5 bilhões em 2022 devido a problemas com fórmula infantil. A JBS enfrentou suspensões de exportação que custaram bilhões após a Operação Carne Fraca.
Mas aqui está o segredo que poucos conhecem: as empresas que antecipam mudanças regulatórias e implementam sistemas que excedem os padrões atuais não apenas evitam crises – elas ganham vantagens competitivas massivas.

FDA: O gigante que define as regras globais

O FDA oficialmente regula apenas os Estados Unidos, mas influencia o mundo inteiro. Como? Simples: qualquer empresa que queira vender alimentos no mercado americano (o maior do mundo) precisa seguir as regras do FDA. Suas metodologias se tornaram o padrão-ouro mundial. Países como Brasil, México, Coreia do Sul e muitos outros baseiam suas regulamentações nas práticas americanas.

Eles têm um sistema de classificação de risco que é pura ciência de dados aplicada: usam inteligência artificial para analisar dados históricos, reclamações de consumidores, condições climáticas e até indicadores econômicos para prever onde problemas podem surgir. É como ter uma bola de cristal, mas baseada em ciência.

EFSA: a revolução científica europeia

Se o FDA é o rei do poder regulatório, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) é a rainha da excelência científica. Criada em 2002 após crises alimentares que abalaram a Europa, a EFSA desenvolveu algo revolucionário, a separação total entre ciência e política. Eles fazem apenas a avaliação científica dos riscos. As decisões políticas ficam para a Comissão Europeia. Isso significa que quando a EFSA diz que algo é seguro ou perigoso, você pode confiar, não há agenda política por trás.

A EFSA fez algo que nenhum órgão regulador havia feito antes, publicou TODOS os dados dos estudos, incluindo informações que as empresas consideravam confidenciais. Isso criou um precedente global e forçou outras agências a serem mais transparentes.

ANVISA: A potência emergente 

Agora vamos falar sobre nossa casa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Criada em 1999, a ANVISA tornou-se, em apenas 25 anos, uma referência internacional. Hoje, ela é parceira respeitada do FDA, colabora com a EFSA e é consultada por países da América Latina, África e Ásia.

A ANVISA desenvolveu o controle pré-mercado e pós-mercado adaptado ao risco. Produtos de baixo risco? Licença automática com fiscalização posterior. Produtos de alto risco? Avaliação detalhada antes de entrar no mercado.

MAPA: O gigante silencioso do agronegócio

Se você trabalha com alimentos de origem animal ou com bebidas, o MAPA pode ser mais importante para você que a própria ANVISA.

O Brasil é uma superpotência alimentar global:

Maior exportador de soja do mundo

Maior exportador de carne bovina do mundo

Maior exportador de carne de frango do mundo

Segundo maior exportador de milho do mundo

Quem garante que tudo isso chegue aos mercados internacionais com qualidade e segurança? O MAPA e o seu Serviço de Inspeção Federal (SIF) é o que permite que um frigorífico exporte carne para mais de 150 países. Sem o SIF, o agronegócio brasileiro simplesmente não existiria na escala atual.

O MAPA supervisiona mais de 5.000 estabelecimentos registrados no SIF, que movimentam mais de $100 bilhões em exportações anuais.

Como funciona o processo de fiscalização: da análise de risco às consequências

Cada órgão tem sua especialidade e área de influência. O FDA define tendências globais, a EFSA estabelece padrões científicos, a ANVISA coordena um sistema federativo complexo e o MAPA garante que o agronegócio brasileiro chegue a mais de 150 países.

Independentemente do país ou órgão, a fiscalização segue uma lógica científica: análise de risco, planejamento, inspeção, análise e decisão. Compreender este fluxo é essencial para antecipar problemas e implementar soluções proativas.

Prepare-se: os órgãos reguladores estão implementando IA

As finalidades da IA são:

  1. Prever violações antes que aconteçam
  2. Analisar milhões de dados em tempo real
  3. Identificar padrões invisíveis ao olho humano

Quer estar a frente?

  1. Implemente sistemas que excedem padrões atuais: antecipe mudanças
  2. Invista em monitoramento regulatório global: informação é vantagem competitiva
  3. Desenvolva planos de contingência robustos: crises vão acontecer
  4. Promova cultura de compliance e segurança de alimentos: é mais barato que fazer recalls

Qual sua experiência com órgãos reguladores? Compartilhe nos comentários suas histórias, dúvidas ou insights.

Leia mais:

Fiscalização baseada em risco: a atual metodologia do MAPA para a alimentação animal

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Evolução do Controle de Pragas na visão Food Safety

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Da precariedade à excelência: responsabilidade e sustentabilidade

Esse texto trata da relação entre desequilíbrio ambiental e o surgimento de pragas urbanas. Mostra que pragas são  consequência da má gestão dos espaços, e não apenas vilões a serem exterminados.

Aqui, defendemos que o controle eficaz depende menos de químicos e mais de capacitação técnica, estratégia, prevenção e manejo ambiental. A solução está em ambientes cuidados por profissionais preparados para agir preventivamente.

Colocando a praga no seu devido lugar

Pragas são consequência de um ambiente desequilibrado. Aumento da atividade e ocupação de pessoas e negócios sobre territórios resultam em duas respostas da fauna existente, conforme artigos científicos apontam: a) algumas migram; e b) outras se adaptam.

Entre a fauna adaptada ao ambiente impactado, algumas espécies alcançam um nível de dispersão e proliferação que chega a ocasionar contaminações prejudiciais à saúde das pessoas, bem como prejuízos a estruturas e risco de deterioração em insumos. Esses recebem a alcunha de “pragas” ou “vetores”. Xingamento justo em função dos sérios prejuízos econômicos e riscos à saúde das pessoas, desde os tempos bíblicos.

Embora ratos, pombos, baratas, traças, escorpiões e tantos outros sejam normalmente classificados como vilões, essencialmente são apenas animais adaptados oportunistas. Penetram em ambientes nos quais há oferta de acesso, alimento, água e abrigo.

O desconhecimento é o verdadeiro vilão

Matem todos!! Seria esse o grito insurgente das pessoas (e gerentes) mais afetadas. E embora o extermínio seja a estratégia mais difundida, com resultados eficientes a curto prazo, nenhum praguicida é capaz de isolar o ambiente definitivamente. A tal “redoma mágica” que afasta pragas não existe, mas podemos indicar alternativas para atenuar o risco sanitário e econômico.

Portanto, o desconhecimento e ou o amadorismo é, sem sombra de dúvida, o maior fator de crescimento e afetação das pragas na saúde das pessoas e existe a figura pitoresca do “Zé Bombinha” ou empresas controladoras atrasadas, que chegam lá com “o veneno nas costas”. Isto é uma ameaça à saúde, ambiente e até ao próprio segmento controlador, conforme já apontado em artigos anteriores deste blog. Afinal, muitas pessoas e empresas percebem um nivelamento precário dos controladores profissionais.

Reconheça a necessidade de convergência

Seja em empreendimentos com baixo impacto, ou em grandes instalações industriais, é necessário adotar medidas sustentáveis ambientalmente, que por um lado afastam atividades migratórias das pragas, e por outro lado resultam em menos ações químicas para contenção dos invasores. O que queremos afirmar é: ambientes com bom nível sanitário, destinação correta de resíduos, manejo de flora periférica, recebimento adequado de insumos e mobilização do time interno impõem pouca atuação química e menor risco de contaminações.

Em uma pequena lanchonete, em um complexo industrial pet food, ou em um abatedouro de aves, cada empreendimento pode ter pouca ou nenhuma intervenção química e manter proteção contra pragas, se houver um manejo ambiental bem dimensionado. Por isso não transfira toda a responsabilidade à empresa controladora.

O padrão “Zé Bombinha” contagia

Já pude presenciar situações desconfortáveis quando operações industriais mal dimensionadas produziram infestações de moscas em cidades, formação de focos de mosquitos transmissores, invasão por ratos, colonização de jardins ou galerias com escorpiões, enfim, descuidos ambientais com expressivos impactos na comunidade e produtividade do empreendimento. Todas situações contornáveis com planejamento e correção baseada na adoção de estratégias sanitárias, ambientais e uma pitada de metodologias químicas.

Uma empresa controladora de pragas atenta precisa relatar ao estabelecimento quais são os condicionantes ambientais que aumentam vulnerabilidade a pragas, entretanto é frequente percebermos profissionais controladores realizarem apenas inspeções em armadilhas e aplicação de defensivos, sem exercer sua missão de vigilância do ambiente e identificação ativa dos indícios de pragas. Um simples alerta sobre vegetação elevada, acúmulo de resíduos, vazamentos, ou acessos mantidos abertos já seria suficiente para evitar grandes contaminações.

Ignorar essa visão é um erro comum entre gestores industriais, que privilegiam o fluxo produtivo, em detrimento de medidas para acentuar food safety e qualidade. É o “Zé Bombinha” sendo reproduzido em um tipo de “Zé Indústria”. Todos perpetuando a precarização como modelo.

Capacitação  + Tecnologia = Sustentabilidade

Cada vez mais o time de ESG nas indústrias, bem como empreendedores mais alinhados às tendências sustentáveis, buscam alternativas transversais. Exemplos disso são os projetos privados para controle de mosquitos transmissores, que podem ser contratados por um empreendimento industrial, ou por pequenos empreendimentos comerciais, com inequívoco impacto à comunidade próxima. São estratégias que eliminam milhares de mosquitos sem nenhuma gota de inseticida.

Outras iniciativas envolvem o emprego de estratégias para destinação responsável de resíduos e replantio de vegetação nativa em áreas sem destinação. Tudo a ver com pragas, meio ambiente e responsabilidade social.

Mais um comportamento crescente é o emprego de formulações inseticidas multimoléculas com métodos de tratamento tipo “spot spray”, que direciona o agente químico de alta performance a poucos locais realmente contaminados, reduzindo a cultura de quase “lavar” o ambiente com dezenas de litros de calda inseticida. Também existe o manejo de resistência, pela rotação de moléculas. E os equipamentos aplicadores têm sido cada vez melhor balanceados, deixando o controle profissional de pragas urbanas menos parecido com uma aplicação agrícola.

Inteligência Artificial, legislação e formação técnica

Recursos de IA já estão empregados em alguns modelos de armadilhas luminosas, calibradas para identificar a atividade de insetos voadores com precisão e agilidade, sinalizando ao gestor de food safety, em tempo real, cada novo risco percebido. Mapeamento de iscas raticidas também começam a envolver recursos de IA, realidade ainda distante para a maioria das instalações industriais, mas certamente uma luz no fim do túnel.

O PL 1367/2022, em tramitação desde 2016, será o novo Marco Regulatório para o controle de pragas no Brasil, reforçando a visão já apontada pela ANVISA. A atualização da legislação poderá contribuir para aumentar a excelência da atividade empresarial e proteção à população brasileira.

Ainda existe uma lacuna que pode aprimorar a visão de sustentabilidade nas empresas controladoras: a formação do profissional controlador. Felizmente no Brasil começam a surgir iniciativas que preparam o trabalhador do controle de pragas com excelentes propostas acadêmicas. Entretanto, a maioria das empresas controladoras ainda investe pouco na educação profissional, resultando em trabalhadores meramente repetidores das diluições químicas e revisores de armadilhas.

A contrapartida food safety

Felizmente a cultura food safety é cada vez mais difundida, tanto na legislação quanto na prioridade de muitos estabelecimentos. Desde a consolidação do Codex Alimentarius, muitas conquistas já foram celebradas. E para perseguir esse padrão excelente, produtores de alimentos aprofundam seu envolvimento com todos os requisitos. O controle de pragas, antes muito dependente do nível de comprometimento da empresa controladora, é cada vez mais considerado um tema transversal, assimilado por todos os envolvidos no processo. Deixou de ser um “assunto lá da qualidade”.

Uma visão evolutiva

A próxima fronteira para um controle de pragas realmente convergente com a cultura food safety, capaz de assimilar todas as dimensões da responsabilidade ambiental e sanitária, está diretamente conectado com o padrão educacional dos trabalhadores. Agentes reguladores e clientes tomadores esperam esse aprimoramento profissional.

A maior limitação para responder aos requisitos dos sistemas de qualidade e segurança não está no inseticida escolhido ou no equipamento disponível. Está na expectativa de que a “lagarta zé bombinha” se transforme em uma “borboleta controladora”.

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Anúncio da ganhadora do Concurso Cultural do VII Workshop Food Safety Brazil

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É com grande alegria que anunciamos a vencedora do nosso concurso cultural, realizado como parte da programação do VII Workshop Food Safety Brazil. Este concurso teve como objetivo incentivar a reflexão e a troca de ideias sobre a importância da segurança de alimentos, um tema essencial em nosso cotidiano.

Com a participação de diversos autores, nosso júri, composto por quatro renomados colunistas do Food Safety Brazil, dedicou-se a realizar uma “leitura cega” dos textos enviados. Essa abordagem garantiu que as avaliações fossem imparciais e focadas no conteúdo e na relevância das ideias apresentadas. Após uma análise cuidadosa, temos o prazer de revelar que a vencedora é Viviane Gonçalves de Oliveira, com o texto intitulado:

“Do campo à mesa: como a tecnologia pode nos auxiliar na evolução dos Sistemas de Gestão de Segurança de Alimentos.”

A proposta de Viviane destaca como a tecnologia desempenha um papel crucial na melhoria dos sistemas de gestão de segurança de alimentos. Ela explora diversas inovações que podem ser aplicadas em cada etapa da cadeia produtiva, desde a produção até o consumo, enfatizando que a adoção de novas tecnologias pode resultar em processos mais seguros e eficientes. Seu texto é uma verdadeira inspiração, mostrando que a evolução tecnológica é um aliado fundamental na busca por alimentos seguros e de qualidade.

Em breve, você poderá ler o post completo de Viviane aqui no nosso blog. Temos certeza de que suas ideias e insights proporcionarão uma leitura enriquecedora e inspiradora para todos os nossos leitores.

Parabenizamos Viviane por sua conquista e agradecemos a todos que participaram do concurso. A sua contribuição é fundamental para o fortalecimento do debate sobre segurança de alimentos no Brasil. Cada texto enviado traz uma perspectiva única e valiosa, e é essa diversidade de ideias que enriquece nossa comunidade.

Gostaríamos de convidar todos que nos leem a participar do VII Workshop Food Safety Brazil, onde teremos a oportunidade de discutir temas relevantes e trocar experiências sobre segurança de alimentos. Não percam essa chance de se conectar com outros profissionais da área e contribuir para a construção de um futuro mais seguro e saudável para todos.

Clique aqui e junte-se a nós!

Agradecemos novamente a todos os participantes e esperamos vê-los no workshop!

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COP 30 em Belém e a Segurança de Alimentos

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Em novembro de 2025, Belém do Pará será o epicentro das discussões climáticas globais, ao sediar a 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30). De 10 a 21 de novembro, a cidade espera receber mais de 60.000 visitantes, incluindo chefes de estado, cientistas, ativistas e jornalistas de 193 países. A agenda da COP 30 combina eventos oficiais, como negociações de alto nível, com iniciativas não oficiais que celebram a cultura paraense e amplificam vozes locais.

Este evento é um convite para todas as pessoas que acreditam na construção de um mundo mais justo, resiliente e sustentável, por meio da informação correta e ética, que é uma das principais chaves para as transformações que tanto necessitamos. É com soluções coletivas que alcançaremos um futuro melhor para o planeta.

Nossa mensagem é de esperança e urgência. Cada decisão tomada em uma COP reflete o esforço coletivo para preservar recursos naturais, reduzir desigualdades e construir um futuro mais justo e saudável para todos. As COPs moldam as discussões sobre o clima e influenciam decisões que afetam nosso cotidiano.

E como a Segurança de Alimentos está inserida neste contexto? Refletindo sobre isso, penso que os exportadores de alimentos podem perder contratos por não garantir cadeia livre de emissões de gases de efeito estufa ou degradação ambiental e há muitos outros pontos a considerar:

– ampliar práticas sustentáveis que transformem conhecimento em ação: economizar energia, reduzir o uso de plásticos, priorizar alimentos locais e transporte sustentável, afinal pequenas atitudes, somadas, geram grandes impactos;

– repensar o que consumimos, para reduzir o desperdício de alimentos. Priorizar alimentos locais e sazonais, pois a alimentação responde por cerca de 1/3 das emissões globais de gases de efeito estufa;

– adotar soluções com os “pés na terra”, cuidando dela, recuperando solos degradados e ajudando a manter vivas as tradições agrícolas de suas comunidades.

Já pensaram que as decisões das COPs afetam o preço e a disponibilidade dos alimentos? Há algo mais que gostariam de comentar? Esperamos por vocês, com atitudes e reflexões.

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ANVISA retifica a RDC 623/2022 sobre matérias estranhas em alimentos

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Em 11 de julho de 2025, a ANVISA publicou uma retificação do inciso X do art. 3º da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 623, de 9 de março de 2022. Veja aqui.

Este inciso X da RDC 623 apresenta uma lista de matérias estranhas indicativas de falhas nas Boas Práticas de Fabricação. A única coisa que mudou foi que as alíneas a), b), c) e d) deste inciso X passam a mencionar o inciso IX ao invés do inciso VII. Este era um erro de redação mesmo, pois é no inciso IX que a norma apresenta as matérias estranhas que são INDICATIVOS DE RISCO à saúde humana.

Trocando em miúdos, na parte de definições, a resolução separa o que são matérias estranhas indicativas de falhas de BPF, que são aceitáveis no alimentos até o limite definido nos anexos I e II, daquelas que são indicativas de risco à saúde humana e, por isso, não são aceitáveis. Assim, esta RETIFICAÇÃO corrige uma falha que havia na redação.

É uma pena que esta retificação só corrija esta falha. Existe uma outra no inciso IX alínea “f”, que diz que fragmentos de metais rígidos, pontiagudos e ou cortantes, iguais ou maiores que 7 mm, são riscos à saúde e a alinea “g” diz que metais acima de 2 mm já são riscos à saúde.

Para finalizar, o que é palco também de muita polêmica nesta norma, há o fato de se permitir pelo de roedor nos alimentos, assunto que já foi objeto de artigo neste blog. Para reler o artigo, clique em Pelo de roedor faz mal à saúde?.

Imagem: Ann H

< 1 min leituraEm 11 de julho de 2025, a ANVISA publicou uma retificação do inciso X do art. 3º da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 623, de 9 de março de […]

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Visão computacional em Segurança de Alimentos: do campo à mesa

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A visão computacional vem se consolidando como uma tecnologia revolucionária para garantir a qualidade e a segurança dos alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva. Combinando análise de imagens com inteligência artificial (IA), ela proporciona uma avaliação não destrutiva, em tempo real e com alta precisão, transformando a forma como monitoramos e asseguramos a integridade dos alimentos que chegam à mesa do consumidor.

A segurança de alimentos é uma preocupação crítica em escala global. Métodos tradicionais de inspeção, embora confiáveis, tendem a ser demorados, trabalhosos e suscetíveis a variações ambientais e às mudanças nas amostras. A combinação entre visão computacional e algoritmos de deep learning surge como solução promissora, permitindo a análise rápida e não destrutiva da autenticidade e da qualidade dos alimentos.

O crescimento exponencial dessa tecnologia ilustra sua importância estratégica: o mercado global de visão computacional atingiu US$ 17,7 bilhões em 2023, com previsão de crescimento anual de US$ 2,5 bilhões até 2025. A região Ásia-Pacífico lidera com 39,6% da participação, evidenciando a adoção global e crescente dessas soluções.

Fundamentos da Visão Computacional em Alimentos

Arquitetura de Sistemas

Um sistema típico de visão computacional na indústria de alimentos é composto por cinco elementos principais, conforme revisão sobre deep learning e machine vision para processamento de alimentos.

  • Unidade de iluminação: proporciona iluminação uniforme e controlada;
  • Sistema de movimentação: garante a análise contínua em linhas de produção;
  • Espectrômetro: dispersa os comprimentos de onda da luz incidente;
  • Detector ou câmera: captura as informações espaciais e espectrais;
  • Software de processamento: executa a análise por meio de algoritmos de IA.

Tecnologias de Captura

Câmeras RGB (Red Green Blue) convencionais: adequadas para avaliar cor, forma e tamanho, úteis na classificação de frutas por maturação ou na detecção de defeitos visuais.

Imageamento Hiperespectral (HSI): coleta centenas de bandas espectrais e revela a composição química interna dos alimentos. Essa técnica gera um “hipercubo” com duas dimensões espaciais e uma espectral, permitindo uma análise detalhada, pixel a pixel, conforme revisão em imageamento hiperespectral para avaliar qualidade e segurança de alimentos. Uma das aplicações mais relevantes da espectroscopia de imagem hiperespectral (HSI) é a detecção e quantificação do teor de água em produtos alimentícios. Isso se deve ao fato de que a água apresenta bandas de absorção intensas na região do infravermelho próximo (NIR), especialmente nos comprimentos de onda de 970 nm, 1200 nm e 1450 nm. Essa característica permite o monitoramento preciso da umidade, essencial para o controle de qualidade, avaliação da vida útil e identificação de possíveis adulterações nos alimentos.

Detectores especializados

  • Silício (Si) CCD/CMOS (300-1.100 nm): boa relação custo-benefício;
  • InGaAs (900-1.700 nm): superior em análises no infravermelho próximo;
  • HgCdTe: permite análise de faixas espectrais estendidas, ideal para aplicações especiais.

Aplicações em Qualidade e Segurança de Alimentos

1. Avaliação de frescor e maturação

A visão computacional permite determinar o ponto ideal de colheita e prolongar a vida útil de alimentos ao monitorar características como a composição química interna. O uso de Redes Neurais Convolucionais (CNNs) na detecção de deterioração precoce em maçãs alcançou acurácia de 98%, superando métodos tradicionais.

2. Detecção de contaminantes e corpos estranhos

Sistemas avançados são capazes de identificar:

3. Autenticação e detecção de fraudes

A adulteração alimentar prejudica a confiança do consumidor e cria riscos econômicos e de saúde. Aplicações incluem:

  • Mel: Detecção de adulteração com xaropes com 97,96% de precisão;
  • Azeite: Identificação de misturas com óleos inferiores através de análise espectral;
  • Carnes: Verificação de espécies e detecção de substituições fraudulentas;
  • Leite em pó: Detecção de melamina e outros adulterantes.

Conforme revisão em machine vision combinado com deep learning para autenticação alimentar, essas abordagens oferecem métodos mais rápidos, acessíveis e precisos.

4. Análise de composição nutricional

Sistemas avançados determinam composição química sem destruir amostras:

  • Teor de gordura, proteína e umidade em carnes;
  • Níveis de açúcar e acidez em frutas;
  • Distribuição de nutrientes em produtos processados;
  • Homogeneidade em produtos lácteos.

5. Monitoramento de processos

A visão computacional monitora processos complexos em tempo real:

  • Fermentação: Acompanhamento visual de evolução microbiana em queijos, vinhos e produtos fermentados, detectando anomalias precocemente, conforme overview em aplicações de visão computacional a alimentos fermentados;
  • Embalagem: Inspeção de integridade de selagem, detectando contaminação entre selo e embalagem, prevenindo entrada de ar e umidade;
  • Classificação: Separação automática por qualidade, tamanho, cor e características internas.

Integração com tecnologias emergentes

Deep Learning: Inteligência Aprimorada

Redes neurais profundas revolucionaram capacidades de detecção:

  • CNNs: Processamento em tempo real com precisão superior a 96%;
  • YOLO (You Only Look Once): Detecção simultânea de múltiplos atributos;
  • Redes Recorrentes: Análise de padrões temporais em processos.

Estudos demonstram que arquiteturas de deep learning extraem características complexas automaticamente, eliminando a necessidade de engenharia manual de features.

IoT (Internet of Things) e Blockchain: Rastreabilidade e transparência

A integração com Internet das Coisas e blockchain cria um ecossistema completo de segurança. Conforme discussão em integração de IA com IoT e blockchain para rastreabilidade:

  • Monitoramento contínuo do campo ao consumidor;
  • Registros imutáveis de qualidade e origem;
  • Resposta automática a desvios de qualidade;
  • Transparência total para consumidores.

Análise Multimodal

A fusão de múltiplas tecnologias amplia capacidades como:

  • Visão + espectroscopia + sensores químicos;
  • Dados ambientais + imagens + histórico de processo;
  • Integração com sistemas de gestão e qualidade.

Benefícios Práticos para Indústria

Eficiência Operacional

  • Inspeção de até 10 produtos por segundo;
  • Operação 24/7 sem desgaste ou variação;
  • Redução de 80% no tempo de análise;
  • Diminuição de 60% em perdas por classificação incorreta.

Precisão e Consistência

  • Detecção de variações de 0,1% em composição;
  • Identificação de defeitos menores que 1 mm;
  • Padronização absoluta de critérios;
  • Eliminação de subjetividade humana.

Retorno Econômico

  • ROI (Return on Investiment) típico de 18-24 meses;
  • Redução de recalls em até 90%;
  • Minimização de perdas por deterioração;
  • Otimização de preços por qualidade real.

Desafios e Soluções

Desafios Técnicos

  • Variabilidade de produtos: Cada alimento possui características únicas, exigindo calibração específica. Solução: Sistemas adaptativos que aprendem continuamente.
  • Condições ambientais: Variações de iluminação e temperatura afetam medições. Solução: Algoritmos robustos e calibração automática.
  • Volume de dados: Imageamento hiperespectral gera terabytes diários. Solução: Processamento em edge computing e compressão inteligente.

Barreiras de Implementação

  • Custo inicial: Hardware especializado representa investimento significativo. Estratégia: Implementação faseada começando por processos críticos.
  • Capacitação técnica: Necessidade de pessoal qualificado. Abordagem: Parcerias com universidades e treinamento contínuo.
  • Integração: Compatibilidade com sistemas existentes. Solução: API (Application Programming Interfaces) abertas e protocolos padronizados.

Perspectivas futuras

Inteligência Artificial Explicável

Desenvolvimento de sistemas que não apenas detectam, mas explicam suas decisões, fundamental para auditoria e conformidade regulatória.

Miniaturização e Portabilidade

Dispositivos portáteis de imagem hiperespectral permitirão inspeção em campo e pequenas operações, democratizando o acesso à tecnologia.

Aprendizado Federado

Sistemas que aprendem coletivamente mantendo privacidade de dados, permitindo melhorias contínuas sem compartilhar informações sensíveis.

Em síntese, a visão computacional representa uma ruptura tecnológica que transforma a segurança dos alimentos de forma irreversível. Integrada a IA, IoT e blockchain, ela garante precisão, rastreabilidade e velocidade sem precedentes. A jornada rumo à digitalização total da segurança de alimentos já começou. Empresas que adotarem essa revolução não apenas protegerão melhor seus consumidores, mas também conquistarão vantagens competitivas sólidas em um mercado mais exigente e informado.

Autores:

  • Uender Carlos Barbosa; mestrando em Tecnologia de Alimentos, Pesquisador em IA e visão computacional aplicadas à agricultura; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano – Campus Rio Verde); e-mail: carlos3@gmail.com
  • Osvaldo Resende; Engenheiro Agrícola, Pré-Processamento de Produtos Agrícolas e Qualidade de Alimentos; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano – Campus Rio Verde); e-mail: resende@ifgoiano.edu.br
  • Jaqueline Ferreira Vieira Bessa; Doutora em Ciências Agrárias-Agronomia; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano – Campus Rio Verde); e-mail: jaquelinefv.bessa@gmail.com
  • Alcídia Cristina Rodrigues Oliveira Bergland; Mestranda em Tecnologia de Alimentos, pesquisadora em IA e visão computacional; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano – Campus Rio Verde); e-mail: cristinabergland1@gmail.com
  • Daniel Emanuel Cabral de Oliveira; Doutor em Ciências Agrárias-Agronomia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano – Campus Rio Verde), e-mail: daniel.oliveira@ifgoiano.edu.br
  • Marco Antônio Pereira da Silva; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano – Campus Rio Verde); e-mail: marco.antonio@ifgoiano.edu.br

Imagem: ThisIsEngineering

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