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Como identificar um peixe de boa qualidade

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Nesta época do ano é habitual que o consumo de peixe aumente. Este artigo dirigido aos consumidores (somos todos consumidores) trata de como identificar um peixe de boa qualidade, e a palavra-chave é “frescor”.

Um peixe de boa qualidade deve necessariamente apresentar uma série de características que comuniquem frescor.
Uma primeira recomendação é conhecer a origem do peixe e comprar em uma peixaria de sua confiança. Seu fornecedor deve ser confiável. O local de venda, a aparência e vestuário do pessoal devem parecer higiênicos e deve-se verificar se a cadeia de frio é cuidada e mantida.

No caso de peixes inteiros ou filés frescos (não congelados ou salgados), verifique se utilizam gelo para mantê-los frios. Quando o peixe estiver congelado, a temperatura do congelador deve estar próxima de -18°C; idealmente é preferível uma temperatura de -20°C.

Peixe salgado ou enlatado não precisa de refrigeração. Neste caso é importante verificar o prazo de validade e seguir as instruções do fabricante no rótulo.

Principais características do peixe inteiro fresco

O aspecto deve ser brilhante, limpo (opacidade é sinal de deterioração), com cor típica da espécie. As espécies que apresentam escamas na pele devem estar com as escamas firmes cobrindo completamente o peixe.

Os olhos devem ser convexos (nunca afundados nas órbitas), as pupilas bem diferenciadas. A textura da pele deve ser firme e elástica. Após afundar o peixe com a pressão de um dedo, ele deverá retornar ao seu formato original e não deverá haver nenhuma marca de ter sido pressionado.

Abra as guelras: devem estar separadas, apresentar cor avermelhada intensa e ausência de muco. Cores acastanhadas ou cinzentas e mau cheiro não são típicas de peixes de qualidade. O cheiro das guelras deve ser marinho, livre de odores estranhos, principalmente amônia ou combustível.

O abdômen deve apresentar-se sem fissuras ou rupturas. Quando parecer quebrado ou estourado, descarte-o, pois é de má qualidade.

Às vezes o peixe é apresentado sem cabeça e eviscerado. É um corte especial aceitável, embora ofereça alguma dificuldade para quem tem pouca experiência na espécie. A falta da cabeça pode ser uma dificuldade na identificação da espécie e as referências citadas acima a respeito de olhos e brânquias não são válidas neste caso. Neste tipo de apresentação pode-se verificar a firmeza das escamas e se a cavidade abdominal (onde estavam as vísceras) está limpa. A deterioração interna da parede abdominal tem a aparência de geleia de maçã ou gelatina. Este último é um sinal de falta de frescor e deterioração da qualidade.

Tenha em mente que algumas espécies de peixes não possuem escamas naturalmente. Isto não afeta a sua qualidade.

O caso da lula ou do choco merece um parágrafo à parte. Neste caso, a cor da pele é uma comunicação importante sobre seu frescor e qualidade. É comum que esse molusco seja capturado por navios-fábrica que o congelam em alto mar, obtendo ótima qualidade, mas é apresentado aos consumidores descongelado e resfriado com gelo. Quando sua qualidade é ótima, a cor é marrom com veios brancos. Depois de algumas horas a cor fica branca. A qualidade neste caso é aceitável. Mais tarde a cor fica rosa e depois avermelhada e até roxa. Depois de perder a cor branca, deixa de ter uma qualidade aceitável e as cores avermelhadas e roxas são típicas de uma deterioração avançada da qualidade. Infelizmente, há consumidores que compram este produto por desconhecimento.

Em relação aos moluscos bivalves (mexilhão, amêijoa, etc.), é sempre preferível comprar aqueles que estão com a casca fechada. A concha aberta é típica de um molusco de baixa qualidade e pode até não ser seguro para consumo.

Para filés de peixe, o ideal é que o peixeiro faça o filé de peixe fresco na presença do cliente. Mas isso nem sempre é possível. Eles podem ser frescos ou congelados. Quanto ao cumprimento da cadeia de frio, já foi mencionado acima.
No Brasil existem filés de excelente qualidade, dependendo da origem do peixe e da confiança do peixeiro (volto a esse aspecto porque é básico). Para dar um exemplo, na minha experiência pessoal prefiro o filé de tilápia brasileira ao importado do Vietnã ou da China. Também prefiro o filé de salmão norueguês ao chileno (salmão criado em cativeiro), cuja cor laranja pode ter sido criada pela adição de corantes na ração artificial que recebem (não tenho certeza disso, mas tenho minhas dúvidas).

O filé de pescada argentina é geralmente de boa qualidade, embora às vezes apresente algumas espinhas. É extraído diretamente do oceano e as plantas beneficiadoras contam com fiscalização oficial do SENASA.

Deixo uma recomendação final: não coma peixe cru ou malcozido.

Referências:

Crianza Mares y rios de espana , Fao,  Wikipedia

Imagem: Pixabay

Leia também: 

Como o peixe fresco é resfriado e armazenado em um navio de pesca – Estudo de caso

Que condições determinam a vida útil dos filés de peixe fresco?

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Cisticercose e neurocisticercose foram até tema de seriado médico

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Num dos episódios da série televisiva Dr. House (temporada 1, episódio 2, da Netflix), um paciente hospitalizado apresenta uma série de sintomas que incluem, entre outros, convulsões, tonturas, distúrbios de visão, dores de cabeça e hipertensão intracraniana. Após vários estudos médicos que incluíram imagens, raios X e exames de sangue, chegaram a um diagnóstico preciso de neurocisticercose. O capítulo é interessante.
A questão pertinente seria: como ocorre a cisticercose em humanos?
Tentarei descrever brevemente alguns conceitos. A doença é causada por um verme parasita achatado pertencente ao filo Platyhelminthes.
Suínos criados em locais com falta de higiene geral e de saneamento adequado (principalmente áreas suburbanas das cidades) podem ser infestados pelo consumo de ovos de tênia (Taenia solium). A infestação de porcos é fecal-oral.
Na maioria dos casos é uma zoonose. Este é o nome dado às doenças infecciosas que são transmitidas dos animais para os humanos e vice-versa. Esta última palavra, “vice-versa”, em certas definições que observei não está incluída. No caso da cisticercose é importante levar isso em consideração.
A contaminação em humanos ocorre pelo consumo de carne de porco malcozida, contaminada com cistos de larvas de tênia, chamados de “cisticercos”. Você também pode ser infectado ao comer alimentos que contenham ovos de tênia excretados por outro ser humano infestado, que transmite os ovos de tênia junto com sua matéria fecal. A falta de higiene e saneamento favorece esse aspecto epidemiológico. Alimentos vegetais crus contaminados com ovos de tênia e mal-lavados também são uma fonte de contaminação. É uma doença mais comum na América Latina e na África.
Ao consumir alimentos contaminados por larvas (cisticercos), elas têm a capacidade de se fixar na parede intestinal e até atravessá-la e entrar no sistema circulatório, atingindo diversas partes, principalmente músculo esquelético. Nos casos mais graves chegam ao cérebro, onde ficam e formam cistos. Essa fase é a mais grave e é chamada de neurocisticercose, podendo ser fatal.
O período de incubação da doença em humanos é variável. Pode variar de dias a anos. Isto torna extremamente difícil localizar a tempo quando ocorreu a infestação primária.
Prevenção
A prevenção é essencial nestes casos. Pratique bons hábitos:
1- Lavagem correta das mãos
2- Lave e descasque frutas e vegetais crus antes de consumir.
3- Conhecer a origem e a qualidade da água potável. Em caso de dúvida, beba água engarrafada de qualidade garantida ou ferva a água durante um minuto.
4- Cozinhe a carne de porco completamente (74°C no centro térmico do alimento).
5- Caso apresente sintomas como os citados acima, dirija-se ao serviço médico para consulta.
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Segurança de alimentos na sociedade da informação

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A intenção deste artigo é fazer uma primeira abordagem de um tema atual – segurança de alimentos na sociedade da informação – relacionando o acesso à informação e ao conhecimento com a segurança e qualidade dos alimentos que consumimos todos os dias.
Embora os termos sociedade da informação e do conhecimento sejam hoje muito utilizados, a verdade é que estas duas vertentes existem há milênios.
Todos os avanços na área da informação vão desde a transmissão oral do conhecimento (quando a escrita ainda não havia sido desenvolvida) até os dias atuais.
Os livros que formam as bibliotecas são uma forma de acúmulo de informações. A digitalização desta informação é a forma como hoje ela chega até nós com imediatismo através do acesso à Internet.
Ou seja, sempre existiu informação, o que difere é a forma como a armazenamos e os meios pelos quais podemos acessá-la. Mas a informação por si só não gera conhecimento. Outros fatores interferem nesta relação, como educação e comunicação.
Através da comunicação pelas redes como a Internet e outros meios de comunicação, podemos ter acesso à informação que cada um de nós considera relevante ou interessante. No nosso caso particular, como interessados em questões relacionadas com a segurança e qualidade alimentar, algumas das informações relevantes estão ao nosso alcance. Cabe a cada um procurá-las e sobretudo discernir a sua importância e credibilidade de acordo com os conhecimentos previamente adquiridos.
É necessário ter um posicionamento crítico em relação a cada informação para diferenciar o que é verdadeiro do que é falso.
Às vezes há informações distorcidas que parecem verdadeiras e podemos cometer erros involuntários quando queremos comunicá-las a outras pessoas. É preciso comparar diversas fontes e escolher as mais confiáveis. A angústia da insatisfação é o que nos faz buscar as perguntas certas para encontrar informações verdadeiras.
Nós, que atuamos como assessores da indústria alimentícia, em qualquer uma de suas etapas, devemos obter informações da melhor qualidade possível e isso nem sempre é fácil. Nosso blog trabalha com colunistas que buscam a excelência na informação para que ela seja de melhor aproveitamento para os leitores.
Informação não é o mesmo que conhecimento. Quando a informação que acessamos é analisada, bem compreendida, contrastada com outras informações e assimilada, só então ela passa a fazer parte do nosso conhecimento. Quando comunicamos o conhecimento adquirido por meio de uma publicação, ele se torna informação para nossos leitores.
Divulgar informação sobre segurança de alimentos nesta sociedade da informação é uma paixão que envolve aspectos importantes relacionados com a saúde pública; uma ajuda para produtores e consumidores de alimentos.
A questão da segurança de alimentos é multissetorial, envolve diversas disciplinas. O trabalho em equipe com acesso a informações de qualidade é fundamental para o avanço do conhecimento e ao mesmo tempo o conhecimento é a matéria-prima para a inovação.
Mas nem tudo são rosas. Há pedras no caminho que temos de eliminar e uma delas é a chamada fratura digital, porque o acesso à informação ainda não é possível em vários países ou regiões. Isto criou países mais avançados, com equipes de pesquisadores que são geradores de conhecimento, e outros países menos desenvolvidos que são consumidores do conhecimento gerado em outros lugares.
A geração de informação e conhecimento colocados em valor monetário é muito mais benéfica. Daí a importância de aumentar o orçamento para a ciência e tecnologia, seja ela pública ou privada.
A tétrade positiva é: informação-comunicação-conhecimento-inovação. Um círculo virtuoso.

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Cinco maneiras de prevenir a anisaquíase (parasita Anisakis)

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A anisaquíase é uma zoonose causada pelo parasita nematóide Anisakis simplex, que afeta os humanos de várias maneiras. A forma mais comum é a infecção do aparelho digestivo, com sintomas de dores abdominais, náuseas e vômitos. Causa inflamação intestinal de gravidade variável. Geralmente está associada à ingestão de peixe cru, mal cozido ou levemente salgado, o que permite a viabilidade do estágio larval 2. Também tem sido associada a reações alérgicas.

Neste momento, o tema é oportuno porque o governo brasileiro viabilizou uma consulta técnica antes de efetivar a Portaria SDA/MAPA nº 832: “Regulamentação técnica de identidade e qualidade para pescado congelado, pescado congelado em salmoura e pescado em salmoura congelada para enlatados”.
Este artigo tem como objetivo opinar sobre o tema a partir de uma abordagem preventiva, baseada em dados científicos e na aplicação da Análise de Riscos e não apenas na aplicação da Análise de Perigos.

Sobre o parasita Anisakis simplex

O causador da anisaquíase é um parasita que vive no estômago de mamíferos aquáticos (focas, etc.) onde desenvolve a fase adulta e deposita os seus ovos diretamente na água do mar. No mar, desenvolvem-se os estágios L1 e L2 (larva 1 e larva2). Esses dois estágios larvais são ingeridos por pequenos crustáceos, que mais tarde servirão de alimento para os peixes. É assim que os peixes com estágio L2 ficam infestados. Essas larvas instalam-se nas vísceras dos peixes, principalmente no fígado, onde são visíveis a olho nu ou com lupa. Eles também afetam os cefalópodes, lulas e polvos.

Formas de prevenção

1- Estripar o pescado imediatamente após a captura quando se tratar de pescado processado a bordo ou o mais rapidamente possível quando se tratar de pescado processado em fábrica em terra.
A evisceração dos peixes a bordo implica, na maioria dos casos, que as vísceras contaminadas com o parasita retornem ao mar. Este procedimento aumenta a contaminação dos mares com L2, podendo infestar outras colônias ou cardumes de peixes. Por esta razão, estão sendo implementadas medidas na Europa para que os navios tomem medidas a bordo para inativar as larvas dos resíduos antes de os despejarem no mar.

2- Consumir sempre peixe cozido a temperatura igual ou superior a 60°C. A temperatura de cozimento adequada inativa ou mata as larvas e as torna seguras para consumo humano. Recomenda-se nunca consumir peixe cru ou mal cozido. Produtos como sushi ou sashimi, amplamente difundidos na cultura culinária japonesa, expõem a população à infestação. É a população com mais anisaquíase no mundo.
As conservas de peixe, incluindo a pescada do Atlântico Sul, não apresentam qualquer risco de consumo devido ao seu processamento a altas temperaturas ou à esterilização comercial

3- Basear as inspeções num critério de análise de risco, tendo em conta fatores como a frequência de casos certificados de doenças, aspectos culinários e culturais da população consumidora e informação ao consumidor. O maior número de casos de anisaquíase por milhão de habitantes está no Japão, cujo costume culinário é muito diferente do Brasil. Por isso é importante colocar a lupa na realidade do risco e isso é muito menos restritivo e mais alinhado com a realidade. Nem todos os perigos são riscos e isto está na base do sistema HACCP. Lotes de peixe adequado para consumo podem ser rejeitados injustamente quando apenas a Análise de Perigos é aplicada.

4- Também está comprovado que congelar peixes ou cefalópodes por pelo menos 5 dias em temperatura igual ou inferior a 20°C negativos inativa completamente as larvas do parasita, tornando o produto inofensivo para consumo humano, mesmo que consumido cru. Na Espanha, a lei exige o congelamento do peixe que será utilizado para consumo cru. Este último refere-se aos danos potenciais que o parasita Anisakis pode causar.

5- Conforme descrito anteriormente, o desenvolvimento da larva com capacidade de infestar peixes depende da presença de mamíferos aquáticos nos quais vive sua forma adulta. Na ausência destes mamíferos, o processo não ocorre e portanto não há possibilidade de infestação dos peixes. É o caso dos peixes criados em cativeiro em poças que não têm contato com o mar. É por isso que os peixes cultivados desta forma estão livres do parasita Anisakis, desde que seja seguido um plano de alimentação adequado que não inclua restos de vísceras de outros peixes marinhos.

Por estes motivos, ao aplicar corretamente a Análise de Risco, sabemos que temos vários motivos para tornar o peixe um produto seguro para o homem no que diz respeito a parasitas.

Imagem: Olga Lioncat

Referências

https://es.wikipedia.org/wiki/Anisakis#Anisakiasis_o_anisakidosis

Revista Puerto Dr. Boris Bogovslavsky. (Argentina)

 

Parasita Anisakis: potencial perigo do sashimi

Parasita Anisakis como causa de alergia por consumo de peixes

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Vibrio vulnificus, potencial perigo dos frutos do mar

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O Vibrio vulnificus foi descrito pela primeira vez em 1976.

É um bacilo gram-negativo com mobilidade devido à presença de flagelo polar. Não tem capacidade de esporular, é anaeróbio facultativo e termolábil. Esta última condição é essencial para a prevenção da doença.

O tema que pretendo desenvolver neste artigo está relacionado com a possibilidade de transmissão de uma doença muito perigosa causada pelo Vibrio vulnificus.

Os vibrios causadores de doenças mais conhecidos são o V. cholera e o V. parahemolíticus, sendo que o V. vulnificus tem uma frequência muito menor nas infecções, mas tem uma taxa de mortalidade que pode ultrapassar 50% dos casos. Recentemente, uma publicação na internet relatou um caso gravíssimo onde dois fatores estão envolvidos: o V. vulnificus e o consumo de tilápia.

O caso aconteceu com uma pessoa de 40 anos na Califórnia, Estados Unidos da América. Após vários dias de tratamento médico, a pessoa sofreu a amputação de ambas as pernas e braços, como último recurso para salvar a vida. Segundo a história, foi por consumo de peixe cru ou mal cozido.

Revendo a literatura publicada até o momento, esta bactéria é encontrada no ambiente aquático em áreas tropicais e subtropicais, preferencialmente com baixa salinidade e próximas ao litoral, como estuários, rios e lagos, sejam naturais ou artificiais. Há investigações que envolvem a bactéria que afeta a tilápia em lagoas de cultivo, principalmente naquelas onde não são aplicadas medidas sanitárias adequadas, como nas explorações familiares, que depois vendem seu produto em mercados públicos.

Mas mesmo assim, a maior parte dos casos descritos pelos investigadores provêm de produtos do mar que não são peixes, como ostras e outros bivalves marinhos encontrados em zonas costeiras criados natural ou artificialmente. Temperaturas da água superiores a 18°C  e baixa salinidade são propícias à multiplicação de V. vulnificus.

Humanos infectados
A forma de infecção em humanos pode ser através de feridas na pele quando a pessoa entra em água do mar ou em rios contaminados pela bactéria. Esta forma de infecção é chamada de septicemia primária.

Outra forma de infecção é através do consumo de carne de peixe ou frutos do mar, como os citados acima, contaminados pela bactéria.

Além dos sintomas característicos de uma infecção alimentar, como dores abdominais, febre, vômitos, essa bactéria produz uma toxina que entra na corrente sanguínea e atinge principalmente os membros inferiores e superiores (pernas e braços), devido à sua capacidade invasiva do células da parede vascular e a produção de toxina extracelular (citolisina) que inibe o ferro ligado ou não aos eritrócitos, impedindo a oxigenação do tecido muscular.

Como consequência dessa ação, inicia-se e progride um processo de necrose. Nos casos mais graves, foi detectada a elevada capacidade de resistência de algumas estirpes de V. vulnificus aos antibióticos, que se revelaram totalmente ineficazes no controle da bactéria.

Maneira de prevenção
Conforme mencionado no início do artigo, é uma bactéria que não tem capacidade de formar esporos e também é termolábil, o que significa que cozinhar completamente os alimentos mata as bactérias. A bactéria morre quando cozinhada a uma temperatura igual ou superior a 74°C durante 5 minutos. Portanto, a cozedura completa é a melhor e mais eficaz prevenção. Conhecer a origem do produto é sempre uma forma eficaz de reduzir o risco, mas isso não o cancela. Nunca consuma frutos do mar crus (peixes, mariscos e algas marinhas), pois nem o melhor chef do mundo consegue detectar a presença de V. vulnificus em alimentos crus.

Problemas associados
– Fatores contribuintes como a presença de doenças pré-existentes como diabetes, doenças hepáticas ou renais e pessoas com imunidade reduzida complicam muito a situação do paciente
– Aumento da temperatura dos mares e de outras massas de água como consequência das alterações climáticas
– Contaminação nas áreas de cultivo e coleta de moluscos bivalves
– Falta de informação por parte dos consumidores e minimização do risco de consumo de frutos do mar crus
– Resistência aos antibióticos, um processo em constante aumento

Referências: 

https://www.google.com/search?gs_ssp=eJzj4tTP1TdISjPNyjNg9GIvycxJLMhMBAA-KwZK&q=tilapia&rlz=1C1CHZL_esUY977UY977&oq=&aqs=chrome.1.35i39i362j4

https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/raq.12743

https://www.revista.unam.mx/vol.6/num4/art32/abr_art32.pdf (Patógeno oportunista Vibrio Vulnificus)

https://www.google.com/search?q=tilapia+brasileira&rlz=1C1CHZL_esUY977UY977&oq=&aqs=chrome.5.35i39i362j46i39i199i362i465l2j35i39i362j46i39i362j35i39i3

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Botulismo e neurotoxina alimentar

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Este artigo trata do botulismo e neurotoxina alimentar. Farei uma abordagem biológica diferente, mas complementar a outros excelentes artigos já publicados aqui na FSB por colegas colunistas.

O botulismo é uma infecção alimentar rara, mas com alta letalidade. Etiologicamente é causada pela toxina de uma bactéria do gênero Clostridium (C. botulinum) amplamente distribuída tanto no solo quanto na água.

Esporulação

Vamos começar com o processo de esporulação. A esporulação pode ser definida como uma forma latente adotada por certas bactérias para sobreviver em condições extremas e inicia-se com a formação do endosporo dentro da célula vegetativa. O endosporo difere da célula vegetativa pela formação de quatro camadas superficiais. A mais externa chama-se exosporium. Dentro dela está a capa dos esporos (ambos formados por proteínas). Dentro deles está o córtex, que é uma camada de peptideoglicanos, e dentro do córtex está o núcleo do esporo e a parede celular normal correspondente à célula vegetativa.

As quatro coberturas adicionais do endosporo fornecem resistência e proteção à célula vegetativa quando as condições externas tornam-se hostis à bactéria. Este processo pode ocorrer em menos de quatro horas. O composto que confere maior resistência ao endosporo uma vez concluído o processo de esporulação é o ácido dipicolínico associado a íons cálcio (dipicolinato de cálcio) e encontra-se no núcleo do esporo.

A esporulação a partir de uma célula vegetativa implica um processo de transformação altamente complexo que envolve a expressão de múltiplos genes com a produção de proteínas em nível mitocondrial, algo que ainda está sendo estudado pelos cientistas, portanto ultrapassa o escopo deste artigo. Mas o que é realmente relevante é que ele transforma uma célula vegetativa hidratada e metabolicamente ativa em um esporo desidratado (o teor de água é de apenas 10% a 25% no centro do esporo) e metabolicamente inerte com muito pouco ou nenhum consumo de oxigênio.

O esporo é uma forma muito eficiente de defesa contra um ambiente hostil e também pode ser ativado quando a bactéria não encontra nutrientes suficientes para continuar com sua forma vegetativa. O esporo tem a capacidade de persistir nesse estado de latência por muito tempo. Existem até estudos que detectaram esporos centenários que então voltam à sua forma vegetativa quando as condições hostis diminuem. Esse processo é chamado de germinação. Quando as condições para as bactérias são favoráveis, esse processo pode ser rápido e atingir o modo vegetativo em apenas 30 minutos.

Mas o leitor pode se perguntar em quais casos é importante levar em consideração o processo de formação do endosporo. Um primeiro esclarecimento é que nem todos os gêneros de bactérias têm essa capacidade. Em todos os casos, trata-se de procariontes gram-positivos, mas para fins de segurança de alimentos, os gêneros Bacillus e Clostridium são de fundamental relevância.

O Clostridium botulinum é o agente que produz a toxina botulínica quando se encontra em sua forma vegetativa, em ambiente sem a presença de oxigênio (anaerobiose) e com nutrientes suficientes para o seu desenvolvimento. É o caso de alimentos em conserva que não foram devidamente preparados.

O caso das conservas caseiras é um dos exemplos típicos. Mas a produção da toxina também pode ser decorrente de processos industriais inadequados. A indústria alimentícia teve que desenvolver procedimentos de esterilização eficazes, como o do leite leite longa vida (UHT), entre outros, para garantir a segurança dos alimentos, sejam eles embalados em potes de vidro, enlatados, ou em outros materiais. Além disso, sempre é preciso levar em  consideração fatores como boa higiene, tempo de cozimento, temperatura superior a 120 graus Celsius, pH adequado ou a combinação desses parâmetros.

A bactéria pode assumir a forma de endosporo, completar o processo de esporulação por tempo indeterminado e voltar a germinar quando as condições forem favoráveis para a produção da neurotoxina. Existem receptores de germinação com a capacidade de detectar a presença de condições adequadas para induzir a germinação. Os esporos germinam rapidamente, dissolvendo suas capas e absorvendo água com sérias consequências para o consumidor. Nos casos mais graves, a toxina afeta o sistema nervoso (neurotoxina) e pode ser letal se não for tratada com urgência. A neurotoxina inibe a formação do neurotransmissor acetilcolina. A toxina é termolábil, ou seja, pode ser inativada pelo cozimento, mas não a bactéria esporulada.

Desde a década de 1980, alguns casos de botulismo infantil foram relatados. Nesses casos, está envolvido o mel produzido pelas abelhas, que contém a forma esporulada que depois germina no aparelho digestivo do bebê, liberando a toxina.

Bioterrorismo

O governo dos Estados Unidos da América, por meio do CDC,  também tomou medidas de contingência face a um ataque terrorista que pode envolver a toxina botulínica como perigo potencialmente letal. Sem tratamento médico imediato, as pessoas com botulismo podem morrer.

A verificação da vida muito longa em forma latente dos esporos também é objeto de estudo dos astrobiólogos.

Referências:

https://www.mayoclinic.org/es/diseases-conditions/botulism/symptoms-causes/syc-20370262#:~:text=El%20botulismo%20es%20una%20afecci%C3%B3n,Clostridium%2

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4098856/

https://cals.cornell.edu/microbiology/research/active-research-labs/angert-lab/epulopiscium-en-espanol/endospora-de-bacterias

Leia também: 

Botulismo alimentar: o perigo das conservas caseiras

Imagem: OPAS 

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Por que é importante a formação contínua em segurança de alimentos?

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Você, profissional de alimentos, está cuidando de sua formação contínua?

Muitas vezes ouvimos e repetimos a frase de Hipócrates (considerado o pai da medicina moderna): “Deixe a comida ser o seu alimento e o alimento ser o seu remédio”. Embora esse conceito seja válido desde os tempos da antiga civilização grega e seja aceito tanto por médicos quanto por nutricionistas, é válido pensar que em tempos anteriores a essa civilização, tanto as civilizações sumérias, quanto as babilônicas e as antigas civilizações andinas da América tiveram técnicas muito bem desenvolvidas em culturas alimentares. Além da irrigação,  cultivo e criação de animais para consumo humano, elas também desenvolveram um conceito genérico de segurança de alimentos.

O fato de até agora ter sido encontrado pouco material escrito dessa época não significa que em um futuro próximo ou distante não possam ser encontradas evidências científicas que comprovem a existência dessas “normas” ou costumes associados à segurança de alimentos. Obviamente, séculos se passaram desde aquela época e o treinamento em segurança de alimentos evoluiu até os dias atuais. Durante várias décadas, especialistas de vários ramos da ciência continuaram a fornecer dados cada vez mais documentados sobre este importante tema de interesse para toda a humanidade. A formação contínua dos profissionais e de todo o pessoal envolvido nas tarefas inerentes ao cultivo, extração, transformação, embalagem, transporte e preparação de alimentos em nível industrial, para serviços de alimentação ou mesmo doméstico tem assumido uma relevância considerável para os cuidados de saúde dos consumidores.

Nos últimos cem anos, os avanços nas tecnologias de produção, armazenamento e preservação de alimentos superaram os avanços que poderiam ter ocorrido nos últimos três mil anos de história, mas as mudanças continuam em um ritmo cada vez mais rápido.

O advento do sistema HACCP e as normas que foram surgindo e melhorando continuamente nos obrigaram a tomar os critérios da Formação Contínua como algo estabelecido sem o qual não podemos compreender a segurança de alimentos. O conceito de cultura de segurança dos alimentos é incentivado, levando em consideração o advento da atual globalização que abrange o comércio de alimentos de todas as partes do mundo. Para isso, é preciso desenvolver políticas globais com fundamentação científica, acadêmica e com conceito crítico.

Há alguns séculos, o filósofo Descartes, derrubando muros, questionava todas as coisas e conceitos adquiridos, para diferenciar os verdadeiros dos falsos. Já no século XX, o filósofo francês Jaques Derridá também levanta a ideia de Desconstrução (que não é o mesmo que destruição) para questionar o conhecimento científico e humano em geral e descartar o que não é verdadeiro.

A disrupção da inteligência artificial neste momento é alimentada pelos dados fornecidos pela internet para a formulação de alimentos, inclusive projetando alimentos a partir de cultura de células por meio de um sistema de impressão 3D. O grande problema desse sistema é que o que é publicado na internet nem sempre é verdadeiro e está inter-relacionado com dados falsos. É por isso que é tão importante desenvolver um sistema crítico que nos permita receber, interpretar e distribuir dados certos e verificados aos nossos colegas e colaboradores. Para isso, é necessária a formação contínua dos profissionais de segurança de alimentos.

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Como o meio ambiente se relaciona com a segurança dos alimentos?

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Entidades governamentais, academia e organizações sociais estão refletindo sobre a preservação do meio ambiente como forma de evitar o aquecimento global devido a causas atribuíveis às atividades humanas. A contínua agressão ao meio ambiente rompe com o equilíbrio natural que há milênios possibilita a evolução da vida humana no planeta. Há algo que tem que ficar claro para nós: o planeta não precisa de nós, mas nós humanos precisamos do planeta.
Um exemplo claro do desequilíbrio brutal que o homem pode causar já foi discutido neste blog. Refere-se ao rompimento da barragem de Mariana ocorrido em 05 de novembro de 2015 em Minas Gerais. Naquela época, grandes quantidades de resíduos de produtos químicos utilizados na mineração de ferro foram repentinamente lançadas no meio ambiente, causando a maior tragédia ecológica da região. O impacto ambiental foi de tal magnitude que afetou o Rio Doce em uma bacia hidrográfica que atingiu 230 municípios e a costa atlântica do Espírito Santo.

Contaminação por produtos químicos que incluíam cádmio, arsênico, chumbo e mercúrio, entre outros, inviabilizavam a água do rio para consumo humano ou animal, além de contaminar os peixes.

Outros pontos fortes a serem levados em conta relacionados à agressão ao meio ambiente são dados pelo desmatamento acelerado e pela queima indiscriminada de pastagens e florestas. Além da perda da biodiversidade, isto obriga os animais silvestres a migrarem para outros locais. Os animais que abandonam o seu habitat têm a capacidade potencial de transmitir as suas doenças aos animais domésticos e através do consumo ou pela proximidade, transmitir a doença aos humanos. Lembremos que setenta e cinco por cento das doenças que nos afetam são de origem zoonótica e que esse processo põe em risco a segurança dos alimentos.
Os mesmos argumentos podem ser aplicados à poluição dos oceanos. Hoje se sabe que oitenta por cento do lixo dos oceanos é composto de plástico. Além disso, o aumento da temperatura do mar e sua acidificação, assim como a sobrepesca, modificam o equilíbrio ecológico. A importância de cuidar do meio ambiente é essencial para preservar a segurança dos alimentos
Não vou incluir aspectos relacionados ao sequestro de carbono, que é tão necessário, mas que foge ao escopo deste artigo.

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Que condições determinam a vida útil dos filés de peixe fresco?

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Caros leitores, há poucos dias, um produtor de filés de atum e espadarte perguntou-me quais as melhores condições que pode colocar em prática para oferecer aos seus clientes de outros Estados ou do estrangeiro, filés frescos de boa qualidade e com o maior prazo de validade possível, sem recorrer a embalagem em atmosfera controlada ou embalagem a vácuo.

Essas duas últimas tecnologias seriam adequadas para prolongar a vida útil dos filés frescos, mas me colocaram na encruzilhada de ter que pensar em uma metodologia que não as levasse em consideração.

A definição de “peixe fresco” pode ser atribuída àquele que não sofreu nenhum tipo de conservação, exceto pela adição de gelo, salmoura ou água do mar refrigerada. (FAO).

A partir dessa condição, para alcançar uma vida útil que atinja ou ultrapasse quinze dias, devemos levar em conta uma série de considerações para obter filés frescos de qualidade e seguros para o consumo, entre as quais se destacam:

1- Condições de captura e área geográfica. No caso das duas espécies mencionadas, a pesca com palangre (anzol) é a mais indicada e a mais utilizada. A área geográfica é importante para levar em conta as horas ou dias de viagem que leva para chegar com o peixe ao porto. Se a zona de pesca é remota e os filés são feitos na fábrica em terra (como é o caso do produtor que me consultou), podem passar de 2 a 5 dias com o peixe a bordo do navio e são dias de vida útil que eles perdem.

2- O manuseio do peixe após o içamento a bordo também é uma questão muito importante. A evisceração e a sangria devem ser realizadas imediatamente e depois os pescados devem ser postos no armazém refrigerado com bastante gelo para baixar a temperatura até -1°C a +2°C em poucas horas. É essencial encher a cavidade abdominal com gelo porque é uma área muito sensível à deterioração.
Vamos dar uma olhada na qualidade microbiológica do gelo por um momento. Este deve ser proveniente de fábrica autorizada pela autoridade sanitária competente para garantir que foi produzido com água microbiologicamente adequada e de forma higiênica e transportado para o navio nas mesmas condições. Gelo contaminado com micróbios patogênicos ou mesmo produtos químicos como combustível é totalmente inaceitável e prejudicial ao consumidor.
Todos os esforços devem ser feitos para manter a temperatura do pescado próxima de 0°C durante todo o processo de transporte até a fábrica de filetagem.

3- Durante o processo de filetagem, aplique as boas práticas de manuseio com a maior higiene possível e não ultrapasse 4°C de temperatura no pescado. Uma vez que os filés foram feitos e convenientemente lavados com água fria e limpa, prossiga para a embalagem.

4- Embalagem primária e secundária. A embalagem primária mais utilizada em contato direto com os filés é o polietileno. Aqui também é importante que este polietileno seja usado pela primeira vez e venha de um fabricante autorizado e confiável. Folhas separadoras do mesmo material também podem ser utilizadas no caso de apresentação de filetes laminados (interleaf). Esse tipo de apresentação separa os filés entre si, o que facilita sua separação pelo comprador.

5- Embalagem secundária. Aqui é necessário um recipiente com capacidade de isolamento térmico. Materiais como poliestireno expandido ou poliestireno expansível (tem nomes diferentes dependendo do país). O método mais recomendado para manter a cadeia de frio dentro do recipiente é através do uso de gelo contido em sachês. O chamado Gel-pack é muito comum na proporção de 500 gramas por 5 kg de filés. Isso significa uma proporção de 10% em peso de substância refrigerante.
Esta seria a condição de embalagem para que o filé chegue em boas condições ao armazém refrigerado do comprador, levando em consideração que o meio de transporte possui condições adequadas de refrigeração (-1°C a 4°C)

A temperatura limite de 4°C é importante porque quando esse valor é ultrapassado, inicia-se a formação de histamina devido à descarboxilação do aminoácido histidina (devido à ação das bactérias), o que prejudica a segurança e a qualidade do pescado.
Na rotulagem da embalagem externo deve haver uma identificação muito clara de que a temperatura dos filés deve ser mantida entre -1°C e 4°C, ou aquela indicada pela autoridade competente, se for o caso. Esta é uma condição sine qua non para atingir a vida útil de 15 dias do filé fresco

Fonte consultada: https://www.fao.org/3/v7180s/v7180s00.htm

Imagem: foto de Magda Ehlers

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O perigo dos microplásticos em moluscos bivalves

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O interesse do público e da ciência pelo tema dos microplásticos no meio aquático mantém uma tendência crescente e é preocupante a incidência que pode ter nos alimentos de origem marítima.
A presença de micropartículas plásticas de diferentes polímeros tem sido detectada como um perigo emergente que afeta a saúde humana através da ingestão de frutos do mar contaminados, especialmente moluscos bivalves.
O aumento da produção de plástico nas últimas cinco décadas e a gestão incorreta dos resíduos gerados têm poluído a terra, o ar e a água. Vamos desenvolver alguns aspectos deste problema relacionados com a poluição dos oceanos e a fauna de moluscos de que nos alimentamos.
Começaremos por fazer uma breve introdução aos chamados resíduos plásticos, sabendo que são classificados de acordo com a sua dimensão.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica NOAA (Agência dos Estados Unidos) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconhecem quatro categorias que são:

Nanoplásticos: Tamanho de 1 nanômetro a 1 mícron.
Microplásticos: Tamanho de 1 mícron a 5 milímetros.
Mesoplásticos: Tamanho de 5 milímetros a 25 milímetros
Macroplásticos: Tamanho maior que 25 milímetros.

Em geral, são produzidos pela quebra ou fragmentação de plásticos pela ação direta do sol, do vento e do movimento constante da água do mar. Deve-se notar também que nos últimos anos o plástico tem sido produzido na forma de nanopartículas para uso industrial, os quais se somam à fragmentação mencionada.
Este tornou-se um problema ambiental emergente que tem um impacto direto na nossa dieta devido aos moluscos bivalves como ostras, mexilhões, amêijoas, bem como caracóis marinhos. No caso dos peixes, sua presença foi detectada no sistema digestivo (intestino), que normalmente é descartado durante a evisceração e não faz parte da alimentação. Há a exceção de certos costumes culturais na África, onde as vísceras fazem parte do alimento

Os menores microplásticos com dimensões inferiores a 1 milímetro e os nanoplásticos são os mais propensos a serem ingeridos por espécies de moluscos filtradores. Assim, microplásticos menores podem ser ingeridos e acumulados (bioacumulação) no sistema digestivo dos moluscos bivalves. Estes, devido à sua forma particular de alimentação, filtram a água do seu ambiente, retendo as partículas em suspensão.

As partículas de plástico têm a capacidade de transportar contaminantes orgânicos prejudiciais à saúde, como bifenilos policlorados e bisfenol A, entre outros. As nanopartículas podem atravessar a mucosa intestinal passando pela corrente sanguínea ou pelo sistema linfático e sua possível passagem pela barreira placentária ainda está sendo investigada em laboratório. Estes compostos organoclorados são termicamente estáveis, insolúveis em água e bioacumuláveis. Geralmente, esses compostos são provenientes de aditivos e contaminantes associados aos microplásticos.

Oitenta por cento do lixo marinho é composto por plástico, seja de origem industrial ou doméstica, e atualmente é encontrado em todos os corpos d’água e fundos marinhos do mundo. A sua biodegradação é muito complexa, demora muitos anos e a contaminação dos alimentos de origem marinha já é um problema detectável em todo o lado. Sua importância na nutrição está em suas manifestações devido a distúrbios de saúde, geralmente a médio e longo prazo.
A interação entre o cuidado com o meio ambiente e seus efeitos na saúde por meio de alimentos contaminados é uma questão que merece ser discutida com profundidade e abordada sob a ótica “Uma Saúde (One Health)”.
Os 5 materiais mais significativos são: polietileno; polipropileno; policloreto de vinilo; poliestireno e polietileno tereftalato.
Políticas públicas de conscientização sobre o uso e abuso de elementos plásticos são necessárias para reduzir seu uso ao mínimo absoluto.
Em conclusão, do ponto de vista da FAO, as questões de maior interesse são a potencial contaminação de moluscos bivalves por micro e nanoplásticos e a implicação na saúde dos consumidores. Para isso, mais estudos e avaliações são necessários.

Referência: https://www.fao.org/3/ca3540es/CA3540ES.pdf

Imagem: Nova Escola

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