4 min leitura
17

Controle de pássaros: como começar?

4 min leitura

Por muito tempo, a prevenção contra pragas esteve focada em roedores, baratas, moscas, formigas, carunchos, escorpiões, enfim, os históricos vilões. Eles impactavam a produção de alimentos, passando pela óbvia perspectiva da contaminação de pessoas e produtos processados, mas também resvalando nas perdas de insumos, danos em equipamentos e comprometimento de marca.

Contingências provocadas por pássaros eram pontuais, afetando instalações geograficamente posicionadas em grandes centros urbanos ou próximas a regiões portuárias. Localidades como distritos industriais, zona rural e até grandes cidades no interior sofriam moderadamente com pássaros. Alguns pardais e andorinhas e mesmo os belos pássaros silvestres como canários, quero-quero e sabiás apareciam eventualmente, muito mais relacionados a fenômenos migratórios sazonais do que a invasões com potencial de risco.

Entretanto, o comportamento invasor de pássaros em instalações industriais, residências, shopping centers, hospitais, escolas e diversas edificações é um fenômeno que foi muito além dos portos e terminais de grãos. Especialmente o pombo urbano (Columba livia) e o pardal (Passer domesticus) desenvolveram uma capacidade de adaptação notável, assumindo habilidades de manobras durante o voo e perícia na construção dos ninhos em locais improváveis.

Vejam o exemplo do pombo doméstico, com origem na região do mar Mediterrâneo, onde habitavam fendas de rochas em encostas. Ele adaptou-se discretamente às precárias edificações em alguns centros urbanos europeus e africanos até o século XVII e foi dispersado durante o período das Grandes Navegações, alcançando toda a Europa, Américas e Ásia. Em ambientes fortemente urbanizados, com fartura de alimentos, oferta de abrigo e ausência de predadores, esta ave registrou expressiva proliferação e mudanças comportamentais, resistindo mais a algumas estratégias antes eficazes.

Mas pombo e pardal são de fato pragas? Segundo o IBAMA na IN 141/06, animais classificados como fauna exótica invasora, que provoquem prejuízos econômicos ou riscos à saúde e meio ambiente, são passíveis de controle. A mesma instrução normativa iguala pombos aos roedores no rol de animais alvo para contenção pelas empresas especializadas. Estudos confirmam o nível de risco associado a essas aves. Entretanto, outras normas como a Lei 9605/98 e o Decreto 6514/08 apontam para a necessária proteção contra maus tratos a animais, mesmo aqueles exóticos em migração. Portanto, manejo de pombos e pardais é um assunto bastante sensível sob o ponto de vista legal, pois uma abordagem mal executada pode resultar em crime ambiental.

Estamos de mãos atadas? Não!!! Existem estratégias razoáveis para contenção de pássaros invasores. Basta uma rápida pesquisa em uma plataforma de busca, ou até uma conversa com a inteligência artificial, e variadas metodologias vão surgir, dando a impressão de que há uma prateleira cheia de boas opções. Essa percepção não é equivocada. As estratégias estão na prateleira, mas o emprego isolado de uma ou outra pode não trazer a eficácia esperada.

Diante deste “mix” de soluções, como iniciar uma jornada para solução dessa invasão voadora? Essa resposta é direta, mas não é simples. Controlar pássaros precisa de especialista.

Afinal, essa não seria uma resposta retórica? Pois para conter qualquer praga precisa de especialista. É verdade, mas profissionais com habilidades para afastar roedores, eliminar baratas, contingenciar moscas e reduzir riscos com carunchos e formigas são bastante disponíveis. Porém, especialistas em aves são escassos. Isso tem uma razão: controle de aves ainda é uma disciplina em evolução dentro das empresas especializadas. Algumas têm se destacado neste cenário, mas a maioria das empresas controladoras de pragas tem pouca ou nenhuma vivência na solução das infestações de aves.

Mas vamos interromper esse pessimismo. Quero compartilhar um ponto de vista otimista sobre esse desafio.

A melhor estratégia para afastar pássaros é começar

Então qual a melhor metodologia? Existe o controverso gel repelente, a prática espícula, o uso de tela tensionada, fios tensionados, pulso eletromagnético, laser intermitente, falcoaria, captura e eutanásia, enfim, a prateleira está cheia de opções. Algumas têm efeito paliativo e temporário, outras têm efeito prolongado e baixa manutenção. Algumas são de baixo investimento, outras bem dispendiosas. Há algumas que podem ser instaladas pelo time de manutenção local, e outras que dependem de equipe especializada. Qual funciona melhor?

Depende da intenção e do tamanho da verba no budget. Se a intenção é afastar radicalmente a população de pássaros, possivelmente serão usadas metodologias combinadas e muita verba. Mas se a intenção é uma contenção progressiva, talvez dê pra encaixar em modestas lacunas de orçamento.

Tenho acompanhado indústrias que incluem uma verba mensal junto à empresa controladora de pragas para instalar 100 m2 de barreiras por mês. Ou duas vezes por ano implantam 500 m2 de barreira, com um orçamento moderado. Resolve 100%? Não. Mas lembrem-se de que a melhor estratégia é começar! Em cenários assim, o propósito era que depois de 2 anos, os pássaros não fossem mais um problema. E sem comprometer o orçamento. Pagar sem sentir. E sendo bem honesto: na maioria das vezes, o problema foi resolvido em menos de um ano.

Encontrei também indústrias que investiram 3 dígitos em um programa robusto para afastamento de pássaros e após poucas semanas, o desafio estava vencido.

A boa notícia é que afastar pássaros, sendo ambientalmente responsável e acomodando esse investimento dentro de limites razoáveis, é possível. Só precisa começar.

Não deixe de conferir outros conteúdos que reforçam as boas práticas para contenção de pássaros na indústria de alimentos: aqui, aqui, aqui.

Todas as imagens geradas por Inteligência Artificial

4 min leituraPor muito tempo, a prevenção contra pragas esteve focada em roedores, baratas, moscas, formigas, carunchos, escorpiões, enfim, os históricos vilões. Eles impactavam a produção de alimentos, passando pela óbvia perspectiva […]

2 min leitura
0

Desafio Sustentável: como integrar garrafinhas reutilizáveis na produção

2 min leitura

A substituição de copos descartáveis tem se tornado uma tendência crescente nas empresas, impulsionada pela busca por alternativas mais sustentáveis. Na área administrativa, já é comum o uso de canecas, copos de vidro e garrafinhas reutilizáveis. No entanto, essa prática ainda é pouco difundida nas áreas de produção, onde persiste uma série de dúvidas e desafios, especialmente quando se trata das boas práticas de fabricação de alimentos.

Neste artigo, vamos explorar as principais questões que envolvem essa transição, destacando as melhores práticas e como garantir que a mudança seja feita de forma segura e eficiente.

Quando pensamos em substituir os copos descartáveis na área de produção de alimentos, surgem várias perguntas:

  • Que tipo de utensílio pode substituir o copo descartável?
  • Como garantir que o utensílio seja seguro e fácil de higienizar?
  • Como evitar o compartilhamento ou uso inadequado?
  • O utensílio contém apenas água potável?
  • Onde os utensílios serão guardados?
  • Como garantir a higienização adequada dos utensílios?
  • E se levarem o utensílio para perto das máquinas e equipamentos?
  • E se derramarem água sobre o alimento em processo?

São tantas perguntas, não é verdade? Pois bem, para respondê-las, convém que seja feita uma avaliação de risco de acordo com a realidade de cada empresa.

A NR-24 prevê a necessidade de disponibilizar água potável e limpa para os trabalhadores. A norma também enfatiza a importância de evitar práticas que comprometam a higiene e a saúde dos trabalhadores.

Para garantir que a adoção de utensílios reutilizáveis na produção de alimentos esteja em conformidade com as boas práticas de fabricação e a legislação vigente, é necessário considerar as seguintes premissas:

  • Higienização adequada: Disponibilizar locais apropriados para a higienização dos utensílios, como pias exclusivas, detergente adequado e papel toalha.
  • Treinamento dos colaboradores: Orientar os colaboradores sobre a importância de higienizar as mãos antes e depois de manusear seus utensílios, prevenindo contaminações que possam afetar sua saúde e a segurança dos alimentos.
  • Utensílios individuais: Usar utensílios identificados individualmente, evitando o compartilhamento, o que reduz o risco de transmissão de doenças.
  • Verificação periódica: Estabelecer um plano de verificação periódica para avaliar as condições de uso dos utensílios e definir critérios para substituição em caso de desgaste ou danos.

Um exemplo de boas práticas foi observado em uma indústria que adotou o uso de garrafinhas reutilizáveis individuais. Os colaboradores guardam suas garrafas em uma estante próxima ao bebedouro e realizam a higienização em uma pia exclusiva no refeitório. Para garantir a higienização das garrafas, foi elaborado um POP de Higienização de Garrafas, que fica disponível ao lado da pia.

Outro exemplo é o uso de copos de vidro e copos plásticos reutilizáveis em refeitórios, uma boa prática na substituição de copos descartáveis.

A adoção de utensílios reutilizáveis na indústria de alimentos não apenas contribui para uma estratégia sustentável, mas também pode ser feita de forma segura, desde que sejam seguidas as boas práticas de fabricação.

Com orientações claras para os colaboradores e a implementação de medidas de controle, é possível garantir que a transição seja eficiente, respeitando as normas de segurança de alimentos e higiene e, ao mesmo tempo, promovendo um ambiente mais responsável e consciente.

Imagem: Lisa Fotios

2 min leituraA substituição de copos descartáveis tem se tornado uma tendência crescente nas empresas, impulsionada pela busca por alternativas mais sustentáveis. Na área administrativa, já é comum o uso de canecas, […]

< 1 min leitura
0

Conheça o novo portal de legislações da Anvisa!

< 1 min leitura

Mais uma novidade do mundo regulatório! Na semana passada a Anvisa lançou um novo portal para acesso a legislações, o AnvisaLegis.

E isso é uma boa novidade para todo o setor de alimentação, já que ele possui uma interface intuitiva, facilitando o acesso às legislações por tema, como se pode ver abaixo:

Outra novidade excelente é a Ferramenta Push. Você pode realizar um cadastro rápido nela e passar a receber atualizações em tempo real de novas legislações, podendo inclusive cadastrar áreas de interesse.

E tem mais: daqui a pouco (dia 02/12 às 10 horas) a Anvisa fará um webinar comentando tudo sobre o AnvisaLegis e os próximos passos. Para assistir o evento ao vivo, clique aqui.

Para saber mais sobre novidades como essa, fique sempre de olho no Food Safety Brazil.

Imagem: Karina Kungla

< 1 min leituraMais uma novidade do mundo regulatório! Na semana passada a Anvisa lançou um novo portal para acesso a legislações, o AnvisaLegis. E isso é uma boa novidade para todo o […]

2 min leitura
0

Destaques do IAFP Latino 2024: o que fazer quando os biofilmes atacam?

2 min leitura

O Simpósio Latino Americano em Segurança de Alimentos – IAFP Latino 2024 – foi realizado em Santos, entre os dias 11 e 14 de novembro de 2024. O evento foi composto por minicursos, mesas redondas, palestras, apresentação de pôsteres científicos e reuniões técnicas com a comunidade acadêmica, fornecedores e indústrias de alimentos. Na ocasião, mais de 600 participantes, de diversas nacionalidades, tiveram a oportunidade de ouvir e interagir com grandes nomes globais da área de segurança de alimentos. Tive a honra de participar da mesa redonda 3: “O que fazer quando os biofilmes atacam: alcançando eficiência na limpeza e higienização de instalações de alimentos”, que foi brilhantemente mediado pela professora Dra. Elaine de Martins, da USP, que fez perguntas muito pertinentes, que engrandeceram nosso debate!

O professor Dr. Luciano Bersot, da UFPR, falou sobre a importância e a influência da microbiota ambiental na formação dos biofilmes, trazendo artigos incríveis com os mais recentes projetos publicados por seus orientados em revistas internacionais de alto impacto. Um dos principais achados foi a onipresença do gênero Pseudomonas em swabs de biofilmes coletados em indústrias cárneas, o que pode contribuir para entender melhor a ecologia dos biofilmes.

O professor Dr. Umut Yucel, da Kansas State University, EUA, abordou o uso de novas abordagens experimentais, como espectroscopia e microscopia para estudar a formação e composição de EPS, enfatizando como ainda precisamos de ferramentas mais precisas para identificar a presença e comunicação entre as células microbianas em biofilmes.

O uso de ferramentas para tomada de decisão baseadas em ciência para selecionar práticas de limpeza e saneamento para controlar biofilmes de L. monocytogenes em instalações alimentícias foi apresentado pela prof. Dra. Valentina Trinetta, da Kansas State University, EUA. Ela apresentou um protótipo de equipamento real construído em inox, para simulação de tratamento de superfícies, instalado em plantas reais, para possibilitar a coleta e entendimento da ação de sanitizantes na remoção de biofilmes.

Apresentei algumas ferramentas de diagnóstico disponíveis para a indústria alimentícia para detecção de Listeria, mostrando as principais opções de métodos para identificação de contaminação microbiana e de biofilmes reais (métodos que detectam catalase positivo x métodos que detectam EPS). Esta parte da apresentação teve contribuição teórica da Dra. Meg Fernandes, da Adere Treinamentos, que gentilmente cedeu seus slides. Fica aqui meu imenso agradecimento!

Abordei também a importância e opções de métodos para detecção em laboratório de Listeria spp/monocytogenes, através de diversos princípios. Discutimos também o risco de aumento de pressão de seleção de microrganismos resistentes, pois muitas indústrias, ao detectar contaminação orgânica, agem como se tivessem encontrado biofilmes, fazendo tratamentos de choque com maior frequência do que o necessário.

Ao final, a plateia contribuiu com o debate, trazendo perguntas muito pertinentes, o que nos levou a concluir que, no final, o mais importante sempre será fazer uma higienização eficaz, antes de aplicação de sanitizantes. Além disso, não se deve pular etapas no processo de limpeza, garantindo o contato e tempo de ação dos agentes detergentes/saneantes, sejam eles químicos, físicos ou enzimáticos, com ou sem enxague!

Use químicos adequados ao seu tipo de superfície/produto, limpe sempre seu processo após cada lote produzido ou intervalo sem produção, não pule etapas e busque biofilmes!

A remoção de biofilmes após a produção de EPS é muito, muito complexa e dificilmente eficiente sem ação mecânica. Você pode aprender sobre este tema no artigo Estratégias para a prevenção de biofilmes.

O IAFP Latino 2024 foi um evento realmente impactante, organizado com excelência e padrão internacional pela Associação Brasileira para a Proteção dos Alimentos (BRAFP). Mal posso esperar pelo próximo! 

Saiba mais em:

Programação – IAFP Latino 2024

2 min leituraO Simpósio Latino Americano em Segurança de Alimentos – IAFP Latino 2024 – foi realizado em Santos, entre os dias 11 e 14 de novembro de 2024. O evento foi […]

4 min leitura
2

Como a cibersegurança pode ajudar a Segurança de Alimentos: casos reais

4 min leitura

Foi realizado em novembro um webinar inovador, com a participação do blog Food Safety Brazil, QIMA, SQFI e um consultor especializado em cibersegurança, Vanderlei N. Moreira. Durante o evento, tivemos a oportunidade de explorar a sinergia crescente entre a cibersegurança e a indústria alimentícia.

À medida que a indústria avança para a automação e adota as tecnologias da Indústria 4.0, como blockchain, RFT, rastreabilidade e unificação de documentos, ganhamos em agilidade e eficiência nos processos. No entanto, esse avanço tecnológico também abre uma lacuna significativa, muitas vezes invisível e imperceptível: a maior vulnerabilidade dentro das redes corporativas. Isso ocorre porque, frequentemente, não temos plena consciência dos riscos relacionados à falta de cibersegurança.

Para contextualizar melhor, apresento alguns conceitos que, acredito, sejam novos para muitos profissionais da área de alimentos.

Cibersegurança

A cibersegurança refere-se à proteção de sistemas, redes e dados contra ataques digitais, como hackers, malware, ransomware e outras ameaças cibernéticas. Envolve o uso de tecnologias, processos e boas práticas para garantir que informações sensíveis estejam seguras, prevenindo acessos não autorizados, interrupções e destruições de dados.

Aspectos importantes da cibersegurança:

  • Proteção de dados: A segurança de informações pessoais e corporativas, como dados financeiros ou de clientes.
  • Segurança de redes: Proteção de redes de comunicação para prevenir invasões e interceptações.
  • Criptografia: Técnica que codifica dados para que só partes autorizadas possam acessá-los.
  • Educação e conscientização: Treinamento de funcionários e usuários para reconhecer ameaças como phishing ou ataques de engenharia social.

Como a cibersegurança pode ajudar a segurança de alimentos?

A cibersegurança pode ajudar diretamente a segurança de alimentos ao proteger os sistemas tecnológicos usados em toda a cadeia de produção e distribuição de alimentos. À medida que a indústria alimentícia torna-se mais dependente de tecnologias digitais, a integridade e a segurança dos dados e sistemas tornam-se essenciais para evitar contaminações, fraudes ou interrupções.

Existem diversos exemplos reais de casos que ilustram como a cibersegurança impacta a segurança de alimentos na indústria. Vejam alguns recentes:

1 – Caso de adulteração em sistemas automatizados

Uma fábrica de laticínios na América do Norte foi alvo de hackers que alteraram os parâmetros de pasteurização em 2017.

  • Impacto: A falha no processo de pasteurização levou ao recall de milhares de litros de leite, que poderiam ter sido contaminados por bactérias como Salmonella ou Listeria.
  • Solução: Após o incidente, a empresa implementou monitoramento contínuo e firewalls robustos nos sistemas de automação.

2 – Caso do sistema de refrigeração na Alemanha (2018)

Um ataque cibernético em 2018 comprometeu os sistemas de controle de refrigeração em uma instalação de armazenamento de alimentos na Alemanha.

  • Impacto: Hackers invadiram o sistema e desligaram os refrigeradores, resultando na deterioração de grandes estoques de alimentos perecíveis. Além do prejuízo econômico, a segurança dos alimentos foi comprometida, pois alimentos deteriorados podem causar doenças graves.
  • Solução: A empresa investiu em protocolos de segurança cibernética e sistemas de backup para evitar futuras ocorrências.

3 – Manipulação de dados de rastreabilidade

Em 2019, uma fábrica na Ásia sofreu um ataque de hackers, que alteraram registros de rastreabilidade de alimentos.

  • Impacto: O ataque ocultou informações sobre um lote contaminado de alimentos, retardando o recall e expondo consumidores a riscos.
  • Lição: Este caso destacou a importância de sistemas blockchain e outras tecnologias seguras para garantir a rastreabilidade imutável.

4 – Caso: Ataque ao sistema de ordenha automatizada (2019)

Na Holanda, uma fazenda com sistema de ordenha automatizado foi atacada por hackers, causando dor e ferimentos graves nas vacas, que resultaram em mortes devido a infecções e hemorragias causadas pela pressão excessiva nas glândulas mamárias.

  • Impacto: O ataque hackeou o software que controlava as máquinas de ordenha, alterando os parâmetros de funcionamento, como a pressão aplicada nos tetos das vacas, o tempo de ordenha e a frequência das sessões.
  • Resultado: A fazenda reforçou a segurança do sistema de ordenha com criptografia avançada e autenticação.

5 – Contaminação potencial em embalagens inteligentes

Com o aumento das embalagens inteligentes que monitoram a frescura dos alimentos, surgem novos riscos cibernéticos. Em 2020, pesquisadores demonstraram como sensores IoT em embalagens podiam ser hackeados para transmitir informações erradas sobre a qualidade do alimento, indicando falsamente que o produto estava seguro para consumo.

  • Impacto potencial: Esse tipo de ataque pode levar à venda de alimentos contaminados, causando surtos de doenças.
  • Solução: Empresas começaram a integrar protocolos de cibersegurança em dispositivos IoT usados em embalagens, garantindo que apenas usuários autorizados tivessem acesso ao software crítico.

6 – Ataque à JBS (2021)

A JBS, uma das maiores empresas de processamento de carne do mundo, sofreu um ataque de ransomware em junho de 2021.

  • Impacto: O ataque forçou a empresa a interromper suas operações nos Estados Unidos, Austrália e Canadá. Embora não tenha causado contaminação direta nos alimentos, ele demonstrou como um ataque cibernético pode interromper a cadeia de suprimentos alimentares, resultando em atrasos que podem afetar a qualidade e segurança dos alimentos perecíveis.
  • Resposta: A empresa pagou um resgate de US$ 11 milhões para recuperar o controle de seus sistemas. Esse evento destacou a necessidade de reforçar a segurança cibernética em toda a cadeia produtiva.

Esses casos demonstram como ataques cibernéticos podem comprometer diretamente a qualidade, a segurança e a distribuição de alimentos, além de impactar a confiança do consumidor. A indústria alimentícia precisa priorizar a cibersegurança, incluindo:

  • Proteção de sistemas industriais;
  • Backup de dados críticos e redundância nos sistemas;
  • Educação e conscientização de funcionários.
  • Implementação de tecnologias avançadas como blockchain para rastreamento seguro.

Essas medidas são cruciais para garantir a integridade da cadeia de suprimentos alimentares em um mundo cada vez mais digitalizado. Além disso, é fundamental aplicar técnicas de análise de risco, identificação de vulnerabilidades e avaliação de impactos, contando com equipes multidisciplinares dentro das indústrias para detectar pontos frágeis. Um recurso valioso, ainda pouco conhecido, é a contratação de empresas especializadas em cibersegurança para realizar um ataque controlado aos sistemas, permitindo mapear as vulnerabilidades, como se fosse um exercício de simulação de crise. Esse tipo de abordagem pode fornecer um diagnóstico preciso sobre onde é mais urgente implementar medidas de segurança adicionais. Outro recurso interessante, disponível no site Food and Ag ISAC, é um guia de cibersegurança com orientações para pequenas e médias empresas.

A cibersegurança desempenha um papel essencial para assegurar que a segurança dos alimentos seja preservada em um ambiente tecnológico cada vez mais avançado. Desde a produção até a entrega, proteger os sistemas digitais e a integridade dos dados é fundamental para evitar riscos à saúde pública e garantir que os consumidores recebam alimentos seguros e de alta qualidade.

Você já contemplou esse tema em seu Programa de Gestão de Crises e/ou Defesa de Alimentos?

Sua empresa está segura?

4 min leituraFoi realizado em novembro um webinar inovador, com a participação do blog Food Safety Brazil, QIMA, SQFI e um consultor especializado em cibersegurança, Vanderlei N. Moreira. Durante o evento, tivemos a […]

2 min leitura
0

Analisando o engajamento da equipe na Semana da Qualidade

2 min leitura

Na segunda semana do mês de novembro, especificamente na segunda quinta-feira de novembro, é comemorado o Dia da Qualidade.

Esse ano, na empresa em que trabalho, lançamos uma proposta para que os colaboradores escrevessem uma frase sobre o que é qualidade e como o trabalho de cada um pode estar relacionado à segurança do alimento que a empresa produz. Essa ideia inclusive foi uma das sugestões de um post que o blog já publicou.

As 3 frases mais votas pelos gestores receberiam uma premiação. A empresa tem pouco mais de 260 colaboradores e recebemos mais de 80 frases para serem analisadas.

Vou mostrar em seguida um compilado sobre as frases, trazendo um pouco das ideias relacionadas à qualidade e segurança de alimentos dos colaboradores dessa indústria de alimentos.

  • Muitos destacaram que o indivíduo ou a equipe são parte do processo, ou seja, a atuação deles individualmente e enquanto grupo interfere no resultado do produto;
  • Algumas frases citam que se o alimento for feito na fábrica da mesma forma que o fazem em suas próprias casas, para suas próprias famílias, teremos um bom produto com ótima qualidade;
  • Ainda existiu certa confusão com o termo segurança. Embora na proposta falássemos em segurança do alimento produzido, o termo segurança apareceu em algumas frases como segurança do colaborador ao executar suas funções, algo relacionado à segurança do trabalho;
  • Houve percepção de que as etapas do processo bem executadas, incluindo higienização, boas práticas de fabricação e preocupação com APPCC são ferramentas para que a qualidade seja atingida;
  • Alguns pontos críticos do processo apareceram como condições para a empresa ter qualidade. Como trabalhamos com produtos feitos a partir do leite, a pasteurização foi citada;
  • A relação entre qualidade e atender expectativas dos consumidores também apareceu em algumas das frases;
  • Em nenhuma frase apareceu o que a falta de qualidade poderia ocasionar.

Todo esse trabalho faz parte da cultura da organização, que só consegue ser sedimentada a partir de uma comunicação clara, constantes treinamentos, envolvimento dos colaboradores, líderes e alta direção, e monitoramento dos resultados. Esse texto do blog traz informações ricas sobre esse assunto.

Nós que participamos de treinamentos de colaboradores, que disseminamos informações,  ficamos felizes com esse resultado. A forma como tudo é executado impacta diretamente o produto, mas saber que as informações estão em processo de sedimentação e já aparecem enquanto linguagem escrita dos colaboradores, mostra que o caminho está certo.

Sempre há percursos a serem melhorados, e aqui vejo a questão do conceito de segurança de alimentos como um ponto de atenção, um termo que precisa ser mais abordado, mais explicado, para que se torne realmente de conhecimento desta equipe.

Imagem: Pixabay

2 min leituraNa segunda semana do mês de novembro, especificamente na segunda quinta-feira de novembro, é comemorado o Dia da Qualidade. Esse ano, na empresa em que trabalho, lançamos uma proposta para […]

5 min leitura
0

Novas regras para o sistema de lavagem de carcaças no abate de aves

5 min leitura

O Ofício-Circular nº 25/2024 do DIPOA apresenta as diretrizes para implementação do Sistema de Lavagem de Carcaças Anterior à Inspeção Post Mortem, em conformidade com o Termo de Não Objeção (TNO) nº 2/2024. Este sistema, composto por duas tecnologias complementares, visa aprimorar a qualidade higiênico-sanitária no processamento de carne de aves.

Tecnologias incluídas:

  1. Sistema de Filme Aquoso: Aplicado imediatamente antes da extratora de cloaca, utilizando água clorada (máximo de 2 ppm) sob pressão controlada (até 3 ± 1 bar).
  2. Sistema de Água Pressurizada: Instalado após a evisceração, para lavagem externa das carcaças, utilizando água clorada (máximo de 2 ppm) com pressão de 8 ± 1 bar e tempo mínimo de exposição de 2 segundos por carcaça. O volume de água a ser utilizado é de 0,4 litros +- 0,1L.

Nota: As tecnologias poderão ser implementadas de forma simultânea ou individualmente, não substituindo demais equipamentos de lavagem já autorizados pelo DIPOA.

Tabela 1 – Comparação entre os dois sistemas de lavagem

Figura 1 – Esquema de um sistema pressurizado para lavagem externa de carcaças antes da inspeção post-mortem.

Imagem cedida por Franz Machado

Para empresas que utilizam o dióxido de cloro como desinfetante no tratamento da água, será considerado conforme a Portaria 888 ANVISA, que determina que é obrigatória a manutenção de, no mínimo 0,2 mg/L de cloro residual livre ou 2 mg/L de cloro residual combinado ou 0,2 mg/L de dióxido de cloro em toda a extensão do sistema de distribuição (reservatório e rede) e nos pontos de consumo.

É importante notar que a adoção dessas tecnologias está limitada a linhas de abate com separação completa de vísceras e carcaças, sendo inviável em sistemas com vísceras presas às carcaças. Além disso, o volume de água utilizado (0,4 ± 0,1 L por carcaça) e a ausência de formação de névoa/bruma são critérios obrigatórios. Não obstante, esse sistema de lavagem não pode realizar lavagem interna da carcaça, somente lavagem externa, para cumprir somente o objetivo de eliminar a contaminação aparente de fezes, ração ou bile e não mascarar a inspeção de linha post-mortem (que poderia ocorrer com a lavagem interna).

Figura 2 – Esquema de implantação dos dois sistemas de lavagem de carcaças.

Fonte: o autor

Requisitos para implementação: Os estabelecimentos interessados devem atualizar seu registro de processo no DIPOA, inserindo os novos equipamentos nos campos específicos do Modelo Técnico de Sistema Estruturado (MTSE). Não serão necessárias alterações estruturais, salvo em casos excepcionais, e é exigida a atualização de programas de autocontrole, incluindo PSO, PPHO e APPCC, para incorporar o novo sistema.

Validação e monitoramento: A validação do sistema é obrigatória e deve incluir análises microbiológicas (Enterobactérias e E. coli) e visuais de contaminação gastrointestinal, realizadas em amostras de 600 carcaças (300 com e 300 sem o sistema) ao longo de 10 dias. Os resultados devem comprovar a manutenção ou redução dos níveis de contaminação. Quanto a quem pode realizar esse teste de validação, poderá ser qualquer profissional com inscrição em conselho de classe, RT, consultores, professores, mas com qualificação para fazer esse tipo de avaliação.

Obs: A apresentação da validação será realizada por meio de ofício direcionado ao SIF contendo o desenho experimental e os resultados microbiológicos e visuais, devendo demonstrar que o uso da lavagem de carcaça MANTEVE ou DIMINUIU o nível das contagens microbiológicas para os indicadores e enterobactérias e E. coli e MANTEVE ou DIMINUIU a presença de contaminações gastrointestinais visíveis.

A validação microbiológica poderá ser realizada nos laboratórios de autocontrole da própria empresa ou credenciados. A decisão será da indústria, conforme o que julgar mais apropriado e seguro.

Embasamento técnico da legislação: Conforme recentemente publicado pela revista Avicultura Industrial nº 06/2024, edição 1336, em análise da Profa. Dra Liris Kindlein (UFRGS), o abate de aves em larga escala é um processo rápido e altamente automatizado. Apesar dos avanços tecnológicos, ainda existem oportunidades consideráveis de contaminação e disseminação de bactérias durante o abate. Para garantir a segurança dos alimentos, a adesão às boas práticas de higiene no abate, juntamente com medidas preventivas baseadas no risco (abordagem do APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) é de grande importância. Para avaliação de desempenho do processo de abate, é necessária uma análise do processo e dos pontos críticos, incluindo a identificação de operações que aumentem ou diminuam a contaminação microbiológica das carcaças.

Após publicação da Opinião científica que identificou, por análise de risco, os patógenos considerados de riscos ao consumo de carne de frango criados sob sistema intensivo de forma integrada no Brasil, ficou clara a importância da mitigação de contaminação de conteúdo de origem do trato gastrointestinal nas etapas do processo de abate que antecedem o sistema de pré-resfriamento das carcaças.

Diversos estudos avaliaram a lavagem de carcaças como um método de limpeza visível e confirmaram a eficácia desse processo na redução da população microbiana. Diversos pesquisadores afirmaram que, se a contaminação bacteriana ocorrer durante a evisceração, uma redução máxima da contagem de microrganismos será obtida se a carcaça for lavada imediatamente após a ocorrência dessa contaminação.

Os autores observaram que o aumento da população de bactérias da família Enterobacteriaceae e da contaminação das carcaças com Salmonella sp. poderiam ser evitados se uma lavagem pressurizada fosse instalada imediatamente após ocorrer a contaminação fecal. Smith et al. (2005) avaliaram a contaminação visível em carcaças processadas com e sem sistema de lavagem com água e concluíram que a lavagem de carcaças combinadas com pressão de água reduziu a contagem de E. coli. Similarmente, um estudo publicado em 2014, realizado no Brasil, comparou a eficiência da lavagem e o procedimento de refile de carcaças de frangos de corte contaminadas com conteúdo gastrointestinal e concluiu que o método de lavagem é globalmente mais eficiente que o método de refile para descontaminar carcaças de frango e diminuir a contaminação durante o processo de abate.

O uso da água para remover possíveis resíduos de conteúdo de origem gastrointestinal durante as etapas da evisceração é permitido há muitos anos em países como Estados Unidos (FSIS, 2010), Canadá (CFIA, 2010) e União Europeia (EC, 2004), após a comprovação de sua eficiência na eliminação de microrganismos patogênicos,

Observações finais: A instalação do novo sistema não substitui os equipamentos de lavagem já autorizados e permanece proibida a entrada de carcaças contaminadas em sistemas de pré-resfriamento. O uso dessas inovações tecnológicas reforça o compromisso com a segurança dos alimentos e o bem-estar dos consumidores.

Essa inovação representa um marco no aprimoramento dos processos de abate, fortalecendo a confiança na indústria avícola brasileira.

5 min leituraO Ofício-Circular nº 25/2024 do DIPOA apresenta as diretrizes para implementação do Sistema de Lavagem de Carcaças Anterior à Inspeção Post Mortem, em conformidade com o Termo de Não Objeção […]

6 min leitura
1

O que os dados da EFSA podem falar sobre seus PPR?

6 min leitura

A EFSA (European Food Safety Authority), agência da União Europeia responsável por promover base científica imparcial para elaboração de leis e regulamentos referentes à segurança de alimentos na Europa, publicou uma opinião científica denominada Persistência de riscos microbiológicos em ambientes de produção e processamento de alimentos e rações.

O documento contém a avaliação de vasta fonte de informações, tais como: database de zoonoses da EFSA dos anos de 2010 a 2020; registros de surtos em múltiplos países descritos no ROA (Rapid Outbreak Assessment) de 2018 a 2020; notificações (2018 e 2020) e relatórios anuais (de 2010 a julho de 2022) do RAASF; e ainda websites e literaturas de autoridades e agências europeias não governamentais.

Os resultados foram tratados com o intuito de identificar os microrganismos que, usualmente, estão mais envolvidos nos surtos de contaminações envolvendo alimentos. Além disso, também são relacionadas as condições que, em geral, propiciam sua persistência e desenvolvimento nesses produtos.

Uma das informações mais relevantes apresentadas no relatório é sobre os microrganismos de maior relevância para a saúde pública que possuem maior persistência em diferentes setores da cadeia de alimentos humanos e para animais. Na figura abaixo é possível observar essa relação.

Notas*: Células laranja: patógenos bacterianos de maior relevância para a saúde pública (PH) no setor especificado/específico, mas não considerados como os perigos bacterianos mais relevantes para a segurança dos alimentos associados à persistência no ambiente de processamento de alimentos para humanos e animais (FFPE) no setor especificado/específico; Células vermelhas: patógenos bacterianos de maior relevância para a saúde pública e considerados como os perigos bacterianos mais relevantes para a segurança dos alimentos associados à persistência no FFPE no setor especificado/específico; Células em branco: patógenos bacterianos não considerados de maior relevância para a saúde pública no setor especificado/específico.

Abreviações*: F, setor de produção animal de ração para alimentação; M, setor de carnes, excluindo produtos alimentícios de baixa umidade (LMF); FS, setor de peixes e frutos do mar, excluindo produtos LMF; D, setor de laticínios, excluindo produtos LMF; E, setor de ovos, excluindo produtos LMF; FV, setor de frutas e vegetais, excluindo produtos LMF; LMF, setor de alimentos de baixa umidade.

* Traduções na íntegra da legenda da publicação original.

O estudo também apresentou informações específicas sobre a prevalência de determinados sorotipos e características para cada microrganismo, bem como os principais fatores que possibilitam a persistência desses microrganismos nos ambientes de processamento.

 A contaminação de superfície de contato direto ou sem contato com o produto é o primeiro de uma série de eventos que podem levar à capacidade dos perigos de persistir, conforme determinado por suas características genéticas e fenotípicas relevantes (traços). Como tal, ações acidentais, práticas ou falhas de higiene que favorecem a colonização de superfícies, em vez de preveni-la, eliminá-la ou controlá-la, por exemplo: falta de barreiras de higiene entre áreas sujas e limpas (ou seja, zoneamento inadequado), movimento descontrolado de pessoal ou fluxo de produtos, recebimento frequente de matérias-primas altamente contaminadas, desenho sanitário ou status higiênico do equipamento de processamento precários, procedimentos de limpeza e desinfecção ineficazes.

Listeria monocytogenes

As linhagens mais comuns de L. monocytogenes são a II, seguida da I. As áreas de contato com o alimento mais comuns de serem encontradas são:

  • Sistemas e correias transportadoras
  • Caixas/baldes/bandejas (peixes e frutos do mar, frutas e vegetais),
  • Cortadores/divisores e moedores de carcaças (carne)
  • Máquinas de evisceração, remoção de cabeça/cauda, filetagem e esfola (peixes e frutos do mar)
  • Mesas e máquinas de fatiar e desossa (peixes e frutos do mar, carne)
  • Máquinas de sorvete e agitação de leite e esfregaço/salmoura (laticínios)
  • Linhas de embalagem e máquinas de raspagem de micélio (frutas e vegetais)

Os principais locais de pontos sem contato com o alimento onde L. monocytogenes persiste e foi isolado foram ralos e pisos. Na figura abaixo é possível observar a representação dos pontos de maior incidência de contaminação por L. monocytogenes por categoria de produto.

As principais causas para a persistência de L. monocytogenes nos ambientes e equipamentos de processamento são:

  • Desenho higiênico inadequado de equipamentos: gerando acúmulo de nutrientes em nicho, em especial em pontos de maior dificuldade de higienização por dificuldade de acesso (ex. arranhões, fendas ou material poroso). Essas condições permitem que os microrganismos cresçam, fiquem aderidos e se adaptem na superfície.
  • Procedimentos de limpeza e desinfecção inadequados
  • Inadequado zoneamento/ barreiras sanitárias: falhas em rotas de pessoas, equipamentos, animais, resíduos, água e materiais crus. Inclui limitações de barreiras entre áreas internas e externas e entre áreas de baixo e alto risco.
  • Materiais crus: fonte comum desta bactéria. O recebimento repetido de matérias-primas com alta carga de contaminação pode aumentar a possibilidade de contaminação ambiental, sendo que o microrganismo pode se abrigar e persistir. Atenção deve ser dada aos alimentos que não são termicamente tratados.
  • Umidade: nichos com umidade são pontos comuns de crescimento e persistência, incluindo vapor e águas residuais em pisos após limpezas úmidas.

Salmonella entérica

Entre as mais comuns, a S. Typhimurium é mais encontrada no setor de carne, enquanto a S. Agona está no setor de carne, alimentação animal e produtos de baixa umidade. Os locais de presença mais comum são:

  • Locais sem contato com alimento: drenos, máquinas de abate, áreas de evisceração ou pré-resfriamento e roupas de pessoal
  • Locais de contato com alimento: dedos de borracha para arrancar penas, equipamento de evisceração, máquinas de depenar
  • Para o setor de carnes: pisos, drenos e esteiras, incluindo escalda, divisão e equipamento para arrancar penas e, mais genericamente, a linha de abate
  • Para produtos de baixa umidade: processo de secagem
  • Plantas de processamento de ovos:  ralos de piso, desviadores de ovos quebrados ou superfícies de correias de ovos quebrados
  • Para ração: equipamento de moinho de ração ou ambiente de moinho

Na imagem abaixo é possível observar os principais pontos de persistência de cada tipo de sorotipo de Salmonella, por categoria de produto.

As principais causas para a persistência de Salmonella enterica nos ambientes e equipamentos de processamento são:

  • Materiais crus e inadequado zoneamento/ barreiras sanitárias: contaminação pode ocorrer em áreas sujas e limpas, eventualmente gerando persistência. Em geral, é relacionada a áreas que permitem acúmulo de matéria orgânica. Em zonas limpas, em geral a contaminação está ligada a áreas de evisceração, corte, aparas e produção, relacionada a contaminação intestinal e equipamentos com limpeza inadequada.
  • Desenho higiênico inadequado de equipamentos: fendas em máquinas, pisos e paredes, e finais mortos em tubulações são áreas potenciais para acúmulo de patógenos e subsequente contaminação do produto final.
  • Aeração/ventilação/poeira: especialmente em áreas de produtos de baixa umidade, por aeração e ventilação insuficientes ou dispersão de poeira, incluindo sistemas de resfriamento de pelletes e sistemas de aspiração.
  • Procedimentos de limpeza e desinfecção inadequados

Cronobacter sakazakii

Sua maior prevalência é em fórmulas infantis em pó. Diversas evidências apontam a possibilidade de sua sobrevivência por longos períodos e persistência em condições secas, incluindo a capacidade de formar biofilmes em uma variedade de superfícies abióticas; alta tolerância ao calor e resistência à dessecação; a produção de uma cápsula que auxilia na fixação às superfícies, que fornece resistência a biocidas e contribui para a sobrevivência após a secagem; e a produção de um pigmento carotenoide amarelo que estabiliza as membranas celulares e fornece proteção contra o estresse.

Os principais pontos de isolamento de C. sakazakii são secadores de rolo, secadores por pulverização, torres de secagem, compartimentos de tanques, máquinas de embalagem, filtros de ar, aspiradores de pó, tubos, ventiladores, áreas de leito fluidizado, torrões de pó, pisos, sapatos, caminhões ou telhados.

As principais causas para sua persistência nos ambientes e equipamentos de processamento são:

  • Inadequado zoneamento/ barreiras sanitárias: incluindo violações em conceitos de zoneamento higiênico, aberturas em sistemas de aeração da planta, falta de controle em portas de enrolar em áreas de entrada de mercadorias ou movimentação de pessoa, ar e poeira.
  • Aeração/ventilação/poeira: abertura de filtros para limpeza mecânica em intervalos regulares são fontes recorrentes de contaminação do ambiente com leite em pó contaminado (presença de lactose, gorduras e proteínas do leite podem formar uma camada de proteção aos patógenos durante a secagem).
  • Procedimentos de limpeza e desinfecção inadequados

O conhecimento dessas informações é de grande relevância para as organizações, que podem usá-las para a elaboração de seus planos APPCC, para obter programas de monitoramento ambiental mais eficazes e garantir maior robustez aos PPR (Programa de Pré-Requisitos)  implementados.

O documento pode ser acessado gratuitamente e na íntegra clicando aqui.

6 min leituraA EFSA (European Food Safety Authority), agência da União Europeia responsável por promover base científica imparcial para elaboração de leis e regulamentos referentes à segurança de alimentos na Europa, publicou […]

4 min leitura
0

Plásticos biodegradáveis e segurança dos alimentos: amigos ou vilões?

4 min leitura

A busca por soluções sustentáveis na indústria de alimentos tem incentivado o uso de plásticos biodegradáveis como alternativa às embalagens convencionais (veja aqui, aqui, aqui, e aqui). Esses materiais, projetados para se decompor mais rapidamente no ambiente, são frequentemente vistos como aliados na redução de resíduos plásticos. No entanto, ao analisar a segurança dos alimentos, surgem questões importantes: os plásticos biodegradáveis realmente favorecem a proteção dos alimentos ou trazem novos desafios que precisam ser superados?

O que são plásticos biodegradáveis?

Plásticos biodegradáveis são materiais desenvolvidos a partir de fontes renováveis, como amido de milho, gelatina, cana-de-açúcar, celulose ou ácido polilático (PLA). Sua principal característica é a capacidade de se decompor por processos naturais, como ação de microrganismos, umidade ou luz solar, dependendo das condições ambientais. Essa propriedade torna-os atrativos para substituir os plásticos convencionais, amplamente utilizados na indústria alimentícia, mas de difícil degradação.

Benefícios ambientais e para o setor alimentício

A introdução de plásticos biodegradáveis no setor de alimentos traz benefícios significativos. Eles ajudam a reduzir o impacto ambiental e atendem às demandas de consumidores que buscam produtos mais sustentáveis. Além disso, muitos desses materiais são compatíveis com sistemas de compostagem, permitindo que embalagens sejam descartadas juntamente com resíduos orgânicos. Essa abordagem circular é especialmente valiosa para o setor alimentício, onde o descarte é uma questão recorrente.

Desafios relacionados à segurança dos alimentos

Apesar das vantagens ambientais, os plásticos biodegradáveis levantam preocupações específicas em relação à segurança dos alimentos:

  1. Migração de substâncias químicas
    Os plásticos biodegradáveis podem conter aditivos e compostos químicos que influenciam suas propriedades físicas e químicas. Quando entram em contato com alimentos, especialmente aqueles ricos em gorduras ou ácidos, existe o risco de migração de substâncias potencialmente prejudiciais, o que pode comprometer a segurança e a qualidade dos alimentos.
  2. Menor resistência a condições extremas
    Em comparação com os plásticos tradicionais, os materiais biodegradáveis podem ser menos resistentes a altas ou baixas temperaturas, o que pode comprometer sua integridade durante o transporte ou armazenamento. Isso aumenta os riscos de contaminação por agentes externos, como umidade ou microrganismos.
  3. Barreiras insuficientes
    A capacidade de proteger os alimentos contra oxigênio, vapor de água e outros gases ainda é uma limitação dos plásticos biodegradáveis em comparação com alternativas tradicionais, como PET ou PE. Essa característica pode impactar negativamente a vida útil de produtos sensíveis, como carnes frescas, queijos ou alimentos desidratados.
  4. Condições específicas de decomposição
    Embora biodegradáveis, muitos desses plásticos exigem condições específicas, como altas temperaturas ou níveis controlados de umidade, para se decompor adequadamente. Quando descartados em locais inadequados, podem não oferecer as vantagens ambientais esperadas, o que pode desmotivar seu uso pelo setor.

Conformidade regulatória

Para garantir a segurança dos alimentos, os plásticos biodegradáveis precisam atender as normas e regulamentações estabelecidas por órgãos como a ANVISA no Brasil, a FDA nos Estados Unidos e a União Europeia. Essas regulamentações avaliam a composição dos materiais, o potencial de migração de substâncias e a adequação para contato direto com alimentos. É imprescindível que fabricantes realizem testes rigorosos para assegurar que os materiais estejam em conformidade com essas exigências. Abaixo algumas legislações que podem ser consultadas para entender mais sobre essa temática.

Tabela 1: Regulamentos brasileiros sobre migração de substâncias em materiais em contato com alimentos

Normas Título Descrição
Resolução RDC nº 56/2012

 

Regulamento Técnico Mercosul sobre Lista Positiva de Monômeros, Outras Substâncias Iniciais e Polímeros para a Elaboração de Embalagens e Equipamentos Plásticos em Contato com Alimentos Estabelece a lista de substâncias permitidas na fabricação de materiais plásticos destinados ao contato com alimentos.
Resolução RDC nº 52/2010 Regulamento Técnico Mercosul sobre Limites de Migração Específica de Componentes de Materiais Plásticos Destinados a Entrar em Contato com Alimentos Define os limites máximos de migração específica de substâncias de materiais plásticos para alimentos.
Resolução RDC nº 51/2010 Regulamento Técnico Mercosul sobre Limites de Migração Total de Componentes de Materiais e Artigos Plásticos em Contato com Alimentos Estabelece os limites máximos de migração total permitidos para materiais plásticos em contato com alimentos.
Resolução RDC nº 88/2016 Regulamento Técnico Mercosul sobre materiais celulósicos destinados a entrar em contato com alimentos Dispõe sobre os requisitos para materiais celulósicos em contato com alimentos, incluindo limites de migração.
Resolução RDC nº 90/2016 Regulamento Técnico Mercosul sobre materiais celulósicos destinados a entrar em contato com alimentos durante cocção ou aquecimento em forno Estabelece critérios para materiais celulósicos utilizados em condições de aquecimento, incluindo limites de migração.
Resolução RDC nº 56/2012 Regulamento Técnico Mercosul sobre Lista Positiva de Monômeros, Outras Substâncias Iniciais e Polímeros para a Elaboração de Embalagens e Equipamentos Plásticos em Contato com Alimentos Atualiza a lista de substâncias permitidas na fabricação de materiais plásticos para contato com alimentos.
Resolução RDC nº 589/2021 Altera as Resoluções RDC nº 56/2012, RDC nº 88/2016 e RDC nº 51/2010 Atualiza critérios e limites de migração para materiais plásticos e celulósicos em contato com alimentos.

Perspectivas e avanços tecnológicos

O desenvolvimento de plásticos biodegradáveis continua a progredir rapidamente, com novas pesquisas focadas na criação de materiais que combinem biodegradabilidade com propriedades de barreira mais robustas, ampliando sua aplicação na conservação de alimentos. Outro avanço importante são as embalagens ativas, capazes de liberar agentes antimicrobianos ou antioxidantes, contribuindo para a preservação e segurança dos alimentos.

Tecnologias como o uso de revestimentos protetores e a aplicação de nanopartículas têm melhorado a resistência e a eficácia dessas embalagens. Além disso, materiais inteligentes, que monitoram a qualidade do alimento e indicam alterações no frescor, estão sendo desenvolvidos para oferecer soluções ainda mais completas e seguras. Esses esforços mostram que é possível equilibrar sustentabilidade e segurança do alimento, atendendo às exigências do mercado e dos consumidores.

Conclusão

Os plásticos biodegradáveis representam um avanço promissor para a sustentabilidade na indústria de alimentos, mas seu impacto na segurança dos alimentos exige uma análise cuidadosa. Embora reduzam a pegada ambiental e atendam às demandas de consumidores e regulamentações, eles apresentam desafios relacionados à migração de substâncias químicas, resistência e barreiras protetoras. Para que sejam efetivamente aliados, é essencial ter avaliações rigorosas, investimentos em tecnologia e conformidade com padrões de segurança. A integração entre sustentabilidade e segurança dos alimentos será o diferencial para transformar os plásticos biodegradáveis em soluções viáveis e confiáveis.

4 min leituraA busca por soluções sustentáveis na indústria de alimentos tem incentivado o uso de plásticos biodegradáveis como alternativa às embalagens convencionais (veja aqui, aqui, aqui, e aqui). Esses materiais, projetados […]

6 min leitura
0

Estratégias para a prevenção de biofilmes

6 min leitura

Um biofilme é uma comunidade complexa e dinâmica de microrganismos que aderem a superfícies e são encapsulados em uma matriz de substâncias poliméricas extracelulares. Eles podem se formar tanto em superfícies naturais, como rochas e superfícies de plantas, como em superfícies artificiais, como implantes médicos, equipamentos industriais e equipamentos de processamento de alimentos.

O tártaro que se forma nos dentes é uma forma de biofilme, também conhecido como placa bacteriana.

A estrutura de um biofilme pode variar dependendo da composição microbiana, das condições ambientais e das características do substrato, mas geralmente consiste nos seguintes componentes:

  1. Células microbianas, incluindo bactérias, arqueas, fungos e algas, que aderem à superfície e formam uma população densa, podendo compreender várias espécies e exibir diferentes atividades fisiológicas e metabólicas dependendo de sua posição dentro do biofilme;
  2. Substâncias poliméricas extracelulares, conhecidas pela sigla EPS, são uma complexa mistura composta por polissacarídeos, proteínas, lipídios e ácidos nucleicos produzidos por células microbianas dentro do biofilme. Servem como uma matriz que mantém as células microbianas unidas e fornece suporte estrutural,  desempenhando um papel crucial na proteção de células microbianas de estressores ambientais. Estas substâncias facilitam a absorção e troca de nutrientes, mediando interações entre células microbianas e seus arredores;
  3. Canais de água ou poros que permitem a difusão de nutrientes, gases e moléculas de sinalização por todo o biofilme, ajudando a manter a hidratação e a atividade metabólica das células microbianas dentro do biofilme. Tais estruturas facilitam a troca de metabólitos e moléculas de sinalização entre as células;
  4. Agregados microbianos e microcolônias que podem variar em tamanho e composição, com diferentes espécies ou linhagens microbianas frequentemente coexistindo dentro do mesmo biofilme e que, em geral, contribuem para a organização espacial e heterogeneidade da estrutura do biofilme.

Biofilmes fornecem proteção para a sobrevivência das células microbianas contra estressores ambientais, como dessecação, radiação UV e agentes antimicrobianos. A matriz EPS atua como uma barreira física que protege as células microbianas de ameaças externas e ajuda a manter um microambiente estável dentro do biofilme, permitindo que as células sobrevivam e persistam em condições desafiadoras.

Nos tubos de um esterilizador ou nas placas de um pasteurizador, por exemplo, se ocorrer a formação de biofilmes, o tempo e temperatura utilizados para redução da carga microbiológica poderão não ser suficientes, pois os microrganismos estarão protegidos.

Outro papel dos biofilmes é permitir adesão e fixação de microrganismos nas superfícies e substratos, facilitando sua colonização e persistência em ambientes diversos. A adesão a superfícies é mediada por interações entre células microbianas e moléculas de superfície, bem como a produção de adesinas e apêndices extracelulares, como pili e fímbrias.

A formação de biofilmes ocorre em 5 etapas:

ADESÃO COLONIZAÇÃO CRESCIMENTO MATURAÇÃO DISPERSÃO
Os microrganismos começam a aderir à superfície por interações físico-químicas para o crescimento do biofilme; Os microrganismos iniciam a formação de substâncias das camadas que envolvem os biofilmes (EPS); Os microrganimos começam a formar micro colônias e o biofilme começa a ter sua arquitetura desenvolvida; Estruturação completa do biofilme com todas as suas organizações de troca de nutrientes, oxigênio e metabólitos que precisam ser secretados para fora do biofilme bem estruturado; Há o descolamento do biofilme maduro em forma de agregados celulares. Após a dispersão, as bactérias podem colonizar novos ambientes, reiniciando a formação de novos biofilmes.

Esquema de formação de biofilme bacteriano. Crédito: adaptado de Galie et al.

Dentro de biofilmes, células microbianas podem metabolizar matéria orgânica e nutrientes do ambiente ao redor, contribuindo para a ciclagem de nutrientes e processos biogeoquímicos. Assim, EPS facilitam a retenção e concentração de nutrientes dentro do biofilme, fornecendo um suprimento contínuo de recursos para o crescimento e metabolismo microbiano.

Um fenômeno relevante a ser considerado é que os biofilmes promovem a troca de material genético entre células microbianas por meio de processos como transferência horizontal de genes, transformação e conjugação.

Essa troca genética pode levar à aquisição de características benéficas, como resistência a antibióticos, fatores de virulência e capacidades metabólicas, aumentando a adaptabilidade e a aptidão da comunidade microbiana, ou seja, acontece um benefício mútuo.

Células microbianas dentro de biofilmes envolvem-se em interações complexas e mecanismos de comunicação, incluindo o chamado quorum sensing, sinalização célula-célula e interações entre espécies. Essas interações permitem que células microbianas coordenem suas atividades, regulem a expressão genética e respondam coletivamente a sinais ambientais, levando a propriedades e comportamentos emergentes dentro da comunidade de biofilmes.

Biofilmes desempenham um papel crítico na ecologia microbiana, no funcionamento do ecossistema e na saúde humana, com implicações em vários campos, incluindo ciência ambiental, medicina, biotecnologia, e obviamente, na segurança dos alimentos.

Em geral os biofilmes são formados por microrganismos inertes e há também deteriorantes. Porém, vários patógenos transmitidos por alimentos possuem a capacidade de formar biofilmes, incluindo Listeria monocytogenes, Salmonella  spp. e e cepas da Escherichia coli,  como a E. coli enterohemorrágica (EHEC) e a E. coli enteropatogênica (EPEC).

A formação de biofilmes permite que patógenos transmitidos por alimentos se adaptem e prosperem em condições ambientais desafiadoras, persistam em ambientes de processamento de alimentos e resistam à erradicação por agentes antimicrobianos e outras medidas de controle. Ao formar biofilmes, esses patógenos aumentam suas chances de sobrevivência e disseminação, representando riscos significativos à segurança alimentar e à saúde pública.

Locais preferidos e tempo necessário para a formação do biofilme

O tempo necessário para a formação de biofilme por patógenos transmitidos por alimentos pode variar dependendo de vários fatores, incluindo o patógeno específico, condições ambientais e as características da superfície.

Em geral, a formação de biofilme pode ser relativamente rápida, com a fixação inicial de células microbianas às superfícies ocorrendo em minutos a horas, seguida pelo desenvolvimento de biofilmes maduros ao longo de um período de horas a dias.

Alguns patógenos podem formar biofilmes mais rapidamente do que outros. O processo pode ser influenciado por fatores como temperatura, umidade, disponibilidade de nutrientes e a presença de outros microrganismos.

Locais preferidos para formação de biofilme por patógenos transmitidos por alimentos geralmente incluem superfícies em ambientes de processamento de alimentos que fornecem condições adequadas para fixação e crescimento microbiano, tais como:

  1. Superfícies de contato direto com produtos alimentícios, como equipamentos de processamento, correias transportadoras, tábuas de corte e utensílios;
  2. Equipamentos de processamento usados em instalações de processamento de alimentos, incluindo tanques, tubos, válvulas e conexões, podem servir como substratos para a formação de biofilmes;
  3. Drenos, ralos de piso e encanamentos em instalações de processamento de alimentos podem ser contaminados com biofilmes, particularmente em áreas onde umidade e matéria orgânica se acumulam;
  4. Torres de resfriamento e sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado podem fornecer condições propícias para a formação de biofilme, particularmente em ambientes quentes e úmidos;
  5. Materiais de embalagem, como filmes plásticos, caixas de papelão e sacos de papel, podem ser contaminados com biofilmes se expostos à umidade e matéria orgânica durante o armazenamento ou transporte.

Estratégias de prevenção de biofilmes

Para prevenir e controlar patógenos formadores de biofilmes em ambientes de processamento de alimentos, existem várias estratégias:

  1. A limpeza e higienização regulares de equipamentos e superfícies de processamento de alimentos são essenciais para prevenir a formação de biofilmes e remover os já existentes, uma vez que o uso de agentes de limpeza e sanitizantes apropriados, juntamente com esfregação mecânica ou agitação, pode ajudar a romper e remover biofilmes de superfícies;
  2. O design sanitário apropriado e a manutenção adequados de equipamentos de processamento de alimentos são essenciais para prevenir a formação de biofilmes, levando em conta que superfícies lisas e não porosas que sejam resistentes à fixação microbiana devem ser usadas preferencialmente. O design do equipamento deve evitar cantos mortos e ser regularmente inspecionado e mantido para prevenir a formação de biofilmes em áreas de difícil acesso;
  3. Manter temperaturas abaixo da faixa ideal para crescimento microbiano e garantir níveis de pH adequados que inibam o crescimento microbiológico pode ajudar a reduzir o risco de formação de biofilme;
  4. Agentes antimicrobianos, como sanitizantes e desinfetantes, podem ser usados para inibir a formação de biofilme e controlar o crescimento de patógenos formadores de biofilme. Logicamente, é preciso seguir adequadamente as instruções do fabricante para garantir a eficácia e minimizar o risco de desenvolvimento de resistência.

Uma abordagem multifacetada que combine práticas eficazes de limpeza e saneamento, projeto e manutenção adequados de equipamentos, medidas de controle de temperatura e pH, uso de agentes antimicrobianos e implementação de boas práticas de fabricação é necessária para prevenir e controlar patógenos formadores de biofilme em ambientes de processamento de alimentos.

O monitoramento e a vigilância regulares para a formação de biofilme também podem ajudar a identificar riscos potenciais e implementar medidas de controle apropriadas para garantir a segurança dos alimentos.

Por isso, entender a estrutura e a função de biofilmes é essencial não só para desenvolver estratégias eficazes para controlar sua formação e mitigar os riscos relacionados, mas também para aproveitar suas propriedades benéficas em várias aplicações.

Leia também:

6 min leituraUm biofilme é uma comunidade complexa e dinâmica de microrganismos que aderem a superfícies e são encapsulados em uma matriz de substâncias poliméricas extracelulares. Eles podem se formar tanto em […]

Compartilhar
Pular para a barra de ferramentas