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Bioinsumos e seu papel na produção de alimentos mais seguros e saudáveis

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O uso de produtos biológicos sempre foi uma prática muito importante para a agricultura. Registros apontam que bioinsumos são utilizados há séculos para reduzir os danos nas lavouras causados por pragas e doenças. Já no século III os chineses utilizavam formigas como controle biológico nas suas plantações de laranjas. No século XVIII foram descobertos fungos e bactérias entomopatogênicas na Europa e no século XIX foi registrada na Califórnia a primeira introdução de uma praga exótica para o controle de pulgões em citros, vinda da Austrália. Exemplos como esses são comuns na literatura.

Na história recente, os bioinsumos sempre estiveram associados principalmente com a produção orgânica, biodinâmica, agroecológica, regenerativa, devido à escassez de métodos de controle que não fossem os tradicionais defensivos químicos. Mas nos últimos anos seu uso não tem se restringido apenas a esses modelos de produção. Eles estão sendo aplicados em toda a agricultura e na maioria das culturas. Se considerarmos que os maiores avanços em pesquisas e novas descobertas ocorreram a partir do século XX, podemos afirmar que esses insumos são ferramentas imprescindíveis nos dias de hoje e projetam um futuro de crescimento a passos largos.

Bioinsumos

Os bioinsumos como conhecemos hoje em dia dividem-se em dois segmentos de acordo com a sua finalidade, sendo produtos para controle biológico, como os biodefensivos e os macroorganismos, e aqueles para estímulo das plantas, os bioativadores. Os primeiros são elaborados à base de fungos, bactérias, vírus, insetos e ácaros e quanto ao seu uso são principalmente classificados com bionematicidas, biofungicidas e bioinseticidas.

Agrivalle
Possuem muitas funções, como eliminar  ou reduzir a pressão de pragas, doenças e ervas daninhas; contribuir para o manejo da resistência; diminuir os custos de produção e melhorar a qualidade dos alimentos. Também podem melhorar a qualidade do solo e do sistema radicular das plantas, e, não menos importante, são insumos com baixíssima probabilidade de contaminação do aplicador, do meio ambiente, dos inimigos naturais e polinizadores e dos alimentos. Apresentam baixa toxicidade, zero período de carência e zero resíduos, desde que recomendados e utilizados conforme as instruções da bula e por profissionais capacitados. Esses produtos também têm um fit excelente em questões de programas de rastreabilidade, conforme comentado em meu último artigo nesse blog. Em um mundo onde a sustentabilidade é o conceito da vez, esses produtos não poderiam ser melhores alternativas.

Os bioativadores, por sua vez, são elaborados à base de aminoácidos, algas, micronutrientes e outros compostos que ajudam a aumentar a produtividade pela melhor absorção dos nutrientes, do combate ao estresse das plantas e da melhoria da qualidade da produção. A crescente adesão dos agricultores a essa categoria vem ao encontro do desafio que o setor passa diante do cenário das mudanças climáticas, pois as plantas são mais exigidas perante a escassez de água, altas temperaturas e outros fatores adversos.

Devemos considerar que esses produtos têm passado por inúmeras melhorias e vêm quebrando paradigmas do passado que impediam que seu uso se disseminasse em um país com as dimensões do Brasil. Foi-se o tempo em que necessitavam de frigoconservação até o momento da aplicação, tinham prazos de validade curtíssimos ou formulações que dificilmente formavam uma calda minimamente aplicável por entupirem pontas, por não se dissolverem corretamente ou por não se compatibilizarem com os químicos tradicionais. Hoje as formulações se modernizaram e estão no mesmo nível dos defensivos sintéticos. Existem misturas prontas de diferentes microrganismos, o que aumenta seu espectro de ação, podendo até diminuir o número de aplicações. Significativos investimentos em pesquisas levam ao desenvolvimento de novas cepas e aumentos na sua virulência, para com isso se tornarem indispensáveis na agricultura moderna.

Todos os protocolos de produção sustentável demandam o uso desses produtos e pouco a pouco ganham o espaço dos tradicionais químicos, cujos benefícios e malefícios são amplamente conhecidos e muitas vezes combatidos por setores mais conservadores da sociedade. Outro fator inequívoco desse avanço é que atualmente todas as empresas químicas e tradicionais desse ramo têm uma área de desenvolvimento de biológicos e seu portifólio de produtos, fato que não se via há apenas uma década atrás. Podemos chamar isso de evolução e adaptabilidade do setor.

Dados do mercado

Recente relatório divulgado pela Crop Life Brasil, “Desafios e oportunidades para o mercado brasileiro de bioinsumos”, traça um panorama completo sobre a situação do setor, que ao nível mundial tem como principais atores os Estados Unidos, Europa e países asiáticos. De acordo com dados da associação, em 2023 o valor do mercado mundial de bioinsumos agrícolas foi estimado entre US$ 13 e 15 bilhões, abrangendo todos os segmentos. A previsão é que a taxa de crescimento anual global até 2032 fique entre 13% e 14% a.a., atingindo cerca de US$ 45 bilhões, o que equivale ao triplo do valor atual.

Dentro desse mercado, o segmento de controle biológico destaca-se como o mais relevante, representando 57% do valor estimado. A tendência é que eles continuem liderando a participação de mercado nos próximos anos. O crescimento projetado está baseado na expectativa de que tanto os Estados Unidos quanto a Europa ampliem o uso de bioinsumos na produção de grandes culturas, similar ao que ocorre no Brasil, que já se destaca com uma das maiores taxas de adoção desses insumos globalmente.

No Brasil, o mercado de bioinsumos, que abrange produtos de controle biológico, inoculantes fixadores de nitrogênio e solubilizadores de fósforo, apresentou um crescimento de 15% na safra 2023/2024 em relação à safra anterior, levando em conta o valor final para o agricultor. Nos últimos três anos, o mercado de bioinsumos no país teve um aumento médio anual de 21%, o que é quatro vezes superior à média global, mas se considerarmos a participação do mercado de bioinsumos comerciais no valor de mercado total (considerando tratamento de sementes, inoculantes, fungicidas, inseticidas, nematicidas, herbicidas, adjuvantes e óleos) passou de 3,9 bilhões de reais na safra de 2021/22 para 5,1 bilhões de reais em 2023/24, apresentando um crescimento de 30% nessas últimas três safras.

Esse crescimento é bem maior se considerarmos o crescimento do mercado de  químicos, que tem apresentado números de apenas um dígito nesse intervalo de tempo, (6% de acordo com o trabalho do Instituto Futurum e mostra a tendência para as próximas safras, considerando que a participação dos bioinsumos no faturamento total do setor ainda não ultrapasse muito os 5%). A expectativa para a safra 2024/25 é que o faturamento ultrapasse os 6,3 bilhões de reais, o que deve manter a média de crescimento das últimas safras e a consolidação do mercado. Essa mesma estimativa aponta que em 2030 o mercado deve chegar a 16,9 bilhões de reais e certamente trará um aumento na participação do setor como um todo, que poderá ultrapassar os 10%.

Já em relação à área tratada com bioinsumos no Brasil, também houve crescimento de 50% na safra de 2023/24 em relação à safra de 2021/22, conforme dados da Blink no trabalho associado à Crop Life. A área tratada com bioinsumos corresponde a 11% da área tratada total. No que tange às principais culturas, 55% dos bioinsumos utilizados foram destinados à soja, 27% ao milho, 12% à cana-de-açúcar e 6% ao algodão, café, citrus e hortifrúti (HF). Quando consideramos a área tratada, a soja representa 68% do total, seguido por milho, com 21%, e cana-de-açúcar, com 7%. Como exemplo, no tratamento de sementes de soja emprega-se 100% de biológicos para nematoides, associados aos tradicionais químicos.

Dados do Ministério da Agricultura mostram que até o primeiro semestre de 2023, o Brasil liderava o ranking de adoção de defensivos biológicos, bioestimulantes e biofertilizantes No caso do controle biológico, mais de 55% das lavouras já tinham algum tipo de biodefensivo. Na União Europeia, a aplicação de biológicos ocorreu em 23% das plantações, e na China, a terceira colocada na lista, em 8%. O número de produtos biológicos registrados no Brasil passou de 1 em 2005, para 616 em 2023. Só durante o ano de 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e demais órgãos competentes registraram 90 produtos de baixo impacto (produtos de origem biológica, fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica, semioquímicos e reguladores de crescimento).

Desafios do mercado

Apesar da sua longa história como produtos utilizados na agricultura, seu inegável crescimento nos últimos anos e uma perspectiva de avanço significativa rumo ao futuro, como apontam os especialistas, o mercado para os bioinsumos em si ainda é muito novo. Uma série de problemas devem ser contornados para suportar esse avanço.

Um dos principais é o tratamento legal. Atualmente os bioinsumos estão enquadrados em legislações destinadas a produtos químicos, sintéticos ou minerais, como a Lei dos Agrotóxicos (Lei14.785/2023) e a Lei de Fertilizantes (Lei 6.894/1980), sendo suas regulamentações adaptadas por meio de normas infralegais para abranger as novas tecnologias e as multifuncionalidades para uso agrícola. No entanto, como essas leis não foram originalmente elaboradas para bioinsumos, há requisitos e exigências que não são aplicáveis e, por outro lado, elas também não contemplam as especificidades necessárias para os diferentes graus de complexidade.

Sendo assim, a primeira norma que trata desse assunto de forma diferenciada foi o Programa Nacional de Bioinsumos (PNB) de 2020, que tem como foco a implementação de práticas sustentáveis e valorização da biodiversidade brasileira, além de incentivar a produção nacional, a inovação tecnológica e favorecer a bioeconomia. Iniciativas legislativas no congresso nacional também estão em curso para acelerar esse processo.  Esses são, portanto, os principais gargalos a serem solucionados para dar segurança jurídica a todos os atores dessa cadeia.

Outro fator relevante é a baixa capacitação da mão de obra, pois isso dificulta a adoção ampla de tecnologia. A agricultura brasileira é muito grande e heterogênea no tocante ao perfil dos produtores e suas realidades e suas estruturas de armazenamento de insumos. A tecnologia de aplicação nem sempre é a mesma utilizada na aplicação de produtos sintéticos. No caso desses últimos, por exemplo, por serem insumos utilizados há décadas, o conhecimento está bem mais estruturado e difundido, e no caso dos biológicos nem sempre a tecnologia disponível atende às exigências, pois devemos lembrar que são seres vivos muito mais sensíveis, em muitos casos.

Com relação aos custos, embora os bioinsumos nem sempre apresentem preços menores que outros insumos, é fundamental considerar a relação custo-benefício, levando em conta a perspectiva de redução dos impactos negativos ao meio ambiente, à saúde humana e o aumento na produtividade. Além disso, é de suma importância ressaltar que o uso de bioinsumos, devido ao seu modo de ação e por depender do nível de dano das pragas e doenças, pode não substituir completamente os químicos, sendo adequado considerá-los como mais uma ferramenta para o controle integrado de pragas e doenças que uma solução única e definitiva.

Conclusões e perspectivas

Apesar de serem conhecidos há centenas de anos, os bioinsumos, em especial os biológicos, terão cada vez mais um papel fundamental na evolução da agricultura no tocante à garantia da produção de alimentos mais saudáveis como uma demanda da sociedade em nível mundial, garantia da biodiversidade, da sustentabilidade e da diminuição da contaminação do meio ambiente, com impactos positivos na qualidade de vida. É certo que a adoção desses produtos representa um avanço significativo, mas os químicos ainda continuarão a ser utilizados em larga escala nas próximas décadas.

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O que estamos presenciando é que a participação dos produtos químicos será cada vez menor e esse espaço será ocupado pelos bioinsumos. Devem avançar, de maneira coesa, as pesquisas, métodos e tecnologias de produção, aumento da conscientização e nível técnico dos produtores, bem como legislações apropriadas e abrangentes que promovam a segurança jurídica de toda a cadeia de produção. Nós todos, como consumidores de todas as partes do planeta, e o planeta em si, já estamos sendo e seremos cada vez  mais beneficiados.

Marcos Pozzan é engenheiro agrônomo, atualmente em atividade na Itália

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A crise do cacau e as mudanças climáticas

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A crise do cacau tem impactado severamente a produção desse insumo essencial para a indústria do chocolate. Este é um exemplo claro de como as mudanças climáticas afetam cadeias produtivas globais. Empresas de alimentos e consumidores precisam se adaptar a um cenário de menor oferta e preços mais altos. Produtos de larga escala, como achocolatados e barras comerciais, podem sofrer redução do percentual de cacau real na composição para segurarem os preços. Sabe aquele seu achocolatado mais “branquinho”?

O primeiro impacto é a coloração (grãos com menor intensidade de cor). Podem ser usados mais corantes naturais (como extrato de cacau altamente alcalinizado) ou ajustes no processo de torrefação para compensar a diferença de cor. Para mascarar a diferença sensorial, é possível substituir a baunilha natural por outros aromatizantes, com o aumento de aromas artificiais ou naturais de chocolate. A incorporação em maiores quantidades nas formulações para reduzir a dependência do cacau puro pode alterar as especificações técnicas de produtos de chocolate (atenção departamento de P&D!).

Entre os maiores fatores para a crise do cacau estão: as principais regiões produtoras de cacau, como Costa do Marfim e Gana (responsáveis por cerca de 60% da produção mundial) e Ilhéus no Brasil, enfrentam secas intensas e chuvas irregulares. O El Niño tem agravado essas condições, reduzindo a produtividade e aumentando os custos para os agricultores, o que favorece a propagação de doenças como a monilíase e a vassoura-de-bruxa, que devastam as plantações.

Outro fator que agrava a crise do cacau é que os pequenos agricultores recorrem ao desmatamento para expandir suas lavouras e isso leva à degradação do solo e à perda de biodiversidade, tornando a produção menos sustentável em longo prazo.

Já vemos a queda na oferta de cacau levando os preços ao maior patamar em décadas, afetando a rentabilidade da indústria do chocolate e pressionando consumidores e fabricantes. Algumas soluções sustentáveis têm acontecido, como melhorias nas práticas agrícolas (como agroflorestas) ajudando na adaptação, e as certificações, como Rainforest Alliance e Fair Trade, que incentivam práticas responsáveis.

A indústria alimentícia busca alternativas, como substitutos de cacau e diversificação de fornecedores e cuida da escassez do cacau que está gerando desafios tanto para a conformidade regulatória quanto para a formulação de produtos. Como exemplo, ingredientes como farinhas de alfarroba e cupuaçu podem ser usados como substitutos, além da goma guar e pectina para ajustar a viscosidade do chocolate, as gorduras alternativas de óleo de palma, manteiga de karité para manter a cremosidade e os aromas naturais e sintéticos para reforçar o perfil sensorial do cacau. Isso impacta diretamente a indústria, desde a rotulagem até a qualidade sensorial dos chocolates.

Outra mudança pode ser nas técnicas de processamentos para manter o sabor, tais como a torrefação otimizada que intensifica os sabores do cacau, permitindo reduzir a quantidade usada e a fermentação controlada que pode criar perfis aromáticos mais intensos, reduzindo necessidade de cacau puro.

Os gestores de planos APPCC também devem lembrar que o aumento do uso de ingredientes alternativos pode exigir novas avaliações para rotulagem de alérgenos e contaminantes, especialmente se houver cruzamento com outras cadeias produtivas. Por exemplo: misturar cacau com as castanhas e as proteínas vegetais, criando novas categorias de chocolates.

Atualmente, diferentes países estabelecem teores mínimos de cacau para que um produto seja considerado chocolate. A crise pode levar a revisões dessas normas:

– Brasil (ANVISA / MAPA) – Decreto 6871/2009 define que chocolate deve conter no mínimo 25% de sólidos totais de cacau.

– União Europeia (EFSA) – Requer pelo menos 35% de sólidos de cacau para chocolate amargo.

– EUA (FDA) – Para chocolate ao leite, exige 10% de sólidos de cacau, enquanto o chocolate amargo deve ter mínimo de 15%.

Será que haverá flexibilização nesses valores, permitindo maior inclusão de substitutos na fórmula? Ou teremos regulatórios para restrição em normas de produtos premium, que podem exigir 100% de cacau de origem natural? E o bolso do consumidor que aguente, pois estes já são produtos caros e podem se tornar ainda mais exclusivos, restringindo-se a nichos dispostos a pagar por essa pureza.

Imagem: Pixabay

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O desafio de higienizar equipamentos sem desenho sanitário

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Em algum momento a palavra biofilme aparecerá no dia a dia de uma indústria de alimentos, seja de queijo ou de outros alimentos. Quando essa questão surge, as primeiras perguntas são:

– como está a higienização dos seus equipamentos?

– qual produto químico você está utilizando?

– com que frequência e como essa higienização é feita?

A partir daí começa todo o trabalho. Vamos verificar essa higienização: será que existe mesmo formação de biofilmes? Sim, encontramos. E agora, como agir?

Temos bastante material sobre biofilmes e atualmente muitas informações sobre como higienizar os equipamentos para retirar esses biofilmes. Porém, ainda não dispomos de muitas informações sobre o que fazer com equipamentos que não foram desenvolvidos para serem higienizados de forma simples, ou seja, quem construiu tais equipamentos não pensou em como os operadores iriam limpá-los. São equipamentos com tampas pesadas, difíceis de serem retiradas, que ficam em locais altos, dificultando a borrifação de produtos, já que há o risco de o produto escorrer e atingir o operador que faz a higienização. Existem também equipamentos com várias ranhuras e cilindros de difícil acesso, além de outros exemplos possíveis.

Podemos estabelecer como deve ser feita essa higienização, qual a frequência necessária para obter bons resultados e desmontamos o equipamento para essa prática. No entanto, corremos o risco de haver peças que empenam, parafusos que espanam, ou seja, podemos diminuir a vida útil desse equipamento, que muitas vezes custou um valor considerável.

Por tudo isso, o assunto desenho sanitário não deve ser deixado em segundo plano. Durante o projeto de compra de um novo equipamento, o higienista da planta, ou a pessoa do controle de qualidade que acompanha essa questão de higienização dos equipamentos, precisa ser envolvido. O contato com o fabricante deve ir além da produtividade e preço da máquina. Informações sobre como higienizar no dia a dia, uma avaliação minuciosa sobre pontos de difícil limpeza, quais produtos poderão ser usados, tudo isso deve entrar nessa avaliação prévia. E essa preocupação certamente será revertida em economia para a planta, pois equipamentos não higienizados corretamente levam à formação de biofilmes, que são um grande risco de contaminação para os alimentos.

E quando você já tem um equipamento que foi comprado sem essa preocupação, e que hoje está com presença de biofilme? A desmontagem é difícil e higienizar sem desmontá-lo parece impossível. O que se deve fazer?

Sugiro contatar a empresa que vendeu o equipamento, pedir para conversar com o departamento de desenvolvimento e passar sua dificuldade, solicitando informações de como eles sugerem que a limpeza seja feita. Talvez eles tenham informações de outras indústrias que possuem o mesmo equipamento.

Além disso, conversar com a empresa que fornece os produtos utilizados para higienização e sanitização também pode ser válido. Eles podem ter composições em forma de espuma para facilitar a aplicação em locais mais altos.

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O potencial da Microbiologia Preditiva na segurança dos alimentos

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A Microbiologia Preditiva é um ramo da microbiologia que utiliza modelos matemáticos e estatísticos para prever o comportamento de microrganismos em diferentes condições ambientais.

Essa abordagem permite estimar o crescimento, inatividade e sobrevivência de microrganismos em alimentos, produtos farmacêuticos e em outros ambientes controlados. Por este motivo, tem relevante importância para a segurança dos alimentos.

A microbiologia preditiva começou a ganhar destaque nas décadas de 1980 e 1990, quando avanços na computação e na modelagem matemática possibilitaram previsões mais precisas sobre a dinâmica dos microrganismos.

Um dos marcos foi o desenvolvimento de modelos matemáticos de crescimento bacteriano, como os modelos de Gompertz e Baranyi, que ajudaram a prever o comportamento de microrganismos patogênicos e deteriorantes em alimentos.

  • Modelo de Gompertz: baseado em uma curva sigmoide, descreve a fase de adaptação, crescimento exponencial e fase estacionária de uma população microbiana. É popular por sua simplicidade e boa adaptação a dados experimentais;
  • Modelo de Baranyi: também representa o crescimento sigmoidal, mas inclui um fator de atraso metabólico, que melhora a precisão na previsão da fase de adaptação dos microrganismos. Ele é mais flexível e frequentemente usado para simulações mais detalhadas.

Ambos os modelos são fundamentais para prever o comportamento de microrganismos em alimentos e otimizar estratégias de controle microbiológico na indústria alimentícia.

Curva típica de crescimento microbiológico. 

A microbiologia preditiva tem aplicações em diversos setores, incluindo:

  1. Indústria de alimentos: Utilizada para prever a segurança microbiológica dos alimentos, prevenindo contaminações por patógenos como Salmonella, Listeria monocytogenes e Escherichia coli;
  2. Farmacêutico e cosmético: Aplicada na avaliação da estabilidade microbiológica de fármacos e produtos de cuidados pessoais;
  3. Saúde pública: Auxilia a previsão de surtos de doenças transmitidas por alimentos e a avaliação de riscos microbiológicos em ambientes hospitalares;
  4. Controle de qualidade: Empresas utilizam modelos preditivos para reduzir desperdício e otimizar prazos de validade de produtos perecíveis.

A lógica e o conceito intrínseco da microbiologia preditiva, por si sós, são muito relevantes para a ciência da segurança dos alimentos. Além disso, um futuro brilhante já pode ser vislumbrado, pois com o avanço das tecnologias emergentes associadas com o que vem sendo chamado de 4ª Revolução Industrial, como IA (Inteligência Artificial), IoT (Internet das Coisas), Big Data etc., serão possíveis soluções cada vez mais eficientes para prevenção de riscos microbiológicos e otimização da qualidade dos produtos.

Sinergias que contribuem para o avanço da microbiologia preditiva

Há uma convergência natural de tecnologias com a IA, IoT e a metagenômica com a microbiologia preditiva, o que pode representar um avanço literalmente revolucionário na segurança dos alimentos.

A IA, com sua capacidade de analisar grandes volumes de dados (Big Data), permitirá análises robustas de padrões baseados em microbiologia preditiva, capazes de prever o comportamento de diversos microrganismos em diferentes condições ambientais,  antecipando com muita precisão riscos microbiológicos.

Integrada à IoT, a IA se torna ainda mais poderosa, pois sensores distribuídos ao longo da cadeia produtiva podem coletar, em tempo real, dados essenciais como temperatura, umidade e até mesmo a presença de contaminantes.

A IA processa essas informações coletadas pela IoT e com base nos modelos da microbiologia preditiva, possibilita ajustes imediatos para evitar falhas e contaminações, ou alertar, quando variáveis operacionais não puderem ser ajustadas a tempo, para que produtos em situação de risco sejam retidos para uma destinação adequada posterior.

Além disso, a metagenômica fortalece essa abordagem ao permitir a identificação precisa e rápida da microbiota diretamente de amostras ambientais, sem a necessidade de cultivo em laboratório. Com isso, possibilita uma detecção rápida de patógenos em produtos, ambientes industriais e superfícies de contato, garantindo um controle microbiológico rápido e preciso.

A metagenômica é uma tecnologia surpreendente, que combina o sequenciamento de alta capacidade com bancos de dados genômicos abrangentes (Big Data) e algoritmos de análise avançados (IA), resultando na identificação precisa e específica de cepas microbianas, mesmo aquelas difíceis de cultivar ou que estão em baixas concentrações nas amostras.

O processo começa com a coleta de amostras, extração do DNA, sequenciamento via Next-Generation Sequencing (NGS), no qual ao invés de isolar uma única espécie, sequenciam-se todos os fragmentos de DNA presentes na amostra, criando um “mapa” genético completo da comunidade microbiana. Após o sequenciamento, as sequências de DNA são demonstradas e montadas para reconstruir os genomas dos microrganismos presentes na amostra.

Contudo, a metagenômica vai além da identificação das espécies. Ela também pode identificar variações genéticas dentro de uma espécie. Por exemplo, ao comparar as sequências de DNA com bancos de dados de genomas de microrganismos conhecidos, é possível identificar não só a espécie, mas também cepas específicas de bactérias ou vírus, que podem ter características particulares como resistência a antibióticos ou capacidade de causar doenças.

Além da identificação das cepas, a metagenômica pode fornecer informações sobre as funções metabólicas e as interações entre os microrganismos, o que ajuda a entender melhor como esses organismos atuam no ambiente ou no hospedeiro.

A sinergia entre essas tecnologias não apenas aprimora a segurança dos alimentos, mas também otimiza processos, reduz desperdícios e eleva os padrões de qualidade na indústria alimentícia.

Países que lideram as pesquisas em microbiologia preditiva

  • Estados Unidos: Com instituições como a FDA (Food and Drug Administration) e o USDA (United States Department of Agriculture), investem na modelagem microbiológica para segurança alimentar;
  • Reino Unido: Pesquisadores da Universidade de Cambridge e do Instituto de Pesquisa de Alimentos desenvolvem modelos avançados para previsão microbiológica;
  • França: O Instituto Nacional de Pesquisa para Agricultura, Alimentos e Meio Ambiente (INRAE) realiza estudos sobre segurança alimentar e microbiologia preditiva;
  • Alemanha: A Fraunhofer-Gesellschaft investe em pesquisas sobre análise microbiológica e segurança dos alimentos;
  • Brasil: Universidades como a USP e a UNICAMP desenvolvem pesquisas aplicadas à indústria alimentícia e saúde pública.

Empresas que aplicam microbiologia preditiva

Várias empresas utilizam a microbiologia preditiva para otimizar processos e garantir a segurança dos produtos:

  • Nestlé: Emprega modelagem preditiva para monitoramento da qualidade microbiológica dos alimentos;
  • Danone: Utiliza técnicas preditivas para garantir a segurança de produtos lácteos;
  • Tyson Foods: Aplica microbiologia preditiva para reduzir riscos microbiológicos em produtos de carne;
  • IBM: Desenvolveu soluções de IA para prever contaminação microbiológica em cadeias de suprimentos;
  • 3M: Oferece kits e softwares de análise preditiva para monitoramento microbiológico em tempo real.

A conclusão é que o futuro da microbiologia preditiva está fortemente ligado à integração com tecnologias avançadas, como Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), metagenômica e Big Data, permitindo análises mais precisas e em tempo real.

O desenvolvimento de modelos preditivos mais sofisticados, capazes de considerar múltiplos fatores ambientais e genômicos, tornará as previsões microbiológicas ainda mais precisas, rápidas e confiáveis.

Além disso, espera-se uma automação crescente no monitoramento da segurança dos alimentos, com sensores inteligentes conectados a sistemas de IA que detectam riscos e previnem contaminações instantaneamente, com tomadas de decisão autônomas.

O futuro chegou, mas claro, algumas empresas sairão na frente e outras vão demorar um pouco mais. No entanto, com o avanço das tecnologias e de seu uso mais corriqueiro, os custos vão reduzindo e mais empresas terão acesso. Em alguns anos, certamente, mais empresas poderão empregar estas tecnologias, beneficiando diversos stakeholders da cadeia produtiva, e claro, com impacto muito positivo nas questões de saúde pública.

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[PRORROGADO] Concurso cultural que te leva ao VII Workshop Food Safety Brazil, em Porto Alegre

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Você é apaixonado por segurança de alimentos e quer participar do maior encontro de profissionais da área? Então essa é a sua chance de garantir uma vaga gratuita e ainda receber ajuda de custo para viver essa experiência inesquecível! Para saber mais sobre este evento, clique aqui.

Que o nosso VII Workshop Food Safety Brazil será em Porto Alegre, RS, você já sabe, ou se ainda não sabe, acesse Novidades sobre o nosso próximo VII Workshop – Food Safety Brazil. A agenda está recheada de convidados que vão ampliar e transformar a sua visão profissional, da logística à embalagem.

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Turismo gastronômico e segurança dos alimentos: uma relação delicada

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Viajar com o propósito de experimentar novas culturas gastronômicas é um dos principais motivadores do turismo internacional. No entanto, essa experiência sensorial muitas vezes esbarra em questões sanitárias, especialmente em destinos onde a informalidade na preparação e venda de alimentos é alta.

Dados de  2024 da seguradora de viagens Coris, divulgados pelo jornalista Márcio Diniz, mostraram que os casos de intoxicação alimentar entre brasileiros são particularmente recorrentes em países com forte tradição culinária.

Dados detalhados dos atendimentos médicos da Coris

  • Peru: 26 casos de intoxicação alimentar em 133 atendimentos (20%)

  • México: 35 em 124 (28%)

  • Tailândia: 15 em 45 (33,3%)

  • Marrocos: 3 em 9 (33,3%)

  • Índia: sem detalhamento no levantamento, mas com alta recorrência histórica

Cabe ressaltar que o estudo da Coris baseia-se em registros de assistência médica prestada aos segurados, portanto reflete apenas uma fração dos casos reais, com possível subnotificação causada pelos que não acionam o seguro.

Riscos alimentares mais comuns

Entre os principais agentes causadores de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs), destacam-se:

  • Salmonella spp. – frequentemente presente em ovos crus, carnes malcozidas e alimentos mal refrigerados.

  • Escherichia coli (E. coli) – transmitida por carnes malpassadas, verduras cruas e água contaminada.

  • Campylobacter spp. – comum em aves cruas ou malcozidas.

  • Giardia lamblia – protozoário associado a água ou alimentos lavados com água contaminada.

  • Norovírus – altamente contagioso, ligado à manipulação incorreta dos alimentos.

Esses microrganismos causam sintomas como diarreia, vômitos, febre, dor abdominal e podem levar à desidratação e, em casos graves, hospitalização.

Alimentos de risco comumente consumidos por turistas

  • Ceviches e pescados crus (Peru, México, Tailândia)

  • Frutos do mar mal armazenados

  • Água de torneira ou gelo contaminado

  • Sucos naturais feitos com frutas mal lavadas

  • Queijos artesanais não pasteurizados

  • Carnes vendidas em espetinhos de rua, muitas vezes sem refrigeração adequada

Por que turistas são mais vulneráveis?

  • Flora intestinal não adaptada: o microbioma de viajantes não está preparado para lidar com microrganismos locais.
  • Baixo conhecimento de riscos culturais: muitos turistas encaram práticas culinárias locais como exóticas e confiáveis, sem saber os riscos sanitários envolvidos.
  • Menor fiscalização sanitária: pequenos comerciantes, barracas de feira e mercados de rua nem sempre seguem boas práticas de higiene.
  • Fatores ambientais: climas quentes e úmidos aceleram a deterioração de alimentos.
  • Ingestão acidental de água contaminada: até mesmo escovar os dentes com água da torneira pode representar risco em alguns destinos.

A importância da educação sanitária para o turismo

Segundo especialistas em segurança dos alimentos, educação preventiva é a principal estratégia para evitar surtos de intoxicação alimentar em programas de turismo. Isso inclui:

  • Campanhas informativas em aeroportos e consulados
  • Guias de segurança alimentar para turistas
  • Capacitação de manipuladores de alimentos em áreas turísticas
  • Sinalização sanitária clara em comércios e feiras

Boas práticas para evitar intoxicações em viagens

Evite alimentos crus
Alimentos como carnes, frutos do mar, vegetais e ovos crus ou mal cozidos podem estar contaminados por bactérias, vírus ou parasitas. Ao evitá-los, você reduz consideravelmente o risco de intoxicação alimentar.

Dê preferência a locais com preparo visível e limpo
Estabelecimentos que permitem ver a manipulação dos alimentos e apresentam condições de higiene claras tendem a seguir melhores práticas sanitárias, oferecendo mais segurança ao consumidor.

Beba somente água mineral ou fervida
Em muitos países, a água da torneira pode estar contaminada com microrganismos patogênicos. Por isso, opte sempre por água engarrafada lacrada ou água fervida, especialmente para beber e escovar os dentes.

Evite gelo em bebidas
O gelo costuma ser feito com água não tratada, principalmente em comércios de rua. Mesmo em bebidas aparentemente seguras, o gelo pode ser fonte de contaminação.

Higienize as mãos com álcool 70% antes de comer
A contaminação cruzada através das mãos é uma via comum de infecção. Usar álcool em gel ou lavar as mãos antes das refeições ajuda a prevenir a ingestão de agentes patogênicos.

Leve reidratantes e probióticos na bagagem
Reidratantes orais são úteis para repor líquidos e sais minerais em caso de diarreia. Probióticos ajudam a restaurar a flora intestinal, acelerando a recuperação.

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Ter assistência médica disponível durante a viagem garante atendimento rápido e adequado em caso de emergência, evitando agravamentos e gastos inesperados.

Destinos culinários renomados oferecem experiências sensoriais únicas, mas também exigem atenção redobrada com a segurança dos alimentos. O aumento de casos de intoxicação alimentar reforça a urgência de ações educativas, regulamentações sanitárias eficazes e conscientização dos viajantes. Comer bem e com segurança é possível — basta estar informado e preparado.

Imagem: Kampus Production

3 min leituraViajar com o propósito de experimentar novas culturas gastronômicas é um dos principais motivadores do turismo internacional. No entanto, essa experiência sensorial muitas vezes esbarra em questões sanitárias, especialmente em […]

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Os aprendizes na indústria de alimentos possuem piercing; e agora?

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Os riscos do uso de piercing na indústria de alimentos são:

1.      Contaminação física – pode cair nos alimentos, tornando-se um corpo estranho.

2.      Contaminação microbiológica – o adorno pode acumular microrganismos e ser uma fonte de contaminação.

3.      Risco de acidentes – pode enroscar em equipamentos ou causar lesões no funcionário.

Se há falta de aprendizes devido ao uso de piercing, a empresa deve considerar algumas abordagens equilibradas, respeitando a legislação trabalhista e as políticas internas, sem comprometer a inclusão e a diversidade.

Vamos começar pela revisão da Política Interna. Se há uma norma formal sobre o uso de piercings e se está alinhada com as exigências legais e de segurança da empresa e se a restrição é baseada em normas de segurança de alimentos, explique os riscos envolvidos e a necessidade de uso de EPIs adequados. Também podemos reavaliar os critérios na seleção, analisando se a exigência é realmente necessária ou se pode haver uma solução intermediária. Caso a restrição não seja essencial para a função, considerar uma política mais aberta para evitar a perda de talentos.

Em alguns casos, se o piercing é “chumbado”, ou seja, aquele que foi colocado há muito tempo e cuja pele cresceu ao redor do acessório, tornando-o de difícil remoção ou até impossível sem intervenção médica, neste caso pode-se criar uma exceção: cobri-lo com um curativo ou utilizar um retentor de plástico transparente ou posicionamento do colaborador em funções sem contato direto com alimentos, mas com autorização prévia. O ideal é que o colaborador apresente um laudo médico para comprovar a situação e discutir alternativas com o setor de RH e segurança do trabalho.

Adote sempre uma Comunicação Inclusiva. Em vez de simplesmente proibir, explique os motivos da restrição e converse com os jovens sobre a importância da segurança no ambiente de trabalho. Há flexibilização da política para permitir o uso de piercings em locais e funções onde não haja riscos.

Se o problema persistir e impactar o recrutamento, pode ser interessante rever as diretrizes ou buscar alternativas que conciliem segurança e inclusão, pois não se pode tratar como uma questão pessoal. Garanta que o regulamento interno esteja alinhado às normas e seja comunicado no momento da contratação. Incluam regras sobre acessórios permitidos e proibidos. Muitos aprendizes podem não estar acostumados a regras industriais, por isso uma abordagem educativa pode ajudar na adaptação.

Agradeça a colaboração de todos para garantir a qualidade e segurança dos alimentos que produzimos, mas deixe claro que o não cumprimento dessa diretriz poderá resultar em medidas disciplinares conforme o regulamento interno, que deve prever estas situações.

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Entrevista com Martine Boon, nova diretora do GMP+ International

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Tivemos a honra de conversar com Martine Boon, Managing Director do GMP+ International desde agosto de 2024.

Com formação em economia agrícola, Martine se junta à GMP+ vinda do Rabobank, onde atuou mais recentemente como Director of Food & Agriculture Transition and Sector Management. Ela traz uma vasta experiência em financiamento agrícola, startups de tecnologia agroalimentar e gestão (veja mais aqui).

É um prazer termos a participação da Martine no Food Safety Brazil. Vamos explorar um pouco mais sua trajetória, as mudanças que está vendo no setor e o impacto do trabalho do GMP+ International nas práticas de Feed Safety e sustentabilidade.

Olá Martine. Soube de sua incrível experiência no Rabobank e seu forte contato com o setor feed. Como você vê esse desafio de trabalhar no mundo das certificações agora?

Olá Leonardo, antes de tudo, obrigado por me convidar para compartilhar mais sobre a GMP+ International. Eu realmente aprecio muito essa oportunidade. Em minhas funções anteriores no Rabobank, eu era responsável por financiar clientes no setor de Alimentos & Agronegócios, o que exigia avaliações extensas de risco e sustentabilidade. Ambos são tópicos importantes no mundo da certificação. Embora possa parecer uma mudança significativa de finanças para certificação, esses campos estão intimamente interligados. A certificação desempenha um papel crucial na garantia de práticas sustentáveis em todos os setores, e minha experiência em finanças me dá uma perspectiva mais ampla sobre como a sustentabilidade econômica e ambiental podem andar de mãos dadas.

Quais são os maiores desafios que você vê hoje para a GMP+ International e o mercado feed?

Vejo dois desafios principais. O primeiro é garantir a segurança dos produtos para alimentação animal [feed] em todo o mundo. Ainda há trabalho a ser feito para reduzir os incidentes de contaminação feed em todo o mundo, melhorando assim a segurança dos produtos para alimentação animal e dos alimentos (para seres humanos). O segundo desafio gira em torno da sustentabilidade. As sociedades estão cada vez mais se concentrando em questões ambientais e sociais, como mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e fornecimento responsável. A GMP+ International tem a ambição de apoiar nossos stakeholders e a comunidade no cumprimento de requisitos regulatórios, ao mesmo tempo em que os ajuda a se destacarem no setor feed por meio de operações sustentáveis. Nosso objetivo é tornar a sustentabilidade parte integrante da cadeia de suprimentos de produtos para alimentação animal.

O que podemos esperar da GMP+ FSA nos próximos anos?

Nos próximos anos, nosso foco será garantir que seja possível produzir produtos para alimentação animal seguros e sustentáveis em todo o mundo. Estamos buscando expandir nossa presença em mercados-chave, como o Brasil, onde podemos apoiar os stakeholders na melhoria da segurança e da sustentabilidade do feed. Além disso, estamos trabalhando para tornar a jornada do nosso cliente mais tranquila: simplificando os processos para nossos clientes, reduzindo a complexidade e tornando nossa estrutura de governança mais inclusiva internacionalmente. Considerando que a segurança e a sustentabilidade dos produtos para alimentação animal são preocupações cada vez mais globais, acreditamos que nossa governança deve refletir esse escopo internacional.

As administrações anteriores discutiram muito a questão das auditorias remotas. Como você vê isso?

As auditorias remotas são certamente um tópico interessante para nós, especialmente no contexto de certificações de sustentabilidade. Auditorias remotas podem reduzir viagens, diminuindo assim as pegadas de carbono e mantendo altos padrões de conformidade.

O mercado de soja no Brasil está apreensivo sobre a EUDR (European Union Deforestation Regulation). Como a GMP+ International vê isso? Você acredita no crescimento da GMP+ FRA nos próximos anos?

É compreensível que o mercado brasileiro de soja esteja apreensivo sobre a EUDR. É um tópico que também está no topo de nossas mentes. Estamos investigando ativamente como podemos dar melhor suporte à nossa comunidade na EUDR ao negociar e produzir na cadeia feed. Embora ainda seja muito cedo para fornecer respostas definitivas, assim que entendermos melhor como podemos dar suporte de forma eficaz, informaremos o mercado imediatamente, é claro.

Que conselho você daria às mulheres que aspiram a cargos de liderança, especialmente em áreas técnicas como Feed Safety?

Meu conselho é direto: concentre-se no que você acredita ser melhor para o setor feed e permaneça comprometida com a sustentabilidade. Ao mesmo tempo, esteja sempre aberta a feedback e contribuições das partes interessadas. Esse equilíbrio de liderança e mente aberta ajudará você a tomar decisões bem informadas que beneficiam tanto os objetivos comerciais quanto os de sustentabilidade. O setor feed precisa de perspectivas diversas para impulsionar mudanças significativas, e eu encorajo as mulheres a assumirem papéis de liderança com confiança e comprometimento com a inovação e a responsabilidade.

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Entrevista original (inglês)

Hi Martine. I heard about your incredible experience at Rabobank and your strong contact with the feed sector. How do you see this challenge of working in the world of certifications now? 

Hi Leonardo, first of all thank you for inviting me to share more about GMP+ International. I truly appreciate this opportunity very much. In my prevois roles at Rabobank I was responsible for financing clients in the Food & Agribusiness sector which required extensive risk and sutainability assessments. Both are important topics in the world of certification. While it may seem like a significant shift from finance to certification, these fields are closely intertwined. Certification plays a crucial role in ensuring sustainable practices across industries, and my background in finance gives me a broader perspective on how economic and environmental sustainability can go hand in hand.

What are the biggest challenges you see today for GMP+ International and the feed market?

I see two primary challenges. The first is ensuring feed safety  worldwide. There is still work to be done to reduce feed contamination incidents worldwide, thereby improving both feed and food safety. The second challenge revolves around sustainability. Societies are increasingly focusing on environmental and social issues, such as climat change, biodiversity conservation and responsible sourcing. GMP+ International has the ambition to support our stakeholders and Community in meeting regulatory requirements while also helping them stand out in the feed sector through sustainable operations. Our goal is to make sustainability an integral part of the feed supply chain.

What can we expect from GMP+ FSA in the coming years?

In the coming years, our focus will be to ensure that it possible to produce safe and sustainable feed worldwide. We are particularly looking into expanding our presence in key markets such as Brazil, where we can support stakeholders in improving both feed safety and sustainability. Additionally, we are working on making our client journey more smooth. By simplifying processes for our clients by reducing complexity and making our governance structure more internationally inclusive. Given that feed safety and sustainability are increasingly global concerns, we believe our governance should reflect that international scope. 

Previous administrations discussed the issue of remote audits a lot. How do you see this?

Remote audits are certainly an interesting topic for us, especially in the context of sustainability certifications. Remote audits can reduce travelleing, thereby lowering carbon footprints while maintaining high standards of compliance. 

The soybean market in Brazil is apprehensive about the EUDR. How does GMP+ International see this? Do you believe in growth in GMP+ FRA in the coming years?

It is understandable that the Brazilian soybean market is apprehensive about the EUDR. It is a topic that is also top of our mind. We are actively investigating how we can best support our Community on the EUDR when trading and producing in the feed chain. Although it is still too early to provide definitive answers, as soon as we understand better how we can support in an effective way, we will inform the market immediately ofcourse.

What advice would you give to women aspiring to leadership roles, especially in technical areas like Feed Safety? 

My advice is straightforward: focus on what you believe is best for the feed sector and remain committed to sustainable. At the same time, always stay open to feedback and input from stakeholders. This balance of leadership and open-mindedness will help you make well-informed decisions that benefit both business and sustainability goals. The feed sector needs diverse perspectives to drive meaningful change, and I encourage women to take leadership roles with confidence and a commitment to innovation and responsibility.

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Microplásticos aumentam resistência de bactérias e preocupam cientistas

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Você já ouviu falar que os microplásticos são nocivos ao meio ambiente, certo? Eles estão nos oceanos, no solo, no ar – e até em nossos alimentos. A presença de microplásticos em produtos alimentícios tem se tornado uma preocupação crescente, principalmente pela contaminação ambiental em áreas de cultivo e produção. Embora ainda não haja evidências científicas conclusivas sobre a migração direta de micro ou nanoplásticos das embalagens para os alimentos e bebidas, a exposição humana pode acontecer por diversas vias — incluindo ingestão, inalação e até absorção pela pele. Mas o que talvez você não saiba é que esses fragmentos minúsculos de plástico também estão reforçando um problema ainda mais grave: a resistência de bactérias aos antibióticos.

Um novo estudo da Universidade de Boston revelou algo alarmante: os microplásticos não apenas favorecem a formação de biofilmes bacterianos — uma espécie de “comunidade protetora” para os microrganismos — como também aumentam a resistência aos antibióticos da Escherichia coli (ou E. coli), uma bactéria comum e perigosa, frequentemente associada à contaminação de alimentos e água.

Como os microplásticos estão fortalecendo bactérias perigosas

No experimento, os cientistas testaram de que forma os diferentes tipos de microplásticos – como poliestireno e polietileno – afetam a E. coli. O resultado? Formação de biofilmes mais espessos e bactérias mais resistentes, mesmo após dias sem exposição a antibióticos. A presença de microplásticos aumentou a resistência da bactéria a vários medicamentos, incluindo ciprofloxacino e estreptomicina.

A E. coli é um dos principais patógenos de origem alimentar, e sua resistência crescente a antibióticos pode dificultar ainda mais o tratamento de surtos alimentares.

E isso não é tudo.

Outros estudos têm reforçado essa relação perigosa:

Por que isso importa?

A Organização Mundial da Saúde já declarou que a resistência antimicrobiana é uma das 10 maiores ameaças à saúde global. Estima-se que cerca de 5 milhões de pessoas morrem anualmente por infecções resistentes a medicamentos. Se adicionarmos à equação a onipresença de microplásticos em nossos oceanos, rios, alimentos – e até em nossos corpos – a situação fica ainda mais alarmante.

O ciclo vicioso do plástico

Os microplásticos agem como uma espécie de “condomínio de luxo” para as bactérias: oferecem abrigo, proteção contra antibióticos e até nutrientes. Isso favorece o crescimento de biofilmes mais densos e resistentes. Além disso, quando absorvem antibióticos presentes no ambiente, esses plásticos ajudam a treinar as bactérias para resistirem aos medicamentos.

Esse cenário já foi observado em estações de tratamento de esgoto e em ambientes marinhos e até mesmo no transporte de bactérias multirresistentes em ambientes urbanos.

E agora?

Esse problema não tem solução simples, mas exige ações urgentes:

  • Redução do uso de plásticos descartáveis: repensar hábitos e priorizar materiais reutilizáveis.

  • Avanços na gestão de resíduos plásticos: melhorar sistemas de coleta, reciclagem e tratamento.

  • Investimentos em pesquisa: entender melhor como essas partículas interagem com microrganismos é fundamental para conter essa ameaça.

Como consumidores, também podemos fazer nossa parte: questionar marcas, apoiar políticas sustentáveis e reduzir o consumo de plásticos sempre que possível.

Leia também: 

Nova página do FDA: o que precisamos saber sobre microplásticos e nanoplásticos em alimentos

O perigo dos microplásticos em moluscos bivalves

Microplásticos e nanoplásticos em alimentos

A ciência já deu o alerta. Vamos continuar alimentando o problema ou escolher agir antes que seja tarde demais?

Imagem: Stijn Dijkstra

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Convite para nosso 14º Food Safety Brazil Meeting: “Lubrificantes em foco: segurança dos alimentos e sustentabilidade”

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No próximo dia 24 de abril, às 14h, teremos esse encontro imperdível, online e gratuito, que traz o tema “Lubrificantes em foco: segurança dos alimentos e sustentabilidade” e você está super convidado!

Por que participar?!

O evento conta com palestrantes renomados e com muita experiência no assunto, que com certeza vão enriquecer nossa visão sobre lubrificantes, segurança de alimentos e sustentabilidade. Veremos também a forma como esses temas interagem dentro da rotina operacional e o impacto que exercem na segurança do consumidor.

Vanessa Amaral, colunista Food Safety Brazil e Raúl Colombo Díaz, gerente de contas globais da divisão de alimentos da Fuchs falarão sobre o papel crucial dos lubrificantes na cadeia produtiva, além de tendências normativas, parâmetros já existentes e detalhes sobre o que está se falando sobre o assunto ao redor do mundo.

O que esperar?

Dando um “spoiler” para deixar vocês com água na boca, vejam o nível dos assuntos que estão rolando nos bastidores do evento:

Identificação de perigos químicos e alergênicos no universo de lubrificantes para indústria de alimentos

Impactos no APPCC e análise de risco coerente com a realidade operacional

Capacitação de pessoas envolvidas com o APPCC e planos de lubrificação

Boas Práticas de Lubrificação e de Armazenamento de Lubrificantes

Aperfeiçoamento de formulações

Tendências regulatórias

Entendendo as certificações e os certificados Food Grade

Dá para perceber o nível das discussões, não é mesmo? Não dá pra perder!

Benefícios de participar

  • Atualização de conhecimentos: mantenha-se à frente das tendências e regulamentos que impactam o setor;
  • Networking: conecte-se com profissionais, especialistas e empresas antenadas em segurança de alimentos e sustentabilidade;
  • Certificado de participação: receba um certificado que pode enriquecer seu currículo e destacar seu compromisso com a segurança de alimentos.

Como se inscrever?

Nosso 14º Food Safety Brazil Meeting será um evento online e gratuito, e para se inscrever, basta clicar neste link.

As vagas são limitadas, então não deixe para a última hora!

Venha fazer parte de uma mudança significativa em um setor vital. Juntos podemos promover a segurança dos alimentos e a sustentabilidade de maneira eficaz e inovadora. Esperamos vocês e tragam suas dúvidas!

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