Você sabia que o bacon, o presunto e a salsicha que você consome contêm um conservante que a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou na mesma categoria de risco que o tabaco e o amianto? Sim, é verdade. Trata-se do nitrito.
Em 2015, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) deu o alarme sobre os nitritos em carnes processadas, ligando-os diretamente ao câncer. Uma década depois, esses aditivos continuam em quase 90% dos produtos nas prateleiras dos supermercados. A pergunta de um milhão de dólares é: por quê?
A desculpa da segurança
A indústria tem uma resposta pronta: botulismo. A narrativa oficial é que o nitrito é um escudo essencial contra essa contaminação alimentar fatal. No entanto, críticos afirmam que essa é uma cortina de fumaça. O argumento do botulismo só ganhou força nos anos 1970, exatamente quando a ligação entre nitritos e câncer tornou-se forte demais para ser ignorada.
Especialistas como o Professor Chris Elliott, da Queen’s University Belfast, afirmam que a ameaça do botulismo em carnes curadas modernas é “refutada” e que a inércia política continua a causar mortes “evitáveis” por câncer.
A verdade é mais crua: mudar o sistema custa caro. A indústria e os varejistas estão presos em um ciclo de inércia, onde o medo de perder a vida útil dos produtos e a hesitação em alterar fórmulas tradicionais falam mais alto. O resultado? Um progresso glacial. No Reino Unido, em dez anos, a presença de nitritos em embutidos caiu apenas 3,1%.
Enquanto isso, países como a França mostram que a mudança é possível, com metade do seu presunto já sendo vendido sem nitritos. Eles provam que existem alternativas, como o uso de extratos vegetais e métodos de cura tradicionais, que funcionam perfeitamente.
O lado bom e o lado mau do nitrato
Eis a grande reviravolta: nem todo nitrato é um vilão. Na verdade, mais de 80% dos nitratos que consumimos vêm de vegetais como espinafre, beterraba e rúcula. No nosso corpo, esses nitratos se convertem em óxido nítrico, uma molécula fantástica que melhora a saúde do coração e reduz a pressão arterial.
O problema mora na carne processada. Lá, na ausência de antioxidantes (como a vitamina C, presente nos vegetais) e sob altas temperaturas, os nitritos se transformam nas temidas nitrosaminas, as verdadeiras vilãs por trás do risco de câncer.
A mudança nas leis pode ser lenta, mas o seu poder como consumidor é imediato. A recomendação da OMS é clara: limite o consumo de carnes processadas. Da próxima vez que for ao supermercado, vire a embalagem. Procure por informações como “sem adição de nitritos”.
Ao escolher produtos mais seguros, você não está apenas protegendo sua saúde, mas também enviando uma mensagem clara para a indústria. Vote com o seu garfo.
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Recentemente, a Anvisa reforçou um alerta que merece atenção de todos os que produzem, manipulam ou comercializam alimentos: plásticos não são, e nunca foram, ingredientes alimentares! É um esclarecimento muito importante porque trata do perigo dos microplásticos em alimentos.
O polipropileno micronizado (PP) é uma substância plástica presente em alguns glitters e pós “decorativos” vendidos como se fossem comestíveis. Embora tenham aparência atraente e sejam amplamente usados para dar brilho a bolos, doces e sobremesas, esses produtos podem conter microplásticos. E o risco vai além da estética: quando ingeridos, essas micropartículas podem provocar irritações gastrointestinais, inflamações e efeitos cumulativos no organismo.
As Instruções Normativas nº 211/2023 e nº 286/2024 são claras: somente corantes e aditivos alimentares listados pela Anvisa podem ser utilizados em produtos de confeitaria. Ou seja, qualquer insumo que não conste nessas listas — mesmo que seja vendido como “glitter comestível” ou “pó decorativo” — não pode ser usado em alimentos.
Garantir a segurança dos alimentos depende de boas práticas e de uma análise crítica dos insumos utilizados. Para evitar riscos, vale seguir algumas orientações:
Compre apenas insumos registrados como alimentícios, de fornecedores confiáveis e com regularização sanitária;
Leia sempre o rótulo completo — não confie em embalagens sem CNPJ, validade ou lista de ingredientes;
Treine sua equipe para reconhecer a diferença entre produtos “decorativos” (de uso externo) e aqueles realmente comestíveis;
Em caso de dúvida, procure orientação técnica junto a um responsável pela qualidade, consultor ou autoridade sanitária.
A Anvisa cumpre seu papel ao estabelecer normas e publicar listas oficiais de aditivos e ingredientes permitidos. Porém, a responsabilidade pela aplicação dessas regras é de quem produz, manipula e comercializa alimentos. Conhecer a legislação e aplicá-la corretamente é parte essencial da cultura de segurança dos alimentos.
No fim das contas, o alimento só deve “brilhar” se for seguro. Segurança dos alimentos é respeito à saúde de quem confia no seu produto — e isso é o que realmente faz uma confeitaria se destacar.
Veja também outros posts já publicados por aqui sobre o perigo dos microplásticos:
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Você já parou para ler os rótulos dos alimentos que consome? Em meio a tantos nomes estranhos, um em particular tem gerado grande debate e preocupação entre cientistas e autoridades de saúde: o dióxido de titânio (TiO2), também conhecido como corante E171. Ele é usado para dar mais brilho e brancura a milhares de produtos, de doces a medicamentos, mas pode estar colocando a sua saúde em risco de formas que só agora começamos a entender.
O que é o dióxido de titânio e onde ele se esconde?
O dióxido de titânio é um pigmento branco, em pó, amplamente utilizado pela indústria alimentícia para tornar os produtos mais atraentes visualmente. Ele pode estar presente em uma vasta gama de itens do nosso dia a dia, como:
Doces e guloseimas: balas, chicletes, chocolates e coberturas
Produtos de panificação: pães, biscoitos e bolos.
Laticínios e derivados: queijos, requeijão e iogurtes.
Molhos, sopas e caldos industrializados.
Bebidas em pó e cereais matinais.
Além dos alimentos, o E171 também é encontrado em medicamentos (revestindo cápsulas), cosméticos (pastas de dente, protetores solares) e tintas. O problema reside na forma como ele é produzido: uma porção significativa do dióxido de titânio usado na indústria alimentícia está na forma de nanopartículas, partículas ultrafinas que podem se comportar de maneira imprevisível no corpo humano.
Alerta vermelho: os riscos que a ciência aponta
Recentes estudos científicos têm acendido um alerta sobre os potenciais efeitos tóxicos do dióxido de titânio, especialmente quando em sua forma nanométrica. A preocupação é tão grande que a União Europeia proibiu o uso do E171 como aditivo alimentar em 2022.
A ameaça da genotoxicidade
A principal razão para a proibição na Europa foi a conclusão da Autoridade Europeia de Segurança de Alimentos (EFSA) de que não era possível descartar a genotoxicidade do aditivo. Em outras palavras, não há como garantir que o consumo de partículas de dióxido de titânio não danifique o DNA das células, o que, em última instância, pode levar ao desenvolvimento de câncer.
“Levando em conta todos os estudos científicos e dados disponíveis, o Painel concluiu que o dióxido de titânio não pode mais ser considerado seguro como aditivo alimentar. Um elemento crítico para chegar a esta conclusão é que não pudemos excluir preocupações de genotoxicidade após o consumo de partículas de dióxido de titânio”, disse o Prof. Maged Younes, Presidente do Painel de Aditivos Alimentares da EFSA, em 2021.
Desregulação endócrina e o risco de diabetes
Uma pesquisa recente, publicada em 2025 e destacada pelo jornal The Guardian, trouxe novas e alarmantes descobertas. O estudo, conduzido em camundongos, revelou que as nanopartículas de dióxido de titânio podem atuar como um desregulador endócrino, afetando o sistema hormonal intestinal.
Os pesquisadores observaram que o aditivo:
Interrompe a resposta hormonal à comida: afeta os hormônios que sinalizam a saciedade e auxiliam na digestão.
Desregula os níveis de açúcar no sangue: os camundongos expostos às nanopartículas apresentaram níveis de glicose muito mais elevados.
Essas alterações estão diretamente ligadas a um maior risco de desenvolver obesidade, resistência à insulina e diabetes tipo 2.
Acúmulo no organismo e outros danos
Apesar de a absorção do dióxido de titânio ser baixa, as partículas podem se acumular em diversos órgãos ao longo do tempo, como fígado, baço e intestinos. Estudos também associam o aditivo a outros problemas de saúde, como:
Inflamação e lesões intestinais
Neurotoxicidade (danos ao sistema nervoso)
Imunotoxicidade (danos ao sistema imunológico)
O cenário no Brasil e no mundo: um jogo de espera
Enquanto a União Europeia adotou uma postura de precaução, a situação em outros países, incluindo o Brasil, é mais complexa. Compare os cenários:
União Europeia: Proibido como aditivo alimentar desde 2022.
Estados Unidos: Permitido. A FDA (agência reguladora dos EUA) ainda considera o aditivo seguro.
Brasil: Permitido, mas em reavaliação. A ANVISA incluiu o E171 em sua agenda de reavaliação e, desde 2021, não concede novas autorizações de uso. No entanto, o aditivo continua permitido em 37 categorias de alimentos, aguardando um parecer final do comitê de especialistas da OMS/FAO.
Canadá e Reino Unido: Agências reguladoras desses países publicaram relatórios que divergem da conclusão da EFSA, afirmando não haver evidências conclusivas de risco à saúde nas formas e quantidades atualmente consumidas.
Como o consumidor pode se proteger?
Diante da incerteza e das evidências conflitantes, a melhor atitude para o consumidor é a precaução. Aqui estão algumas dicas:
Leia os rótulos: procure por “dióxido de titânio” ou “E171” na lista de ingredientes.
Cobre posicionamento: questione as marcas e as autoridades de saúde sobre o uso deste e de outros aditivos controversos.
Embora a ciência continue a debater o nível exato de risco, as evidências que se acumulam sugerem que o dióxido de titânio é um aditivo desnecessário e potencialmente perigoso.
A decisão da Europa de proibi-lo serve como um forte sinal de que, quando se trata de segurança de alimentos, o princípio da precaução deve sempre prevalecer. Cabe a nós, consumidores, estar informados e fazer escolhas conscientes para proteger a nossa saúde.
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O brilho característico dos glitters comestíveis conquistou espaço nas confeitarias, redes sociais e celebrações de todo tipo. No entanto, nem todo brilho é tão inofensivo quanto parece e pode trazer riscos ao consumidor. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) emitiu um comunicado alertando sobre glitter que contenha em sua composição polipropileno (PP) micronizado, devido ao potencial risco à saúde dos consumidores. O assunto veio à tona após alguns vídeos viralizados nas redes sociais, que mostravam o rótulo do glitter adquirido em lojas que fornecem materiais para o preparo de doces e bolos. O rótulo informava a presença de polipropileno (PP) micronizado como ingrediente.
A Anvisa realizou um pronunciamento por meio de seu site oficial, reforçando a proibição do PP micronizado em produtos alimentícios:
Anvisa esclarece que plásticos, incluindo o polipropileno (PP) micronizado, não estão autorizados para uso na composição de alimentos, sejam eles preparados ou industrializados.
Portanto, nenhum pó decorativo/glitter que contenha o chamado “PP micronizado” pode ser usado em produtos de confeitaria ou para decoração de alimentos. Esses materiais são permitidos apenas em objetos decorativos não comestíveis, como, por exemplo, cenários para decoração temática de festas.
Reforçou ainda que:
Os produtos usados para colorir bolos, doces e similares, tanto em confeitarias como no ambiente doméstico, são considerados alimentos. Por isso, devem ser fabricados a partir de ingredientes e aditivos alimentares (que incluem os corantes e outros produtos que servem para alterar a cor, textura e sabor dos produtos) previamente autorizados pela Anvisa. Essa autorização é feita após uma avaliação da segurança para o consumo da população.
E quais os riscos da ingestão de microplásticos, que é o caso do PP micronizado?
Os efeitos adversos da ingestão direta ou indireta de microplásticos estão sendo discutidos com afinco atualmente. Alguns estudos científicos revelam evidências de processos inflamatórios relacionados à presença de plástico no intestino humano e já constataram até a presença de microplásticos no coração humano.
Para saber mais sobre microplásticos, indico os seguintes posts já publicados aqui no blog:
E diante de tal cenário, acabou o glamour das produções realizadas nas confeitarias? A resposta é NÃO! Por isso, é importante saber que alguns cuidados devem ser tomados ao eleger o glitter a ser utilizado nas produções.
Cuidados ao escolher os produtos para decoração de alimentos
Fique atento à lista de ingredientes: se houver menção ao PP micronizado na composição, FUJA! Os aditivos autorizados para utilização em alimentos podem ser encontrados neste site disponibilizado pela Anvisa.
Verifique se o rótulo contém a denominação de venda destinada à utilização para alimentos, como por exemplo “Glitter para fins alimentícios”, “corante artificial para fins alimentícios” e etc.
Cheque validade, lote e empresa que fabrica o produto.
Declaração da ausência e presença de glúten
Encontrei glitter comercializado para fins alimentícios com PP micronizado na composição; o que fazer?
A Anvisa reforça que essa prática deve ser denunciada. A denúncia pode ser realizada na unidade local da Vigilância Sanitária da cidade onde você reside, por meio dos canais fornecidos ou pode ser realizada diretamente por meio do site, no endereço https://www.gov.br/anvisa/pt-br/canais_atendimento
É importante colher o máximo de informações possíveis para auxiliar na investigação, como por exemplo:
a marca e a denominação;
as instruções de uso (quando presentes);
os dados do fabricante e/ou distribuidor (razão social e CNPJ);
a lista de ingredientes/composição, lote e data de validade.
Com essas informações, você pode fazer seu papel de cidadão consciente e ajudar a manter a segurança dos alimentos, afinal o brilho pode até encantar os olhos… mas não deve ir para o estômago!
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Nos últimos anos, muitos casos de contaminação de alimentos demonstraram o risco em relação ao uso do óxido de etileno. Esse gás inflamável, conhecido no setor como ETO, pode ser empregado como agente esterilizante. Tal uso se justifica por sua capacidade de inativar microrganismos danificando o seu DNA, sendo esta a mesma propriedade que o classifica como cancerígeno.
ETO e suas aplicações
O óxido de etileno pode ser utilizado na esterilização de instrumentos médicos que não resistem ao calor ou à radiação. Pode também ser aplicado na esterilização de especiarias e vegetais desidratados para reduzir a presença de microrganismos como Salmonella e E. coli, principalmente quando métodos térmicos comprometeriam o aroma, o sabor ou a textura desses produtos.
ETO e sua toxicidade
Porém, os efeitos tóxicos associados ao ETO levaram os órgãos reguladores a reavaliar a sua aplicação no ramo alimentício. Instituições como a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC/OMS) e o National Cancer Institute dos Estados Unidos, classificam o ETO como uma substância carcinogênica. Aqui no Brasil a ANVISA apresenta o mesmo entendimento, categorizando o óxido de etileno como carcinogênico, mutagênico e genotóxico.
ETO e sua regulamentação
Como consequência, a ANVISA proibiu o uso do óxido de etileno em alimentos no Brasil. Além disso, a RDC 826/2023 estabeleceu um limite máximo residual (0,01 mg/kg) para óxido de etileno somado ao 2-cloroetanol, sendo este um valor mais restritivo do que o adotado pela União Europeia. É importante salientar que esse limite serve para monitorar possíveis contaminações não intencionais e não está relacionado a nenhuma aprovação de uso do ETO desde que apresente residual menor que o LMR estabelecido.
ETO em especiarias
Um ponto relevante é que especiarias e ervas secas, por exemplo, apesar de sujeitas às regras sanitárias, são isentas de registro. Isso significa que sua fiscalização ocorre somente após a entrada do produto no mercado, aumentando assim a possibilidade de contaminações passarem despercebidas até sua distribuição e consumo.
Além disso, as características da extensa cadeia de produção dessas matérias-primas favorecem tais vulnerabilidades, como a rastreabilidade limitada e a exportação realizada através de diversos intermediários. É neste cenário que alguns fornecedores acabam recorrendo ao ETO como forma rápida de reduzir cargas microbianas quando as condições de produção não asseguram as boas práticas exigidas.
Esses casos moldaram não apenas as regulamentações, como também fizeram com que o mercado passasse a exigir, cada vez mais, declarações formais confirmando a ausência de uso de ETO ou a conformidade com os limites estabelecidos, os chamados ETO Statements. Assim, mesmo onde seu uso em alimentos é proibido, as declarações e monitoramento analítico tornaram-se indispensáveis nos processos de importação, exportação e auditorias de fornecedores.
Em resumo, a discussão sobre o uso do óxido de etileno envolve tanto a necessidade de equilibrar o controle microbiológico dos alimentos como também a proteção à saúde do consumidor. Além disso, a diferença entre legislações internacionais evidencia a complexidade do tema regulatório, como a permissão de aplicações nos Estados Unidos e a restrição completa na União Europeia e no Brasil. Dessa maneira, a exigência de comprovação da não utilização de ETO por meio de declarações e análises segue sendo uma medida essencial para garantir a transparência e segurança de alimentos.
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O post de hoje é uma entrevista com o Dr. Rafael Ribeiro Gonçalves Barrocas, auditor fiscal federal agropecuário do MAPA há 18 anos. Ele é mestre em Gerenciamento da Qualidade de Alimentos pela Wageningen University (Holanda), agrônomo formado pela UFV e coautor do estudo Identificação de perigos biológicos, químicos e físicos em alimentos de origem vegetal: Riscos associados, rotas de contaminação e medidas de controle. Este estudo contém um guia com um mapeamento claro dos principais perigos associados a alimentos vegetais, facilitando a elaboração do plano APPCC e a adoção de medidas preventivas eficazes. Foi apresentado no VII Workshop Food Safety Brazil, em Porto Alegre, RS, em agosto de 2025.
1 – Dr. Rafael, pode nos contar como surgiu a ideia de criar o guia?
A ideia surgiu da constatação da carência, no Brasil, de um material técnico-científico consolidado que auxiliasse o setor produtivo e o serviço oficial na identificação de perigos em alimentos de origem vegetal.
Com o aumento das exigências sanitárias nos mercados internacionais e a necessidade de fortalecer os controles baseados em risco, entendemos que um guia robusto e sistematizado seria uma ferramenta estratégica para apoiar tanto a implantação do APPCC nas empresas quanto a fiscalização oficial, principalmente no escopo do Programa de Segurança de Alimentos de Origem Vegetal (PSAOV) da SDA/MAPA.
2 – Como foi definida a metodologia para avaliação do estudo? Quais os principais critérios para definição dos riscos?
A metodologia adotada envolveu uma extensa revisão bibliográfica nacional e internacional, coleta de dados oficiais de monitoramento (como o PNCRC/Vegetal), consulta a publicações científicas e relatórios de agências reguladoras, como FDA, EFSA, ANVISA e CFIA.
Para definição dos riscos, levamos em conta três critérios principais: a severidade do perigo para a saúde humana, a frequência de ocorrência nas cadeias produtivas brasileiras e o potencial de disseminação ao longo da cadeia alimentar. O material foi estruturado segundo as categorias de perigos (biológicos, químicos e físicos), com detalhamento por produto ou grupo de alimentos vegetais.
3 – Quais foram os maiores perigos encontrados? Em quais alimentos?
Entre os perigos biológicos, destacam-se patógenos como Salmonella spp., Escherichia coli O157:H7 e Listeria monocytogenes, especialmente em hortaliças folhosas consumidas cruas (para mais informações sobre parasitas em vegetais, leia Risco microbiológico de parasitas protozoários em alimentos).
Já nos perigos físicos, fragmentos de vidro, metais e plásticos rígidos foram relatados com frequência em alimentos industrializados. Esses achados reforçam a necessidade de controles integrados em todas as etapas da cadeia, da produção primária ao processamento.
4 – Pensando em avaliação de risco, como os produtores de alimentos podem aproveitar este guia para trazer mais segurança aos processos?
Pequenos e médios produtores, que nem sempre têm acesso a consultorias especializadas, podem usar o material como referência técnica para implementar boas práticas agrícolas, higienização, rastreabilidade e monitoramento ambiental. Além disso, ao incorporar esse tipo de abordagem, os produtores ganham maior previsibilidade nas auditorias e mais competitividade em mercados exigentes.
5 – Quais as principais conclusões do estudo?
A principal conclusão é que a inocuidade de alimentos vegetais depende de uma abordagem integrada e baseada em risco. O estudo mostra que muitos perigos podem ser controlados com medidas relativamente simples, como manejo adequado da água de irrigação, controle de temperatura, capacitação de manipuladores e programas de higiene estruturados.
Também reforça a importância do alinhamento entre setor regulado e serviço oficial, com base em critérios técnicos e objetivos. O guia contribui para esse alinhamento ao oferecer uma base comum de conhecimento.
6 – Pensando no futuro, há planejamento de produção de novos guias para outras categorias de alimentos?
Sim. A equipe técnica da DIPOV/SDA já discute a ampliação do escopo, com foco em alimentos minimamente processados, polpas de frutas congeladas, grãos e sementes destinadas ao consumo humano.
O objetivo é que o guia se consolide como uma referência viva e atualizada dentro do Programa de Segurança de Alimentos de Origem Vegetal (PSAOV) do DIPOV, contribuindo continuamente para elevar o padrão de segurança dos alimentos vegetais no Brasil.
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Estas e outras dúvidas certamente passam pela cabeça de muitas pessoas na hora de armazenar ou de preparar os alimentos em casa. A boa notícia é o lançamento de um guia prático, que esclarece estas e outras dúvidas rapidamente. Trata-se do Manual Prático: Como Cuidar dos Alimentos Dentro de Casa,de autoria de Carina Moro Benis, disponível gratuitamente aqui.
Carina (foto) tem graduações em Tecnologia de alimentos e em Nutrição e atualmente é doutoranda do programa de Ciência de Alimentos da Universidade Estadual de Londrina. O blog conversou com ela para saber mais detalhes deste projeto.
Como surgiu o manual
Durante sua dissertação de mestrado, Carina participou de um projeto de implantação de boas práticas de manipulação de alimentos na merenda escolar de Londrina, PR. Nesse período, teve início a pandemia de Covid-19, e todos os alunos atendidos pelo projeto, assim como boa parte da sociedade, passaram a permanecer em casa.
Nesse contexto, surgiu a oportunidade de avaliar, por meio de um questionário, como as famílias desses alunos cuidavam dos alimentos em casa. “A partir das respostas, percebi que existiam muitas dúvidas e práticas incorretas de manipulação, oferecendo risco à saúde de um público que, em grande parte, era vulnerável”, diz a autora. “Diante dessa realidade, pensei em criar um material didático e acessível, que pudesse orientar as famílias sobre como garantir alimentos seguros dentro de casa, prevenindo doenças transmitidas por alimentos e água”, complementa.
O manual traz informações práticas para todas as etapas da manipulação de alimentos, incluindo higiene pessoal e da cozinha, escolha, higienização e armazenamento dos alimentos, preparo e pós-preparo, prevenção da contaminação cruzada, uso de detergentes, manejo do lixo doméstico, leitura de rótulos e verificação da validade dos alimentos.
“Neste manual, tomei muito cuidado para orientar de forma simples, evitando polêmicas e explicações longas. O objetivo é atingir não apenas as famílias que participaram da pesquisa, mas também qualquer outra pessoa que o consultar, ajudando a tornar o cuidado com os alimentos mais seguro e parte do cotidiano”.
Carina agradece a participação das professoras Wilma Spinosa e Fernanda Bana, coordenadoras do projeto, de Rafael Françoso, que cuidou da parte gráfica e de Humberto Soares, pela colaboração geral.
2min leituraDevo lavar os ovos antes de colocá-los na geladeira? E a carne, por que não posso descongelar fora da geladeira? Estas e outras dúvidas certamente passam pela cabeça de muitas […]
O post de hoje tem um toque macabro e diferente das pautas aqui do Food Safety Brazil. Sabemos dos estragos que as doenças causadas por alimentos provocam no organismo, mas eu nunca havia tido contato com uma abordagem clara da perspectiva da análise de um cadáver.
Auxiliar o médico patologista a descrever esses danos e caracterizar a “causa mortis” é o trabalho de Raiane Priscila, dona do perfil @diariodenecropsiaofc no Instagram. Profissional da área de biomedicina, ela compartilha conteúdos sobre necropsia, anatomia e rotina laboratorial. Ela se tornou popular por mostrar com naturalidade e didatismo o dia a dia de quem atua com cadáveres e análises post-mortem.
Como é possível imaginar, os temas das postagens são tão variados quanto as patologias humanas. As doenças transmitidas por alimentos representam uma pequena parte da rotina destas avaliações dos pacientes encaminhados por hospitais.
O perfil costuma alertar sobre conteúdo sensível, já que lida com imagens reais de cadáveres e procedimentos médicos.
Eu fiz uma curadoria de casos em que os estragos causados por ingestão de alimentos culminaram em óbito. Para quem já se arrepiou e está com receio de abrir os links, explico que nestes posts em particular não há imagens fortes, somente relatos minuciosos sobre órgãos e características dos cadáveres. Também são fornecidas informações técnicas como “local de amostragem” dos corpos para tirar fragmentos para análises laboratoriais.
2min leituraO post de hoje tem um toque macabro e diferente das pautas aqui do Food Safety Brazil. Sabemos dos estragos que as doenças causadas por alimentos provocam no organismo, mas […]
O uso consciente de aditivos na indústria de alimentos é fundamental para assegurar segurança, qualidade, sabor, aparência e vida útil dos produtos, sem comprometer a saúde do consumidor.
Aditivos são substâncias adicionadas intencionalmente para cumprir funções específicas, como conservantes que inibem microrganismos, antioxidantes que atrasam a oxidação, corantes e aromatizantes que melhoram aparência e paladar, além de emulsificantes e estabilizantes que mantêm a textura estável. Eles são regulamentados por autoridades competentes, que estabelecem limites de uso, condições de aplicação e avaliação de risco para cada substância.
Os princípios do uso consciente incluem segurança, transparência, justificativa tecnológica, redução e controle. A segurança envolve a aprovação oficial de cada aditivo e a observância de limites, incluindo a Ingestão Diária Admissível (IDA) quando pertinente. A transparência exige rotulagem clara, com nomes ou códigos (como os códigos E em alguns sistemas), para facilitar a compreensão do consumidor. A justificativa tecnológica requer que cada aditivo tenha função comprovável e útil no produto, evitando uso indiscriminado apenas por conveniência econômica. A redução implica buscar alternativas naturais, mudanças de processo ou formulações que diminuam a necessidade de aditivos artificiais, além de otimizar formulações já existentes. O controle de qualidade demanda monitoramento rigoroso de matérias-primas, condições de processamento e higiene para evitar contaminações que possam aumentar a necessidade de aditivos adicionais.
Boas práticas na indústria envolvem a implementação de sistemas de gestão de qualidade, como HACCP, que ajudam a identificar pontos críticos onde aditivos são necessários e onde podem ser reduzidos ou eliminados. A validação de processos assegura que a função do aditivo é efetiva sem exceder limites. O treinamento contínuo de equipes sobre regulamentação, rotulagem, segurança e boas práticas de fabricação é essencial para manter a conformidade. Além disso, investir em pesquisa e desenvolvimento é crucial para explorar alternativas naturais, ingredientes com estabilidade intrínseca e tecnologias de processamento que minimizem a dependência de aditivos artificiais, mantendo a segurança e a qualidade.
Desafios atuais incluem equilibrar segurança, custo, aceitação do consumidor e inovação. A harmonização regulatória entre países exige conformidade ampla e atualização constante diante de novas evidências científicas. A percepção pública de “químicos” na alimentação ressalta a importância da educação, da comunicação clara e de informações acessíveis que expliquem as funções dos aditivos, seus limites e os benefícios para a segurança e a qualidade sensorial.
O papel do consumidor é ativo nesse cenário. Ler rótulos com atenção, compreender termos técnicos e conhecer os nomes dos aditivos ajuda a fazer escolhas mais informadas. Buscar informações em fontes confiáveis, como agências regulatórias, organizações de ciência de alimentos e estudos revisados por pares, fortalece a capacidade de discernimento. Optar por produtos que adotem abordagens responsáveis de uso de aditivos, que explorem ingredientes naturais quando possível e que demonstrem compromisso com a transparência, reforça hábitos de consumo mais sustentáveis.
Em síntese, o uso consciente de aditivos na indústria de alimentos é essencial para equilibrar inovação tecnológica, segurança e saúde pública. Quando regulamentos são cumpridos, práticas são transparentes e a comunicação com o público é adequada, é possível alcançar produtos seguros, funcionais e atraentes, com menor impacto negativo sobre a saúde e o meio ambiente. O caminho passa pela fiscalização eficaz, pela pesquisa responsável e pela participação informada do consumidor, que, por sua vez, contribui para a melhoria contínua de toda a cadeia de produção alimentar.
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O Food Safety Brazil recentemente postou uma matéria sobre o metanol e bebidas adulteradas. Não obstante, devido ao fato deste assunto (infelizmente) não sair das redes sociais e do imaginário coletivo dos consumidores, resolvemos contribuir com mais um post, com intuito de trazer uma outra abordagem (ou apenas complementar outros posts) sobre este importante tema.
Você sabia que uma única dose de bebida adulterada pode ser suficiente para deixar sequelas irreversíveis, ou até tirar uma vida?
Somente em setembro deste ano, só na Grande São Paulo, pelo menos três pessoas morreram após consumir bebidas alcoólicas adulteradas com metanol. E outras dezenas acabaram internadas com sintomas graves, como perda de visão, coma e sequelas neurológicas. Este alerta é tão importante quanto urgente. O assunto não é só policial: é saúde pública, confiança do mercado e risco real para quem consome.
Talvez pareça algo distante, restrito a bares suspeitos ou festas clandestinas, mas a verdade é que a fraude pode estar em qualquer copo, em qualquer cidade.
O perigo nem sempre é visível: o metanol é transparente e praticamente não tem odor distinto. Por isso, entenda o que está por trás dessa ameaça.
Neste artigo você vai entender:
Como o metanol pode chegar às bebidas
Por que sua presença é tão perigosa
Como identificar sinais e sintomas em caso de intoxicação
O que produtores, comerciantes e consumidores podem fazer para reduzir riscos
Este artigo foi desenvolvido com a colaboração técnica do Dr. Igor Daniel Moreira Ferreira, CRM/ PE 24196, que revisou e contribuiu especialmente para a seção médica sobre toxicologia do metanol e condutas clínicas. A contribuição médica visou garantir a acurácia no detalhamento dos sinais, sintomas e orientações de urgência.
Numa linguagem bem simples, o metanol é um tipo de álcool que não deveria estar em nenhuma bebida. Ele é usado como combustível e solvente, mas quando ingerido pelo ser humano (por ingestão direta, absorção dérmica ou inalação), transforma-se em substâncias altamente tóxicas no fígado, primeiro em formaldeído e depois em ácido fórmico.
Essas substâncias “envenenam” o corpo de dentro para fora: provocam uma forte acidificação do sangue e afetam principalmente os olhos e o sistema nervoso central. É daí que vêm os relatos de pessoas que ficaram com a visão borrada, cegueira permanente ou até faleceram após consumir bebidas adulteradas com metanol.
Fontes naturais e de processo
Em frutas como maçãs, uvas e cítricos, a pectina presente nas cascas e polpas pode ser degradada por enzimas (como a pectina metilesterase), naturais da própria fruta ou produzidas por microrganismos presentes no mosto. Essa reação libera metanol, que pode se acumular e ser concentrado na destilação. Em destilados de frutas (ex.: algumas aguardentes frutadas), isso é relevante. Pequenas quantidades podem ser toleradas em processos naturais nos destilados de frutas, mas em níveis elevados são resultado de má prática ou fraude. A quantidade identificada na bebida ajuda a diferenciar se é “natural ou criminoso”.
Na cana-de-açúcar, a formação natural de metanol tende a ser menor, mas não é zero, dependendo do processo de matéria-prima e de eventuais contaminações microbiológicas.
Cortes de destilação malfeitos: durante a destilação, diferentes frações (“cabeça”, “coração” e “cauda”) concentram compostos distintos. O metanol tem ponto de ebulição mais baixo que o etanol e costuma concentrar-se nas frações de cabeça; se o operador de destilação não faz cortes apropriados ou usa equipamento impróprio, uma fração de metanol pode passar para o produto final. Em operações legais e controladas, as cabeças são descartadas; em operações amadoras ou sem técnica, o risco aumenta.
Adição deliberada de metanol ou álcoois industriais
O risco maior vem da adição intencional: uso de álcool combustível como matéria-prima para fabricar bebidas que são vendidas como cachaça, aguardente ou vodca. Esse álcool pode ser diluído em água e até receber óleo fúsel (resíduo de destilação) para simular características sensoriais. Esse tipo de prática não é comprovada em larga escala, mas é tecnicamente possível e representa risco gravíssimo. Só investigações periciais podem confirmar.
Misturar ou reprocessar álcool combustível/industrial para consumo humano é perigoso, ilegal e caracteriza fraude.
Erros e más práticas de armazenamento e manipulação
Diluições e reenchimento: abrir uma garrafa, misturar com outra substância e fechar novamente, ou a reutilização de embalagens com produtos de outras origens sem a devida descaracterização de rótulo, podem introduzir contaminantes e fazer com que esse item seja encaminhado para consumo humano, intencionalmente ou não.
Intersecção entre economia informal e crime organizado
Em mercados onde há forte pressão por preços baixos, sobra espaço para cadeias paralelas: fornecedores sem nota fiscal, pequenos revendedores, pontos de venda sem controle sanitário. Onde existe essa vulnerabilidade, esquemas criminosos (roubo de álcool, mistura com solventes, revenda em embalagens não identificadas) podem prosperar.
O que o consumidor não vê
O problema é que o metanol não altera significativamente o sabor ou cheiro. Muitas vezes, a bebida adulterada parece “normal”. Por isso, a percepção visual e a desconfiança em relação ao contexto de compra são essenciais.
Como identificar e investigar uma suspeita
Sintomas de alerta:
É importante entender que sintomas leves (dor de cabeça, enjoo, tontura) podem ser confundidos com “ressaca”, mas quando aparecem dificuldade para enxergar (visão turva, halos de luz ou neblina) ou alteração na respiração, é sinal de alerta. Nesses casos, não espere melhorar sozinho. Procure atendimento imediatamente e informe que pode ser intoxicação por metanol. Levar a garrafa ou uma amostra da bebida ao hospital pode ajudar a confirmar a causa.
O perigo é ainda maior porque os sintomas nem sempre aparecem imediatamente. Muitas vezes, a pessoa toma a bebida e só depois de várias horas, quando já não relaciona o mal-estar ao que bebeu, começam dores de cabeça, náuseas, tontura e visão embaçada. É o chamado “período de latência”, que atrasa o diagnóstico e agrava os riscos.
Quando a intoxicação evolui, podem surgir sintomas mais graves: respiração acelerada, convulsões, confusão mental, coma e falência de órgãos. É uma situação de urgência médica que exige hospitalização imediata.
Por isso, se alguém apresentar sintomas visuais ou neurológicos depois de consumir bebida alcoólica suspeita, deve procurar atendimento o quanto antes e avisar sobre a possibilidade de metanol, levando consigo, se possível, a garrafa ou amostra da bebida consumida. Isso ajuda a equipe médica a agir rápido, com os tratamentos disponíveis, como uso de antídotos e até hemodiálise, se for o caso.
Para identificação técnica a partir de amostras suspeitas
GC-FID / GC-MS (cromatografia gasosa com detector adequado) é o padrão-ouro para quantificar metanol e outros álcoois (etanol, propanol, butanóis e congêneres). A análise de headspace (espaço de cabeça) é recomendada para voláteis em matrizes alcoólicas.
Testes rápidos de campo: existem kits colorimétricos e tiras que apontam adulteração grosseira (não substituem GC), úteis para triagem em fiscalização; resultados positivos devem ser confirmados por laboratório credenciado.
Análise de congêneres e perfil isotópico: em investigações complexas, técnicas como isótopos estáveis podem ajudar a distinguir etanol produzido por fermentação de etanol industrial, e o “fingerprint” químico revela adulterações intencionais.
O Brasil conta com os CEATOX (Centros de Informação e Assistência Toxicológica), que oferecem orientação imediata para profissionais de saúde e população em casos de intoxicação e suspeitas de intoxicação. O contato pode ser feito pelo telefone 0800-722-6001 (Disque-Intoxicação), disponível 24h em todo o país.
A presença de metanol em bebidas não é um acidente: é o ponto de encontro entre processos mal conduzidos, adulteração criminosa e brechas de fiscalização. A proteção vem de três frentes: produtores responsáveis, fiscalização efetiva e consumidores atentos.
O que produtores, pontos de venda e consumidores devem reforçar
Controle rigoroso de fornecedores e notas fiscais.
Boas práticas de destilação: descarte de cabeças, controle de temperatura, manutenção preventiva de equipamentos.
Rotulagem e rastreabilidade de lotes.
Amostragem e ensaios periódicos para parâmetros básicos (teor alcoólico real versus declarado e testes para quantificar metanol).
Denúncia e cooperação com vigilância sanitária local quando houver suspeita.
Imagem: IA para o ebook “Do copo ao negócio: guia completo para empreender no mercado de bebidas
O que os consumidores devem observar na bebida antes do consumo
1. Caso compre a garrafa, observe se ela está bem lacrada.
2. Observe se há rasuras ou impressões de baixa qualidade no rótulo. No rótulo, devem constar as seguintes informações:
a. Nome do produto (denominação de venda conforme legislação)
b. Lista de ingredientes (em ordem decrescente de quantidade)
c. Volume (ml, L)
d. Teor alcoólico (quando for bebida alcoólica)
e. Lote (para rastreabilidade)
f. Validade, porém bebidas alcoólicas com 10% ou mais de álcool são isentas de declarar a validade
g. Identificação do fabricante (razão social, CNPJ, endereço)
h. Número de registro da bebida no órgão competente: MAPA para bebidas alcoólicas e grande maioria das outras bebidas (vinho, cerveja, cachaça, sucos industrializados etc.); ANVISA para certas bebidas não alcoólicas (ex.: energéticos, bebidas adicionadas de nutrientes, suplementos líquidos).
i. Advertências obrigatórias (quando aplicável: “Evite o consumo excessivo de álcool” (bebidas alcoólicas), informação sobre presença de glúten (“Contém Glúten” ou “Não Contém Glúten”), conforme Lei nº 10.674/2003 e outras declarações específicas (adoçantes, cafeína, alergênicos, conforme o caso e as normas da Anvisa).
3. Desconfie de bebidas com cor turva, sedimentos estranhos ou odor fora do esperado.
4. Prefira estabelecimentos comerciais formais e marcas de bebidas com procedência clara e conhecidas.
5. Desconfie de preços muito baixos e de bebidas vendidas em embalagens improvisadas, sem identificação ou reaproveitadas.
6. Em festas e pontos turísticos, prefira bebidas lacradas ao invés de porções fracionadas.
7. Ao menor sinal de alteração visual depois de beber, busque atendimento de urgência. Tempo é crítico no tratamento.
8. Consuma com moderação. Além da segurança física, o consumo consciente protege sua saúde em longo prazo.
9. E novamente, em caso de sintomas suspeitos, procure emergência médica imediatamente e acione o CEATOX (0800-722-6001).
Se viu algo suspeito (bebida vendida sem nota, garrafa com lacre rompido, rótulo suspeito e com ausência de informações e pessoas passando mal após consumir bebidas sem identificação), relate à Vigilância Sanitária municipal ou à polícia. Em caso de sintomas (conforme relatados neste artigo) após ingestão, procure emergência e informe que há suspeita de intoxicação por metanol e leve amostra da bebida, se possível.
No fim das contas, a fraude com metanol não é apenas sobre uma bebida adulterada: é sobre confiança. Confiança naquilo que se consome. Confiança no mercado que se frequenta. Confiança de que um momento de lazer não se transformará em tragédia. E, enquanto autoridades ampliam fiscalizações, a conscientização do consumidor é uma das armas mais poderosas contra esse tipo de crime.
Compartilhe este alerta com quem você conhece. E, antes de abrir a próxima garrafa, lembre-se: segurança começa pela escolha consciente.
Nosso agradecimento especial ao Dr. Igor Daniel Moreira Ferreira, cuja colaboração foi essencial para trazer informações médicas seguras e de fácil compreensão a este tema tão sensível.
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