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A IN 161/2022 na prática de uma indústria de laticínios

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A partir de 1 de setembro de 2022 entrou em vigor a IN 161/2022 (Instrução Normativa da  Anvisa), que estabeleceu o padrão microbiológico dos alimentos.

Pensando na rotina das indústrias e serviços de alimentação, a grande alteração que ela trouxe foi o aumento do número de amostras analisadas por lote.  O número passou de uma unidade analisada por lote para cinco unidades analisadas. O contraponto é o valor dessas análises para a realidade da indústria.

Enquanto gestor da qualidade da indústria onde você trabalha, alguns pontos importantes a considerar:

  • Você sabe analisar o que a IN 161/2022 solicita quanto ao plano de amostragem?
  • Você sabe quantas amostras, e de quais produtos, deve enviar para análise externa?

Abaixo, a imagem da IN 161/2022 com o requisito legal para queijos:

Na prática, como acontecem essas análises? O blog já trouxe um texto explicando os laudos de análise e como interpretá-los.

Dentro do plano de amostragem, determinamos o número de amostras que serão analisadas (n) e o número de amostras aceitável (c) entre os limites m e M.

Considerando as informações acima para queijos, vemos que, para enterotoxinas estafilocócicas e Salmonela, o padrão é ausência de patógenos nas 5 amostras analisadas.

Para os outros agentes devemos analisar 5 amostras (n), sendo que no máximo uma ou duas amostras (c) podem ter resultados de análise intermediários, que seriam entre m e M.

Por exemplo: para bolores e leveduras em queijos ralados ou em pó, das 5 amostras analisadas (n), duas (c) podem ter contagem entre 5×102 e 5×103 e nenhuma das amostras pode apresentar resultado superior a 5×103.

Para interpretar os resultados, temos os limites microbiológicos, que seriam valores máximos possíveis de serem encontrados em cada alimento para que ele seja considerado próprio para consumo.

Esse é o plano amostral de três classes, quantitativo. O resultado aceitável é contagem abaixo de m, resultado intermediário entre m e M e resultado inaceitável superior a M.

Pensando no dia a dia da indústria de queijos, uma única massa de queijo pode dar origem a vários itens de venda. Assim, o que deve ser enviado para análise externa considerando o plano de amostragem acima?

  • Caso você tenha, a partir de uma única massa, alguns itens de venda fracionados, mas embalados com frações de pesos diferentes, eles podem ser considerados um único item a ser analisado ou não?
  • Caso você tenha um mesmo item fracionado, mas que pode ser embalado para diferentes marcas (ou seja, a embalagem é diferente), ele devem ser consideradas um único item a ser analisado?

Esses são questionamentos pertinentes a serem feitos aos agentes fiscalizadores da unidade onde você trabalha.

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Separadores magnéticos sob a ótica do FSSC 22000

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Vocês devem estar acompanhando aqui no Food Safety Brazil as inúmeras novidades que a FSSC 22000 vêm trazendo ultimamente. Uma delas, já tratada aqui, é a cláusula ‘2.5.11 – Controle e medidas de prevenção a contaminação cruzada’, que incluiu o seguinte requisito:

d) Aplicam-se os seguintes requisitos relativos à gestão de corpos estranhos:

                       i.  A organização deve ter uma avaliação de risco em vigor para determinar a necessidade e o tipo de equipamento de detecção de corpo estranho. Caso a organização considere que nenhum equipamento de detecção de corpos estranhos é necessário, deve ser mantida justificativa como informação documentada;

                     ii.  Um procedimento documentado deve estar em vigor para o gerenciamento e uso do equipamento selecionado;

                   iii.  A organização deve ter controles para o gerenciamento de materiais estranhos, incluindo procedimentos para o gerenciamento de todas as quebras relacionadas à potencial contaminação física (ex.: metal, cerâmica, plástico rígido).

As organizações que buscam ou já possuem certificação devem conduzir uma avaliação de risco para determinar a necessidade e o tipo de equipamento de detecção de corpos estranhos (ex.: raio X, barras magnéticas, filtros e peneiras). Em caso positivo, é fundamental elaborar e implementar procedimentos documentados para gerenciar e utilizar o equipamento selecionado.

A presença de contaminantes, como metais, representa riscos à saúde dos consumidores e pode resultar em recalls de produtos, prejudicando a reputação da marca. Embora a prevenção deva ser o foco principal de qualquer programa de controle, é crucial adotar medidas de detecção de corpos estranhos para garantir a conformidade com as regulamentações de segurança de alimentos e preservar a integridade dos produtos.

No Brasil, a legislação que estabelece limites máximos tolerados para materiais estranhos em alimentos, incluindo fragmentos de metal, é a RDC nº 623/2022 (Anvisa), que substituiu a RDC nº 14/2014 (Anvisa).

Neste contexto, as barras ou os separadores magnéticos desempenham um papel significativo. Projetadas com ímãs de alta intensidade, são capazes de atrair e reter contaminantes metálicos ferrosos, como pregos e parafusos. Sua capacidade de detecção depende de vários fatores, como espaçamento entre os tubos, tipo de ímã e distância do produto. Bem instalado, permite até remoção de peças pequenas (detecção > 1 mm) em vários tipos de alimentos líquidos ou secos.

Ao contrário de outros equipamentos, estas não podem ser calibradas, somente inspecionadas, pois possuem uma força magnética que não pode ser mudada, somente pode diminuir por interferências externas.

As fontes de contaminação com material ferroso na indústria alimentícia são variadas, sendo comum ser proveniente de utensílios e embalagens de matérias-primas, mas grande parte das ocorrências são de manutenções inadequadas. Outras fontes de metal são resultadas de recebimentos inadequados, inclusão de objetos estranhos durante a manipulação por parte dos colaboradores acidentalmente ou não, materiais da embalagem, instalações e principalmente pelo estado de conservação dos equipamentos, como desgaste de rolamentos e perda de porcas e parafusos.

É importante destacar a diferença entre detectores de metais e separadores magnéticos. Enquanto os detectores de metais têm dificuldade em detectar peças menores que 2-3 mm de largura, especialmente se elas estiverem em uma orientação transversal através do produto, os separadores magnéticos são capazes de separar fragmentos magnéticos ainda menores, além de equilibrar a eficiência de detecção no momento em que nenhuma empresa quer desacelerar suas linhas de produção. Torna-se assim, mais importante a avaliação do uso da barra magnética para coletar contaminantes ferrosos que escapam à detecção dos detectores de metais ou máquinas de raio X.

Pensando nisso, separei bons artigos publicados recentemente aqui no blog sobre o uso da barra magnética e dicas de procedimentos para gerenciar e utilizar este equipamento de controle de metais ferrosos:

1 – A importância do laudo para equipamentos magnéticos na indústria alimentícia

A exigência para que se comprove o uso dos ímãs e de que se ateste essa eficiência por conta das novas normas e resoluções (ISO) mostra a importância de ter o laudo magnético, que é a verificação anual, feita por um técnico especialista e com equipamento com certificados rastreáveis e dentro da validade.

O autor do texto reforça que os ímãs trabalham para complementar o processo de controle junto com outros equipamentos, pois sua instalação requer um estudo da linha de produção para distribuir os equipamentos nos pontos críticos (HACCP) e com a capacidade magnética adequada para cada etapa. O post também traz dicas de como deve ser feita a manutenção, limpeza e treinamentos dos funcionários.

 2 – Quando uma barra magnética ou separador magnético é eficaz

Compreender a variedade e diferença entre os separadores magnéticos, os tipos metais que são retidos e os fatores (temperatura, design, características do produto) que influenciam sua eficácia é crucial para avaliar riscos e viabilidade. Além disso, o post exemplifica os dois principais testes para avaliar a performance do equipamento ao longo do uso.

É óbvio que um tema como este não se esgota nos artigos que já foram publicados. Você também pode dar sua contribuição com exemplos, desafios e preocupações atuais sobre o uso da barra magnética. Comente aqui.

Leia também:

  1. Perigos físicos ainda são contaminantes com riscos significativos em alimentos? [link]
  2. Qual limite devo adotar para matérias estranhas rígidas em alimentos? [link]
  3. Corpos estranhos em áreas de produção de alimentos [link]
  4. Corpos estranhos em alimentos podem ser detectados por micro-ondas [link]
  5. (Des) verificação de um detector de metais [link]

 

Referências:

  1. https://www.univates.br/bduserver/api/core/bitstreams/f332e776-9d9f-4755-86c4-ec0dd818565a/content
  2. https://www.unifacvest.edu.br/assets/uploads/files/arquivos/85b87-santos,-c.-r-dos.-fmea-analise-de-risco-de-%E2%80%9Ccorpos-estranhos%E2%80%9D-e-aplicacao-em-uma-industria-de-alimentos-na-serra-catarinense.engenharia-de-alimentos.-lages_-unifacvest,-2020-01_.pdf
  3. https://run.unl.pt/bitstream/10362/20332/1/Neto_2016.pdf
  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10558841/

 

Sobre a autora:

Juliana Lanza é engenheira de alimentos, e especialista em Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentos, pela Unicamp e pós graduada em MBA de Gestão de Qualidade e Produção pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atuou em industrias como Danone, Heineken, Bunge, Louis Dreyfus, Raízen e Senai, na área de produção, controle e garantia da qualidade, com mais de  14 anos na implementação de sistemas de qualidade e auditorias.

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Qual modelo de APPCC eu uso para atender o MAPA e a ANVISA?

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Sobre a pergunta do título – modelo de APPCC –  vamos ver o que dizem os órgãos reguladores.

O Siscomex é um Sistema Integrado de Comércio Exterior do Governo Federal, que tem por objetivo consolidar os dados de registro, monitoramento e controle das atividades de comércio exterior do Brasil. Essa plataforma foi concebida com a finalidade de reduzir a burocracia, o tempo e os custos associados às exportações e importações brasileiras. É importante ressaltar que produtos importados e que serão exportados devem obrigatoriamente possuir o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) implantado.

Atualmente, o Siscomex constitui o cerne de diversas normas internacionais de segurança de alimentos. No Brasil, a implementação do Sistema APPCC é compulsória para os fabricantes de alimentos, conforme estabelecido na Portaria 1428 de 1993 do Ministério da Saúde e na Portaria 46/1998 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Essas regulamentações destacam a importância do controle de perigos e pontos críticos de controle ao longo da cadeia de produção de alimentos.

Além de consultar as portarias 46/1998 e 1428 de 1993 do Ministério da Saúde, recomendamos aos interessados buscar outras referências para aprimorar o conhecimento sobre o tema. Diversas fontes, como o blog Food Safety Brazil, oferecem informações relevantes e atualizadas sobre segurança de alimentos e práticas recomendadas na implementação do Sistema APPCC. A consulta a esses materiais complementares pode contribuir significativamente para garantir a conformidade com as regulamentações e para promover a segurança dos alimentos produzidos e comercializados no país.

Vamos falar das legislações

A portaria 46, de 10/02/1998 institui:

O SISTEMA DE ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE – APPCC a ser implantado, gradativamente nas indústrias de produtos de origem animal sob o regime do Serviço de Inspeção Federal – SIF, de acordo com o MANUAL GENÉRICO DE PROCEDIMENTOS, anexo à presente Portaria.

A introdução explicita que se trata de um material genérico, portanto, não inclui um modelo físico específico para referência. No entanto, abrange todos os passos essenciais que devem ser contemplados no Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).

Na portaria 1428 de 256 de novembro de 1993, do Ministério da Saúde, consta em seu anexo:

A eficácia e efetividade dos processos, meios e instalações, assim como dos controles utilizados na produção, armazenamento, transporte, distribuição, comercialização e consumo de alimentos através do Sistema de Avaliação dos Perigos em Pontos Criíticos de Controle (APPCC) de forma a proteger a saúde o consumidor;

Em outras palavras, o documento não oferece um modelo predefinido. Em vez disso, avalia-se apenas o que a empresa apresenta durante a fiscalização. O modelo comumente utilizado e disponível é o fornecido pelo SENAI/SEBRAE, conhecido como guias do PAS e amplamente reconhecido pelos órgãos reguladores. No entanto, é importante entender que não existe um modelo padronizado, o que importa é o conteúdo exigido pela Portaria 46/1998. O guia de elaboração do plano APPCC pode ser encontrados para compra online. Para um plano mais abrangente e especializado, é possível seguir o passo a passo do Codex Alimentarius, disponível aqui.

Também é possível utilizar o modelo disponibilizado pela Food Standards Agency, o qual requer apenas preenchimento. Durante a fiscalização, os organismos reguladores apenas verificam se o conteúdo do plano atende aos requisitos estabelecidos pelas normas. Não é permitido que uma não conformidade seja atribuída apenas por conta do formato utilizado, seja ele este ou algum outro.

Para saber mais:

=> http://www.fao.org/docrep/005/Y1390S/y1390s09.htm
=> http://www.cdt.unb.br/telecentros/appcc/principios.pdf
=> http://foodsafetybrazil.org/?s=HACCP

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Novas tecnologias UV (ultravioleta) para controle de patógenos em alimentos

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A luz UVC é uma tecnologia que já é utilizada há quase um século, por diversos segmentos industriais relacionados à saúde pública e à segurança de alimentos. O FDA (Food and Drug Administration) dos EUA aprova a utilização deste método de intervenção não térmica para controle microbiológico em alimentos. No Brasil, a Anvisa, pela Resolução nº 21 (26/01/2001), determina que qualquer alimento pode ser irradiado desde que sejam observados os limites mínimos e máximos da dosagem aplicada, de modo a não comprometer as propriedades funcionais e os atributos sensoriais do alimento.

O uso da radiação ultravioleta pode ser utilizado para substituir ou complementar outros métodos de descontaminação na indústria de alimentos. Consequentemente, atende uma demanda importante de sustentabilidade por ser considerada uma tecnologia verde. Como exemplos, temos a redução significativa no consumo de água (diminuindo o número de lavagens necessárias durante o processamento), no consumo de produtos químicos (desinfecção por cloro) e na produção de calor para esterilização de equipamentos.

A luz ultravioleta tem demostrado ser eficaz contra várias bactérias, incluindo patógenos (como Salmonella, Listeria e E. coli), e também contra vírus (incluindo SARS-CoV-2) e fungos. A tecnologia permite que os microrganismos absorvam a luz ultravioleta, provocando uma reação fotoquímica instantânea no interior do seu DNA, impossibilitando a reprodução celular, o que os torna inofensivos. Além disso, essa tecnologia não produz nenhum tipo de resíduo químico nem sabores indesejáveis.

No entanto, quando se trata do uso da radiação ultravioleta contínua (254 nanômetros) em ambientes internos e fechados, muitas preocupações surgem sobre os danos à pele e aos olhos causados pela exposição. Isso levou a regulamentações mais rígidas de segurança ocupacional e ao desenvolvimento de novos sistemas.

Um estudo publicado pela revista Scientific Reports (Nature) em março de 2022 revelou um tipo de UV capaz de reduzir em até 98% o nível de microrganismo transportados pelo ar. Este tipo de UV é chamado de Far-UV e tem o comprimento de onda mais curto (207 a 222 nanômetros), reduzindo significativamente o risco de segurança ocupacional.

Neste comprimento de onda, a luz não consegue penetrar na pele ou nos olhos. O equipamento pode ser facilmente instalado no teto e tem baixo custo de manutenção.

Link da imagem: https://www.cuimc.columbia.edu/news/new-type-ultraviolet-light-makes-indoor-air-safe-outdoors.

As necessidades, parâmetros e prioridades específicas determinam qual método de luz UV usar, seja Far-UV ou os métodos conhecidos no mercado como UV-C contínuo e UV pulsado. É importante destacar que, independentemente do método, é necessário definir a periodicidade de manutenção, que inclui a substituição regular das lâmpadas e garantir a dosagem adequada de luz ultravioleta.

  • UV Contínua:

ü  Apesar de sua popularidade e preço baixo, medidas de segurança do trabalho devem ser tomadas;

ü  Recomendado para uso no tratamento de água, ar e superfícies onde o tempo é menos problemático e não há pessoas por perto;

ü  Exemplos: (i) em sistema de ar condicionado de ambiente de processamento, instalando UVC nas bobinas de resfriamento para eliminar de acúmulo de “biofilmes” de esporos de fungos e bactérias; (ii) descontaminação contínua de esteiras transportadoras em áreas de processamento de carne, (iii) desinfecção primária de  água potável, seguida pela aplicação de um desinfetante secundário (cloro, por exemplo) que protegerá a rede de distribuição contra a proliferação de coliformes e formação de biofilmes.

  • UV Pulsada (UVp):

ü  Oferece grande eficácia em um período de tempo muito curto, mas a um custo mais elevado.

ü  Devido à alta intensidade dessas lâmpadas, a eliminação de patógenos ocorre dentro de um segundo após a exposição a uma distância de 1 polegada;

ü  Recomendado quando a superfície de contato está em movimento e não é possível desacelerar ou mesmo parar.

ü  Exemplo: (i) descontaminar embalagens antes do envase; (ii) em produtos que permitam a irradiação superficial direta, (iii) em alimentos sólidos não embalados para descontaminação ou esterilização da superfície (pré-tratamento), (iv) em alimentos sólidos embalados (embalagens compatíveis com a luz pulsada) para descontaminação ou esterilização da superfície (tratamento final).

  • Far-UV:         

ü  Deve ser usada quando a superfície a ser descontaminada é estacionária e há presença de pessoas,

ü  Tempo de exposição de 8 segundos de exposição gera uma redução de 4 log na contagem bacteriana;

ü  Exemplos: salas fechadas de fracionamento e/ou pesagem de alimentos críticos, sanitização de EPIs, sala limpa, bancadas de trabalho e manipulação durante o processamento onde existem pessoas trabalhando continuamente.

Juliana Lanza é engenheira de alimentos, especialista em Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentos pela Unicamp e pós-graduada em MBA de Gestão de Qualidade e Produção pela Fundação Getúlio Vargas. Atuou em indústrias do segmento lácteo, açúcar e álcool . Atualmente é gestora da área de qualidade e segurança de alimentos no ramo de suplementos alimentares. Com sete anos de atuação na área de alimentos e bebidas participou de implantações de HACCP e Sistema de Gestão da Qualidade como ISO 9000, ISO 22000, FSSC 22000. Formação como auditora líder em ISO 2200 e ISO 14001.

Leia também:
Desinfecção de embalagem utilizando radiação ultravioleta – Parte 1 [link]
Desinfecção de embalagem utilizando radiação ultravioleta – Parte 2 [link]
Tecnologia de luz UV pode melhorar a qualidade e segurança de sucos, bebidas e produtos lácteos [link]
Lâmpada UV nas inspeções de boas práticas [link]
Novas tecnologias no processamento de alimentos: as tendências para o futuro [link]

Referências:
 – ANVISA: Confira orientações sobre equipamentos emissores de luz ultravioleta (2021) [link]

– O uso de luz ultravioleta na conservação de alimentos (2019) [link]
Chemical Engineering Journal (Elsevier)-UVC radiation for food safety: An emerging technology for the microbial disinfection of food products [link]

4 min leituraA luz UVC é uma tecnologia que já é utilizada há quase um século, por diversos segmentos industriais relacionados à saúde pública e à segurança de alimentos. O FDA (Food […]

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Como o Bem-estar Animal impacta a produção da carne bovina

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Impulsionado por práticas avançadas aliadas às inovações tecnológicas, o agronegócio evolui para um novo patamar através do Bem-estar Animal. Ao priorizar planejamento, infraestrutura e boas práticas, a indústria oferece produtos de qualidade excepcional, consolidando sua posição de destaque no mercado.

 

Para suprir a alta demanda alimentar, as indústrias e empresas do agronegócio vêm apostando em novas tecnologias com o intuito de ampliar a produtividade. Entretanto, além de avaliar o volume de mercadorias, é importante considerar a qualidade dos produtos oferecidos. Essa preocupação ganha destaque devido ao crescente número de pessoas que zelam pela sustentabilidade, abrangendo tanto o impacto ambiental quanto o tratamento dado aos animais.

A partir disso, foi percebido que investir em Bem-estar Animal poderia estar diretamente ligado a elevados níveis de produção. Desse modo, as cadeias produtivas de proteína animal começaram a focar em planejamento, infraestrutura e boas práticas de manejo, e, como resultado, os produtos passaram a apresentar melhor qualidade, desperdício mínimo e boa entrada no mercado.

Mas o que significa Bem-estar Animal e de que forma ele beneficia produtores e consumidores? E na prática, como garantir o conforto do gado de corte e que impacto isso tem na lucratividade da bovinocultura? Neste artigo, trazemos as respostas.


O que é Bem-estar Animal e seus benefícios?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), o Bem-estar Animal refere-se ao estado em que o animal consegue se ajustar às condições em que vive, estando saudável, confortável, bem nutrido, seguro, expressando seus comportamentos inatos e sem que esteja em estado de dor, angústia, medo e sofrimento.

A preocupação pelo bem-estar animal surgiu na década de 1960, inicialmente relacionado à criação de bovinos e, posteriormente, estendido a outras espécies que suprem as demandas alimentares do ser humano. Além dos cuidados envolverem questões éticas, eles também estão ligados à conscientização a respeito da qualidade dos alimentos consumidos.

Estudos já evidenciaram que, ao viverem sob condições de temperatura e umidade ideais para o bom funcionamento de seu metabolismo, os animais são capazes de produzir leite, ovos e carne em maior quantidade e excelência. E, mesmo com o avanço do melhoramento genético para aves, bovinos e suínos, seu verdadeiro potencial só é alcançado quando há uma atenção conjunta para a saúde, higiene, ambiente, manuseio e tratamento desses animais.

Como garantir as boas práticas de Bem-estar Animal?

Existem algumas melhorias que podem ser implementadas para asseguras o Bem-estar Animal:

  • Investir em boas instalações: os animais devem estar alocados em ambientes com temperatura e umidade ideais, além de terem espaço suficiente para poder se locomover e se deitar.
  • Garantir uma nutrição de qualidade: alimentos balanceados são cruciais para garantir a saúde do animal e a qualidade do produto final. Com bons alimentos, melhor será a digestibilidade dos animais e maior será a capacidade em converter os nutrientes em produtos de qualidade
  • Manter o status sanitário: manter a vacinação em dia. Animais doentes devem ser isolados e tratados separadamente e a propriedade deve ser limpa de acordo com o controle de zoonoses
  • Investir na capacitação da equipe: todas as pessoas que lidam com os animais devem conhecer as particularidades das espécies, saber as boas práticas de manejo e serem capazes de agir com rapidez e eficiência frente a qualquer eventualidade.

Qual o impacto do Bem-estar Animal no negócio?

Hoje, a bovinocultura de corte segue em alta no país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de carne bovina do Brasil aumentou 10,8% no segundo trimestre de 2023, em relação ao mesmo período de 2022, para um volume equivalente a 2,17 milhões de toneladas de carcaça. Para este ano, a estimativa segue crescente, podendo atingir 11,38 milhões de toneladas.

Já no volume de exportação, o país bateu recorde in natura no primeiro semestre de 2023, conforme divulgado no boletim de mercado do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), evidenciando o segundo maior resultado da história na Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Todas essas referências demonstram a importância de investimento neste setor, ampliando os cuidados com a cadeia produtiva de carne bovina, a atenção com o Bem-estar Animal e a cautela com o abate e o manuseio do produto. Dessa forma, a notável expansão da demanda nacional e internacional continuará impulsionando o aumento do volume de produtos tanto em nosso território quanto em destinos internacionais.

A princípio, este processo de aperfeiçoamento eleva os custos operacionais, uma vez que é preciso fazer aplicações em diferentes tecnologias que envolvem infraestrutura, produção de alimento e sanidade. No entanto, a longo prazo, o que antes era visto como gasto, transforma-se em investimento. Essas melhorias impulsionam a produtividade e a qualidade dos resultados, assegurando a utilização eficiente dos recursos e, por conseguinte, aumentando a rentabilidade do negócio.

Também como impacto positivo, existe uma parcela significativa da população, especialmente no âmbito internacional, que está disposta a investir em produtos que se destaquem pela sua qualidade superior e sejam frutos de um sistema de produção que leva em consideração as questões éticas e ambientais. O produtor que incorpora tais responsabilidades ao seu planejamento empresarial está, sem dúvida, trilhando um caminho de sucesso no campo agropecuário.

Manejo pré-abate: impactos críticos na qualidade da carne

O conhecimento do comportamento animal na bovinocultura é vital para evitar produtos de qualidade inferior. O manejo pré-abate inadequado, como o transporte estressante, pode comprometer o bem-estar e a qualidade das carcaças. O desembarque no abatedouro exige cuidados, evitando métodos agressivos e provendo conforto antes das etapas subsequentes do abate.

A qualidade da carne abrange elementos como pH, cor, textura, retenção de água, quantidade de gordura, maciez, sabor e suculência, todos influenciando a decisão de compra do consumidor. O conhecimento dos processos na cadeia produtiva, desde a propriedade rural até a indústria frigorífica, é essencial.

Fatores estressantes desencadeiam reações bioquímicas e sensoriais, resultando em perda de suculência e maciez, como no caso do jejum prolongado, que pode reduzir as reservas de glicogênio e retardar a diminuição do pH. Isso resulta na carne DFD (dark, firm, dry – escura, dura e seca), menos aceitável para o consumidor. Outros elementos como temperatura, umidade, luz, ruído, espaço, resistência ao estresse do animal e genética também afetam negativamente, influenciando na degradação do glicogênio muscular (LAWRIE, 2005).

Em situações de jejum reduzido, altos níveis de glicogênio muscular podem surgir, levando a uma maior produção de ácido lático e a uma diminuição rápida do pH muscular. Esse processo resulta na desnaturação parcial das proteínas, resultando em carne com aparência pálida e flácida, conhecida como PSE (pale, soft, exudative – pálida, mole e exsudativa). Isso é percebido negativamente pelos consumidores, afetando o rendimento, a retenção de água e a absorção do sal de cura. Para minimizar a incidência de carne PSE, recomenda-se o embarque imediato dos animais no frigorífico, evitar o uso excessivo de bastões elétricos, proporcionar água para equilibrar a temperatura corporal, respeitar o período de descanso prévio ao atordoamento e conduzir os animais com tranquilidade, seguindo as normas de bem-estar animal (MAGANHINI et al., 2007).

Entre os desafios mencionados, destaca-se o impacto significativo na palatabilidade e na durabilidade da carne. Porém, garantindo o bem-estar e o manejo adequado ao gado de corte, o pH, a cor, o sabor e a textura do alimento se mostram conformes ao paladar e à saúde dos consumidores.

Boas práticas de manejo durante o pré-abate

Conheça algumas boas práticas para manejo pré-abate de bovinos de corte:

  1.  Transporte adequado até o local de abate;
  2.  Carregar o número apropriado de bovinos nos caminhões de transporte;
  3.  Embarque e desembarque dos animais com tranquilidade, movimentando-os de forma silenciosa e em pequenos grupos;
  4.  Manter as instalações adequadas, evitando extremidades pontiagudas que possam provocar lesões;
  5.  Evitar lotes de bovinos de tamanhos e idades diferentes antes do embarque ou no curral de espera do frigorífico;
  6.  Contar com uma equipe qualificada e treinada;
  7.  Aplicar medicamentos e vacinas em regiões recomendadas;
  8.  Respeitar os animais, minimizando o uso de choques elétricos ou bastões na condução deles.

A importância da capacitação dos funcionários

Para mitigar os efeitos negativos do manejo pré-abate sobre o Bem-estar Animal, é importante investir em treinamentos constantes e capacitação dos funcionários. O gado deve ser manuseado de forma tranquila, sem grandes intercorrências, seguindo os procedimentos de transporte, embarque e desembarque.

No intuito de melhorar o bem-estar dos bovinos, reduzir lesões e alcançar ganhos econômicos, é conveniente considerar a bonificação dos resultados dos funcionários. É essencial, ainda, que todo esse processo seja supervisionado por um líder, garantindo a redução de contusões e fraturas que possam resultar na condenação de partes valiosas da carcaça e da própria qualidade da carne.

Certificação de Bem-estar Animal: conduzindo uma produção responsável e ética

É essencial estabelecer a relação entre o Bem-Estar Animal e a qualidade do produto final, visando inicialmente conscientizar produtores e colaboradores sobre como melhorias no tratamento dos animais elevam a produtividade e a excelência do produto. Num segundo momento, é crucial esclarecer aos consumidores os benefícios de escolher um produto que adere a princípios éticos, resultando em uma valorização substancial.

“A certificação de Bem-estar Animal engloba o sistema de criação, neste caso para bovinos em sistema de confinamento e abate, baseada nas condições das instalações/ estruturas, manejo sanitário, controle de calor, acesso a água e alimentos de boa qualidade, transporte, manejo, capacitação da equipe, etc.”, explica Roberta Cunha, Gerente de Operações da QIMA/WQS, certificadora global que tem a Certificação de Bem-estar Animal como uma das principais soluções em sua cartela de serviços. “Por meio da certificação, produtores e frigoríficos não apenas validam sua conformidade com os requisitos mencionados, mas, acima de tudo, reforçam seu compromisso com esse tema tão crucial atualmente: o Bem-Estar Animal. Produzir não é apenas uma necessidade, mas uma responsabilidade de fazê-lo com total respeito aos animais”, destaca.

Ao unir esforços para vincular diretamente o bem-estar dos animais à qualidade do produto, estabelecemos uma abordagem mais ética e sustentável na produção de carne. Com a certificação de Bem-Estar Animal como ferramenta central, produtores e frigoríficos não apenas se adequam a padrões rigorosos, mas também assumem um compromisso essencial com o respeito aos animais. Essa perspectiva não só valoriza o produto aos olhos dos consumidores conscientes, como também define um padrão elevado para uma indústria alimentar que busca equilíbrio entre eficiência e responsabilidade ética.

 

Clique aqui e saiba mais sobre as certificações de Bem-estar Animal

Contato:
Departamento de Marketing
marketing@wqscert.com

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Como identificar um peixe de boa qualidade

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Nesta época do ano é habitual que o consumo de peixe aumente. Este artigo dirigido aos consumidores (somos todos consumidores) trata de como identificar um peixe de boa qualidade, e a palavra-chave é “frescor”.

Um peixe de boa qualidade deve necessariamente apresentar uma série de características que comuniquem frescor.
Uma primeira recomendação é conhecer a origem do peixe e comprar em uma peixaria de sua confiança. Seu fornecedor deve ser confiável. O local de venda, a aparência e vestuário do pessoal devem parecer higiênicos e deve-se verificar se a cadeia de frio é cuidada e mantida.

No caso de peixes inteiros ou filés frescos (não congelados ou salgados), verifique se utilizam gelo para mantê-los frios. Quando o peixe estiver congelado, a temperatura do congelador deve estar próxima de -18°C; idealmente é preferível uma temperatura de -20°C.

Peixe salgado ou enlatado não precisa de refrigeração. Neste caso é importante verificar o prazo de validade e seguir as instruções do fabricante no rótulo.

Principais características do peixe inteiro fresco

O aspecto deve ser brilhante, limpo (opacidade é sinal de deterioração), com cor típica da espécie. As espécies que apresentam escamas na pele devem estar com as escamas firmes cobrindo completamente o peixe.

Os olhos devem ser convexos (nunca afundados nas órbitas), as pupilas bem diferenciadas. A textura da pele deve ser firme e elástica. Após afundar o peixe com a pressão de um dedo, ele deverá retornar ao seu formato original e não deverá haver nenhuma marca de ter sido pressionado.

Abra as guelras: devem estar separadas, apresentar cor avermelhada intensa e ausência de muco. Cores acastanhadas ou cinzentas e mau cheiro não são típicas de peixes de qualidade. O cheiro das guelras deve ser marinho, livre de odores estranhos, principalmente amônia ou combustível.

O abdômen deve apresentar-se sem fissuras ou rupturas. Quando parecer quebrado ou estourado, descarte-o, pois é de má qualidade.

Às vezes o peixe é apresentado sem cabeça e eviscerado. É um corte especial aceitável, embora ofereça alguma dificuldade para quem tem pouca experiência na espécie. A falta da cabeça pode ser uma dificuldade na identificação da espécie e as referências citadas acima a respeito de olhos e brânquias não são válidas neste caso. Neste tipo de apresentação pode-se verificar a firmeza das escamas e se a cavidade abdominal (onde estavam as vísceras) está limpa. A deterioração interna da parede abdominal tem a aparência de geleia de maçã ou gelatina. Este último é um sinal de falta de frescor e deterioração da qualidade.

Tenha em mente que algumas espécies de peixes não possuem escamas naturalmente. Isto não afeta a sua qualidade.

O caso da lula ou do choco merece um parágrafo à parte. Neste caso, a cor da pele é uma comunicação importante sobre seu frescor e qualidade. É comum que esse molusco seja capturado por navios-fábrica que o congelam em alto mar, obtendo ótima qualidade, mas é apresentado aos consumidores descongelado e resfriado com gelo. Quando sua qualidade é ótima, a cor é marrom com veios brancos. Depois de algumas horas a cor fica branca. A qualidade neste caso é aceitável. Mais tarde a cor fica rosa e depois avermelhada e até roxa. Depois de perder a cor branca, deixa de ter uma qualidade aceitável e as cores avermelhadas e roxas são típicas de uma deterioração avançada da qualidade. Infelizmente, há consumidores que compram este produto por desconhecimento.

Em relação aos moluscos bivalves (mexilhão, amêijoa, etc.), é sempre preferível comprar aqueles que estão com a casca fechada. A concha aberta é típica de um molusco de baixa qualidade e pode até não ser seguro para consumo.

Para filés de peixe, o ideal é que o peixeiro faça o filé de peixe fresco na presença do cliente. Mas isso nem sempre é possível. Eles podem ser frescos ou congelados. Quanto ao cumprimento da cadeia de frio, já foi mencionado acima.
No Brasil existem filés de excelente qualidade, dependendo da origem do peixe e da confiança do peixeiro (volto a esse aspecto porque é básico). Para dar um exemplo, na minha experiência pessoal prefiro o filé de tilápia brasileira ao importado do Vietnã ou da China. Também prefiro o filé de salmão norueguês ao chileno (salmão criado em cativeiro), cuja cor laranja pode ter sido criada pela adição de corantes na ração artificial que recebem (não tenho certeza disso, mas tenho minhas dúvidas).

O filé de pescada argentina é geralmente de boa qualidade, embora às vezes apresente algumas espinhas. É extraído diretamente do oceano e as plantas beneficiadoras contam com fiscalização oficial do SENASA.

Deixo uma recomendação final: não coma peixe cru ou malcozido.

Referências:

Crianza Mares y rios de espana , Fao,  Wikipedia

Imagem: Pixabay

Leia também: 

Como o peixe fresco é resfriado e armazenado em um navio de pesca – Estudo de caso

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Agora Mudanças Climáticas virou tema no FSSC 22000. O que eu faço?

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No último dia 12 de março a Board of Stakeholders do FSSC 22000 lançou uma nova lista de decisões, tema que foi inclusive discutido aqui semana passada.

Dentre as novidades, chamou atenção a Decisão #5:

“A ISO publicou um adendo na ISO 22000: 2018 em 24/02/2024 para incluir o requisito de mudanças climáticas na cláusula 4.1 e na nota da cláusula 4.2. Estas atualizações devem ser incluídas nas auditorias FSSC 22000 v.6.”

1. Entendendo o adendo da ISO

Esta decisão foi baseada em um adendo da ISO (International Organization for Standardization) da Suíça, lançado no mês passado, que você pode ler integralmente aqui. Ele sugere que o tema mudanças climáticas (falaremos mais sobre isso no tópico 2 deste post) seja incluído nos capítulos 4.1 e 4.2.

Seguem abaixo os tópicos da ISO nos quais este adendo sugere que as modificações sejam realizadas:

4.1 Compreender a organização e o seu contexto

A organização deve determinar questões externas e internas que sejam relevantes para o seu propósito e que afetem a sua capacidade de alcançar o(s) resultado(s) pretendido(s) do seu Sistema de Gestão de Segurança de Alimentos.

Adicionado:
A organização deve determinar se as mudanças climáticas são uma questão relevante.

4.2 Compreendendo as necessidades e expectativas das partes interessadas

A organização deve determinar:
– as partes interessadas relevantes para o Sistema de Gestão de Segurança de Alimentos.
– os requisitos relevantes destas partes interessadas.
– quais destes requisitos serão abordados através do Sistema de Gestão Segurança de Alimentos.

Adicionado:
Nota: As partes interessadas relevantes podem ser requisitos relacionados com as mudanças climáticas.

De acordo com a própria ISO, neste adendo, “a intenção é garantir que as questões das Mudanças Climáticas sejam consideradas pela organização no contexto da eficácia do sistema de gestão, além de todas as outras questões. Estas declarações adicionais em cada norma de sistema de gestão garantem que este importante tópico não seja esquecido, mas considerado por todas as organizações na concepção e implementação do sistema de gestão.”

Vou elucidar um pouco melhor este assunto “mudança climática”, para ajudar na compreensão deste requisito.

2. Mudanças Climáticas e Segurança de Alimentos

De acordo com a ONU, mudanças climáticas são alterações de longo prazo nas temperaturas e nos padrões climáticos. De acordo com esta mesma fonte, “essas mudanças podem ser naturais, devido a mudanças na atividade do sol ou a grandes erupções vulcânicas. Mas desde 1800, as atividades humanas têm sido o principal motor das alterações climáticas, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis como o carvão, o petróleo e o gás.”

O gráfico abaixo, apresentado pela BBC, demonstra claramente como essas mudanças ocorrem. Ele mostra a média de temperatura na Terra em cada ano desde 1939, com um claro aumento, inclusive com destaque para valor recorde em 2023.

Fonte: What is climate change? A really simple guide (BBC)

O impacto das Mudanças Climáticas na Segurança de Alimentos é um assunto relativamente recente, e é discutido pela FAO no seu paper Climate change: Implication for Food Safety (2008).

Exemplos práticos comprovados que têm relação direta ou indireta com mudanças climáticas são:

  • Aumento de ocorrência de micotoxinas em milho nos EUA e em regiões de clima temperado
  • Aumento da ocorrência de parasitas em peixes e plantas de água doce
  • Detecção de novas espécies de fungos toxigênicos na Europa
  • Aumento na incidência de mastite em vacas
  • Aumento na presença de Salmonella em aves
  • Aumento do número de casos de Vibrio em frutos do mar
  • Aumento de casos de metais pesados

Tal assunto já mereceu dois ótimos posts neste blog (leia aqui e aqui), por isso recomendo a leitura, e não vou ampliar mais a discussão aqui.

Para quem ainda quer mais informações, sugiro que leia os artigos Climate Change and Emerging Food Safety Issues: A Review e Climate change and food safety: A review. Também há textos curtos de entidades relevantes que valem uma olhada: Climate change and food safety (EFSA), Climate change and food safety (GCH Alliance) e How is climate change affecting the safety of our food? (FAO).

3. OK, mas como eu implemento este requisito?

Para a cláusula ‘4.1 – Compreender a organização e o seu contexto’, a organização, ao levantar questões internas e externas que impactam a Segurança de Alimentos, deve avaliar se no contexto das atividades que ela realiza as Mudanças Climáticas podem gerar impacto. Por exemplo: em um fabricante de óleo de milho instalado em país de clima temperado, incluir como questão externa relevante “aumento do número de casos de micotoxina devido a mudanças climáticas” faz sentido. Resumindo, a organização precisa entender seu contexto e fazer um estudo para avaliar se há algum impacto. Caso haja, inclui-se isso. Caso não haja, não é necessário inventar para atender requisito. Estas questões internas e externas são entradas para a Análise de Riscos e Oportunidades da cláusula 6.1. No exemplo dado acima, uma ação necessária, eventualmente, pode ser aumentar o número de análises do milho adquirido.

Para a cláusula ‘4.2 – Compreendendo a necessidade de partes interessadas’, a ideia é parecida. Ao levantar requisitos de partes interessadas, deve-se abrir a possibilidade de incluir assuntos relacionados a mudanças climáticas.

Vale lembrar que está definido um prazo curtíssimo para adequação: 01/04/2024.

Aguardemos mais novidades da FSSC 22000. O Food Safety Brazil está sempre de olho!

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Listeria em queijos: novo alerta nos Estados Unidos

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Em fevereiro de 2024 tivemos um novo alerta emitido pelo CDC, o centro de controle de doenças dos EUA, sobre contaminação de queijos pela bactéria Listeria. Está envolvido um conhecido fabricante americano de queijos. A empresa fez recall de todos os queijos e outros produtos lácteos produzidos em suas plantas, mas já haviam sido reportados 26 casos, que ocasionaram 23 internações e duas mortes. Onze estados americanos já foram atingidos.

Listeria monocytogenes é um patógeno que começou a ter mais destaque a partir da década de 1980. Desde então está relacionada às enfermidades causadas por alimentos. Os principais sintomas da listeriose são: náuseas, vômitos, e gastrenterite. Em casos mais graves a doença pode progredir para alterações do sistema neurológico, causando meningite, meningoencefalite e septicemia, inclusive levando pacientes a óbito. A listeriose acomete preferencialmente os idosos, recém-nascidos, gestantes e pessoas com alterações no sistema imunológico.

A listeriose apresenta um período de incubação longo, que varia de 3 a 70 dias, o que dificulta identificar o agente causador e rastrear a origem da contaminação.

Surtos e casos de listeriose têm sido associados a diversos alimentos, tanto de origem vegetal como animal. Entre os produtos lácteos causadores de surtos, os queijos frescais são considerados os alimentos de maior risco. Inclusive a legislação brasileira adota cmo padrão microbiológico Listeria monocytogenes ausente em 25g de queijos (exceto para queijos de baixa umidade).

Por que há Listeria em queijos? Onde e como acontece essa contaminação?

O blog já trouxe um texto com os locais onde a Listeria se aloja na indústria de alimentos.

Essa bactéria é encontrada no solo, em esgotos, ralos, locais de acúmulo de material orgânico, e também nas fezes de animais. Isso facilita a contaminação do leite e outros alimentos de origem animal e também de origem vegetal.

Pensando na área industrial, inclusive de laticínios, devemos levar em conta que a Listeria é sensível à pasteurização, mas é um agente psicotrófico – possui capacidade de se multiplicar em temperaturas mais baixas -, ponto que favorece sua multiplicação no leite estocado em tanques isotérmicos de caminhões e tanques de resfriamento das fazendas leiteiras. Outro ponto também relevante é sua capacidade de formar biofilmes em equipamentos não higienizados corretamente, o que novamente recai na possibilidade da sua multiplicação durante armazenagem e transporte do leite antes do seu tratamento térmico e permanência na superfície de equipamentos utilizados no processo produtivo de queijos, como tanques de produção, prensas entre outros.

Outra característica que facilita a sua multiplicação nas indústrias que processam leite e produzem queijo é a capacidade da Listeria resistir aos processos com altas concentrações de sal, aos processos de secagem e também a  alguns desinfetantes. Pode haver um longo período de permanência desse microrganismo nas linhas de processamento da indústria.

Quando pensamos nos colaboradores envolvidos no processo produtivo, existem pessoas que funcionam como reservatório da bactéria, não apresentando sintomas, mas eliminando-a nas suas fezes. Também há possibilidade de a bactéria ser carregada através de botas e roupas.

Todos estes motivos destacam a importância de uma pasteurização eficiente, da correta higienização dos equipamentos, da higiene de mãos, botas e vestimentas dos colaboradores. Também devem ser considerados o destino adequado do lixo orgânico e os cuidados pós-pasteurização do leite para que uma nova contaminação não aconteça dentro da indústria.

Imagem: Polina Tankilevitch

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Monitoramento Ambiental para FSSC 22.000 no 9º Meeting: perguntas e respostas

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No IX Meeting deste blog, realizado em parceria com a Hygiena, em 27/02/24, trouxemos detalhes e esclarecemos dúvidas dos leitores e participantes (contamos com 377 pessoas) sobre o requisito adicional 2.5.7 do Esquema FSSC 22.000 v.6.

As perguntas foram diversas e nós compartilhamos algumas a seguir, além do link para assistirem ao evento gravado.

Vamos às respostas das palestrantes Carla Lima Gomes (colunista) e Lauane de Araújo (Hygiena) de algumas questões para as quais nos faltou tempo no webinar. Combinamos de produzir este post, esclarecendo-as:

1 – Se o dreno é continuidade do piso (*entendo que é o “ralo”), então devo procurar os mesmos microrganismos que busco nele ou por ser permanentemente úmido, a Listeria deve ser procurada?

R – Sim, mas não dentro dele. A coleta deve ser no piso na proximidade do dreno/ralo. Entendo que o piso é o local final onde ficam todos os possíveis contaminantes. Dessa forma eu procuraria Listeria e entenderia como um indicativo de eventual contaminação em outro local.

2 – Em caso de composição de pisos e detecção de uma presença, o ideal é abrir o vector ao entorno dos pontos do pool?

R – Prefiro não realizar coletas em pool porque não é possível identificar de onde vem e, além disso, a repetibilidade é difícil. Assim, procure fazer análises de pontos específicos com área delimitada e no sistema de rodízio.

3 – É comum e recomendado fazer patógenos em zona 1? O que as normas dizem?

R- Não. Os patógenos são analisados no produto final. Na zona 1 fazemos apenas indicadores de limpeza, para identificar possíveis falhas na higienização.

4 – Qual a referência de ATP para o PMA/PEM (Programa de Monitoramento Ambiental)? Nunca pensei em usar ATP. Como posso considerar isso?

R – O teste de ATP é uma referência importante na tomada de decisão, relacionada a eficácia da limpeza. Após o processo de higienização, o teste de ATP pode ser usado nos pontos difíceis de limpar para liberação ou não de início de produção. O maior benefício é a resposta rápida, comparada com os testes microbiológicos. Os limites de aceitação variam em função do aparelho que for usado.

5 – Quanto tempo é preciso para criar o histórico de URL?

R – Não há regra. Porém, sugiro ao menos 10 resultados de um mesmo local, para que estatisticamente tenha alguma relevância.

6 – Gostaria de saber um pouco sobre hospedeiro saudável para mão de manipulador. Higienização de mãos corretas, manipulador treinado, porém contagem total e coliformes totais dão alto. Depois de tanto histórico, comecei a pensar que é um hospedeiro saudável, foge um pouco do monitoramento ambiental, mas é preocupante também pensando no todo.

R – Há pessoas que são hospedeiras de Salmonella e são assintomáticas, vale a pena fazer exame de saúde. Analise a eficácia dos produtos de higienização das mãos em várias pessoas, para verificar se há o mesmo problema. Além disso, a Contagem Total de Mesófilos pode não ser adequada, sugiro Coliformes Totais ou EB. Atenção ao momento da amostragem, que precisa ser imediatamente após a higienização das mãos.

7 – Preciso tomar ação em cada análise que der fora do padrão, ou posso estabelecer uma meta de monitoramento ambiental e se eu não atender a meta eu faço plano de ação, ou posso tomar ação quando tenho tendência das análises com não conformidades aumentando?

R -Depende, mas em termos gerais o mais importante é a análise de tendência, que é requisito adicional do Esquema FSSC 22.000. Não necessariamente um resultado fora dos limites irá gerar uma contaminação do produto, mas uma tendência é sinal de risco. Observando uma tendência de resultados fora dos previstos, é preciso ter um plano de ação.

8 – O ATP é indicado para um processo de limpeza a seco?

R – Sim, porque ele verifica resíduos orgânicos. Não será adequado quando os resíduos forem inorgânicos, pois não haverá reação.

9 – Sobre o plano baseado em risco para patógenos, posso considerar o mapeado no HACCP? Tendo minhas medidas de controle posso justificar e excluir patógenos do meu plano?

R – O monitoramento ambiental deve ser baseado em risco. Verifique se realmente consegue justificar a exclusão dos patógenos do seu plano. Lembre-se de que há anos atrás não havia preocupação de Salmonella em produtos de baixa atividade de água e hoje é um grande desafio para várias empresas.

10 – Preciso criar uma outra base de risco considerando recontaminação?

R – Se for continuação da pergunta anterior, sim. Em vários processos há risco de recontaminação. Um exemplo para produtos de baixa atividade de água é contaminação na sala de envase.

11 – O ATP não detecta residual de detergente?

R – De maneira geral, os sistemas de ATP contêm agentes que evitam a interferência de produtos saneantes, desde que esses sejam utilizados em concentrações adequadas.

12 – O uso do swab ATP isenta o uso do swab indicador de alergênico? De soja, por exemplo?

R – Não! Pensando em alergênicos, o swab de proteína nos dá uma melhor validação (até mesmo com maior sensibilidade) da remoção de qualquer resquício de proteína que possa ter ficado na superfície, que não necessariamente contenha um nível de ATP significante.

Para quem não conseguiu participar, acima há o link com a gravação para apreciarem e quiçá resolver seus problemas, descomplicando-os, conforme propusemos na chamada das inscrições.

Fiquem atentos que em breve virá o 10º Meeting para atender as suas necessidades por especialistas voluntários. Os leitores sugerem o tema, pois para nós sua opinião interessa!

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Mais mudanças no esquema FSSC 22000!

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Mais mudanças para quem tem a certificação no esquema FSSC 22000!

Foi publicado no site do FSSC 22000 uma última atualização do documento “Board of Stakeholders Decision List” que contém 5 decisões aplicáveis ao esquema FSSC 22000 e que devem ser implementadas pelas empresas certificadas. Os requisitos já valerão a partir de 1° de abril de 2024, por isso corra para se atualizar!

Entre as novidades estão:

·       – Alteração no design do certificado

·       – Rastreabilidade para categoria C0

·       – Alteração no texto do requisito adicional 2.5.1 (a) – Análises devem ser de acordo com requisitos da ISO/IEC 17025

·      –  Novo requisito sobre Mudanças Climáticas – a ser considerado no contexto da organização

– O documento pode ser acessado diretamente neste link.

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