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O homem que foi pioneiro na segurança de alimentos

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Em abril de 1906, um presidente republicano dos Estados Unidos reuniu-se privadamente com um notório socialista na Casa Branca. O presidente era Theodore Roosevelt; o socialista era Upton Sinclair; e os dois deixaram de lado suas diferenças políticas para discutir uma questão de grande preocupação mútua: segurança de alimentos.

Alguns meses antes, o romance de Sinclair, “The Jungle”, criou uma indignação pública sobre as condições sanitárias nos matadouros da América. Roosevelt desconfiara há anos da indústria do empacotamento de carne, enfurecido pela carne pútrida vendida ao Exército e servida a suas tropas durante a Guerra Hispano-Americana. Em 1906, os Estados Unidos eram a única grande nação industrializada sem leis rígidas proibindo a venda de alimentos contaminados e adulterados.

Na sua ausência, o mercado livre tornou lucrativo o fornecimento de uma ampla gama de opções pouco apetitosas. Insetos moídos foram vendidos como açúcar mascavo. O doce infantil era rotineiramente contaminado com chumbo e outros metais pesados. Corações e outros órgãos foram processados, enlatados e rotulados como frango. Talvez um terço da manteiga à venda não fosse realmente manteiga, mas sim todo tipo de coisa – sebo de boi, gordura de porco, estômagos de vaca e ovelha – transformada em uma substância amarelada que parecia manteiga.

Há muito tempo os historiadores atribuem a improvável aliança de Roosevelt e Sinclair à aprovação do Meat Inspection Act (pode ser lido aqui, mas o conteúdo está em inglês. Se necessitarem de tradução, avisem nos comentários), e do Pure Food and Drug Act (pode ser lido aqui, em inglês) de 1906.

Em “The Poison Squad”, Deborah Blum argumenta convincentemente que um químico esquecido no Departamento de Alimentos e da Agricultura, Harvey Washington Wiley, desempenhou um papel mais importante – não apenas em garantir a aprovação dessas leis, mas também em mudar as atitudes populares em relação à intervenção do governo em nome dos consumidores. As origens das leis atuais de segurança de alimentos, leis de segurança de medicamentos, requisitos de rotulagem e regulamentos ambientais podem ser encontradas nos argumentos do movimento Progressivo na virada do século passado.

Harvey Washington Wiley nasceu em uma cabana de madeira em 16 de abril de 1844, uma entrada apropriada para um heroi americano. Seu pai era um fazendeiro e um pregador leigo no sul de Indiana que abrigava escravos fugidos como parte da Estrada de Ferro Subterrânea. Wiley serviu brevemente na Guerra Civil, estudou medicina em Indiana e química em Harvard, e tornou-se o primeiro professor de química da Universidade Purdue em 1874.

A adulteração deliberada de alimentos havia sido um problema por milênios, inspirando regulamentações governamentais no antigo Egito, na Suméria e em Roma. No final da década de 1870, a Revolução Industrial, aplicada ao processamento de alimentos, forneceu uma variedade de novas técnicas e ingredientes úteis para cometer fraudes – sabores artificiais, corantes artificiais, conservantes químicos. Mas avanços simultâneos em química também facilitaram a detecção de tais fraudes.

A pedido do Conselho Estadual de Saúde de Indiana, em 1881, Wiley começou a estudar a autenticidade do mel e do xarope de bordo para venda naquele estado. De acordo com a autora, ele usou instrumentos de laboratório como o polariscópio (sinceramente, eu nem sabia que isso existia. Se você está curioso que nem eu, pode ler a respeito do equipamento aqui), para descobrir que “um total de 90% de suas amostras de xarope eram falsas… e que havia ‘apicultores’ que não tinham, ultimamente, se incomodado em manter as abelhas”. A revista Popular Science lançou sua carreira como um defensor público.

Depois de ser nomeado químico-chefe do U.S.D.A. em 1882, Wiley passou os trinta anos seguintes no departamento em campanha por alimentos seguros e rotulagem adequada. Ele supervisionou uma série de reportagens investigativas que ganharam muita atenção do público, alertando sobre “pimenta” feita de serragem, “cacau em pó” contendo óxidos de ferro e estanho, “farinha” mesclada com argila e pedras brancas em pó, “uísque” que na verdade era regado a álcool etílico de cor escura e suco de ameixa, “café” que continha ingredientes como areia, casca de árvore, bolotas, carvão e um pó preto composto de osso carbonizado.

Para testar o impacto na saúde frente a vários aditivos, ele recrutou homens jovens para servirem de cobaias em “testes higiênicos de mesa”, servindo-lhes ingredientes questionáveis durante as refeições no porão da sede do departamento de agricultura dos Estados Unidos (U.S.D.A). E, em seguida, observavam o que acontecia. Logo, ficaram conhecidos como o Esquadrão de Veneno (The Poison Squad). Esses voluntários idealistas adotaram o lema em um letreiro em sua sala de jantar especial: “APENAS OS VALENTES COMEM.”

Em 1902, Wiley tornou-se uma celebridade nacional, e foi escrita a música “Song of the Poison Squad“. Encontrei esse vídeo no youtube que já tem a letra junto, a música foi cantada em grandes shows. A National Food Processors Association e outros grupos da indústria não ficaram satisfeitos, para dizer o mínimo. A adulteração de alimentos tornara-se tão descarada que os fabricantes anunciavam abertamente produtos como “mineralina”, “flúor” e Freezine, que substituíam ingredientes reais ou disfarçavam a presença de deterioração.

Freezine continha formaldeído, um ingrediente do líquido de embalsamamento, que era tóxico e comumente misturado com leite rançoso. Por seus esforços em prol da segurança e integridade alimentar, Wiley foi descrito em uma revista especializada como “o homem que está fazendo tudo o que pode para destruir negócios americanos”. Artigos enganosos de jornalistas inexistentes circulavam para prejudicar sua reputação. A recém-formada Monsanto Chemical Company tornou-se um dos seus mais persistentes inimigos, depois da U.S.D.A. Químicos questionaram a segurança da sacarina e da cafeína, dois produtos que ela fabricava.

A honestidade, o carisma, a dedicação à ciência, a perspicácia política e o talento para a publicidade de Wiley ajudaram-no a sobreviver a ataques de grupos comerciais e adversários nos EUA. Ele formou alianças com organizações de mulheres, defensores do consumidor, jornalistas influentes e Fannie Farmer, uma chef celebridade líder da época. “The Poison Squad” narra anos de batalhas burocráticas, a covardia de autoridades eleitas, o triunfo dos projetos de segurança alimentar em 1906 e os compromissos legislativos que desapontaram Wiley.

Mais tarde, ele encontrou conforto na vida familiar aos 66 anos, casando-se com Anna Kelton, uma sufragista 32 anos mais jovem do que ele, e foi pai de dois filhos. Wiley se aposentou da U.S.D.A. em 1912 e terminou sua carreira como colunista de Good Housekeeping. A cruzada de Wiley por comida pura fazia parte de um movimento progressista maior que desafiava o poder de monopólio e a corrupção do governo. Os membros do Esquadrão de Veneno podem ter experimentado “plenitude na cabeça e aflição no estômago” depois de consumir certas substâncias. Mas os testes de Wiley de aditivos como sacarina e benzoato de sódio – cujos efeitos para a saúde ainda permanecem controversos – são ciência ou pseudociência? Nós nunca aprendemos a resposta.

Mais de um século após o auge de Harvey Washington Wiley, os enganos continuam. Um estudo de 2012 da Oceana, uma organização ambiental sem fins lucrativos, descobriu que um terço dos frutos do mar comprados nos Estados Unidos tinham sido rotulados erroneamente. Tilefish – uma espécie conhecida por conter altos níveis de mercúrio – foi frequentemente vendido como alabote e cioba. Nos restaurantes de sushi, três quartos do peixe não era o que o cardápio dizia.

Hoje ainda há notavelmente, poucas restrições legais à venda de carne contaminada com patógenos perigosos. Uma grande parte das aves vendidas em supermercados está contaminada com salmonelas resistentes aos antibióticos. Um relatório publicado pela American Academy of Pediatrics, em julho de 2018, alertou que os aditivos alimentares podem colocar em risco a saúde das crianças. Dos cerca de 4.000 aditivos alimentares avaliados, quase dois terços nunca foram testados quanto à sua toxicidade após serem comidos. Apenas 7% foram testados quanto ao seu efeito na reprodução. E apenas dois dos aditivos foram testados para danos ao desenvolvimento. No entanto, Donald Trump criticou o “excesso de inspeção” do F.D.A. A polícia venenosa oferece um poderoso lembrete de que a verdade pode derrotar mentiras, que o governo pode proteger os consumidores e que um funcionário público honesto pode superar a ganância dos interesses privados.

(Texto traduzido do The New York Times. O original pode ser encontrado aqui  e foi escrito por Eric Schlosser. Algumas modificações foram necessárias na tradução. O artigo foi escrito baseado no livro The Poison Squad: One Chemist’s Single-Minded Crusade for Food Safety at the Turn of the Twentieth Century, de Deborah Blum, disponível no site da Amazon.) 

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Você conhece o Programa Cultivando Talentos?

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Desde 2006 a 3M promove o Programa Cultivando Talentos, que patrocina e premia os melhores projetos com foco em microbiologia de alimentos.
 Nosso objetivo é fomentar a pesquisa no Brasil, dando suporte aos jovens pesquisadores da área de Food Safety.
 Já patrocinamos mais de 50 projetos, de diferentes universidades, de graduação e pós-graduação. Os projetos finalistas foram premiados com viagens nacionais e internacionais para apresentação dos estudos em congressos e tiveram suas carreiras impulsionadas pelo programa, sendo hoje reconhecidos profissionais no mercado, como nossa primeira ganhadora: Maria Beatriz Tassinari Ortolani (Ceva Animale) e o Prof. Dr. Anderson Sant`Anna, hoje professor da Eng. de Alimentos da Unicamp.
 Na edição de 2018, patrocinamos os melhores projetos, selecionados em 4 etapas ao longo do ano. Ainda dá tempo de se inscrever e concorrer a R$4.000,00 em produtos 3M Food Safety para desenvolvimento de seu projeto.
 Caso já tenha concluído seus resultados, inscreva-se e envie os dados para concorrer ao prêmio final, UMA VIAGEM COM TODAS AS DESPESAS PAGAS (no limite de R$12.000,00) para apresentar o projeto no IAFP Annual Meeting, em Louisville, EUA, que ocorrerá em julho de 2019. Mas corra! O prazo é até 31/12/2018!
 
Conheça o regulamento completo no site:
 Embarque nesta e junte-se ao time de vencedores deste programa incrível!

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Panelas de alumínio não causam danos à saúde

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Em um post anterior, informamos que as folhas de alumínio usadas no preparo de alimentos,  independentemente do lado utilizado, brilhante ou fosco, não causam danos à saúde do consumidor.  Se você não leu e quer ficar por dentro do assunto, clique aqui

Resolvi estender nossas pesquisas de migração do composto alumínio para alimentos, mas agora considerando como fonte de migração as panelas de alumínio. O uso de panelas de alumínio nas cozinhas brasileiras é extremamente comum. E mais comum ainda é ver essas panelas sempre muito bem limpas e brilhando. Por um lado, esse polimento com esponjas de aço deixa as panelas com um aspecto muito bonito, transmitindo asseio.  Por outro, traz preocupação para algumas pessoas. Outra dúvida que paira na cozinha de muita gente é se realmente panelas de alumínio são seguras para cozimento dos alimentos. Será mito ou verdade?

Tive uma conhecida numa cidade em que morei no Mato Grosso que sempre me dizia que não deixava a funcionária dela usar esponjas de aço em suas panelas de alumínio, pois o ato do esfregaço promovia a liberação de alumínio e este por sua vez contaminaria os alimentos que ali seriam preparados.  Confesso que por um tempo tomei essa informação como verdadeira e também deixei de arear as panelas.  Mas eu sempre gostei de cozinhar em panelas de alumínio e queria ter minhas panelas brilhando novamente. Não me dei por satisfeita com as informações que tinha! As pesquisas sobre as folhas de alumínio abriram as portas para melhor entendimento sobre esse metal e esse é mais um daqueles mitos que adoramos desvendar.

Não encontramos nenhuma pesquisa científica abordando estudos sobre resíduos de alumínio durante o processo de higienização de panelas de alumínio. Sobre as informações que obtive na internet, a maioria dos autores menciona que se realizado um enxague adequado, as partículas de alumínio liberadas durante o processo de limpeza ou polimento com esponja de aço são arrastadas pela água.

Sobre a liberação de partículas de alumínio em processo de cozimento de alimentos, uma pesquisa realizada pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos, Ital, de Campinas, mostrou vários testes de cozimento em panelas de alumínio polidas usando alimentos comuns da mesa dos brasileiros. A liberação de alumínio das panelas é uma verdade, porém a pesquisa  comprovou que nas condições em que houve maior liberação de alumínio para o alimento (cozimento de molho de tomate), o resultado encontrado representou apenas 2% do limite tolerável de ingestão diária para um indivíduo de 60 kg de peso, valor considerado não relevante.

Portanto, fiquemos todos tranquilos, pois este é mais um daqueles mitos instituídos pelo mundo virtual.

Disponibilizo aqui o link da pesquisa realizada pelo Ital contendo o estudo detalhado sobre o cozimento de alimentos em panelas de alumínio.

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Será que a carne que você consome está totalmente livre de drogas? (III)

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Como disse nos dois posts anteriores desta série, este é um tema polêmico e extenso. Para darmos sequência à discussão, vamos falar sobre o que pode ser feito para evitar o consumo de carne com resíduos de drogas.

Primeiramente é necessário melhorar as formas de monitoramento destes produtos.

Os resultados de testes americanos, às vezes levam as empresas a serem citadas por violações. Mas essas citações são geralmente para drogas, principalmente antibióticos, que são aprovados para uso em animais e simplesmente excedem seus limites de resíduos. Muito poucas violações são para drogas que nunca deveriam estar na carne.

O monitoramento no Brasil não é deficiente somente no sentido de ser exclusivo para produtos totalmente fiscalizados mas também porque há lacunas na legislação. Outra dificuldade é a falta de registros gerados mesmo tendo programas de vigilância realizados pela ANVISA e MAPA, que são relativamente recentes. Apesar da proibição de muitas drogas, o contrabando se faz presente e deve ser combatido com fiscalização e denúncias.

Mas e o consumidor, como fica diante deste cenário?

Muitos especialistas em segurança de alimentos não acham que as preocupações levantadas nesta sequência de posts significam que você deve desistir ou necessariamente cortar a carne de sua dieta. É necessário, porém, dar maior atenção à origem dos alimentos que você consome, levando em conta a procedência, a qualidade, a confiança na marca, etc.

Alguns pesquisadores sugerem o consumo de carnes orgânicas, embora não haja garantias totais de que nestes produtos não exista a presença de substâncias proibidas, nem há grande divulgação sobre as formas de controle destes produtos, sabe-se apenas que são produtos fabricados de forma diferente e que possuem valor agregado maior para o consumidor, alem de serem poucas as ofertas destes produtos no mercado brasileiro.

Uma coisa é certa, seja produto orgânico ou não, produtos sem fiscalização não devem ser consumidos, uma vez que produtos fiscalizados podem ter falhas mas estas serão corrigidas e assim o consumidor tem a quem recorrer ou fazer cobranças em caso de problemas. Portanto é preciso estar atento aos produtos que você leva para a sua mesa.

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Dicas de compras – Como garantir o manuseio seguro dos alimentos e evitar riscos para a saúde

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Muitos de nós só querem entrar e sair do supermercado rapidamente. Mas em nossa corrida, “alguns de nós lidamos com a comida que compramos de uma forma que apresenta riscos de segurança, como deterioração e contaminação cruzada, que podem resultar em doenças”. Para evitar a propagação de germes nocivos, “você precisa praticar os fundamentos do manuseio de alimentos, assim como quando está cozinhando em casa”. Para se manter realmente seguro, você pode ter que se arriscar a parecer levemente neurótico em público, mas vale a pena.

Dicas de segurança para compras de alimentos

Faça uma lista de compras. Fazer uma lista de compras com a quantidade a ser comprada evita riscos de desperdício e perda de tempo durante a compra. Para quem não gosta da velha listinha de papel, saiba que existem diversos aplicativos para celular disponíveis.

Observe os rótulos. Principalmente no que diz respeito à conservação e validade e também aos aspectos da embalagem pois produtos enferrujados, amassados ou estufados não devem ser adquiridos.

Limpe seu carrinho de compras.  Limpe a cadeira de criança (alguns supermercados oferecem protetores descartáveis), bem como a alça do carrinho (onde se põe a mão para conduzir o carrinho) com uma toalhinha umedecida. Um estudo da revista Food Protection Trends encontrou E. coli em 50% das alças de carrinho de compras. Se sua loja não fornece  desinfetante para as mãos e toalhinha, leve o seu próprio kit.

Use desinfetante para as mãos.  É uma obrigação depois de  manusear aves cruas e embaladas no balcão de carne se não houver água e sabão.

Cuide dos seus sacos reutilizáveis. Eles podem ser ótimos para o meio ambiente, mas se você não os mantiver limpos, eles podem ser prejudiciais à sua saúde. Guarde os sacos na área mais limpa do carro e lave ou limpe-os com água quente e sabão pelo menos uma vez por mês. “Carne, aves e até mesmo produtos podem deixar bactérias que podem permanecer no saco e contaminar outros alimentos”.

Verifique seus ovos. Abra a embalagem e certifique-se de que nenhuma esteja rachada. “Se algum quebrar no caminho para casa, apenas certifique-se de cozinhá-lo dentro de 24 horas”.

 Organize seu carrinho. Um estudo do Journal of Food Protection observou que os compradores colocavam aves na cesta principal do carrinho, com outros alimentos ao redor, 84% do tempo. Sucos de carne e aves podem pingar em outros alimentos, espalhando bactérias e portanto devem ser mantidos separadamente no carrinho e também em casa.

Compre resfriados e congelados por último. A loja é organizada para você pegar produtos, carnes e laticínios antes de fazer compras nos corredores principais, mas é mais seguro colocar os produtos que precisam de refrigeração no carrinho por último. “Dessa forma, eles vão gastar o menor tempo possível fora do frio”.

Leve suas compras para casa rapidamente. Faça compras de supermercado como última tarefa antes de ir para casa. Alimentos perecíveis não devem estar fora de refrigeração por mais de 2 horas ou 1 hora em clima quente. Você pode ganhar algum tempo extra se possuir bolsa térmica em seu carro para guardar perecíveis.

Em São Paulo, desde 2016 há uma lei que obriga a higienização de carrinhos e de cestas de compras fornecidas em supermercados, atacadistas e estabelecimentos similares.

Veja mais sobre o tema em nosso blog:

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A busca por alternativas sustentáveis de produção de alimentos seguros

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A busca por alternativas sustentáveis de produção de alimentos seguros cresce a cada dia. Estamos sempre em busca de tecnologias que protejam o meio ambiente e a nossa saúde de alguma forma. Além disso, têm sido discutidas quais as últimas tendências na área de alimentos e falamos sobre algumas neste post, sendo uma delas o aumento do consumo de vegetais.
O post de hoje fala sobre uma das tendências em destaque atualmente, que é a utilização de sistemas sustentáveis na produção de alimentos por meio da aquaponia.
A aquaponia é um sistema de produção de alimentos que combina a criação de peixes com a hidroponia (cultivo de plantas em água) por meio de um ambiente simbiótico. A aquaponia permite a produção de vegetais e peixes sem a necessidade de adubos para os vegetais, visto que as fezes dos peixes são responsáveis pela mineralização da água.
A diferença entre a aquaponia e a hidroponia convencional é que os sais minerais hidrossolúveis (sódio, fósforo, potássio, dentre outros) são adicionados na água. Já no sistema aquapônico, a água utilizada na criação de peixes alimenta o sistema de produção dos vegetais, onde os subprodutos dos peixes, dentre eles a amônia, são quebrados por bactérias nitrificantes em nitritos e, depois, em nitratos, os quais são utilizados pelas plantas como nutrientes para seu desenvolvimento. A água é “filtrada” pelos vegetais, que utilizaram os nitratos, e é re-circulada, limpa, de volta ao sistema de aquicultura.
Quais são os prós e contras dessa tecnologia?
A aquaponia se adapta tanto à produção doméstica quanto à produção em escala industrial. Além disso, a tecnologia permite economizar até 90% de água em relação à agricultura convencional e eliminar completamente a liberação de efluentes no meio ambiente, pois se trata de um sistema fechado.
Em relação à segurança dos alimentos produzidos, o controle de pragas é mais fácil de ser realizado, visto que o sistema é fechado, e o risco de contaminação química dos vegetais é muito pequeno.
Todavia, a maior desvantagem do sistema é o alto custo de implementação, principalmente na montagem das estufas, o que deve ser avaliado de acordo com os objetivos de cada produtor. Além disso, é necessário um cuidado especial com a manutenção e monitoramento da qualidade da água e da sanidade dos peixes e das plantas, o que requer um bom entendimento dos processos físicos, químicos e microbiológicos envolvidos no processo. Assim, é importante sempre avaliar vários indicadores para estabelecer um controle de qualidade, como a necessidade de suplementação nutricional para os vegetais, fase de cultivo dos peixes, composição da ração utilizada, temperatura, taxa de fluxo de água, dentre outros. Se o controle de qualidade não for efetivo, o sistema pode colapsar.
Como toda produção de alimentos, é fundamental realizar um controle de qualidade efetivo e implementar as Boas Práticas de Fabricação. Para isso, a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) elaborou um documento como indicação de um conjunto de Boas Práticas de Manejo (BPM) para aprimoramento do manejo produtivo e sanitário dos sistemas de aquaponia. Segundo este material, a adoção de boas práticas apropriadas contribui para a melhoria dos índices de desempenho do sistema para a produção segura de peixes e hortaliças.
Seguem abaixo algumas dicas de Boas Práticas para sistemas de aquaponia de acordo com o material da Embrapa:
1. Acompanhar indicadores de desempenho zootécnico, filotécnico e econômico e pontos positivos e negativos de funcionalidade específicos para cada sistema de aquaponia, visto que as demandas de cada produtor e as condições ambientais variam muito. Uma das formas para organizar e analisar objetivamente essas informações pode ser feita a partir do uso de uma caderneta de campo onde devem ser anotadas todas as informações referentes à qualidade da água, manejo dos peixes e das hortaliças.
2. Avaliar a eficiência das unidades de filtragem. Para isso, é possível realizar um teste rápido para determinar a concentração de amônia, nitrito e nitrato na água, visto que a amônia é o principal resíduo resultante do metabolismo dos peixes e da degradação da matéria orgânica (rações). O acúmulo de amônia nos sistemas de recirculação resulta na redução da produção, no aumento do estresse dos peixes e, consequentemente, no aumento da ocorrência de doenças, o que provoca grandes perdas devido à mortalidade elevada.
3. Realizar o monitoramento e manutenção da qualidade da água considerando fatores como concentração adequada de oxigênio dissolvido, turbidez, pH, condutividade elétrica, concentrações de nitritos, nitratos e amônia, alcalinidade da água, etc.
4. Verificar a necessidade de suplementação de nutrientes.
5. Avaliar a digestibilidade da ração que será fornecida aos peixes para determinar a disponibilidade de nutrientes na água e a capacidade de produção vegetal do sistema.
6. Otimizar o controle de pragas e doenças por meio da adição de microrganismos antagônicos ao patógeno e promotores de crescimento de plantas na solução nutritiva. No caso de pragas, recomenda-se a utilização de inimigos naturais, como predadores, parasitoides ou entomopatógenos.
Deixe seu comentário sobre as novas tendências sustentáveis e seguras e confira sempre nossas dicas sobre segurança dos alimentos em diversos tipos de produção.

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Pequeno briefing do II Fórum Food Safety Brazil 3M

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O II Fórum Food Safety Brazil 3M significou muito para mim, foi a minha primeira organização de evento fora da universidade. Tínhamos dois meses para idealizá-lo, um time de oito pessoas, e a todo momento gostaríamos de elaborar um evento com um tema atual. Depois de pesquisas em websites internacionais, discussões entre o comitê de organização, o tema central escolhido foi Food Safety Culture. Em um período de oito horas, contamos com cinco palestrantes: Marcia Pannuci, Silvana Chaves, Everton Santos, Cristiana Constantino e Juliane Rigobello. Tivemos dois períodos de trocas de experiências entre os palestrantes e os convidados por meio de mesa redonda, na qual contamos com Fernanda Spinassi, que possibilitou o diálogo para que isso ocorresse.

Na abertura pudemos ouvir a Fernanda, falando sobre a associação, dizendo nossa missão e nossos valores, que podem ser vistos aqui. Já na primeira palestra, contamos com a participação da Marcia Pannuci, gerente de qualidade da Coca-cola Company, mostrando um estudo de caso sobre Food Safety Culture. Marcia focou a importância de uma equipe multidisciplinar, pois quem gera a mudança são as pessoas, e ressaltou que segurança de alimentos não pode ser uma vantagem competitiva.

Já na fala de Silvana Chaves, colunista da associação, descobri a importância da formação de cultura, a importância de ter um ambiente educativo, pois se cria o valor da cultura todos os dias, com exemplificação, repetição. Enquanto a ouvia, descobri o Frank Yiannas, um ídolo para as pessoas da área, vale a leitura do livro dele. Aliás, foram sorteados dois livros dele e pergunto: quem os leu poderia dividir conosco?

Everton Santos, colunista da associação, falou sobre a frequência da amostragem, pois ao falar de controle microbiológico logo vem à mente a RDC 12/2001  que, apesar de não citar a frequência de amostragem, apresenta todo suporte para interpretar nossos resultados e até mesmo nos indica qual micro-organismo analisar em determinado alimento. Essa informação é de suma importância para separarmos o aceitável do inaceitável. Em breve, vocês terão acesso ao material por ele apresentado.

Após o almoço, Cristina Constantino, colaboradora da 3M, nos falou das tendências em assuntos regulatórios e sobre a importância de participarmos das consultas públicas, assunto sobre o qual o Dafné já escreveu no blog e pode ser lido aqui. Juliane Rigobello, colaboradora da BRC Brasil, nos mostrou a importância do monitoramento ambiental e as etapas do seu planejamento: intenção do programa, desenvolvimento do plano de amostragem, organismos alvos, metodologia do teste, ações corretivas, usos de dados e revisão.

Aqui estão as palestras de nossos convidados:
Marcia Panucci
Everton Santos
Silvana Chaves
Juliane Rigobello

Em suma, aqui está o coração de cada palestra. No próximo post, traremos as perguntas e respostas levantadas nos momentos de mesa redonda.

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Como minimizar os riscos de contrair doenças ao consumir especiarias

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Muitos surtos de DTA, principalmente de Salmonela, estão diretamente ligados ao consumo de especiarias. As especiarias parecem inofensivas, pois temos a falsa sensação de que alimentos tão secos não são perigosos e não apresentam microrganismos prejudiciais (veja nossos artigos sobre isso aqui e aqui), o que é um grande engano!

Neste post, vamos discutir um pouco mais sobre o que podemos fazer para minimizar os riscos de contrair DTAs ao consumir especiarias.

Muitas vezes, as especiarias são consumidas sem tratamento térmico, o que deixa o consumidor mais vulnerável ainda, visto que grande parte dos microrganismos presentes nesses temperos não sobrevive a altas temperaturas. Dessa forma, doenças causadas por meio do seu consumo podem ser muito difíceis de rastrear porque as pessoas não se lembram de mencionar que acrescentaram especiarias em alimentos prontos, por exemplo. Muitas vezes, uma maionese segura pode acabar levando a culpa em vez de um orégano contaminado.

As DTAs são problemas graves em especiarias importadas devido à contaminação por bactérias e fungos durante a estocagem, transporte ou mesmo durante a manipulação desses condimentos.

O que podemos fazer para minimizar os riscos de contrair estas doenças ao consumir especiarias?

Como consumidores, infelizmente, preço não deve ser o principal pré-requisito nas compras de especiarias. A quantidade utilizada nas receitas é pequena. Assim, vale a pena o investimento por um alimento mais seguro. Processos seguros, muitas vezes, são mais caros. Desconfie de preços muito abaixo do mercado. Outra dica relevante é verificar quais marcas estão regularizadas por meio do serviço de consulta de produtos regularizados disponibilizado pela ANVISA.

Como produtores e comerciantes, é essencial fazer uma seleção muito rigorosa de fornecedores. Além disso, é imprescindível ter responsabilidade e ética ao colocar um produto no mercado, visto que os alimentos estão diretamente relacionados com a saúde da população. Existem vários artigos na internet falando sobre a utilização de conservantes e outros processos, como a irradiação e ozonização, em desacordo com os padrões permitidos pela ANVISA para mascarar péssimas condições higiênico-sanitárias no manuseio de especiarias e produtos à base delas, como molhos e temperos, o que pode gerar uma contaminação química dos produtos e colocar a saúde das pessoas em risco da mesma forma.

Por conseguinte, é necessário um controle de qualidade mais rigoroso para especiarias, molhos e temperos. Os temperos são alimentos e, muitas vezes, isso é negligenciado durante as etapas de manipulação, armazenamento e transporte. Dessa forma, os responsáveis pela distribuição desses produtos no Brasil devem se atentar aos laudos básicos de controle de qualidade exigidos e se certificar de que esses produtos são realmente seguros. Já os consumidores devem sempre ficar atentos à regularização das marcas e aos locais onde esses produtos, que parecem tão inofensivos, são vendidos.

Confira também outros posts sobre especiarias publicados no Food Safety Brazil aqui, aqui e aqui.

Autora convidada: Luiza Dutra

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Quais as principais lições em segurança de alimentos aprendidas ao longo de sua carreira?

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Se você já trabalha há algum tempo com segurança de alimentos provavelmente já vivenciou valiosas lições nesse ramo. A revista Food Safety Magazine realizou uma pesquisa da qual participaram mais de 450 entrevistados de todos os tipos de categorias de fabricação de alimentos, além de profissionais do governo, de consultorias e de laboratórios, cujo tempo de experiência médio foi de 18 anos.

A única pergunta realizada foi: Qual foi a lição mais importante sobre segurança de alimentos aprendida em sua carreira?

As respostas mais “ouvidas” foram categorizadas nos temas representados no gráfico a seguir:

Como esperado, comentários sobre cultura e pessoas foram os mais comuns. A maioria desses comentários mencionou a necessidade de adesão de todos da empresa e a criação de uma cultura de segurança de alimentos respeitada e valorizada em todos os níveis. Segundo os respondentes, sem a cultura implementada tudo o que precisa ser feito se torna difícil ou até impossível. Também ressaltaram que primeiramente essa cultura deve ser incorporada pela alta direção das organizações, caso contrário não vai funcionar.

Em segundo lugar, mas apenas um pouco atrás da cultura, estava a necessidade de constante diligência e trabalho proativo dentro do programa de segurança de alimentos. Muitos enfatizaram que a segurança de alimentos pode ser afetada de várias maneiras, portanto, é preciso manter foco e diligência.

A necessidade de nunca comprometer os fundamentos e nunca tomar atalhos também foram temas-chave, e um dos respondentes resumiu essa ideia de forma muito sucinta, dizendo: “Se você não tem 15 segundos para medir a temperatura da comida que está preparando para garantir que é seguro consumi-la, saia do serviço de alimentação!”.

As pessoas também enfatizaram a importância da educação e do treinamento. “A educação é o fator mais importante em qualquer sistema de segurança de alimentos”, disse um deles. Muitos mencionaram a constante evolução das tecnologias e processos de segurança de alimentos, e para ter o melhor programa possível, você deve estar atualizado sobre quais novas opções estão disponíveis para você e a melhor maneira de implementá-las para beneficiar seu programa: “Mantenha-se atualizado com os avanços tecnológicos e de testes e preste atenção aos surtos de doenças transmitidas por alimentos e recalls de produtos alimentares para manter seu plano de segurança de alimentos”, disse um deles, enquanto outro mencionou: “Fazer cursos e treinamentos para acompanhar as mudanças na regulamentação e em auditorias é essencial.

Outros importantes aprendizados

  • Uso da ciência e testes precisos para orientar seus programas, sendo mencionada a importância de confiar apenas naquilo que você pode verificar com dados e entendê-los completamente.

  • Sanitização – com um alto número de respostas mencionando especificamente a lavagem das mãos – foi a chave para o sucesso de seu programa.

  • Muitas pessoas também enfatizaram a natureza crítica de segurança de alimentos e os riscos que todos nós somos chamados a gerenciar, reconhecendo que os erros podem ser literalmente uma questão de vida ou morte.

  • Comunicação e a importância de que todos entendam exatamente quais são os elementos do programa e seus objetivos.

  • Envolvimento da alta direção

Ao final, o autor concluiu que é interessante que a maioria das habilidades citadas nessas “lições aprendidas” não foram científicas ou técnicas, mas relacionadas à comunicação, cultura, educação e execução.

E você? Qual foi a lição mais importante sobre segurança de alimentos aprendida em sua carreira? Deixe sua resposta nos comentários.

Fonte: https://www.foodsafetymagazine.com/magazine-archive1/augustseptember-2018/lessons-learned-careers-in-food-safety/

 

3 min leituraSe você já trabalha há algum tempo com segurança de alimentos provavelmente já vivenciou valiosas lições nesse ramo. A revista Food Safety Magazine realizou uma pesquisa da qual participaram mais […]

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Alimentos artesanais: a regulamentação da lei 13.680/2018

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No post intitulado “Segurança de alimentos artesanais e a nova lei nº 13.680/2018”, publicado no blog, falamos sobre a Lei nº 13.680/2018 e informamos que uma das mudanças era a transferência da competência de fiscalização e inspeção sanitária de produção dos órgãos de agricultura para a saúde. Porém, em julho de 2018, como publicado em nota, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) criou um grupo de trabalho para aprofundar a análise jurídica sobre a nova lei. Uma das conclusões do grupo foi que a legislação recente não transfere a competência de fiscalização e inspeção sanitária de produção dos órgãos de agricultura para a saúde. Isso, a princípio, significaria que a inspeção permanece como está.

Segundo a nota do CFMV, a nova lei não muda a antiga lei (Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950) que dispõe sobre a inspeção industrial e sanitária dos produtos de origem animal. De outro modo, afirma que a fabricação e a comercialização de alimentos artesanais de origem animal continuam submetidas à fiscalização dos órgãos de saúde pública. No entanto, com a publicação da nova lei 13.680/2018 foi acrescentado um novo artigo, no qual fica regulamentado que para a comercialização interestadual a fiscalização de um produto registrado deve ser feita por qualquer sistema de inspeção de saúde pública, seja ele federal, estadual ou municipal. Contudo, a lei não esclarece como isso deve ocorrer.

Anteriormente à sanção da nova lei o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já haviam se pronunciado sobre a nova Lei e sobre o que compete a cada órgão em sua área de atuação na fiscalização de alimentos. Assim, Mapa e Anvisa entendem que a inspeção de produção de produtos de origem animal, mesmo de produtos artesanais, cabe ao órgão de agricultura e não ao de saúde.

A nova lei trouxe três atualizações importantes e que ainda necessitam de regulamentação: a fiscalização por sistema de inspeção de saúde pública, a criação de um selo nacional “ARTE” e a natureza prioritariamente orientadora da fiscalização. O processo será conduzido pelo Mapa e o CFMV solicitou representatividade no grupo de especialistas que irá debater a regulamentação dos produtos artesanais. O processo de regulamentação da Lei nº 13.680/2018 e seus desdobramentos precisam ser discutidos e aprofundados. Por isso, estaremos de olho, junto aos órgãos representativos de produção de alimentos, para acompanhar todo esse processo.

Fonte:

Grupo de trabalho do CFMV revê lei dos produtos artesanais e apresentará propostas para a regulamentação 

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Segurança dos alimentos que contêm maconha como ingrediente

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Parece que a cannabis comestível está disponível em todos os lugares nos dias de hoje aqui no Brasil. Em qualquer festa de universidade que você vá, é possível comprar bolinhos, pirulitos, biscoitos, chocolates com a droga. Em lugares turísticos de São Paulo é possível encontrá-los a um preço bem acessível: um pedaço de bolo custa em média R$ 5,00. Para quem não sabe, a cannabis tem sido usada como medicação oral há milênios, uma vez que um tratado chinês sobre farmacologia descreveu que o imperador Shen Nung, em 2737 AC, a usou. Em 1850, a cannabis foi listada na Farmacopéia dos EUA como uma cura para muitas doenças; no início dos anos 1900, a Squibb Company, a Eli Lilly e a Parke-Davis fabricavam drogas de maconha como antiespasmódicos, sedativos e analgésicos.

O medo da maconha começou nas décadas de 1920 e 1930, quando o número de imigrantes mexicanos aumentou e o Departamento Federal de Entorpecentes dos EUA encorajou os estados a adotarem a Lei de Impostos sobre a Marihuana como forma de criminalizar a produção e o uso de cannabis. A lei foi aprovada em 1937, exigindo o registro federal de traficantes de cannabis com impostos sobre vendas, além de penalizar os usuários de cannabis com multa e prisão.

Nos EUA, os produtos comestíveis de maconha estão sendo comercializados para uso recreativo, assim como para propósitos medicinais, como tratar a dor crônica, aliviar os sintomas da epilepsia, melhorar a náusea pela quimioterapia, etc. Os comestíveis infundidos com canabidiol (CBD) parecem ser mais “socialmente aceitáveis” do que fumar maconha porque eles evitam alguns dos estigmas de “fumar maconha”, como o odor. Isso os torna atraentes para um público mais amplo.

Nem aqui no Brasil, nem nos EUA,  há padrões  regulatórios para esses produtos (que têm um público consumidor gigantesco) – é realmente um mercado de “cuidado com o comprador”. Mas os EUA estão a nossa frente, eles formalizaram um documento no Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente de Denver no qual observaram recentemente que alguns produtos de maconha vendidos nos EUA são provenientes de instalações de manufatura não regulamentadas, inseguras e insalubres. Além disso, alguns destes comestíveis contêm ingredientes não aprovados, foram produzidos em condições inseguras e tiveram alegações de saúde infundadas em seus rótulos. Em muitos casos, os comestíveis vendidos e consumidos nos EUA podem:

  • Não ter o efeito desejado que os consumidores estão procurando;
  • Ser perigosos para consumo, devido aos níveis inadequados de CBD;
  • Conter ingredientes que não são de qualidade alimentar e, portanto, não são seguros para ingerir;
  • Ser perigosos devido à contaminação cruzada;
  • Transmitir doenças transmitidas por alimentos devido a falta de saneamento e higiene nas instalações onde foram produzidos.

Uma vez que esses produtos (e a indústria de cannabis em geral) não são regulamentados, muitos dos negócios comestíveis não tiveram nem mesmo o treinamento básico em segurança de alimentos. Inúmeras instalações de produção ignoram as regras mais básicas de segurança de alimentos:

  • Eles não lavam as mãos – e podem até não ter água quente em suas instalações.
  • Eles não impedem a contaminação cruzada ou o contato cruzado.
  • Eles não prestam atenção a itens críticos, como controle de tempo e temperatura ou armazenamento adequado de produtos químicos.
  • Eles não têm instalações ou equipamentos limpos e higienizados.
  • Eles têm problemas com insetos, roedores e / ou mofo em suas instalações.

No entanto, eles ainda estão preparando produtos consumíveis e vendendo-os ao público, que acreditam que os alimentos são seguros. Há relatos de produtos que foram fabricados em uma máquina de lavar suja, enferrujada e mofada. Aparentemente, a utilização de uma máquina de lavar roupa imunda para produzir comestíveis de maconha não está fora da norma. Foi exatamente isso que aconteceu nas instalações licenciadas da Advanced Medical Alternatives em Denver. Sua marca, a At Home Baked, fabricava uma variedade de produtos de cannabis comestíveis, incluindo brownie mix, blondie mixes, rice krispie, e stixx candy, tudo em uma máquina de lavar roupas enferrujada e mofada.

Felizmente, Denver é uma das poucas jurisdições que realizam inspeções em instalações de maconha, e seus inspetores capturaram o problema e emitiram um recall antes que qualquer doença fosse relatada. Tenha em mente que, uma vez que não há normas federais de segurança em torno das instalações de cannabis, isso significa que há muitas jurisdições que não monitoram instalações de cannabis. Em muitos casos, as pessoas estão, sem saber, comprando comestíveis que foram fabricadas em condições sujas e insalubres – e podem ficar muito doentes como resultado.

Como não há regulamentação federal, os testes de laboratório variam entre os estados que permitem o uso de maconha medicinal e recreativa. Infelizmente, isso significa que não há padrões de segurança consistentes no setor de cannabis, como há no setor de serviços alimentícios.

Felizmente, há um número crescente de produtores de CBD que estão contratando especialistas em segurança de alimentos e maconha para ajudá-los a elevar seus padrões de segurança antes que a FDA comece a regulamentar. Tal como acontece com todas as indústrias, existem muitas empresas que estão prontas, dispostas e tentando fazer a coisa certa.

Como os comestíveis de cannabis continuam a crescer em popularidade, está se tornando cada vez mais importante comprar de empresas conceituadas que seguem protocolos de segurança adequados. As empresas de maconha devem obedecer às mesmas regras que outras empresas de alimentos: instalações limpas e sanitárias, sem contaminação cruzada, mantendo produtos em temperaturas adequadas, usando ingredientes de grau alimentício de fontes confiáveis, etc. Assim como você não jantaria em um restaurante imundo, infestado de pragas, não compre comestíveis de maconha de empresas que não seguem procedimentos críticos de segurança de alimentos.

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Como se preparar para a implementação da norma ISO 22.000:2018 (IV)

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Neste 4º post abordaremos “o ciclo PDCA”, pois na nova versão a norma clarifica o ciclo Plan-Do-Check-Act, tendo dois ciclos separados no padrão trabalhando em conjunto: um abrangendo o sistema de gestão (estratégico) e o outro cobrindo os princípios do HACCP (operacional). O ciclo PDCA permite que uma organização garanta que seus processos tenham recursos e gerenciamento adequados e que as oportunidades de melhoria sejam determinadas e implementadas. Resumidamente, o ciclo é descrito da seguinte forma:

Planejar: Estabelecer os objetivos do sistema e seus processos, fornecer os recursos necessários para entregar os resultados e identificar e abordar riscos e oportunidades. O conceito de riscos e oportunidades é limitado a eventos e suas consequências relativas ao desempenho e à eficácia do SGSA. As autoridades públicas são responsáveis por abordar os riscos para a saúde pública. As organizações são obrigadas a gerenciar os riscos à segurança de alimentos e os requisitos relacionados a este processo estão estabelecidos na Cláusula 8. As opções para abordar riscos e oportunidades podem incluir: evitar riscos, assumir riscos para buscar uma oportunidade, eliminar a fonte de risco, alterar a probabilidade ou consequências, compartilhar o risco ou aceitar a presença de risco por decisão informada. As oportunidades podem levar à adoção de novas práticas (modificação de produtos ou processos), usando novas tecnologias e outras possibilidades desejáveis e viáveis para atender às necessidades de segurança de alimentos da organização ou de seus clientes;

Fazer: implementar o que foi planejado, conforme os requisitos da cláusula 8 (Operação):
8.1 – Planejamento e controle operacional
8.2 – Programas de pré-requisitos (PPRs)
8.3 – Sistema de Rastreabilidade
8.4 – Prontidão e resposta a emergências
8.5 – Controle de Perigo
8.6 – Atualizando as informações especificando os PPRs e o plano de controle de perigos
8.7 – Controle de monitoramento e medição
8.8 – Verificação relacionada a PPRs e o plano de controle de risco
8.9 – Controle de não conformidades de produtos e processos

Verificar: Monitorar e (quando relevante) medir os processos e os produtos e serviços resultantes, analisar e avaliar informações e dados das atividades de monitoramento, medição e verificação e relatar os resultados;

Agir: Tomar ações para melhorar o desempenho, conforme necessário. A organização deve melhorar continuamente a adequação e eficácia do SGSA.

Continue nos acompanhando nessa série atual!

Imagem: SERTIFIKASI ISO 22000:2018

 

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Quantos são e quais as diferenças entre os Serviços de Inspeção para Produtos de Origem Animal existentes no Brasil

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Atualmente, nosso país possui três tipos de Serviços de Inspeção: 1) Serviço de Inspeção Federal (S.I.F.); 2) Serviço de Inspeção Estadual (S.I.E.)*; 3) Serviço de Inspeção Municipal (S.I.M.). Neste ponto, você pode estar se perguntando: “Qual a importância e diferença entre eles?“. A diferença está na hora da comercialização dos produtos, limitando a comercialização na esfera municipal, estadual ou federal. De qualquer maneira, a inspeção e liberação dos produtos de origem animal deverá passar pelo crivo de um profissional com formação em medicina veterinária. Os produtos de origem animal que tenham sido devidamente inspecionados apresentarão o carimbo ou etiqueta de um dos selos no produto. Tecnicamente, o selo indica que o produto foi devidamente inspecionado e registrado e, para o consumidor, serve como referência visual rápida de que o produto é de procedência segura.

Indústrias de alimentos que apresentem selo de inspeção federal (SIF) têm permissão para comercializar em todo o território nacional, estando aptas também para exportar seus produtos. Um exemplo: produtos com selo SIF (Figura 1) produzidos no RS poderão ser comercializados no estado de São Paulo ou mercado europeu, árabe, entre outros.

Figura 1: Modelo de selo empregado como etiqueta ou carimbo pelo Ministério da Agricultura para produtos comercializados nacionalmente e que podem ser exportados.

Para produtos de origem animal que apresentam o S.I.E. (Figuras 2a e 2b), a comercialização já começa a ser restrita ao estado em que houve o processamento e/ou beneficiamento do produto. Para exemplificar, podemos citar um frigorífico que produz presunto no estado do Rio de Janeiro que, ao ter o S.I.E. para o presunto, poderá vender somente para municípios do estado do Rio de Janeiro.

Figura 2: Modelo de selo empregado como etiqueta ou carimbo pelas diferentes Secretarias de Inspeção Estadual para produtos comercializados estadualmente – a) modelo adotado pelo estado de Santa Catarina; b) modelo adotado pelo Rio Grande do Sul.

Já para produtos que contenham o S.I.M., a área de comercialização é ainda mais reduzida. Produtos que apresentem este carimbo ou etiqueta somente poderão ser vendidos no município em que foram produzidos. Para melhor exemplificar, podemos citar que um cidadão do município de Passos, MG, ao adquirir ovos ou mel com etiqueta S.I.M. (Figura 3), estará adquirindo um produto de uma agroindústria que foi devidamente inspecionada pela secretaria de agricultura do município, autorizando e restringindo a comercialização nos limites do município.

Figura 3: Modelo de selo empregado como etiqueta ou carimbo pelas diferentes Secretarias de Inspeção Municipal para produtos comercializados municipalmente.

Além disso, deve ser lembrada a existência do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA) (Figura 4). Este sistema busca padronizar os procedimentos de inspeção de produtos de origem animal de modo a garantir a segurança alimentar e inocuidade dos produtos de origem animal. O SISBI-POA faz parte do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA), vinculado ao ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Figura 4: Modelo de selo empregado como etiqueta ou carimbo em produtos de origem animal contendo referência ao Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária.

A finalidade deste selo é possibilitar ao S.I.E. e S.I.M. ultrapassar as barreiras delimitadas descritas anteriormente. Quanto à legislação, o SIF possui maiores exigências do MAPA e dos países compradores. O mercado árabe, por exemplo, exige o abate Hallal e para isso normas devem ser cumpridas pelo estabelecimento com este selo.

É importante destacar que, independentemente do tipo de selo de inspeção, a população irá consumir um produto com qualidade e segurança, ao contrário de produtos clandestinos. E por que se deve ter esse cuidado? Os alimentos clandestinos são responsáveis por eventos de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA), podendo levar a um quadro clínico de uma simples diarreia até o óbito. Exemplos comuns de vetores que promovem DTA são: bactérias  Salmonella, Listeria, Escherichia coli, Clostridium entre outras, mas isso é um assunto sobre o qual podemos conversar em outra data.

[*] O Serviço de Inspeção Estadual no estado do Rio Grande do Sul é conhecido como CISPOA, antiga denominação para a atual Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA). (Nota do autor)

Autora convidada: Profa. Dra. Ludmila Noskoski Salazar
Médica Veterinária
Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ

Fontes das imagens, por ordem de apresentação:

http://revistasafra.com.br/produtos-de-origem-vegetal-vao-ganhar-selo-de-inspecao-federal/

http://www.cidasc.sc.gov.br/blog/2017/11/01/cidasc-de-cacador-realiza-reuniao-pra-decidir-sobre-a-reativacao-do-sie/

http://www.agricultura.rs.gov.br/divisao-de-inspecao-de-produtos-de-origem-animal-dipoa

http://www.passos.mg.gov.br/pages/noticia.php?cod=420

http://www.agricultura.gov.br/assuntos/inspecao/produtos-animal/sisbi-1

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A sutil, mas não menos importante relação entre o PMOC e a Segurança de Alimentos

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No início de 2018 foi promulgada pelo governo federal a Lei 13.589 que dispõe sobre a manutenção de instalações e equipamentos de sistemas de climatização de ambientes. Este requisito legal se aplica a todos os edifícios de uso público e coletivo que possuem ambientes de ar interior climatizado artificialmente e estabelece obrigações para o PMOC (Plano de Manutenção, Operação e Controle), além de outros requisitos.

E aqui fica a dúvida: afinal, PMOC é Food Safety?

O objetivo principal do requisito legal é estabelecer critérios para garantir a saúde pública, pois estima-se que a qualidade do ar interno pode ser de 2 a 5 vezes pior que no ambiente externo.

Independentemente disso, não podemos negar que a qualidade do ar ambiente pode interferir na segurança do alimento produzido. Por isso, esta lei também se aplica aos ambientes climatizados tais como processos produtivos, laboratoriais e outros.

Neste contexto, qualquer sistema mecânico de ventilação / exaustão deve ser contemplado nas práticas estabelecidas para atender ao requisito legal. Aqui, incluem-se: cortinas de ar, air shower, exaustores, insufladores, etc.

Um outro ponto muito relevante a ser considerado é que a legislação estabelece que a fiscalização será realizada pela Vigilância Sanitária. E o que isso significa?

Significa que a adequação deste ponto pode passar a ser requerida nas renovações e/ou solicitações de LTA (Laudo Técnico de Avaliação), por exemplo.

Além disso, a infração ao requisito legal pode acarretar penalidades que podem incluir multas entre R$ 2.000 e R$ 1,5 milhões (dependendo da condição, infração, reincidência, etc.)

Com este cenário, entendo que sim, PMOC também é Food Safety!!!

E quais são as principais exigências deste requisito legal?

Para atender às obrigações da Lei 13.589, no mínimo devem ser apresentados:

  • PMOC – Plano de Manutenção, Operação e Controle devidamente registrado sob a competência técnica adequada (estabelecidos no Decreto 23.569/33, Decreto-Lei 8.620/46 e Lei 5.194/66). De uma forma geral:
    • Manutenção mecânica: Engenheiros Mecânicos;
    • Avaliação da qualidade do ar: Engenheiros Químicos ou Engenheiros de Segurança do Trabalho ou Engenheiros Sanitaristas.

Ou correlatos aceitos pelo CREA.

  • ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) para o PMOC e Avaliação da qualidade do ar;
  • Planta / desenho do sistema;
  • Relatórios de análises semestrais da qualidade do ar (critérios de qualidade do ar estabelecidos conforme a Resolução ANVISA 09 de 16 de janeiro de 2003 assim como as normas técnicas da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Enquanto estive estudando o assunto, participei de um seminário a respeito e foram abordadas diversas frentes que podem ter relação com Food Safety. Além do exposto acima, também foi questionado:

Há uma fiscalização sobre os tipos de filtros aplicáveis ao sistema de ventilação / exaustão / climatização?

R: Não, esta especificação depende da necessidade do processo.

Os fabricantes de equipamentos estão sendo abordados sobre este tema (exemplos: fabricantes de chiller, fan coil, filtros, etc.)?

R: Não, a adequação neste momento é por iniciativa do fabricante.

Há algum laboratório no Brasil que certifique os filtros?

R: Não há no Brasil laboratório que certifique filtragem.

Esta lei entrou em vigor no dia 04 de janeiro de 2018 e estabeleceu 180 (cento e oitenta) dias para o cumprimento de todos os seus dispositivos, ou seja, desde o dia 07 de julho de 2018, o requisito legal é aplicável e pode ser fiscalizado pelo órgão competente.

Atualmente, já está em discussão a relação deste requisito legal com as Normas Regulamentadoras (NRs) para perigo biológico considerando o aspecto de saúde ocupacional além da abordagem de órgãos ambientais, como a CETESB por exemplo, para o alinhamento do tema com a qualidade do ar exterior.

Particularmente, já tive experiências com auditorias do sistema de gestão de segurança de alimentos nas quais foi requerido o controle de ar externo. Cada vez mais estou convencida que este assunto é muito mais integrado do que pensamos. Ele permeia entre saúde ocupacional, segurança de alimentos e meio ambiente.

E você, como entende a aplicação deste tema? Já está caminhando para a adequação e atendimento ao requisito legal?

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O que esperar de uma consultoria em food safety

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O uso dos serviços de uma consultoria na implantação de um sistema de gestão em segurança dos alimentos pode catalisar o processo dando-lhe velocidade, justamente porque consultores devem ter a experiência de já terem implantando outros sistemas de gestão. Assim,  eles já aprenderam com acertos e erros o que dá certo e o que dá errado, e espera-se que saibam como evitar redundâncias, saibam como economizar tempo, e como tal, uma boa consultoria tende a dar retorno sobre o investimento (ROI).

Mas como escolher características de uma boa consultoria?

Primeiramente, uma boa consultoria em Food Safety não trará “pacotes prontos”, uma vez que cada empresa tem seu próprio contexto. Podemos fazer uma analogia:

“Uma boa consultoria é como um bom alfaiate, toma suas medidas, entende suas necessidades e costura a roupa que lhe ficará mais confortável, esteticamente adequada, enfim, sob medida.

Já o mau alfaiate é aquele que faz para você uma roupa baseada no molde padrão que usou nos últimos clientes, e que no final, não o vestirá bem, gerará incômodo e deselegância, ou sobrará pano, ou ficará apertada.”

Algumas consultorias podem trazer soluções que só agreguem burocracia e não valor ou segurança dos processos. Estas trabalham com “pacotes prontos” ao estilo “control C control V” adaptando empresas a seus procedimentos, e não ajustando procedimentos para serem os mais adequados para as empresas em termos de gerarem o mínimo de burocracia com o máximo de resultados. No final, existe um grande risco de ter-se construído elefantes brancos, com procedimentos pouco práticos, que exigem rotinas inadequadas ou que deixam de considerar aquelas que são relevantes a um determinado negócio.

Um sistema de gestão em segurança dos alimentos não é um amontoado de documentos, de papéis, mas uma forma de a empresa trabalhar seus processos em prol de obter alimentos seguros, e isso envolve um aculturamento que vai do chão de fábrica até as cadeiras mais altas que tomam as últimas decisões.

Por tudo isso, um bom mapeamento de processos é fundamental para uma personalização, na qual cada empresa é única, portanto, requererá um sistema de gestão adequado à sua medida, pois cada uma tem seus próprios riscos que devem ser controlados, assim como sua própria forma metodológica e técnica de controlar tais perigos ou mantê-los em níveis aceitáveis, o que variará de acordo com as tecnologias adotadas, os processos existentes, os fornecedores que utiliza, o grau de instrução e competência dos times internos, a concepção da planta industrial, etc.

Mesmo empresas de um mesmo segmento, que produzem itens semelhantes, são diferentes, uma vez que possuem diferentes culturas organizacionais e formas de trabalho. A identidade corporativa é única em cada empresa, e tudo isto implicará na forma como um sistema de gestão em segurança dos alimentos deverá ser desenhado e construído.

Outro erro comum que pode ocorrer é as consultorias venderem pacotes “all incluse”, levando além dos procedimentos semi-prontos, consultores juniores para fazerem “toda documentação do sistema de gestão” sem usar uma equipe interna multidisciplinar da própria empresa.

Isso é fatal e normalmente se obtém como resultado sistemas frágeis, ou com pouco engajamento das equipes da própria empresa, ou a empresa no pós-auditoria não terá a menor ideia de como conduzir o que foi montado, pois não adquiriu o know how necessário que só se obtém participando efetivamente da construção do sistema de gestão em food safety. Cuidado também com consultorias que focam muito mais a documentação que a construção de rotinas de processos seguros.

O melhor legado que uma boa consultoria pode deixar para uma empresa é a formação e qualificação de uma equipe multidisciplinar competente, capaz de tratar temas como GMP, MIP e HACCP, além de gestão de crises, e claro, o mapeamento, controle e validação de processos pela perspectiva da produção de alimentos efetivamente seguros.

Já ouvi de colegas que “implantar sistemas de gestão em segurança de alimentos é fácil, o difícil é mantê-los”, e afirmo, isso é uma bobagem. 

Esta fala só existe em empresas que nunca implantaram de verdade seus sistemas de gestão em segurança dos alimentos, uma vez que parte da implantação é justamente capacitar pessoas para sua condução. Portanto, isso só ocorre se a empresa “comprou um pacotão pronto”, frágil, e que tende a durar pouco, e a empresa invariavelmente voltará a operar sua rotina como as pessoas faziam antes, ou seja, sem uso do potencial do sistema de gestão e com falhas que podem permitir a presença de contaminantes nos produtos que processa. Mas se a empresa passou por uma efetiva transformação preparando seus processos e times internos, a manutenção do sistema de gestão tende a ser muito suave, pois os processos estarão bem sedimentados e as rotinas que o sustentam já farão parte do trabalho diário.

Uma boa consultoria, então, além de montar um sistema de gestão sob medida, faz isso com apoio das equipes internas, num trabalho de auxiliar a condução, dar velocidade, pela experiência acumulada em direcionar ações evitando redundâncias e procedimentos que testadamente tendem ao fracasso (atalhos). Isto é feito de forma suave, para que com o fim da consultoria o sistema de gestão implementado continue rodando dentro da organização como um acontecimento natural, pois a rotina das pessoas foi ajustada e adaptada ao sistema de gestão sem traumas. Mais que isto: as pessoas perceberam ganhos em suas tarefas e rotinas com a nova forma de trabalho, assim, aceitam, gostam e querem trabalhar dentro do escopo do sistema de gestão.

Acima de tudo, um bom sistema de gestão em food safety implantado reduzirá custos de não qualidade, de produtos rejeitados, de reclamações de clientes, os riscos de processo judiciais de consumidores que encontram contaminantes, e a exposição negativa da marca em redes sociais.

O objeto do trabalho de uma consultoria focada em food safety não é uma certificação, mas garantir que uma empresa seja efetivamente capaz de produzir alimentos seguros, portanto, livres da presença de potenciais contaminantes com a minimização dos riscos químicos, físicos ou biológicos. 

A certificação não deve ser um objetivo, mas uma consequência natural de um sistema de gestão, e quando bem implementado com uma base sólida e eficaz de rotinas de GMP, MIP e planos de HACCP, ficará fácil se adaptar a qualquer norma, seja FSSC 22000, BRC, IFS ou outra qualquer.

Consultorias não devem ser escolhidas pela perspectiva do preço, mas do custo x benefício. Comece pelo currículo dos auditores, avalie não só formação acadêmica, mas principalmente onde já atuou, que sistemas já implantou, pois um consultor precisa, acima de tudo, ter know how. Cuidado com armadilhas, consultorias que mostram o currículo de um consultor sênior na hora de vender o serviço, mas depois enviam juniores, alguns inclusive que vão aprender em sua empresa e não ensinar.

O grande legado de uma boa consultoria, mais que a montagem e ajuda na certificação de um sistema de gestão, é deixar equipes bem preparadas para mantê-lo, tocá-lo adiante, pois sistemas de gestão são orgânicos e mutáveis de acordo com circunstâncias como novos riscos que surgem ou novas tecnologias que possam ser usadas. Estes sistemas precisam ser adaptáveis às mudanças internas e externas, e as equipes devem estar preparadas para identificar estes momentos de necessidade de adaptação e ter conhecimento para realizá-los.

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Use Google Alerts para receber notícias sobre segurança de alimentos por e-mail

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Trabalho há seis anos na área de Qualidade e para mim sempre foi um desafio me manter atualizada na correria do dia-a-dia sobre temas importantes de Segurança de Alimentos, como as notícias que saem na mídia com casos de recall e ou de food fraud.

Quando tinha que montar algum treinamento ou mesmo quando recebia de colegas alguma notícia de primeira mão, levava horas buscando as fontes de referência e ficava tentando entender “como aquela pessoa ficou sabendo desse caso”.

Há alguns meses assisti a um webinar sobre habilidades de um auditor e o instrutor comentou da necessidade de estar antenado sobre a área e nos deu uma dica riquíssima, que ele mesmo utiliza e que gostaria de compartilhar com vocês: o Google Alerts.

Essa ferramenta está disponível de graça e sua função é a de informar sobre novos conteúdos na internet. Ou seja, o Google Alerts nos informa sempre que uma nova notícia for postada na rede, enviando um e-mail de notificação, a partir de uma palavra-chave que tenhamos solicitado.

Mas como isso serviria para nós?

Já que o Google Alerts trabalha notificando o usuário sempre que uma palavra-chave é publicada na rede, se utilizamos keywords como “Recall”, “FDA”, “Food Safety”, “Food Fraud”, “Salmonella outbreak”, “Listeria outbreak”, etc., sempre que houver menção a essas palavras receberemos um e-mail do Google com todas as notícias relacionadas.

E melhor, ainda podemos escolher a frequência de recebimento desses e-mails: diário ou semanal. Particularmente preferi a frequência diária para fazer o exercício de ler todas as manhãs. E acreditem, diariamente estou recebendo notícias extremamente relevantes.

Para acessar a ferramenta é muito fácil: basta pesquisar “Google Alerts” e configurar os alertas como mostro a seguir:

  1. Assim que abrir o Google Alerts, digitar a palavra-chave que gostaria de cadastrar e clicar na lupa de “pesquisar”. Logo, ele vai buscar todas as notícias mais recentes sobre aquele tema. Pode ser que não haja resultados recentes e, nesse caso, o Google busca os resultados existentes mais acessados ou informa que não há no momento informação relevante. Importante: mesmo que não apareçam notícias recentes, cadastre a palavra-chave pois quando a notícia for publicada, ele vai avisar.
  2. Clicar em “Mostrar Opções”. Aqui basicamente você poderá escolher a frequência de e-mails de notificação, de quais países quer que a busca seja feita e de quais fontes (notícias, blog, livros, etc.). DICA: o ideal é deixar o idioma inglês, mesmo que você não tenha domínio na língua, pois assim receberá notícias mais relevantes e do mundo todo. Hoje o Google também auxilia na tradução dos sites para a língua local – será uma tradução “ao pé da letra” mas a ideia principal dá para entender.
  3. Clicar em “Criar Alerta” e pronto! Você passará a receber as notificações a respeito daquela palavra-chave.

Esse procedimento deve ser feito para toda palavra-chave que você queira cadastrar.

No e-mail de notificação estarão as notícias mais relevantes do assunto e são apresentadas com o título e um resumo da mesma. O título é o link para abrir a página com a notícia na íntegra.

A seguir deixo um print de um e-mail de notificação com o resumo de uma das notícias.

Porém, como nem tudo são flores, às vezes aparecem algumas notícias estranhas e que não se referem a nossa área. Um exemplo é a palavra “recall”. Neste caso, pode ser que o Google mencione notícias de recall de automóveis ou outros produtos. Mas de maneira geral estou gostando muito da ferramenta e está me ajudando bastante.

Espero que tenham gostado da dica e qualquer dúvida com relação às configurações ou sobre como utilizar a ferramenta, estou à disposição.

Milena de Almeida Fernandes é engenheira de alimentos formada pela Unesp e especialista em segurança de alimentos pela SGS Academy. Possui experiência em implementação e manutenção de sistemas de gestão de segurança de alimentos (como BRC, FSSC 22000, ISO 22000) e de programas como 5S, BPF, HACCP, EMP e gestão de fornecedores e co-manufacturers (Brasil e América Latina). Amplo conhecimento de processos industriais, indicadores de performance e de ferramentas da Qualidade para melhoria contínua. Já trabalhou em indústrias de alimentos de pequeno, médio e grande porte – nacionais e multinacionais – com hortaliças, cacau e chocolate, snacks, biscoitos e cereais, na área de Garantia da Qualidade. 

Este post foi um dos vencedores do Concurso Cultural do blog Food Safety Brazil, que ofereceu vagas no V Simpósio Internacional 3M Food Safety.

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Emergências, gestão de crises e recall

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O tema gestão de crises e emergências encontra conotações diferentes em cada área, contudo, pela perspectiva da segurança dos alimentos estaria especialmente associado a permitir que produtos contaminados chegassem aos consumidores, podendo, dependendo do contaminante e de sua intensidade, na pior das hipóteses, até levar pessoas a óbito.

Apesar do controle operacional, de todo cuidado que as organizações possam dispensar para prevenir problemas, zelo, técnica e competência das pessoas envolvidas, nenhuma atividade de produção industrial pode ser realizada de maneira absolutamente segura. Por isso, prevenir problemas é conditio sine qua non, porém, saber previamente o que fazer caso uma situação de emergência venha a ocorrer, deve ser pensado, planejado, implementado e praticado via simulação.

O primeiro passo é que exista na organização um comitê de gestão de crises que deve ser multisetorial e multidisciplinar, em que além de outras atividades e atribuições, seus componentes também se reúnam para tratar de temas associadas com crises na perspectiva de food safety, e que deve ter as seguintes atribuições:

  1. Mapear todas as situações possíveis e imagináveis em que possa ocorrer algum problema, que, ao se ampliar, torne-se crise, tomando-se por base, por exemplo, perigos e condições de risco provenientes de planos de HACCP, além de históricos e dados de mercado sobre o tipo de produtos que a organização produz, DVAs, condições de transporte ou comercialização do setor;
  2. Elaborar planos de contingência para ação em meio à crise;
  3. Todos os seus integrantes devem ter celulares e outras formas de comunicação imediata, podendo ser, em caso de crise, localizáveis a qualquer hora do dia ou da noite, e compartilhar esses telefones e outras formas de contato, como manter um grupo de Whatsapp para este fim específico ou e-mails de alerta;
  4. Responder pelo gerenciamento do problema, assessorando a alta direção na tomada de decisões, objetivando minimizar ou evitar prejuízos à imagem da empresa, e claro, à saúde de consumidores;
  5. Responder com agilidade e alto grau de acerto às inúmeras questões pertinentes ao contexto da crise, sejam de caráter técnico, logístico ou de rastreabilidade;
  6. Ter canais disponíveis para consultar stakeholders, para se obter dados, informações e conhecer a óptica externa da empresa;
  7. Direcionar e motivar os envolvidos na crise, tanto da empresa quanto dos públicos de interesse, a buscar soluções viáveis e cabíveis;
  8. Acompanhar a implementação de soluções e registrar todos os passos, como o cronograma de implantação e os resultados obtidos com tais esforços.

Para tanto, as organizações devem desenvolver rotinas e procedimentos cujo objetivo é determinar ações para atendimento e mitigação de situações que caracterizem crises. Crises, então, estão vinculadas a situações que acontecem sem previsão, mas com condições de provocar prejuízos de difíceis cálculos financeiros, à imagem, e o pior, para uma empresa alimentícia, em última instância, crise é tudo aquilo que está relacionado com produtos potencialmente inseguros à saúde dos consumidores.

“Antecipar-se aos fatos é o grande segredo de um eficiente programa de gestão, administração e mitigação de crises”.

Para tanto, é fundamental o estudo de problemas mais comuns, mais recentes e até de alguns ocorridos em empresas de atividades afins: isto permitirá importantes incrementos no planejamento prévio, ou seja, a partir do aprendizado com o erro dos outros.

Uma ação fundamental sobre como lidar com uma emergência é estar plenamente preparado para uma situação que requeira recolhimento (recall), ou seja, deve-se ter total clareza e segurança sobre como proceder para agir rapidamente e tirar do mercado produtos potencialmente perigosos com o máximo de eficiência quanto às quantidades recolhidas e o tempo gasto para se fazer isso.

Nesta ótica, caso seja detectado um lote contaminado, ou potencialmente contaminado, já presente no mercado, a situação deverá ser classificada conforme a classe de risco:

Classe 1 – Quando a não conformidade identificada representar sério risco à saúde, podendo ocasionar danos severos e até morte;

Classe 2 – Quando a não conformidade identificada apresentar risco médio ou moderados à saúde;

Classe 3 – Quando a não conformidade identificada não acarreta risco à saúde, mas à imagem da organização.

Para o rápido e efetivo recolhimento do produto, é necessário que a organização tenha dados que garantam a rastreabilidade interna e externa do produto vendido, ao menos até o primeiro elo da cadeia, e indo além, que a organização prepare, treine e audite seus distribuidores para garantir que eles também mantenham sistemáticas de rastreabilidade para cada próximo elo, permitindo identificar onde cada lote de produto foi parar, a fim de se proceder uma rápida retirada do mercado.

Uma crise pode chegar até a organização por diversos canais, seja um telefonema no SAC ou via redes sociais como o Facebook. Por isso, o pessoal que ocupa as posições de monitoramento destes canais é a “ponta da lança” que deve ser treinada para ter competências na identificação de potenciais crises a fim de dar o “disparo” de alerta ao comitê.

Quem ocupa estas posições deve ter como característica sobriedade e a boa comunicação, a fim de fazer frente ao problema, conseguir coletar informações, acalmar o outro lado com serenidade e ter o bom senso de decidir sobre se o caso em questão é apenas um dos rotineiros ou anômalos que caracterizem crises potenciais.

É preciso considerar que se o contato que desencadeou o alerta envolver alegação de enfermidade por parte de um consumidor, deve-se, independentemente de associação de nexo causal, com uma probabilidade razoável do fato relatado,  obter informações sobre sintomas, se a pessoa foi ao médico, e se sim qual o contato para se buscar mais informações, e perguntar sobre outros alimentos ingeridos nas últimas 48 horas. Se estiver associado com a presença de corpos estranhos, que se peça para descrever detalhadamente do que se trata, se é metal, plástico rígido, acrílico, farpa de madeira, pedaço de caroço, se o formato é perfuro cortante, etc.

A partir daí levantam-se informações para determinar a classe do problema, e de acordo com esta classe se decide sobre a eventual necessidade de um recall. Neste caso, uma autoridade competente da organização, preferencialmente membro da alta direção por ter maior poder de decisão, convoca o comitê de crises com o propósito de articular todas as medidas necessárias para mitigação do problema, incluindo normalmente as pessoas vinculadas com as seguintes posições:

          Recall Classe 1: Qualidade, logística, comercial, advogado e marketing.

          Recall Classe 2 e 3: Qualidade, logística, comercial, e se necessário, advogado.

Uma reunião do comitê de crises sobre o tema recall, como boa prática, deve sempre ser presidida por um membro da alta direção, a fim de deliberar decisões sobre os desafios que serão postos para serem enfrentados pelo comitê de crises. As decisões e providências tomadas deverão ser registradas, até mesmo, por estarem relacionadas a atender questões legais dependendo da gravidade do evento.

O fenômeno emergência é remoto, incerto e indesejável, e essa característica não favorece a força impulsionadora do comportamento seguro, que é preparar-se para trazer a situação de volta ao controle. Assim, é necessário criar uma situação certa, imediata e desejável por meio da realização de testes simulados que permitam identificar falhas, nos quais os recursos são dirigidos ao treinamento e cujo objetivo é desenvolver habilidades para enfrentar situações reais, inclusive as comportamentais.

Por isso, recomenda-se que no mínimo semestralmente, sejam realizados simulados de recall para identificar falhas de rastreabilidade, tempo de resposta dos membros do comitê de crises, assertividade nas ações propostas de contra medidas à crise e o tempo gasto no processo.

Existem armadilhas que podem aumentar os danos de uma crise:

  1. Incidentes se tornam crises quando os dirigentes não reconhecem ou demoram a admitir o problema, e insistem em tratá-lo pelos processos normais. Uma crise é uma crise, e nela não importa quem tem razão, se não for rapidamente contida pode destruir uma marca;
  2. Se um consumidor acredita que um produto estava estragado, mesmo que não seja o caso, a empresa precisa lidar com uma questão de “produto estragado”, logicamente rastreando e levantando evidências objetivas que demonstrem a verdadeira causa dos problemas;
  3. Um incidente local que envolva empresa ou produto pode tornar-se uma crise regional, nacional ou internacional, se não for logo levado aos níveis altos da organização. A alta direção é quem tem poder de tomar decisões numa crise e quanto mais rapidamente estiverem cientes do problema e agindo, mais rapidamente a crise estará sob controle.

Cuidado com a comunicação numa crise, pois mesmo um problema pequeno pode parecer grande frente aos consumidores e prejudicar severamente a imagem da organização se a forma como a organização se comunica não causar a impressão de clareza, de verdade, e de desejo de buscar uma efetiva solução. Por isso:

  1. Tenha na equipe de gestão de crises pessoa preparada para lidar com público e imprensa;
  2. Muitas crises são iniciadas não por eventos internos, mas sim por percepções e interpretações externas de ações internas, por isso tenha um bom canal de comunicação, e esteja atento inclusive a redes sociais;
  3. Considere o “princípio dos vasos comunicantes”, entendendo que é essencial que os materiais de comunicação para públicos internos e externos sejam consistentes e alinhados, já que as informações internas se tornarão externas, e vice-versa;
  4. Não saia falando sem saber o que de fato aconteceu, direcione a pessoa treinada a lidar com público. Caso seja pego de surpresa e tenha de falar com imprensa, declare que você irá se informar e voltará a falar, e volte ou envie pessoa capacitada para fazê-lo;
  5. Tudo é uma questão de comunicação: será que os jornalistas e a opinião pública estão de fato entendendo e aceitando o que você está falando? Cuidado com o jargão, termos técnicos e evasivos. Não especule, não brinque e não subestime;
  6. Assegure-se de estar sendo compreendido;
  7. Jamais diga “sem comentários” ou “nada a declarar”. Essas frases, antipáticas, dão a impressão de que você tem algo a esconder;
  8. A imagem e a credibilidade, no momento de crise, são decisivas.

Tenha um sistema de gestão da segurança dos alimentos estruturado para nunca precisar utilizar uma sistemática de gestão de crises, mas se ela ocorrer, então é melhor que a organização esteja plenamente preparada sabendo como deve agir, e no pós-crise, uma das primeiras tarefas é a elaboração de uma pesquisa de imagem, com o objetivo de levantar dados acerca dos possíveis prejuízos à marca, e onde for possível, uma auditoria de imagem perante a imprensa, tudo isto para iniciar um trabalho de recuperação da imagem.

Sistemáticas de gestão de crises são como seguros com os quais gastamos recursos, mas fazemos de tudo para nunca precisar usá-los.

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Implementação de Cultura em Food Safety

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No dia 16 de maio publicamos um overview com os destaques do 5º Simpósio Internacional 3M Food Safety que pode ser revisto aqui. Hoje, especialmente, vamos focar um pouco mais a primeira palestra do evento na qual Dra. Lone Jespersen falou sobre a “Implementação de Cultura em Food Safety ”.  O blog já abordou este tema aqui, aqui e aqui.

Para a Dra. Lone Jespersen, “a Cultura em Food Safety consiste nas atitudes, valores e práticas predominantes relacionadas à segurança alimentar que são ensinadas direta e indiretamente a novos funcionários.”

Em um levantamento realizado por sua equipe, 80% dos profissionais de alimentos acreditam que criar uma cultura em food safety é o trabalho mais importante de qualquer diretor técnico de uma organização, mas o que é uma cultura de segurança alimentar? Quais são os benefícios de uma cultura forte?

1 – Estas são suas premissas: seu equipamento, o que a equipe está fazendo quando você entra, documenta e grava. É algo que você pode ver.

2 – Estes são os falados, um pouco abaixo da superfície. Essas são as coisas que são ditas, como a  comunicação dos gerentes, treinamento, recompensas, esquemas que são estabelecidos.

3 – Bem abaixo da superfície, estão os valores subjacentes. Estes são os mais difíceis de ver e os mais difíceis de avaliar, mas causam impacto na cultura. As regras não ditas.

Fique ligado nos próximos posts sobre o evento.

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A greve dos caminhoneiros e a segurança de alimentos

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Em que ponto a greve/paralisação dos transportes rodoviários pode comprometer a segurança de alimentos?

Um assunto recente surgiu e está preocupando muitas pessoas, uma forte recomendação de intensificar a fiscalização para verificar a qualidade dos alimentos que chegarão com o início da desmobilização dos caminhoneiros. As características principais para tal fiscalização seriam as sensoriais (cor, odor e textura) e os sinais de adulteração dos produtos que possam ser consequência, por exemplo, da quebra na cadeia de frio no transporte, o que pode interferir na segurança do alimentos.

O cenário atual proporciona às empresas a oportunidade de colocar em prática a sistemática recém estabelecida de Prevenção de Fraudes em Alimentos, requisito adicionado no esquema FSSC 22000.

Mas até que ponto podemos considerar a real possibilidade de fraude nos alimentos que estão parados na greve?

Diante do exposto, se de fato essa possibilidade vier a ocorrer podemos classificá-la como uma motivação de anomalia econômica.

De acordo com o Guia de Mitigação de Alimentos da USP / Food Chemicals Codex, este fator destina-se a descrever a vulnerabilidade dos ingredientes à fraude em alimentos com base em anomalias econômicas que acontecem no mercado para o ingrediente. Dado que a fraude em alimentos é impulsionada por oportunidades econômicas, anomalias na economia de alimentos específicos ou fontes de alimentos que podem ser um indicador de problemas potenciais. Os preços abaixo de mercado, especialmente para produtos em que os custos estão aumentando, ou os fornecimentos escassos, tem sido um indicador em casos de fraudes em alimentos.

Outro ponto, considerando também que os veículos devem fornecer proteção contra danos ou contaminação dos produtos e que o controle de temperatura e da umidade deve ser aplicado e documentado, um ponto extremamente importante a ser avaliado é a condição do caminhão, pois devido ao tempo de permanência nas estradas e sem a devida limpeza e higienização existe a possibilidade dele apresentar condições de risco aos materiais/insumos transportados.

De acordo com o site “O Globo”, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não tem nenhum plano de atuação nacional diante do risco de sanitário causado pela greve dos caminhoneiros. A reguladora orienta que os consumidores procurem as vigilâncias sanitárias, estadual ou municipal, da sua região, que respondem diretamente pela fiscalização.

Autor Convidado: Everton Bordignon

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Segurança sanitária dos alimentos nas atividades de microempreendedores

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É legalmente permitido um acarajé ser preparado e servido nas ruas da Bahia? Ou ainda… é permitido exercer uma atividade econômica no mesmo lugar da residência? E quanto às casas de farinhas do Pará que produzem suas farinhas com utensílios de fibras da flora local naquelas construções todas abertas com cobertura de palha trançada?

A resposta é… SIM!

É possível graças ao projeto desenvolvido pela Anvisa de inclusão produtiva com segurança sanitária regulamentado pela RDC 49/2013 com base no “Plano Brasil sem Miséria” que visa a geração de renda, desenvolvimento econômico, erradicação da pobreza extrema, incluindo também a redução do risco sanitário.

A RDC 49/2013 vem com o propósito de formalizar as atividades de baixo risco¹ exercidas por microempreendedores individuais (MEI), empreendimento familiar rural (EFR) e empreendimento econômico-solidário (EES) sujeitas à fiscalização da vigilância sanitária.

Primeiramente, é importante ressaltar que são esses pequenos empreendimentos que muito contribuem para geração de trabalho no Brasil, mas por apresentarem recursos – tanto econômicos quanto profissionais – menos vantajosos em comparação às grandes e médias empresas, eles necessitam de auxílio diferenciado que já é previsto pela Constituição Federal (CF 1988).

Sem esse tratamento diferenciado garantido, muitos empreendimentos atuariam na informalidade devido à dificuldade em lidar com a legislação e pela falta de recursos necessária à adequação à norma: reforma do espaço, compra e adequação de equipamentos e utensílios, e a contratação de pessoal técnico.

Assim, entra em cena a vigilância sanitária com o papel de orientar sobre as boas práticas através de programas de capacitação periódica; informações e ações educativas sobre segurança sanitária; e indicação de outros órgãos de apoio que poderão ajudar no desenvolvimento da atividade. Todas essas ações desenvolvidas pela vigilância vão ao encontro da diretriz de proteção à produção artesanal com o intuito de preservar os costumes e tradições culturais locais dos empreendimentos instalados em:

  • área desprovida de regulação fundiária legal ou com regulamentação precária (loteamentos irregulares e ocupações; terras indígenas, reservas extrativistas e assentamentos dos movimentos de luta pela reforma agrária);
  • residência;
  • locais onde são realizadas as atividades produtivas dos empreendimentos;

Diante disso, surgem perguntas intrigantes… Será que é possível a vigilância sanitária regulamentar as atividades destes locais? Como? E por que é importante isso acontecer?

É possível simplificar a regularização dessas atividades nestes locais desde que as atividades sejam consideradas de baixo risco¹; e que seja permitido o acesso dos agentes às instalações para iniciar o processo de legalização. As atividades consideradas de alto risco não são contempladas pela RDC 49/2013; ou seja, ela não altera o processo de obtenção do licenciamento sanitário.

Por consequência da formalização ou legalização, há o aumento da atividade econômica local que fortalece diretamente o orçamento público. A regulamentação decorre da simplificação da responsabilidade técnica, simplificação da regularização de documentos e isenção de taxas de fiscalização.

Simplificação da responsabilidade técnica – as atividades dos técnicos para atestarem a responsabilidade perante a vigilância sanitária podem ser desempenhadas por profissionais habilitados de organizações governamentais e não governamentais; ou seja, não precisa ser um funcionário contratado ou por um sócio do empreendimento. A única ressalva é que este responsável técnico NÃO pode ser um funcionário da vigilância sanitária.

Simplificação dos documentos: as atividades de baixo risco garantem regularização automática através de um único documento para cada atividade:

  • MEI: Certificado de Condição de Microempreendedor Individual –
  • EFR: Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – DAP.
  • EES: (uma das seguintes declarações) Sistema de Informação em Economia Solidária (SIES/MTE); Conselho Nacional/ Estadual/ Municipal de Economia Solidária ou Declaração de Aptidão ao Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar Pessoa Jurídica (DAP).

Isenção de taxas: o processo de inclusão produtiva prevê a isenção de taxas de fiscalização sanitária tanto na abertura do negócio como também nas renovações.

A concessão do funcionamento do empreendimento implica que haverá fiscalização sanitária do local para averiguar os cuidados e boas práticas sanitárias; e, caso haja danos à saúde pública, os empreendedores responderão por infração sanitária e estarão sujeitos às penalidades da lei sanitária vigente (Lei Nº 6.437, de 20 de agosto de 1977).

As políticas públicas voltadas para inclusão produtiva cumprem importante papel social-econômico por criar oportunidade de emancipação dos indivíduos e promover desenvolvimento local, respeitando as particularidades culturais e sociais de determinados grupos, além de minimizar o risco sanitário, por meio da promoção da saúde.

Com isso, aproveite para comer um delicioso acarajé baiano produzido fresquinho em casa e uma farinha paraense muito saborosa. Não tenha medo e esteja certo de que você estará contribuindo para a inclusão produtiva de pequenos empreendedores locais.

1 – Classificação do risco é feita com base os dados epidemiológicos, considerando a capacidade dos serviços, os costumes, os conhecimentos tradicionais, a escala de produção, de acordo com a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE).

 

Daniela Spadacio é engenheira de alimentos formada pela Universidade Estadual de Campinas e com formação em Química pela Universidade de São Paulo. É especialista em análise de risco e atua na área de consultoria em segurança de alimentos.

Este post foi um dos vencedores do Concurso Cultural do blog Food Safety Brazil, que ofereceu vagas no V Simpósio Internacional 3M Food Safety.

Nota de Agradecimento

Gostaria de agradecer a Food Safety Brazil pela iniciativa do blog em realizar o concurso cultural para a participação no V Simpósio Internacional 3M Food Safety. Meu muito obrigado a todos os organizadores do evento, em especial, Juliane Dias e Jose Luiz Bariani, da Food Safety Brazil, e Janaina de Freitas Branco Ferraz, da 3M.

São oportunidades como esta que incentivam o conhecimento, o compartilhamento de informação, e nos fazem acompanhar as notícias e novidades divulgadas no blog Food Safety Brazil com o objetivo de fazer a indústria de alimentos cada vez mais segura.

Foi uma grande satisfação escrever o artigo acima para o concurso cultural e ele ter sido selecionado para a publicação.

Muito obrigada pelo prêmio e pelo evento!

Daniela Spadacio

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