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A crise do cacau e as mudanças climáticas

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A crise do cacau tem impactado severamente a produção desse insumo essencial para a indústria do chocolate. Este é um exemplo claro de como as mudanças climáticas afetam cadeias produtivas globais. Empresas de alimentos e consumidores precisam se adaptar a um cenário de menor oferta e preços mais altos. Produtos de larga escala, como achocolatados e barras comerciais, podem sofrer redução do percentual de cacau real na composição para segurarem os preços. Sabe aquele seu achocolatado mais “branquinho”?

O primeiro impacto é a coloração (grãos com menor intensidade de cor). Podem ser usados mais corantes naturais (como extrato de cacau altamente alcalinizado) ou ajustes no processo de torrefação para compensar a diferença de cor. Para mascarar a diferença sensorial, é possível substituir a baunilha natural por outros aromatizantes, com o aumento de aromas artificiais ou naturais de chocolate. A incorporação em maiores quantidades nas formulações para reduzir a dependência do cacau puro pode alterar as especificações técnicas de produtos de chocolate (atenção departamento de P&D!).

Entre os maiores fatores para a crise do cacau estão: as principais regiões produtoras de cacau, como Costa do Marfim e Gana (responsáveis por cerca de 60% da produção mundial) e Ilhéus no Brasil, enfrentam secas intensas e chuvas irregulares. O El Niño tem agravado essas condições, reduzindo a produtividade e aumentando os custos para os agricultores, o que favorece a propagação de doenças como a monilíase e a vassoura-de-bruxa, que devastam as plantações.

Outro fator que agrava a crise do cacau é que os pequenos agricultores recorrem ao desmatamento para expandir suas lavouras e isso leva à degradação do solo e à perda de biodiversidade, tornando a produção menos sustentável em longo prazo.

Já vemos a queda na oferta de cacau levando os preços ao maior patamar em décadas, afetando a rentabilidade da indústria do chocolate e pressionando consumidores e fabricantes. Algumas soluções sustentáveis têm acontecido, como melhorias nas práticas agrícolas (como agroflorestas) ajudando na adaptação, e as certificações, como Rainforest Alliance e Fair Trade, que incentivam práticas responsáveis.

A indústria alimentícia busca alternativas, como substitutos de cacau e diversificação de fornecedores e cuida da escassez do cacau que está gerando desafios tanto para a conformidade regulatória quanto para a formulação de produtos. Como exemplo, ingredientes como farinhas de alfarroba e cupuaçu podem ser usados como substitutos, além da goma guar e pectina para ajustar a viscosidade do chocolate, as gorduras alternativas de óleo de palma, manteiga de karité para manter a cremosidade e os aromas naturais e sintéticos para reforçar o perfil sensorial do cacau. Isso impacta diretamente a indústria, desde a rotulagem até a qualidade sensorial dos chocolates.

Outra mudança pode ser nas técnicas de processamentos para manter o sabor, tais como a torrefação otimizada que intensifica os sabores do cacau, permitindo reduzir a quantidade usada e a fermentação controlada que pode criar perfis aromáticos mais intensos, reduzindo necessidade de cacau puro.

Os gestores de planos APPCC também devem lembrar que o aumento do uso de ingredientes alternativos pode exigir novas avaliações para rotulagem de alérgenos e contaminantes, especialmente se houver cruzamento com outras cadeias produtivas. Por exemplo: misturar cacau com as castanhas e as proteínas vegetais, criando novas categorias de chocolates.

Atualmente, diferentes países estabelecem teores mínimos de cacau para que um produto seja considerado chocolate. A crise pode levar a revisões dessas normas:

– Brasil (ANVISA / MAPA) – Decreto 6871/2009 define que chocolate deve conter no mínimo 25% de sólidos totais de cacau.

– União Europeia (EFSA) – Requer pelo menos 35% de sólidos de cacau para chocolate amargo.

– EUA (FDA) – Para chocolate ao leite, exige 10% de sólidos de cacau, enquanto o chocolate amargo deve ter mínimo de 15%.

Será que haverá flexibilização nesses valores, permitindo maior inclusão de substitutos na fórmula? Ou teremos regulatórios para restrição em normas de produtos premium, que podem exigir 100% de cacau de origem natural? E o bolso do consumidor que aguente, pois estes já são produtos caros e podem se tornar ainda mais exclusivos, restringindo-se a nichos dispostos a pagar por essa pureza.

Imagem: Pixabay

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Microplásticos aumentam resistência de bactérias e preocupam cientistas

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Você já ouviu falar que os microplásticos são nocivos ao meio ambiente, certo? Eles estão nos oceanos, no solo, no ar – e até em nossos alimentos. A presença de microplásticos em produtos alimentícios tem se tornado uma preocupação crescente, principalmente pela contaminação ambiental em áreas de cultivo e produção. Embora ainda não haja evidências científicas conclusivas sobre a migração direta de micro ou nanoplásticos das embalagens para os alimentos e bebidas, a exposição humana pode acontecer por diversas vias — incluindo ingestão, inalação e até absorção pela pele. Mas o que talvez você não saiba é que esses fragmentos minúsculos de plástico também estão reforçando um problema ainda mais grave: a resistência de bactérias aos antibióticos.

Um novo estudo da Universidade de Boston revelou algo alarmante: os microplásticos não apenas favorecem a formação de biofilmes bacterianos — uma espécie de “comunidade protetora” para os microrganismos — como também aumentam a resistência aos antibióticos da Escherichia coli (ou E. coli), uma bactéria comum e perigosa, frequentemente associada à contaminação de alimentos e água.

Como os microplásticos estão fortalecendo bactérias perigosas

No experimento, os cientistas testaram de que forma os diferentes tipos de microplásticos – como poliestireno e polietileno – afetam a E. coli. O resultado? Formação de biofilmes mais espessos e bactérias mais resistentes, mesmo após dias sem exposição a antibióticos. A presença de microplásticos aumentou a resistência da bactéria a vários medicamentos, incluindo ciprofloxacino e estreptomicina.

A E. coli é um dos principais patógenos de origem alimentar, e sua resistência crescente a antibióticos pode dificultar ainda mais o tratamento de surtos alimentares.

E isso não é tudo.

Outros estudos têm reforçado essa relação perigosa:

Por que isso importa?

A Organização Mundial da Saúde já declarou que a resistência antimicrobiana é uma das 10 maiores ameaças à saúde global. Estima-se que cerca de 5 milhões de pessoas morrem anualmente por infecções resistentes a medicamentos. Se adicionarmos à equação a onipresença de microplásticos em nossos oceanos, rios, alimentos – e até em nossos corpos – a situação fica ainda mais alarmante.

O ciclo vicioso do plástico

Os microplásticos agem como uma espécie de “condomínio de luxo” para as bactérias: oferecem abrigo, proteção contra antibióticos e até nutrientes. Isso favorece o crescimento de biofilmes mais densos e resistentes. Além disso, quando absorvem antibióticos presentes no ambiente, esses plásticos ajudam a treinar as bactérias para resistirem aos medicamentos.

Esse cenário já foi observado em estações de tratamento de esgoto e em ambientes marinhos e até mesmo no transporte de bactérias multirresistentes em ambientes urbanos.

E agora?

Esse problema não tem solução simples, mas exige ações urgentes:

  • Redução do uso de plásticos descartáveis: repensar hábitos e priorizar materiais reutilizáveis.

  • Avanços na gestão de resíduos plásticos: melhorar sistemas de coleta, reciclagem e tratamento.

  • Investimentos em pesquisa: entender melhor como essas partículas interagem com microrganismos é fundamental para conter essa ameaça.

Como consumidores, também podemos fazer nossa parte: questionar marcas, apoiar políticas sustentáveis e reduzir o consumo de plásticos sempre que possível.

Leia também: 

Nova página do FDA: o que precisamos saber sobre microplásticos e nanoplásticos em alimentos

O perigo dos microplásticos em moluscos bivalves

Microplásticos e nanoplásticos em alimentos

A ciência já deu o alerta. Vamos continuar alimentando o problema ou escolher agir antes que seja tarde demais?

Imagem: Stijn Dijkstra

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Embalagens sustentáveis: tendências e implicações para a segurança dos alimentos

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A evolução das embalagens na indústria de alimentos, incluindo as embalagens sustentáveis, tem sido impulsionada por dois desafios fundamentais: garantir a segurança e qualidade dos alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental. Nos últimos anos, a preocupação com a sustentabilidade levou à adoção de materiais ecológicos e à redução do uso de plásticos descartáveis. No entanto, encontrar o equilíbrio entre segurança dos alimentos e impacto ambiental continua a ser um desafio para empresas e consumidores.

Um dos fatores que agrava esta equação é a mudança no perfil das famílias. Com lares cada vez menores e um aumento no consumo individual, cresce também a procura por embalagens de menor dimensão e porções individuais. Este fenômeno responde à necessidade de conveniência e contribui para a redução do desperdício alimentar, mas, ao mesmo tempo, leva a um aumento no volume de resíduos gerados, especialmente de plástico. Assim, surge uma questão incontornável: como reduzir o impacto ambiental sem comprometer a proteção dos alimentos?

A segurança dos alimentos depende diretamente da eficácia da embalagem. Um produto bem embalado está mais protegido contra contaminação, degradação e perda de qualidade. No entanto, a substituição das embalagens convencionais por alternativas sustentáveis levanta desafios. Certos materiais ecológicos podem ser menos resistentes a fatores como umidade, oxigênio ou luz, aumentando o risco de deterioração e proliferação de microrganismos. Além disso, a utilização de materiais reciclados e biodegradáveis exige um controle rigoroso para garantir que não ocorram migrações de substâncias potencialmente nocivas para os alimentos.

O equilíbrio entre a segurança dos alimentos e a sustentabilidade exige um esforço conjunto da indústria e dos reguladores para garantir que as novas soluções de embalagens sustentáveis não comprometam a qualidade dos alimentos. Existem normas e regulamentos específicos que definem critérios rigorosos para o contato de materiais com alimentos, assegurando que qualquer embalagem utilizada na indústria cumpra os requisitos de segurança. No entanto, a questão que se impõe é como garantir esta transição de forma responsável?

As embalagens não servem apenas para conter e transportar alimentos. Elas desempenham um papel essencial na proteção contra contaminações, na preservação das propriedades nutricionais e na prevenção de alterações químicas e microbiológicas. Quando uma embalagem não cumpre a sua função de barreira protetora, os alimentos ficam expostos a fatores que podem comprometer a sua segurança, como:

  • Crescimento microbiológico – A exposição ao oxigênio e à umidade pode acelerar o desenvolvimento de fungos e bactérias, tornando os alimentos impróprios para consumo.
  • Perda de qualidade sensorial – Sem uma embalagem adequada, os produtos podem sofrer alterações de textura, sabor e aroma.
  • Oxidação e degradação nutricional – Alimentos expostos à luz ou ao ar podem perder vitaminas e antioxidantes essenciais.
  • Risco de contaminação química – Alguns materiais podem interagir com os alimentos, libertando substâncias indesejadas.

O mercado de embalagens sustentáveis tem crescido rapidamente, impulsionado pela necessidade de reduzir o impacto ambiental. No entanto, a adoção de novos materiais exige uma avaliação rigorosa para garantir que os alimentos continuam protegidos. Algumas das principais alternativas incluem:

  • Embalagens biodegradáveis e compostáveis – Feitas a partir de matérias-primas renováveis, como amido de milho, cana-de-açúcar ou algas. Apesar da vantagem ambiental, algumas destas embalagens ainda apresentam desafios, como menor resistência à umidade e a temperaturas extremas.
  • Plásticos reciclados para contato alimentar – Regulamentados para garantir que não libertam substâncias nocivas nos alimentos.
  • Papéis e cartões revestidos – Alternativas ao plástico tradicional, mas que podem exigir camadas de proteção adicionais, nem sempre recicláveis.
  • Embalagens à base de fibras naturais – Sustentáveis e leves, mas, em alguns casos, com menor durabilidade e resistência a fatores externos.

O verdadeiro desafio é garantir que estas novas soluções mantêm os padrões de segurança exigidos. Sem um controle eficaz, as boas intenções ambientais podem resultar em problemas na segurança dos alimentos.

A inovação no setor das embalagens está trazendo soluções cada vez mais avançadas, combinando sustentabilidade e a segurança dos alimentos. Algumas das tendências futuras incluem:

  • Embalagens comestíveis – Desenvolvidas a partir de proteínas ou polissacarídeos, eliminando totalmente os resíduos pós-consumo.
  • Nanotecnologia aplicada às embalagens – Utilização de barreiras ultrafinas que protegem os alimentos sem necessidade de múltiplas camadas plásticas.
  • Maior investimento na economia circular – Expansão dos sistemas de reutilização e incentivo a cadeias de reciclagem mais eficientes.

A sustentabilidade não pode ser dissociada da segurança dos alimentos. Reduzir o impacto ambiental da indústria alimentar é essencial, mas sem comprometer a proteção, a qualidade e a durabilidade dos produtos. A questão não é apenas substituir materiais, mas sim encontrar soluções que cumpram os rigorosos padrões exigidos para garantir alimentos seguros.

O futuro das embalagens sustentáveis dependerá da capacidade da indústria de inovar, testar e certificar novos materiais, garantindo que as mudanças implementadas não afetam a proteção dos alimentos nem a confiança dos consumidores. Mais do que uma tendência, a sustentabilidade das embalagens é um compromisso de longo prazo, que exige adaptação, responsabilidade e um equilíbrio constante entre segurança e impacto ambiental.

Imagem: Fox/pexels

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Desafio Sustentável: como integrar garrafinhas reutilizáveis na produção

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A substituição de copos descartáveis tem se tornado uma tendência crescente nas empresas, impulsionada pela busca por alternativas mais sustentáveis. Na área administrativa, já é comum o uso de canecas, copos de vidro e garrafinhas reutilizáveis. No entanto, essa prática ainda é pouco difundida nas áreas de produção, onde persiste uma série de dúvidas e desafios, especialmente quando se trata das boas práticas de fabricação de alimentos.

Neste artigo, vamos explorar as principais questões que envolvem essa transição, destacando as melhores práticas e como garantir que a mudança seja feita de forma segura e eficiente.

Quando pensamos em substituir os copos descartáveis na área de produção de alimentos, surgem várias perguntas:

  • Que tipo de utensílio pode substituir o copo descartável?
  • Como garantir que o utensílio seja seguro e fácil de higienizar?
  • Como evitar o compartilhamento ou uso inadequado?
  • O utensílio contém apenas água potável?
  • Onde os utensílios serão guardados?
  • Como garantir a higienização adequada dos utensílios?
  • E se levarem o utensílio para perto das máquinas e equipamentos?
  • E se derramarem água sobre o alimento em processo?

São tantas perguntas, não é verdade? Pois bem, para respondê-las, convém que seja feita uma avaliação de risco de acordo com a realidade de cada empresa.

A NR-24 prevê a necessidade de disponibilizar água potável e limpa para os trabalhadores. A norma também enfatiza a importância de evitar práticas que comprometam a higiene e a saúde dos trabalhadores.

Para garantir que a adoção de utensílios reutilizáveis na produção de alimentos esteja em conformidade com as boas práticas de fabricação e a legislação vigente, é necessário considerar as seguintes premissas:

  • Higienização adequada: Disponibilizar locais apropriados para a higienização dos utensílios, como pias exclusivas, detergente adequado e papel toalha.
  • Treinamento dos colaboradores: Orientar os colaboradores sobre a importância de higienizar as mãos antes e depois de manusear seus utensílios, prevenindo contaminações que possam afetar sua saúde e a segurança dos alimentos.
  • Utensílios individuais: Usar utensílios identificados individualmente, evitando o compartilhamento, o que reduz o risco de transmissão de doenças.
  • Verificação periódica: Estabelecer um plano de verificação periódica para avaliar as condições de uso dos utensílios e definir critérios para substituição em caso de desgaste ou danos.

Um exemplo de boas práticas foi observado em uma indústria que adotou o uso de garrafinhas reutilizáveis individuais. Os colaboradores guardam suas garrafas em uma estante próxima ao bebedouro e realizam a higienização em uma pia exclusiva no refeitório. Para garantir a higienização das garrafas, foi elaborado um POP de Higienização de Garrafas, que fica disponível ao lado da pia.

Outro exemplo é o uso de copos de vidro e copos plásticos reutilizáveis em refeitórios, uma boa prática na substituição de copos descartáveis.

A adoção de utensílios reutilizáveis na indústria de alimentos não apenas contribui para uma estratégia sustentável, mas também pode ser feita de forma segura, desde que sejam seguidas as boas práticas de fabricação.

Com orientações claras para os colaboradores e a implementação de medidas de controle, é possível garantir que a transição seja eficiente, respeitando as normas de segurança de alimentos e higiene e, ao mesmo tempo, promovendo um ambiente mais responsável e consciente.

Imagem: Lisa Fotios

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Plásticos biodegradáveis e segurança dos alimentos: amigos ou vilões?

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A busca por soluções sustentáveis na indústria de alimentos tem incentivado o uso de plásticos biodegradáveis como alternativa às embalagens convencionais (veja aqui, aqui, aqui, e aqui). Esses materiais, projetados para se decompor mais rapidamente no ambiente, são frequentemente vistos como aliados na redução de resíduos plásticos. No entanto, ao analisar a segurança dos alimentos, surgem questões importantes: os plásticos biodegradáveis realmente favorecem a proteção dos alimentos ou trazem novos desafios que precisam ser superados?

O que são plásticos biodegradáveis?

Plásticos biodegradáveis são materiais desenvolvidos a partir de fontes renováveis, como amido de milho, gelatina, cana-de-açúcar, celulose ou ácido polilático (PLA). Sua principal característica é a capacidade de se decompor por processos naturais, como ação de microrganismos, umidade ou luz solar, dependendo das condições ambientais. Essa propriedade torna-os atrativos para substituir os plásticos convencionais, amplamente utilizados na indústria alimentícia, mas de difícil degradação.

Benefícios ambientais e para o setor alimentício

A introdução de plásticos biodegradáveis no setor de alimentos traz benefícios significativos. Eles ajudam a reduzir o impacto ambiental e atendem às demandas de consumidores que buscam produtos mais sustentáveis. Além disso, muitos desses materiais são compatíveis com sistemas de compostagem, permitindo que embalagens sejam descartadas juntamente com resíduos orgânicos. Essa abordagem circular é especialmente valiosa para o setor alimentício, onde o descarte é uma questão recorrente.

Desafios relacionados à segurança dos alimentos

Apesar das vantagens ambientais, os plásticos biodegradáveis levantam preocupações específicas em relação à segurança dos alimentos:

  1. Migração de substâncias químicas
    Os plásticos biodegradáveis podem conter aditivos e compostos químicos que influenciam suas propriedades físicas e químicas. Quando entram em contato com alimentos, especialmente aqueles ricos em gorduras ou ácidos, existe o risco de migração de substâncias potencialmente prejudiciais, o que pode comprometer a segurança e a qualidade dos alimentos.
  2. Menor resistência a condições extremas
    Em comparação com os plásticos tradicionais, os materiais biodegradáveis podem ser menos resistentes a altas ou baixas temperaturas, o que pode comprometer sua integridade durante o transporte ou armazenamento. Isso aumenta os riscos de contaminação por agentes externos, como umidade ou microrganismos.
  3. Barreiras insuficientes
    A capacidade de proteger os alimentos contra oxigênio, vapor de água e outros gases ainda é uma limitação dos plásticos biodegradáveis em comparação com alternativas tradicionais, como PET ou PE. Essa característica pode impactar negativamente a vida útil de produtos sensíveis, como carnes frescas, queijos ou alimentos desidratados.
  4. Condições específicas de decomposição
    Embora biodegradáveis, muitos desses plásticos exigem condições específicas, como altas temperaturas ou níveis controlados de umidade, para se decompor adequadamente. Quando descartados em locais inadequados, podem não oferecer as vantagens ambientais esperadas, o que pode desmotivar seu uso pelo setor.

Conformidade regulatória

Para garantir a segurança dos alimentos, os plásticos biodegradáveis precisam atender as normas e regulamentações estabelecidas por órgãos como a ANVISA no Brasil, a FDA nos Estados Unidos e a União Europeia. Essas regulamentações avaliam a composição dos materiais, o potencial de migração de substâncias e a adequação para contato direto com alimentos. É imprescindível que fabricantes realizem testes rigorosos para assegurar que os materiais estejam em conformidade com essas exigências. Abaixo algumas legislações que podem ser consultadas para entender mais sobre essa temática.

Tabela 1: Regulamentos brasileiros sobre migração de substâncias em materiais em contato com alimentos

Normas Título Descrição
Resolução RDC nº 56/2012

 

Regulamento Técnico Mercosul sobre Lista Positiva de Monômeros, Outras Substâncias Iniciais e Polímeros para a Elaboração de Embalagens e Equipamentos Plásticos em Contato com Alimentos Estabelece a lista de substâncias permitidas na fabricação de materiais plásticos destinados ao contato com alimentos.
Resolução RDC nº 52/2010 Regulamento Técnico Mercosul sobre Limites de Migração Específica de Componentes de Materiais Plásticos Destinados a Entrar em Contato com Alimentos Define os limites máximos de migração específica de substâncias de materiais plásticos para alimentos.
Resolução RDC nº 51/2010 Regulamento Técnico Mercosul sobre Limites de Migração Total de Componentes de Materiais e Artigos Plásticos em Contato com Alimentos Estabelece os limites máximos de migração total permitidos para materiais plásticos em contato com alimentos.
Resolução RDC nº 88/2016 Regulamento Técnico Mercosul sobre materiais celulósicos destinados a entrar em contato com alimentos Dispõe sobre os requisitos para materiais celulósicos em contato com alimentos, incluindo limites de migração.
Resolução RDC nº 90/2016 Regulamento Técnico Mercosul sobre materiais celulósicos destinados a entrar em contato com alimentos durante cocção ou aquecimento em forno Estabelece critérios para materiais celulósicos utilizados em condições de aquecimento, incluindo limites de migração.
Resolução RDC nº 56/2012 Regulamento Técnico Mercosul sobre Lista Positiva de Monômeros, Outras Substâncias Iniciais e Polímeros para a Elaboração de Embalagens e Equipamentos Plásticos em Contato com Alimentos Atualiza a lista de substâncias permitidas na fabricação de materiais plásticos para contato com alimentos.
Resolução RDC nº 589/2021 Altera as Resoluções RDC nº 56/2012, RDC nº 88/2016 e RDC nº 51/2010 Atualiza critérios e limites de migração para materiais plásticos e celulósicos em contato com alimentos.

Perspectivas e avanços tecnológicos

O desenvolvimento de plásticos biodegradáveis continua a progredir rapidamente, com novas pesquisas focadas na criação de materiais que combinem biodegradabilidade com propriedades de barreira mais robustas, ampliando sua aplicação na conservação de alimentos. Outro avanço importante são as embalagens ativas, capazes de liberar agentes antimicrobianos ou antioxidantes, contribuindo para a preservação e segurança dos alimentos.

Tecnologias como o uso de revestimentos protetores e a aplicação de nanopartículas têm melhorado a resistência e a eficácia dessas embalagens. Além disso, materiais inteligentes, que monitoram a qualidade do alimento e indicam alterações no frescor, estão sendo desenvolvidos para oferecer soluções ainda mais completas e seguras. Esses esforços mostram que é possível equilibrar sustentabilidade e segurança do alimento, atendendo às exigências do mercado e dos consumidores.

Conclusão

Os plásticos biodegradáveis representam um avanço promissor para a sustentabilidade na indústria de alimentos, mas seu impacto na segurança dos alimentos exige uma análise cuidadosa. Embora reduzam a pegada ambiental e atendam às demandas de consumidores e regulamentações, eles apresentam desafios relacionados à migração de substâncias químicas, resistência e barreiras protetoras. Para que sejam efetivamente aliados, é essencial ter avaliações rigorosas, investimentos em tecnologia e conformidade com padrões de segurança. A integração entre sustentabilidade e segurança dos alimentos será o diferencial para transformar os plásticos biodegradáveis em soluções viáveis e confiáveis.

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Convite para o VI Workshop do Food Safety Brazil

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Você é um profissional ou estudante da área de segurança de alimentos e deseja estar sempre à frente das inovações, desafios e melhores práticas do setor? Então, você não pode perder o VI Workshop do Food Safety Brazil – O que esperar do Futuro, que será realizado nos dias 15 e 16 de agosto no CREA-SP!

Este evento é uma oportunidade única para se atualizar sobre os temas mais relevantes e emergentes da segurança de alimentos. Será um espaço para aprendizado, troca de experiências e networking com grandes nomes da área. Confira abaixo as palestras já confirmadas:

Por que participar deste evento é fundamental?

Participar do VI Workshop de Segurança de Alimentos é crucial para quem deseja se manter atualizado com as últimas tendências e práticas do setor. Além de adquirir conhecimentos valiosos, você terá a chance de:

  • Networking: Conectar-se com outros profissionais e especialistas da área.
  • Inspiração: Obter insights de palestrantes renomados.
  • Desenvolvimento Profissional: Ampliar suas habilidades e conhecimentos para enfrentar os desafios atuais e futuros.

As vagas são limitadas, então não perca tempo e garanta já a sua inscrição!

Inscreva-se agora clicando aqui

Junte-se a nós e faça parte de um movimento que busca um futuro mais seguro e sustentável para todos.

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Como adotar práticas mais sustentáveis na indústria de alimentos?

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As indústrias produtoras de alimentos são regidas por regulamentos e cada dia mais estão adotando certificações em segurança de alimentos, o que as torna mais competitivas. Entre as certificações existentes, a FSSC 22000 é uma das mais adotadas dentro dessa cadeia de alimentos. Sua última atualização é a de 2023,  versão 6.0, que começou a vigorar em abril de 2024. Esta versão faz uma ligação entre práticas sustentáveis e segurança de alimentos.

A sustentabilidade ambiental e uso consciente dos recursos naturais faz parte, inclusive, da lista dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU, também publicada em 2023. Trata-se de uma iniciativa global, adotada por todos os Estados Membros das Nações Unidas, em um esforço conjunto para abordar desafios globais.

O debate sobre a sustentabilidade está presente em diferentes esferas e setores, tanto no que tange às indústrias quanto aos setores produtivos agrícolas e consumidores. E a sustentabilidade, pensando em meio ambiente, é um dos aspectos da tríade composta por meio ambiente, sociedade e economia. Num conceito mais amplo, a ideia é produzir de forma a permitir que as futuras gerações tenham acesso ao necessário para atender suas demandas. Isso é fundamental pensando em recursos naturais, enquanto sociedade e economia. Uma mudança nesse olhar tem se intensificado diante da demanda crescente pela produção de alimentos, com a preocupação dos consumidores sobre como esses alimentos são produzidos considerando os recursos naturais.

E quando estamos na indústria, seja produtora do alimento ou produtora de embalagens para acondicionar alimentos, como podemos trabalhar voltados para essas práticas sustentáveis?

Nesse ano de 2024, alguns eventos abordaram esse tema.  Algumas informações que se aplicam à produção e aos materiais destinados às embalagens de alimentos são:

  1. A possibilidade de diminuirmos o número de envoltórios utilizados para embalar um alimento – alguns casos exigem mais de uma embalagem plástica para um único produto;
  2. A possibilidade de diminuirmos a espessura de plástico nas embalagens;
  3. A possibilidade de migração da embalagem plástica para a embalagem de papel;
  4. Optarmos por embalagens plásticas produzidas com materiais recicláveis

Essas seriam algumas alternativas na indústria de embalagem. Naturalmente precisam ser avaliadas do ponto de vista de custos, cadeia de produção, distribuição e inclusive segurança do alimento.

Uma vez que a embalagem tem papel importante na conservação do alimento, seja protegendo contra perigos físicos, seja como barreira à entrada de oxigênio e possível multiplicação microbiológica no alimento, as perguntas são: um filme mais fino continuaria protegendo o alimento? Um filme reciclável também permite a mesma barreira à entrada de oxigênio? Esse é o desafio das empresas de embalagem, ter soluções seguras com valores compatíveis, o que certamente aumentará o mercado consumidor de seus produtos.

Imagem: foto de Alena Koval

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A revolução da fruticultura sustentável: tendências e inovações

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O setor de fruticultura no Brasil está em expansão, destacando-se por promover a sustentabilidade, preservar a biodiversidade, gerar empregos e impulsionar o desenvolvimento regional.

A fruticultura brasileira produz cerca de 45 milhões de toneladas ao ano. Devido às boas condições climáticas e de solo, o país possui uma grande diversidade de frutas, produzidas o ano todo, de acordo com as características dos biomas.

A prática de cultivo de frutas baseia-se nos princípios da sustentabilidade econômica, social e ambiental. De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), só em 2021 o país exportou mais de 40 espécies, batendo um recorde de 1 bilhão de dólares. O principal destino foi a União Europeia, que rendeu ao Brasil 52,6% das  vendas.

Apesar do notável crescimento na produção, a fruticultura brasileira, que emprega cerca de 5 milhões de pessoas, representa apenas uma pequena fatia do mercado global. Isso abre oportunidades de investimento para agricultores visando expandir o setor e aumentar os lucros nacionais.

A agricultura orgânica, elemento essencial da sustentabilidade, tem espaço para crescer no Brasil em comparação com outros países, como República Dominicana, Equador, Peru e Colômbia. Isso aponta para oportunidades de desvendar novos mercados e atividades ainda não totalmente exploradas.

Fonte: https://agriculture.ec.europa.eu

Expansão de mercado

Embora o Brasil seja o terceiro maior produtor mundial de frutas, atrás apenas da China e da Índia, suas exportações ainda estão em estágio inicial. Cerca de 95% da produção atende ao mercado interno, havendo potencial para aumentar as exportações. 

 De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o país possui um grande potencial para expandir a produção, o período de oferta e a participação no cenário global. A fruticultura ocupa apenas 0,3% do território, em comparação com os 7,8% ocupados por lavouras. Mesmo assim, gerou um aumento de 9% nos empregos formais ligados à agropecuária. Portanto, este é um momento propício para aqueles que desejam ingressar no setor de fruticultura e contribuir para o aumento do número de exportações.

O histórico de produção das principais frutas, entre elas manga, melão, uva, limão, maçã, melancia e mamão, evidencia um crescimento da produtividade, conforme aponta a Abrafrutas. Num período de 10 anos, de 2010 a 2020, a produção de mangas cresceu 32%, enquanto a área cultivada foi reduzida em 6%; isso representa alta de 40,3% na produtividade.

Fruticultura consciente: produzindo com responsabilidade e sustentabilidade

O mercado internacional de fruticultura é altamente competitivo, exigindo elevados padrões de qualidade na produção e comércio para se destacar. O Brasil está se consolidando como fornecedor de frutas sustentáveis, exigindo certificações independentes e de terceiros para demonstrar compromisso com atributos ambientais, sociais e de gestão.

A divisão de alimentos da QIMA, representada pela QIMA/WQS, QIMA/IBD e QIMA Produce, é uma referência sólida e abrangente para o setor alimentício, oferecendo certificações amplamente reconhecidas pela GFSI (Global Food Safety Initiative) e Inspeções, garantindo os mais elevados padrões de qualidade e conformidade.

Maximizando oportunidades e credibilidade

A adoção dessas práticas eleva a qualidade e competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional, posicionando o país como um dos principais fornecedores de frutas e elevando a visibilidade e prestígio das companhias no mercado internacional.

A obtenção das certificações exige o cumprimento rigoroso das normas de controle de defensivos. Para Alexandre Harkaly, Diretor de Integração Estratégica da QIMA IBD, “os padrões orgânicos podem eventualmente ser implementados para todas as práticas agrícolas. Ir além para preservar a saúde do solo, construir sistemas biodiversos, economizar água e atuar positivamente no social, além de atender às demandas prioritárias dos colaboradores, deve ser o objetivo de todos os agricultores”, afirma.

A QIMA destaca-se na vanguarda dessas certificações, reforçando o compromisso com padrões elevados de produção sustentável. Esta abordagem não apenas beneficia os clientes, mas também posiciona a empresa como líder na promoção de práticas agrícolas éticas e ecológicas.

3 min leituraO setor de fruticultura no Brasil está em expansão, destacando-se por promover a sustentabilidade, preservar a biodiversidade, gerar empregos e impulsionar o desenvolvimento regional. A fruticultura brasileira produz cerca de […]

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Segurança e qualidade do uso e reúso da água na produção de lácteos

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Como resultado das Reuniões Conjuntas FAO/OMS de Especialistas em Avaliação de Risco Microbiológico (JEMRA) em 2023 foi publicado um relatório sobre a segurança e qualidade do uso e reúso da água no processamento de laticínios (veja aqui). Este relatório enfoca os microrganismos que podem representar riscos à saúde dos consumidores por meio de produtos alimentícios quando não são adequadamente controlados no ponto da cadeia de abastecimento de alimentos onde a água é reutilizada.

No setor de laticínios, é grande o volume de água potável de primeiro uso para processos produtivos, limpeza e desinfecção e a água é recirculada até que não seja mais considerada adequada. Operações de limpeza de silos, tanques, tubulações e equipamentos geram grandes volumes de efluentes com alta carga orgânica. As aplicações de água de reúso podem ser amplamente categorizadas como não para contato com alimentos ou para contato com alimentos. A aplicação determinará se uma água é adequada para o uso conforme seja recuperada de uma fonte dentro da operação de laticínios ou se um processo de recondicionamento específico (por exemplo: purificação, tratamento antimicrobiano) é necessário antes da sua reutilização.

Ao projetar e operar um cenário de reúso de água, os requisitos regulatórios vigentes (por exemplo, leis, regulamentos, padrões) e as orientações das autoridades competentes deverão ser cuidadosamente considerados. É importante ressaltar que o projeto operacional e o controle do reúso de água precisam ser adaptados às condições específicas daquela instalação de processamento de laticínios e se basear em um bom nível de compreensão e experiência em relação a uma avaliação dos perigos microbiológicos potenciais e uma abordagem de gerenciamento baseada em risco usada para alcançar o controle adequado devem apoiar o projeto e a implementação do cenário de reúso de água. A implementação e o controle contínuo de um cenário de água de reúso devem estar dentro das capacidades dos operadores. O operador precisará prevenir e/ou controlar todos os perigos potenciais (incluindo químicos, biológicos e físicos) associados à fonte de água reutilizável e considerar a aplicação pretendida da água de reúso.

Os riscos microbiológicos presentes nas possíveis fontes de geração de água de reúso (fontes de água reutilizável), bem como os riscos associados a outras partes da operação (por exemplo, ambiente da fábrica, sistema de armazenamento e distribuição) que podem contaminar um abastecimento de água tem que ser considerados, como os nutrientes podem estar presentes em um abastecimento de água de reúso após a recuperação e recondicionamento, o que pode promover o crescimento de organismos deteriorantes (limitando assim o prazo de validade) ou perigos microbiológicos (possivelmente aumentando o risco ao consumidor, dependendo da aplicação da água).

A  eficácia microbiológica do sistema de geração desta água deve ser avaliada, relacionada, por exemplo, à combinação de tecnologias, equipamentos e infraestrutura implantados para recuperação, recondicionamento e armazenamento de água. Também há necessidade de controlar consistentemente o sistema de geração de água de reúso, bem como a aplicação desta água na operação diária e o papel dos testes microbiológicos para validação e verificação na concepção e gestão da geração e uso de água de reúso e a capacidade de aplicar abordagens de teste apropriadas.

Ao avaliar potenciais perigos microbiológicos e estabelecer controles apropriados para a geração e uso de água de reúso, os seguintes pontos devem ser levados em consideração:

• se a água que foi reciclada ou recirculada várias vezes em uma operação de processo específica está levando ou resultou na formação de biofilme;

• se alguma medida específica para a preservação ou controle do crescimento microbiano é necessária durante o prazo de validade definido para o abastecimento de água de reúso; e

• a necessidade de ter disponível um abastecimento de água alternativo adequado para um propósito, como uma fonte de água potável, que pode ser usada caso o sistema de geração de água de reúso não esteja sob controle ou falhe.

Para a operação de alimentos, serão necessárias medidas de controle para garantir que qualquer água que entre em contato com alimentos ou superfícies de contato com alimentos seja adequada à finalidade. Os planos de controle de perigos para um processo de geração de água de reúso devem ser baseados em várias etapas derivadas da análise de perigos/avaliação de riscos. Em ambos os casos, uma abordagem baseada em riscos e evidências deve ser seguida, desde a concepção do cenário geral de água de reúso para uma operação até a implementação e controle em escala total. Dado que a microflora da água pode diferir em cada situação, assim como as condições específicas de recuperação, purificação ou tratamento antimicrobiano podem variar entre as operações, é recomendável que o operador valide adequadamente cada cenário, incluindo aspectos-chave como o desempenho do sistema de geração de água de reúso para que esteja em conformidade com as especificações exigidas.

Para identificar os perigos conhecidos ou potenciais que um abastecimento de água reutilizável pode apresentar para a reutilização segura da água nas operações de laticínios é essencial o conhecimento técnico sobre as tecnologias subjacentes à recuperação ou à água reutilizável e ao sistema de geração desta água. Igualmente crucial é a base de conhecimentos/habilidades de avaliação microbiológica e de risco para determinar cenários de reutilização de água adequados para a finalidade. Fornecedores terceirizados e provedores de soluções podem auxiliar as operações com tal experiência e conhecimento e habilidades. No entanto, a responsabilidade final recai sobre a gestão da operação de negócios de alimentos para garantir a segurança e adequação dos produtos alimentícios sendo processados ou fabricados. Para fins de verificação, testes microbiológicos e análises de, por exemplo, contagens viáveis totais ou coliformes provaram ser úteis. No entanto, a microflora relevante para a reutilização da água geralmente é específica da planta e da operação. Portanto, geralmente não é adequado confiar apenas nos testes de parâmetros microbiológicos, como os níveis de coliformes que geralmente se aplicam aos sistemas (municipais) de geração de água potável. Para reutilização de água no contexto de operações de alimentos, como no setor de laticínios, os coliformes podem não ser os mais adequados, mas pode haver outro(s) microrganismo(s) relevante(s) que podem ser melhores indicadores de possíveis perigos, eventos ou condições (por exemplo, presença de nutrientes) que pode representar um risco. É, portanto, essencial realizar um estudo específico da operação para determinar quais parâmetros ou indicadores microbiológicos podem ser apropriados para uso no controle daquele determinado sistema, assim como a vida útil máxima da água de reúso. Indicadores microbiológicos localmente específicos de processo ou controle de higiene podem ser usados para validação operacional em escala real e para verificar o controle do processo durante a operação de rotina.

Durante a operação, o processo de geração desta água deve ser monitorado diariamente, incluindo a verificação pontual de seu estado microbiológico, a fim de verificar a eficácia do controle do processo em andamento e, assim, a adequação do fornecimento de água. O monitoramento também permite a tomada de ações oportunas caso o desempenho do processo falhe ou seja considerado deficiente. Para monitoramento, a verificação microbiológica pode ser muito demorada em comparação com o teste de parâmetros físicos ou químicos. O último normalmente fornece resultados mais oportunos de controles de processo em andamento ou para identificar situações que tendem a ficar fora de controle e, portanto, pode permitir uma melhor tomada de ação imediata.

Se o seu laticínio utiliza água de reúso, vale a pena ler este relatório completo antes de continuar, pois se há muitas oportunidades para recuperação de água, também é preciso ter controle.

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GFSI de 2023 abordará sustentabilidade no fornecimento de alimentos seguros

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O tema do encontro da GFSI de 2023, que acontecerá de 24 a 27 de abril, em Atlanta, nos EUA, está ligado à sustentabilidade no fornecimento de alimentos e englobará as 3 palavras principais: “produzir, proteger e prosperar”. A intenção é construir soluções sustentáveis para a cadeia de alimentos e do agronegócio, desde a produção até o consumidor final, que é a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa no Brasil e uma das mais impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas. A cadeia da agroindústria tem pela frente o gigantesco desafio de conciliar medidas de mitigação de gases do efeito estufa com o aumento da produção e oferta de alimentos para a população. Além disso, enfrenta problemas fitossanitários, mudança na geografia dos cultivos, eventos extremos, como secas e tempestades, perda de polinizadores e mudanças abruptas do regime hídrico e produção de micotoxinas. São alguns dos efeitos práticos e locais das mudanças climáticas, que representam um desafio sem precedentes para os governos, setor privado, academia e sociedade civil.

Novas iniciativas buscam promover a inserção da inteligência climática, ou seja, como tornar o setor mais resiliente às mudanças climáticas, no setor de agricultura e alimentos com objetivo de aumentar em 50% a disponibilidade de alimentos nutritivos enquanto reduz em 50% as emissões de gases do efeito estufa. É necessário garantir alimentos nutritivos para uma população crescente de mercados globais e hábitos pouco sustentáveis. Sendo assim, não apenas é necessário aumentar a produtividade, mas também reduzir perdas e desperdícios após a colheita, promover uma mudança de hábitos, repensar quadros regulatórios e incentivos econômicos, desenvolver uma base produtiva que gere impacto ambiental e social positivo e construir uma cadeia de valor para novos produtos da bioeconomia.

Com a previsão de que a população mundial chegue a 9,6 bilhões em 2050, a ONU aponta que o sistema global de alimentos deve passar por mudanças urgentes para garantir que haja comida adequada para todos, sem destruir o planeta.

O Relatório de Recursos Mundiais: Criando um Futuro Alimentar Sustentável revela que enfrentar esse desafio exigirá o fechamento de três lacunas:

– uma “lacuna alimentar” de 56% entre o que foi produzido em 2010 e os alimentos que serão necessários em 2050;

– uma “lacuna de terra” de quase 600 milhões de hectares entre a área agrícola global em 2010 e a expectativa de expansão agrícola até 2050; e

– um “gap de mitigação de gases de efeito estufa” de 11 gigatoneladas entre as emissões esperadas da agricultura em 2050 e o nível necessário para atender o Acordo de Paris para o clima, protegendo os ecossistemas.

Hoje, é impossível dissociar os efeitos dos sistemas de produção ao meio ambiente, saúde humana e saúde animal. Essa associação entre esses elos é chamada de One Health (saúde única ou uma saúde) e incentiva novas políticas de gestão dos meios e saúde, além dos riscos provenientes de poluição, degradação de terras, desastres, água potável, fornecimento de alimentos, controle de pragas, mudanças climáticas e muitas outras.

É necessário haver ajustes significativos na produção de alimentos, bem como mudanças no consumo da população e as ações vão desde o manejo da pesca silvestre até a quantidade de carne a ser consumida. Isto somente é possível na tripartite (que não são concorrentes) de formuladores de políticas, empresas e pesquisadores para criarem um sistema alimentar sustentável da fazenda até o prato, com muito uso de tecnologias e grandes inovações, além de mais financiamento para pesquisa e desenvolvimento e regulamentação flexível para incentivar o setor privado a inovar, sem deixar de lado a segurança de alimentos.

Este relatório, preparado por várias agências das Nações Unidas, pelo Banco Mundial e pelo Instituto de Recursos Mundiais, WRI (que pode ser acessado aqui), sustenta a síntese da criação de um futuro alimentar sustentável. Lançado em julho de 2019, alerta que não há solução milagrosa, mas que ESG é o tema que continua em voga, já iniciado no evento de Barcelona, em 2022, pela GFSI e que certamente estará presente nas futuras revisões de normas e esquemas de certificações reconhecidas.

As empresas precisam basear suas decisões não apenas em resultados financeiros e sim adicionarem metas de responsabilidade socioambiental aos seus indicadores de desempenho, não apenas por ser bom para a sua imagem corporativa, mas necessário para a estabilidade global e à preservação de um planeta habitável, com segurança alimentar, incluindo a segurança de alimentos.

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