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Diretrizes para escolha de empresas de Manejo Integrado de Pragas

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Pragas urbanas são animais sinantrópicos, portanto, que beneficiam-se das condições ecológicas criadas pelas atividades humanas em centros urbanos, adaptando-se a essas condições independentemente da vontade do homem.

Assim, infestam ambientes urbanos, aproveitando-se dos resíduos que geramos, da nossa falta de higiene, de nossos falhos cuidados com a limpeza e a organização, podendo causar agravos à saúde e/ ou prejuízos econômicos, especialmente por agirem como vetores mecânicos e algumas vezes biológicos, transportando microrganismos patogênicos de locais insalubres como redes de esgoto, lixeiras, ralos e canaletas até os alimentos e bebidas sendo produzidos.

As principais pragas urbanas potenciais em uma empresa alimentícia normalmente são:

  1. Roedores como os ratos de forro (Ratus ratus), camundongos (Mus musculus) e ratazanas (Ratus novergicus). Leia mais em Controle de Pragas nas empresas de alimentos: conhecendo os roedores;
  2. Pássaros como os pombos (Paloma livia). Leia mais em Pombos, as pragas urbanas aladas!;
  3. Insetos como baratas (Periplaneta americana, Blatella germânica e a Blatta orientalis), formigas (Iridomyrmex sp) e moscas (Musca domestica). Leia mais em BARATAS! Quem são? Onde vivem? O que fazem?

Figura 1: Ratos, pombos, baratas, formigas e moscas. 

Além das pragas urbanas, a organização deve trabalhar para também prevenir pragas silvestres, que apesar de naturalmente não serem vetores de doenças, podem causar insatisfação de clientes caso alguma delas seja envasada inteira ou suas partes junto com os produtos, como é o caso de besouros, libélulas, lacraias, borboletas e outras, e claro, também animais de estimação como cães e gatos que não devem perambular por áreas de manipulação e produção de alimentos e bebidas, pois podem trazer contaminantes para o ambiente, soltar pelos, excrementos, etc.

A principal diretriz para o combate às pragas urbanas deve ser evitar o acesso às instalações industriais e de armazenamento, locais de abrigo, alimento e água, os chamados 4As.

Para evitar a entrada de pragas nas indústrias é praxe telar todas as janelas, manter portas sempre fechadas, sendo que portas automáticas ajudam bastante, e claro, todos batentes das portas devem ser protegidos com borracha para prevenir pragas rasteiras.

Cortinas de ar são bem vindas, mas sozinhas não evitam a entrada de pragas. Portas bem fechadas são a regra a ser seguida, pois as cortinas de ar são úteis quando as portas se abrem, e neste momento evitam a entrada de insetos voadores como moscas, mas não impedem a entrada de pragas rasteiras como baratas ou ratos.

Algumas indústrias alimentícias usam ainda insuflação de ar tratado/ filtrado, mantendo uma pressão positiva dentro da planta industrial, assim o ar seguirá sempre um fluxo de direção de dentro para fora, o que também ajuda a evitar entrada de pragas voadoras, além claro, de evitar também a entrada de pó e sujeira que carreiam microrganismos, principalmente deteriorantes.

Para ajudar na limpeza de uma planta industrial e evitar acúmulo de sujeira que alimentará pragas, sugerem-se cantos arredondados e inclinações em beirais de janelas  em cerca de 30º para facilitar a limpeza. Sem isto, precisa-se de maior regularidade e esforço nesta atividade.

A limpeza deve sempre ser rigorosa, não se esquecendo de cantos, racks, pipe racks, sobre equipamentos, em forros, calhas, ou seja, imagine uma praga querendo um abrigo para se esconder e vá limpar todos estes locais.

Feche buracos, todos, passeie com olhar muito atento pelas plantas industriais procurando frestas, pois mesmo nas menores as pragas poderão se abrigar: sempre é preciso vistoriar toda planta industrial, sabendo que as pragas irão se alojar nos locais menos evidentes normalmente.

Manejo de resíduos é uma uma condição sine qua non para se controlar pragas, tema que o leitor pode aprofundar no artigo Coleta seletiva e BPF de mãos dadas!.

Para identificar insetos, em pontos estratégicos da planta industrial costuma-se colocar armadilhas luminosas ou com feromônios que os atraem e capturam, cujo principal objetivo é monitorar sua população para indicar infestações e referenciar o momento para que uma eventual intervenção química com o uso de pesticidas seja realizada.

Os artigos Armadilhas luminosas: como investigar o acesso das pragas?  e  Armadilhas luminosas: controle ou monitoramento de insetos voadores? aprofundam este tema.

Figura 2: Armadilha luminosa. 

Áreas externas circunvizinhas à planta industrial devem ser mantidas sempre muito bem limpas e com a grama aparada para evitar o abrigo de pragas, lembrando-se de evitar entulhos, equipamentos em desuso, tambores vazios, etc, e também, deve ser monitorada a existência de tocas, especialmente de roedores.

Para controle de roedores, ao redor de toda planta industrial é uma técnica usual manter um anel sanitário com rodenticidas em iscas parafinadas ou resinadas alocados em porta-iscas lacrados, identificados e posicionados em pontos pré-definidos, indicados em um “mapa de posicionamento de iscas”, que devem ser monitorados com regularidade para indicar se há aparecimento destas pragas e em quais áreas.

Figura 3: Porta iscas. 

Não são admitidas formulações líquidas, pós solúveis, pós molháveis ou iscas em pó, apenas são admitidos rodenticidas cujas substâncias ativas tenham monografia publicada pelo Ministério da Saúde.

O tal “chumbinho”, um produto comercializado clandestinamente como raticida, sem registro, é uma péssima ideia para ser usado no controle de pragas, ele pode se tornar um grave contaminante químico, em casa matando animais de estimação, nas indústrias, padarias, bares e restaurantes, contaminando produtos e causando mortes por intoxicação acidental. O agrotóxico Aldicarbe (carbamato Aldicarb) é encontrado em cerca de 50% dos ‘chumbinhos’ analisados, a outra metade são organofosforados diversos, assim como o fluoracetato de sódio.

Podem ser utilizadas também armadilhas de cola (placas adesivas atóxicas) e de alçapão. Porém, não são indicadas ratoeiras de mola dentro de áreas de produção, uma vez que elas esmagam o animal e antes de morrer ele podem evacuar e soltar outros fluídos corpóreos como sangue e urina que contaminam o ambiente de manipulação dos alimentos.

Figura 4: Armadilha de alçapão. 

Neste tema, o artigo Controle de pragas: importância do formato da armadilha para roedores pode ser de interesse para aprofundar o conhecimento do leitor.

Para evitar pombos que são vetores de diversas doenças, um pássaro exótico, o que significa que vem de outro país e não pertence à fauna nativa brasileira, mas que absurdamente é protegido por nossa legislação, é preciso evitar locais onde eles possam se aninhar, usando espículas para dificultar o pouso, ser extremamente rigoroso em não deixar alimentos, especialmente grãos, sendo necessário, por exemplo, varrer constantemente áreas de descarregamento em silos.

Figura 5: Espículas. 

O combate às pragas urbanas é realizado por ações da própria organização, e na grande maioria das empresas de alimentos e bebidas, com suporte e apoio de empresas terceirizadas contratadas especificamente para este fim, uma vez que é preciso deter competências, habilidades e licenças bastantes específicas, justamente para evitar que o combate a pragas não se torne um risco químico à manipulação e produção de alimentos, portanto, à saúde dos consumidores.

A seleção de uma empresa para prestação do serviço de manejo integrado de pragas tem como exigências óbvias que sejam registradas nos órgãos estaduais e municipais competentes, o compromisso de utilizar produtos devidamente registrados no Ministério da Saúde, experiência no segmento alimentício e utilização de técnicas baseadas em Controle e/ ou Manejo Integrado de Pragas.

Uma boa empresa que atua no combate às pragas não é apenas aquela que só age “colocando veneno”, mas aquelas que conhecem bem a biologia e dados comportamentais das pragas, sobre seu habitat e trabalham com inteligência na elaboração de estratégias preventivas para seu controle.

Mas claro, se necessário for, intervenções químicas podem e devem ser feitas, inclusive como formas de rotinas preventivas, mas seguindo todos os protocolos de cuidados necessários, e os artigos Controle de pragas: o que é atomização e para que serve e Controle de Pragas na área de alimentos: qual é a diferença entre termonebulização, atomização e pulverização? trazem informações sobre algumas técnicas de intervenções deste tipo.

O conceito de MIP, Manejo Integrado de Pragas, é um termo abrangente que compreende um conjunto de ações voltadas não só para o combate da praga em si, mas também para agir no meio ambiente que ela utiliza como habitat, a fim desfavorecer a atratividade do local, para que ele NÃO seja propício para à permanência e reprodução das pragas.

Essas ações devem ser praticadas de forma concomitante, permitindo a obtenção do efeito do controle populacional, redução e mitigação se houver infestações, e principalmente, a garantia do afastamento das pragas das áreas sensíveis por permitirem riscos de contaminação ao longo do processamento.

O MIP não prevê o uso de praguicidas como uma abordagem prioritária e predominante, mas secundária. No entanto, podem ser empregados quando as demais ações que visam especialmente uma abordagem para evitar os 4 As (acesso, alimento, abrigo e água) falham, permitindo uma crescimento populacional ao qual se dá o nome de infestação.

O foco deste artigo é auxiliar na escolha destas empresas prestadoras de serviços de combate integrado de pragas. Para isso, segue um quadro no qual são descritas as responsabilidades de uma organização e de uma empresa terceirizada contratada para o MIP, pois quando se terceiriza não se deve delegar toda a responsabilidade, justamente devido à grande importância do tema para a segurança dos alimentos.

Responsabilidades da organização e de uma empresa terceirizada contratada para MIP:

ORGANIZAÇÃO EMPRESA TERCEIRIZADA CONTRATADA
Fornecer treinamento aos funcionários da organização sobre medidas preventivas de combate às pragas urbanas e sobre correto preenchimento de formulários de “Monitoramento de Pragas”. Fornecer EPI e treinamento adequado para funcionários que aplicam praguicidas.

Estes funcionários devem receber reciclagem no treinamento no mínimo anualmente, e cópias destes treinamentos devem ser enviadas para organização.

Fornecer formulário de “Monitoramento de Pragas”.

Monitorar as ações da empresa terceirizada contratada para se assegurar que estão agindo corretamente e dentro dos conceitos do MIP. Montar estratégias de prevenção e combate a pragas num plano de ação prevendo:

  1. Monitoramento das pragas urbanas com periodicidade consensada com organização, considerando os riscos e incidências históricas;
  2. Implementação de anel sanitário para prevenir a entrada de roedores nas plantas industriais, junto ao perímetro divisório do terreno e ao redor das áreas de fabricação;
  3. Elaborar mapa de posicionamento de iscas, armadilhas luminosas e placas de cola ou de alçapão;
  4. Utilização de formulários para indicação de pragas pelos funcionários para identificar e mapear pontos de presença e focar ações;
  5. Armadilhas de placas adesivas atóxicas próximo às portas de entrada;
  6. Alocação de armadilhas luminosas e adesivas para monitoramento e combate de insetos/ pragas aladas;
  7. Intervenções químicas: desintetizações e desratizações conforme necessário.
Acompanhar técnico da empresa terceirizada durante as visitas periódicas para monitoramento e controle das pragas urbanas.

Caso detecte necessidade de ação em alguma área entre as visitas planejadas, comunicar empresa terceirizada informando praga alvo.

Realizar visitas periódicas, sugere-se no mínimo mensais, podendo ser quinzenais ou semanais dependendo dos riscos e nível de incidências, para monitoramento e controle das pragas urbanas baseado no plano de ação acima descrito.

Caso entre os intervalos das visitas seja necessário, deve realizar visitas intermitentes.

Manter parque industrial, equipamentos e utensílios limpos para evitar alimento e abrigo para as pragas urbanas, conforme determinam as regras de BPF. Fornecer cópia da licença de funcionamento (Alvará Sanitário) e atualizar anualmente.

Fornecer cópia da licença ambiental (LAO) e atualizar anualmente.

Fazer correto manejo de resíduos e impedir existência de sucata acumulada, conforme determinam os requisitos do procedimento de Manejo de Resíduos. Informar nome comum dos praguicidas utilizados, concentração de uso, diluente, volume aplicado, animal alvo e equipamento e fornecer cópia dos registros no MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de cada um destes praguicidas.
Manter barreiras físicas para evitar o acesso de pragas urbanas às instalações, tais como telas milimétricas em janelas, vedações em batentes de portas, manter portas fechadas, sifonar e/ ou colocar grades e telas milimétricas em ralos e canaletas, fechar frestas e buracos que sirvam de abrigo, usar preferencialmente lâmpadas de sódio nos locais próximos aos acessos da planta industrial, utilizar cortinas de tiras ou cortinas de ar nas entradas principais e outras medidas preventivas.

 

Emitir relatórios no máximo em intervalos trimestrais contendo:

  1. Data das inspeções;
  2. Assinatura do responsável técnico (RT), cópia do registro técnico e cópia da última anuidade paga;
  3. Resultados da inspeção (número e percentual de pragas identificadas, com base em formulários preenchidos por funcionários do organização e com base na inspeção dos porta iscas e das armadilhas luminosas ou de feromônio);
  4. Gráfico de acompanhamento e tendência ao longo do tempo, confrontando número de pragas com a quantidade de praguicidas utilizados;
  5. Análise comentada das estratégias que serão adotadas com base nos dados do gráfico;
  6. Indicar melhorias estruturais a serem realizadas pela organização como parte das estratégicas de evitar os 4As.
Analisar criticamente e tomar ações nos pontos indicados pela empresa terceirizada contratada no relatório de visitas. Indicar ações necessárias para combate às pragas urbanas e locais onde possam existir tocas de roedores e ninhos de pássaros.
Monitorar os pontos onde possa haver tocas de roedores ou ninhos de pássaros e destruí-los. Fornecer cópia dos procedimentos utilizados no Controle Integrado de Pragas.

Sempre verifique se a empresa é licenciada pelos órgãos responsáveis como o Órgão Ambiental do Estado e o IBAMA, lembrando também que tais empresas devem ser certificadas para realizar a manipulação e aplicação de desinfetantes domissanitários registrados no Ministério da Saúde.

Isto objetiva garantir a manutenção da saúde e segurança ambiental, evitar contaminações cruzadas nos locais que possam gerar risco à produção de alimentos e também para as pessoas durante a execução dos serviços.

Só contrate empresas que tenham  um profissional legalmente capacitado, com nível superior para a garantia de uma atuação responsável com qualidade, eficiência e segurança, a fim de garantir que ele supervisione os serviços prestados, treine os empregados subordinados e garanta o cumprimento devido dos procedimentos.

Este profissional deve ter informações precisas sobre as características e hábitos das pragas urbanas, composição química e os efeitos dos praguicidas usados (toxicologia), métodos de aplicação e equipamentos para execução do serviço, entre outras informações.

Se sua empresa é um moinho de milho, trigo ou aveia, ou um pastifício, indústria de pães, torradas ou biscoitos, há grande probabilidade de que tenha também problemas com as pragas de grãos, os chamados carunchos e mariposas. Estes não são vetores de doenças, mas podem trazer sérios prejuízos econômicos e de imagem, tema sobre o qual você poderá se aprofundar no artigo Um panorama geral sobre pragas de grãos , e neste caso, ao contratar uma empresa para MIP, é importante que ela tenha também experiência e atue nesta área.

Ainda para auxiliar na escolha de uma empresa pra MIP, o artigo Quem deve realizar o controle de pragas nas empresas de alimentos? é uma resposta da ANVISA sobre este assunto e vale a pena a leitura.

É preciso ter um entendimento claro de que é impossível acabar completamente com as pragas urbanas, inclusive é preciso lembrar que elas estão aqui no planeta há muito mais tempo que nós, homo sapiens, justamente por adotarem estratégias de sobrevivência bem elaboradas.

Então, o que se pode fazer em termos reais é um rigoroso trabalho com ações constantes para controlar infestações integrando medidas corretivas e preventivas, a fim de que estas pragas sejam mantidas sempre sob controle e os riscos de contaminação dos produtos e bebidas em processamento sejam minimizados.

Há muitos artigos publicados no blog sobre este tema. Seguem mais alguns que podem interessar ao leitor para aprofundar seus conhecimentos:

  1. Gestão à vista do Controle Integrado de Pragas
  2. Indicadores para gestão do controle de pragas nas empresas de alimentos
  3. Como anda o Programa de Controle de Pragas na sua empresa?
  4. Dicas para elaborar um procedimento documentado sobre controle integrado de pragas
  5. Requisitos de Controle de Pragas

Referência bibliográfica:

Espero que tenha gostado do artigo. Compartilhe conosco suas experiências, deixe seu comentário.

10 min leituraPragas urbanas são animais sinantrópicos, portanto, que beneficiam-se das condições ecológicas criadas pelas atividades humanas em centros urbanos, adaptando-se a essas condições independentemente da vontade do homem. Assim, infestam ambientes […]

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Pombos, as pragas urbanas aladas!

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Columba livia, conhecida pelos nomes de pombo comum, pombo doméstico ou simplesmente pombo ou pomba, é uma espécie de ave da família Columbidae. Alguns as alimentam com pipocas em praças públicas, mas para os profissionais de food safety, especialmente para os que atuam com grãos, cereais, panificação e biscoitos, a imagem destas aves é bem diferente, são vistas como uma praga urbana problemática que já ganhou o apelido de “ratos com asas”.

Contudo, os ratos ao longo dos séculos não tiveram a mesma sorte que os pombos quanto à divulgação de sua imagem. Enquanto os primeiros são desde a antiguidade associados à morte, doenças e ao mal, os segundos são vistos como o símbolo da paz, da graça e do bem, porém ambos são igualmente nocivos ao homem em centros urbanos.

Talvez os ratos devessem contratar a mesma equipe de marketing pessoal dos pombos.

Ratos e pombos muitas vezes disputam alimentos nos mesmos ecossitemas urbanos, apesar de um habitar o submundo dos esgotos e frestas e o outro se acomodar em locais elevados, mas ambos se aproveitam de nosso descuido com o lixo, organização e limpeza, transmitem doenças ao homem e são igualmente pragas urbanas nocivas.

Evidências fósseis sugerem que os pombos tenham se originado no sul da Ásia, e também foram descobertos fósseis em Israel que confirmam sua existência há pelo menos 300 mil anos.

No decorrer de sua história, a espécie passou a interagir com os seres humanos, há imagens que o representam na Mesopotâmia datadas de 4.500 a.C. Com o passar do tempo, se estabeleceram ao redor do mundo, principalmente nas cidades.

Por isso, são considerados como animais sinantrópicos, e levando-se em conta que não há nenhum predador nas grandes cidades capaz de conter estas aves, somado ao fato de que sua reprodução é rápida, sua população torna-se cada vez maior nos centros urbanos. Isso representa um grave problema ambiental e ao homem. Pombos formam colônias que podem chegar a até 2 milhões de indivíduos.

Estima-se que existam 260 milhões de pombos urbanos, ou seja, o mundo tem mais pombos do que brasileiros.

Foram introduzidos pela primeira vez na América em 1606, em Port Royal, Nova Escócia, e foram trazidos para o Brasil no início do século XIX por ordem de Dom João VI com o objetivo de “enfeitar” as cidades, provavelmente tendo como inspiração a presença destas aves em cidades europeias, como Roma e Veneza.

Até recentemente e ainda em alguns locais, há uma certa benevolência com os pombos em áreas urbanas, sendo comum encontrá-los em pontos turísticos em boa parte do mundo, onde costumam ser alimentados.

Contudo, atualmente, tais atitudes são desencorajadas e existe uma repugnância crescente à presença dos pombos, justamente pelos problemas de saúde pública que podem desencadear.

Como curiosidade, há algumas peculiaridades interessantes sobre estas aves:

  1. Existem mais de 300 espécies de pombos, mas apenas 3 são comuns em áreas urbanas e apenas uma realmente é considerada uma praga problemática;
  2. A expectativa média de vida é de 3 a 5 anos quando livres e de até  15 anos quando em cativeiro, embora haja relatos de tempos de vida ainda mais longos;
  3. Os antigos egípcios já utilizavam pombos-correios. Há indícios de que o faraó Ramsés III anunciou ao povo do Egito a sua chegada ao trono por meio de pombos-correios;
  4. Na antiga Mesopotâmia, as pombas eram símbolos animais de destaque de Inanna-Ishtar, a deusa do amor, sexualidade e guerra;
  5. Na Antiguidade Clássica, as pombas eram sagradas para a deusa grega Afrodite que absorveu essa associação com pombas de Inanna-Ishtar;
  6. Pela doutrina cristã, os pais de Jesus sacrificaram pombos em seu nome após a sua circuncisão, e mais tarde, o Espírito Santo desceu sobre Jesus em seu batismo como uma pomba e, posteriormente, a “pomba da paz” tornou-se um símbolo cristão;
  7. No Islã, os pombos em geral são respeitados e favorecidos, porque acredita-se que ajudaram o profeta Maomé a distrair seus inimigos fora da caverna de Thaw’r, na grande Hégira;
  8. Em 1907, um farmacêutico alemão chamado Julius Neubronner desenvolveu câmeras para serem acopladas a pombos que deveriam tirar fotos aéreas durante o voo, pois antes disso tais imagens somente podiam ser capturadas com o uso de balões;
  9. Na década de 70, a CIA usou a mesma ideia e criou pombos com câmeras fotográficas presas ao peito para espionar o território inimigo;
  10. A arte de criar pombos-correios é chamada de columbofilia;
  11. Os pombos são capazes de voar de 80 a até 100 quilômetros por hora;
  12.  Podem voar em distâncias até 315 km sem se cansarem;
  13. Humanos têm um sistema triplo de percepção de cores, enquanto os pombos têm fotossensores e filtros de luz que podem distinguir cinco faixas de espectro, fazendo o mundo lhes parecer um caleidoscópio virtual de cores, muito mais colorido do que para nós, o que inclui enxergar espectros de ultravioleta e infravermelho;
  14. Os cientistas suspeitam que os pombos se orientam pelo campo magnético da Terra, podendo assim reencontrar lugares distantes. O fato é que possuem o melhor sentido de orientação de todo reino animal, podendo localizar os seus ninhos ou pombais a mais de 1000 km de distância;
  15. Aparentemente alguns pombos aprenderam a usar o sistema de metrô em Estocolmo, onde são vistos regularmente desde o início dos anos 90 (e não pagam passagem);
  16. Em um estudo no centro de Paris, uma pesquisadora oferecia comida aos pombos, enquanto outra os perseguia. As aves, então, começaram a evitar a que os perseguia e se sentiam atraídas pela que os alimentava, mesmo que elas estivessem usando roupas diferentes, demonstrando que são capazes de identificar pessoas;
  17. Um estudo revelou que pombos podem aprender a distinguir cada letra do alfabeto, e reconhecê-las de uma maneira muito similar à dos humanos, até mesmo confundindo certas letras que as pessoas também frequentemente confundem;
  18. Outro estudo demonstrou que os pombos têm a mesma competência matemática dos macacos rhesus, exibindo uma habilidade para aprender conceitos abstratos, diferenciar números de objetos, ordenar pares e julgar quantidades com precisão;
  19. Segundo outro estudo da Universidade de Iowa realizado em 2017, os pombos são capazes de ter pensamentos complexos, como percepção de espaço e tempo. Contudo, o que mais intrigou os pesquisadores é o fato de não possuírem lobo parietal,  parte do cérebro à qual é atribuída a capacidade de os primatas terem tais pensamentos;
  20. Um pombo de corrida foi vendido por US$ 1,9 milhão, cerca de R$ 10,3 milhões, durante um leilão na Bélgica em novembro de 2020.

Geralmente são monogâmicos e se reproduzem em qualquer época do ano, mas os períodos de pico são a primavera e o verão, e em regiões de clima tropical como o Brasil, a reprodução da espécie acontece entre 5 e 6 ninhadas por ano, sendo que dois ovos brancos são postos para incubação, que é compartilhada por ambos os pais e tem duração média de 17 a 19 dias.

Um casal de pombos, portanto, pode gerar até 12 descendentes por ano.

Os filhotes normalmente são amarelos-pálidos com manchas escuras e, francamente, são animais bem feios (tire suas próprias conclusões), que são cuidados e alimentados com o chamado “leite de bucho”, uma secreção expelida pelas aves amamentadoras, por vezes de outras pombas e o período incipiente é de 30 dias.

Já os adultos são aves bonitas, verifica-se uma grande variação no padrão de cores desse animal, havendo exemplares brancos, marrons, manchados, esverdeados e acinzentados, com nuances de brilho metálico geralmente próximo ao pescoço.

Os adultos medem em média entre 32 e 37 cm de comprimento com uma envergadura variando entre 64 e 72 cm.

Importância dos pombos para o tema food safety

Como visto, eles não são animais da fauna brasileira, sendo o que chamamos de espécie exótica, mas apesar disso e de sua grande população sem predadores naturais, os pombos são considerados animais domésticos pela Constituição Federal e são protegidos. A Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, determina que maltratar, ferir ou matar estes animais seja considerado um crime ambiental e a pena pode variar de multas até cinco anos de reclusão.

Deixo aqui minha crítica a esta legislação por incluir a proteção aos pombos como sendo animais domésticos. Apesar de poder parecer bacana aos olhos dos ambientalistas, torna-se na prática um problema em termos de saúde pública, pois dificulta o combate a esta ave, que apesar da associação com a imagem do singelo pombinho branco da paz, são pragas urbanas, já que atuam como vetores disseminadores de mais de 50 doenças, das quais as mais relevantes são:

  1. Salmonelose: infecção bacteriana que causa vômito, febre e diarreia;
  2. Criptococose: micose fúngica, com alto grau de letalidade, caracterizada por lesões de pele similares a espinhas;
  3. Meningite: geralmente está associada à forma sistêmica da criptococose, ocasionando sintomas como rigidez na nuca, fraqueza, vômitos, sudorese noturna, podendo também levar a morte;
  4. Histoplasmose: doença similar à gripe, mas desencadeada por fungos, que atinge principalmente trabalhadores rurais que atuam próximo a silos e graneleiros e da construção civil, por causa da inalação de esporos;
  5. Ornitose: moléstia bacteriana cujos sinais incluem febre, arrepios, tosse e perda de apetite.

Portanto, o contato com fezes dos pombos ou sua inalação quando ressecadas representa risco à saúde humana.

Além disso, podem abrigar uma verdadeira fauna de diversos parasitas, uma vez que sediam:

  1. Hemiltos intestinais, sendo muito comuns a Capillaria e a Ascaridia columbae columbae;
  2. Ectoparasitas como os piolhos das subordens Ischnocera (Columbicola columbae e Campanulotes bidentatus compar) e Amblycera (Bonomiella columbaeHohorstiella lata e Colpocephalum turbinatum);
  3. Os ácaros Tinaminyssus melloiDermanyssus gallinaeDermoglyphus columbaeFalculifer rostratus e Diplaegidia columbae;
  4. A Pseudolynchia canariensis (hippoboscidae) conhecida como a mosca do pombo, que é um ectoparasita sugador de sangue típico de pombos, encontrado em regiões tropicais e subtropicais.

Pombos também significam um risco potencial por transportar e espalhar a gripe aviária, embora estudos recentes tenham demonstrado que os pombos adultos não são clinicamente suscetíveis à mutação mais perigosa do H5N1. Por outro lado, tem sido mostrado que são suscetíveis a outras estirpes de gripe aviária, tais como o H7N7.

Sabe-se também que é um mito que eles possam transmitir toxoplasmose diretamente a humanos, pois a única maneira de isso ocorrer seria – por hipótese  – se uma pessoa comesse a carne crua ou muito mal passada de uma ave que estivesse infectada com o Toxoplasma gondii. Então, não é de se esperar que pombos passem a doença a humanos, mas para os animais que eventualmente se alimentem de aves cruas. Contudo, sei lá, tem gente no mundo que come até morcego, não é mesmo?

Pelos mesmos motivos, deve-se evitar que pombos da rua tenham contato com animais domésticos, sobretudo com gatos, pois neste caso, tais aves farão parte de seu cardápio cruas, transmitindo então a toxoplasmose.

Fora as doenças, pombos causam um grave problema ambiental, pois competem por alimento com as espécies nativas dos ecossistemas naturais brasileiros.

Outro problema é que os pombos são capazes de danificar monumentos, estruturas fabris e edificações com suas fezes ricas em ácido úrico, uma substância corrosiva, podendo inclusive queimar a lataria dos carros. Um único pombo é capaz de produzir 2,5 quilos de fezes por ano!

Onde há infestação de pombos, há excrementos, penas e materiais usados para a confecção dos ninhos. Como eles ficam na parte alta dos edifícios, é sempre difícil realizar uma boa limpeza e higienização; com isso, pode ocorrer entupimento de calhas devido ao acúmulo de detritos nas saídas para escoamento da chuva.

É preciso atenção, pois onde há pombos há também o risco de as aves se instalarem nas caixas d´água contaminando reservatórios e, assim, transmitindo doenças.

A melhor maneira de remover fezes de pombos é lavar a área com água sanitária ou outro produto à base de cloro e não remover a sujeira a seco. Deve-se sempre adotar um meio de umedecê-las antes, justamente para evitar a inalação de poeira contaminada com esporos. Além disso, claro, lembrar-se de cobrir o nariz e a boca com uma máscara.

Logicamente trazem também prejuízos econômicos, pelas quantidades de grãos e cereais que consomem nos armazéns, silos e graneleiros e por poderem inviabilizar estoques e cargas contaminadas com suas fezes ou animais mortos.

Seus habitats incluem vários ambientes abertos e semiabertos, gostam especialmente de brechas entre penhascos e rochas costumam ser usadas para se empoleirar e reproduzirem, quando na natureza. Já em ambiente urbano, procuram locais elevados que funcionam como penhascos artificiais como edifícios com bordas acessíveis, espaços em telhados, forros, suportes de ar condicionado, janelas altas, calhas, parapeitos, treliças, e claro, estátuas.

O tipo de ninho construído é uma plataforma frágil de palha, gravetos e fezes.

Pombos alimentam-se no chão em bandos ou individualmente e suas principais fontes de nutrientes são grãos, cereais e insetos comumente encontrados na natureza. Na zona urbana, porém, o alimento mais disponível fica em locais insalubres, como os latões de lixo, que costumam conter restos de comida e bichinhos de todo tipo para saciar a fome destas aves. Assim, elas agem como vetores mecânicos e biológicos das diversas doenças já citadas.

Logicamente, se houver alimento em abundância, haverá condições favoráveis à proliferação dos pombos, por isso, as áreas de descarregamento, silos e graneleiros de trigo, milho, aveia, arroz e outros grãos, se não forem rigorosamente mantidas limpas, serão um ambiente apropriado para estas aves aumentarem sua população.

Para reduzir o número de indivíduos, a solução mais efetiva, como para qualquer praga, é intervir nos fatores que possibilitam sua sobrevivência e crescimento populacional. Portanto, reduzir a oferta de alimento, água e abrigo.

Algumas dicas para prevenir e mitigar problemas com pombos:

  1. Não deixe disponível restos de alimentos, seja em lixeiras, que devem ser mantidas sempre fechadas, ou no chão, que sempre deve estar limpo e varrido;
  2. Cuidado especial, como já dito, com áreas de descarga e armazenamento de cereais e grãos, varrendo o local a cada descarga, evitando que os pombos se aproveitem deste alimento;
  3. Não alimente os pombos em praças públicas. Entenda que isto é como alimentar ratos, pois ambos são pragas urbanas transmissoras de doenças;
  4. A simples captura e levar para longe não impede que os pombos retornem, lembre que pombos tem o melhor sentido de orientação de todo reino animal e voam mais de 300 km por dia numa boa;
  5. Mantenha a comida dos animais de estimação sempre em locais fechados e de difícil acesso às aves;
  6. Mantenha manutenção preventiva em silos, moinhos e plantas industriais, evitando vazamentos de produtos armazenados ou aberturas;
  7. Use acessórios como fios de nylon, para dificultar o equilíbrio das aves em locais onde elas costumam ficar empoleiradas, sendo que o ideal é fazer vários traçados em direções aleatórias, com uma altura média de 10 cm cada, pois isso impede que os pombos toquem a superfície;
  8. Use as chamadas espículas, que são bases com espetos pontiagudos, em locais onde os pombos possam se alojar, abrigar e construir ninhos, dificultando assim o acesso a locais de abrigo como os vãos nos telhados, calhas e treliças;
  9. Alguns trabalhos indicam algum sucesso com o uso de produtos de forte odor repelente como a naftalina ou a creolina, uma vez que também ajudam a espantar os pombos. Cuidado para isso não virar um contaminante químico em locais de armazenamento de cereais e grãos. Além dos exemplos citados, existem géis repelentes que são comercializados especificamente para este propósito;
  10. Impeça o acesso das aves colocando telas e redes de proteção em portas e janelas, com cuidado especial para impedir a entrada e aninhamento destas aves em moinhos, plantas industriais, silos e em graneleiros;
  11. Use sempre ângulos maiores que 60° nos acabamentos externos, para que os pombos não consigam montar ninhos;
  12. Em infestações severas, solicite apoio dos órgãos ambientais para captura e remoção de ninhos, para que depois seja dada uma destinação adequada, pois de acordo com a Instrução Normativa 141 do Ibama, apenas profissionais habilitados podem atuar na captura e no manejo da chamada fauna sinantrópica nociva;
  13. Há empresas especializadas que usam predadores naturais como falcões-peregrinos e gaviões treinados para dispersar e afugentar pombos de locais próximos a graneleiros e silos. Logicamente, precisam ser licenciadas para esta finalidade;
  14. Não desista: trabalhe para impedir cada local que sirva de ponto de aninhamento, inative espaços favoráveis ao pouso, não deixe nada que sirva de alimento, torne o local desatraente, e saiba que não é fácil lidar com estas pragas, requer persistente e trabalho contínuo;
  15. Veja também sobre Manejo ecológico de pombos.

No final das contas, para todas as pragas urbanas, a regra de ouro é sempre a mesma, evite os chamados 4 As, que são:

Acesso – Abrigo – Água – Alimento

Gostou do artigo? Deixe seu comentário falando sobre sua experiência na prevenção e combate desta praga urbana.

Este é um texto autoral e não reflete necessariamente a opinião da Associação Food Safety Brazil.

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BARATAS! Quem são? Onde vivem? O que fazem?

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Este primeiro artigo de 2021 é uma homenagem a elas, as temidas, as poderosas, aquelas que fazem mesmo os mais corajosos gritarem e correrem quando elas voam, os insetos da sub-ordem Blattaria, cujos representantes são popularmente conhecidos como baratas, e claro, suas implicações à segurança dos alimentos.

As baratas compõem um grupo de insetos cosmopolita, ou seja, encontram-se em todo o mundo, sendo que menos de 1% delas são das espécies consideradas sinantrópicas (cerca de 40 espécies), isto é, as que se instalam nos povoamentos humanos beneficiando-se das condições ecológicas criadas pelo processo de urbanização. Ainda assim, elas são uma praga capaz de trazer muitos problemas para as indústrias e para a saúde humana.

Trata-se de um inseto mal-visto, repulsivo, cuja presença costuma causar asco. Numa cozinha ou numa indústria de alimentos, sua presença evidencia a falta de higiene, pois elas se refugiam usando como habitat caixas de gordura, esgotos, cemitérios e outros ambientes insalubres.

Para exemplificar, agora enquanto eu pesquisava para este artigo, minha filha passou e perguntou o que eu fazia, respondi que escrevia sobre baratas, e frente a minha resposta ela só soltou um “ai que que nojo, pai!”.

Baratas são insetos onívoros altamente adaptáveis que se alimentam basicamente de qualquer coisa orgânica que encontram dando mole por aí, como restos de comida, plantas murchas, animais em decomposição e fezes. Claro que também se alimentam das coisas boas que possam vir a encontrar na sua casa ou no seu trabalho, como a comida deixada num pote mal fechado, o alimento esquecido fora da geladeira, o resto de comida grudado na louça do jantar que ficou na pia de um dia para o outro, restinhos de comida na sua escova de dentes, os restos aderidos em máquinas e equipamentos na indústria alimentícia, os produtos caídos em locais de difícil higienização, os produtos  ou matérias-primas mal protegidos que aguardam reprocesso ou estão em áreas de produtos não conformes, etc.

Estima-se que existam entre 3.700 a  5.000 espécies de baratas no mundo, de acordo com a National Pest Management Association (NPMA), agrupadas em seis famílias (blat, blatélidos, blabéridos, polifagia, criptocércidos e nocticólidos). Destas, algumas até são bonitinhas, umas parecem meigas joaninhas, outras tem bioluminescência e parecem os Jawas dos filmes Star Wars.

Figura 1: Espécies de baratas silvestres.

Duas baratas disputam o título de maior barata do mundo: uma é a barata gigantesca da caverna (Blaberus giganteus), nativa da América Central e do Sul, que pode chegar a 10 cm e a outra é a barata construtora de galerias gigante ou barata rinoceronte (Macropanesthia rhinoceros), espécie australiana que pode chegar a 7 – 8 cm, porém esta última é certamente a mais pesada, podendo pesar até 33 gramas. Ambas, acredite se puder, são altamente valorizadas como animais de estimação.

Já a menor barata conhecida é da espécie norte-americana Attaphila fungicola, com 3 milímetros de comprimento e vive em ninhos de formigas vermelhas cortadeiras. Será que as formigas também tem nojo delas em suas casinhas?

Figura 2: A maior e a menor barata.

Apesar de tantas diferenças, todas possuem as mesmas características na forma do corpo: um exoesqueleto liso, tórax bem desenvolvido e nas patas traseiras existem alguns espinhos protetores. Além disso, apresentam um par de antenas muito longas e grandes olhos nos lados da cabeça. Porém, as mais conhecidas e famosas por habitarem centros urbanos são praticamente 3, das quais falarei mais adiante.

Ao escrever o artigo, me deparei com diversas curiosidades sobre as famigeradas baratas que gostaria de dividir aqui com os leitores:

  1. São resistentes e podem viver até 3 meses sem água e comida, o que as tornariam facilmente campeãs em um reality show de sobrevivência;
  2. Prendem a respiração por até 40 minutos e sobrevivem meia hora debaixo d’água, o que as tornariam campeãs olímpicas;
  3. São cervejeiras, por conta do açúcar (malte), então se você deixar um copo de bobeira, ela pode ir lá dar uma bicadinha, o que a torna “gente boa”. Brincadeira, baratas não são “gente boa”!
  4. Passam por pequenas frestas por causa de seu exoesqueleto flexível, tipo um poder X-Men, quer dizer, X-Barata;
  5. O mais antigo fóssil de barata data do período Carbonífero (310-360 milhões de anos atrás), quando elas eram tão abundantes que muitas vezes este período histórico é chamado de Idade das baratas;
  6. Pode percorrer até 1 m/s, e considerando o seu tamanho, proporcionalmente equivaleria para um homem correr a 150 km/ h. Eu só atinjo isso de carro e minha esposa ainda reclama comigo!
  7. Graças aos três pares de pernas e a um sistema extremamente sensível para detectar a mudança nas correntes de ar, uma barata tem um tempo de reação extremamente rápido, podendo chegar a 8,2 milissegundos;
  8. A barata também é campeã de dribles, capaz de desviar o rumo em plena corrida até 25 vezes por segundo, por isso é tão difícil acertar o chinelo nestas danadinhas. Baratas seriam ótimas atacantes no futebol!
  9. Se uma perna da barata for arrancada, ela pode se regenerar rapidamente como faz o Deadpool, mas somente se o inseto for jovem, pois na fase adulta, isso não é mais possível;
  10. Baratas e muitos outros insetos possuem grupos de gânglios – aglomerações de tecido nervoso – distribuídos por cada segmento do corpo, que agem como cérebro, e são capazes de executar as funções nervosas básicas, responsáveis pelos reflexos;
  11. Como o cérebro das baratas não fica na cabeça, elas podem viver sem essa parte do corpo de 3 a até 5 dias, mas depois acabam morrendo de fome, pois não tem como se alimentar;
  12. Baratas podem se comportar como canibais e estudos indicam que essa prática é mais comum quando ocorrem infestações, onde há escassez de alimento e necessidade de diminuir a população da área;
  13. Os únicos lugares com probabilidade zero de encontrarmos baratas são nos Polos Norte e Sul, devido ao frio excessivo, uma vez que baratas gostam mesmo é de calor!
  14. As baratas que vivem em ambientes domésticos são criaturas extremamente sociáveis e são capazes de reconhecer membros de suas próprias famílias, com diferentes gerações vivendo juntas, ao estilo tio, tia, vó, pai, mãe e vários irmãos na mesma casa;
  15. Baratas não dormem durante o dia, elas apenas se recolhem, pois preferem ambientes escuros;
  16. O sangue da barata é chamado de hemolinfa e não apresenta pigmentos respiratórios como hemoglobina ou hemocianina, por isto, é transparente. Este líquido é bombeado pelo coração através de um sistema circulatório aberto ou lacunar e tem a função de transportar nutrientes e excreções;
  17. Nas baratas, os gases respiratórios circulam por um sistema de tubos totalmente isolado do sistema circulatório que capta o ar do meio externo, levando-o diretamente aos tecidos;
  18. A barata de esgoto chega a liberar 35 gramas de metano, mais de 43 vezes o seu peso corporal médio;
  19. Felizmente, apenas algumas espécies de baratas podem voar, outras usam suas asas para estabilizar-se quando pulam, o que pode parecer um voo, mas não é, e já outras, nem conseguem pular;
  20. Por fim, é um mito que baratas sobrevivam à radiação. A barata de esgoto, como exemplo, aguenta até 20 mil rads (unidade de radiação absorvida). Para que se  tenha um comparativo, o caruncho de madeira aguenta 48 mil e a mosca das frutas, 64 mil. Uma bomba como a de Hiroshima emite 34 mil rads, ou seja, as baratas não sobreviveriam a uma explosão atômica.

As baratas mais comuns no meio urbano, como disse, são 3:

1) Periplaneta americana, apelidada de barata de esgoto, e tem este codinome porque é encontrada com frequência justamente em galerias de esgoto, lixos, caixas de gorduras e outros locais similares.

Figura 3: Periplaneta americana.

São as maiores em áreas urbanas e medem entre 28 – 44 mm de comprimento, sendo originárias da região tropical da África, por isso, gostam de temperaturas em torno de 30 – 33°C.

Trata-se principalmente uma praga peridomiciliar, mas durante o forrageamento que é a busca e exploração de recursos alimentares, pode entrar no domicílio, sendo comuns em áreas de manipulação de alimentos como cozinhas, áreas de preparo e pré-preparo, e como já dito, também em redes de esgoto.

São capazes de realizar partenogênese, quando o crescimento e desenvolvimento de um embrião ocorre sem fertilização, ou seja, pode haver fêmeas que procriam sem precisar de machos que as fecundem.

As fêmeas produzem aproximadamente 30 ootecas durante a vida, que são uma espécie de depósito em forma de feijão que fica presa a seu corpo, com cada ooteca apresentando entre 14 – 16 ovos. A fêmea carrega sua ooteca por 24 horas e depois a deposita em locais protegidos.

Figura 4: Ooteca.

O período de incubação dos ovos é de aproximadamente 25 – 40 dias e o período de desenvolvimento das ninfas é de 130 – 150 dias com 9 a 13 mudas (machos e fêmeas).

A longevidade dos adultos é de 250 – 350 dias, sendo menor para os machos.

Esta barata  possui hábitos alimentares diversos, porém prefere nutrientes ricos em açúcar, gordura e amido, mas se alimentam também de celulose, excrementos, insetos e sangue.

O mais importante sobre este tipo de barata: ela voa. Contudo, os voos se restringem a períodos reprodutivos, a mudanças climáticas como a possibilidade de chuvas, e em momentos de “desespero”, quando se sentem ameaçadas.

2) Blatella germânica é apelidada por alguns de barata alemã justamente devido a seu nome científico, porém, é ainda mais conhecida simplesmente como francesinha. Suponho que na Alemanha a chamem de barata francesinha e na França a chamem de barata alemã, mas aqui no Brasil tanto faz, podemos escolher um ou outro.

Flgura 5: Blatella germânica.

Possuem tamanho de 10 – 15 mm de comprimento, são originárias da região oriental da África, mas também há citações de que sua origem possa ser o sudeste asiático.

Possuem hábitos principalmente de uma praga domiciliar, mas em noites quentes podem ir para o peridomicílio, gostando de temperaturas em torno de 30°C.

São comuns em cozinhas e restaurantes, e pode-se dizer que é a praga mais importante entre as baratas, devido ao alto potencial reprodutivo, apresentando resistência a determinados inseticidas e pelo tamanho diminuto podem se esconder em locais inacessíveis.

A fêmea carrega a ooteca durante quase todo o período de incubação dos ovos, depositando-a em local favorável para o desenvolvimento ninfal.

O período de incubação dos ovos é de aproximadamente 17 dias e o período de desenvolvimento das ninfas é de de 38 – 40 dias com 5 a 6 mudas  no caso dos machos e 40 – 60 dias com 6 a 7 mudas no caso das fêmeas.

A longevidade dos adultos é de 4 meses  para os machos e 6 meses para as fêmeas, sendo que neste período as fêmeas produzem de 4 a 8 ootecas, com cada uma delas apresentando de 30 a 40 ovos, portanto, 8 x 40, podem chegar a até 320 descendentes ao longo da vida.

São atraídas principalmente por proteínas, açúcar, amido e gordura, tipo uma pizza de calabreza. Quando não encontram os alimentos que preferem, podem se alimentar de objetos encontrados no ambiente como sabão e cola. Num momento de aperto e fome extrema, podem desenvolver um comportamento canibal, se alimentando de sua própria espécie.

3) Blatta orientalis é uma espécie conhecida como barata nua, o que é estranho, pois todas elas andam peladinhas, nenhuma das espécies usa roupinha (a piada foi péssima, mas vou manter).

Na verdade suponho que este pitoresco apelido se deva ao fato de que a parte de baixo desta barata parece estar desnuda, pois seu par de asas marrons cobre apenas dois terços do abdômen. Neste caso o nome orientalis não se associa a nenhum país, como se vê.

Figura 6: Blatta orientalis.

A barata nua tem tamanho aproximado de 25 mm de comprimento, são originária da região norte da África e gostam de temperaturas em torno de 20 – 25°C, ou seja, mais amenas.

É uma praga domiciliar e peridomiciliar, comum em porões, adegas, banheiros e lixeiras em áreas externas.

A fêmea carrega a ooteca por um ou dois dias e deposita depois em locais protegidos,  podendo inclusive cobrir a ooteca com algum material, sendo cuidadosa.

Também há registros de partenogênese neste tipo de barata.

O período de incubação dos ovos é de aproximadamente 40 – 80 dias e o período de desenvolvimento das ninfas é de 180 dias com 7 a 8 mudas para os machos e 300 dias com 9 a 10 mudas para as fêmeas.

A longevidade dos adultos é de 60 a 250 dias, sendo que as fêmeas produzem de 5 a 10 ootecas, com cada ooteca apresentando aproximadamente 16 ovos.

Essa barata se abriga em locais escuros e úmidos, de preferência onde haja material orgânico em decomposição, mas tem uma capacidade de adaptação e locomoção menor do que as outras espécies de baratas já mencionadas.

Justamente por gostarem de se alimentar de resíduos em decomposição, são comumente encontradas em lixeiras nas ruas.

A relevância das baratas para a segurança dos alimentos

Estes insetos ganham relevância para o tema segurança dos alimentos porque podem atuar como vetores mecânicos ou biológicos.

Como vetor mecânico podem transportar vírus, fungos, bactérias e protozoários, uma vez que ao habitarem locais insalubres carreiam estes microrganismos até os alimentos e bebidas. Pode-se dizer que elas agem analogamente a um tipo de transporte coletivo de patógenos.

Uma única barata chega a transportar 250 milhões de microrganismos, entre os quais já foram identificados Salmonella, Escherichia coli, Klebsiella, Shigella, Psedomonas aeruginosa, Acinetobacter, Enterobacter aerogenes, além dos fungos Candida albicans e Rhodotorula.

Por isso, baratas significam um risco potencial de Salmonelose, infecções por Staphylococcus, febre tifoide, gastroenterite e diarreias em geral.

Figura 7: Baratas são vetores potenciais de microrganismos patogênicos.

Já como vetor biológico, há citações de que baratas podem agir como um hospedeiro intermediário de vermes, porém, na minha pesquisa não identifiquei quais vermes seriam, nem fontes de pesquisas sólidas que confirmem esta afirmação. Porém, se o leitor tiver algo sobre isto, por favor deixe nos comentários.

Um outro problema é que as baratas podem causar rinites, reações alérgicas e potencializar ataques de asma pelo contato com as fezes ou exúvias  (do latim exuviae‚ “camisa” ou “pele vazia”) que são a cutícula do exosqueleto quitinoso que elas possuem.

Também são capazes de inutilizar alimentos onde deixam odor repugnante, podem roer e sujar roupas e livros, e até ser uma praga agrícola de relativa importância  por roer raízes e atacar produtos armazenados. E claro, são capazes de causar severos danos de imagem para as organizações, sejam indústrias ou restaurantes, caso apareçam inteiras ou suas partes em produtos industrializados, pratos servidos ou sua presença seja avistada por clientes, e não é incomum ver casos assim serem fotografados ou filmados e viralizarem em redes sociais.

Adaptando uma velha piada: pior do que achar uma barata num hambúrguer é achar meia barata.

Quando você vê uma pessoa desesperada por causa de uma barata, antes de achar que é frescura, saiba que existe uma fobia denominada catsaridafobia que é o medo irracional destes insetos. Esta fobia pode levar as pessoas a um estado de perturbação mental, algumas choram, gritam, ficam paralisadas podendo chegar a ter um ataque de pânico.

O problema das infestações

De forma geral, como foi mostrado para as 3 baratas mais comuns no meio urbano, elas têm um ciclo de vida básico que envolve três estágios: ovos, ninfas e adultas.

As fêmeas adultas colocam até 40 ovos ao mesmo tempo, que são encapsulados nas chamadas ootecas e estes ovos eclodem entre 2 a 7 semanas, dependendo da espécie de barata, de onde então as ninfas irão surgir.

Figura 8: Ninfas.

Para as ninfas virarem adultas leva de 2 a 18 meses, dependendo da espécie e temperatura do ambiente, e a partir daí estão prontas para acasalar e produzir mais ovos.

Por isso, uma única barata na sua casa ou na indústria em que trabalha, rapidamente pode se tornar uma grande infestação se ações não forem realizadas.

Agora vamos ao que mais interessa: como evitar infestações destes insetos no ambiente doméstico ou industrial

As baratas que você encontra quando acende a luz da cozinha à noite ou que vê passando no chão de uma planta industrial são apenas a ponta do iceberg, uma vez que  para cada barata vista, centenas ou milhares mais estão à espreita atrás das paredes, nas tubulações e dentro do próprio ambiente.

Figura 9: Baratas em frestas.

Dicas para controlar baratas

  1. De forma geral, as baratas gostam de ambientes quentes, úmidos e escuros, bem como alimento abundante, então é preciso realizar limpezas e vistorias especialmente em locais com estas características, evitando os chamados 4 As, que são Acesso, Abrigo, Água e Alimento;
  2. Elimine as fontes de alimento, lembrando que baratas vivem de restos e resíduos. Tenha lixeiras com tampa bem vedadas e retire o lixo com frequência, não deixando de  limpar bem as lixeiras e todas as latas, garrafas e recipientes antes de colocá-los no lixo ou para reciclagem;
  3. Faça periodicamente limpezas rigorosas nas cozinhas ou plantas industriais, não se esquecendo de vasculhar com empenho cantos e frestas em busca de ootecas;
  4. Elimine as fontes de água pois as baratas também precisam se hidratar, então não deixe torneiras pingando, seque e deixe arejadas as áreas úmidas do ambiente;
  5. Se em ambiente doméstico, verifique as plantas, pois baratas adoram um vaso e seus pratinhos, que viram fontes atraentes de abrigo e de umidade. Procure sempre por sinais de ovos e ninfas perto das plantas ou do solo, não se esquecendo dos vasos de flores que contêm água no interior;
  6. Dificulte a entrada nos ambientes evitando a chegada de novas baratas, vedando janelas, portas e qualquer outro acesso como buracos e frestas;
  7. Janelas nas indústrias de alimentos e bebidas devem ser teladas e as portas mantidas sempre fechadas. Considere que cortinas de ar não impedem as baratas de entrar nos ambientes, pois são mais apropriadas para barrar insetos pequenos que voam, como moscas;
  8. Baratas podem entrar por pequenos buracos, por isso, certifique-se de fechar com massa qualquer buraquinho em paredes, azulejos, etc;
  9. Ralos devem ser telados e/ ou mantidos fechados, e de preferência serem sifonados;
  10. Limpeza profunda é a melhor estratégia de prevenção, pois baratas adoram banheiros, cozinhas, áreas de reprocesso, de armazenamento, de produtos não conformes e áreas com um monte de coisas amontoadas;
  11. Em ambiente doméstico, lembre-se daquele “quartinho da bagunça”, cestos de roupa, pilhas de entulho, jornais e revistas velhos, etc. Mantenha sempre tudo limpo e organizado, uma boa faxina feita rotineiramente é a recomendação;
  12. Fique atento com os tetos rebaixados, pois estes espaços podem se tornar verdadeiros criatórios;
  13. Em ambientes industriais, além das áreas de manipulação e processamento, lembre também de áreas de guarda de materiais de limpeza, de reprocesso, de não conformes, de guarda de utensílios, de arquivos de registros, banheiros e vestiários. Em todas estas áreas, faça regularmente uma boa limpeza e higienização e elimine o que não tem mais serventia;
  14. Na indústria, com uma lanterna, sempre vistorie o recebimento de cargas de embalagens, matérias-primas e insumos chegando em caminhões. Verifique atentamente os cantos, os paletes de madeira, entre as frestas, os maderites, pois são materiais que circulam por todos os lugares e costumam ser a porta de entrada das baratas para as plantas industriais;
  15. Nas expedições e almoxarifados mantenha paletes com tambores, sacarias e caixas de produtos afastados uns dos outros e das paredes entre 20 e 30 cm, para facilitar vistorias e permitir limpezas regulares;
  16. Caixas de gordura devem ser limpas adequadamente e com regularidade, pois costumam ser um local de abrigo e proliferação das baratas, e claro, vedadas com borracha para evitar frestas e passagens para o meio exterior;
  17. Evite comer na mesa de trabalho em escritórios, deixando farelos caírem na mesa ou nos teclados dos computadores. Também não armazene alimentos nas gavetas de escrivaninhas, pois sem saber, durante a noite quando estiver fora, poderá ter seu espaço sendo ocupado por baratas. Pelo mesmo motivo, não guarde comida em armários dentro de vestiários, pois as baratas descobrirão e utilizarão como fonte de alimentos;
  18.  As condições de limpeza e organização devem também se estender para as áreas externas evitando entulhos e acúmulos de materiais e se possível também na vizinhança para evitar a presença de lixões, terrenos baldios, obras paralisadas, etc;
  19. As baratas podem depositar ootecas por todo local, então em ambiente doméstico limpe e aspire móveis e tapetes, capas protetoras, fronhas, etc, já em ambiente industrial limpe cantos, calhas, racks, pipe racks, etc;
  20. Se necessário, frente a uma infestação, pode ser necessária uma intervenção química. Neste caso, recomendo procurar uma empresa competente de Controle Integrado de Pragas.

Outro método para evitar baratas é encher o local com iguanas, sapos, lagartixas, galinhas e outros predadores naturais da barata para manter um controle biológico, mas neste caso, em termos de segurança dos alimentos, francamente você pode estar arrumando um novo problema, portanto, não leve esta piada a sério.

Já em casa, deixar as lagartixas em paz é recomendável e se for em ambiente rural, pode ser uma boa ideia ter umas galinhas no quintal.

Figura 10: Predador natural da barata.

Para quem quem quiser se aprofundar no assunto, listei alguns artigos de colegas colunistas que podem interessar:

  1. Controle de pragas e vetores em empresas de alimentos: como estabelecer medidas preventivas corretamente
  2. Como realizar um controle de pragas eficaz em serviços de alimentação respeitando o meio ambiente
  3. Indicadores para gestão do controle de pragas nas empresas de alimentos
  4. Requisitos de Controle de Pragas
  5. Dicas para elaborar um procedimento documentado sobre controle integrado de pragas

O livro a seguir também trata entre outros assuntos do tema Manejo Integrado de Pragas e pode ser de interesse do leitor:

Deixe seu comentário. Divida suas experiências sobre baratas conosco.

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Toda segunda-feira há moscas dentro da fábrica. O que está acontecendo?

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Se você já fez a pergunta: “Toda segunda-feira há moscas dentro da fábrica, o que está acontecendo?”, esse post é para você. Essa indagação também já foi feita por mim, mesmo atendendo corretamente o Programa de Autocontrole (PAC) ou Boas Práticas de Fabricação (BPF) – Controle Integrado de Pragas (CIP). Por fim, descobri o que estava acontecendo e agora resolvi escrever para lhe ajudar.

É sabido que o Controle Integrado de Pragas evita o acesso de insetos para dentro da fábrica, a fim de assegurar que este perigo biológico e físico não entre em contato com o alimento. Para isso existem diversas medidas de controle e uma delas são as instalações de barreiras físicas tais como: presença de portas devidamente fechadas e vedadas, janelas teladas, cortinas de ar com fluxo adequado, cortinas plásticas íntegras e bem distribuídas, entre outros. Então, se elas existem numa indústria de alimentos e as demais medidas de controle também são funcionais, por que toda segunda-feira encontrava moscas dentro da fábrica?

A resposta: MANUTENÇÃO! 

Não é o Programa de Manutenção que era o problema e sim a EQUIPE DE MANUTENÇÃO. Por quê?  Todo domingo, a empresa, sem atividade de produção, realizava as manutenção preventivas e estes colaboradores, por sua vez, entravam pelas saídas de emergência. Não obstante, deixavam todas essas portas abertas.

Com isso, não havia barreira física instalada na empresa que serviria para conter a entrada dessas pragas e portanto, elas adentravam a fábrica livremente. Quando a equipe de higienização vinha ao final do dia para realizar a limpeza e sanitização, era tarde demais, as moscas já estavam dentro da fábrica e agora somente na bendita segunda-feira iriam ser identificadas (infelizmente) e capturadas, por isso o título do post.

Esse problema foi resolvido com treinamento (e conscientização) das lideranças responsáveis. Por mais contraditório que pareça “entrar’ por uma “saída” (de emergência), o ser humano busca sempre o caminho mais cômodo e prático para suas atividades, mesmo que isso possa ir contra as normas. Por isso, como guardiões da segurança de alimentos, temos que estar sempre em alerta, identificar rapidamente os problemas e agir na causa raiz!

Espero que com essa publicação, eu tenha conseguido dar um “toque” nos leitores para pensar nessa questão e conduzi-los a agir corretamente para resolver essa não conformidade.

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Iscas de veneno em área produtiva na indústria de alimentos

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A aproximação da imagem que ilustra esta postagem só foi possível porque o roedor estava atordoado com o veneno que consumiu. Dentro de uma indústria de alimentos, essa medida de controle é correta? Conforme citado aqui, a melhor maneira de prevenir pragas é atuando em cima dos 4 A: Abrigo, Acesso, Alimento e Água. Qualquer um desses itens, se retirado, deixa a praga vulnerável a predadores ou causa sua morte. No decorrer do tempo você irá perceber que, na indústria de alimentos, existe um A que é mais utilizado, o Acesso. Hoje gostaria de dar atenção a riscos que podem ocorrem ao optar por outras letras como a letra V, de Veneno.

As colas adesivas são nossa última “carta na manga” caso nosso A escolhido, Acesso, falhar. Se um roedor entrar na área produtiva, colocar veneno, em muitos casos, pode agravar o risco para os alimentos. Primeiramente, vamos imaginar quais riscos um roedor apresenta para o alimento sem consumir veneno:

Físico: partes decapitadas por máquinas, pelo que se solta, objetos que ele possa carregar, entre outros;

Microrganismo: roedores trazem bactérias e vírus dos ambientes nos quais transitam, como esgoto, telhado, piso, etc. Também podem contaminar pelos excrementos que depositam, como fezes e urina.

Até aqui identificamos dois riscos. Se colocarmos iscas de veneno para matar o roedor que entrou na área produtiva, vamos criar mais um problema:

Químico: após consumir veneno o roedor não vai morrer de imediato, portanto ele estará potencialmente envenenado e arrastará esse veneno no seu organismo, ou nas patas, para qualquer parte da área produtiva. Algumas espécies escalam muito bem, o que tornará mais fácil a queda do veneno ou do rato envenenado no produto.

Fora o fato da contaminação química, temos outro problema em optar pelo veneno ao invés da cola adesiva: onde esse rato vai morrer? Mesmo que ele não caia ou não derrube nenhum contaminante químico no produto, se ele morrer dentro da área produtiva vai se decompor ali mesmo, favorecendo a contaminação microbiológica, atraindo outras pragas como moscas e deixando cheiro desagradável. Ao optar pela cola adesiva, o roedor ficará preso ali e será descartado assim que a empresa prestadora de serviço trocar a cola, o que ocorre geralmente quinzenalmente.

Deu para notar o tamanho do problema em utilizar iscas de veneno?!

A RDC 216/2004 deixa claro que se as medidas preventivas não forem eficazes, pode ser feito o uso de veneno, entretanto deve ser feito por empresa especializada e deve-se tomar cuidado para não gerar uma contaminação química. Acredito que nesse caso eles se referem a pesticidas com aplicações planejadas, não a iscas de veneno. Essa preocupação em não deixar veneno na área produtiva também pode ser notada em qualquer Check List para auditorias de certificação.

Após levantados os problemas da iscagem de veneno, surge uma outra dúvida: a cola funciona mesmo? Sim! Como ela é frequentemente trocada, sempre tem sua adesão forte. Multiplicando sua forte adesão às várias superfícies de contato do pelo do roedor e de sua calda, a captura é certeira.

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Lembramos que a armadilha captura também baratas e outras pragas rasteiras que possam ter entrado na área produtiva.

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Para garantir o funcionamento eficaz da cola, alguns cuidados devem ser tomados:

– Poeira – Algumas matérias primas geram muita poeira no setor, nesse caso não é indicado usar a cola adesiva, pois em pouco tempo ela estará sem adesão devido ao pó. Nesse caso é indicado instalar a armadilha longe do pó e se não for possível, substituir a armadilha por ratoeiras que terão quase o mesmo efeito da cola, servindo de captura somente se o roedor vier na direção da porta da ratoeira, mas nada impede de colocar duas gaiolas, uma de fundo com a outra;

– Água – Ao molhar o piso durante as limpezas, a cola não pode ser molhada, senão perde a adesão. Oriente seu funcionário a retirá-la durante a limpeza e depois recolocá-la em seu local estratégico;

– Local Estratégico – Esse é um dos itens mais importantes, pois não adianta uma cola com boa adesão em um local qualquer. A empresa prestadora de Controle de Praga avaliará o layout de sua área produtiva e estabelecerá pontos fixos, estratégicos, onde a armadilha deve ficar. Eles são baseados em possíveis passagens de roedor e devem constar no Mapa de Armadilhas. Como não se pode fixá-la no chão, para não criar cantos vivos e outros problemas, a armadilha é passível de ser movida de seu local estratégico. Paleteiras, colaboradores e qualquer outro contato físico podem retirá-la de seu local. A esse item deve ser dada a devida atenção, ou com fiscalizações frequentes ou com colaboradores bem orientados.

As imagens abaixo registram um roedor que passou andando pela fresta da parede e veio em direção à tela. Se a armadilha que aparece na imagem estivesse em seu local estratégico, o roedor estaria capturado.

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Armadilha Obstruída – Como comentado, as colas precisam de troca frequente, portanto orientem os colaboradores a deixarem seu acesso fácil e sem obstrução.

É importante lembrar que todas possibilidades e dicas aqui discutidas estão considerando que o roedor entrou na área produtiva. Se não houver falhas na nossa letra A (Acesso), não há com o que se preocupar. Mas como profissionais de segurança de alimentos, devemos sempre ter a nossa “carta na manga” bem preparada.

Todas as imagens são de arquivo pessoal do autor.

4 min leituraA aproximação da imagem que ilustra esta postagem só foi possível porque o roedor estava atordoado com o veneno que consumiu. Dentro de uma indústria de alimentos, essa medida de […]

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Gestão à vista do Controle Integrado de Pragas

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Neste post, vamos falar um pouco sobre como os colaboradores das indústrias de alimentos podem acompanhar mais de perto os trabalhos do controle integrado de pragas. Conhecer e controlar os inimigos externos e indesejados nas matérias-primas e produtos finais é tarefa indispensável nas indústrias de alimentos e todos devem estar engajados.

A proliferação de pragas tem relação direta com as condições dos ambientes produtivos, que se não estiverem devidamente protegidos (sem frestas, com as janelas teladas, vedação em portas, sem água, lixo ou alimentos disponíveis) tornam-se propícios ao acesso de pragas. Existem dispositivos preventivos auxiliares no controle integrado de pragas. Como exemplos, temos o uso de armadilhas rasteiras (controle de roedores), as quais são dispostas de modo a formar um anel de proteção ao redor de toda a indústria, e também a instalação de armadilhas luminosas, que auxiliam na captura de insetos alados. Em casos de infestações, contamos com tratamentos curativos para eliminação.

Dados importantíssimos são extraídos dos controles de pragas, mas muitas vezes estas informações ficam somente nas mãos da equipe de qualidade, para tomadas de ações, sendo repassadas para algum indicador e alinhadas apenas com o corpo gerencial da empresa. Mas se uma das vantagens de se ter certificação em segurança de alimentos é a comunicação mais organizada e objetiva entre colaboradores, por que, então, não disponibilizar a eles estas informações de forma visual?

Apesar de tantos controles, treinamentos, disseminação da cultura de segurança de alimentos, o sistema ainda pode falhar e neste caso, produto, consumidor e marca são lesados. E é aí que a gestão à vista pode ser aplicada de forma bem simples e clara, mas com alto impacto.  Disponibilizar um quadro de relatos de contaminação do produto, por falhas do controle integrado de pragas, oriundos de reclamações de clientes, é uma excelente forma de alerta para todos os colaboradores. Eles, de certa forma, se incomodam e entram em ação e também se sentem mais confiantes vendo que a gestão do sistema está acontecendo. Veja aqui um exemplo de como pode ser o leiaute deste quadro.Slide1

Há situações em que os colaboradores se deparam com algum inseto, pássaro ou até mesmo roedor, em locais onde não deveriam estar, e não sabem o que fazer com esta informação. Para auxiliar estes colaboradores e deixar o controle integrado de pragas mais robusto, uma ferramenta de registro destas ocorrências, em formulários físicos ou sistemas eletrônicos, pode ser implementada. Se você receber a amostra do que foi encontrado, melhor ainda para sua investigação. Estes dados também podem ser tabulados, avaliados criticamente e apresentados no quadro de gestão à vista.

Estes são exemplos de práticas simples, mas bem eficientes, que fortalecem a cultura de segurança de alimentos nas indústrias, tornam o controle integrado de pragas mais consistente e o sistema de qualidade assegurada mais eficaz.

No Blog Food Safety Brazil estão disponíveis outros posts relacionados ao controle integrado de pragas, nos quais você pode obter informações complementares.

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Manejo ecológico de pombos

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Tinha uma pomba no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pomba…

Essa frase já virou um mantra para muitos gestores de qualidade, especificamente de alguns segmentos, como moinhos, fábricas de biscoitos, fábricas de salgadinhos e tantos outros.

Infelizmente, esse problema é comum em auditorias e tem causado transtornos principalmente pelas áreas externas.

Áreas internas são protegidas por portas automáticas, janelas teladas e ausência de frestas, garantindo ou reduzindo significativamente a entrada dos animais. No entanto, nem sempre esses cuidados são suficientes e áreas externas representam áreas críticas no momento de avaliação do controle desses animais.

O maior desafio com relação ao controle das pombas, é que apesar do controle já estar autorizado, não existem ainda produtos químicos registrados para o controle, e a utilização de armadilhas com iscas ou adesivas também não é permitida.

Nesse momento, para muitas equipes, a sensação de impotência é iminente. Começam a ser adotadas medidas que envolvem atos folclóricos, como fixação de estátuas de corujas, cobras de borracha, imagens de gaviões adesivadas em vidraças, ou em pontos estratégicos, na esperança de espantar os animais. Ou então, adota-se a fixação de espículas em todos os locais da estrutura externa dos prédios em que as pombas poderiam se alojar. O ponto fraco desses controles, é a facilidade de adaptação das aves, que desafiam seus inimigos fictícios ou apoiam-se cuidadosamente sobre espículas.

Quando tudo parecia perdido, algumas empresas tiveram a idéia de fazer uma captura consciente desses animais, ou seja, um manejo ecológico. A empresa utiliza método aceito pelos órgãos competentes, que consiste na captura para controle populacional dos animais. Os pombos, após capturados são transportados e adaptados em regiões rurais distantes, para que não retornem aos locais de origem.

O método, apesar de demonstrar resultados de médio a longo prazo, tem demonstrado grande eficácia no controle de pombos, quando aliados com controle básicos de pragas como prevenção de acesso, abrigo e não disposição de alimentos.

Para quem se interessou pelo método de manejo, pode se informar mais a respeito no site

Para quem se interessou pelo método de manejo, pode se informar mais a respeito no site

www.desinsecta.com.br

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