4 min leitura
0

Toxinas paralisantes em moluscos bivalves (paralytic shellfish poisoning)

4 min leitura

Toxinas paralisantes (paralytic shellfish poisoning) são compostos que contaminam mariscos por bioacumulação, principalmente moluscos bivalves, que ingerem algas produtoras dessas toxinas. Os seres humanos envenenam-se ao comer esses mariscos contaminados.
Atualmente são conhecidas até 28 neurotoxinas marinhas, sendo a mais conhecida deste grupo a saxitoxina (STX), responsável pelos sintomas que acompanham a paralisia devido ao consumo de moluscos bivalves. Os mais afetados na nossa região são: mexilhões, amêijoas e vieiras.
Os organismos que produzem essas toxinas são um grupo de algas marinhas conhecidas como dinoflagelados. São mais comuns em climas tropicais e temperados, sendo os mais nocivos aqueles encontrados em áreas próximas à costa. Estas são as espécies dos gêneros de dinoflagelados Alexandrium, Pirodinium e Gymnodinium.
Os moluscos que acumulam essas toxinas não sofrem lesões ou seus efeitos nocivos, pois são resistentes, mas são vetores de envenenamento em humanos e outros animais.

O que são florações de algas nocivas ?

A proliferação de algas começa como uma pequena população de células de dinoflagelados tóxicos que inicialmente aparecem como cistos (uma forma de resistência biológica) no fundo do mar, misturados com sedimentos marinhos.
Quando as condições são favoráveis, esses cistos começam a germinar e subir pela coluna d’água durante a fase de floração, que é a fase tóxica, embora haja pesquisadores que também atribuem toxicidade à fase pré-germinativa.
Quando atingem a fase de floração – ela é explosiva, são poucas horas – entram em fase de crescimento exponencial (bloom), ocupando uma superfície de água de diferentes dimensões, o que é popularmente conhecido como maré vermelha. Às vezes, eles mancham a superfície do mar com uma cor avermelhada ou acastanhada.

Condições que favorecem o desenvolvimento de florações

São as condições climáticas do ambiente como as alterações da salinidade, o aumento da temperatura da água, o aumento dos nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo (N/P). Já se observou que a diminuição do teor de nitrogênio limita o crescimento, e que alterações na radiação solar geralmente são os gatilhos para o florescimento dos cistos.
O aumento da frequência da ocorrência de florações de algas nocivas pode estar relacionado às mudanças climáticas e ao aumento da temperatura dos oceanos do mundo. As águas costeiras, estuários, baías e áreas de recife são os cenários preferidos para este tipo de florações de toxinas. A duração do período de floração pode ser variável (25 a 55 dias) e sua incidência diminui quando as condições se tornam desfavoráveis ao seu crescimento, especialmente a quantidade de nutrientes presentes na água. Os meses de verão são os mais apropriados para as marés vermelhas.

Mas como os moluscos bivalves se contaminaram?

Os moluscos bivalves se alimentam filtrando a água do mar, retendo algas e outros alimentos em seu interior. Os dinoflagelados se acumulam no esôfago e no estômago dos moluscos. Nesse processo, as toxinas são liberadas, contaminando os tecidos dos moluscos, que os transformam em potenciais vetores de intoxicação para humanos, afetando a segurança do alimento. Dependendo da espécie de molusco bivalve, a eliminação da toxina após a fase de floração (maré vermelha) pode durar de alguns dias até meses. O mexilhão é o mais fácil de se purificar e normalmente uma semana é suficiente para voltar a ser comestível sem risco para a saúde humana, enquanto as amêijoas costumam precisar de mais tempo para serem descontaminadas.

Efeitos da saxitoxina (STX) em humanos

A intoxicação paralítica por saxitoxina afeta os seres humanos ao ingerir moluscos bivalves contaminados com a toxina em quantidade suficiente para causar danos à saúde. A toxina é rapidamente absorvida pela mucosa gastrointestinal e os sintomas variam de acordo com a gravidade da intoxicação, que é determinada pela quantidade de alimento ingerido e pela taxa de eliminação das toxinas do organismo. No caso de humanos, a toxina pode ser metabolizada no fígado e excretada na urina. As primeiras 24 horas são muito importantes para determinar a gravidade do envenenamento. É importante notar que a toxina é estável ao calor, portanto o cozimento não a inativa, nem o congelamento.

Sintomas de intoxicação por saxitoxina (STX)

Em casos leves, os sintomas clínicos incluem uma sensação de formigamento ou dormência nos lábios e na boca, geralmente em 30 minutos. Isto é devido à absorção local da mucosa bucal. Essa sensação também pode se estender às pontas das mãos e dos pés. Pode ser acompanhada de dor de cabeça, tontura, perda da fala, incoerência, vômito e diarreia e pode durar vários dias.
Quando a intoxicação é mais grave, a parestesia se estende aos braços e pernas e a paralisia muscular pode ser generalizada. Isso pode levar à falta de ar. A insuficiência respiratória é devido à paralisia dos nervos e músculos respiratórios intercostais e diafragmáticos que causam a morte se o paciente não for tratado a tempo.
Pessoalmente soube de um caso ocorrido na década de 1990, de um marinheiro em um barco de pesca que adoeceu em alto mar. Devido aos sintomas que apresentou, foi ordenado o retorno imediato do navio ao porto. O marinheiro conseguiu salvar sua vida devido ao tratamento médico recebido 24 horas após o envenenamento ocorrido devido ao consumo de moluscos contaminados com STX.
O tratamento básico recomendado pelos médicos é a ventilação pulmonar (respiração artificial com pressão positiva) até a eliminação da toxina do organismo pela urina.

Controle e prevenção

Uma maneira de minimizar os problemas de envenenamento por saxitoxina e as perdas econômicas que acompanham a proliferação de algas nocivas é:
1- Inspeção regular das águas das zonas costeiras mais propícias à floração para fins preventivos (análise microbiológica).
2- Controle rotineiro de moluscos bivalves em busca de possíveis toxinas ou cistos de dinoflagelados tóxicos em seu sistema digestivo e outros tecidos.
Para determinar a toxicidade dos moluscos, a técnica mais utilizada a de bioensaio em camundongos. Existem outras técnicas que estão sendo testadas, embora não sejam aceitas pelos países do Mercosul.
Em países como Panamá, Uruguai, Argentina, Brasil, China e Japão, o limite de saxitoxina em moluscos bivalves é de 400 UR por 100 gramas de tecido (UR = unidades de camundongo ou rato)
Uma unidade de camundongo é a quantidade de toxina injetada que causa a morte de um camundongo de 20 g em 15 minutos, equivalente a 0,18 microgramas de saxitoxina.
A maioria dos países ordena o encerramento de suas pescarias e proíbe a comercialização de moluscos bivalves quando a concentração atinge 400 unidades de camundongos por grama de molusco.

Fontes:

https://www.doh.wa.gov/CommunityandEnvironment/Shellfish/RecreationalShellfish/Illnesses/Biotoxins/ParalyticShellfishPoison#:~:text=Paralytic%20Shellfish%20Poison%2

http://naturalis.fcnym.unlp.edu.ar/repositorio/_documentos/sipcyt/bfa003973.pdf

https://www.gub.uy/ministerio-ganaderia-agricultura-pesca/tematica/marea-roja

Imagem: foto Sinephot / Shutterstock.com em Infoescola

4 min leituraToxinas paralisantes (paralytic shellfish poisoning) são compostos que contaminam mariscos por bioacumulação, principalmente moluscos bivalves, que ingerem algas produtoras dessas toxinas. Os seres humanos envenenam-se ao comer esses mariscos contaminados. […]

2 min leitura
0

Ciguatoxina, o perigo de consumir peixes de coral

2 min leitura

Quem gosta de peixes de coral, como garoupas e pargos, deve ficar atento. Recentemente a Alemanha confirmou seu primeiro surto de intoxicação por ciguatoxina proveniente de peixes. O surto ocorreu no final de 2012 e foi causado por filés de pargo, que um importador alemão trouxe de uma distribuidora indiana. As autoridades alemãs notificaram um total de 14 pessoas envolvidas, sem vítimas fatais.

A demora na confirmação da causa do surto deveu-se à dificuldade em identificar a ciguatoxina, pela inexistência de um método oficial padronizado e porque a intoxicação se dá em concentrações extremamente baixas. Além disso, são conhecidas diferentes estruturas químicas das ciguatoxinas, que variam com o local de origem.

Segundo os cientistas alemães, até recentemente este tipo de intoxicação estava restrito a certas regiões do mundo, próximas aos grandes recifes de corais. Com o aumento do comércio mundial de peixes exóticos tropicais e subtropicais, espera-se um aumento na incidência deste tipo de intoxicação.

Origem e Sintomas

A ciguatoxina é produzida por várias espécies de dinoflagelados, pequenos organismos do plâncton marinho, presentes nos recifes de coral do Caribe e dos Oceanos Índico e Pacífico. A fonte mais comum de ciguatoxina é a espécie Gambierdiscus toxicus. Estas algas são consumidas por muitas espécies de peixes e, ao longo da cadeia alimentar, a ciguatoxina vai se acumulando nos tecidos dos animais marinhos. Os animais mais próximos do topo da cadeia, como as garoupas e os chamados peixes de coral, tendem a acumular maiores quantidades da toxina, em razão dos processos de bioacumulação e biomagnificação.

Os sintomas iniciais da intoxicação por ciguatoxina incluem náuseas, vômitos e diarreia. A maioria das vítimas também relata outras sensações desagradáveis, como queimação, formigamento e dor em contato com o frio. Perda de sensibilidade nas mãos e nos pés, fraqueza e dor muscular, ondas de calor e de frio também podem ocorrer. As perturbações raramente são fatais, mas podem persistir por meses.

É possível identificar, pelo aspecto, os peixes com ciguatoxina?

A ciguatoxina, em regra, acumula-se na cabeça, pele, vísceras e nos órgãos reprodutores dos peixes, sem, porém, causar quaisquer sintomas ou tornar os peixes doentes. Por isso um peixe tóxico não pode ser identificado pelo seu aspecto, odor ou textura da sua carne.

A ciguatoxina não é degradada pelo calor, de forma que os métodos tradicionais para o preparo de peixes e frutos do mar não são capazes de inativá-la. Por precaução, evite consumir grandes quantidades de peixes de coral de uma só vez (como garoupas, meros, dentões, ciobas, pargos), e não coma a cabeça, pele, vísceras e ovas destes peixes, partes em que a toxina se concentra. Ao consumir peixes de coral, evite o consumo de bebidas alcoólicas, nozes ou feijão, pois estes alimentos tendem a agravar os sintomas de intoxicação alimentar.

Leia também:

Top 5: Sorotipos de Salmonella relacionados a surtos alimentares

Alimentos “politicamente seguros”: arsênio, agrotóxicos e mais

A cafeína no banco dos réus

Imagem: CEAGESP

2 min leituraQuem gosta de peixes de coral, como garoupas e pargos, deve ficar atento. Recentemente a Alemanha confirmou seu primeiro surto de intoxicação por ciguatoxina proveniente de peixes. O surto ocorreu […]

Compartilhar
Pular para a barra de ferramentas