Nenhum sistema de gestão de segurança de alimentos é isento de falhas.
As não conformidades são parte do processo de aprendizado: mostram onde o sistema foi testado e não resistiu. Mas quando a mesma falha se repete, o problema deixa de estar no evento — e passa a estar na estrutura que o sustenta.
O que a recorrência realmente revela?
De forma simples, uma não conformidade recorrente indica que o sistema não aprendeu com o erro anterior. E isso pode acontecer por várias razões:
1 – Ação corretiva superficial
O desvio foi corrigido, mas a causa raiz não foi eliminada. É o caso clássico de limpar o efeito sem tratar a origem.
A BRCGS Issue 9 (2022) reforça que a reincidência demonstra falhas na verificação da eficácia das ações corretivas, um dos pilares do ciclo PDCA (Plan–Do–Check–Act).
2 – Análise de causa incompleta
Sem ferramentas adequadas, como o Ishikawa (espinha de peixe) ou o método dos 5 Porquês, investiga-se o sintoma e não o mecanismo real.
A ISO 22000:2018 estabelece que as ações corretivas devem ser “proporcionais à magnitude do problema e capazes de prevenir sua repetição”.
3 – Indicadores de controle mal definidos
Muitos sistemas medem apenas a quantidade de não conformidades, não sua reincidência. Estudos publicados em 2019, liderados por Berking, mostram que a frequência de não conformidades pode ser usada como indicador da eficácia do controle de alimentos: uma frequência alta indica controles frágeis; uma frequência muito baixa pode sinalizar inspeções pouco rigorosas.
4 – Falta de cultura de aprendizado
A repetição também denuncia quando a empresa trata o desvio como culpa individual e não como falha de processo. Ambientes punitivos inibem o reporte espontâneo e bloqueiam o ciclo de melhoria contínua.
O que dizem as boas práticas
Além de nossa vivência na indústria, a literatura recente também reforça que a gestão eficaz de não conformidades depende da transformação do dado em ação. Uma pesquisa publicada na revista Sustainability apresentou a ferramenta “Daily Challenge”, que propõe o acompanhamento diário de causas e ações para evitar reincidência.
O estudo mostrou que integrar o monitoramento de não conformidades à rotina operacional melhora a resposta do sistema e reduz falhas repetidas.
O princípio é simples: quanto menor o tempo entre detectar, analisar e agir, menor a chance de reincidência.
Como transformar a recorrência em aprendizado
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Mapeie os desvios reincidentes
Identifique quais falhas voltam com frequência e em quais áreas do processo. Agrupe-as por tipo de causa (humana, técnica, procedimental). -
Avalie a eficácia das ações passadas
Verifique se houve verificação documentada após cada ação corretiva e se a melhoria foi padronizada. -
Promova a análise coletiva
A reincidência raramente é culpa de uma pessoa — é sinal de falha sistêmica.
Envolver operadores, supervisores e qualidade na análise fortalece a cultura de food safety. - Transforme a recorrência em indicador de maturidade
Medir quantos desvios retornam é mais valioso do que apenas contar quantos ocorrem. Um sistema maduro é aquele que erra menos vezes a mesma coisa.
Em síntese
“Toda não conformidade é um dado. Uma recorrente é uma lição não aprendida.”
A reincidência revela o ponto em que o sistema parou de evoluir. Enquanto ela existir, há espaço para aprimorar procedimentos, treinar pessoas e fortalecer a cultura de segurança dos alimentos.
O objetivo não é eliminar erros — é impedir que o mesmo erro tenha segunda chance.
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