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Fraudes alimentares ainda são “hot topics”: abordagem para arroz

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O tema das fraudes alimentares se “alastra” ao longo da cadeia alimentar, e quanto mais extensa, maiores são as vulnerabilidades do crime, pela motivação das partes interessadas e competitividade, chegando recentemente aos produtores primários de arroz, chamado de “fora do tipo”, por exemplo, no tipo 1, o índice permitido de grão quebrados é de 7,5%, no tipo 2 sobe para 15%, no 3 para 25%, até chegar a 45% no tipo 5. Até outubro de 2018, de 116 amostras, 42,17% estavam fora do padrão e no Estado do RS (regionalidade é um fator a ser considerado na avaliação de riscos, ainda mais sendo o maior produtor do grão), o índice chega a 54,17%, enchendo os pratos brasileiros de “grãos irregulares”. A venda, no varejo, de arroz tipo 1 (de melhor qualidade) misturado aos tipos 2 e 3 (de qualidade inferior) é um dos itens incluídos pelos arrozeiros na lista de problemas que afetam o setor e, neste caso, também o bolso do consumidor. Há também históricos de ocorrências no país de fraudes fiscais (sem recolhimento de ICMS e financiamentos bancários para “empresas-laranjas”), como em 2015 a Operação Oryza.

Fora do Brasil, rumores de arroz plástico surgiram em vários países desde dezembro de 2016, mas nenhum foi comprovado, como o caso da Nigéria em 2016, no qual funcionários aduaneiros confiscaram 2,5 toneladas de arroz suspeito que foi feito a partir de plástico, com o case incluso na revisão da PAS 96 de 2017 e constando também “arroz Basmati adulterado com variedades mais baratas” e resíduos ilegais de pesticidas, vindos da Índia e do Paquistão (novamente atenção à regionalidade). Pesticidas em níveis inseguros foram encontrados em arroz rotulado ‘orgânico’ e ‘livre de pesticidas’ na Índia. A substituição do arroz convencional por arroz orgânico é provavelmente um tipo comum de fraude e pode-se esperar que continue a médio e longo prazo. Cientistas de alimentos na Índia afirmam que não encontraram arroz de plástico, mas reconhecem que o arroz foi adulterado com produtos químicos, incluindo o ácido bórico, para fechar os poros e dar a impressão de ser mais brilhante. Esses produtos químicos podem dar ao arroz uma textura estranha ou se comportar de maneira estranha quando cozidos. A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos sinalizou o arroz plástico “falso” como uma questão emergente na fraude alimentar, com o mundo em desenvolvimento com maior probabilidade de ser afetado, no entanto, amostras de arroz que são realmente “plásticas” não apareceram. É muito provável que substâncias ilegais adicionadas ao arroz fraudulentamente adulterado possam estar dando a ele o cheiro ou a textura do “arroz de plástico” sem realmente ser feito de plástico. Grânulos semelhantes a arroz feitos a partir de resinas plásticas seriam completamente inalterados pelo cozimento em água fervente, o que não corresponde às descrições fornecidas pelos consumidores.

Nos países em desenvolvimento, o arroz corre risco de fraude relacionada a subsídios do governo, cotas, comércio ilegal e contrabando. Espera-se que a safra de arroz de jasmim da Tailândia em 2017 seja 40% menor em volume do que nos anos anteriores. Isso poderia aumentar o risco de fraude para o arroz de jasmim, com movimento transfronteiriço ilegal e má declaração do país de origem dos tipos mais prováveis. O Sri Lanka e Bangladesh têm estoques baixos de arroz devido a secas e inundações e estão comprando arroz da Tailândia, um movimento incomum. Padrões comerciais incomuns como esse podem ser um indicador de aumento dos riscos de fraude. As autoridades de Bangladesh acabam de interceptar uma carga de arroz que estava sendo contrabandeada para fora dos armazéns do governo.

Uma arrozeira na Índia foi fechada pelas autoridades depois de descobrirem que arroz “falso” e de baixa qualidade, bem como corantes, estavam sendo misturados com arroz para fins alimentares à venda. A mistura de grãos abaixo do padrão mais baratos com grãos de maior qualidade é um tipo comum de fraude alimentar que pode ser muito lucrativo, mesmo se feita em níveis muito baixos, em commodities de alto volume.

Preços mais baixos geralmente levam a uma redução na probabilidade de fraudes nesses grãos, mas onde há uma grande diferença entre os preços nos países vizinhos, há um aumento do risco de contrabando e importação ilegal de arroz. A Jamaica está detendo todas as importações de arroz em seus portos para amostragem e análise, provocando temores de uma escassez. O arroz tailandês está com seus preços mais baixos em décadas e o governo está considerando medidas para ajudar a estabilizar o preço e ajudar os agricultores tailandeses. O arroz produzido domesticamente no Japão tem um preço muito alto, com o arroz importado, incluindo da Califórnia, tomando seu lugar nos mercados de varejo e food service, ou seja, a deturpação do país de origem do arroz é um risco neste mercado, onde há um diferencial de preço entre arroz cultivado localmente e o importado. O governo da Papua Nova Guiné anunciou uma política que dará 80% do mercado atual de arroz para os investidores domésticos de arroz, pois atualmente mais de 75% do arroz desse país é importado da Austrália.

Aqui vale a ressalva: os compradores de arroz devem estar atentos, com as importações de alguns países e de algumas variedades consideradas mais vulneráveis do que outras no que diz respeito a resíduos ilegais.

Outro ponto de atenção é sobre a previsão da ONU que até 2050 a produção de arroz será até 20% menor do que a produção em 2000. Isto é devido à disponibilidade limitada de novas terras, aumento da salinidade e escassez de água. Assim, pode-se esperar que a probabilidade de fraude no arroz aumente à medida que o arroz se torne mais caro ou menos abundante. A deturpação fraudulenta de características relacionadas à sustentabilidade é um risco crescente no médio a longo prazo.

Referência:

https://trello.com/c/MFFos7nc/295-rice

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Fraudes no leite: riscos para a segurança dos alimentos e para a Saúde Pública

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A fraude de alimentos (food fraud) é uma questão séria que tem sido alvo de investigações nos últimos anos, sendo uma preocupação em segurança de alimentos e saúde pública. O sistema de produção mundial de alimentos tem crescido nos últimos anos, principalmente devido à globalização e ao aumento da população mundial, consequentemente aumentando o risco de fraudes em alimentos. A fraude de alimentos é definida como uma substituição, adição, falsificação ou adulteração proposital de matéria-prima, ingredientes, no produto final ou na embalagem do alimento, bem como afirmações falsas ou enganosas sobre determinado produto com o objetivo de ganhos econômicos.

Os tipos de fraudes em alimentos mais comuns são a adulteração, a manipulação, o roubo, o over-run, a falsificação, a simulação e o desvio. A alteração ocorre quando a composição do alimento é alterada pela adição de substância não declarada ou remoção de substâncias para obtenção de benefícios econômicos; a manipulação ocorre quando todos os aspectos do alimento e da embalagem são imitações; o roubo é quando ocorre apropriação indevida de produtos alimentares legítimos para comercialização; over-run é quando ocorre produção excessiva e não autorizada de determinado produto e esta produção é subnotificada; a falsificação é a utilização fraudulenta de produto alimentar ou de embalagem legítimos; a simulação é quando um produto ilegítimo é fabricado para se assemelhar ao produto legítimo embora não pretenda ser uma cópia exata; o desvio é a distribuição ou venda de produtos legítimos fora do mercado de destino definido.

Praticamente todos os alimentos têm o potencial de sofrerem fraudes, mas aqueles que são mais caros ou são produzidos sob condições variáveis de clima e colheita são especialmente vulneráveis. A fraude de alimentos pode ameaçar a segurança de alimentos ou afetar negativamente o desempenho nutricional dos alimentos.  Os alimentos mais adulterados no mundo são azeite de oliva, peixes, produtos vegetais com alegações de “orgânicos”, leite, grãos, mel, café e chá, especiarias, vinho e sucos de fruta.

O leite é um alimento nutricionalmente completo, pois contém teores relevantes de proteínas de alta qualidade, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais essenciais. Assim, o leite e seus derivados são uma parte importante da dieta para a maioria das populações. O alto valor nutricional do leite levou ao aumento do consumo em todo o mundo e esse crescimento da demanda também o tornou mais propenso à fraude. A fraude do leite é um dos problemas mais sérios enfrentados pela indústria de laticínios; isso não só causa grandes perdas financeiras, mas também representa um risco significativo para a saúde pública.

Principais fraudes no leite

O leite e os produtos à base de leite são os principais alvos das adulterações no Brasil e no mundo. Muitas das fraudes no leite têm como objetivos aumentar o volume, controlar as alterações provocadas pelos microrganismos, alterar as características e os componentes. Tipicamente, o leite é adulterado para ganho financeiro ou devido às más condições de higiene de processamento, armazenamento, transporte e comercialização. Podemos dividir as fraudes no leite em quatro grandes grupos: alteração intencional na composição do leite, falhas na pasteurização, mistura de leites de espécies diferentes e fraudes de rotulagem.

A fraude mais comum no leite é a alteração intencional na sua composição, relacionada à adição ou remoção de substâncias químicas próprias ou estranhas ao leite. A principal fraude por alteração intencional é a adição de água para aumentar o volume do leite. Outras fraudes comuns são a adição de alcalinos, como a soda cáustica, para aumentar a conservação ou diminuir a acidez; a adição de conservantes como formol, ácido bórico, peróxido de hidrogênio e ácido salicílico, para inibir o crescimento microbiano; a adição de reconstituintes como a melamina para modificar o valor proteico, o amido, a sacarose e urina como reconstituintes da densidade; a adição de soro de queijo para aumentar o volume.

Nas fraudes relacionadas à remoção de substâncias presentes no leite, temos o desnate como a principal fraude, afetando o teor de gordura.  Resíduos de antibióticos também são considerados fraude por alteração na composição do leite afetando a fabricação de queijos e produtos fermentados.

A pasteurização tem como objetivos eliminar os microrganismos patogênicos que possam contaminar o leite. Falhas neste processo geralmente ocorrem em relação ao controle de temperatura e do tempo de aquecimento e a refrigeração posterior ao processo. A pasteurização ineficiente traz prejuízos à população, uma vez que expõe o consumidor a vários microrganismos patogênicos.

Na indústria de laticínios, uma fraude comum é o uso de um tipo de leite menos oneroso em vez de outros mais caros. A sazonalidade e o valor do leite de algumas espécies, como o de cabra, de ovelha e de búfalo, além do preço mais alto em relação ao de vaca, são um incentivo para que esse produto seja adulterado com leite de maior disponibilidade e menor preço.  Essa mistura de leite é ilegal e ocorre principalmente durante a fabricação de queijos e de outros produtos lácteos que são etiquetados com selos de “leite puro”.

Outro tipo de fraude são produtos com rotulagem enganosa. Essas fraudes abrangem a inserção de falsas alegações, modificação do lote e da data de validade, ocultação de ingredientes presentes na formulação, ocultação de alergênicos, ou peso líquido real inferior ao declarado no rótulo.

Detecção de fraudes em leite

Para a detecção de fraude são utilizadas avaliações de diversos parâmetros da qualidade do leite. Estas análises são realizadas em laboratório ou plataformas de laticínios. As análises para verificação da acidez do leite incluem a prova do álcool e alizarol e a determinação de acidez do leite – método Dornic.

A análise de determinação da densidade em leite é utilizada para verificar a desnatação prévia ou fraude por adição de água. A análise do índice de glicomacropeptídeos, uma porção da molécula de caseína solúvel no soro, serve como indicação de adição de soro de queijo. A análise da depressão do ponto de congelamento ou crioscopia é uma maneira rápida e confiável de detectar até mesmo quantidades muito pequenas de água adicionada ao leite.

Outros métodos analíticos foram propostos para triagem rápida e confirmação de fraudes no leite. Técnicas cromatográficas, como cromatografia líquida de alta eficiência e cromatografia gasosa são comumente usadas para avaliar a presença de conservantes de alimentos e de gorduras estranhas em leite e derivados.

As técnicas espectroscópicas na região do infravermelho são ferramentas poderosas e rápidas que permitem a detecção simultânea de múltiplos adulterantes em leite. No entanto, a última técnica sofre com a falta de padronização e não possui reconhecimento como método oficial.

A calorimetria de varredura diferencial (DSC) é uma técnica poderosa para detectar o efeito de adulteração pela adição de água, através da análise da temperatura e da taxa de calor associada à transição do material em estudo, relacionada à temperatura e ao tempo.

Para determinar a fraude do leite por mistura de diferentes espécies animais, várias técnicas como ensaio imunoenzimático (ELISA), reação em cadeia da polimerase (PCR), eletroforese em gel de poliacrilamida (PAGE) e ionização /dessorção a laser assistida por matriz (MALDI) foram estudadas, baseadas em proteínas específicas, DNA e peptídeos.

A análise mais “clássica” baseada em DNA é o PCR, capaz de detectar a presença de leite de vaca, ovelha ou cabra, mas somente quando é especificamente procurado e quando o tratamento da amostra não leva à quebra do DNA em fragmentos menores que possam impedir a detecção com esta técnica.

Métodos de detecção de fraudes em leite e derivados

Método Produto Fraude
Crioscopia / Depressão do Ponto de Congelamento Leite fluido Adição de água
Espectroscopia no infravermelho Médio (MIR) Leite em pó Adição de soro (Detecção e quantificação do Glicomacropepitídeo)
Leite fluido Adição de melamina, ureia, glicose e cloridrato de tetraciclina
Espectroscopia no infravermelho Próximo (NIR) Leite fluido Adição de água e soro
Leite fluido Adição de leite em pó
Calorimetria de varredura diferencial (DSC) Leite fluido Adição de água
Cromatografia Líquida de Alta Eficiência de fase reversa Leite fluido Adição de soro (Detecção e quantificação do Glicomacropepitídeo)
Leite em pó Adição de melamina
Leite fluido Adição de leite de soja
Cromatografia gasosa Leite fluido Resíduos de antibióticos
Leite e derivados Adição de gorduras não-lácteas
Cromatografia em camada delgada Leite fluido Resíduos de antibióticos
Cromatografia líquida de alta pressão Leite fluido Resíduos de antibióticos
Cromatografia de camada fina de alta eficiência Leite fluido Adição de gorduras não-lácteas
Kits comerciais Leite fluido Resíduos de antibióticos
Voltamentria Cíclica Leite em pó Adição de melamina, ureia e outros adulterantes ricos em nitrogênio
Biossensores – polímeros impressos molecularmente – SERS Leite em pó Adição de melamina
Espectroscopia Raman Leite fluido Adição de ureia
Cromatografia líquida de ultra eficiência Leite em pó Adição de melamina e análogos relacionados (ácido cianúrico, ammelide)
Leite fluido Adição de proteínas estranhas (soro/proteínas vegetais)
Ensaio imunoenzimático (ELISA) Leite fluido Mistura de leite de diferentes espécies animais
Leite em pó Adição de proteínas estranhas (soro/proteínas vegetais)
Eletroforese em gel de poliacrilamida-dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE) Leite fluido Adição de soro (Detecção e quantificação do Glicomacropepitídeo)
Leite fluido Adição de leite de soja
Leite e derivados Mistura de leite de diferentes espécies animais
Eletroforese capilar Leite e derivados Adição de soro (Detecção e quantificação do Glicomacropepitídeo)
Leite fluido Adição de leite em pó
Leite e derivados Mistura de leite de diferentes espécies animais
Ionização e dessorção a laser assistida por matriz (MALDI) Leite em pó Adição de gorduras não lácteas
Espectrometria de massas de quadrupolo Leite em pó Adição de gorduras não lácteas
Eletroforese de focalização isoelétrica Leite e derivados Mistura de leite de diferentes espécies animais
Reação em cadeia da polimerase (PCR) Leite e derivados Mistura de leite de diferentes espécies animais

Fonte: Detection of adulteration in milk: A review

Cenário brasileiro

No Brasil, na última década, a produção de leite evoluiu de forma contínua, resultando no crescimento consistente da produção, que colocou o país como um dos principais do setor no mundo, produzindo 35,1 bilhões de litros de leite em 2017. O aumento da demanda por produtos lácteos foi uma consequência direta de vários fatores, como o crescimento da população nacional, aumento da renda disponível e mudanças nos hábitos alimentares. O rápido desenvolvimento do mercado de laticínios brasileiro na última década tornou o leite um alvo para a fraude. Entre 2007 e 2018, o leite foi o alimento mais fraudado no país, chegando a 38% dos alimentos adulterados.

A legislação brasileira considera fraude no leite, a adição de água; subtração de qualquer dos seus componentes, exceto no leite desnatado e semidesnatado; a adição de substâncias conservadoras ou de quaisquer elementos estranhos à sua composição; rótulo com indicação de categoria superior; leite cru vendido como pasteurizado; exposição ao consumo sem as devidas garantias de inviolabilidade.  A fraude torna o leite um produto de baixa qualidade, podendo trazer várias consequências para o consumidor e para o setor que produz.

Escândalos de adulteração de leite e derivados no Brasil entre 2007 e 2018 divulgados pela mídia

Produto Ano Fraude Estado
Leite em pó 2018 Adição de soro e açúcar Minas Gerais
Leite pasteurizado 2018 Adição de água Rio de Janeiro
Queijo 2018 Adulteração do rótulo Minas Gerais
Leite e derivados 2017 Adição de água e solutos no leite cru, leite UHT Integral, creme de leite e leite para a fabricação de queijo Rio Grande do Sul
Leite in Natura 2016 Adição de água Mato Grosso
Queijo 2016 Adição de amido de milho  e de leite impróprio para o consumo Rio Grande do Sul
Leite in Natura 2015 Adição de soda cáustica (hidróxido de sódio) e de peróxido de hidrogênio (água oxigenada) Santa Catarina
Leite e queijo 2015 Adição de água Rio Grande do Sul
Leite in Natura 2014 Adição de água e adição de sal Rio Grande do Sul
Leite in Natura 2014 Resíduo de antibióticos e neutralizantes de acidez Santa Catarina
Leite UHT 2014 Adição de água, soda cáustica, água oxigenada, urina, álcool etílico, sacarose e ácido lático Pernambuco
Leite UHT 2013 Adição de Formol Paraná
Leite in Natura 2013 Adição de soda cáustica e de peróxido de hidrogênio Rio Grande do Sul
Leite in Natura 2013 Adição de água e ureia Rio Grande do Sul
Leite in Natura 2013 Roubo e adição de água, sal e açúcar Goiás
Queijo 2013 Adulteração do rótulo São Paulo
Leite in Natura 2012 Adição de água sem tratamento e soda cáustica Paraíba
Leite UHT 2010 Adição de amido e adição de água Rio Grande do Sul
Leite UHT 2010 Adição de soro, proveniente do processamento do queijo São Paulo
Leite UHT 2010 Adição de soro, proveniente do processamento do queijo Amazonas
Leite UHT 2010 Adição de soro, proveniente do processamento do queijo Sergipe
Leite em pó 2008 Adição de de soro e açúcar Paraná
Leite UHT 2007 Adição de soda cáustica e de peróxido de hidrogênio Minas Gerais

Fonte: Google Notícias

Casos de fraudes em leite e derivados no Brasil relatados na literatura científica

Produto Ano Fraude Local Referência
Leite Pasteurizado 2017 Adição de água Paraiba Silva et al.,2017
Leite Pasteurizado Integral 2014 Adição de água, desnate, adição de reconstituintes e de conservantes Parana Mareze, 2015
Leite UHT 2014 Adição de amido e hidróxido de sódio Rio Grande do Sul Rosa et al.,2015
Mussarela de Búfala 2013/2014 Adição de leite de vaca São Paulo Souza,2015
Leite in natura 2012 Adição de água e remoção de gordura Parana Montanhini e Hein,2013
Queijo de cabra frescal 2011/2010 Adição de leite de vaca Rio de Janeiro Golinelli et al., 2014
Leite UHT 2010 Adição de urina, formaldeído, peróxido de hidrogênio e cloro Brasil Souza et al.,2011
Leite Pasteurizado Integral 2010 Adição de água, peróxido de hidrogênio e sacarose Distrito Federal Rosa-Campos et al., 2011
Leite in natura 2010 Adição de água e remoção de gordura Parana Ribeiro, Beloti, Silva e Tamanini,2013
Leite in natura 2009 Adição de água Janaúba Caldeira et al., 2010
Leite pasteurizado integral 2009 Adição de água Maranhão Santos et al., 2011
Leite in natura 2008 Adição de água Paraíba Amaral e Santos, 2011
Leite em pó 2008 Outras gorduras e óleos não lácteos: óleo de soja, óleo de palma, óleo de soja hidrogenado e gordura animal (sebo de vaca e banha de porco) Brasil Garcia et al., 2012
Queijo Parmesão Adição de Amido Paraná Ribeiro et al., 2012
Leite Pasteurizado, UHT e em pó Adição de hidróxido de sódio Brasil  Buzzo et al., 2015
Queijo Parmesão Adição de substância não amilácea e não proteica, como uma goma ou uma fibra Paraná Gomes et al., 2015
Queijo de Búfala Adição de leite de vaca Norte do Brasil Moraes,2015
Queijo Prato e Mussarela Adição de Amido São Paulo Teixeira et al., 2014

 

Cenário mundial

A fraude do leite sempre ocorreu ao longo da história e continua a ser uma questão global séria. Essa fraude geralmente está relacionada ao leite bovino e bubalino, uma vez que são a maioria da produção de leite em todo o mundo. Produtos lácteos fraudados podem ser encontrados em muitas regiões do mundo. Os países com os maiores escândalos envolvendo fraude em leite são a Índia, onde os casos de fraude chegam a quase 70% do leite consumido no país e a China, onde o maior escândalo de fraude em leite aconteceu em 2008, quando foi descoberta a adição de melamina em leite em pó. A melamina é um plastificante usado na fabricação de produtos de plástico e imita proteínas de alta qualidade em testes comuns de controle de qualidade de proteínas.

Inversamente, em países desenvolvidos há uma preocupação muito menor com a fraude do leite. A União Europeia (EU) tem um dos mais altos padrões de segurança de alimentos do mundo e, portanto, os casos de fraude no leite e derivados são raros. O RASFF – o Sistema de Alerta Rápido para os Géneros Alimentícios e Alimentos para Animais (Rapid Alert System for Food and Feed) fornece informações quando são detectados riscos para a saúde pública na cadeia alimentar e, como tal, fornece detalhes sobre os casos de fraude no leite ocorridos na UE. Da mesma forma, os EUA aplicam padrões elevados de segurança de alimentos, e isso, juntamente com suas cadeias de suprimentos e monitoramento da qualidade do produto, reduziu enormemente o risco de fraude no leite.

Casos de fraude em leite e derivados no mundo

Produto Ano Fraude País
Mussarela de Búfala 2019 Mistura de leite de diferentes espécies Reino Unido
Leite in Natura 2019 Alegação de orgânico no rótulo Estados Unidos
Leite em pó 2019 Adição de leite de soja México
Leite in Natura 2019 Adição de Ureia e água Paquistão
Leite in Natura 2018 Adição de ureia, óleo vegetal e detergente Índia
Queijo caprino 2018 Mistura de leite de diferentes espécies Espanha
Leite in Natura 2018 Roubo Argentina
Leite in Natura 2017 Adição de ureia, óleo vegetal e detergente Índia
Leite in Natura 2017 Alegação de orgânico no rótulo Estados Unidos
Manteiga 2017 Mistura de leite de diferentes espécies Índia
Queijo e derivados 2015 Roubo Rússia
Leite e derivados 2014 Alegações falsas no rótulo Itália
Leite in Natura 2014 Adição de água e detergente Paquistão
Mussarela de Búfala 2014 Mistura de leite de diferentes espécies Itália
Leite e derivados 2014 Adição de gorduras estranhas Rússia
Leite in Natura 2014 Over-run Irlanda
Leite in Natura 2013 Mistura de leite de diferentes espécies China
Leite in Natura 2012 Venda de leite UHT como leite pasteurizado Reino Unido
Queijo parmesão 2012 Adição de celulose Estados Unidos
Leite in Natura 2011 Adição de água e soro Espanha
Leite em pó 2011 Adição de proteína hidrolisada de couro China
Leite em pó 2011 Adição de glicose Índia
Mussarela de Búfala 2010 Mistura de leite de diferentes espécies Itália
Leite em pó 2010 Adição de melamina China
Leite in Natura 2008 Adição de ureia, óleo vegetal e detergente Índia
Leite em pó 2008 Adição de melamina China

Fonte: Google Notícias

Impactos na Saúde Pública

A fraude em alimentos é um risco para a saúde pública, principalmente em relação à diminuição do seu valor nutricional. Em muitos casos, o adulterante pode ser uma substância inofensiva – possivelmente outro ingrediente alimentar.  Entretanto podem ser adicionados adulterantes não convencionais inesperados e sem controle. Geralmente a inserção de um ingrediente impróprio para o consumo, um aditivo não aprovado ou um alérgeno conhecido podem trazer consequências para a saúde.

Os produtos químicos e outros contaminantes utilizados como adulterantes no leite têm uma ampla gama de efeitos agudos e crônicos na saúde. A adição de cloreto de sódio (sal comum) no leite pode ser problemática para aqueles que têm hipertensão, problemas cardíacos, doenças renais ou hepáticas crônicas. Se o leite é adulterado com açúcar, isso pode contribuir para problemas nos diabéticos pela elevação dos níveis de açúcar no sangue. A adição de água ao leite diminui seu valor nutricional.

O formol é altamente tóxico para humanos em pequenas quantidades e é classificado como carcinogênico. Sua ingestão pode induzir intoxicação aguda, causando irritação, dermatite, dores de cabeça, tonturas, lacrimejamento dos olhos, espirros e tosse, e até mesmo o desenvolvimento de asma alérgica. O peróxido de hidrogênio danifica as células gastrointestinais, que podem levar à gastrite, inflamação do intestino e diarreia sanguinolenta.

Alguns detergentes podem causar intoxicação alimentar e complicações gastrointestinais. O cloro causa baixa pressão arterial, náusea, vômito e dor abdominal. A presença de ureia pode causar graves problemas de saúde humana, como visão prejudicada, diarreia e mau funcionamento dos rins. A melamina tem baixa toxicidade aguda por via oral, mas a exposição excessiva em animais e seres humanos causa cálculos urinários, cristalúria e insuficiência renal aguda.

Impactos na Segurança de Alimentos

Segundo a literatura, a fraude de alimentos é um ato intencional de ganho econômico, enquanto um incidente em segurança de alimentos é um ato não intencional com dano não intencional. De um modo geral, a fraude no leite resulta na redução da qualidade e não na sua segurança.

Porém, a fraude, além de prejudicar os consumidores, pode causar doenças e até a morte, gerando então um incidente em segurança de alimentos. Um exemplo foi o escândalo do leite chinês em 2008. O leite e a fórmula infantil estavam contaminados com melamina. Isso afetou cerca de 300.000 pessoas, incluindo bebês.

Assim, as ameaças de fraude podem ser consideradas mais arriscadas do que as ameaças tradicionais de segurança de alimentos, uma vez que os contaminantes não são convencionais. No caso do leite, as fraudes podem aumentar os riscos relacionados à segurança de alimentos e diminuir a qualidade nutricional pela adição de substâncias nocivas e por más condições de higiene.

Referências

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Ribeiro, J. C. et al.; Avaliação da qualidade microbiológica e físicoquímica do leite cru refrigerado produzido na região de Ivaiporã, Paraná. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, v. 68, n. 392, p. 5-11, 2013.

RIBEIRO, Jéssica Caroline Bigaski et al. Qualidade físico-química e microbiológica do queijo parmesão ralado comercializado em Ponta Grossa, Paraná. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, v. 67, n. 387, p. 21-29, 2012.

ROSA, Leonardo Souza et al. Avaliação da qualidade físico-química do leite ultra pasteurizado comercializado no município de Erechim–RS. Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência & Tecnologia, v. 3, n. 2, p. 99-107, 2015.

ROSA-CAMPOS, Andréia Alves et al. Avaliação físico-química e pesquisa de fraudes em leite pasteurizado integral tipo ‘c’ produzido na região de Brasília, distrito federal. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, v. 66, n. 379, p. 30-34, 2011.

SANTOS, N. A. F. et al. Avaliação da composição e qualidade físico-química do leite pasteurizado padronizado comercializado na cidade de São Luís, MA. Arquivos do Instituto Biológico, v. 78, n. 1, p. 109-113, 2011.

SILVA, George Wagner Nóbrega; OLIVEIRA, Mayara Pereira. Avaliação físico-química de leite in natura comercializado informalmente no sertão paraibano. Revista Principia, v. 1, n. 35, p. 34-41, 2017.

Spink, J. and Moyer, DC. Understanding and Combating Food Fraud [Cover Story], Food Technology magazine, Volume 67, Number 1, pp. 30-35, 2013.

Spink, J.; Moyer, D. C.; Defining the public health threat of food fraud. Journal of Food Science, v. 76, n. 9, p. R157-R163, 2011.

SOUZA, Gisele Oliveira de. Mozzarella de búfala no mercado varejista de São Paulo: avaliação da qualidade sanitária e da autenticidade do queijo. 2015. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

SOUZA, Simone S. et al. Monitoring the authenticity of Brazilian UHT milk: A chemometric approach. Food chemistry, v. 124, n. 2, p. 692-695, 2011.

TEIXEIRA, Matheus Valadares et al. Detecção Da Presença de Amido em Queijos do Tipo Prato e Mozarela Presence Detection Of Starch In Mozzarella And “Prato” Cheeses.Science In Health maio-ago, v. 5, n. 2, p. 79-85, 2014.

Tibola, C. S. et al. Economically Motivated Food Fraud and Adulteration in Brazil: Incidents and Alternatives to Minimize Occurrence. Journal of food science, v. 83, n. 8, p. 2028-2038, 2018.

15 min leituraA fraude de alimentos (food fraud) é uma questão séria que tem sido alvo de investigações nos últimos anos, sendo uma preocupação em segurança de alimentos e saúde pública. O […]

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Destaques do XV Simpósio Internacional ABRAPA – Fraude em Alimentos

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No último dia 3 de junho, o blog Food Safety Brasil acompanhou o XV Simpósio Internacional ABRAPA – Fraude em Alimentos e para quem não conseguiu participar, segue um resumo com os destaques das palestras.

A associação buscou trazer uma visão diferenciada do tema com os palestrantes Roy Fenoff que é militar e professor criminal atuando com fraude em alimentos e Donald Schaffner, especialista em microbiologia e modelos matemáticos.

A primeira palestra “Managing food fraud” trouxe as definições de fraude, visando ganho econômico e não necessariamente risco à saúde, bem como as possibilidades mais comuns de fraude: substituição de ingredientes, contaminação, roubos, erros de rotulagem, diluição , falsificação, melhoradores não autorizados. Foram destacadas as diferenças entre Food Fraud, Food Defense, Food Quality e Food Safety, sendo que as duas primeiras são afetadas de forma intencional e as duas últimas não.

Considerando sua formação, Roy trouxe a abordagem de fraude sob os aspectos de um crime, no qual o triângulo principal possui três pilares: um lugar, uma vítima ou alvo e um criminoso. Para entender o crime ou uma fraude devemos entender esses três elementos e para evitá-los também devemos atuar em um dos três.

Quando pensamos em proteger um lugar devemos pensar em instituir um administrador que seja responsável por ele. Quando observamos o alvo é necessário definir um guardião e por fim, no caso do criminoso, existiria a figura do protetor (handler). Usando o exemplo da fraude de carne de cavalo nos produtos de carne bovina, o palestrante demonstrou quem estava no triângulo do crime. Os alvos eram os consumidores, governos e as empresas, o lugar foram as 14 empresas na Europa em 9 países e os guardiões estabelecidos eram as empresas, os governos, as agências reguladoras da Inglaterra e os colaboradores em toda cadeia de suprimentos.

Crimes normalmente acontecem quando existe ou um criminoso potencial ofendido, ou a ausência de um guardião capaz ou um alvo disponível.

O objetivo principal nunca deve ser identificar uma fraude, mas sim PREVENIR que ela aconteça, por isso deve ser feito o mapeamento das oportunidades de fraude e identificação dos melhores guardiões e suas lacunas. A dificuldade em fazer um mapeamento profundo é que a quantidade de dados disponíveis para serem considerados é infinitamente menor do que realmente existem, já que as fraudes são pensadas para não serem descobertas, da mesma forma que sabemos que o cartel de drogas existe, mas não existem dados oficiais disponíveis sobre eles.

Destacou-se que a tecnologia sempre será uma excelente aliada, porém sem a correta identificação das necessidades, haverá um investimento desnecessário, pois nem sempre é possível analisar tudo e todas as possibilidades de fraudes.

Importante sempre pensar em aumentar as formas de vigilância, pois até mesmo o efeito psicológico pode ter efeito na inibição do crime. Por exemplo: uso de câmeras de segurança falsas e a disponibilização de um canal de denúncias anônimas, além de um robusto treinamento de código de ética.

Para finalizar a palestra, Roy deixou um link para participação em uma pesquisa sobre o momento das empresas com relação à fraude.

A segunda palestra – “A microbial risk assessor looks at food fraud”  – trouxe a abordagem de que o princípio de Pareto ou Regra 80/20 também se aplica aos dados conhecidos sobre fraude nos alimentos, sendo que 80% dos efeitos são causados por 20% das causas.

A detecção de fraudes normalmente ocorre por dicas ou denúncias feitas anonimamente, o que torna mais difícil um levantamento confiável.

Para demonstrar o príncipio de Pareto, observam-se os seguintes dados com base nas informações disponíveis na USP Food Fraud Database e FDPI EMA Database:

– 60% das fraudes conhecidas são causadas por 24% dos tipos de produtos: óleos vegetais, especiarias, leite e adoçantes;

– 78% das fraudes conhecidas são causadas por 29% dos tipos de fraudes:  diluição ou substituição e uso de aditivos não aprovados.

Lembrando que normalmente a substituição é realizada de forma parcial, ou seja, o risco não necessariamente estará  presente em toda a produção, o que torna ainda mais difícil sua detecção.

Para finalizar, o palestrante fez um paralelo entre a análise de risco feita para microbiologia e para food fraud:

Avaliacão do risco: deve ser feita com base em dados científicos, avaliação da dimensão do risco.

Comunicação do risco: processo social  e psicológico

Gestão do risco: avaliar o que pode ser e será feito com o risco. Não é uma decisão científica, existem fatores políticos envolvidos.

Considerando o uso de modelos matemáticos para predizer o acontecimento de fraudes, os que apresentam melhores resultados são aqueles em que são conhecidos países de origem e tipos de fraudes, além da interferência do comportamento econômico.

Na segunda parte do simpósio foi apresentado o panorama atual de fraude no mundo e os depoimentos do pessoal das indústrias com as ações que estão sendo feitas.

A consultora Elisabete Martins destacou que fraude de alimentos já é uma prática antiga que ocorre desde a Idade Média especialmente em especiarias, vinhos e azeites. Atualmente azeite e especiarias se mantêm na lista e se juntaram a eles leite, mel e pescados.

Mundialmente dois eventos foram marcantes na mudança de postura com relação à fraude: melamina no leite, que incidiu ainda em food safety com a morte de 6 crianças e o uso da carne de cavalo. Após esse último, grandes mudanças foram feitas no sistema de controle da Europa, além da condenação de duas pessoas. Em 2015 foi criada a unidade nacional de crime alimentar e a operação Opson que investigou produtos com suspeitas de fraudes.

Nos EUA também houve grandes mudanças na abordagem de fraude a partir de 2016, com foco nos requisitos do FSMA. Da mesma forma, as normas GFSI também incluíram requisitos para avaliação de vulnerabilidade e estratégia para prevenção como parte do escopo.

No Brasil, os principais casos divulgados foram o leite com ureia em 2003 e mais recentemente a operação Carne Fraca. As consequências desses eventos foram laboratórios banidos, além de maior controle pelo MAPA com os programas de autocontrole. Também está em tramitação a revisão do código penal e de defesa dos consumidores para que fraude em alimentos se torne crime hediondo.

A palestrante apresentou os resultados de uma pesquisa realizada pela Universidade de Nebraska, na qual foram  apresentados aos consumidores azeites de diferentes origens para que fossem avaliados com relação à aceitação e também disposição de valores a serem pagos. Em um segundo momento, foi disponibilizado um artigo sobre fraude em azeites de origem italiana e novamente os produtos foram apresentados. A percepção dos consumidores mudou principalmente com relação ao produto de origem italiana, porém de forma geral, com relação ao produto também houve redução no valor percebido.  Ou seja, não é somente uma empresa que é afetada em casos de fraude, mas sim o mercado como um todo.

Para finalizar, a palestrante trouxe os principais desafios para um efetivo controle de fraude, destacando-se a importância de um alinhamento “top down” e a conscientização com foco em proteção dos alimentos.

Durante a mesa redonda, a representante da Seara, Marisete Cerutti apresentou os principais tipos de fraudes em carnes, destacando que negligência em processos críticos também caracteriza fraudes:

– Uso de CMS em substituição a carnes de maior valor;

– Uso de água, gelo ou mistura líquida em maior quantidade;

– Divergência de origem, com troca de embalagem ou etiqueta;

– Aditivos não autorizados, como ácido sórbico;

– Uso de corantes para mascarar problemas;

– Rotulagem incorreta como prazo de validade ou origem adulterada;

– Produtos roubados reutilizados, vencidos.

Uma vez que o Brasil é o segundo maior produtor e o maior exportador de aves no mundo, o mercado sofreu grande impacto com as Operações Carne Fraca e Trapaça havendo fechamento de 21 plantas, impedimento de exportação e redução de vendas e de lucro.

A palestrante Cristina Mosquim, da Viva Lácteos, mostrou os impactos no setor de laticínios após as Operações Ouro Branco e Leite Compensado e destacou as principais fraudes para o setor:

– Diluição com água;

– Teor de proteína mascarado;

– Uso de reconstituintes de densidade (para compensar adição de água) com amido, sacarose, cloretos;

– Adição de ureia para manter estabilidade do produto durante longos trajetos;

– Adição de produto Arla 32 – agente redutor com presença de 32,5% de ureia;

– Adição de soro de leite;

– Adição de peróxido de hidrogênio para acerto de acidez, quando o leite não fica adequadamente resfriado.

O representante da Nestlé, Donizeti Cezari, relatou a necessidade da realização do maior recall devido ao impacto da carne de cavalo presente nos produtos. A Nestlé possui mais de 160 mil fornecedores em nível mundial e 695 mil fazendas habilitadas e definiu um programa de prevenção de food fraud em todo o mundo. As compras de matérias primas foram centralizadas em 3 grandes centros e as matérias primas mais suscetíveis à fraude são:

– Carne;

– Peixe;

– Especiarias;

– Ervas;

– Cereais e

– Vegetais.

Dessas, as mais processadas apresentam a maior dificuldade de identificação.

O programa de prevenção da empresa é focado em auditoria de fornecedores e certificações.

A empresa JBS, representada por Maria Emilia Raucci à frente da área de qualidade desde 2015, destacou que o processo de prevenção à fraude teve o envolvimento de todas as áreas da empresa e grande suporte de TI. O desafio de conscientização de mais de 30 mil colaboradores com diversas culturas espalhados no Brasil envolveu treinamentos de pessoas-chaves e um reforço no sistema de rastreabilidade e uso de tecnologia. O sistema atual utilizado por eles é o Decernis e no mínimo semestralmente é atualizado.

Todos os processos são informatizados e todas as unidades acessam simultaneamente a entrada de dados relevantes aos pontos de vulnerabilidade (aproximadamente 30 dados por segundo!!!) através de tablets.

Com o uso de tecnologia “big data” todos os dados são enviados para os servidores onde são feitas avaliações estatísticas.

O foco nos treinamentos foi dado na definição do código de conduta e ética e reforçado que cada tarefa do colaborador tem impacto no alimento que será destinado para sua própria família.

Já o palestrante Edson Souza, do Carrefour, falou sobre as principais fraudes identificadas nos produtos de marca própria:

– Falsificação em atum (uso de diferentes espécies), azeite e vinagre;

– Ocultação em rotulagem de informação de zero glúten em pão de queijo;

– Substituição em requeijão por amido;

– Diluição em leite e álcool;

– Rotulagem indevida em vegetais orgânicos.

Destacou também os pilares do programa de prevenção:

– Rígido controle de qualidade no recebimento (estão disponíveis nos pontos de recebimento fichas técnicas completas contendo inclusive fotos dos produtos com estado de degradação avançado);

– Realização de testes nos produtos de marca própria;

– Coletas nos pontos de venda para análises laboratoriais e

– Treinamento e auditoria nas lojas.

O sistema de rastreabilidade também se apresenta bastante robusto com a disponibilização de QR Codes nas embalagens para que os consumidores tenham acesso a informações técnicas dos produtos,  origem e transporte.

De forma geral, foi possível perceber grande engajamento das empresas com relação ao uso de tecnologias no combate à fraude, ficando ainda a esperança do mesmo esforço no fator humano para garantirmos cada vez confiança nas operações dos produtos brasileiros.

Autora: Nathália Gouveia Federico, engenheira de alimentos

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Escândalo da carne de cavalo: seis anos depois – Parte 2/2

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Hoje retomo o assunto do texto anterior, sobre o escândalo, ocorrido há seis anos, que assolou o continente europeu, da presença de carne de cavalo em produtos processados, lasanha pré-cozida, goulash e outros produtos acabados. Na terça-feira, 16 de abril, um tribunal de Paris sentenciou quatro pessoas à prisão.

Um dos sentenciados, o comerciante holandês Johannes Fasen, pegou dois anos de prisão por ter sido considerado culpado por organizar a fraude.

O ex-chefe da empresa francesa de processamento de carnes Spanghero, Jacques Poujol, ficará preso por seis meses.

As penas aplicadas aos acusados ficaram bem abaixo do pedido da promotoria, que havia pedido quatro anos de prisão para os criminosos.

Ainda há dois réus com penas suspensas: Patrice Monguillon e Johannes Fasen aguardam sentenças.

Poujol, Monguillon e Fasen também foram condenados pela importação ilegal de 65 toneladas de carne bovina separada mecanicamente, preparados à base de carcaças e resíduos de carne (proibidos desde 2007), devido à crise da “vaca louca” que foram introduzidos em vários produtos e comprometeram a imagem de várias marcas e empresas importantes da indústria de alimentos.

Vocês acham que as sentenças foram justas?

Relembrando: eles lideraram uma ação que colocou no mercado mais de 500 toneladas de carne de cavalo como sendo carne bovina, na Alemanha e em alguns outros países, tudo isso em 2013.

Lembro-me de um vídeo do presidente da rede de supermercados Tesco pedindo desculpas em rede nacional porque seu sistema de gestão da qualidade e de fornecedores havia falhado em não identificar a fraude, o que gerou grande desgaste com seus clientes, em especial os que consumiam produtos de marca própria.

Mas como este espaço não é apenas para noticiar e atualizar os leitores, vamos ao que interessa.

O crime colocou a Comunidade Europeia em estado de alerta e deixou vulnerável a indústria de alimentos, incluindo uma aqui do agronegócio brasileiro, que recentemente teve seu nome envolvido em diversos casos de polícia.

Também por conta disso as normas de segurança de alimentos incluíram em suas novas versões, capítulos específicos para o tema Food Fraud. 

O escândalo da Operação Carne Fraca, aqui no Brasil há poucos anos atrás, ressuscitou alguns fantasmas na Europa, daí a tomada de atitude radical naquele momento.

Várias perguntas devem ter ficado dentro da cabeça de muita gente por aqui: será que meus fornecedores são realmente confiáveis? Será que meu sistema de gestão é suficientemente robusto para reconhecer e identificar uma fraude?

As normas e seus requisitos estão aí para nos cobrar, mas será que estamos seguros ou vulneráveis?
Esse caso (carne de cavalo) não provocou danos à saúde dos consumidores, mas gerou uma enorme crise de confiança no mercado.

A carne de cavalo é considerada uma iguaria em muitos países e há fazendas e processadoras especializadas nisso. No entanto, quando alguém omite a presença dela adicionada a outro tipo de carne está claro que a mesma não teve boa origem ou qualquer tipo de controle adequado para o consumo humano.

Nós, que somos da indústria de alimentos, devemos estar atentos aos nossos processos e procedimentos, sempre!

Quando um caso de fraude é causado por um fornecedor, a sua marca é que estará exposta. Por isso o nível de exigência no momento de estabelecimento de regras e requisitos deve ser feito de acordo com o insumo fornecido. Análises químicas, exames de DNA, tudo deve ser considerado para garantir a qualidade do produto final e também para limitar e inibir a ação de maus fornecedores. Eu sei que a questão do custo será levantada por alguém da organização, mas é muito melhor gastar dinheiro com isso do que com um vídeo para pedido de desculpas em rede nacional…

A outra situação de fraude pode ocorrer dentro da própria organização e aí a coisa é muito mais grave!

Por isso, os gestores de segurança de alimentos, em especial os que são responsáveis técnicos, devem saber que outras consequências podem ocorrer em caso de identificação por parte das autoridades.

Nos EUA, há poucos anos atrás, executivos de uma das maiores produtoras de pasta de amendoim foram condenados em sentença inédita. Para a responsável técnica e gestora da Qualidade sobraram 10 anos de prisão.

Embora aqui no Brasil, as leis não sejam aplicadas como se deve, é bom ficarmos atentos.

Afinal, no acidente de Brumadinho (sei que se trata de outro nicho de negócio) nenhum executivo foi preso, mas os responsáveis técnicos, sim.

Fica a dica.

 

 

Quero agradecer novamente à Juliana Grazini, da Verakis, que está lá na França, pelo envio da pauta.

Referências:

https://www.lemonde.fr/societe/article/2019/04/16/scandale-de-la-viande-de-cheval-six-mois-ferme-pour-l-ex-directeur-de-l-entreprise-spanghero_5451022_3224.html

https://www.theguardian.com/uk-news/2017/jul/26/horsemeat-scandal-businessman-andronicos-sideras

https://www.tellerreport.com/business/–horsemeat-scandal–prison-sentences-for-horsemeat-in-lasagna-.HJexxDUQ94.html

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Escândalo da carne de cavalo: seis anos depois – Parte 1/2

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Seis anos depois, a Justiça Francesa condenou os culpados pelo escândalo da carne de cavalo, o maior caso de fraude alimentar ocorrido em 2013 no continente europeu.

Quatro pessoas foram condenadas por responsabilidade direta no processo que culminou em prejuízos de centenas de milhões de euros.

Mas como é que a história começou?

Há dois pontos a serem interligados.

Em 2008, o governo romeno, pretendendo atender a uma legislação da União Europeia, proibiu a utilização de tração animal (por cavalos) em suas cidades e rodovias, o que gerou uma situação grave com o abandono de muitos animais, muitos debilitados e à beira da morte, principalmente por conta do baixo poder aquisitivo das famílias que, de uma hora para outra, se viram privadas de um meio tradicional de transporte e de fonte de renda e que não tinham como manter os animais por conta do custo com alimentação e medicamentos.

Três anos depois, em 2011  (dois anos antes do surgimento do escândalo, em 2013), a Comunidade Europeia proibiu a comercialização de cavalos para abate, provenientes da Romênia, em uma tentativa de evitar a propagação da “anemia infecciosa equina”, doença que se tornou endêmica naquele país.

A proibição levou os agricultores romenos a começar a exportar carne de cavalos já abatidos.

Apenas nesse ano (2011), mais de 6.779 toneladas dessa carne foram transportadas congeladas ou refrigeradas para países como França, Bélgica, Itália e Bulgária para processamento.

A venda de carcaças torna muito mais provável que sua carne seja vendida para processamento em refeições prontas, em vez de ser vendida como cortes desossados e, portanto, pode ser usada em vez de carne bovina na produção de alimentos de conveniência.

Para um agricultor romeno em dificuldades, a venda de um cavalo a um matadouro pode dar um impulso bem-vindo, porém, a mais de 2.000 quilômetros de distância, a descoberta dessa carne em produtos alimentícios congelados em supermercados britânicos provocou a maior crise alimentar em mais de uma década. Algumas perguntas começaram a gerar incômodo: como a carne de cavalo entrou na complexa e moderna cadeia de suprimentos de alimentos? Como essa carne viajou milhares de quilômetros pela Europa para abate, processamento e embalagem antes de acabar nas casas dos consumidores britânicos?

No caso da carne de cavalo descoberta em várias marcas, o primeiro elo da cadeia foi encontrado no interior rural da Romênia. Lá, os cavalos eram usados para puxar carros e arar. Estimativas recentes colocavam o número de cavalos usados para fins agrícolas na Romênia em até 760.000 animais.

Tradicionalmente, quando um agricultor não necessitava mais de um cavalo, ele seria vendido para exportação para países onde o cavalo fosse aceito como uma alternativa à carne de vaca, carneiro ou porco.

Mais de 10.000 cavalos por ano foram exportados da Romênia desta forma. A maioria acabou na Itália, onde os consumidores preferem a carne do animal recém-abatido.

A carne de cavalo encontrada em refeições congeladas na Grã-Bretanha foi enviada por meio rodoviário da Romênia para a fábrica de processamento de carnes Spanghero em Castelnaudary, no sudoeste da França. Lá foi processada em partes, aparentemente rotulada como carne comum, e enviada para processamento em refeições prontas e congeladas pela fabricante francesa de alimentos Comigel.

A sede da Spanghero possuía um sistema de alta segurança, como pede a indústria global de alimentos. Era cercada por câmeras de vigilância e cercas, com guardas em cada ponto de entrada e saída. Os 350 funcionários que trabalhavam lá eram rigorosamente monitorados à medida que entravam e saíam da unidade. Havia regras de BPF e uso de uniformes para os trabalhadores, veículos especializados para transporte adequado, armazéns limpos e refrigerados.

Nada disso foi suficiente para impedir a ação criminosa.

A Spanghero, fundada em 1970 por Claude e Laurent Spanghero, ex-jogadores de rúgbi da França, já estava no centro de um grande problema de saúde quando, em 2011, foi forçada a destruir 12 toneladas de carne bovina picada depois de ser descoberta contaminação com E. coli.

A empresa possuía seu próprio abatedouro e precisou fechá-lo por conta da crise gerada pela globalização e pelo grande volume de carne importada, especialmente do Leste Europeu, que aumentou a competitividade e fez a margem cair subitamente.

O esquema, criado provavelmente em 2012, levou a carne de cavalo para a indústria de produção de lasanhas congeladas, espaguete à bolonhesa e outros pratos à venda em supermercados em 15 países.

Exames de DNA nesses produtos levaram as autoridades francesas a uma investigação em busca de evidências de fraude contra uma das empresas sobre a suposta falta de rotulagem da carne.

Como sempre, os donos e executivos das empresas negaram saber de qualquer tipo de fraude.

Os burocratas do governo francês, por sua vez, vieram com os tradicionais discursos:

“É “inaceitável” que a carne de cavalo seja aprovada como carne bovina!”.

“O que está escrito em um rótulo deve estar de acordo com o que está no produto!”.

A investigação concluiu que açougueiros romenos e comerciantes holandeses e cipriotas criaram uma cadeia de fornecimento que resultou em carne de cavalo sendo rotulada como carne de vaca ou de porco antes de ser incluída em produtos congelados.

A Tesco, gigante britânica do varejo, identificou em amostras de produtos de marca própria, mais de 60% de DNA de cavalo.

Na Romênia profundamente rural, os cavalos eram vendidos por famílias ou indivíduos a matadouros, e cada animal tinha quatro tipos de documentos obrigatórios antes de sua carne ser exportada.

As autoridades romenas disseram que verificaram a papelada que mostra que eles não estavam rotulando indevidamente a carne antes de ser enviada para fora do país para intermediários.

Ou seja, ninguém teve culpa!

Vejam como as coisas são!

Uma simples mudança na legislação de um país (uso de cavalos para determinadas atividades) e outra sobre controle de contaminação endêmica, impactaram profundamente marcas consideradas confiáveis e referências em qualidade.

O impacto teve reflexos profundos em um continente inteiro.

E nós, do outro lado do mundo, ganhamos normas mais restritas e duras para cumprir.

Justo para nós aqui do Brasil onde tudo anda bem, não é mesmo?

Quero deixar um agradecimento à Juliana Grazini, da Verakis, pelo envio da pauta.

No próximo texto conto como anda a história, agora no campo das punições, seus reflexos na legislação e lições que aprendemos e das quais não podemos nos esquecer no dia-a-dia.

Até lá!

 

Referências:

https://www.lemonde.fr/societe/article/2019/04/16/scandale-de-la-viande-de-cheval-six-mois-ferme-pour-l-ex-directeur-de-l-entreprise-spanghero_5451022_3224.html

https://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/1578965/Horses-left-to-starve-after-Romania-bans-carts.html

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O que o GFSI espera de um programa de Food Fraud

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Sabe-se que o tema de fraudes em alimentos é muito antigo. Há registros históricos de casos de fraudes que datam da Grécia Antiga. Este tema, porém, começou a ser tratado pelos especialistas do GFSI bem mais recentemente, em 2011/2012. Nessa época, como John Spink, diretor do Food Fraud Initiative da Universidade de Michigan, comentou em seu webinar no International Food Safety & Quality Network (Twelve Months of GFSI Food Fraud Requirements), o Food Fraud era só uma ideia.

O estopim para se aumentar a relevância do assunto foi o caso mundialmente conhecido de carne de cavalo em 2013, que proporcionou em 2014 a criação do conceito e publicação do GFSI Position Paper, propondo a inclusão da prevenção de fraude em alimentos no escopo das certificações aprovadas pelo GFSI.

E mais recentemente, em maio de 2018, o GFSI lançou um guia (Tackling Food Fraud Through Food Safety Management Systems) com diretrizes mais robustas para a implementação do programa de Food Fraud em sistemas de gestão de segurança de alimentos.

Sendo assim, hoje todas as certificações de segurança de alimentos tratam do tema, mas ainda é questionável até onde é o bastante, tanto para as indústrias implementarem o programa, quanto para os auditores que irão verificar o cumprimento deste requisito.

Neste webinar, John Spink diz que antes de mais nada temos que levar em consideração os seguintes temas:

  • Food Fraud é diferente de Food Safety e Food Defense. A prevenção de uma fraude é mais além da prevenção de um perigo não intencional ou de um ataque à organização motivado ideologicamente. Quem frauda não quer ser “pego” nem fazer mal ao consumidor, apenas quer ganhar economicamente com aquele ato.
  • Todos os tipos de fraude devem ser considerados na análise de risco, como substituição, diluição, falsificação, etc., assim como todo tipo de alimento (seja consumido internamente pela fábrica, seja o produto final expedido).
  • O programa de prevenção de fraude é do tipo “Top Down”, diferente de programas de prevenção de segurança de alimentos, que dependem muito mais da adesão dos colaboradores de base. As decisões para fraude são tomadas na maioria das vezes pela Alta Direção. Logo, as medidas internas para prevenir esses atos devem vir deles.
  • Diferentemente do APPCC que é uma ferramenta bastante estudada e conhecida, as ferramentas utilizadas para a implementação do Food Fraud (como VACCP, SSAFE, entre outras) ainda são muito novas e a adesão a uma ou outra não deve ser questionada neste primeiro momento pelos auditores.
  • Os auditores devem neste primeiro momento cobrar a análise de risco e a implementação de medidas de prevenção da fraude em alimentos.

Pelo exposto, para completo atendimento do programa de prevenção de fraudes para o GFSI, as seguintes perguntas devem ser respondidas positivamente:

  1. Foi conduzida uma análise de vulnerabilidade de fraude em alimentos?
  2. A análise de vulnerabilidade está documentada?
  3. Foi implementada uma estratégia de prevenção de Food Fraud?
  4. A estratégia de prevenção está documentada?
  5. Foi conduzida ao menos anualmente uma revisão dos incidentes de fraude em alimentos? Qual sua fonte de dados (USP, FDA, RASFF, entre outras)?
  6. Nota: foram considerados todos os tipos de fraude?
  7. Nota: foram considerados todos os produtos, seja do material recebido (como ingredientes), seja do produto fornecido aos consumidores finais?

Para mais detalhes e qualificação a respeito de fraudes em alimentos, vocês podem acessar o site da Universidade de Michigan, que possui vários treinamentos online, sendo muitos gratuitos, para disseminar a discussão sobre o tema.

Referências:

https://www.ifsqn.com/food_safety_videos.html/_/ifsqn-videos/food-safety-fridays/twelve-months-of-gfsi-food-fraud-requirements-r180

http://foodfraud.msu.edu/2018/05/17/review-of-gfsi-food-fraud-technical-document-may-2018/

https://www.mygfsi.com/component/k2/item/89-http-www-mygfsi-com-files-technical-documents-201805-food-fraud-technical-document-final-pdf.html

2 min leituraSabe-se que o tema de fraudes em alimentos é muito antigo. Há registros históricos de casos de fraudes que datam da Grécia Antiga. Este tema, porém, começou a ser tratado pelos […]

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Relatório RASFF 2017

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A Comissão Europeia criou a base de dados RASFF (Food and Feed Safety Alerts) em 1979 para manter as suas informações tão transparentes quanto possível aos consumidores, operadores de negócios e autoridades em todo o mundo, fornecendo um serviço 24 horas sobre as notificações na Europa que são enviadas, recebidas e respondidas de maneira coletiva e eficiente sobre as medidas tomadas em respostas aos sérios riscos na cadeia produtiva de alimentos.  Clique aqui e consulte o último relatório referente ao ano de 2017, contendo os dados sobre as notificações dos países da UE que são analisados e apresentados por país de origem, tipo de alimento e tipo de risco.
Em 2017, houve um total de 3832 notificações originais, das quais 942 foram classificadas como alerta, 596 como informação para acompanhamento, 706 como informação para atenção e 1588 como notificação de rejeição de fronteira. Estas notificações originais deram origem a 9117 notificações. Em comparação com 2016, o número de notificações de alerta subiu,  o que implica um sério risco para a saúde com os produtos que circulam no mercado. Subiu de 11% para 24%. Os números globais apresentam um aumento significativo de 28% nas notificações originais em relação a 2016, juntamente com um aumento de 25% nas notificações de acompanhamento, resultando em um aumento geral de 26%. O aumento em alertas (follow-ups e notificações originais) é significativo pelo quarto ano consecutivo, desta vez acompanhado de números crescentes em outras categorias de notificação também, tais como microrganismos patogênicos, micotoxinas, metais pesados em alimentos/aditivos/embalagens, resíduos de pesticidas e fraudes alimentares.

Nesse relatório, o Brasil é citado comparando as notificações de 2015 com 91 casos, 2016 com 56 e 2017 com 372. Aproveito, assim, e referencio o post “Fraudes em alimentos colaboram para a triste posição do Brasil no ranking mundial de corrupção” onde levantei o questionamento sobre as razões para o Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional (perdemos 9 pontos no ranking) estar correlacionado aos incidentes de segurança de alimentos e corroborados por relatório do RASFF.

Fonte: https://ec.europa.eu/food/sites/food/files/safety/docs/rasff_annual_report_2017.pdf

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Mel: com mercado aquecido, o mundo se preocupa cada vez mais com fraudes

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O mel está entre os alimentos mais antigos utilizados pelo homem, devido a sua facilidade de obtenção de forma extrativa e seu alto poder nutritivo.

O líquido âmbar vem ganhando cada vez mais espaço nas prateleiras dos mercados devido a diversas tendências e movimentos em relação à alimentação nas últimas décadas, como por exemplo:

  1. O consumidor está mais interessado em saber a origem do que come;

  2. Existe uma preocupação crescente em reduzir a ingestão de açúcar refinado;

  3. Aumento da procura por alimentos orgânicos e naturais.

O crescimento da demanda é impulsionado principalmente nos Estados Unidos e na Europa, onde se destaca a Alemanha, segunda maior importadora de mel do mundo, perdendo apenas para os EUA.

Segundo uma matéria no The Economist (The scourge of honey fraud) o consumo per capita de mel nos Estados Unidos dobrou desde a década de 90. O mercado norte-americano vem crescendo, porém a produção interna, não. Isso fez o preço do produto disparar no mercado internacional e aumentar o interesse de produtores de todo o mundo em exportar.

O assunto é tão interessante que virou até capítulo de seriado no Netflix. A Série Rotten aborda, em seu primeiro episódio (Não tão doce), a crise do mercado mundial de mel.

Segundo o documentário Rotten, os chineses possuem uma apicultura muito antiga e respeitada. O país possui um número de colônias altíssimo. Com o aumento da demanda de mel pelo maior comprador mundial, EUA, os chineses se tornaram grandes fornecedores de mel. Muitas vezes o mel chinês foi identificado como de baixa qualidade, por apresentar alto índice de fraudes e contaminantes.

A China também foi acusada da prática de dumping, a venda de produtos com preço abaixo do preço de custo por determinado período de tempo com o objetivo de prejudicar e até acabar com a indústria local. Com base nessas evidências, em 2001, o governo americano sobretaxou a importação de mel da China.

O que se viu após essa medida foi a triangulação do mel chinês, que agora recebia uma nova etiqueta e era enviado por outros países da Ásia.

Para proteger o consumidor e a indústria local das fraudes, apicultores e empresas de beneficiamento de mel nos Estados Unidos se organizaram e criaram uma política de certificação de origem. Essa organização se chama True Source Honey e passou a realizar uma análise de risco relacionada à origem do mel, resultando em uma simples classificação de origem: países de baixo e alto risco. Essa é uma abordagem interessante por diferenciar os produtores de países de alto risco, e exigir critérios mais restritivos para os mesmos.

Essa certificação procura avaliar por meio de visitas à planta produtora e entrevistas com os apicultores a quantidade real de mel que pode ser processada pela planta, bem como se o mel realmente veio dos fornecedores cadastrados.

Além disso, são coletadas amostras para verificação da origem do pólen. Mediante uma análise morfológica do pólen, pode-se detectar a origem botânica e geográfica do mel.

Tabela 1. Classificação de países produtores de mel, baseados em análise de Riscos – Fonte: True Source Honey Standard v4.

A fraude mais comum é a incorporação de xarope da cana ou milho ao mel, mas também existe a prática de incorporação de xarope de arroz e a ultra-filtração para retirar os resíduos de pólen, impossibilitando assim sua identificação botânica e geográfica.

Segundo a legislação brasileira o mel deve necessariamente apresentar grãos de pólen, além disso, é proibida a utilização de qualquer tipo de aditivos.

O mel brasileiro, para a True Source, é classificado como de Baixo Risco. Segundo a ABEMEL (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel), nosso país possui condições muito favoráveis para a produção de mel, destacando-se o clima que permite a produção durante todas as estações, além das abelhas encontradas no país, que são do tipo africanizadas, mais resistentes a doenças, fazendo com que não haja o uso de antibióticos ou outros produtos para controlar doenças e pragas.

O Brasil é o oitavo maior exportador mundial, porém o consumo de mel interno ainda é muito inferior ao encontrado ao redor do mundo, como informado pelo gráfico abaixo. Segundo a Abemel, nos anos de 2014 e 2015 a maior parte da produção brasileira foi exportada (66% e 59%, respectivamente).

Imagem 1. Fonte ABEMEL- Apicultura Sustentável- Carlos Pamplona Rehder -Camara Setorial do Mel- MAPA- 16.06.2015

 Conclusão

Apesar da evolução das metodologias de detecção de fraudes, observa-se que quando um novo teste é criado, em pouco tempo o sistema procura novas brechas para continuar utilizando práticas desonestas.

A indústria e o time de segurança de alimentos tem um papel chave no combate à comercialização de produtos fraudados. Ressalta-se a importância de desenvolver um plano de Prevenção de Fraude Alimentar robusto.

Além disso, informar e “empoderar” o consumidor é a chave para que ele valorize a qualidade e se atente a preços destoantes do mercado.

O Brasil é visto como um produtor de mel de boa qualidade e possui um grande potencial para expansão de sua produção. A região norte é a região que menos produz atualmente e a que possui a maior reserva florestal do país, podendo principalmente produzir mel orgânico, pois se situa em locais onde não há aglomerações humanas.

Veja também:

https://foodsafetybrazil.org/teste-mostra-que-a-maioria-do-mel-comercializado-nos-eua-nao-pode-ser-classificado-como-mel/

Fontes:

https://www.economist.com/united-states/2018/08/30/the-scourge-of-honey-fraud Acesso em: 11 set. 2018.

http://www.truesourcehoney.com/ . Acesso em: 11 set. 2018.

ABEMEL. Associação Brasileira dos Exportadores de mel. http://brazilletsbee.com.br/nossos-produtos.aspx .Acesso em: 21 set. 2018.

https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Criacao/noticia/2015/07/brasil-sobe-no-ranking-e-e-o-8-maior-exportador-de-mel.html .Acesso em: 21 set. 2018.

CONAP. Cooperativa Nacional de Apicultura. http://www.conap.coop.br/2017/01/05/abemel-divulga-dados-relativos-a-exportacao-de-mel-no-pais/ Acesso em: 21 set. 2018.

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 11 de 20 de outubro de 2000. Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel. Disponível em:

http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=7797. Acesso em: 11 set. 2018.

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A greve dos caminhoneiros e a segurança de alimentos

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Em que ponto a greve/paralisação dos transportes rodoviários pode comprometer a segurança de alimentos?

Um assunto recente surgiu e está preocupando muitas pessoas, uma forte recomendação de intensificar a fiscalização para verificar a qualidade dos alimentos que chegarão com o início da desmobilização dos caminhoneiros. As características principais para tal fiscalização seriam as sensoriais (cor, odor e textura) e os sinais de adulteração dos produtos que possam ser consequência, por exemplo, da quebra na cadeia de frio no transporte, o que pode interferir na segurança do alimentos.

O cenário atual proporciona às empresas a oportunidade de colocar em prática a sistemática recém estabelecida de Prevenção de Fraudes em Alimentos, requisito adicionado no esquema FSSC 22000.

Mas até que ponto podemos considerar a real possibilidade de fraude nos alimentos que estão parados na greve?

Diante do exposto, se de fato essa possibilidade vier a ocorrer podemos classificá-la como uma motivação de anomalia econômica.

De acordo com o Guia de Mitigação de Alimentos da USP / Food Chemicals Codex, este fator destina-se a descrever a vulnerabilidade dos ingredientes à fraude em alimentos com base em anomalias econômicas que acontecem no mercado para o ingrediente. Dado que a fraude em alimentos é impulsionada por oportunidades econômicas, anomalias na economia de alimentos específicos ou fontes de alimentos que podem ser um indicador de problemas potenciais. Os preços abaixo de mercado, especialmente para produtos em que os custos estão aumentando, ou os fornecimentos escassos, tem sido um indicador em casos de fraudes em alimentos.

Outro ponto, considerando também que os veículos devem fornecer proteção contra danos ou contaminação dos produtos e que o controle de temperatura e da umidade deve ser aplicado e documentado, um ponto extremamente importante a ser avaliado é a condição do caminhão, pois devido ao tempo de permanência nas estradas e sem a devida limpeza e higienização existe a possibilidade dele apresentar condições de risco aos materiais/insumos transportados.

De acordo com o site “O Globo”, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não tem nenhum plano de atuação nacional diante do risco de sanitário causado pela greve dos caminhoneiros. A reguladora orienta que os consumidores procurem as vigilâncias sanitárias, estadual ou municipal, da sua região, que respondem diretamente pela fiscalização.

Autor Convidado: Everton Bordignon

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Novos documentos de orientação sobre Mitigação de Fraude Alimentar e Defesa Alimentar – I

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Durante a reunião do Conselho de Partes Interessadas (BoS) de 10 de abril de 2018, foram tomadas várias decisões importantes relacionadas ao esquema FSSC 22000 versão 4.1. Os documentos de orientação e a lista de decisões do BoS podem ser baixados aqui.  Seguindo os requisitos de benchmarking do GFSI, a FSSC 22000 introduziu um capítulo sobre mitigação de fraude alimentar na versão mais recente do esquema (v4.1). Isso se tornou obrigatório a partir de 1º de janeiro de 2018 e inclui requisitos para uma Avaliação de Vulnerabilidade de Fraude Alimentar e um Plano de Prevenção de Fraude Alimentar aplicável a todos os produtos.

A relevância da fraude alimentar tem crescido nos últimos anos, em razão de uma série de escândalos que levaram à redução da confiança do consumidor na indústria de alimentos, internacionalmente.

Embora o fator que causa a fraude alimentar seja o ganho econômico, pode, ainda assim, resultar em riscos à segurança de alimentos. Tal risco é, muitas vezes, causado por negligência ou falta de conhecimento dos fraudadores. Já para o consumidor os riscos relacionados com a fraude alimentar podem ser:

  1. Riscos diretos de segurança de alimentos: o consumidor é colocado em risco imediato (exemplos: adição de melamina ao leite pó resulta em uma exposição extremamente tóxica; ocultação de substâncias que resultam em reações alérgicas);
  2. Riscos indiretos de segurança de alimentos: o consumidor é colocado em risco por exposição a longo prazo (por exemplo: altos níveis de metais pesados em suplementos alimentares causando danos – ou falta de benefício – por um longo período de tempo);
  3. Riscos técnicos de fraude alimentar: não há risco direto ou indireto de segurança de alimentos (por exemplo: deturpação de informações sobre o país de origem). Isto é conhecido também como “fraude mercadológica”. No entanto, este tipo de ocorrência indica que a rastreabilidade do material pode ter sido comprometida e que a empresa não pode mais garantir a segurança de seus produtos alimentícios.

Para os fabricantes de alimentos, o impacto econômico pode ser alto, como nos casos de recall, perda de vendas, custo de reconstrução da reputação, etc, mas também a confiança do consumidor é importante, não apenas para as empresas, mas também para a indústria de alimentos (setor) como um todo.

A fraude alimentar é tão antiga quanto a Roma antiga e nunca será totalmente eliminada, as ações tomadas visam minimizar a vulnerabilidade para a fraude alimentar, reduzindo as oportunidades para os fraudadores.

Pelos requisitos do esquema FSSC 22000 parte II (requisitos para certificação v4.1, item 2.1.4.4 sobre prevenção da fraude alimentar),  o plano de prevenção de fraude alimentar, apoiado pelo Sistema de Gestão de Segurança Alimentar da organização para todos os seus produtos, deve prever que:

1) Todas as políticas, procedimentos e registros estão inclusos;

2) Cumprir a legislação aplicável do país (ex.: Brasil, RIISPOA 2017 do MAPA).

3) Requisitos de mitigação, sendo recomendado:

  1. Estabelecer uma equipe de mitigação de fraude alimentar;
  2. Realizar uma Avaliação de Vulnerabilidade de Fraude Alimentar (FFVA);
  3. Identificar e selecionar medidas de mitigação proporcionais;
  4. Documentar a avaliação de vulnerabilidades, medidas de mitigação, verificação e gerenciamento de incidentes, procedimentos em um Plano de Mitigação de Fraude Alimentar apoiado pelo Sistema de Gestão de Segurança Alimentar;
  5. Desenvolver uma estratégia eficaz de treinamento e comunicação e implementar o plano de Mitigação de Fraude Alimentar.

Deve-se abordar todos os tipos de fraude alimentar, conforme definido pela GFSI (ou seja, substituição, melhorias não aprovadas, falsificação, falsificação, bens roubados ou outros); abordar todos os produtos de mercadorias recebidas (materiais, materiais de embalagem), bens de saída (por exemplo: produtos (semi) acabados). É importante notar que toda vulnerabilidade identificada não será automaticamente determinada como significativa e não será automaticamente exigido que seja tratada por uma medida de mitigação. É importante identificar muitas vulnerabilidades possíveis, para que possam ser avaliadas. Por exemplo: a presença de carne de cavalo na carne de vaca não era originalmente considerada uma vulnerabilidade que exigia uma medida de mitigação. Após incidentes graves, a avaliação de vulnerabilidade pode determinar que isso seja significativo de tal forma que medidas de controles sejam requeridas.

Continuaremos este assunto nos próximos dias. Fique atento!

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