4 min leitura
2

Susto no litoral!

4 min leitura

Inspeção de verão mostra os perigos escondidos em bares e restaurantes

Férias, praia, aquela fome… somos todos atraídos pela facilidade e disponibilidade dos restaurantes dispostos pelo litoral, mas você sabe como estão as condições sanitárias destes locais? Com o conceito “Antes de Comer, Melhor Saber”, a operação Programa Segurança Alimentar Verão 2016 realizada pelo Ministério Público do RS visava orientar o consumidor sobre as condições higiênico sanitárias de bares e restaurantes do litoral, a surpresa foi o alto índice de autuações efetivas de estabelecimentos comercializando produtos irregulares.

Entenda alguns motivos destas irregularidades:

  • A maioria dos restaurantes (principalmente em praias pequenas) abrem na temporada e passam o resto do ano fechados e abandonados, logo, os equipamentos ficam sucateados e enferrujados com a maresia;  
  • No calor as bactérias se proliferam com muita rapidez e por isso os alimentos estragam com facilidade;
  • Os colaboradores que atuam como cozinheiros e ajudantes não possuem treinamentos sobre as boas práticas de fabricação;
  • Há pouco índice de inspeção sanitária nestes locais;
  • Poucos funcionários para atender um grande número de clientes; muitos permanecem abertos o dia todo. Higienizar? Não é a prioridade neste período e sim faturar.

Para nós, profissionais da área, a  realidade apresentada na ação é comum, porém para os consumidores tudo isso é assustador. Conhecer os bastidores é algo cruel mas inevitável.

A cobrança por melhores condições exigida pela população é o caminho para mudar esta realidade, e por isso a importância de operações como essa.

Visualizar é a melhor forma de você tirar suas conclusões, observe as fotos  abaixo e os comentários:

programa_de_seguranca2

Foto 01 – Carne em bandejas: esta carne seria utilizada para preparar lanches!

Perigos:

  • Carne visivelmente deteriorada, segundo o MP, com cor, odor e temperatura fora do padrão. Sem proteção com tampa ou plástico, sem identificação de procedência, data de fabricação e validade.

Como deve ser:

  • Carne sensorialmente apropriada, com cor, odor e sabor característico. Temperatura padrão para alimentos resfriados: 0 a 4°C. Proteger com tampa ou plástico, colocar data de fabricação, validade e nome do produto (guardar notas de compra para comprovar procedência).

Foto 02 – Câmara de estocagem (eu considero uma câmara dos horrores)

Perigos:

  • Contaminação cruzada: carne bovina junto com carne suína, misturadas com caixa de papelão, salsicha;
  • Câmara com problemas de manutenção visíveis.

Como deve ser:

  • As matérias primas como as carnes devem ser separadas por tipo;
  • Caixas de papelão são sujas e contaminadas e devem ser estocadas em câmaras separadamente, nunca com matéria prima;
  • A manutenção deve ser periódica conforme cronograma ou quando necessário;
  • Pela foto percebe-se uma superlotação desta câmara e provavelmente ela não atinge a temperatura necessária.

Estes casos, esta realidade, são frustrantes, trabalhamos com empenho para implantar sistemas seguros em cadeias muito mais complexas. Várias vezes já questionei e nunca obtive estas respostas: Como seres humanos podem colocar em risco a vida de outro ser humano sem a menor piedade? Eles comeriam isso? Na casa deles é assim?  Fiz essas perguntas pela primeira vez quando periciei uma cozinha de  um hotel interditado pela vigilância sanitária, em que uma das situações era a presença de um rato morto em cima de uma peça de salame que seria servido no café da manhã dos hóspedes, e infelizmente, com casos como esse do litoral gaúcho, continuo sem respostas.

Saiba mais sobre a operação lendo o texto a seguir.

Programa de Segurança Alimentar apreende 9 toneladas de alimentos no litoral Gaúcho

As ações de fiscalização e orientação aos consumidores do Programa Segurança Alimentar Verão 2016 realizadas nas cidades de Capão da Canoa, Imbé e Tramandaí já apreenderam, até o dia 13 de janeiro desse ano, nove toneladas de alimentos impróprios para o consumo. O objetivo dessas ações é fazer cumprir normas de armazenamento, refrigeração, higienização e segurança alimentar dos produtos fiscalizados.

Em Capão da Canoa a ação ocorreu nos dias 7 e 8 de janeiro e resultou na interdição de um estabelecimento na Estação Rodoviária do Município, os estabelecimentos Raupp’s e Petiskos. Nesses locais foram apreendidas cerca de duas toneladas de alimentos impróprios para o consumo. Os estabelecimentos que regularizaram as questões sanitárias receberam a liberação no dia seguinte.

Na cidade de Tramandaí os Promotores de Justiça atuaram os estabelecimentos Raio X, Gaivotas e Figueirense, onde apreenderam 1,5 toneladas de alimentos na terça-feira, dia 12 de janeiro.                                                   

Em Barra do Imbé, na cidade de Imbé, os promotores além de apreenderem cerca de uma tonelada de alimentos impróprios nos estabelecimentos Petiscaria 007, Confraria da Praia e Lua Mar, o motorista de um caminhão da Prefeitura foi preso após desacatar promotores e equipe que atuavam na ação.

As ações que ocorrem no litoral do Rio Grande do Sul há uma semana visam coibir a venda de produtos inadequados que possam acarretar risco à saúde do consumidor que frequenta o litoral, conforme explica Caroline Vaz, coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Consumidor.

As ações de fiscalização contam com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Segurança Alimentar e da Promotoria de Defesa do Consumidor de Porto Alegre, além da Brigada Militar, Conselho Regional de Medicina Veterinária e Agas.

Segundo a assessoria de imprensa do MPRS, a operação Programa Segurança Alimentar Verão 2016 aconteceu entre os dias 07 e 15 de janeiro de 2016, foram fiscalizados 41 restaurantes, destes 16 foram interditados.

Fonte: Ministério Público do Rio Grande do Sul.

4 min leituraInspeção de verão mostra os perigos escondidos em bares e restaurantes Férias, praia, aquela fome… somos todos atraídos pela facilidade e disponibilidade dos restaurantes dispostos pelo litoral, mas você sabe […]

4 min leitura
1

A força do consumidor na cadeia produtiva de alimentos

4 min leitura

Em novembro de 1996, um teste feito com 12 marcas de sal de cozinha vendidas no Brasil constatou que a metade delas estava com dosagem errada de iodo. A adição de iodo no sal é exigida por lei desde 1953 para a prevenção do bócio endêmico e do cretinismo.

A razão da falta era que o Ministério da Saúde não vinha fornecendo regularmente o iodo para as empresas. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) cobrou do governo providências para a regularização do fornecimento de iodo e uma melhor fiscalização do produto. Em agosto de 1999, a repetição do teste com 20 marcas detectou que ainda havia duas marcas de sal com iodo insuficiente. Desta vez, o Ministério da Saúde interditou as marcas com problemas e reforçou a fiscalização sobre o setor. No final de 2000, 11 marcas de sal haviam sido interditadas pela Anvisa, inclusive as duas identificadas pelo Idec. Relatos como este foram feitos na apresentação de Ana Paula Bortoletto Martins, do Idec, durante o IV Encontro de Profissionais da Garantia da Qualidade (ITAL, 04 e 05 de setembro de 2013).

O Idec é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que não aceita recursos de empresas e de partidos políticos, sendo mantido principalmente pela contribuição de seus associados, o que garante sua independência. Um dos temas prioritários da entidade são os alimentos, avaliados quanto à rotulagem, composição, informações do SAC, publicidade, etc. Testes e pesquisas recentes do Idec tiveram boa repercussão na mídia. Ana Paula destacou alguns exemplos:

1)     Rótulo x composição de fruta – foram analisadas as embalagens de 18 produtos de 15 marcas, incluindo iogurtes, refrescos em pó, néctares, gelatinas, sorvetes e isotônicos.  O estudo constatou que 8 produtos que usavam nome e imagem de fruta nos rótulos não continham fruta em sua composição. Entre os que continham fruta, apenas os refrescos em pó declaravam a quantidade de fruta presente (porque são obrigados por norma), porém a proporção é de apenas 1%. O Idec também alertou para o excesso de açúcar e a presença de aditivos em alguns sucos de frutas prontos para beber.

2)     Acordo governo e indústrias para redução de sódio – Em outro estudo recente, o Idec verificou os teores de sódio de 530 alimentos de oito categorias que fazem parte dos acordos firmados entre o Ministério da Saúde e as Associações das Indústrias para redução dos níveis deste ingrediente (veja detalhes aqui). A análise constatou que a maioria dos fabricantes não vai precisar reduzir a quantidade desse ingrediente em seus produtos, pois boa parte deles já tem, atualmente, teor de sódio dentro das metas estabelecidas para os próximos anos. Portanto, os tais acordos têm pouco efeito prático e não melhoram significativamente a qualidade da alimentação da população brasileira.

3)     Teor de cacau no chocolate – Considerando que uma norma da Anvisa estabelece um mínimo de 25% de cacau na composição dos chocolates vendidos no país, o Idec comparou chocolates ao leite, meio amargo e amargo das 11 marcas mais comercializadas no Brasil. O teor de cacau não aparece nas embalagens de chocolates ao leite e de muitos chocolates meio amargo e amargo. Dos oito chocolates meio amargo pesquisados, apenas três têm a informação. Tentativas de obter a informação com o SAC das empresas resultaram em apenas dois sucessos. Uma empresa afirmou, por exemplo, que esse dado é “segredo de fábrica”.

4)     Teste do Queijo Minas – Pesquisa analisou 25 amostras de queijo minas frescal, verificando a quantidade dos principais nutrientes presentes no produto: proteínas, gorduras (saturadas e insaturadas) e sódio. Os valores detectados foram comparados com os declarados nas tabelas nutricionais presentes nas embalagens dos produtos. Todas as amostras informavam erradamente a quantidade de, pelo menos, um nutriente. As maiores variações entre o valor do rótulo e o real foram identificadas nos queijos light. O pior caso foi uma diferença de 932% a mais de gorduras totais em relação ao que é declarado. Nos testes microbiológicos, das 25 amostras analisadas, cinco estavam contaminadas com coliformes fecais. 

5)     Rotulagem de Transgênicos – Decreto federal de 2003 estabelece que alimentos que contenham mais de 1% de produto transgênico são obrigados a incluir na embalagem o símbolo do triângulo amarelo com a letra T no interior. O Idec analisou 5 categorias de alimentos que continham milho, confrontando a presença/ausência do símbolo na embalagem com a informação do SAC das empresas em relação à presença/ausência de transgênicos. Uma marca tradicional do mercado informou pelo SAC que todos os seus produtos derivados de milho contem transgênicos, porém não existe o símbolo indicativo nas suas embalagens. Outra marca que contém transgênico faz a indicação no rótulo de forma incompleta, inserindo o símbolo, porém não informando nos ingredientes a espécie doadora dos genes, o que também é mandatório no decreto. Ana Paula lembrou que tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que pretende eliminar esta declaração obrigatória (PL 4148/08). Diante dessa ofensiva, o Idec, em parceria com diversas entidades lançou a Campanha Fim da rotulagem dos alimentos transgênicos: diga não! Clicando aqui é possível obter mais detalhes e unir-se à campanha.

A campanha dos transgênicos é um exemplo de como o Idec pode contribuir para a implantação e o aprimoramento da legislação de defesa do consumidor,  que é um dos seus objetivos declarados. Neste sentido, o Instituto considera que “ser um consumidor cidadão é parte da solução”. 

Você pode acessar a apresentação completa de Ana Paula Bortoletto Martins e as outras palestras do IV Encontro de Profissionais da Garantia da Qualidade na página da Sbcta, clicando aqui.

Leia também:

Poluentes Orgânicos Persistentes: eles estão entre nós

Alimentos “politicamente seguros”: arsênio, agrotóxicos e mais

O pesticida carbendazim no suco de laranja

4 min leituraEm novembro de 1996, um teste feito com 12 marcas de sal de cozinha vendidas no Brasil constatou que a metade delas estava com dosagem errada de iodo. A adição […]

Food Safety Brazil Org

CNPJ: 22.335.091.0001-59

organização sem fins lucrativos

Produzido por AQMKT
© 2020, Themosaurus Theme
Compartilhar
Pular para a barra de ferramentas