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Desafios e práticas de Segurança de Alimentos no abate e processamento de jacarés

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O abate e processamento de jacarés no Brasil é uma atividade única, que exige uma série de adaptações para garantir a segurança dos alimentos, diferentemente do que ocorre com o de animais mais comuns, como bovinos, suínos e aves. Nesta entrevista exclusiva com uma profissional especializada*, exploramos os principais desafios, práticas de higienização e regulamentações envolvidas no abate e processamento de jacarés, proporcionando uma visão detalhada desse processo que é ainda pouco conhecido.

A partir dessa conversa, fica claro que o controle rigoroso desde a criação até o abate é fundamental para assegurar a qualidade e a segurança microbiológica da carne de jacaré. As práticas adotadas, embora semelhantes em alguns aspectos às de outros abatedouros, têm suas particularidades, especialmente devido às características biológicas dos jacarés e às condições específicas de seu manejo.

1) Quais são os principais desafios relacionados à segurança de alimentos durante o abate de jacarés, especialmente em comparação com o abate de outros animais mais comuns como bovinos e aves?

Além de todos os itens habituais, determinados pelo plano de autocontrole para garantir a inocuidade do que é produzido, há vários desafios a serem encarados, ao se tratar da segurança de alimentos no abate de crocodilianos, alguns semelhantes e outros bastante distintos de outras espécies:

– Chegada dos animais: Os animais são transportados da criação ao frigorífico em veículos adaptados. Ao chegarem são acomodados em baias de espera, onde permanecem em jejum, apenas com água potável. Esse jejum pode durar entre 18 e 72h, pois os jacarés são pecilotérmicos e, em temperaturas mais baixas, o metabolismo dos jacarés cai, desacelerando o esvaziamento do trato gastrointestinal. A quantidade de trocas de água nessa baia também varia de acordo com a temperatura ambiente.

Foto 01 – Baia de espera

– Abate: Após a inspeção ante mortem os animais são liberados e encaminhados para uma baia de recepção, dentro da sala de abate, dotada de água hiperclorada, com teor de cloro entre 3 e 10 ppm.

Foto 02. Baia de recebimento sala de abate

Na sangria, quando ocorre o içamento do animal a nória, é feita a introdução de um algodão embebido em água hiperclorada na cloaca dos jacarés, também para evitar o extravasamento de conteúdo. É válido descrever aqui a forma como a sangria é realizada. Nos outros animais de açougue, a sangria ocorre no pescoço bilateral, para seccionar os grandes vasos da região como carótida e jugular. Já no caso dos crocodilianos, a sangria ocorre através de uma secção profunda na região occipital (“nuca”) de modo a cortar todos os plexos venosos locais. Após essa operação, ocorre a secção da medula e a desmielinização da medula, com estilete, com o objetivo de impedir com que os nervos sejam capazes de conduzir corretamente as mensagens para o cérebro e evitar movimentos espasmódicos contínuos.

Foto 03 – Sangria

– Temperatura ambiente: A temperatura da sala de abate é sempre inferior a 16ºC. No setor de miúdos e desossa, as temperaturas devem ser sempre de 14ºC ou menos.

Portanto, o grande desafio relacionado à segurança dos alimentos é padronizar as atividades de inspeção e autocontrole, uma vez que é um segmento que carece de maior arcabouço regulatório do MAPA. O grande esforço dos agentes privados que atuam nesse segmento é validar suas atividades junto aos órgãos de fiscalização sanitária.

2) Como é feita a inspeção sanitária dos jacarés antes e depois do abate, e quais são os principais patógenos de preocupação nesse tipo de processamento?

Os animais chegam ao frigorífico acompanhados do documento de transporte (o DTA – Documento de Trânsito Animal ou a GTA – Guia de Trânsito Animal, dependendo de cada caso de transporte) e com base neste documento serão elaboradas a escala de abate e as fichas de baia. O auditor fiscal federal agropecuário (AFFA), do SIF/MAPA, realiza a Inspeção Ante Mortem, observando a presença de lesões externas ou alterações comportamentais. Após isso, os animais são liberados para abate.

Na sala de abate as carcaças passam por inspeção, observando a presença de alterações ou lesões macroscópicas. Se existirem alterações na cor da carcaça, odor diferenciado, formação de abcessos, as carcaças devem ser encaminhadas ao DIF (Departamento de Inspeção Final) e avaliadas caso a caso, dando julgamento e destino adequado ao produto. Na inspeção de linha dos jacarés não há uma divisão pré-estabelecida em legislação, como acontece por exemplo no setor de aves, que possui inspeção de Linha “A” para “interna”, Linha “B” para “vísceras e miúdos” e Linha “C” para “externa”.

Foto 4 – Inspeção de carcaça
Foto 5 – Inspeção de miúdos

Os miúdos são avaliados junto à carcaça e depois de desprendidos vão para mesa, onde serão lavados, separados e inspecionados individualmente, sendo observada qualquer alteração em sua cor, tamanho, consistência ou espessura de cápsula.

Foto 6 – Escorrimento de miúdos após inspeção

Na legislação brasileira, não estão descritos achados pós mortem ou o destino das carcaças, parte de carcaças ou órgãos afetados. Dessa forma, qualquer situação diferente do esperado fisiologicamente, é avaliada com cuidado.

Foto 7 – Após liberadas, carcaças ficam na câmara de resfriamento.

Por serem abatidos animais criados em situação controlada e relativamente jovens (entre 24 e 36 meses), praticamente não há a ocorrência de helmintos. Dessa forma, o principal patógeno é a Salmonella spp que é um gênero de microrganismos que podem estar presentes normalmente no trato gastrointestinal dos jacarés, e geralmente não causam danos à saúde animal, mas pode haver consequências para saúde humana caso haja consumo de carne com presença de espécies ou sorotipos patogênicos.

3) Existem práticas específicas de higienização adotadas no processamento de jacarés para garantir a segurança do produto final? Como essas práticas se comparam com as usadas em outros tipos de abatedouros?

A higienização de um abatedouro frigorífico de crocodilianos é bastante semelhante à das outras espécies, de certa forma até mais simples. A coagulação sanguínea é mais rápida e a quantidade de gordura presente no abate é muito menor, comparadas às espécies dos animais de açougue como bovinos e suínos. Na sala de abate, durante as operações não são observadas grandes quantidades de sangue, conteúdo gastrointestinal e gordura, como de praxe na rotina de outros abatedouros, então o abate está sempre com uma aparência “limpa”. Essa situação operacional mais controlada facilita a remoção de matéria orgânica de superfície para melhor eficácia da etapa seguinte, a sanitização, em atividades de higienização pré-operacional.

Com relação ao APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), a planta em que atuo possui apenas um PCC, em sua análise de risco, que é biológico e tem como objetivo controlar a contaminação cruzada do conteúdo gastrointestinal, biliar e da glândula paracloacal para a carcaça.

Foto 8 – Abertura da cavidade

Foto 9 – Toalete e PCC 1B (Contaminação Fecal, Biliar e da Glândula Paracloacal)

Foto 10 – Desossa

4) Como as condições de criação e manejo dos jacarés antes do abate influenciam a qualidade e a segurança microbiológica da carne?

Não há como dissociar a forma que esses animais foram criados da qualidade e segurança dessa carne.

Os jacarés são criados desde a incubação, com alimentação controlada e de qualidade, sem acesso a ambientes ou alimentos externos que possam trazer parasitas ou contaminantes. A água da criação é utilizada toda em ciclo fechado, sendo realizada a filtração natural e biorremediação. Dessa forma, são desenvolvidas bactérias positivas, que decompõem as toxinas e evitam a proliferação de microrganismos nocivos.

Outro aspecto importante é em relação ao bem-estar animal. Existe um rigoroso controle e procedimentos operacionais bastante rígidos que buscam manter o estado de bem-estar animal durante todo o processo, desde a incubação até o abate e isso afeta a qualidade e segurança da carne de maneira muito positiva.

Foto 11 – Ovoscopia
Foto 12 – Criação Controlada

5) Quais são as regulamentações específicas que orientam o abate e o processamento de jacarés no Brasil, e como elas garantem a segurança dos alimentos para o consumidor final?

Temos as legislações ambientais, que regulamentam e dispõem sobre a criação e a comercialização de partes e produtos, no geral específicas e adaptadas aos crocodilianos.

O maior desafio ocorre no processo de abate, pois não existem normas específicas e os crocodilianos são incluídos na categoria dos pescados. As orientações gerais para todas espécies em relação aos procedimentos de abate, inocuidade, bem-estar etc. são as que servem de parâmetros.

Nenhum dos produtos comestíveis é regulamentado, por isso são utilizadas as normas para pescado em sua obtenção.

Nota: as fotos anexadas ao texto supracitado foram cedidas pela profissional entrevistada, oriundas de seu arquivo pessoal, portanto deve-se respeitar os direitos autorais e de propriedade intelectual.

*Nossa entrevistada é Thaís Cristina Vieira Vianna, médica veterinária, especialista em Gestão de Segurança de Alimentos, Tecnologia de Carne e Derivados e Medicina Veterinária de Animais Silvestres. Responsável Técnica, responsável pelo Controle de Qualidade em abatedouros frigoríficos há 18 anos e consultora em entrepostos, açougues e supermercados há 12 anos. Atualmente é médica veterinária da Caimasul, abatedouro frigorífico de crocodilianos.

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Influência da apanha na cadeia produtiva de frangos de corte

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A apanha de frangos de corte desempenha um papel fundamental na cadeia produtiva da indústria dos alimentos. Além de impactar diretamente o Bem-estar Animal, a forma como os frangos são manuseados durante esse processo também afeta a qualidade da carne e a eficiência geral da produção. 

 

A cadeia produtiva de frangos de corte é uma das mais relevantes do agronegócio. A boa conversão alimentar dos frangos possibilita um ciclo produtivo rápido, que aliado à alta produção, caracterizam o dinamismo da avicultura industrial, principalmente se comparada com as demais espécies de produção animal. Somado a isso, a crescente predileção dos consumidores pela carne de frango é notável, e alguns fatores que contribuem para isso são o custo acessível, a versatilidade de preparo e a qualidade nutricional. Essa junção de aspectos impulsiona cada vez mais a competitividade no mercado. 

Entretanto, por ser uma atividade tão intensa, constantes desafios vêm sendo observados. O destaque é para o bem-estar dos frangos de corte, que isso influencia positivamente na qualidade de sua carne. Dentre os fatores que podem afetar o bem-estar das aves e interferir nos atributos da carcaça destacam-se os erros de manejo nas fases de criação, pré-abate e processamento, que podem desencadear hematomas e fraturas, com perdas significativas para a produção avícola.  

 

Manejo pré-abate: impactos críticos na qualidade da carne e no Bem-estar Animal 

A execução de um manejo pré-abate criterioso é uma necessidade evidente, sendo o momento da apanha considerado um ponto crítico de controle. Essa etapa ocorre quando os frangos atingem o peso de abate do mercado, sendo capturados por colaboradores e conduzidos ao abatedouro. Dentre as operações pré-abate, essa é a que mais gera injúrias físicas e estresse. 

Nesse período, nota-se o maior percentual de hematomas no peito, provenientes de falhas humanas, pela colocação rápida dos frangos nas caixas de transporte, além de quebra de asas. Somado a isso, as rotas de fuga criadas pelas aves fazem com que umas se aglomerem sobre as outras, expondo os animais a altos níveis de estresse, com susceptibilidade à ocorrência de arranhões, contusões e, por conseguinte, depreciação da carcaça.  

Em casos mais graves, as principais causas de mortes por trauma durante a apanha acontecem quando o funcionário suspende a ave por uma perna só, ocorrendo o bater excessivo das asas, com uma torção leve da pelve, ocasionando deslocamento ou fratura do fêmur. Através disso, o osso é compelido para o interior da cavidade abdominal, podendo romper os sacos aéreos e ocasionar a entrada de sangue nos pulmões.

 

Análise das causas e incidências dos hematomas pré-abate

De modo geral, aproximadamente 90 a 95% dos hematomas de frangos de corte ocorrem durante as 12 horas que antecedem o abate. Destas lesões, 35% são causadas pelo criador devido ao manejo impróprio da cama e alta densidade de alojamento, 40% no decorrer da apanha e o restante durante transporte, descarga e pendura.   

Além disso, a coloração do hematoma varia em função do tempo entre a ocorrência da contusão e o momento de avaliação no abate. Os hematomas com coloração roxo escuro formam-se em até 12 horas, o que corresponde ao período de apanha. De acordo com Tomasi (2010), os locais que apresentam maiores incidências de contusões e hematomas são: peito (39 a 56%), pernas (25 a 30%) e asas (18 a 31%). 

 

Métodos de apanha de aves: abordagens e desafios 

Com relação aos métodos de apanha utilizados no Brasil, é possível capturar manualmente as aves pelas pernas ou pelo dorso. Na apanha pelas pernas, os frangos são pegos pelos dois membros e colocados de cabeça para baixo. É um método mais rápido e exige menos colaboradores; no entanto, essa prática inversa acarreta estresse e pode resultar em fraturas devido aos movimentos bruscos, tornando-a ineficiente. 

Já na apanha pelo dorso, as asas são pressionadas junto ao corpo das aves, impossibilitando-as de bater. Com isso, o número de ocorrências de lesões diminui, resultando em maior proteção à integridade física dos animais. É o método menos estressante, desde que as aves sejam levantadas e carregadas corretamente dentro das caixas. Seguindo as recomendações nacionais e internacionais de bem-estar animal (ABPA, 2016; OIE, 2017; DEFRA, 2002), os frangos devem ser pegos pelo dorso. 

É importante salientar, contudo, que a apanha pelo dorso eleva os custos e o tempo nos carregamentos. Ainda assim, trata-se da melhor alternativa em termos de qualidade da carcaça. Esse fato é corroborado nos estudos de Kittelsen e colaboradores, ao concluírem que a apanha pelo dorso proporcionou menos danos ao bem-estar das aves. 

 

Boas práticas de manejo durante a apanha 

Para garantir o bem-estar durante a apanha, é importante priorizar os seguintes fatores: realização no período noturno, temperaturas mais amenas e capacidade visual dos frangos reduzida, contribuindo para diminuir a agitação dos animais. Durante o processo, é importante não esquecer de remover os comedouros e bebedouros para evitar acidentes. Uma recomendação válida é subdividir as aves em grupos, tornando mais fácil a contenção e apanha, o que reduz o risco de lesões na pele. Os funcionários, por sua vez, devem fechar as caixas com cuidado, deslizando-as suavemente para garantir o bem-estar das aves.  

Caso a apanha seja realizada no período diurno, deve-se utilizar cortinas sobre as portas para minimizar a intensidade de luz do galpão. E a ventilação deve ser controlada para evitar estresse por calor, a fim de precaver a incidência de aves ofegantes.

 

A certificação de Bem-estar Animal é uma abordagem abrangente que vai além da criação e engloba todas as etapas da vida dos animais, incluindo o abate. Baseada na prevenção de doenças, tratamento veterinário, proteção, manejo e nutrição adequada, essa certificação busca garantir que os animais sejam não apenas criados, mas também abatidos de forma respeitosa e humanitária, aponta Roberta Cunha, Gerente de Operações da QIMA/WQS, certificadora global que tem a Certificação de Bem-estar Animal como uma das principais soluções em sua cartela de serviços. 

 

A importância da capacitação dos funcionários 

Para mitigar os efeitos negativos do manejo pré-abate sobre o bem-estar animal, é importante investir em treinamentos constantes e capacitação dos funcionários. As aves devem ser apanhadas cuidadosamente, seguindo os procedimentos padronizados.  

No intuito de melhorar o bem-estar dos frangos, reduzir hematomas e alcançar ganhos econômicos, é conveniente considerar a bonificação dos resultados dos funcionários. É essencial, ainda, que todo esse processo seja supervisionado por um líder, garantindo a redução de contusões e fraturas que possam resultar na condenação de partes valiosas da carcaça, como peito, coxa, sobrecoxa e asas. 

 

Promovendo o Bem-estar Animal e a qualidade da carne 

A influência da apanha na cadeia produtiva de frangos de corte é de extrema importância, afetando tanto o Bem-estar Animal quanto a qualidade da carne produzida. É crucial adotar medidas de manejo pré-abate criteriosas, capacitar os colaboradores envolvidos e implementar práticas que promovam o bem-estar dos animais. Somente assim será possível garantir uma cadeia produtiva mais sustentável, com frangos de corte saudáveis, produtos de qualidade e a satisfação de todos os envolvidos, dos produtores aos consumidores. 

 

Saiba mais sobre as certificações de Bem-estar Animal através do guia, disponível no link https://wqs.com.br/bem-estar-animal. 

 

Artigo desenvolvido por Mariana Rodrigues, Analista Técnica na QIMA/WQS. 

 

Contato: 

Departamento de Marketing 
marketing@wqscert.com

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Em quais casos tenho abate sanitário num abatedouro-frigorífico de frangos?

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No post “A contribuição da inspeção ante-mortem de frangos para a segurança de alimentos” prometi que explicaria a questão do abate sanitário de lotes de frangos em caso de jejum não respeitado. Contudo, aproveito o espaço para dizer como é o abate sanitário e em quais outros casos posso tê-lo numa planta abatedora de frangos.

Vamos considerar os seguintes lotes para abate sanitário:

  • Período de jejum mínimo não respeitado
  • Aves com papo cheio
  • Suabe de arrasto com laudo positivo para Salmonella spp.
  • Período de carência de medicamentos não respeitado

As experiências compartilhadas estão pautadas na minha vivência e podem mudar de empresa para empresa, pois dependem dos planos de autocontrole aprovados pela autoridade sanitária competente.

Primeiramente, como é o abate sanitário?

Ele pode estar contemplado no Plano APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), PSO (Procedimento Sanitário Operacional) ou PPHO (Procedimento Padrão de Higiene Operacional) da empresa e seu objetivo principal é evitar a contaminação cruzada no processo. Resumidamente, ele pode ocorrer da seguinte maneira (podendo variar de acordo com cada plano aprovado nas empresas):

  1. O lote suspeito é abatido no final do turno de abate do dia;
  2. Após o final do abate do último turno, aguarda-se um determinado tempo para que as carcaças do lote anterior saiam totalmente do pré-chiller;
  3. As aves podem entrar no abate em velocidade de linha reduzida, em caso de papo cheio ou jejum mínimo não respeitado, para minimizar a contaminação cruzada e melhorar a qualidade do serviço da inspeção post-mortem e do PCC 1B (contaminação fecal e biliar);
  4. Quando este lote entrar no pré-chiller e chiller, não deve haver nenhuma outra carcaça do lote anterior;
  5. Após saída do chiller e destinação para cortes, os produtos podem ser sequestrados para análise laboratorial para casos de período de carência de medicamento não respeitado ou desabilitação do lote para certos mercados, como o europeu, em casos de suabe de arrasto positivo para Salmonella spp;
  6. Após o término do abate sanitário a planta é submetida ao rigoroso processo de PPHO (higiene operacional) conforme descrito no plano da empresa.
  1. Período de jejum mínimo não respeitado

O colaborador do serviço de inspeção oficial, ao executar a inspeção ante-mortem, se atenta para essa informação mediante os documentos: FAL (Ficha de Acompanhamento do Lote) e Boletim Sanitário. Se no momento do abate o jejum for inferior ao mínimo exigido, o lote será considerado como risco de contaminação microbiológica por Salmonella sp.. Este risco se dá pelo fato de as vísceras das aves estarem repletas de conteúdo fecal e aumentar as chances de disseminação da bactéria nos produtos e na planta. Portanto, o lote é submetido ao abate sanitário.

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Figura: Boletim Sanitário contendo informação da data e hora da retirada da alimentação.  Fonte: arquivo pessoal

Claro que a empresa pode optar por abater este lote mais adiante, colocando outros (com período de jejum conforme) à frente. O problema é quando não há mais nenhum lote para ser abatido e consequentemente só resta este para abater. Por outro lado, se o tempo de espera for muito longo (mais que 12 horas) para atender o período mínimo de jejum, haverá falha de Bem Estar Animal.

  1. Aves com papo cheio

O colaborador do serviço de inspeção oficial pode detectar, durante o exame visual e palpatório das aves, a presença de muitas aves com PAPO CHEIO.

abate sanitario ii

Figura: Palpação do papo durante a inspeção Post-mortem. Fonte: arquivo pessoal

Por que se preocupar com o papo cheio?

O tempo de jejum dos frangos não deve ser maior que dez horas, tempo este que inclui o transporte e a espera na plataforma do abatedouro. Um período maior que este faz com que a ave fique estressada e elimine uma quantidade maior de Salmonella spp, aumentando a contaminação cruzada entre aves. O consumo de cama, que permite o papo cheio, também pode ser intensificado pela ave enquanto no aviário pela procura de alimento, o que aumenta a ingestão da bactéria. O jejum muito prolongado torna a parede intestinal mais frágil, o que leva a um maior número de rompimentos durante o processo de abate.

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Fonte: arquivo pessoal

Portanto, nesses casos de detecção de lote com papo cheio, o mesmo deverá ser submetido ao abate sanitário, devendo ser encarado como um risco sanitário semelhante à contaminação fecal.

  1. Suabe de arrasto com laudo positivo para Salmonella spp

De acordo com a IN 20/2016 do MAPA, todos os lotes que chegarem ao abatedouro devem ter sidos submetidos previamente à pesquisa de Salmonella spp por suabe de arrasto das granjas. O verso do Boletim Sanitário traz as informações dessa análise e uma vez positivos, são submetidos ao abate sanitário e a produção é desviada para mercados que não restringem a presença do patógeno. Vale lembrar que, pela IN 20/2016, estes lotes positivos são obrigatoriamente tipificados para S. Typhimurium, S. Enteritidis, S. Gallinarum, S. Pullorum, ou seja, todas aquelas contempladas no PNSA (Programa Nacional de Sanidade Avícola).

  1. Período de carência de medicamentos não respeitado

Constando na Ficha de Acompanhamento do Lote (FAL) ou Boletim Sanitário o uso de algum medicamento para o qual não tenha sido respeitado o período de carência, o lote é submetido ao abate sanitário. Toda produção é sequestrada e amostras são enviadas para análise da droga. Com a chegada do resultado laboratorial é possível dar o devido destino ao produto. Se estiver abaixo do LMR (Limite Máximo de Resíduo) permitido para aquela droga (baseado no Codex Alimentarius) a venda está autorizada. Evidente que há mercados que podem restringir a venda como o Japão que proíbe o uso de Nicarbazina, então o destino deve passar pelo crivo do Controle de Qualidade. Caso esteja acima do LMR, não é permitido enviar para graxaria, sendo o destino correto o aterro sanitário.

E você, já presenciou algum caso de abate sanitário em aves? Conte-nos sua experiência ou se tiver dúvidas, envie-nos sua questão.

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