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Responsável por Food Safety da Vila dos Atletas da Olimpíada do Rio conversa com o blog

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O mundo dos esportes em 2016 foi marcado por diversos acontecimentos e um deles foram os Jogos Olímpicos do Rio. A cerimônia de abertura foi elogiada pela crítica mundial, conquistamos a tão sonhada medalha de ouro no futebol de Neymar, e fomos ouro também no vôlei de Bernardinho, enfim houve momentos de alegria. Todavia, algo em que fiquei pensando, como profissional da Segurança de Alimentos, foi: “Como foi todo o preparo, manipulação e cuidados gerais com a alimentação dos atletas e pessoas envolvidas dentro da Vila Olímpica”?

Em busca de respostas, o blog resolveu entrevistar o profissional Geidemar Ferreira Oliveira, que atuou como Responsável por Food Safety na Vila dos Atletas e fez parte do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio 2016.

  1. Como você entrou para o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016? E o que o motivou?

A motivação foi poder fazer parte do maior evento esportivo e da maior operação de produção de alimentos do mundo. Entrei para o Comitê após entrevista para entendimento do conhecimento na área dos alimentos. O foco foi Food Safety e operacional. Meu currículo foi entregue à Gerencia Geral da área de alimentos e bebidas e após a entrevista eu fui contratado. Havia da minha parte, o interesse em trabalhar com grandes volumes de produção, o que só aconteceria na Vila dos Atletas. Houve uma primeira entrevista com o coordenador operacional do setor e uma segunda com a gerência de alimentos e bebidas da Vila dos Atletas.

  1. Qual foi seu cargo dentro do comitê e quais eram suas atribuições e responsabilidades?

Temos que dividir o projeto em duas partes, o planejamento e a execução:

Planejamento:

Na fase de planejamento da operação, atuava como Especialista em Alimentos e Bebidas. Durante esta fase foi projetada toda a operação de A&B dentro da Vila dos Atletas e demais instalações. Um ano antes do evento, começamos as reuniões para definição da operação junto ao Caterer, a quem estaríamos terceirizando a operação dentro da Vila dos Atletas. Foram definidas estratégias e tomadas ações na área de recursos humanos, suply chain, tecnologia da informação, sustentabilidade, infraestrutura, equipamentos, saúde do trabalhador, programação da produção e qualidade, sempre com o foco na segurança dos alimentos.

Um tópico que merece ser comentado é a contratação dos equipamentos para a Vila dos Atletas. Boa parte dos equipamentos vieram de navio, de várias partes do mundo, via uma empresa britânica. A definição dos modelos a serem utilizados e a sua quantidade foram itens discutidos exaustivamente. Vale lembrar que, por se tratar de um evento extremamente dinâmico, não existia um quantitativo de refeições real.

Um ponto importante a ser considerado, em relação aos equipamentos, é a redução de custos proporcionada pela equipe ao Comitê, sem deixar de atender à demanda necessária.

O mais gratificante nesta fase do projeto foi ter participado de todas as fases, da elaboração das plantas baixas dos locais de produção de alimentos na Vila dos Atletas, até a completa execução do projeto olímpico.

Várias reuniões e adequações foram feitas no intuito de garantir a segurança dos alimentos e atender à legislação vigente no Brasil. Temos que salientar que havia muitos estrangeiros no projeto e também uma equipe multidisciplinar sem conhecimento específico na produção de alimentos ou da legislação nacional.

Foi interessante também participar da elaboração e revisão da documentação de Food Safety que foi utilizada em todas as operações de alimentos e bebidas nos Jogos. Uma das ações mais relevantes foi a participação na elaboração do checklist de Food Safety que foi utilizado em todos os locais de produção e distribuição de alimentos vinculados ao Comitê Rio 2016. Este documento foi a base para a criação de um software fundamental para o monitoramento e tomada de decisões durante as operações. Este checklist foi criado tendo como referência a Norma NBR 15635 da ABNT (Boas Práticas para Serviços de Alimentação). Esta foi uma importante contribuição visto ter participado da revisão desta Norma em 2015.

Outra parte interessante nesta fase foi a participação na elaboração da matriz de KPI’s do projeto. Durante esta fase de planejamento, pude participar também da elaboração do leiaute estrutural das cozinhas-containers utilizadas em diversas instalações, bem como na seleção dos equipamentos a serem utilizados nestes locais.

A análise das estruturas físicas existentes referentes à cadeia de produção dos alimentos nos estádios de futebol também fez parte do escopo.

A maior lição aprendida nesta fase foi a gestão de mudanças. Tudo no Comitê era muito dinâmico e tínhamos que assimilar e reagir na mesma velocidade.

Operação:

A operação de alimentos e bebidas da Vila dos Atletas foi a primeira a começar e a última a terminar dentre todas as instalações. Foram três meses chegando a servir 75.000 refeições/dia no pico da operação. O horário de funcionamento era 24h/dia, sete dias por semana.

Servíamos toda a força de trabalho, terceirizados que contrataram o serviço, todos os atletas, comissão técnica e árbitros.

Nesta fase, atuei como Gerente Adjunto Serviços de Alimentação, sendo responsável por Food Safety e manutenção da estrutura predial e equipamentos.

Havia dois pontos de produção de alimentos, o Main Dining e o Casual Dining. O primeiro era uma tenda de 24.500 m2, a segunda maior do mundo. Era dividido em armazenamento, pré-preparo, produção e dois restaurantes. Este era o principal restaurante de toda a operação olímpica. Vale informar que pela primeira vez nos Jogos ,não foi utilizada fritura neste estabelecimento. O Casual Dining tinha um ar de piquenique e o principal era o churrasco. Foi um sucesso e só ganhou elogios.

Para entender minha rotina durante o evento, é necessário entender como estava estruturada a equipe do Comitê Rio 2016 e a empresa contratada. Pelo comitê, eu gerenciava uma equipe de sete monitores. Eles foram responsáveis por realizarem rondas divididas em 3 turnos e fomentar o software desenvolvido para o gerenciamento de qualidade. Fui responsável por orientar e supervisionar a empresa contratada que contava com uma equipe de mais de 40 profissionais para monitoramento de Food Safety. O foco era aproximar o máximo possível o que havia sido planejado à produção real. Existia um alinhamento diário com a gerência e direção de produção da terceirizada.

Diariamente eram levantadas não conformidades e compiladas no software de gestão da qualidade. Estas eram divididas entre críticas e não críticas. A principal função que eu tinha na operação era sanar estas não conformidades e atuar com a melhoria contínua.

Os monitores haviam sido orientados a realizar a correção in loco, o que foi engrandecedor para a operação e para a crescimento profissional destes profissionais. On line, utilizando aplicativos de comunicação, compilávamos todas as não conformidades encontradas. Isto foi de grande valia porque era possível agir sempre que necessário, em tempo real, mesmo quando não estava na Vila.

Fazíamos a comunicação das não conformidades ao caterer no momento da detecção, sendo que cada turno era responsável por esta ação. As decisões eram tomadas em conjunto entre monitores e equipe da qualidade da terceirizada. Caso se tratasse de um risco maior ou uma não conformidade não resolvida, cabia a mim e à responsável por Food Safety da terceirizada darmos a solução ou minimizar ao máximo o risco. 

Minha rotina era chegar na Vila, analisar e propor soluções para as não conformidades críticas que ainda não haviam sido sanadas e posteriormente as não críticas. Tínhamos também indicadores de recorrência, o que também ganhava prioridade.

Após esta etapa, realizava uma ronda por toda a operação com o objetivo de verificar a efetividade das ações realizadas e visualizar novas não conformidades. Nesta fase, também realizava e reforçava o treinamento da equipe de funcionários da terceirizada.

Fazia parte da ronda a avaliação da matéria prima em estoque ou sendo recebida, todo o pré-preparo, preparo, armazenamento e distribuição. Vale ressaltar que não existia uma ordem certa para esta ronda, o que regia eram as não conformidades relatadas e principalmente estar junto dos monitores para resolução em tempo real. Claro que apareciam algumas situações em que o fogo precisava ser apagado imediatamente e estes casos tinham total prioridade. O foco desta ronda servia também para avaliação da estrutura e equipamentos, avaliar e solicitar o apoio da manutenção.

O controle de pragas mereceu uma atenção especial pela localização do estabelecimento. Os três turnos estavam atentos e todo desvio desta natureza foi prontamente tratado. Não chegamos a ter incidentes maiores.

O controle da qualidade da água também fazia parte da rotina diária.

Contamos durante todo o evento com a parceria da Vigilância Sanitária, sendo fundamental para balizar toda a operação. Recebíamos visitas, no mínimo, semanalmente e realizávamos o alinhamento das medidas necessárias com a direção da empresa contratada.

Nesta fase do projeto, o mais interessante foi ter que tomar várias decisões em um curto espaço de tempo, repetindo isto diariamente. A operação pedia isto devido a sua complexidade e particularidades.

O tamanho da operação pode ser exemplificado pelos números no dia de pico da produção:

  • 2,5 toneladas de carne;
  • 2,0 toneladas de frango;
  • 1,0 tonelada de peixe;
  • 2000 pizzas;
  • 4,0 toneladas de frutas;
  • 3,0 toneladas de legumes.
  1. Quais os maiores desafios em Food Safety (Segurança de Alimentos) encontrados?

A própria operação já era um desafio na visão de Food Safety, pelo volume a ser movimentado, produzido e controlado.

No início da operação tivemos falhas graves na cadeia de suprimentos, fugindo completamente à operação planejada. Foram várias adequações até alcançarmos um patamar satisfatório. Uma aula de gestão de mudanças.

Um ponto que merece ser destacado é o treinamento do manipulador. A equipe era composta de aproximadamente 2.000 funcionários. Muitos foram contratados pouco tempo antes do evento, às vezes com pouca ou nenhuma experiência em produção de alimentos e precisávamos treiná-los. Além do número de colaboradores, o pouco tempo hábil para esta formação era sempre uma barreira para a operação. Foi uma tarefa árdua, mas muito compensadora, ver o resultado alcançado. Foi um prazer colaborar com a terceirizada nesta realização.

O número de preparações distintas e o correto monitoramento do binômio tempo e temperatura estiveram no radar durante todo o evento. Foi um trabalho árduo e efetuado com sucesso pela equipe de qualidade. O grande conceito utilizado aqui foi a gestão de riscos.

A estrutura temporária montada para o evento também foi um grande desafio, visto termos que definir o leiaute antes da própria operação em si. Foi uma constante adequação. Um exemplo foi termos planejado a compra de frutas devidamente higienizadas, o que não ocorreu na totalidade e nos obrigou a uma readequação da linha de produção durante o evento.

A própria estrutura física também apresentou problemas, como era de se esperar em uma construção com tamanhas dimensões. A distribuição da rede elétrica e rede hidráulica são exemplos de pontos que sofreram ações de correção durante o evento. Houve também uma necessidade de reforço do piso na área de estoque de produtos secos para suportar o peso dos produtos movimentados.

O correto funcionamento dos equipamentos, suas manutenções preventivas e corretivas foram também um entrave em algumas situações. Estávamos em uma operação que não parava e alguns equipamentos necessitavam de maior atenção, como os balcões de distribuição fria. Em algumas situações específicas, tivemos de reduzir o nível de serviço para atuar com a segurança necessária para a qualidade dos alimentos.

Fazia parte do meu escopo de trabalho atuar intermediando interesses das empresas terceirizadas que atuavam diretamente junto à área de alimentos e bebidas, e as diferentes áreas funcionais dentro do Comitê Rio 2016 (similar aos setores dentro de uma empresa). A gestão de conflitos e a capacidade de negociação foram grandes desafios a serem superados para garantir um alimento seguro.

Outro ponto que merece especial destaque é o desgaste de toda a equipe com a evolução do evento. Todo mundo se doou para alcançar o objetivo de entregar os Jogos da melhor maneira possível. Jornadas longas faziam parte dos profissionais envolvidos, seja da terceirizada responsável pela produção ou do próprio Comitê Rio 2016 responsável pela supervisão, correção e orientação. Dez a doze horas diárias eram o normal. Na fase de implantação, cheguei a trabalhar por 36h para colocar em prática o que havíamos planejado. Todo mundo já sabia que não seria diferente e fomos até o final.

  1. Poderia revelar-nos se os resultados do trabalho foram satisfatórios? Houve algum caso de DTA (Doença Transmitida por Alimento) dentro da Vila Olímpica?

Com o final do evento ficou a sensação de dever cumprido. O desafio era enorme, a missão era garantir a qualidade e segurança dos alimentos em uma operação de tamanha dimensão. Foi o único evento em que trabalhei na minha vida, e logo o maior de todos. Já havia trabalhado em grandes operações em indústria de alimentos e cozinha industrial, produzindo grandes volumes, mas nada parecido aos Jogos Olímpicos. Foi um prazer ter ajudado o Brasil a fazer bonito e arrancar elogios de profissionais das mais diversas áreas e diferentes países.

Felizmente não tivemos na Vila nenhum caso de DTA ou surto alimentar. Este fato é orgulho para toda a equipe envolvida em todas as etapas da cadeia. Os perigos eram iminentes, mas as precauções e ações tomadas se mostraram eficientes para alcançar o objetivo proposto.

  1. Que lição de vida e profissional você tirou após participar dos Jogos Olímpicos do Rio 2016?

As lições aprendidas são várias e de diferentes causas.

Profissionalmente fica a satisfação de ter feito parte deste megaevento e ter tido a oportunidade de aprender muito com uma equipe multiprofissional e com pessoas de várias partes do mundo. A troca de experiências fazia parte do dia a dia. Saí muito melhor do que entrei, em se tratando de gestão de pessoas, mudanças, de riscos, conflitos e em técnicas de negociação. A capacidade de tomada de decisão em tempo real foi também um grande aprendizado que pude lapidar neste projeto.

Pessoalmente, foi uma lição de vida. Além das amizades construídas, foi muito interessante ver tanta gente com hábitos tão diferentes, oriundos dos mais diversos países com culturas completamente diferentes se darem tão bem e com o verdadeiro espírito olímpico.

Para ilustrar a lição de vida, fica um fato ocorrido em um dos nossos restaurantes:

Uma atleta biamputada dos braços chegou para almoçar, tirou o tênis com a boca, arrumou os cabelos com o pé, prendendo-o atrás da orelha e almoçou tranquilamente. Foi impressionante vê-la pegando o talher com o pé. Voltou a calçar o tênis e, para a surpresa de todos, ao invés de levantar e ir embora começou a empurrar a cadeira de rodas de uma compatriota rampa acima com o seu tronco.

Podemos sempre ser pessoas melhores do que somos, esta é a principal lição que ficou.

lisboaAtuação junto a Indústria de Alimentos, Cozinhas Industriais e Indústria Farmacêutica. Farmacêutico Bioquímico Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto. Especialista em Controle da Qualidade e Toxicologia dos Alimentos pela Universidade de Lisboa. Licenciado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de Lisboa. Auditor em Sistemas de Qualidade pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas. MBA Gestão Empresarial pela FGV. Membro da Comissão de Segurança dos Alimentos da ABNT. Trabalho utilizando as ferramentas da qualidade e a gestão de pessoas para alcançar os objetivos da empresa de acordo com o seu planejamento estratégico. Natureza objetiva e assertiva para o fechamento de negócios, positivo, arrojado, ativo, competitivo e persistente.

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38% dos americanos usa termômetro em casa quando prepara carnes

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De acordo com o Relatório de Inquérito de Segurança Alimentar de 2016, conduzido nos Estados Unidos, em colaboração com a FDA e USDA, o conhecimento do consumidor aumentou sobre as práticas de consumo de segurança alimentar. O governo americano vem conduzindo esta pesquisa desde 1988.

Foram avaliados alguns pontos como a porcentagem de americanos que possuem termômetros para alimentos em casa, a taxa de lavagem de mãos durante a manipulação de alimentos, qual a visão do consumidor em relação a contaminação de carnes e vegetais, e o que este consumidor acha mais suscetível a transmissão de doenças, através do preparo de alimentos em casa ou em restaurantes.

O relatório apontou que a porcentagem de americanos que possuem um termômetro de alimentos em casa manteve-se constante, mas o uso de aparelho aumentou ligeiramente. Em 2016, 38% relatam que sempre usam um termômetro de carne para assados e que usam mais este instrumento para averiguar a temperatura de frangos cozidos inteiros do que outras carnes, como hambúrgueres.

Avaliou-se a lavagem de mãos durante a manipulação de alimentos em quatro momentos específicos: antes de preparar os alimentos, depois de manusear carne crua ou aves, depois de manipular peixe cru e depois de quebrar ovos crus. De 2010 a 2016, 85% dos consumidores relataram estar mais propensos a lavar as mãos com sabão depois de tocar em carne crua ou peixe cru do que antes de preparar os alimentos ou depois de quebrar ovos crus.

Houve também uma descoberta na pesquisa com relação ao uso de smartphones ou tablets durante o preparo de alimentos. Cerca de metade dos entrevistados usa esses dispositivos durante a manipulação de alimentos, mas apenas cerca de um terço dessas pessoas lavam as mãos com sabão depois de tocarem nesses objetos.

Não é de se espantar que celulares e tablets sejam objetos capazes de transportar microrganismos patogênicos, já que estes aparelhos passam por diversos ambientes, estão constantemente próximos a boca e poucas pessoas tem o costume de higieniza-los. O Relatório de Inquérito de Segurança Alimentar de 2016 destaca também a necessidade de mais pesquisas para entender como a tecnologia é usada na cozinha.

O estudo constatou que os consumidores estão mais preocupados com a contaminação de frango cru e carne crua do que os vegetais crus. Apenas 6% dos consumidores acharam que os vegetais crus eram mais prováveis de terem bactérias do que a carne de frango crua (66%) e a carne bovina crua (41%). A higienização e cuidado com vegetais deve ser tão grande quanto com frangos e carne bovina, uma vez que vegetais também transportam bactérias que podem colocar em risco a suade do consumidor.

Observou-se que, aumentou, sim, a preocupação do preparo de alimentos em casa, mas a grande parte dos consumidores, 54%, acha que é mais comum contrair uma intoxicação alimentar através de restaurantes.

Agora, fazendo um paralelo, relacionando este estudo com a indústria, no que se diz respeito ao uso de celulares durante o preparo de alimentos, você, gestor de qualidade, já deve ter notado que esses aparelhos também estão (mas não deveriam estar) mais próximos dos colaboradores de uma indústria de alimentos e que, vez ou outra, você já “flagrou” alguém usando celular em local de manipulação. Que políticas estão sendo adotadas pra controlar o uso desses aparelhos no chão de fábrica? Realmente você consegue restringir o uso?   

O estudo apresenta uma realidade americana. Vocês acham que os números no Brasil seriam parecidos? Vocês têm termômetro para alimentos em casa? Costuma pegar em celulares durante o preparo de alimentos? Deixo essas indagações pra que reflitam sobre a realidade brasileira, no que diz respeito ao que foi apresentado no post de hoje.

Veja também um post aqui no blog sobre uma iniciativa muito bacana do governo americano, que criou uma cartilha didática para auxiliar o consumidor no preparo de alimentos em casa, de forma a evitar as doenças transmitidas por alimentos.

Referências:

Food Poisoning Bulletin. Acesso em 23 de Novembro, 2016.

Créditos de imagem: Food Safety.

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Recomendações do FDA para o correto uso de Micro-ondas na Segurança dos Alimentos

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O FDA fornece dicas para o correto uso de micro-ondas na segurança dos alimentos bem como as instruções de segurança de uso. Usuários têm sofrido queimaduras e lesões de radiação quando os fornos não são usados ou mantido adequadamente.

Porém, o grande destaque do FDA é referente a segurança dos alimentos. Segundo o FDA, os micro-ondas cozinham alimentos de forma desigual e a temperatura em algumas áreas não são suficientemente atingidas, promovendo surtos de bactérias patogênicas, especialmente em carnes, tais como frango. O FDA acredita que algum surto de E. coli no passado possa ter ocorrido devido ao mau uso do micro-ondas no cozimento dos alimentos. Desde 2008, tornou-se obrigatório a inclusão das instruções de uso nos rótulos de alimentos para aos alimentos crus submetidos ao forno micro-ondas.

O micro-ondas converte a eletricidade em ondas curtas que vibram com uma frequência elevada. Essas ondas são absorvidas pela água, gorduras e açúcar dos alimentos,  promovendo uma intensa vibração das moléculas e uma alta geração de calor. É por isso que alimentos com alto teor de umidade cozinham melhor em micro-ondas.

A temperatura no micro-ondas só atinge em alimentos com uma profundidade de 1 a 2,5 cm. No caso de peças de alimentos mais espessas, tais como um grande peito de frango, não haverá uma boa condução de calor para o centro do alimento. A presença de ossos na carne poderá causar o cozimento desigual do produto.

Recomenda-se durante o cozimento, o uso de termômetro medindo a temperatura em diferentes lugares do alimento para certificar-se que o mesmo tenha atingido a temperatura ideal e segura para destruir patógenos. E para um melhor cozimento de carnes no micro-ondas é importante a remoção dos ossos.

A maioria dos acidentes provocados com fornos micro-ondas são queimaduras relacionadas ao calor dos recipientes quentes e alimentos superaquecidos. A maior parte das lesões não se referem à radiação. Há casos raros relatados de lesão por radiação devido a manutenção inadequada. Em geral, estas lesões são causadas pela exposição à grande quantidade de radiação de micro-ondas que escapam através das aberturas e falhas de vedações do forno. A norma do FDA exige que os equipamentos sejam projetados para evitar esses tipos de vazamentos. Os fabricantes devem comprovar que seus fornos cumpram com as normas específicas de segurança do FDA.

Siga sempre as instruções de uso do fabricante. Não use o micro-ondas quando eles estiverem vazios. Não deve aquecer a água ou líquidos mais tempo do que o recomendado. Sempre use recipientes e utensílios específicos. Panelas de metal e papel alumínio refletem no micro-ondas, promovendo um cozimento de forma desigual ou  levando a danificação do equipamento.

O superaquecimento da água é outro potencial problema de segurança no uso do micro-ondas. Uma água super aquecida além do seu ponto de ebulição pode causar uma ligeira perturbação ou movimento, o que pode resultar na erupção da água para fora do copo. Muitos usuários têm sido gravemente feridos com queimaduras por causa dos super aquecimentos. Para evitar, sugere-se adição de ingredientes como café instantâneo ou açúcar antes do aquecimento, e sempre seguir as instruções de aquecimento do fabricante.

Há poucos relatos quanto à preocupação ao excesso de radiação vazados dos micro-ondas, a menos que as dobradiças das portas, travas ou vedações estejam danificadas. O FDA recomenda que olhe para o seu forno com cuidado para ver se algum desses problemas existem. Não use o equipamento quando o mesmo operar com a porta está aberta. O FDA recomenda que você pare imediatamente, se isso acontecer.

Se você estiver enfrentando problemas com o seu forno de micro-ondas, entre em contato com o fabricante. Os fabricantes devem informar ao FDA sobre as questões relatadas, incluindo defeitos, falta de conformidade com as normas federais e as ocorrências de radiação acidentais. Você também pode relatar problemas diretamente ao FDA através do preenchimento e envio do formulário Relatório de Ocorrência Acidental de Radiação.

Fonte:

 

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Cuidado: sua ceia pode ser contaminada pelo peru mal manipulado!!

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Festas de final de ano são sempre um momento para redobrar os cuidados para evitar as DTAs, Doenças Transmitidas por Alimentos. A maioria dos casos é causada por Campylobacter, uma bactéria ligada a 280.000 casos de infecção alimentar a cada ano, dados são da Food Standards Agency (FSA), Turquia. Os casos são provenientes de aves natalinas (perus); sendo que a cada cinco casos, quatro são provenientes da falta de higiene e controles sanitários.

Nessa época as pessoas compram mais alimentos, os alimentos ficam expostos por longas horas sem refrigeração  (no Brasil as temperaturas são elevadas no período de festas) e estocam sobras, muitas vezes, consumindo-as por vários dias.

Os perigos começam com o cozimento, se a ave natalina não for cozida adequadamente, bactérias como a Salmonella  e Campylobacter podem sobreviver e causar infecção alimentar. O Clostridium perfringens também é considerado um perigo, pois é causador de infecções. O reaquecimento das sobras pode inativar a bactéria mas nem sempre destroe seus esporos.

Os esporos são inofensivos quando ingeridos logo após cozinhar. No entanto, eles podem germinar e, em seguida, multiplicar e isto acontece com alimentos deixados fora de refrigeração por longo período.

Eliminando os riscos: 

  • Descongelamento caseiro: o peru deve ser descongelado sobre refrigeração, no máximo 10°C, nunca em temperatura ambiente.  Para descongelar um peru, leva em torno de 12 horas por quilograma a temperatura de  4°C em frigoríficos, portanto a 10°C** um peru de 2Kg levará em torno de um dia para descongelar (blogfoodsafetybrazil).
    Leve ao forno o produto completamente descongelado, caso contrário ele poderá ficar com partes mau cozidas e os microrganismos permanecerão vivos.

        **Pode variar dependendo do tipo de refrigerador.

  • Contaminação cruzada: microrganismos presentes em perus ou aves natalinas cruas se espalham facilmente sobre as bancadas, utensílios e mãos. Cuidado: utilize facas específicas, lave bem as mãos após a manipulação, higienize as superfícies com álcool 70º. Nessas preparações costuma-se trabalhar com vários tipos de alimentos, alguns não serão reaquecidos, como a farofa por exemplo,  caso exista uma contaminação cruzada de utensílios, mãos da preparação da ave crua devem ser lavadas antes de irem para a farofa, pois o risco seria grande de causar uma contaminação.
    Nessas fotos feitas pelo Dr. Ackerley (http://www.dailymail.co.uk) o peru  foi coberto com um gel especial e pó que imita como as bactérias se agarram a superfícies, e utilizado uma luz ultra violeta para visualização da viagem dos micro-organismos pela cozinha.
  1. O manipulador esfrega as mãos no peru com óleo (representação dos micro-organismos) e a as mãos ficam azuis:sua_ceia_pode_estar_contaminada1
  2. Realiza uma lavagem rápida das mãos (apenas com água) e a pia fica azul. A bactéria Campylobacter pode sobreviver por 4 horas em superfícies:sua_ceia_pode_estar_contaminada2
  3. Este papel toalha foi respingado com água  durante a lavagem das mãos contaminadas e os respingos contaminados ficam azuis:sua_ceia_pode_estar_contaminada3
  4. Salgando os alimentos depois da rápida lavagem de mãos (ineficaz) e transferindo micro-organismos para o tempero:sua_ceia_pode_estar_contaminada4
  5. Contaminando a manteiga, esta será usada para untar a forma e voltará para geladeira (contaminação cruzada):sua_ceia_pode_estar_contaminada5
  6. E finalmente, peru ao forno, chega a hora de saborear um bolinho… Contaminado:sua_ceia_pode_estar_contaminada6

Visualizar a contaminação cruzada nos faz tomar os cuidados necessários para evitar as DTAs e assim comemorar as festas de final de ano sem perigo.

Desejamos  uma saudável ceia, cheia de sabor e livre de micro-organismos!

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Dicas importantíssimas para compra e utilização de azeite de qualidade

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No Simpósio “Fraudes e Impactos na Segurança de Alimentos” a Dra. Ana Maria Rauen de Oliveira Miguel – Pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos – deu algumas dicas de como comprar o seu azeite de oliva:

  • Escolher sempre que possível a embalagem que está no fundo da prateleira. Quanto menor exposição á luz, melhor, porque o azeite se mantem com maior qualidade, sem oxidação;
  • Sempre avaliar todos os dizeres da embalagem antes de comprar, verificando o seguinte:
  • Se é azeite puro ou óleo composto;
  • O valor de acidez declarado – Quanto menor, melhor;
  • Dar prioridade aos azeites produzidos e engarrafados no mesmo local (principalmente os importados). Os que são produzidos num país e embalados em outro perdem a qualidade e podem ser adulterados.
  • O termo “engarrafado” sozinho não representa garantia de procedência. Tem que ser “produzido e engarrafado em….”
  • Sempre que possível comprar azeite em embalagem escura (lata ou vidro) porque protege mais contra a oxidação;
  • Prefira as embalagens menores e procure consumir o azeite em 3 ou 4 semanas;
  • Adquira azeites com data de fabricação mais recente possível;
  • Se o azeite comprado apresentar alguma turvação ou material depositado no fundo do frasco, não significa que está estragado. Pode ter havido um menor grau de filtração do processo, então é normal. Mas ao longo do prazo esse resíduo pode fermentar anaerobicamente e causa odor de lodo/borra, descaracterizando o azeite;
  • A cor do azeite representa apenas o estado de manutenção dos frutos utilizados na extração. Os mais verdes são originários de frutos mais verdes, os mais dourados e escuros, de azeitonas mais maduras. Isso interfere no sabor e aroma do azeite.

Dicas importantes também dadas pela pesquisadora para garantir a manutenção e qualidade nutricional do azeite em casa é:

  • Fechar sempre o frasco adequadamente;
  • Guardar em local fresco, distante de sol, fornos, micro-ondas e sob a ausência de luz;
  • Observar sempre a validade do produto, geralmente depois de aberto, um azeite dura aproximadamente 3 meses sem se alterar significativamente (isso pode variar de acordo com maturação dos frutos, tipo de azeitona, tempo de processo etc).

Outra dica simples é testar se o azeite é extra virgem: coloque na geladeira e deixe por 48h. Ele se tornará mais espesso porque seu ponto de fusão está ao redor de 13-14ºC.

Para saber mais sobre o projeto acesse http://www.apta.sp.gov.br/olivasp.

Fonte:

Palestra Fraude e Adulteração de azeite de oliva, Dra. Ana Maria Rauen de Oliveira Miguel – ITAL.

Simpósio Fraudes e Impactos na Segurança de Alimentos que cordialmente cedeu uma vaga para o blog Food Safety Brazil.

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Histamina e rastreamento de pescado: revisão de literatura

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Você consegue ver relação entre a rastreabilidade e a prevenção de histamina em pescado? Esta revisão bibliográfica pode lhe ajudar a pensar a respeito.

“A preocupação com a qualidade do pescado sempre foi um tema recorrente, visto que é um alimento de alto valor nutricional para toda população, porém com grande susceptibilidade à deterioração e formação de substâncias prejudiciais ao homem, caso não sejam obedecidas as condições de conservação. Um exemplo de substância formada é a histamina, uma diamina biogênica primária e heterocíclica, não volátil, termoestável, originada pela descarboxilação da L-histidina, quando as condições de manuseio e estocagem são inadequadas, favorecendo a multiplicação da microbiota natural do pescado. A histamina possui potencial alergênico, podendo causar um quadro de intoxicação no ser humano e, em casos graves, levar à morte. Para tal problema, um sistema de rastreabilidade poderia ser a solução. Seu objetivo é garantir ao consumidor um produto seguro e saudável por meio do controle de todas as fases da produção, industrialização, distribuição e comercialização, possibilitando uma perfeita correlação entre o produto final e a matéria-prima que lhe deu origem. Em diversos países existem atualmente sistemas de rastreabilidade controlando a cadeia de pescado. No Brasil, vários entraves podem ser apontados para a não obrigatoriedade da rastreabilidade em pescado. A divisão de regulamentação do setor entre diferentes órgãos, tais como Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a falta de articulação entre esses órgãos fiscalizadores, a baixa capacitação de mão de obra e a desvalorização dos produtos da pesca, o que trazem a descapitalização da base da cadeia produtiva. De tal maneira, pode-se afirmar que há uma série de desafios para que ocorra a implantação de um sistema de rastreabilidade em território nacional. De acordo com o exposto, este estudo objetivou, através de uma revisão bibliográfica sistemática da literatura, informar a situação atual da escombrotoxicose e da rastreabilidade da histamina em pescado.”

Autores: André Luiz Medeiros de Souza, Flávia Aline Andrade Calixto, Eliana de Fátima Marques de Mesquita, Mariana da Purificação Packness e Denise Perdomo Azeredo.

Referência: Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.XX, 1-11, 2015

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Compartilhamento de áreas de produção entre medicamentos e alimentos, um avanço?

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A Diretoria Colegiada da Anvisa aprovou, nesta quinta-feira (16/7), a possibilidade de compartilhamento de áreas de produção de medicamentos com outros produtos, como cosméticos e alimentos (ANVISA, 2015).

A publicação que deverá ocorrer nos próximos dias no Diário Oficial da União contemplará dois documentos, uma RDC que estabelecerá as regras e uma Instrução Normativa que detalhará os procedimentos.

O assunto foi discutido por meio da Consulta Pública n° 26, de 12 de julho de 2013 e complementado pela Consulta Pública n°8, de 10 de março de 2014.

A CP 26/2013 tratou da alteração da RDC n°17, de 16 de abril de 2010 que até então impedia o compartilhamento de áreas de produção de medicamentos e outros produtos (Art. 252).

A proposta de texto traz a inclusão do inciso 2° que permite essa modalidade de produção se houver comprovação científica e técnica de que os materiais empregados são de igual ou superior qualidade aqueles usados na produção de medicamentos” e ainda determina que caso isso ocorra, a fabricação de tais produtos deve ser realizada de acordo com todos os requisitos de BPF” que estão dispostos na RDC 17/2010.

Essa proposta contou com apenas 23 participações, com 18 posições favoráveis, 02 posições favoráveis parciais e 03 posições contra. Sendo que mais de 50% dos participantes são empresas privadas no ramo farmacêutico.

Já a Consulta Pública 8/2014, trata a proposta de texto que regulamenta quais produtos poderão ter fabricação compartilhada e preliminarmente admitida como possível pela ANVISA em instalações e equipamentos à fabricação de medicamentos.

São eles:

“Inciso III: adoçantes dietéticos, alimentos para o controle de peso, alimentos para dietas com restrição de nutrientes, alimentos para dietas com ingestão controlada de açucares, alimentos para gestantes e nutrizes, alimentos para idosos, alimentos para atletas, sal hipossódico, suplementos vitamínicos e/ou minerais, alimentos com alegações de propriedade funcional e/ou de saúde, alimentos para nutrição enteral, novos alimentos e novos ingredientes, substâncias bioativas e probióticos isolados com alegação de propriedades funcional e/ ou de saúde”.

È importante salientar que o texto ainda propõe que a fabricação compartilhada dos alimentos, cosméticos e outros produtos dispostos no inciso I, II, III (CP 8/2014) poderão acontecer independentes da autorização prévia da ANVISA. Já os demais produtos não listados deverão ocorrer através de pedido previamente registrado.

Essa consulta pública também envolveu um pequeno numero de contribuições, onde 21 das 27 recebidas classificaram que terá um impacto positivo e 5 como impacto negativo.

O que me chama atenção é que não vi nenhuma empresa (pessoa jurídica) e/ou profissionais da área de alimentos se posicionarem. Apenas uma associação ligada as indústrias de aditivos e alimentos o fez!

Então me pergunto: Será que a ausência de participação de nós profissionais (incluindo eu) foi porque concordamos totalmente com a proposta ou porque não tivemos conhecimento do fato?

Será que a produção de alimentos no mesmo local/equipamentos onde são produzidos medicamentos poderá esta segura?

O Brasil/Indústrias está preparado para esse avanço na tecnologia ao ponto de igualar-se aos demais países onde essa prática já ocorre?

E você caro leitor (a), o que pensa?

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Critérios para projeto sanitário de equipamentos

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Sabe-se que os equipamentos em contato com alimentos devem ser projetados de forma a terem desenho final sanitário. Mas de forma mais específica, quais são os requisitos para que sejam qualificados como tal?  Separei duas grandes características relevantes (a lista não se esgota):

Superfícies e geometria

Superfícies devem de fácil limpeza e não devem apresentar ameaça toxicológica de migração de componentes para o alimento. Todas as superfícies em contato com produto devem ser resistentes ao alimento e a todos os detergentes e desinfetantes ao longo de toda a faixa de condições operacionais (as condições de processo requeridas). Superfícies de contato com produto devem ser fabricadas com materiais não-absorventes e devem satisfazer aos requerimentos de rugosidade.

Superfícies de contato com produto devem estar livres de imperfeições como fissuras, logo deve-se:

  • Evitar uniões de metal com metal que não sejam soldadas (contato de metal com metal pode abrigar sujidades e micro-organismos). No caso de equipamentos para processos assépticos, o risco também está no fato de que vedações por contato de metal com metal não prevenirão a penetração de bactérias.
  • Evitar relevos decorrentes de mau alinhamento de equipamentos e conexões de tubulação.
  • Se selos ou gaxetas forem usados, seus formatos devem ser tais que não haja fissuras nas quais resíduos de sujidades possam ser retidos, ou bactérias possam se acumular e se multiplicar.
  • Exceto quando deformados para se obter uma vedação estática no lado exposto do produto, o uso de O-rings em contato com o produto deve ser evitado em equipamentos e tubulações sanitárias
  • Eliminar o contato de produto com elementos roscados
  • Cantos devem ter, preferivelmente, raio maior ou igual a 6 mm; o raio mínimo é 3 mm. Cantos Vivos (<90°) devem ser evitados.
  • Se usados como pontos de vedação, os cantos devem ser os mais vivos possíveis para promover vedação hermética no ponto mais próximo da interface produto/elemento de vedação. Nesta situação um chanfro ou raio de 0,2 mm pode ser requerido para prevenir danos às vedações de borracha devido à fadiga térmica.

Se, por razões técnicas e funcionais, alguns desses critérios não puderem ser atendidos, a perda de capacidade de limpeza deve ser compensada de alguma maneira, cuja eficácia deve ser demonstrada através de testes.

Todas as superfícies em contato com o produto devem ser, ao mesmo tempo, acessíveis para inspeção visual e limpeza manual, ou deve ser demonstrado que a limpeza de rotina remove completamente toda a sujidade. Se técnicas de limpeza “cleaning in place” (CIP) forem usadas, deve ser demonstrado que os resultados obtidos sem desmontagem são satisfatórios.

Acabamento de superfícies / rugosidade de superfícies

Superfícies em contato com produto devem ter um acabamento com valor de rugosidade aceitável em Ra e serem livres de imperfeições como pites (microfuros), dobras e ranhuras. Grandes áreas de superfície de contato com produto devem ter acabamento de superficial com Ra de 0.8 µm ou menor, embora capacidade de limpeza dependa fortemente da tecnologia usada no acabamento, já que a mesma pode afetar a topografia da superfície.

Deve ser notado que aço laminado a frio tem rugosidade Ra entre 0.2 e 0.5 µm, e, portanto, não precisa ser polido para atender aos requisitos de rugosidade de superfície, uma vez que as superfícies de contato com produto estão isentas de pites dobras e ranhuras em sua forma final de fabricação.

Uma rugosidade de Ra >0.8 µm é aceitável se resultados de testes mostrarem que o grau de limpeza requerida compensado devido a outras características de projeto, ou procedimentos como alta vazão do agente de limpeza. Especificamente, no caso de superfícies poliméricas, a hidrofobicidade, molhabilidade e reatividade devem aumentar a eficiência de limpeza (ref. 13).

Em outro post falaremos mais sobre polimento de aço inox versus topografia.

 Maiores detalhes sobre projeto sanitário de equipamentos podem ser baixados gratuitamente no site da European Hygienic Engineering and Design Group. em português.

Conheça também outros manuais sobre projeto sanitário no site!

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Desregulares endócrinos de origem alimentar

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O IV Encontro dos Profissionais da Garantia da Qualidade foi palco para uma excelente palestra da Profa. Dra. Elaine Maria Frade Costa, cujos aspectos principais são resumidos aqui.

A palestrante trouxe a definição da Environmental Protection Agency para o termo desregulador endócrino.  

 Desregulador endócrino é o agente exógeno que interfere na síntese, secreção, transporte, metabolismo, ação ou eliminação de um ou mais hormônios  naturais circulantes responsáveis pela  homeostase, reprodução, desenvolvimento e/ou comportamento dos organismos.

 

São substâncias que interferem no sistema hormonal dos indivíduos, muitas vezes devido a similariedade das estruturas químicas destas substâncias com os hormônios.  O organismo passa a reconhecer os desreguladores endócrinos como se fossem hormônios.

 

Exemplos de substâncias desreguladoras do sistema endócrino são:

 

  • Pesticidas (DDT e methoxychlor);
  • Fungicidas (vinclozolin), Herbicidas (atrazine);
  • Químicos industriais (PCBs , PBBs e dioxinas);
  • Plásticos (ftalatos, BPA, alquilfenóis)
  • Fitoestrógenos (genisteina e coumestrol)
  • Fármacos (DES)

 Trata-se de substâncias amplamente utilizadas na cadeia produtiva de alimentos (Ex: BPA, pesticidas, fungicidas) ou então são naturalmente presente (Ex: fitoestrógenos presentes na soja).

 A palestrante apresentou os seguintes princípios fundamentais:

  • Idade da exposição =  as janelas de susceptibilidade são a fase fetal, infância e adolescência, fases em que o organismo passa por grandes mudanças.
  • Período de latência da exposição= doenças que apareceram na fase adulta têm base no desenvolvimento
  • Importância das misturas = diferentes classes de desreguladores endócrinos podem ser aditivas ou sinérgica.
  • Os desreguladores endócrinos apresentam dinâmica dose-resposta não convencional
  • Efeitos epigenéticos transgeracionais = efeitos não genômicos (ausência de mutação gênica)

 Em seguida, foram apresentados dados bem alarmantes sobre o efeito de cominações de desreguladores endócrinos, mais especificamente de antiandrogênicos no sistema reprodutivo de camundongos machos. Estes tiveram as consequências aumentadas quando foram submetidos a misturas quando comparado com estudos onde camundongos foram submetidos a substâncias individualmente.

Como não é possível realizar estudos similares com humanos, as informações sobre o impacto dos desreguladores endócrinos em humanos devem ser  extrapolados dos testes realizados em animais. 

Sabe-se que em humanos tem se observado um declínio das taxas de concepção nos USA de 44% desde 1960, além de um aumento das taxas de doenças da puberdade ou em adultas jovens (Ex: ovário policistico, endometriose). Estas alterações podem ter sido desencadeadas por fatores ambientais ou pela dieta.

Um dos principais desreguladores endócrinos obtidos pela dieta é a isoflavona, uma classe de fitoestrógeno, presente na soja.  Os fitoestrógenos são compostos não esteroides capazes de ativar os receptores de estrógeno devido à semelhança conformacional.

Existem poucos estudos sobre o efeito das isoflavonas em humanos, mas alguns resultados são:

  • Estudo (Zung A. et al. J.Pediatr.Gastroenterol.Nutr. 2008) evidenciou maior prevalência de broto mamário no 2°ano de vida nas meninas alimentadas com fórmulas a base de soja do que naquelas com leite materno ou de vaca.
  • Estudo (D’Aluisio AA et al. Environ.Health Perspect. 2010) indicou maior risco de tumor uterino nas mulheres que foram alimentadas com soja na infância.

 Sabe-se que o assunto é polêmico e dentre os fatores  de confusão, pode-se citar as diferenças no metabolismo das isoflavonas entre os modelos animais e humanos.

 Apesar de não existir dados conclusivos, a palestrante se mostrou preocupada com a grande ingesta de fórmulas infantis a base de soja por infantes de 0 a 1 ano (uma das janelas de susceptibilidade), já que o consumo deste alimento representa 50 a 100 vezes os níveis de estradiol na gravidez.

 Outro desregulador endócrino que merece destaque, segundo a palestrante, é o Bisfenol A.

 Trata-se de um dos químicos de maior produção mundial,  sendo

utilizado em plásticos com policarbonato, selantes dentários, resina epóxi entre outros materiais.  Esta substância foi encontrada em amostras de 93% dos indivíduos testados e tem a cadeia alimentar como principal via de contaminação.

 Estudo (Von Saal et al 2012) demonstrou que o Bisfenol A apresenta potente ação estrogênica, está relacionado com programação fetal da obesidade, fetos são muitos suscetíveis aos seus efeitos  e que reações adversas são provocadas com doses muito baixas.

 Os ftalatos também foram abordados, já que a exposição humana ocorre principalmente pela alimentação. São usados para dar flexibilidade ao PVC, material este que faz parte da composição de diversas embalagens primárias.

 Para concluir, a palestrante apresentou dados sobre a presença de desreguladores endócrinos na água de algumas regiões do mundo, inclusive do Estado de São Paulo.

 Em 400 amostras dos rios Sorocaba, Cotia, Atibaia e Reservatório Tanque Grande testadas por laboratórios renomados como UNICAMP, CETESB e Univ. Tenessee, 83%  apresentaram  elevada atividade estrogênica (estrona, estradiol, estriol, etinilestradiol , BPA, fitoestrógenos, etc).

 Segundo a especialista, os riscos associados aos desreguladores endócrinos pela ingestão de água potável não são avaliados no Brasil. Pouco se conhece sobre os efeitos crônicos na saúde da população exposta. Os critérios para o abastecimento de água potável no Brasil e no mundo são baseados em dados de toxicidade de compostos analisados individualmente não levando em conta as misturas.

Para o reuso seguro da água são necessários:

  • Avanços tecnológicos para medição dos desreguladores endócrinos
  • Monitorização intensiva do consumo e descarte de água de mananciais
  • Novas tecnologias de tratamento são necessárias para remover os desreguladores endócrinos da água e dos alimentos
  • Implementação de diretrizes que definam a concentração máxima aceitável de desreguladores endócrinos conhecidos e misturas na água de beber.

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Chocolate com índice de carbono de 685g

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Outro dia comprei um chocolate importado que dizia no rótulo: “685g de CO2”. Fiquei pensando: será que todos os consumidores tem idéia do que se trata? Pode lhes ocorrer que é uma informação de rotulagem que afete a saúde?

Para responder esta pergunta, solicitei a nossa colega de profissão e agora cidadã francesa Gislene da Silva Razavet, que enviou ao blog Food Safety Brazil o texto abaixo:

Mas a final, o que esta atrás de 685g de CO2??? Isso é muito ou pouco? Bom ou ruim? 

Embora a iniciativa parta de uma boa intenção, ela gera na cabeça do consumidor mais duvidas que respostas. Isso porque quando se trata de rotulagem ambiental, estamos ainda longe de ter um consenso mundial ou linguagem simples que responda a preocupações da população, que em geral, quer contribuir para preservar o planeta, mas entender esses selos nos 20 segundos que levamos para pegar um produto na prateleira, é quase impossível.

 O balanço de carbono é o que se chama de auto-declaração ambiental, usado por poucas empresas na França (inclusive esta escrito no rotulo que o índice é valido só na França), ele mede as quantidades de gases de efeito estufa (que impedem o reflexo da radiação para o espaço, provocando o aquecimento global), emitidos ao longo da vida (matérias-primas, fabricação de um produto: analise do ciclo de vida.

 Isso inclui as emissões de dióxido de carbono (CO2), vapor de água, o metano (CH4), óxido nitroso (N2O, Halocarbonetos (CFC, HFC ), que são convertidos de acordo com seu poder de aquecimento em CO2

Este dado tem seus limites, pois é mais pertinente para comparar produtos do mesmo tipo, no caso produtos alimentícios. Por exemplo, essas 100g de chocolate que consomem 685g de CO2, podem ser comparadas com 100 de leite = 100g de Eq CO2 ou 100g de cookies de chocolate 250g.

Mas essas bases de dados, mesmo na França são limitadas e pagas para se acessar, então ainda é muito cedo para que realmente possamos aproveitar esses dados e ter bases confiáveis. Por enquanto este tipo de informação é uma ferramenta útil para as empresas avaliarem diferentes processos, embalagens, matérias-primas, mas para o grande publico a ideia precisa amadurecer.

 A série ISO 14020, que ainda não esta publicada para fins de certificação, esta tentando guiar e uniformizar a questão da rotulagem ambiental à nível mundial, o que a médio prazo, deve facilitar a escolha do consumidor. Ela trata os selos verdes, como a parte de reciclagem por exemplo.

Mais detalhes: Rotulagem Ambiental – Um Estudo Sobre NR’S, Maria Fernanda Preussler.

 Finalmente a 14067 vai trazer um método para cálculo da Pegada de Carbono, pois hoje os métodos de calculo não são uniformes, dificilmente comparáveis e o consumidor não entende nada. Infelizmente esse conceito não é algo simples como, foi dizer por exemplo que foram consumidos X litros de água para fabricação deste produto. Será necessário muita pedagogia da parte das empresas, com indicadores comparáveis e simplicidade.

 

 Gislene da Silva Razavet
Engenheira de Alimentos
Gerente Global Portfólio Core Business, R&D
 Estudante Mestrado em Desenvolvimento Sustentável


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