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Food Defense: proteção contra ameaças intencionais e o papel da certificação

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Com o aumento das exigências de segurança alimentar*, surgem novas ameaças à integridade dos produtos, colocando em risco tanto os consumidores quanto as empresas. Food Defense – ou defesa alimentar – surge como uma resposta robusta a essa realidade, focando a proteção contra atos intencionais de contaminação e sabotagem. Diferentemente de tempos passados, as relações profissionais e sociais são cada vez mais temporárias, e a frequência com que as pessoas mudam de emprego pode gerar menos compromisso com as empresas. Esse cenário cria o risco de que, por descontentamento, alguns colaboradores ajam de forma prejudicial, afetando não só a reputação e a saúde financeira da empresa, mas também a segurança do consumidor final.

Diante desta realidade, toda a indústria alimentar sente uma crescente necessidade de proteger seus processos e produtos, zelando tanto pela segurança do consumidor quanto pela integridade do seu próprio negócio. Em paralelo, os contextos de conflitos globais – que ao longo das décadas têm se intensificado – adicionam camadas de risco, uma vez que a cadeia de suprimentos se torna mais vulnerável a ataques intencionais. Guerras e instabilidades políticas são fatores que impõem desafios adicionais à segurança alimentar*, exigindo uma vigilância constante e protocolos eficazes de defesa.

Os desafios enfrentados pelo Food Defense incluem sabotagem, inserção intencional de contaminantes e outras ameaças maliciosas que podem causar impacto direto na saúde pública e na confiança do consumidor. Uma única ocorrência pode ter efeitos devastadores, não só na reputação da marca mas também na estabilidade financeira da empresa. Com o fácil acesso a informações, qualquer colaborador descontente pode, em poucos minutos, obter conhecimento sobre formas de prejudicar uma empresa. Em um mercado onde o consumidor tem amplo acesso a dados e informações, uma falha de segurança pode gerar danos irreparáveis, comprometendo a confiança na marca e provocando crises difíceis de serem revertidas.

Normas como FSSC 22000, BRCGS Food Safety e IFS Food foram estruturadas para incluir requisitos específicos de Food Defense, ajudando as empresas a estabelecerem barreiras sólidas contra riscos intencionais. Essas certificações exigem a implementação de:

  • planos de mitigação de riscos,
  • sistemas de rastreabilidade e
  • práticas rigorosas de segurança.

Tudo isso deve ser feito de forma a abranger desde avaliações periódicas de risco até o controle de acesso a áreas sensíveis e a instalação de barreiras físicas. Esse conjunto de medidas permite que as ameaças sejam identificadas e mitigadas de forma eficaz, garantindo que a integridade dos produtos seja mantida em todos os níveis do processo produtivo.

Um exemplo prático de Food Defense pode ser observado em uma empresa certificada pela FSSC 22000 que identificou o desaparecimento de um produto químico usado na limpeza de equipamentos, levantando suspeitas de uma possível contaminação intencional de uma formulação. Graças aos protocolos de rastreabilidade e aos procedimentos de contenção exigidos pela certificação, a empresa foi capaz de interromper a linha de produção imediatamente, investigar o ocorrido e isolar o lote suspeito. Essa resposta rápida impediu que o produto chegasse ao consumidor final, protegendo sua saúde e evitando um possível recall, o que preservou a confiança dos clientes e evitou danos à reputação da marca.

Uma parte crucial da estratégia de Food Defense é a formação e sensibilização dos colaboradores, que devem ser envolvidos de forma cuidadosa e estratégica. Em formações, o tema é abordado sem mencionar diretamente “Food Defense” ou termos que possam despertar ideias indesejadas em colaboradores mal-intencionados. Em vez disso, são usados nomes como “produto seguro” ou “integridade do processo”, focando sempre na importância de práticas seguras e consistentes para garantir a qualidade e a segurança dos produtos. Esse tipo de formação é essencial para que todos estejam atentos a atividades suspeitas e saibam como responder a potenciais ameaças, sem incentivar comportamentos indesejáveis ou oferecer ideias prejudiciais.

Falar de Food Defense sem falar de cultura de segurança alimentar* não faria sentido. A cultura de segurança é a base que sustenta a defesa dos alimentos em qualquer organização, promovendo um ambiente onde todos os colaboradores, independentemente de sua função, compreendem e valorizam a importância de proteger a integridade dos produtos. Essa cultura envolve um compromisso contínuo com práticas seguras, comunicação aberta e a confiança de que cada membro da equipe tem um papel ativo na preservação da segurança alimentar. Ao cultivar uma cultura forte e integrada de segurança, as empresas não apenas mitigam riscos, mas também aumentam a confiança dos consumidores, reforçando a reputação e o compromisso da marca com a segurança e a qualidade dos alimentos.

Para garantir a eficácia de um sistema de Food Defense, são essenciais inspeções regulares e monitorização contínua das áreas de risco, assim como a realização de exercícios de simulação e auditorias específicas de defesa alimentar. Inspeções frequentes permitem identificar e corrigir vulnerabilidades antes que se tornem ameaças reais, enquanto a monitorização constante assegura que os protocolos estão sendo seguidos em tempo real. Exercícios de simulação são igualmente importantes, pois preparam a equipe para responder de forma rápida e eficiente a incidentes inesperados, avaliando a prontidão de toda a organização. Já as auditorias de Food Defense, tanto internas quanto externas, garantem que os processos estão em conformidade com as normas de certificação e que a empresa mantém altos padrões de segurança. Juntas, essas práticas fortalecem a resiliência do sistema de defesa alimentar e demonstram o compromisso contínuo com a proteção dos produtos e a segurança dos consumidores.

Em suma, é necessário sublinhar que investir em certificação não é apenas uma forma de cumprir regulamentos; é um compromisso contínuo com a proteção da marca, a segurança dos consumidores e a integridade do setor alimentar. Em tempos de instabilidade global e mudanças nas relações profissionais, o Food Defense torna-se uma ferramenta essencial para manter a confiança do mercado e garantir a integridade dos produtos. A certificação fornece às empresas as ferramentas essenciais para enfrentar essas ameaças de maneira proativa, promovendo resiliência e segurança ao longo do tempo.

Escrito por Tânia Lopes, de Portugal

*em Portugal, Segurança Alimentar é a tradução correta e comumente utilizada para Food Safety.

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Tradução – Documento Guia: Food Defense (FSSC 22000)

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Recentemente o FSSC 22000 lançou uma nova versão do guia de Food Defense [link], desta vez alinhado com os novos requisitos do esquema documental na sua versão 6.0, lançada em março de 2023.

Aliás, não está sabendo das mudanças? Dê uma olhada aqui.

O Food Safety Brazil não poderia ficar pra trás, e lançou a tradução em português desde documento. É só baixar aqui.

Veja mais:

– Tradução: Requisitos Adicionais da FSSC 22000 versão 6.0 [link]

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O que o BoS 6.0 do FSSC 22000 fala sobre Food Defense?

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A revisão das decisões publicadas do BoSBoard of Stakeholders (Conselho de Grupos de Interesse) do Esquema FSSC 22000  foi publicada agora em abril de 2023 e encontra-se na versão 6.0. Em sua seção 2.5 – REQUISITOS ADICIONAIS DO FSSC 22000, o tema food defense não mudou significativamente. Por isso, quem já tinha um bom plano implantado sobre este assunto possivelmente terá de modificá-lo muito pouco ou nada.

A tradução de todos os requisitos adicionais do BoS da FSSC 22000 v6.0 você encontrará clicando em  Tradução: Requisitos Adicionais da FSSC 22000 versão 6.0.

A Global Food Safety Initiativa (GFSI) define food defense como o processo que busca garantir a segurança de alimentos, ingredientes ou suas embalagens contra todas as formas de ataques maliciosos intencionais, incluindo ataques motivados ideologicamente, bioterrorismo ou por desafetos que queiram prejudicar a organização, levando à contaminação ou a produtos inseguros com o potencial de prejudicar os consumidores e a imagem das marcas.

Portanto, food defense tem como foco prevenir a intenção de causar danos aos consumidores ou às marcas e empresas por ataques propositais aos seus produtos.

Planos capazes de antecipar as ameaças de contaminação intencional são um desafio corrente nas rotinas de trabalho da cadeia produtiva de alimentos, requerendo esforços e recursos para sua correta implantação.

Para tratar o tema food defense, cabe iniciar com a condução de uma avaliação e identificação lógica das ameaças tentando responder a questões inerentes a esta questão, como:

  1. Quem poderia querer prejudicar a organização e por quais motivações?
  2. Como poderia fazer isso, por quais acessos e meios?
  3. Qual seria o potencial risco de impacto na saúde pública, imagem da empresa ou de suas marcas caso conseguisse?
  4. Como seria possível evitar que um ataque deste tipo acontecesse?

Voltando ao esquema FSSC V 6.0, o assunto Food Defense encontra-se no requisito 2.5.3 que se subdivide em dois requisitos como segue:

2.5.3.1 – Avaliação de ameaças, aplicável a toda as categorias:

A organização deve:

a) conduzir e documentar a avaliação de ameaças de food defense, com base em uma metodologia definida, para identificar e avaliar ameaças potenciais ligadas ao processo e produtos no escopo da organização; e

b) desenvolver e implementar medidas de mitigação apropriadas para ameaças significativas.

Grifado em letra amarela o que foi modificado na versão 6.0 do BoS.

Ou seja, a revisão enfatiza a necessidade de documentar a avaliação de ameaças usando uma metodologia definida, onde cabe, por exemplo, o uso de ferramentas apropriadas para a condução de gestão de riscos.

2.5.3.2 – Plano aplicável a todas as categorias:

a) A organização deve ter um plano de food defense documentado, com base na avaliação de ameaças, especificando as medidas de mitigação e os procedimentos de verificação;

b) O plano de food defense deve ser implementado e apoiado pelo SGSA da organização;

c) O plano deve atender à legislação aplicável, abranger os processos e produtos no âmbito da organização e ser mantido atualizado.

Apenas Categoria FII (Brokering / Trading / E-Commerce):

d) A organização deve garantir que seus fornecedores tenham um plano de food defense em vigor.

Grifado em letra amarela o que foi modificado na versão 6.0 do BoS.

O item “d” do requisito 5.4.3.2 trata de empresas cuja atuação se restringe a realizar negociações de compra e venda, chamando-as para a responsabilidade em relação aos fornecedores com quem escolhe negociar, o que pode significar ter um bom processo de qualificação que considere uma abordagem voltada para o tema food defense.

Para atender integralmente o que é requisitado no 2.5.3 do Esquema FSSC 22000 V.6, deve-se então,  após identificadas e avaliadas as vulnerabilidades, estruturar ações de proteção na cadeia produtiva, incluindo os fornecedores, sistema logístico, recebimento, utilidades usadas, processos industriais, de armazenamento e de distribuição.

Medidas típicas de food defense incluem, mas não se limitam à:

  1. Restrição de acesso às imediações, equipamentos e operações apenas às pessoas autorizadas;
  2. Monitoramento dos perímetros onde as plantas industriais estão instaladas;
  3. Proibição do uso de itens pessoais nas áreas de processo, armazenamento e demais áreas restritas;
  4. Uso de sistemas de controle eletrônico de acesso ou de alarme para áreas específicas, assim como monitoramento por câmeras, ou por pessoas para observação visual de áreas específicas;
  5. Uso da identificação pessoal por uniformes e crachás para sinalização clara de pessoas autorizadas em locais, equipamentos, áreas de controles e com operações restritas;
  6. Condução periódica de checagem da integridade de embalagens de insumos e produtos acabados;
  7. Avaliação crítica de fornecedores, parceiros e prestadores de serviço;
  8. Aplicação de selos, embalagens secundárias e terciárias, além de vedações para restringir o acesso ao produto;
  9. Manter fechadas as áreas mais vulneráveis;
  10. Uso de sistemáticas para o acompanhamento da carga após expedição e lacração de caminhões.

Importante considerar também que, por envolver questões de cunho pessoal e comportamental, a chave para manutenção de um bom plano food defense requer o conhecimento profundo não apenas dos processos, mas principalmente dos indivíduos envolvidos neles.

Sobre Food Defense, leia também:

Food Defense: conceitos e aplicação na garantia de qualidade de leite e derivados

Food Defense | Os 10 Mandamentos na Defesa dos Alimentos

Dicas para elaborar um procedimento de Food Defense

Food defense: protecting the global food system from intentional adulteration – Neal Fredrickson

Como implementar Food Defense?

Food defense em embalagens suscetíveis de alterações

Continue acompanhando o Food Safety Brazil e a série de posts aprofundando detalhes sobre os requisitos exigidos na versão 6.0 da FSSC 22000. 

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Referências sobre Food Defense, Food Fraud e Cultura de Segurança de Alimentos

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Caro leitor, se você busca referências para ajudar no desenvolvimento dos programas de Food Fraud e Food Defense, as indicações abaixo poderão lhe ser úteis:

  1. PAS 96:2017, Guide to protecting and defending food and drink from deliberate attack. Food Standards Agency.

http://www.food.gov.uk/sites/default/files/pas96?2017?food?drink?protection?guide.pdf

  1. TACCP Treat Assessment and Critical Control, Point, A practical Guide, 2017. Campden BRI 2017.

www.campdenbri.co.uk

  1. Food Defense Guide Recommendations DGAL_mai 2007, Food Defense Guidelines ? Agriculture Ministery –May 2007.

http://agriculture.gouv.fr/IMG/pdf/dgaln20078128z.pdf

  1. The U.S. Pharmacopeial Convention (USP) Food Fraud Database. A searchable database composed of both scientific and mainstream media reports on food fraud incidences.

http://www.foodfraud.org/node

  1. CARVER + Shock. A set of vulnerability assessment tools.

http://www.fda.gov/Food/FoodDefense/FoodDefensePrograms/ucm376791.htm

  1. Guidance for Industry: Food Producers, Processors, and Transporters: Food Security Preventive Measures Guidance, March 2003; Revised October 2007.

http://www.fda.gov/Food/GuidanceRegulation/GuidanceDocumentsRegulatoryInformation/FoodDefense/ucm083075.htm

  1. French Resource: Guide des recommandations pour la protection de la chaîne alimentaire contre les risques d’actions malveillantes, criminelles ou terrorists.

http://agriculture.gouv.fr/IMG/pdf/guide2014_140214_V2_cle03f4ef.pdf

  1. Fighting Food Fraud, European Parliamentary Research Service.

http://www.europarl.europa.eu/RegData/bibliotheque/briefing/2014/130679/LDM_BRI(2014)130679_REV1_EN.pdf

  1. BRC, Understanding Vulnerabilities Assessment:

https://www.brcbookshop.com/p/1782/brc-global-standard-for-food-safety-issue-7-understanding-vulnerability-assessment-uk-unlocked-pdf-version

  1. Outras referências:

https://www.foodshield.org/discover-tools-links/tools/

http://ec.europa.eu/food/safety/rasff/index_en.htm

http://www.transparency.org

https://gmpplus.org/pagina/7501/cheap-is-too-good-to-be-true.aspx

https://www.food.gov.uk/enforcement/foodfraud

http://ec.europa.eu/food/food/horsemeat/index_en.htm

 

Referências sobre Cultura de Segurança dos Alimentos

  1. Yiannas, F. (2009). In Frank Yiannas. (Ed.), Food safety culture creating a behavior?based food safety

management system. New York: Springer, c2009.

  1. Assessing Factors Contributing to Food Safety Culture in Retail Food Establishments

http://www.foodprotection.org/files/food?protection?trends/Aug?12?Neal.pdf

  1. Article by Lone Jespersen. Food Safety Culture: Measure What You Treasure:

https://foodsafetytech.com/feature_article/food?safety?culture?measure?what?you?treasure/

  1. Article by By Geoff Schaadt, Creating a Culture of Food Safety:

http://www.foodsafetymagazine.com/magazinearchive1/junejuly?2013/creating?a?culture?of?food?safety/

  1. Best Practices for Building a Food Safety Culture:

http://pgpro.com/webinars/best?practices?for?building?a?foodsafety?culture/

  1. How to Create Food Safety Culture With Your Teams:

http://www.foodprocessing.com/articles/2015/createfood?safety?culture?with?your?teams/?show=all

  1. Behavior-Based food safety management system scheme:

http://www.bbfsms.com/

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