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Os desafios da crise climática para a produção de chocolate e café

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Para mim, chocolate e café estão entre os alimentos mais apreciados. Contudo, as mudanças climáticas estão causando transformações rápidas no ambiente global, afetando diversos setores, especialmente a agricultura. Isso pode influenciar a produção de alimentos como cacau e café, que estão entre os mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.

A mudança climática vai além do simples aumento da temperatura média global. Outros impactos das mudanças climáticas incluem tempestades mais intensas, aumento da frequência de chuvas fortes e períodos prolongados de seca. O derretimento do gelo nos polos está contribuindo para o aumento do nível do mar. Evidências preocupantes indicam que pontos críticos podem já ter sido atingidos ou ultrapassados, levando a mudanças irreversíveis nos principais ecossistemas e no sistema climático global.

O cacau, ingrediente principal do chocolate, é cultivado principalmente em regiões tropicais como a África Ocidental, América Central e do Sul, e partes da Ásia. Suas condições ideais incluem temperaturas médias de 27°C, alta umidade e chuvas regulares. Por outro lado, o café Arábica, conhecido por sua qualidade superior, é especialmente sensível a variações de temperatura e precipitação, com temperaturas ideais entre 18°C e 23°C.

De acordo com o relatório Endangered Aisle“, as regiões produtoras de café estão sendo significativamente afetadas pelas mudanças climáticas. Isso resulta em mudanças nos padrões de temperatura e precipitação, o que pode levar a uma redução na produtividade. Além disso, a biodiversidade nessas áreas está em risco, com perda de habitats naturais e diminuição das populações de polinizadores. Estudos indicam que muitas das principais regiões produtoras de café correm o risco de perder a adequação climática até 2050.

No mesmo relatório, vemos que as mudanças climáticas também estão impactando a produção de cacau. Prevê-se um aumento de temperatura e alterações nos padrões de precipitação, o que pode resultar em queda na produtividade. A alteração no uso da terra, como o desmatamento para expansão das plantações de cacau, tem efeitos negativos nos serviços ecossistêmicos, incluindo regulação do clima e conservação da biodiversidade. Regiões como Gana e Costa do Marfim enfrentam um risco significativo de perda de adequação climática para o cultivo de cacau até 2050.

Dado que as mudanças climáticas são um ponto de destaque, inclusive em certificações de segurança dos alimentos, como, por exemplo, a FSSC 22.000, é interessante considerar esse requisito junto ao sistema de gestão de qualidade e segurança do alimentos. A empresa precisa avaliar se as mudanças climáticas são pertinentes e se os requisitos das partes interessadas abrangem questões relacionadas a este tema. Isso assegura que as questões climáticas sejam contempladas no contexto da eficácia do sistema de gestão, juntamente com outras questões relevantes.

Cabe ressaltar que, neste contexto, mudanças climáticas afetam a manipulação, processamento e comercialização de alimentos, aumentando os riscos de higiene. Doenças transmitidas por alimentos podem se expandir devido às mudanças climáticas, assim como a ocorrência de fungos toxigênicos e micotoxinas. Florações de algas nocivas, contaminantes ambientais e resíduos químicos representam outros desafios. As mudanças climáticas aumentarão a frequência e severidade de desastres naturais, afetando a segurança alimentar e hídrica.

Para mitigar os desafios impostos pelas mudanças, é essencial promover abordagens interdisciplinares que considerem os impactos ambientais, na saúde animal e vegetal, higiene alimentar e saúde pública. A aplicação e adaptação de boas práticas de higiene, agropecuárias, de produção e veterinárias são fundamentais. Além disso, implementar programas integrados de monitoramento e vigilância do ambiente e dos alimentos, revisar e ajustar esses programas conforme necessário, e fortalecer o diálogo com os consumidores sobre os riscos e medidas de controle são passos cruciais. Investir em novas tecnologias e pesquisa científica aplicada, juntamente com a colaboração internacional para o compartilhamento de dados e informações, também é vital para desenvolver soluções eficazes. A preparação para emergências e a criação de sistemas de alerta rápido são essenciais para reduzir riscos e garantir a segurança alimentar em situações críticas.

Além disso, é essencial reconhecer a importância de preservar esses cultivos fundamentais para a produção de alimentos tão apreciados como o chocolate e o café. Diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, torna-se importante adotar medidas que visem a sustentabilidade e a preservação dessas culturas. A conscientização sobre os impactos ambientais e a busca por práticas agrícolas mais sustentáveis são passos importantes para mitigar os efeitos negativos sobre o cacau e o café.

Iniciativas que promovam a adaptação das práticas agrícolas às novas condições climáticas, o incentivo à diversificação de cultivos e a conservação dos ecossistemas são fundamentais para garantir a continuidade da produção desses alimentos tão apreciados. Além disso, o apoio a comunidades locais e agricultores na implementação de técnicas sustentáveis pode contribuir significativamente para a resiliência dessas culturas diante das mudanças climáticas.

Ao consumidor, cabe também um papel importante ao escolher produtos de empresas comprometidas com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental. Ao optar por produtos certificados que levam em consideração as questões climáticas, é possível apoiar práticas mais conscientes e contribuir para a preservação desses alimentos tão queridos em todo o mundo.

Portanto, é fundamental que governos, empresas e consumidores se unam em esforços. Somente com ações coletivas e estratégias sustentáveis poderemos assegurar que as gerações futuras possam desfrutar desses ricos sabores.

Imagem: Pexels

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Fungos toxigênicos e aflatoxinas em cacau

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 Aflatoxigenic fungi and aflatoxin in cocoa

International Journal of Food Microbiology 148 (2011) 141–144

Marina V. Copetti, Beatriz T. Iamanaka, José Luís Pereira, Maria H. Fungaro d, Marta H. Taniwaki

This paper reports the occurrence of aflatoxigenic fungi and the presence of aflatoxins in 226 cocoa samples collected on Brazilian farms. The samples were taken at various stages of fermentation, drying and storage.
A total of 819 potentially aflatoxigenic fungi were isolated using Dichloran 18% Glycerol agar after surface disinfection, and identified by standard techniques. The ability of the fungi to produce aflatoxins was determined using the agar plug technique and TLC. The presence of aflatoxins in cocoa samples was determined by HPLC using post-column derivatization with bromide after immunoaffinity column clean up.
The aflatoxigenic fungi isolated were Aspergillus flavus, A. parasiticus and A. nomius. A considerable increase in numbers of these species was observed during drying and storage. In spite of the high prevalence of aflatoxigenic fungi, only low levels of aflatoxin were found in the cocoa samples, suggesting the existence of limiting factors to the accumulation of aflatoxins in the beans.

Clique aqui para baixar.

Conteúdo gentilmente cedido pela autora e pesquisadora do ITAL Marta Taniwaki ao Blog Food Safety Brazil.

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Ocratoxina e Aflatoxina em chocolate brasileiro

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Co-occurrence of ochratoxin a and aflatoxins in chocolate marketed in Brazil

Food Control 26 (2012) 36-41

Marina V. Copetti , Beatriz T. Iamanaka, José Luís Pereira , Daniel P. Lemes b, Felipe Nakano, Marta H. Taniwaki b

This study investigated the occurrence of aflatoxin B1, B2, G1 and G2 and ochratoxin A in chocolate marketed in Brazil. A hundred and twenty-five samples of powdered, bitter, dark, milk and white chocolate were evaluated for mycotoxins. Ochratoxin A was the most common mycotoxin in the evaluated samples, contaminating 98% of the purchased chocolate. A co-occurrence of aflatoxins was observed in 80% of all samples evaluated. The bitter, dark and powdered chocolate samples had the largest presence of aflatoxins. On average, the highest levels of ochratoxin A were found in powdered, dark and bitter chocolate, respectively: 0.39; 0.34 and 0.31 mg/kg. Bitter, powdered and dark chocolate had the highest aflatoxin content; an average of 0.66, 0.53 and 0.43 mg/kg, respectively. This is the first report of co-occurrence of ochratoxin A and aflatoxins in chocolate. The consumption of chocolate with high levels of cocoa in the formulation has been stimulated due to health benefits attributed to some cocoa components but on the other hand, these high cocoa content products tend to have the highest amount of aflatoxins and ochratoxin A. To guarantee a safe consumption of chocolate, there should be a continuous monitoring of both ochratoxin and aflatoxin and more studies attempting to understand the dynamics involving mycotoxin-producing fungi and mycotoxin production in cocoa need to be carried out with the aim of preventing mycotoxin accumulation in this commodity.

Clique aqui para baixar o paper completo: [wpdm_file id=12]

 

Conteúdo gentilmente disponibilizado pela autora e pesquisadora do ITAL, Marta Taniwaki ao Blog Food Safety Brazil.

 

 

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