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Segurança de alimentos em gastronomia sustentável: lições do Cook for Change 2025

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A segurança de alimentos e a gastronomia sustentável não são conceitos excludentes – pelo contrário, caminham lado a lado na construção de um sistema alimentar mais responsável. Foi com esse olhar que o Food Safety Brazil participou de um evento exclusivo da Sodexo, onde tivemos a oportunidade de conversar com os três chefs brasileiros classificados para a semifinal mundial do Cook for Change 2025, competição global que aconteceu em Chicago entre 17 e 21 de novembro. 

O desafio 

O Cook for Change é uma competição que desafia chefs de 30 países a criarem receitas inovadoras, nutritivas e sustentáveis em apenas 60 minutos. Os pratos devem ser predominantemente à base de plantas, com possibilidade de incluir peixes e frutos do mar sustentáveis, valorizando ingredientes locais e o aproveitamento integral dos alimentos.

Mas como garantir a segurança de alimentos em um contexto que prioriza sustentabilidade, aproveitamento integral e ingredientes não convencionais? Foi exatamente isso que perguntamos à equipe Sodexo.

  • Aproveitamento integral e segurança de alimentos

“Ao trabalhar com o aproveitamento integral dos alimentos – incluindo cascas, talos e outras partes menos convencionais -, quais são os principais cuidados de segurança de alimentos que vocês precisam observar, desde a seleção dos ingredientes até o preparo final?”

R.: Quando falamos em aproveitamento integral dos alimentos, a segurança vem sempre em primeiro lugar. Na Sodexo, o uso de cascas, talos, folhas e sementes segue os mesmos padrões internacionais aplicados às demais etapas de produção. Tudo começa com a seleção rigorosa dos insumos, por isso trabalhamos apenas com fornecedores homologados, assegurando qualidade, rastreabilidade e condições adequadas de produção.

Cada ingrediente passa por protocolos padronizados de higienização com sanificante alimentar, manipulação segura para evitar contaminação cruzada, uso adequado de utensílios e armazenamento em temperatura controlada. 

A garantia da segurança dos alimentos no aproveitamento integral dos alimentos se dá no cuidado, higiene e controle de temperatura para as cascas, talos e partes não convencionais. Ou seja, essas partes não são tratadas como descarte, mas como alimento, do início ao fim do processo.     

  • Controle de tempo e temperatura em receitas sustentáveis

“Considerando que vocês têm apenas 60 minutos para preparar pratos completos à base de plantas, peixes e frutos do mar, como vocês garantem o controle adequado de tempo e temperatura para ter segurança microbiológica, especialmente ao trabalhar com ingredientes de diferentes origens?”

R.: Mesmo em um ambiente de competição, seguimos as mesmas práticas adotadas nas operações da Sodexo. Todos os ingredientes utilizados já chegam armazenados em condições controladas dentro da nossa cadeia homologada, garantindo que estejam em temperatura adequada desde a origem até o momento do preparo.

Durante a prova, aplicamos procedimentos de manipulação segura, segregação de alimentos crus e prontos para consumo, higienização dos alimentos, que inclui a etapa de sanitização de hortifrutis, a contínua higienização das superfícies e utensílios e o monitoramento constante de temperatura. Os chefs utilizam equipamentos adequados para garantir as temperaturas de cocção e resfriamento e asseguram que o preparo siga os procedimentos descritos em nosso Manual de Boas Práticas Sodexo.

Antes do evento, nossas equipes de especialistas técnicos estruturam um fluxo produtivo eficiente e seguro, garantindo que mesmo em apenas 60 minutos o processo siga padrões de qualidade e segurança equivalentes aos aplicados no ambiente operacional. A montagem do prato é rápida, mas a responsabilidade sanitária permanece a mesma desde o campo até o prato final. Inclusive, entre o comitê avaliador temos especialistas em segurança dos alimentos, avaliando o atendimento desses critérios no preparo dos pratos.

  • Rastreabilidade e ingredientes locais

“A competição valoriza o uso de produtos locais e frutos do mar sustentáveis. Como vocês asseguram a rastreabilidade e a procedência segura desses ingredientes, principalmente ao desenvolver receitas que serão replicadas em diferentes operações da Sodexo ao redor do mundo?”

R.: Rastreabilidade faz parte dos princípios globais dos programas de segurança dos alimentos da Sodexo. Trabalhamos exclusivamente com fornecedores aprovados dentro dos nossos padrões, o que garante origem verificada, inspeção sanitária, boas práticas de produção e transporte adequado. Todos os ingredientes utilizados na competição já pertencem a essa cadeia segura e homologada.

Quando um prato criado no Cook For Change passa a ser replicado em outras unidades, ele se transforma em um processo padronizado. Construímos fichas técnicas, determinamos parâmetros de preparo, tempos e temperaturas, padronizamos cortes, fracionamento, armazenamento e métodos de higienização. Dessa forma, conseguimos manter a mesma qualidade, o mesmo sabor e o mesmo nível de segurança em qualquer operação, seja no Brasil ou em outro país.

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Nosso país nas últimas competições

O Brasil tem se destacado na competição, conquistando o primeiro lugar em 2023 e o Top 5 em 2024. Agora, três chefs brasileiros levarão para Chicago não apenas a brasilidade gastronômica, mas também o compromisso com práticas seguras e sustentáveis que podem ser replicadas globalmente.

As receitas criadas na competição precisam ser viáveis para implementação nas operações da Sodexo pelo mundo, o que significa que toda inovação deve estar alinhada com protocolos rigorosos de segurança de alimentos, boas práticas de fabricação e legislações sanitárias de diferentes países.

O Food Safety Brazil seguirá acompanhando essa jornada dos chefs brasileiros e compartilhando insights sobre como a indústria de alimentos pode abraçar a sustentabilidade sem comprometer os padrões de segurança que protegem a saúde pública.

Desejamos sucesso aos nossos chefs na semifinal em Chicago!

3 min leituraA segurança de alimentos e a gastronomia sustentável não são conceitos excludentes – pelo contrário, caminham lado a lado na construção de um sistema alimentar mais responsável. Foi com esse […]

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Desafios atuais em serviços de alimentação – entrevista com Luiza Dutra

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Quais são os atuais desafios em Serviços de Alimentação? Conheça-os nessa entrevista com Luiza Dutra.

Atrás de cada post do blog existe um profissional que se dedica a compartilhar experiências e conhecimento. Diante disso, o Food Safety Brazil iniciou uma série de entrevistas com seus colunistas para que vocês possam conhecê-los um pouco mais. A entrevistada de hoje é Luiza Dutra, que faz parte do FSB desde 2018.

Luiza é engenheira química, pós-graduada em Vigilância Sanitária, consultora especialista em gestão, serviços de alimentação, atendimento ao consumidor, treinamentos, Perita Judicial e Assistente técnico.

Food Safety Brazil: Quais são as maiores dificuldades dos negócios de serviços de alimentação atualmente?

Luiza: Atualmente percebo que as maiores dificuldades vieram (ou se agravaram) junto com os problemas financeiros devido à pandemia: faturamento baixo, muitas pessoas ainda se sentem inseguras para sair de casa, demissão de colaboradores, etc.

Alguns estabelecimentos não tinham um delivery bem estruturado e acumularam dívidas nos meses em que precisaram fechar o funcionamento presencial.

Na reabertura, se acostumar com a nova realidade tem sido desafiador. Todo mundo teve que se adaptar de alguma forma, seja reorganizando uma equipe menor ou por meio de novas contratações, o que significa treinar novamente os colaboradores de acordo com cada detalhe da cozinha e com as boas práticas, é claro!

Além dos manipuladores de alimentos, os próprios clientes dificultam a implementação de protocolos em alguns casos, como o distanciamento em filas, o uso de álcool gel, a etiqueta respiratória, o distanciamento de mesas, a restrição do número de pessoas por ambiente, entre outras situações.

Além disso, devido à crise econômica que se instalou nessa pandemia, o ticket médio também sofreu alterações e acredito que muitas pessoas passaram a se alimentar menos fora do lar.

É possível notar que muitos serviços de alimentação têm dificuldades com as boas práticas, às vezes relacionadas a conceitos bem básicos e importantes. Infelizmente, o profissional da área de segurança de alimentos não é tão valorizado no setor de serviços de alimentação como na indústria de alimentos.

Muitos empresários ainda tomam decisões sem orientação e acabam prejudicando a empresa mais ainda devido à falta de conhecimento específico na área.

Pelo menos na minha cidade, percebo que nem todos tem um profissional para fazer um bom acompanhamento e muitos que têm este tipo de serviço contratado não conseguem se adequar de maneira satisfatória, muitas vezes por causa de falhas na capacitação da equipe e na comunicação.

Já atendi clientes que tinham o acompanhamento de boas práticas com outro profissional e quando precisei identificar pontos de melhoria entendi que o problema não era a equipe, mas os tipos e metodologias de treinamentos ministrados anteriormente.

Se o colaborador não assimila o que é necessário, de nada adianta tentar implementar planilhas e fazê-los assinar listas de presença, se eles não conseguem reproduzir o que a legislação pede e o que é necessário para garantir a segurança dos alimentos.

O controle de qualidade nos serviços de alimentação é, dessa forma, uma grande dificuldade para o setor e não deve ser negligenciado.


Food Safety Brazil: Como se tem contornado a falta de recursos e a crise do setor, causada pela pandemia, do ponto de vista da segurança de alimentos?

Luiza: Muitos estabelecimentos escolhem reduzir o cardápio, mudar os fornecedores e procurar maneiras de reduzir o desperdício durante as preparações.

Essas opções são maneiras realmente eficazes para contornar a crise, todavia é importante destacar erros comuns que podem acontecer durante essas manobras.

É interessante, sim, procurar fornecedores com melhores condições de pagamento e bons preços, mas a qualidade dos alimentos deve ser sempre prioridade em qualquer compra.

A seleção de fornecedores nunca deve ser esquecida. Afinal, a matéria prima está diretamente relacionada à qualidade e à segurança dos alimentos produzidos. De nada adianta tomar todo o cuidado no preparo sem o cuidado da escolha de um bom fornecedor.

Ao reduzir os desperdícios, é imprescindível prestar atenção na padronização das receitas, nas fichas técnicas (que determinarão não somente as quantidades, mas também o modo correto de preparo, temperatura, armazenamento, etc.) nos rendimentos das preparações (principalmente no pré-preparo e na escolha de marcas e fornecedores) e no volume de vendas de cada prato.

Por incrível que pareça, as vendas também influenciam a segurança dos alimentos, visto que um simples erro de cálculo pode levar a um exagero de produção de um item que vai, literalmente, “apodrecer” no estoque se a cozinha não estiver alinhada com o salão.

É muito fácil cometer erros que influenciam as validades e os armazenamentos incorretos.

É necessário adaptar tudo de acordo com o momento que estamos vivendo, inclusive as quantidades que eram praticadas antes da pandemia. Tudo isso influencia diretamente a segurança dos alimentos e deve ser tratado com seriedade.

Infelizmente, alguns estabelecimentos optam, também, por economizar no material de limpeza ou no controle de qualidade, mesmo que sejam itens tão básicos e indispensáveis.

O controle de qualidade é fundamental para o bom funcionamento de qualquer serviço de alimentação e deve ser visto como um investimento, e nunca como gasto.

Os controles são essenciais para evitar problemas graves com a saúde dos consumidores. Além disso, ninguém frequenta estabelecimentos que tiveram o nome manchado por interdições da vigilância sanitária ou casos de intoxicação alimentar.

Então, pensando por esse lado, tudo dentro de um serviço de alimentação pode ser relacionado com a segurança dos alimentos. É ilusão pensar que Food Safety não tem nada a ver com a gestão de um negócio do setor alimentício.


Food Safety Brazil: O que acontece com o self-service nos restaurantes nesta pandemia?

Luiza: Acredito que, culturalmente, será difícil ver este tipo de serviço desaparecer por completo no Brasil. Porém, com a pandemia, muitas pessoas passaram a prestar mais atenção na higiene durante a manipulação de alimentos e pode ser que estabelecimentos com este modelo de negócio não sejam mais a primeira escolha do consumidor.

A melhor solução que vejo para os restaurantes self-service será adaptar os serviços para garantir a segurança de quem consome no local e, assim, conquistar a confiança dos clientes por meio da readaptação do self-service.

Food Safety Brazil: Que dicas práticas você dá para viabilizar a rastreabilidade em serviços de alimentação?

Luiza: Devido à correria comum nos serviços de alimentação, os colaboradores às vezes deixam os controles de lado. Infelizmente, sem dados não temos rastreabilidade. As equipes costumam ser pequenas e muitos manipuladores têm dificuldades em preencher dados nas planilhas.

Muitos não se dão bem com termos técnicos, números e tabelas. Eu costumo simplificar ao máximo tudo que for possível para garantir que os dados sejam fiéis.

De nada adianta números inventados apenas para preencher o que foi solicitado. Além da simplificação e melhoria da didática, gosto de investir na conscientização de toda a equipe sobre a seriedade de cozinhar para o próximo.

Muitos não têm a noção real do risco que existe em cada erro e pensam que a maioria das orientações são frescuras.

Para um controle de qualidade de sucesso é essencial a implementação da cultura de Food Safety na empresa como um todo. Com isso, a adequação às normas e legislações se torna apenas um detalhe e o mais importante passa a ser o sentido verdadeiro de garantir a segurança dos alimentos.

Neste link podem ser encontrados os posts escritos pela Luiza.

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