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Surto de Doença Transmitida por Alimentos: como avaliar

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Recordemos o conceito de Doença Transmitida por Alimentos (DTA):

(…) São todas as ocorrências clínicas consequentes da ingestão de alimentos que possam estar contaminados com microrganismos patogênicos (infecciosos, toxigênicos ou infestantes), substâncias químicas, objetos lesivos ou que contenham em sua constituição estruturas naturalmente tóxicas, ou seja, são doenças consequentes da ingestão de perigos biológicos, químicos ou físicos presentes nos alimentos.

O Manual Integrado de Prevenção e Controle de Doenças Transmitidas por Alimentos, do Ministério da Saúde, define surto como:

Episódio no qual duas ou mais pessoas apresentam, num determinado período de tempo, sinais e sintomas após a ingestão de um mesmo alimento considerado contaminado por evidência clínica-epidemiológica e/ou laboratorial.

Considerando os conceitos acima descritos, devemos iniciar a avaliação de um surto de Doença Transmitida por Alimentos a partir do estudo epidemiológico, com o objetivo de identificar o provável agente etiológico. Ilustrativamente, podemos segmentar esse estudo como na figura abaixo:

1. Estudo epidemiológico

O estudo epidemiológico para identificação de um possível agente etiológico deve iniciar pelas informações obtidas por meio de entrevistas com os doentes, ou seja, pela aplicação do formulário para avaliação das doenças transmitidas por alimentos, de modo individual ou coletivo.

O formulário para avaliação das DTA objetiva obter informações sobre: período de incubação médio, duração da doença, frequência de sintomas e taxa de ataque de cada alimento envolvido. Abaixo, listo as etapas que compõem o fluxo das informações do estudo epidemiológico:

2. Análise microbiológica

Após a coleta, as amostras devem ser armazenadas em condições de refrigeração, com temperatura não superior a 4°C por, no máximo, 72h, ou em congelamento a -10°C (ou mais frio) também por no máximo 72 horas. Após o estudo epidemiológico, devem ser encaminhadas para a análise microbiológica, instrumento este de avaliação das condições higiênico-sanitárias em relação à manipulação e processamento dos alimentos.

O procedimento de análise microbiológica dos alimentos suspeitos deve seguir os requisitos dispostos na Resolução RDC Nº 724, de 01 de julho de 2022, que dispõe sobre os padrões microbiológicos dos alimentos e sua aplicação e na Instrução Normativa Nº 161, de 01 de julho de 2022, que estabelece os padrões microbiológicos dos alimentos.

3. Coprocultura

A coprocultura pode ser utilizada quando o quadro clínico do paciente indicar um processo infeccioso disentérico ou diarreico, associado a um estado febril. A partir da análise das fezes dos pacientes e dos manipuladores dos alimentos, pode-se identificar um possível microrganismo patogênico infeccioso.

4. Fluxograma de produção de alimentos

Deve-se considerar o fluxograma de preparação dos alimentos suspeitos, principalmente do alimento cuja taxa de ataque foi maior, com a finalidade de determinar as possíveis falhas nos pontos críticos de controle, durante as etapas de processamento e manipulação de alimentos. Para isso, é importante manter os registros da preparação dos alimentos dentro do tempo regulamentado pela RDC Nº216/2004, da Anvisa.

As informações obtidas com os responsáveis pela produção dos alimentos e, quando necessário, com o médico responsável pelo atendimento aos comensais doentes, complementam as informações necessárias para o estudo epidemiológico.

Denise Brasil é nutricionista, especialista em Gestão da Qualidade em Serviços de Alimentação e especialista em Gestão da Qualidade em Engenharia de Produção

Referência

Silva Junior, Eneo Alves da. Manual de Controle Higiênico Sanitário em Serviços de Alimentação – 8.ed. – São Paulo: Livraria Varela, 2020

 

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Aplicando a semiologia veterinária na Inspeção Ante-Mortem de Aves

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Se você fosse o veterinário responsável de um abatedouro de frangos e estivesse executando a inspeção ante-mortem numa ave com essa sintomatologia (torcicolo) qual seria sua conduta? Será que se trata de uma doença de notificação obrigatória do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) como a Doença de NewCastle ou Marek? Sabe-se que um dos objetivos da inspeção ante-mortem é detectar doenças de difícil constatação no exame post-mortem (carcaças e vísceras) e também notificar o Serviço de Defesa Sanitária Animal em caso de doenças que justifiquem isso (já falamos um pouco aqui sobre a importância da inspeção ante-mortem.)

O caso da foto é real e aconteceu em um certo abatedouro-frigorífico de frangos. Ele foi tratado como uma lesão cervical originada pela má conduta do colaborador da apanha no galpão. Como descobrimos? Ao avaliar mais aves do mesmo lote, durante a inspeção Ante-Mortem, constatou-se que somente esta ave apresentava tal sintomatologia, isto é, o torcicolo. Se tivéssemos uma doença viral circulante, como Marek ou NewCastle, outras aves do mesmo lote estariam com sintomas semelhantes ou sugestivos para as doenças suspeitas. Uma questão não só semiológica, mas epidemiológica. Portanto, o diagnóstico presuntivo foi torcicolo por lesão física (apanha), o animal foi para abate imediato e a empresa respondeu RNC (Relatório de Não Conformidade) por falha de Bem Estar Animal.

A semiologia é a parte da medicina que estuda os métodos de exame clínico, pesquisa os sintomas e os interpreta, reunindo, desta forma, os elementos necessários para construir o diagnóstico e presumir a evolução da enfermidade. Agora você entende a aplicabilidade dos conceitos semiológicos vinculados à área da Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública?

Abaixo, seguem fotos de frangos acometidos por Doença de Marek  e NewCastle para fins comparativos.

marek
Torcicolo causado pela Doença de Marek / Dr. Jaime Ruiz
newcastle
Torcicolo causado pela Doença de NewCastle / Cornell University

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Link do Dia: Foodnet

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Outro grande aprendizado que estou trazendo do XX Simpósio da Abrapa de Inocuidade de Alimentos, que cordialmente cedeu uma vaga para o blog Food Safety Brazil é entendimento de todo o potencial do site do Center of Desease Control (EUA), algo análogo aos nossos Centros de Vigilância Epidemiológica.

O Foodnet  é uma incrível base de dados norte-americana. que começou em 1995, e é uma rede de vigilância ativa para enfermidades. Suas informações são a base para o estabelecimentos de políticas de segurança de alimentos e ações de prevenção. O FoodNet estima o número de DTA, monitora tendências de incidências, correlaciona uma doença com alimentos específicos ou localidades e dissemina esta informação.

Alguns dados que podem ser encontrados:
– Números de infectados por 100.000 habitantes
– Mortes e hospitalizações (filtro por faixa etária)
– Mapas de surtos multi-estaduais

Também poderá encontrar um gráfico como este, onde se pode visualizar que a incidência de Vibrio está crescendo.

Os patógenos cobertos são:
Campylobacter, Cryptosporidium, Cyclospora, Listeria, Salmonella, Shiga toxin-producing Escherichia coli (STEC) O157 and non-O157, Shigella, Vibrio, Yersinia.

Nem todos os estados são cobertos pelo sistema (aproximadamente 15% da população foi contemplada)

Aqui no blog já compartilhamos informações deste site no post:
EUA não atingem seus objetivos de segurança de alimentos.

Use e abuse.

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TOP 10 surtos de origem alimentar no Brasil

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Alimentar-se é uma atividade essencial para manutenção da vida.  É através da alimentação que assimilamos os nutrientes para nossas funções vitais. O alimento é, em resumo, nosso combustível para a vida. No entanto, um alimento contaminado pode ocasionar malefícios ao invés de benefícios. A maioria das doenças transmitidas por alimentos são ocasionadas por bactérias ou suas toxinas, vírus e parasitas. Podem também ser ocasionadas por toxinas naturais (por exemplo, cogumelos venenosos) ou por contaminação por produtos químicos (por exemplo, agrotóxicos). A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) faz um acompanhamento do número de casos de doenças transmitidas por alimentos e a conseqüente incidência de surtos relacionados no país. Embora a quantidade de casos e surtos venha decrescendo nos últimos anos, em 2011 mais 8.000 pessoas sofreram intoxicação ou contraíram uma infecção decorrente do consumo de um alimento impróprio. 

Fonte: Ministério da Saúde – Secretaria da Vigilância em Saúde

Portal da Saúde

No Brasil, foram documentados mais de 400 surtos relacionados com o consumo de alimentos em 2011, sendo as regiões mais criticamente impactadas a Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A classe de alimentos mais freqüentemente envolvida em surtos alimentares são ovos e alimentos a base de ovos, e como conseqüência deste cenário, a maior incidência por agente etiológico dá-se pela Salmonella sp.  

Fonte: Ministério da Saúde – Secretaria da Vigilância em Saúde

Portal da Saúde

No Top 10 surtos no Brasil estão como campeões: Salmonella spp / S. aureus / E.coli / Hepatite A / B. cereus/ C. perfringens /  Rotavirus  / Shighella spp / Giardia / C. botulinum. Todavia, nem sempre que alguém contrai uma doença de origem alimentar, esta pessoa procura um serviço de saúde e faz sua notificação. Por isso, os números absolutos de casos de contaminação por alimentos no Brasil ainda não representam as ocorrências no país em sua totalidade. É importante frisar que um terço dos surtos de intoxicação alimentar é decorrente de refeições dentro de casa, o que mostra, mais uma vez que a nossa segurança e a da nossa família está, literalmente, em nossas mãos! Este post foi atualizado. Veja “Surtos alimentares no Brasil – dados atualizados em 2013 .

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