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Tecnologia e pessoas: o encontro da cultura de segurança de alimentos com a gestão digital

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A era analógica ainda está presente nos sistemas de Gestão de Qualidade e Segurança de Alimentos, mas está com os dias contados. Há quem defenda que, em curto prazo, os processos, seus controles e monitoramentos, estarão todos sistematizados.

Creio que, mesmo que não seja assim tão rápido – uma vez que ainda não temos sistemas que integrem todos os dados que os processos geram no dia a dia operacional -, essa transição deve (e vai!) acontecer e isso é bom para todos os envolvidos.

Vamos pensar no seguinte: uma validação de uma medida de controle, por exemplo, em que os resultados de monitoramentos de 3 meses são trazidos por meio físico (registros no papel mesmo). Se estes dados fossem registrados por meio de um sistema, ao invés de ficar horas (ou dias) compilando os valores obtidos para se chegar a uma conclusão e tomar as decisões cabíveis, as informações seriam demonstradas depois de alguns poucos cliques.

E assim há mais tempo para os responsáveis agirem em outras frentes!

Importante refletir que essa otimização de tempo não significa obrigatoriamente substituição da ação humana, pelo contrário, qualquer decisão e ação tomada requer competência, avaliação dos riscos, experiência. E tudo isso, dentro de um sistema de gestão, depende ainda da avaliação dos responsáveis por outros setores relevantes.

Alguns conceitos nesse cenário são importantes para refletirmos: a diferença entre dado e informação.

Dado é o elemento bruto que representa algo e que ainda depende de uma interpretação. Funciona como a matéria-prima da informação, que é o dado trabalhado e analisado para um determinado objetivo. Dito isso, temos que o dado é a base para a informação.

Voltando ao exemplo da validação: os valores registrados obtidos daquela medida de controle são os dados que, após interpretados e devidamente analisados, vão trazer informações sobre a medida, como, por exemplo, quais os menores e maiores valores obtidos, qual a média desses valores, entre outras informações relevantes que, por fim, vão apresentar o desempenho desta medida e concluir se é eficaz ou não.

A partir dos dados e das informações, tomam-se as decisões pertinentes em relação àquele processo. Algumas interpretações também podem ser feitas, como por exemplo, analisar tendências desses resultados e suas possíveis causas.

Dessa forma podemos ver o quanto é preciso conhecimento, competência e, muitas vezes, mais do que isso, a experiência para o entendimento dessas informações.

E agora, pensando na digitalização na gestão, a pergunta a ser feita é:

“Qual o impacto que a digitalização traz para a cultura de segurança de alimentos?”

Essa é uma resposta que apenas a própria empresa poderá responder. Mas a ideia aqui é trazer a importância dessa pergunta para que o assunto seja refletido dentro da organização.

Como será gerenciada essa transição? Quais etapas, quais riscos, quais as vantagens e desvantagens? Como esse processo pode ou vai mudar as características da cultura de segurança de alimentos presentes até então?

A certeza é que esse encontro da cultura de segurança de alimentos com a digitalização requer foco em treinamento e comunicação. O investimento pode não ser apenas de recursos financeiros, mas em pessoas, tecnologia, equipamentos, treinamento, entre outros.

A tecnologia não anda sozinha e não garante por si só melhoria da cultura de segurança de alimentos. Uma cultura frágil pode continuar sendo frágil caso o responsável pela alimentação dos dados não entenda a relevância do que está registrando ou caso os dados não sejam confiáveis, rastreáveis, nem sejam devidamente controlados e armazenados.

A digitalização deve ser gerenciada como um motor para a cultura de segurança de alimentos, garantindo, além da agilidade, transparência, comprometimento com a segurança dos produtos, melhor gestão de riscos e de desempenho e posicionamento preventivo frente a tendências. Não pode ser reduzida apenas a melhor performance em auditorias ou vista como substituição do trabalho humano e ganho de tempo, sob o risco de intensificar um lado negativo da cultura de grande parte das organizações, que é a pressa e falta de cuidado com os detalhes.

Como sua empresa está no processo de digitalização?! Já consegue concluir algumas vantagens e desvantagens desse cenário? Contribua com a gente nos comentários!

Se você está lendo esse post antes do dia 8 de outubro de 2025, não perca esse webinar que vai rolar no 16º Food Safety Brazil Meeting, onde eu e a Renata Cerqueira vamos discutir a cultura de segurança de alimentos e a digitalização! Para se inscrever, basta clicar aqui.

Para quem quer relembrar alguns artigos que já abordaram o tema, uma sugestão é: como avaliar a cultura de segurança de alimentos na sua organização?. Veja outros posts sobre isso aqui, aqui e aqui.

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Digitalização de documentos no setor de alimentos

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Comecei minha carreira numa era quase jurássica da tecnologia, na qual os computadores ainda eram novidade, verdadeiras estrelas de escritório, e as máquinas de escrever batiam ponto firme ao lado das pilhas de papel. Os arquivos? Ah, esses eram físicos, claro! Documentos seguiam em caixas de plástico coloridas para o famoso “arquivo morto”, um lugar que de morto não tinha nada, porque dava trabalho pra caramba!

Imagine prateleiras e mais prateleiras abarrotadas de papéis, onde um simples erro na ordem alfabética podia transformar sua tarde numa caça ao tesouro (só que sem mapa e com muita rinite!).

Era preciso preparo: coragem para enfrentar o pó, paciência de monge e espírito de festa para comemorar cada documento encontrado.

Ah, e não era só poeira que morava por lá, roedores também gostavam do ambiente, afinal havia abrigo e papel para produção de ninhos aconchegantes. Por isso, o local precisava estar dentro do anel sanitário. Também era preciso controle de acesso para proteger informações sensíveis, e claro, contar com plano contra incêndios, afinal, um episódio desses poderia apagar não só papéis, mas a rastreabilidade inteira da empresa.

Mas olhe só como o mundo gira. Hoje, apenas cerca de 3 décadas depois, vivemos uma nova realidade, com a mágica da digitalização, documentos na nuvem, busca em segundos e zero espirros! É quase como trocar uma escavação arqueológica por um clique.

A digitalização de documentos é uma prática cada vez mais adotada por empresas de diversos setores, incluindo o de alimentos, visando principalmente otimizar processos, reduzir custos e garantir maior segurança na gestão documental.

No entanto, é fundamental compreender as regulamentações específicas que envolvem a digitalização, especialmente aquelas estabelecidas por órgãos como a ANVISA.

O que é a digitalização de documentos?

Digitalizar documentos consiste em converter arquivos físicos em formatos digitais, permitindo seu armazenamento e acesso por meios eletrônicos.

A adoção da digitalização de documentos traz diversos benefícios para o setor de alimentos:

  1. Redução de espaço físico: Elimina a necessidade de armazenamento volumoso de documentos em papel, liberando áreas para outras finalidades operacionais;

  2. Agilidade na recuperação da informação: A indexação e os mecanismos de busca eletrônica permitem acesso imediato aos registros, otimizando auditorias e consultas internas;

  3. Segurança e integridade dos dados: A digitalização, aliada ao uso de criptografia, controle de acesso e políticas de backup, assegura proteção contra perda, extravio e acesso não autorizado;

  4. Conformidade com requisitos regulatórios: Facilita a rastreabilidade e a manutenção de registros exigidos por órgãos como ANVISA e MAPA, com maior eficiência e organização;

  5. Sustentabilidade e redução de custos operacionais: Diminui o consumo de papel, impressão e logística de arquivamento, contribuindo para políticas ambientais e redução de despesas.

Para empresas que buscam agilidade na digitalização, existem diversas ferramentas e aplicativos que permitem escanear documentos, como demonstra a tabela a seguir:

DESCRIÇÃO INDICAÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS
Scanner de Mesa (Flatbed) Escaneia com tampa articulada, documento sobre vidro. Fotos, livros, documentos frágeis. Alta qualidade de imagem. Lento, não ideal para grande volume.
Scanner com Alimentador Automático (ADF) Possui alimentador de folhas e escaneia frente e verso. Escritórios com grande volume. Rápido, escaneamento duplex automático. Mais caro, sensível a papéis danificados.
Scanner Portátil Pequeno e leve, ideal para mobilidade. Profissionais em campo. Portátil, alimentado por USB ou bateria. Qualidade inferior, limitado a documentos simples.
Aplicativo de Celular Apps (*) que usam a câmera do celular para escanear. Uso casual, digitalização rápida. Gratuito, OCR, correção automática. Depende da câmera e da iluminação.
Multifuncional (All-in-One) Impressora com função de escaneamento integrada. Escritórios pequenos, uso doméstico. Bom custo/benefício, integração com rede ou nuvem. Velocidade e qualidade variáveis.
Serviço Profissional de Digitalização Empresas especializadas fazem digitalização em escala. Grandes volumes, documentos históricos. Confiabilidade, certificação legal, alta qualidade. Custo elevado, logística de transporte.

(*) Aplicativos como Adobe Scan, CamScanner e Microsoft Office Lens oferecem recursos de reconhecimento óptico de caracteres (OCR), facilitando a conversão de documentos físicos em arquivos digitais editáveis.

No entanto, para que esses documentos digitalizados tenham validade jurídica, é necessário seguir padrões técnicos e legais específicos, definidos pelo Decreto nº 10.278, de 18 de março de 2020, que regulamenta os procedimentos e requisitos técnicos para a digitalização de documentos públicos e privados, conferindo aos documentos digitalizados os mesmos efeitos legais dos originais físicos, desde que atendam às exigências estabelecidas.

Para que um documento digitalizado tenha o mesmo valor legal do original, o decreto estabelece os seguintes requisitos:

  1. Assinatura digital: Utilização de assinatura eletrônica qualificada, baseada em certificado digital no padrão da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil);
  2. Padrões técnicos de digitalização: Conformidade com os padrões mínimos de qualidade de imagem, resolução e formato de arquivo, conforme especificado no Anexo I do decreto, que exige resolução mínima de 300 dpi, armazenados em formatos como PDF/A para textos e PNG para imagens;
  3. Metadados: Inclusão de metadados que descrevam o documento digitalizado e o processo de digitalização, conforme detalhado no Anexo II do referido decreto;
  4. Preservação e descarte: Após a digitalização, os documentos físicos poderão ser descartados, exceto aqueles que, por determinação legal, devam ser preservados em sua forma original.

Evidentemente, nem todo documento exige a preservação de valor legal com assinatura eletrônica e outros requisitos formais, já que muitos servem apenas para fins de rastreabilidade. No entanto, adotar padrões mínimos de resolução e qualidade é uma prática recomendável em qualquer situação.

Além disso, com o advento da Internet das Coisas (IoT), muitos registros passaram a ser gerados exclusivamente de forma eletrônica, sem qualquer equivalente em papel. Sensores, dispositivos inteligentes e sistemas automatizados produzem dados continuamente, exigindo que sua guarda e gestão também ocorram em meio digital.

No setor de alimentos, a digitalização de documentos pode ser aplicada a registros de garantia e controle de qualidade, diversos registros com informações de processo, laudos de matérias-primas, insumos e embalagens, laudos analíticos de liberação de produtos, laudos de calibração de instrumentos de medição e ensaio, relatórios de auditorias, registros de treinamento, certificados sanitários, licenças e outros documentos exigidos por órgãos reguladores como a ANVISA e o MAPA.

A digitalização facilita, acima de tudo, a rastreabilidade na cadeia produtiva do setor de alimentos ao permitir o registro preciso, organizado e acessível em tempo real de cada etapa do processo, desde a matéria-prima até o produto final. Isso garante maior controle, transparência e rapidez na identificação de falhas, atendendo às exigências regulatórias e promovendo a segurança do alimento.

É importante, no entanto, verificar se há documentos específicos que, por exigência legal, como contratos, de valor histórico ou com assinaturas autenticadas, requeiram ser mantidos em formato físico para garantir sua validade jurídica.

Armazenamento de documentos digitalizados

Após a digitalização, é essencial que os documentos sejam armazenados em ambientes digitalmente seguros, organizados e compatíveis com os requisitos regulatórios aplicáveis. As principais opções de armazenamento incluem:

  • Serviços de armazenamento em nuvem: Plataformas como Google Drive, Dropbox Business e Microsoft OneDrive for Business oferecem soluções escaláveis com protocolos avançados de segurança, como autenticação multifator, criptografia de dados em trânsito e em repouso, além de redundância geográfica. São recomendadas para empresas que demandam acesso remoto e colaboração entre unidades;

  • Servidores locais (On-Premises): Indicados para organizações que optam por manter os dados sob controle interno. Devem ser configurados com sistemas de backup automatizado, proteção contra falhas físicas (RAID), firewall corporativo e segmentação de rede. A gestão deve incluir manutenção periódica e protocolos de recuperação de desastres.

A perda de documentos eletrônicos pode comprometer a rastreabilidade de processos produtivos, impactar a conformidade com normas da ANVISA e do MAPA, e resultar em sanções legais e prejuízos operacionais. Por isso, a adoção de boas práticas de armazenamento digital, com ênfase em políticas robustas de backup, é fundamental para garantir a integridade, disponibilidade e segurança da informação, especialmente em setores regulados como o de alimentos.

Manter cópias de segurança atualizadas, distribuídas em locais distintos e protegidas por criptografia, assegura a continuidade do negócio em situações de falhas técnicas, ataques cibernéticos ou desastres físicos. Além disso, práticas como verificação periódica da recuperação dos backups e controle de acesso aos repositórios fortalecem a governança da informação e aumentam a resiliência digital da organização.

As ações de boas práticas de de armazenamento digital devem incluir:

  • Backups periódicos: Implementar rotinas de backup diárias e semanais, preferencialmente utilizando o conceito de backup 3-2-1: três cópias de segurança, em dois tipos de mídia diferentes, sendo uma armazenada fora do local físico da empresa;

  • Criptografia de dados: Utilizar algoritmos robustos como Advanced Encryption Standard com chave de 256 bits (AES-256) para proteger documentos sensíveis, especialmente durante o armazenamento e a transmissão via rede;

  • Gestão de acesso baseada em perfis: Estabelecer políticas de controle de acesso com base em níveis hierárquicos e funções, garantindo o princípio do menor privilégio, concedendo a cada usuário apenas as permissões estritamente necessárias para executar suas tarefas. A autenticação multifator deve ser habilitada sempre que possível;

  • Monitoramento e auditoria: Utilizar logs de acesso e ferramentas de monitoramento para rastrear alterações, acessos indevidos e garantir a conformidade com políticas internas e normas regulatórias.

Regulamentação da ANVISA

A ANVISA, por meio da RDC Nº 947, de 12 de dezembro de 2024, estabeleceu que, a partir de 13 de março de 2025, todos os documentos devem ser protocolados de forma eletrônica, não sendo mais aceitos em papel. Essa medida visa agilizar processos e reduzir custos com armazenamento físico.

O Decreto nº 10.278/2020 e a RDC nº 947/2024 da ANVISA convergem ao estabelecer diretrizes que asseguram a validade jurídica e a confiabilidade dos documentos digitalizados no Brasil.

O decreto federal define os requisitos técnicos e legais para que documentos digitalizados tenham o mesmo valor probatório dos originais físicos, incluindo critérios como assinatura digital qualificada, padrões mínimos de resolução, formatos de arquivo e metadados, enquanto a RDC 947/2024, ao tornar obrigatória a tramitação eletrônica de documentos junto à ANVISA, apoia-se implicitamente nessas diretrizes, uma vez que exige que os documentos enviados por meio eletrônico tenham validade jurídica, integridade e autenticidade comprovadas.

Assim, o decreto oferece a base legal e técnica necessária para que a digitalização atenda às exigências regulatórias do setor de alimentos, garantindo segurança documental, rastreabilidade e eficiência nos processos regulatórios eletrônicos.

A digitalização de documentos e registros representa uma evolução significativa na gestão documental, oferecendo benefícios como agilidade, segurança e sustentabilidade.

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Participe do 15º Food Safety Brazil Meeting: “Digitalização da Gestão da Qualidade na Indústria de Alimentos”

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Nas visitas às indústrias e em conversas com profissionais da área de qualidade, um tema recorrente é a dificuldade com o controle de dados na era da digitalização.

Seja no monitoramento dos parâmetros de qualidade do alimento ou no acesso aos registros de qualidade, o desafio sempre é grande, mas pode ser facilitado.

Há muitas dúvidas no mercado sobre como fazer o processo de digitalização.

Se você é uma das pessoas com esta preocupação, participe do 15º Meeting online do Food Safety Brazil, que será no próximo dia 03/07, às 14 h. A inscrição pode ser feita aqui.

Nesse meeting você poderá ouvir os especialistas no tema: Marco Túlio Bertolino, consultor e colunista do FSB, e Vanessa Almeida, Community Manager da Docnix, que tem paixão pela Qualidade e acredita que cada problema é uma oportunidade de inovação e transformação.

Eles irão trazer várias respostas. Seguem abaixo alguns exemplos de dúvidas:

  • A adoção da digitalização de documentos traz benefícios para o setor de alimentos?
  • Quais são as ferramentas disponíveis e suas diferenças?
  • Os documentos digitalizados têm efeito legal?
  • Como armazenar esses documentos e qual é a segurança?
  • Quais são os exemplos práticos?
  • Qual é o impacto da digitalização no APPCC ou sistema de qualidade e segurança de alimentos?

Se você quer saber as respostas ou tem outras dúvidas, inscreva-se já.

Esperamos você no 15º Meeting online. Lembre-se de que ele não será gravado, assim sua presença online é imprescindível.

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