Você já parou para ler os rótulos dos alimentos que consome? Em meio a tantos nomes estranhos, um em particular tem gerado grande debate e preocupação entre cientistas e autoridades de saúde: o dióxido de titânio (TiO2), também conhecido como corante E171. Ele é usado para dar mais brilho e brancura a milhares de produtos, de doces a medicamentos, mas pode estar colocando a sua saúde em risco de formas que só agora começamos a entender.
O que é o dióxido de titânio e onde ele se esconde?
O dióxido de titânio é um pigmento branco, em pó, amplamente utilizado pela indústria alimentícia para tornar os produtos mais atraentes visualmente. Ele pode estar presente em uma vasta gama de itens do nosso dia a dia, como:
- Doces e guloseimas: balas, chicletes, chocolates e coberturas
- Produtos de panificação: pães, biscoitos e bolos.
- Laticínios e derivados: queijos, requeijão e iogurtes.
- Molhos, sopas e caldos industrializados.
- Bebidas em pó e cereais matinais.
Além dos alimentos, o E171 também é encontrado em medicamentos (revestindo cápsulas), cosméticos (pastas de dente, protetores solares) e tintas. O problema reside na forma como ele é produzido: uma porção significativa do dióxido de titânio usado na indústria alimentícia está na forma de nanopartículas, partículas ultrafinas que podem se comportar de maneira imprevisível no corpo humano.
Alerta vermelho: os riscos que a ciência aponta
Recentes estudos científicos têm acendido um alerta sobre os potenciais efeitos tóxicos do dióxido de titânio, especialmente quando em sua forma nanométrica. A preocupação é tão grande que a União Europeia proibiu o uso do E171 como aditivo alimentar em 2022.
A ameaça da genotoxicidade
A principal razão para a proibição na Europa foi a conclusão da Autoridade Europeia de Segurança de Alimentos (EFSA) de que não era possível descartar a genotoxicidade do aditivo. Em outras palavras, não há como garantir que o consumo de partículas de dióxido de titânio não danifique o DNA das células, o que, em última instância, pode levar ao desenvolvimento de câncer.
“Levando em conta todos os estudos científicos e dados disponíveis, o Painel concluiu que o dióxido de titânio não pode mais ser considerado seguro como aditivo alimentar. Um elemento crítico para chegar a esta conclusão é que não pudemos excluir preocupações de genotoxicidade após o consumo de partículas de dióxido de titânio”, disse o Prof. Maged Younes, Presidente do Painel de Aditivos Alimentares da EFSA, em 2021.
Desregulação endócrina e o risco de diabetes
Uma pesquisa recente, publicada em 2025 e destacada pelo jornal The Guardian, trouxe novas e alarmantes descobertas. O estudo, conduzido em camundongos, revelou que as nanopartículas de dióxido de titânio podem atuar como um desregulador endócrino, afetando o sistema hormonal intestinal.
Os pesquisadores observaram que o aditivo:
- Interrompe a resposta hormonal à comida: afeta os hormônios que sinalizam a saciedade e auxiliam na digestão.
- Desregula os níveis de açúcar no sangue: os camundongos expostos às nanopartículas apresentaram níveis de glicose muito mais elevados.
Essas alterações estão diretamente ligadas a um maior risco de desenvolver obesidade, resistência à insulina e diabetes tipo 2.
Acúmulo no organismo e outros danos
Apesar de a absorção do dióxido de titânio ser baixa, as partículas podem se acumular em diversos órgãos ao longo do tempo, como fígado, baço e intestinos. Estudos também associam o aditivo a outros problemas de saúde, como:
- Inflamação e lesões intestinais
- Neurotoxicidade (danos ao sistema nervoso)
- Imunotoxicidade (danos ao sistema imunológico)
O cenário no Brasil e no mundo: um jogo de espera
Enquanto a União Europeia adotou uma postura de precaução, a situação em outros países, incluindo o Brasil, é mais complexa. Compare os cenários:
- União Europeia: Proibido como aditivo alimentar desde 2022.
- Estados Unidos: Permitido. A FDA (agência reguladora dos EUA) ainda considera o aditivo seguro.
- Brasil: Permitido, mas em reavaliação. A ANVISA incluiu o E171 em sua agenda de reavaliação e, desde 2021, não concede novas autorizações de uso. No entanto, o aditivo continua permitido em 37 categorias de alimentos, aguardando um parecer final do comitê de especialistas da OMS/FAO.
- Canadá e Reino Unido: Agências reguladoras desses países publicaram relatórios que divergem da conclusão da EFSA, afirmando não haver evidências conclusivas de risco à saúde nas formas e quantidades atualmente consumidas.
Como o consumidor pode se proteger?
Diante da incerteza e das evidências conflitantes, a melhor atitude para o consumidor é a precaução. Aqui estão algumas dicas:
- Leia os rótulos: procure por “dióxido de titânio” ou “E171” na lista de ingredientes.
- Cobre posicionamento: questione as marcas e as autoridades de saúde sobre o uso deste e de outros aditivos controversos.
Embora a ciência continue a debater o nível exato de risco, as evidências que se acumulam sugerem que o dióxido de titânio é um aditivo desnecessário e potencialmente perigoso.
A decisão da Europa de proibi-lo serve como um forte sinal de que, quando se trata de segurança de alimentos, o princípio da precaução deve sempre prevalecer. Cabe a nós, consumidores, estar informados e fazer escolhas conscientes para proteger a nossa saúde.
3 min leituraVocê já parou para ler os rótulos dos alimentos que consome? Em meio a tantos nomes estranhos, um em particular tem gerado grande debate e preocupação entre cientistas e autoridades […]