3 min leitura
0

Mudanças da BRCGS Food versão 8 para a versão 9 – uma visão prática

3 min leitura

Depois de 10 anos, aceitei o convite da amiga Juliane Dias para escrever novamente para o blog. E com prazer aceitei. É uma honra dizer que fiz parte do time de colunistas lá em 2013, quando o blog estava começando e eu estava terminando a graduação em ciência e tecnologia de alimentos pela UNIPAMPA, no Rio Grande do Sul.

As coisas mudaram bastante neste tempo. Terminei o mestrado e doutorado e, desde 2021, estou morando em Londres, no Reino Unido. Atualmente, ocupo a posição de gerente técnico em uma conceituada panificadora da capital inglesa.

Nesse tempo aqui, uni o conhecimento adquirido com os anos de pesquisa com a prática, ao voltar para a indústria. Voltar a trabalhar na indústria e com segurança de alimentos consequentemente me fez deparar com as tão temidas auditorias e me fez adquirir experiência com a norma da BRCGS (Brand Reputation Compliance Global Standard), antes apenas BRC (British Retail Consortium). E como a norma teve sua nova versão publicada em 1º de agosto de 2022, novos requisitos foram incorporados com esta revisão. Assim, resolvi fazer um post comemorativo aos 10 anos que iniciei como colunista no blog Food Safety Brazil e discutir um pouco das principais mudanças da BRCGS que a nova versão trouxe. Vamos lá!

Antes de começar, é importante relembrar as classificações de não conformidades que podemos encontrar em uma auditoria BRCGS. Isto já foi discutido em um excelente post feito pela colega Nealina Vieitez lá em 2020:

Classificação das não conformidades de acordo com a BRCGS

Crítica: Onde há uma falha “crítica” no cumprimento de uma questão de segurança de alimentos ou legal.

Maior: Quando houver uma falha “substancial” em atender aos requisitos de ‘declaração de intenções’ ou qualquer cláusula da norma, ou se for identificada uma situação que levantaria, com base nas evidências objetivas disponíveis, dúvidas significativas quanto à conformidade do produto a ser fornecido.

Menor: Quando uma cláusula não foi totalmente atendida, mas com base em evidências objetivas, a conformidade do produto não é duvidosa.

Então, quais são as principais mudanças da versão 8 para a versão 9 da BRCGS a serem consideradas?

  • O protocolo de auditoria

A BRCGS Food Safety, versão número 9, adiciona formalmente uma terceira opção de auditoria ao protocolo. A auditoria mista é anunciada em duas partes: remota (online) e presencial.

O órgão de certificação verificará previamente se as possibilidades no local são suficientes para realizar esta auditoria e determinará a percentagem de duração da auditoria remota (com um máximo de 50%). Somente as partes que constituem auditoria de registros, sistemas e documentação são avaliadas remotamente. Se a forma de auditoria mista tiver sido escolhida, a obrigação de se submeter a uma auditoria anunciada uma vez a cada três anos ainda se aplica.

  • Cultura de segurança de alimentos

A BRCGS V9 adiciona os requisitos padrões abaixo:

A cultura de segurança de alimentos faz agora parte da seção fundamental do compromisso de gestão 1.1. Por isso aposta ainda mais na gestão de topo e na melhoria contínua da cultura de segurança de alimentos (além da melhoria contínua da segurança de alimentos e da gestão da qualidade). O plano para melhoraria inclui atividades necessárias. No mínimo, essas atividades concentram-se na comunicação clara e aberta sobre segurança do produto, treinamento, feedback dos funcionários, comportamentos necessários para manter e melhorar os processos de segurança do produto e medição de desempenho de atividades relacionadas à segurança, autenticidade, legalidade e qualidade do produto. Um membro da equipe de gestão sênior da empresa (não apenas o gerente técnico, mas gerentes de produção e direção) deve estar disponível durante a auditoria para discutir a implementação eficaz do plano de segurança de alimentos e cultura de qualidade. A cultura de segurança de alimentos deve fazer parte do programa de auditoria interna.

  • Validação e verificação

Há um foco maior na validação na seção APPCC. A validação é obrigatória antes que uma mudança seja implementada. Um ponto de controle (não apenas um PCC), bem como os limites críticos de um PCC, também são validados (a validação do sistema APPCC daria um post por si só). A validação antes da implementação de alterações também é importante quando novos equipamentos são colocados na produção e durante o desenvolvimento de produtos. Também, a verificação não é mais esperada apenas uma vez, mas pelo menos anualmente e imediatamente após alterações ou incidentes. Isto se aplica ao APPCC, validações de processos, monitoramento ambiental e especificações.

  • Treinamento e competência

Antes, apenas o pessoal relevante, o pessoal temporário e os prestadores de serviços tinham de receber formação antes do início das operações, isto aplica-se agora a todo o pessoal. O registro das necessidades de formação num plano aplica-se agora também a todo o pessoal. Adicionalmente, a BRCGS indica que a formação é uma das atividades que certamente voltará ao plano de melhoria da cultura de segurança de alimentos. Não só manipuladores envolvidos na gestão de um PCC, mas também outros envolvidos em medidas de controle deverão passar por treinamentos (e a competência será testada). E por fim, toda a equipe será treinada em planos de controle de alergênicos.

Esse foi um resumo breve das principais mudanças da norma BRCGS agora na versão 9. Nos veremos num futuro próximo!

Dr. Marcelo Valle Garcia

3 min leituraDepois de 10 anos, aceitei o convite da amiga Juliane Dias para escrever novamente para o blog. E com prazer aceitei. É uma honra dizer que fiz parte do time […]

3 min leitura
0

Entrevista com Juliane Silva sobre a versão 9 da BRCGS

3 min leitura

Pessoal, divido com vocês neste post um bate-papo que tive com Juliane Silva, uma engenheira de alimentos com mais de 20 anos de experiência. Falamos sobre as mudanças da norma BRCGS, que acabou de chegar a sua nona versão.

Juliane já atuou como coordenadora técnica de processos de certificação de qualidade e segurança de alimentos na SGS do Brasil e BRTÜV. Atualmente é a representante oficial BRCGS Brasil, auditora BRCGS Compliance, ATP (Approved Training Partners) e AVT (Approved Virtual Trainer), ou seja, tutora de treinamentos oficiais em Alimentos, Embalagens, Estocagem e Distribuição da BRCGS.

Mais que tudo isso, Juliane Silva é uma entusiasta do tema Food Safety.

  • 1 – Juliane, o que você destaca de diferencial entre a norma para Food Safety BRCGS e as demais normas aceitas pelo GFSI (Global Food Safety Iniciative)?

Além se ser uma norma orientada para atender os quatro objetivos “Qualidade, Autenticidade, Legalidade e Segurança dos Alimentos”, ela é bastante prescritiva, o que ajuda muito a direcionar as organizações que não possuem ainda um sistema de gestão implementado. Além disso, esta norma possui um limite de não conformidades que varia de acordo com sua significância e requer a implementação de um plano de ação para se recomendar a certificação. Isso proporciona muita confiabilidade aos clientes dos sites certificados e demais stakeholders.

  • 2 – Está pronta a nova versão da Norma BRCGS, não é mesmo? Por favor, conte-nos sobre esta novidade e quando ela começará a vigorar.

Sim, a versão 9 (V 9) acabou de sair do forno e já está disponível desde o dia 1° de agosto, trazendo atualizações de acordo com as necessidades do mercado e benchmarking com recomendações do GFSI. Esta versão passará a valer a partir de fevereiro de 2023.

  • 3 – Quais foram as principais mudanças na Norma BRCGS? 

Nós tivemos modificações nos requisitos e no protocolo de auditoria. Por exemplo: quanto aos requisitos há agora um novo para “conversão animal primária”. Já sobre o protocolo de auditoria, agora é permitido que parte da auditoria seja remota e parte in loco, o que chamamos de “blended audit”, o que traz modernidade, flexibilidade e dinamismo ao processo de certificação. Além disso, também incorporamos a prática de realização de auditoria não anunciada no ciclo de 3 anos para atender ao benchmarking GFSI.

  • 4 – Muita gente tem curiosidade e ainda faz alguma confusão com a troca do nome e do logo de BRC para BRCGS. O que motivou essa mudança?

A BRCGS passou a fazer parte do grupo LGC Assure, e com isso, em 2019 mudou o logo e a definição das letras “BRC” visando desvincular o nome da norma do mercado britânico e deixando mais claro nossa abrangência quanto ao atendimento da cadeia produtiva em mercados globais. O novo significado de BRCGS é Brand Reputation through Compliance Global Standards.

  • 5 – Por fim, quais suas perspectivas em relação à procura das indústrias brasileiras por certificações em segurança dos alimentos para os próximos anos?

Acredito que cada vez mais o mercado de certificação irá crescer, pois a cada dia empresas, clientes e consumidores estão cientes da importância do consumo de alimentos saudáveis e seguros. Isso é muito relevante para o mercado brasileiro, um player de peso na produção e exportação de alimentos.

Um agradecimento especial a Juliane Silva por dedicar seu tempo para esta entrevista ao Food Safety Brazil.

Pessoal, espero que tenham gostado da entrevista. Deixem seus comentários.

Mais informações podem se obtidas no site da BRCGS

3 min leituraPessoal, divido com vocês neste post um bate-papo que tive com Juliane Silva, uma engenheira de alimentos com mais de 20 anos de experiência. Falamos sobre as mudanças da norma […]

Compartilhar
Pular para a barra de ferramentas