Produto alimentício gera reação alérgica e empresa não apresenta laudos atestando segurança

3 min leitura

Recentemente, uma série de crianças com alergia a leite apresentaram reações ao consumirem um dado produto disponibilizado ao mercado consumidor. Este produto, consumido até então sem receio pelos alérgicos a leite, não contém leite em sua composição, mas é processado no mesmo maquinário que produz uma variação que contém leite (e a empresa garantia não haver risco de contaminação cruzada por que a linha passava por “rigoroso processo de limpeza”).

Após as reações relatadas nas redes sociais em grupos distintos por famílias de cidades diversas, os consumidores ficaram com receio e entraram em contato com a empresa, a qual foi bastante atenciosa e rápida, prontificando-se, no caso das famílias que tiveram reações após o consumo, a recolher os produtos para análise. Em poucos dias, retonaram para os consumidores (não apenas para os que tiveram reações e embalagens recolhidas, mas também para aqueles que ligaram por receio de alteração na composição) e disseram que as análises realizadas que não teriam acusado a presença de leite. Não foram apresentadas cópias dos laudos.

Um dos consumidores, percebendo a coincidência de casos de reações, temendo não receber a informação precisa que o Código de Defesa do Consumidor lhe salvaguarda e objetivando evitar acidente de consumo, que, no caso desta pessoa, poderia ser muito grave, optou por realizar os testes de forma paralela. Assim, antes de entregar a embalagem à indústria, foi procurar nos mercados da região onde adquiriu o mesmo produto, com mesmo lote, data de fabricação e validade (porque havia produtos do mesmo lote com validades distintas) para encaminhar a algum laboratório. Pois desde o primeiro acionamento do serviço de atendimento ao consumidor, ele recebeu contatos diários (várias vezes ao dia) até a data em que entregou o produto para análise pelo fornecedor. Além disso, antes mesmo que a embalagem fosse recolhida, recebeu telefonema da empresa informando que analisaram um produto com mesmas características e que não havia leite na amostra. Ademais, um dia após o recolhimento, já entraram em contato para dizer que não havia a presença de leite na amostra do consumidor. O curioso é que, ao mesmo tempo em que estavam seguros de que o produto não apresentava riscos, queriam fotos da reação, parecer da alergista que acompanha o consumidor, saber se ele pertencia a alguma associação formal ou informal de alérgicos a leite. Tudo o que esse consumidor pediu, desde a análise do produto, foi cópia do laudo, o que nunca foi atendido.

Em paralelo, foram contatados cerca de 10 laboratórios, dentre aqueles de universidades e os particulares. O primeiro desafio foi identificar, em tese, quais estariam aptos e realizar o teste para identificação da presença de proteínas de leite pelo método ELISA. Muitos disseram não ter este know how. Dois deles se mostraram aptos e solícitos no primeiro contato, quando o consumidor ainda estava consultando se o laboratório tinha expertise, se trabalhava com o método ELISA, quais prazos e valores. A partir do momento em que foram encaminhadas fichas para que esse consumidor identificasse qual produto que seria analisado, a prontidão deu lugar a chamadas não retornadas, e-mails não respondidos ou, quando conseguia falar com um desses laboratórios, recebia orientação para que procurasse outro, pois eles estariam sem os kits para análise e que demorariam muito para dar uma resposta.

Em contato com o outro, após reiteradas tentativas de obter orientações sobre como enviar a amostra para realizar a análise, acabou recebendo um telefonema da empresa que fabrica o tal produto perguntando se estava tudo bem, se ainda havia dúvidas e reiterando que não teria havido nenhuma falha na fabricação do produto e que não existia risco da presença de leite. O consumidor, apesar de um pouco assustado com esse telefonema “do nada”, aproveitou para reiterar que queria ter acesso ao laudo, o que nunca foi atendido, nem em relação a esse consumidor e nem em relação aos demais que entraram em contato solicitando cópia.

Assim, mesmo com o sistema de defesa do consumidor prevendo amplo acesso a informação, especialmente com o objetivo de proteger vida, saúde e segurança do consumidor, estamos vivendo ainda um contexto no qual a indústria (ao menos esta) prefere deixar de garantir o direito à informação dos consumidores que experimentaram reações, deixando-os inseguros quanto à possibilidade de consumir o produto. Desde esses episódios, muitas famílias deixaram de consumir, outras reduziram o consumo por receio de reações.

A pergunta que fica: por que optaram por não transmitir a segurança aos consumidores, o que se daria pela divulgação ampla de laudos negativos?

 

Imagem gentilmente cedida por uma das mães envolvidas. Essa criança teve reação de pele e sangramento nas fezes após consumo do lote em questão.  Outros lotes foram consumidos sem problemas.


11 thoughts on

Produto alimentício gera reação alérgica e empresa não apresenta laudos atestando segurança

  • Jacqueline

    Por favor preciso saber que produto foi esse, pois tenho um sobrinho que tem um alto grau de aplv, ele vai fazer 3 anos e a mae tudo que da tem que ler rotulos, ele pode morrer se consumir um produto desse e nao for atendido de urgencia.
    grata

    • Ana Paula

      Eu acho que é Becel.

  • Simone Bailo Rangel

    Gostaria muito de saber qual é esse produto, pois minha filha tem a aplv mto forte.

  • maria esther figueiredo

    Porque ao consumidor não procurou o PROCON, ou a PROTESTE ou a VISA, ou outro órgão de defesa do consumidor com mais “Força” de ação?? Bem se sabe que existe uma prssão muito grande do mais forte ppara o mais fraco… Agora até nós ficamos sem saber que produto e que empresa é essa!!!

  • Maria Cecília Cury Chaddad

    Simone e Jacqueline, houve suspeita de contaminação com leite no meio deste ano. A empresa garante que não houve contaminação e que tem laudos atestando a segurança. Desde agosto, desconheço novos casos de possível reação. No caso específico desta criança da foto, por exemplo, a família voltou a consumir o produto (outros lotes) e não houve novas reações.

  • Maria Cecília Cury Chaddad

    Maria Esther, o Procon somente é acessível a quem tem cadastro efetivo e paga uma taxa. A orientação que o consumidor recebeu do atendente do Procon foi que, por lá, o tema poderia demorar a ser solucionado em vista da grande demanda que atendem. Assim, como ele estava com recursos financeiros para bancar a análise clínica, tentou “por conta”. Foram meses tentando realizar as análises sem sucesso.
    Sobre VISA, a resposta que deram foi a de que não existiria “contaminação por leite”, não haveria norma regulamentando o tema e, assim, não existira o que ser feito.

  • thaisa

    gostaria de saber qual é o produto (o nome) que esta nesta reportagem como eu e muitas outras maes tem filhos com alergia ao leite e o meu filho tem alergia a proteina do leite gostaria de saber desde ja obrigado….

  • Ruza Gabriela

    Tive esse problema entrei em contato; recolheram meu produto e ate hj nao me deram reposta. Por seguranca deixei de consumir e minha filha esta otima!!!

  • Karina

    Pq raios ñ aparece o nome do produto? Ridículo.

  • Ana Lucia Alves

    Corre a informação de que é a Becel!

  • Thiago

    Agora a BECEL esta vindo, escrito que contém leite nele. Mas ja atrapalhou nossa vida por muito tempo.

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