Falar sobre os benefícios do consumo de vegetais frescos é chover no molhado. Todos sabem de seu conteúdo em vitaminas, minerais, fibras, além da capacidade de prevenir certos tipos de doenças. No entanto, as frutas e os vegetais podem ser contaminados por microrganismos durante seu cultivo, estocagem ou preparação e ingeri-los crus pode causar doenças. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos divulgou, tempos atrás, um relatório no qual as verduras frescas figuravam no topo da lista dos 10 alimentos mais arriscados de serem consumidos.
Pensando nisso, um professor de Ciência de Alimentos da Universidade de Delaware (EUA), Haigianq Chen, desenvolveu um dispositivo para uso doméstico usando luz ultravioleta capaz de destruir agentes patogênicos em produtos frescos. A luz ultravioleta (UV), nos comprimentos de onda de 200 a 280 nm, produz radiação não ionizante com propriedades germicidas. Esta propriedade já é usada em sistemas industriais para redução da contaminação em água, alguns alimentos fluidos e também em superfícies. Recentemente, uma pesquisa científica apontou o uso de luz UV como a terceira tecnologia para a conservação de alimentos com maior potencial de uso comercial nos próximos anos.
O “forno” de luz UV do pesquisador Chen é aproximadamente do tamanho de um forno de micro-ondas tradicional. Em entrevista ao portal Food Safety News, o cientista declarou que “a desinfecção ocorre por meio da associação da luz UV com a água. A luz UV não penetra no interior de sólidos, mas pode penetrar através da água clara. Assim, a água, sob forte agitação, remove as bactérias e vírus da superfície do alimento e ao entrar em contato com a água, eles são mortos quase imediatamente pela luz UV”.
O instrumento terá um painel de controle simples para permitir que os usuários ajustem o tempo de tratamento e vai oferecer uma intensidade fixa de luz UV. Segundo Chen, será fácil de usar e além do uso doméstico, também poderá ter aplicações em restaurantes, lanchonetes, hospitais e cozinhas industriais.
Chen avaliou a eficácia do seu dispositivo, comparando-o com a lavagem de vegetais em água da torneira. A comparação foi realizada sob dois cenários simulados de contaminação por Salmonella: no primeiro, os vegetais são inoculados com o microrganismo em um ponto específico; no segundo, toda a peça é contaminada por imersão numa solução contendo o microrganismo.
Usando amostras de alface, espinafre, tomate, mirtilo e morango nos dois cenários, Chen concluiu que o “forno” de luz UV descontaminou os vegetais frescos de forma muito mais eficaz do que a lavagem com água da torneira. Enquanto a lavagem na torneira removeu, em média, 59,3% do patógeno, o “forno” UV destruiu 99,7% da Salmonella nas alfaces inoculadas por imersão e 99,999% da Salmonella nos tomates com inoculação localizada.
Outra grande vantagem do aparelho é que ele não aquece os vegetais frescos e não altera suas propriedades sensoriais.
Atualmente, o pesquisador está trabalhando com o Departamento de Inovação da Universidade na busca de parcerias econômicas para patentear e comercializar sua criação.
Enquanto o “forno” de luz ultravioleta não chega ao mercado, devemos realizar a desinfecção dos vegetais frescos imergindo-os em água com hipoclorito de sódio: 1 colher de sopa de água sanitária comercial para 1 litro de água, mantendo em imersão por 15 minutos. Para mais detalhes, leia Desinfecção de frutas, legumes e hortaliças.
Créditos de imagem: Food Safety News
Leia também:
LED pode ajudar a controlar a contaminação de alimentos
Avançam as pesquisas brasileiras para realizar análise microbiológica em minutos
“Nariz eletrônico” soa alarme para carne deteriorada
Marcelo Garcia
Parece uma opção “limpa” comparada ao que temos. Mas trará a proteção necessária? Já se sabe que a cloração pode não ser completamente eficaz, devido à estruturas celulares que “abrigam” os patógenos. Certa vez vi uma palestra onde se mencionavam “áreas de sombra” para UV. Vamos aguardar as próximas notícias!
Juliane
Humberto Soares
Os primeiros estudos foram feitos com Salmonella, porém outros patógenos precisarão ser testados e aí saberemos o real alcance do dispositivo. O tempo de exposição do alimento à luz UV com certeza será um item importante, tanto que será possível fazer diferentes regulagens. Talvez haja necessidade de aprimoramento, mas a proposta é promissora.
Jalba Vieira
Já temos essa tecnologia no Brasil?
Humberto
Não, a Universidade americana ainda está em fase de buscar empresas interessadas em fabricar e comercializar o produto.
Márcio
Existe algo similar, a nível comercial, para ser usado para outros alimentos (por exemplo: a despensa doméstica)? Obrigado
Humberto Soares
Márcio,
Se já existe algo similar para uso doméstico, eu não conheço. Até que surjam novidades, ainda recomendo a desinfecção dos vegetais frescos por imersão em água com hipoclorito de sódio.
Irineu Svistak
bom dia! Vc pode passar os links das referências usadas?
Quero fazer um trabalho sobre isso!!!
Humberto Soares
Irineu,
O próprio texto contém o link. Clique com o mouse sobre Food Safety News, em negrito no terceiro parágrafo.
Arduino morando
Quanto e devo deixar um alimento exposto a luz ?
Humberto Soares
No caso do aparelho comentado no artigo, ainda não há parâmetros definidos. Vai depender do tipo e quantidade do alimento, microrganismos-alvos e carga bacteriana prevista.
Vera Lucia Gervásio
Boa tarde, Humberto. Gostaria de saber sobre a lâmpadas uv. Pois tenho uma empresa estou usando a uv. Porém não estou tendo resultado. Gostaria de saber qual é o tempo que devo deixar meu produto na lampadas?
Humberto Soares
Primeiramente, consulte o fabricante do seu equipamento e verifique o que ele recomenda. O efeito bacteriocida ou bacteriostático da luz UV depende do tempo de exposição e também do tipo de alimento ou superfície. Normalmente, seu uso é indicado para inativar microrganismos na parte superficial do alimento devido ao seu baixo poder de penetração. Em alguns sistemas, a exposição a luz UV constitui uma etapa inicial para redução da contagem de microrganismos e não para sua eliminação efetiva. Para um estudo completo de seu caso, vc precisará de ajuda acadêmica para delinear experimentos e comparar resultados. Busque ajuda nas instituições de ensino e pesquisa mais próximas.
ADERVAL ROSSETTO
Alguma novidade nessa pesquisa e desenvolvimento de UV pra desinfecção de hortaliças?
Funcionaria equipamento desenvolvido pela USP de São Carlos que esterilizava superfícies inertes, mas foi descontinuada fabricação pela MMOptics?
Humberto Soares
Aderval,
Não tive mais informações sobre o andamento desta pesquisa nos Estados Unidos. Quanto ao equipamento da USP, sugiro entrar em contato diretamente com eles.
Luiz Guilherme
Acredito que em breve será o novo “eletrodoméstico” de nossas residências.
Já vi que tem diversos aparatos entre luz UV-C e ozônio sendo divulgado, por acaso existe indicação para algum no mercado atual? A luz UV-C causa alguma alteração genética nos alimentos? Pode-se ser usado em carnes em natura?
Obrigado
Humberto Soares
Luiz Guilherme,
Atualmente trabalho em outra área do setor de alimentos e não estou atualizado sobre as últimas pesquisas com luz ultravioleta. Ficam registradas aqui suas perguntas para que alguém melhor informado possa respondê-las.
Abraço
Eduardo J. Daros
Existe algum aparelho que use essa capacidade da UV para limpar alimentos, ambientes e outros fins que possam ser manipulados com segurança? Qual o risco de uso?
Humberto Soares
Eduardo,
Estão surgindo no mercado aparelhos que usam UV combinada a outras tecnologias para usos diversos em desinfecção. Cada tecnologia tem sua forma de aplicação determinada e testada pelos fabricantes. Portanto, para cada caso deve-se consultar os fornecedores e solicitar evidências da eficácia da descontaminação. O blog não indica empresas por questões éticas.
Simone
Ha alguma referencia para uso da UV em louças e talheres em cozinhas comerciais ? Considerando que ha talheres ja estao embalados em plasticos ?
Humberto Soares
Simone,
Estão surgindo no mercado aparelhos que usam UV combinada a outras tecnologias para uso em desinfecção. Cada tecnologia tem sua forma de aplicação determinada e testada pelos fabricantes. Portanto, sugiro consultar os fornecedores e solicitar evidências da eficácia da descontaminação.
Stephanie
Humberto, existe algum perigo radiológico associado ao uso da luz uv em alimentos / embalagens para alimentos?
Humberto Soares
Boa pergunta, Stephanie.
A luz ultravioleta é uma forma de radiação ionizante. Segundo Patricia Cintra, “o contato do alimento com a luz ultravioleta (UV-C) não representa nenhum risco a saúde humana, pois em nenhum momento, os produtos a serem preservados entram em contato direto com a fonte de irradiação, mas sim com a sua onda de luz e, neste sentido, o produto não se torna radioativo.”
Porém, sua pergunta fica aberta a outros posicionamentos.
Algumas fontes de consulta: https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/ff8d37af64d77260c7c5fd4c995083f0/$File/19488.pdf
https://nutrisaude14.files.wordpress.com/2014/11/mc3a9todos-de-conservac3a7c3a3o-dos-alimentos-2014.pdf
Maria Eduarda
Humberto, fiquei com uma dúvida.
O professor “esterilizou” a água com a luz uv-c e então lavou as hortaliças? Ou as hortaliças entraram em contato direto com a luz uv-c?
Porém, foi dito que a luz uv-c não penetra em sólidos, como funcionou isso?
Obrigada!
Humberto Soares
A luz UV penetra na água, desde que ela esteja transparente, límpida. Assim, no equipamento em questão, os vegetais são primeiramente lavados com água, fazendo com que os microrganismos passem do vegetal para a água. A água é submetida à luz UV, permitindo a desinfecção.