Em uma indústria de alimentos, a qualidade do ar comprimido pode ser um fator crítico para garantir a segurança do alimento. Muitas vezes, ele é a última utilidade a ter contato direto com o produto ou com a embalagem primária. Mesmo quando não tem contato direto com o alimento, um ar comprimido de baixa qualidade pode comprometer o acionamento de sensores eletropneumáticos que desempenhem funções críticas nos equipamentos.
“Por que garantir a qualidade do ar comprimido na indústria de alimentos” foi o tema apresentado por Margarete Nagata no IV Encontro de Profissionais da Garantia da Qualidade (ITAL, 4 e 5 de setembro de 2013). Margarete é engenheira de alimentos com grande experiência na área. Acompanhe, a seguir, um resumo de sua apresentação.
Conceito e Qualidade
O ar comprimido é o ar atmosférico sob pressão, ou seja, é o ar atmosférico submetido à ação de um compressor. Em áreas industriais ou urbanas, o ar atmosférico possui em torno de 120 milhões de partículas em suspensão. Este ar pode estar contaminado com microrganismos, poluentes e umidade. Além dos contaminantes que pode carregar da atmosfera externa, o ar comprimido também pode arrastar partículas carbonizadas do óleo lubrificante dos compressores e material oxidado das superfícies internas das linhas de distribuição. As consequências desta contaminação são sérias, podendo causar a deterioração do produto, diminuição do shelf-life, alterações organolépticas ou ainda a perda de matéria-prima por paradas na produção.
Como evitar ou diminuir a concentração de contaminantes no ar comprimido?
Quando se trata de um novo projeto, a prevenção da contaminação do ar comprimido se faz pela configuração da instalação. Margarete sugere duas configurações que possibilitam garantir boa qualidade do ar comprimido. Veja-as na figura abaixo:
Quando o sistema já está em operação, é essencial considerar a aplicação do ar comprimido: se é para processo, para instrumentação ou ar sanitário. Em seguida, identificam-se os contaminantes visíveis (água, óleo e partículas), os contaminantes microbiológicos (qual o critério de aceitação?) e se faz uma análise da central de compressores e do sistema de geração, considerando tratamento, distribuição e utilização do ar comprimido. Assim, para os sistemas em operação, algumas ações em curto prazo (6 meses) que permitem melhorar a qualidade do ar comprimido são:
– Limpeza da rede de ar comprimido;
– Instalação de purgadores;
– Instalação de unidades de tratamento, filtros coalescentes, filtros de carvão ativado e, se necessário, filtros absolutos.
Ações em longo prazo (acima de 2 anos) incluem:
– Aquisição ou substituição de compressores e secadores de ar comprimido;
– Substituição da rede;
– Redimensionamento da Central de Compressores.
Um sistema de ar comprimido pode ser qualificado ou validado. O quadro abaixo mostra as diferenças entre uma e outra atividade:
Normas e critérios para análise e classificação do ar comprimido
A Norma ABNT ISO 8573-1, revista em 26/03/2013, define várias classes de pureza para o ar comprimido. Estas classes são estabelecidas mediante resultados das seguintes análises, independentemente da aplicação:
– Temperatura do ponto de orvalho (°C);
– Teor de umidade, forma líquida (g/ m3);
– Teor de óleo (mg/ m3);
– Partículas não viáveis (Unid/m3 ou mg/m3).
Para outros analitos, que podem ser importantes para certas aplicações, não há nenhuma classe de pureza definida pela Norma:
– Partículas viáveis (UFC/ m3);
– CO, CO2, SO2, O2, NO+NO2
A Norma ABNT ISO 22.002-1, de 17 de julho de 2013, determina que a organização deve estabelecer requisitos para filtração, umidade (UR%) e microbiologia do ar usado como ingrediente ou para contrato direto com o produto. Onde a temperatura e/ou umidade do ar for crítica para a organização, um sistema de controle deve ser implementado e monitorado.
Imagem em destaque: Air Press Compressores
Leia também:
Alimentos “politicamente seguros”: arsênio, agrotóxicos e mais
Adoçantes artificiais ajudam a engordar??
Ana Oliveira
Parabéns pelo artigo. Bastante esclarecedor.
Patricia de M. Brusantin Iglézias
Parabéns Humberto,
O artigo é técnico e informativo além de tratar de um assunto de muita importância para segurança alimentar.
Patricia
Eng. de Alimentos
Humberto Soares
Obrigado, Ana e Patrícia. Este retorno dos leitores é muito importante. Compartilho os elogios com a autora da apresentação, eng. Margarete Nagata.
janaina
Quero saber mais sobre contaminantes microbiológicos no ar comprimido e seus padrões. Vi que no post vc deixou como ???.
É justamente essa a minha dúvida!
Humberto Soares
Oi, Janaína
Os padrões microbiológicos para ar comprimido não foram citados na palestra em questão.
Claudienne Heck
Ar comprimido para consulta
arnaldo barreto
Parabéns pelo trabalho. De qualquer forma, é importante referir que está demonstrado cientificamente que o ar comprimido para contacto directo ou indirecto de risco, na industria alimentar deve configurar a norma ISO 8.573.1 na classe 1.2.1 com eliminação total? de hidrocarbonetos. (BCAS).
Importa referir que para que o desenvolvimento microbiano pare é necessário que o ponto de orvalho (pdp) seja melhor que -26ºC. Isto é a desidratação do ar deve ser melhor de que este valor. E é por isso que o BCAS recomenda pdp mínimo de -40ºC associado a meios de filtração adequados. Por outro lado as exigências de algumas certificações tais como BRC ou IFS vão nesse sentido, com controlo permanente. Obg.