Quando falamos em melhorar as condições higiênico-sanitárias, um dos últimos temas que pensamos são os resíduos.
Contudo, este é um ponto muito relevante e que pode colocar em risco muitas outras práticas ou critérios utilizados desde a concepção das instalações, estabelecimento de PPRs, etc.
Por falar em resíduos, vamos fugir um pouco dos resíduos do processo produtivo e navegar sobre os resíduos sanitários… e então: lugar de papel higiênico é na lixeira ou no vaso sanitário?
A própria legislação já teve a sua opinião alterada ao longo dos anos. Abaixo temos um pouco da evolução do legislativo a respeito:
- Portaria CVS-6/99, de 10.03.99 (Revogada)
Anexo Único – Item 9.8 Instalações sanitárias
“Nas instalações sanitárias exclusivas para funcionários das empresas produtoras de alimentos fica proibido o descarte de papel higiênico em lixeira, devendo ser este diretamente no vaso sanitário.”
- Portaria CVS 5, de 09 de abril de 2013
Seção IX – Vestiários e Instalações Sanitárias
“Os banheiros devem dispor de vaso sanitário sifonado com tampa e descarga, mictório com descarga, papel higiênico, lixeira com tampa acionada por pedal, pias com sabonete líquido, neutro, inodoro e com ação antisséptica, com papel toalha descartável não reciclado ou outro procedimento não contaminante, e coletor de papel acionado sem contato manual.”
Avaliando as possibilidades de contaminação, creio que o mais adequado seria descartar o papel higiênico no vaso sanitário. Porém isso não pode ser considerado como uma verdade absoluta.
No Brasil, evitar o descarte no vaso sanitário é algo que está ligado a um motivo muito simples: pouco mais da metade das casas têm acesso à rede coletora de esgoto. Dados de 2013 (IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que somente 63,5% da população contam com esse recurso. Isso considerando as regiões mais desenvolvidas. Se formos pensar na região Norte, por exemplo, nesta mesma estatística o total de residências com rede de esgoto não chegava a 20%.
Nesta situação, estaríamos reduzindo um problema e criando outro que pode ser muito maior.
As indústrias geralmente possuem uma estrutura de tubulação hidráulica de efluentes que poderia comportar a passagem deste resíduo, mas ainda assim o problema seria transferido para outro ponto… a estação de tratamento de despejos industriais (ETDI) ou estação de tratamento de efluentes (ETE).
Além do acúmulo de resíduo sólido (o papel não estaria decomposto no percurso entre os sanitários e a estação), poucas estações estão preparadas para tratar o material disposto desta forma. Tanto em volume quanto em tipo de tratamento.
Um detalhe adicional é que nem todos os papéis são biodegradáveis e neste quesito, geralmente os materiais biodegradáveis acabam tendo um valor agregado adicional… ou seja, é mais caro. Quantas são as empresas que estão “dispostas” a absorver este custo, possuem uma política ambiental ou de sustentabilidade que possa embasar esta necessidade?
Com todas estas cartas postas… Olhando da perspectiva de segurança de alimentos, creio que o melhor destino do papel higiênico seja o vaso sanitário. Mas colocando todas as variáveis na balança ainda não estamos preparados para fazer esta grande mudança em nossa cultura. Esta mudança requer investimento no saneamento básico e adequação da infraestrutura de algumas organizações que posso suspeitar que sejam a maioria delas.
Como diria o ditado popular, não adianta cobrir a cabeça e descobrir os pés…
Referências:
Camila Miret
Muito interessante seu artigo, Fernanda. Eu não gosto nada de papel higiênico na lixeira, mas infelizmente não temos estrutura para tratar depois. Na Europa é ao contrário, ninguém nem cogita a ideia de descartar papel higiênico na lixeira, é sempre no vaso.
Fernanda Spinassi
Olá Camila!
Realmente não estamos preparados para dispensar o papel higiênico no vaso… precisamos evoluir muito no quesito saneamento básico para chegar a este ponto.
Marcelo Garcez Lopes
Olá Fernanda, meu nome é Marcelo Garcez e estou fazendo um trabalho sobre a inserção de um produto nas lixeiras dos banheiros para minimizar os impactos dos restos de papel higiênico com restos fecais e de urina. Você teria algum material para colaborar.
Fernanda Spinassi
Olá Marcelo, boa noite!
Obrigada pelo contato.
O escopo deste fórum é segurança de alimentos, creio que seu interesse esteja relacionado a parte ambiental e redução de carga orgânica do resíduo.
Não tenho nenhum estudo específico sobre o assunto.
Boa sorte na pesquisa!
noemi camargo
OLÁ Feranda , tudo bem ? Bom dia
trabalho em uma empresa ambiental , estamos querendo implantar um projeto de aterro 0 , para uma empresa que prestamos serviço , você acha que conseguimos uma finalidade para este projeto?
Fernanda Spinassi Facca
Olá Noemi, boa tarde!
É comum as empresas trabalharem com projetos para ter aterro zero.
É possível sim.
Este não é o escopo deste post, mas com um bom planejamento, temos recursos tecnológicos no Brasil para ter aterro zero nas operações.