Quando se considera o sistema embalagem-alimento, há uma preocupação com a migração ou transferência de substâncias da embalagem para o alimento. Estas substâncias podem gerar alterações sensoriais, como mudança de odor e sabor dos alimentos, e também podem ser tóxicas. Pensando nisso, tomar água ou café em copo plástico é seguro?
Durante o VI CONALI (Seminário sobre Contaminantes em Alimentos), realizado no ITAL, em Campinas, em novembro passado, Dra. Magali Monteiro da Silva falou sobre “Contaminantes Potenciais de Embalagens Plásticas de Alimentos”. A palestrante é professora do Depto de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp, SP.
Inicialmente, ela explicou que o plástico é um material composto por resina e aditivos, sendo a resina constituída por polímeros, dos quais os mais usuais estão listados abaixo, com suas respectivas siglas:
- HDPE, LDPE – polietileno de alta (H) e baixa (L) densidade;
- PP – polipropileno;
- PS – poliestireno;
- PVC – policloreto de vinila;
- PVdC – copolímero de cloreto de vinila e vinilideno;
- PET/PETE– polietileno tereftalato;
- PC – policarbonato;
- EVA – copolímero de etileno e acetato de vinila;
- EVOH – copolímero de etileno e álcool vinílico;
- Nylon 6 – E-caprolactama.
Há uma codificação internacional para identificar estes materiais e sua “reciclabilidade”. Veja abaixo:
Cada tipo de polímero, dependendo de sua estrutura química, molecular, densidade e cristalinidade vai conferir as macro características dos materiais plásticos. Os aditivos são adicionados para desempenhar funções especificas, como as descritas abaixo:
ADITIVO | FUNÇÃO | POLÍMERO |
Antioxidante | Inibir ou retardar degradações termo-oxidativas | PP, PE, PS |
Estabilizantes ao calor | Proteger da decomposição devido às altas temperaturas usadas no processo de transformação | PE, PP, PVC, PVdC |
Plastificantes | Reduzir temperatura do processamento
Tornar mais flexível |
PVC, PVdC |
Estabilizantes à luz UV | Proteger da degradação pela luz UV | PVC, PE, PP, PET, PS |
Lubrificantes e deslizantes | Reduzir a tendência de adesão a superfícies
Promover a remoção de plásticos de moldes e cavidades |
PVC, Poliolefinas |
Corantes | Melhorar aspecto visual
Evitar penetração da luz |
Uso geral |
Agentes nucleantes | Reduzir o tamanho dos cristais auxiliando na manutenção da transparência e claridade | PET, PP |
Agentes anti-estáticos | Tornar a superfície do plástico mais condutiva
Melhorar “maquinabilidade” |
PE, PS, PP, PET, PVC |
Agentes de expansão | Favorecer a expansão | PS |
Cargas | Reduzir custos e/ou melhorar propriedades mecânicas | Uso geral |
Algumas destas substâncias, como o monômero Cloreto de Vinila e o plastificante DEHP (Dietilhexilftalato) são carcinogênicas para humanos. Outras, como o estireno, são possivelmente carcinogênicas (grupos 1 e 2 na classificação IARC).
A legislação brasileira estabelece listas positivas dos materiais de embalagens, ou seja, enumera todos que podem ser utilizados, bem como define um Limite de Composição (LC) que é o teor máximo da substância que pode estar presente na própria embalagem. As normas brasileiras definem também Limites de Migração Global (LMG) e Limites de Migração Especifica (LME). O Limite de Migração Global serve para os materiais de embalagem em geral e é de 50 mg do material /kg alimento (ou simulante) ou 8 mg/dm2 de área de contato. O LME só existe para algumas substâncias e seu valor é variado.
Dra. Magali já publicou vários trabalhos relacionados ao desenvolvimento e validação de métodos analíticos para quantificação da migração de substâncias de embalagens para os alimentos. Em sua apresentação, ela expôs alguns resultados destes trabalhos. Num deles, publicado em 2012, foi criado e validado um método para quantificação de poliestireno (PS) em copos plásticos. Das 11 marcas analisadas de copos descartáveis utilizados no Brasil, nenhuma ultrapassou o Limite de Composição do Estireno no material de embalagem (LC=0,25%). Também não foi detectada migração do estireno da embalagem para água nem para um simulante de alimentos contendo água e 20% de etanol. Portanto, considerando-se este resultado, podemos continuar tomando a água e o café nosso de cada dia em copos descartáveis.
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Caroline Piovesan
Olá, gostaria de saber onde posso conseguir esse estudo na íntegra. Obrigada!
Humberto Soares
Olá, Caroline
O nome do artigo é: A GC–FID Method to Determine Styrene in Polystyrene Glasses. Para obter o estudo na íntegra, acesse: http://link.springer.com/article/10.1007/s12161-012-9395-5
O acesso ao artigo integral é disponível mediante pagamento. Na página indicada, disponibiliza-se o Resumo (Abstract) e o e-mail da Dra. Magali para contato.
Machado
Você sabe se há diferença entre tomar café no copo de 50 ml identificado como PS e o copo de 200 ml identificado como PP? A dúvida é se o copo PP é pior do que o PS para líquidos quentes (chá e café).
Humberto
A pesquisa sobre migração foi feita com o material PS, por se tratar de material potencialmente carcinogênico. O PP não tem esta classificação no IARC.
Benedito Pereira
Olá, Humberto, bom dia, gostaria de saber, se possível, quantos graus representa um cafezinho bem quente, e quantos graus seriam suficientes para o copo de plástico liberar as toxinas cancerígenas, por exemplo. Obrigado.
humberto
Benedito,
Nas condições do estudo, não houve migração de substâncias tóxicas da embalagem para o alimento. Informações sobre a temperatura utilizada e outros dados podem ser obtidas pelo acesso direto ao artigo
“A GC–FID Method to Determine Styrene in Polystyrene Glasses”, acessível em: http://link.springer.com/article/10.1007/s12161-012-9395-5
Na página indicada, disponibiliza-se o Resumo (Abstract) e o e-mail da Dra. Magali para contato.
Italo
Segue material
Andréia de Paula
Copo descartável libera substância cancerígena
22 de dezembro de 2004
Sei que é uma pesquisa antiga, e que não há maiores informações, mas é bom ir mais a fundo nestas informações…
Renato Ribeiro dos Santos
Continuo com a dúvida. Posso tomar café quente em copo plástico para água.
Humberto Soares
Considerando apenas o resultado da pesquisa apresentada no texto, sim.